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Corpo + MenteNº 1 - SETEMBRO/2019
DIABETES: Com o crescimento do número
de casos, número de amputações e mortes em
decorrência da doença, especialistas alertam
para o perigo da má alimentação e da falta de
exercício • página 4
SAÚDE MENTAL | UM PERIGO FAMILIAR
COMO MANTER-SE JOVEM
PSORÍASE: Saiba mais sobre a doença
que, mesmo não sendo contagiosa, gera tanto
preconceito e muda o estilo de vida dos afetados
• página 7
APENAS 1,8% DA POPULAÇÃO
BRASILEIRA DOA SANGUE •
PÁGINA 3
SAIBA MAIS
CIRCULAÇÃO GRATUITA
Como determinados comportamentos podem tornar o ambiente familiar um lugar hostil e prejudicial
para a saúde mental de crianças e adolescentes. Leia os relatos de jovens que sofreram de abandono e
alienação parental, e saiba como isso afetou o seu desenvolvimento mental • página 8
Apesar do inevitável envelhecimento físico, é possível
viver bem e se divertir na terceira idade. Déa Silva da
Silveira, nas fotos acima com 20 e 80 anos, e Joaquim
Barroso Filho falam sobre saúde, atividades cotidia-
nas e a felicidade de serem idosos ativos • página 5
MIOPIA: O problema de visão que atingiu
níveis alarmantes e corre o risco de se tornar
uma epidemia. Veja como evitar • página 6
A Corpo + Mente é
um jornal de saúde que visa
a emancipação do público
leigo, e entendemos que nada
melhor do que o conhecimen-
to para fazer isso. O jornal
entende a importância da pro-
ximidade do ser humano com
o próprio corpo e da capaci-
dade de entender quando há
algo errado com ele. Estar em
contato com você mesmo é o
melhor remédio. Com a evo-
lução da medicina, veio o au-
mento da expectativa de vida.
Esse aumento pode soar como
algo incrível, o que realmente
é, mas também traz o aumen-
to do número de doenças, tor-
nando ainda mais importante
um diagnóstico precoce para
ajudar nas chances de cura e
na diminuição de sequelas.
	 O nome do jornal e a
nossa matéria de capa deixam
claros que não é apenas com o
corpo que nos preocupamos.
O século XXI, com todos as
mudanças tecnológicas ocor-
ridas de maneira tão rápida,
vem mostrando um grande
aumento no número de do-
enças mentais e psicológicas.
Mesmo que com o grande
estigma que essas patologias
carregam, a sociedade está
cada vez mais ciente de que
elas são reais e que necessi-
tam de tratamento tanto quan-
to qualquer outra patologia. É
Julia Silveira
barroso.julia@gmail.com
C
M
2
Caro leitor,
	
	 A Corpo + Mente tem o intuito de promover conhe-
cimento de diversas áreas da saúde na população. Essa edição
contém entrevistas com especialistas nos casos citados e dados
apurados meticulosamente para trazer a notícia da forma mais
simples e concreta para os nossos leitores. Nosso jornal tem o
objetivo de conscientizar pessoas de todas as idades, desde os
mais jovens até os idosos.
	 Além disso, contamos com a personagens, que foram
de grande ajuda para a composição das nossas reportagens,
agradecemos pelas contribuições, e podemos afirmar que tive-
mos todo cuidado possível com os seus casos na hora de escre-
ver suas histórias. Esperamos ter atendido as suas expectativas.
Estamos, sempre, abertos a sugestões de pautas para a próxima
edição da nossa revista, pois o nosso interesse é escrever sobre
o que o público quer ler e saber mais.
Editorial
Luta Antimanicomial continua
Letícia Freitas
leticiasantana21@gmail.com
Luiza Almeida
luiza.1803@hotmail.com
	 A luta antimanico-
mial tem o intuito de reivin-
dicar os direitos das pessoas
mentalmente instáveis, com-
batendo a concepção de que
um paciente psiquiátrico deve
ficar internado num ambiente
hostil, quando o cidadão tem
todo o direito à liberdade e a
viver em sociedade, aberto a
tratamentos sem necessidade
de internação. O movimento
teve início na década de 1970,
com o lema “por uma socie-
dade sem manicômios” e a
reunião dos profissionais da
área de psicologia, o Encon-
tro dos Trabalhadores da Saú-
de Mental no dia 18 de maio,
marcando o Dia Nacional da
Luta Antimanicomial.
	 O projeto da reforma
psiquiátrica visa uma recupe-
ração junto à família, fortale-
cendo os vínculos sociais e a
cidadania. O intuito é que o
Estado não precise fornecer
um hospital psiquiátrico, pois
o enfermo teria acesso a ati-
vidades alternativas, relacio-
nadas ao lazer, além dos tra-
tamentos psicológicos menos
invasivos.
	 Em 2001, a Lei Paulo
Delgado colocou muitos dos
tópicos pensados em prática.
Os pacientes ganham o direi-
to à informação sobre a sua
esse protagonismo necessário
da mente que influenciou na
escolha do nome do nosso
periódico. Mesmo que seja
impossível dissociar o corpo
da mente, e tudo esteja inter-
ligado, fazendo com que pos-
sa soar redundante chamar o
jornal de Corpo + Mente, é
de suma importância deixar
claro para o leitor, que pode
ainda estar aprendendo a lidar
com essa nova realidade na
qual essas doenças são cada
vez mais comuns, que elas
são sim reais e que sim, nos
importamos com elas.
	 Com esse jornal, a
expectativa é de que o leitor
se torne cada vez mais capaz
e consciente de si e se torne
mais apto a participar ativa-
mente do tratamento de suas
doenças, sejam elas quais
forem. O paciente não é ne-
cessariamente um ser passivo
que apenas escuta e obedece
sem questionar as possibili-
dades. Com o conhecimento
necessário, é possível que
haja uma troca de informa-
ções e o doente possa debater
com os médicos sobre as pos-
sibilidades e sobre qual trata-
mento mais se encaixa no seu
estilo de vida ou até mesmo
ser capaz de escolher qual
médico se alinha mais com a
sua visão de mundo e as suas
necessidades.
condição, a abordagem usa-
da pelos especialistas e estão
protegidos de qualquer abuso.
	 Apesar das conquis-
tas feitas pelo movimento, até
2016, ainda existiam 160 hos-
pitais psiquiátricos no Brasil.
E os casos de saúde mental
ainda são banalizados pelo
governo, que não cria novas
políticas públicas para ajudar
essa parte marginalizada da
sociedade. Muitos dos casos
podem ser tratados com mé-
todos menos invasivos e mais
saudáveis para o paciente,
para que ele tenha consciên-
cia do que se passa durante o
período de crise.
	 O jornal Corpo +
Mente se solidariza com a luta
antimanicomial e busca ex-
pressar através desse artigo,
o nosso apoio ao tratamen-
to humanizado em pacientes
com doenças psicológicas. O
sistema psiquiátrico brasilei-
ro os deixam mais doentes do
que antes, injetando drogas
que os deixam sonolentos e
sedados, entre outros efeitos
colaterais. Esse movimento
ainda precisa de ajustes do
governo e apoio da popula-
ção, que precisa aprender que
doentes mentais precisam de
empatia, e não serem isolados
da sociedade.
3SAIBA MAIS
C
M
Técnica de enfermagem desmistifica a profissão
Sueli Rosangela fala sobre os grandes desafios e o que faz esse exaustivo trabalho valer a pena
	 No profissional do mês
de dezembro, conversamos com a
técnica de enfermagem da Casa de
Saúde São José, hospital em Bota-
fogo, no Rio de Janeiro. Com mais
de 25 anos na ativa, Sueli Rosange-
la (53) conta sobre os desafios do
cargo e fala de questões que geram
curiosidade acerca da profissão.
Corpo e Mente: Vamos começar
pelo básico, o que um técnico de
enfermagem faz?
Sueli: Eu dou banho, administro
medicação, pulsiono veia e faço
alguns exames. Todo plantão tem
que verificar os sinais vitais, tem-
peratura e etc. O paciente acama-
do, nós trocamos a fralda, fazemos
uma higiene íntima e pessoal, e o
ajudamos a trocar de posição. As-
sim vai o plantão.
CM: O que te fez trabalhar nes-
sa área?
Sueli: Quando eu era criança, fi-
quei internada com hepatite e na
nessa época os pais não podiam
ficar no hospital, então eu chorava
muito quando eles iam embora. En-
tão as enfermeiras me colocavam
pra ajudar elas dando mamadeira e
comida. Quando eu tive alta, falei
pro meu pai queria ser enfermeira.
CM: Qual é a diferença entre o
técnico de enfermagem, o auxi-
liar de enfermagem e o enfer-
meiro?
Sueli: O auxiliar de enfermagem
não existe mais, pois o COREN
tirou essa profissão. O técnico de
enfermagem é a nível de ensino
médio e o enfermeiro é nível supe-
rior e eles que delegam as funções
para o técnico. Tem coisas, como
passar uma sonda e curativos, que
só o enfermeiro que faz.
CM: É comum ouvir que enfer-
meiros são desvalorizados e vis-
tos como menos importantes que
os médicos. Você se sente desse
jeito? Se sim, de quem esse tipo
de pensamento costuma vir, dos
médicos ou dos pacientes?
Sueli: Sim, claro.Todos nós nos
sentimos desse jeito. Nós que
passamos a maior parte do tempo
com paciente e sabemos tudo so-
bre eles, e o mérito é sempre do
médico. Esse tipo de pensamento
costuma vir dos pacientes.
CM: Outra polêmica que en-
volve a enfermagem gira em
torno da hipersexualização da
profissão. Você já passou ou
presenciou alguma situação de
assédio vinda de um paciente
ou colega de trabalho?
Sueli: Nunca aconteceu comigo,
nem com a enfermagem e nem
com o paciente, mas já acontece-
ram situações que colegas da en-
fermagem assediaram o paciente,
assim como teve pacientes que
assediaram alguns colegas meus.
CM: Quais qualidades você
acredita que são necessárias
para se tornar um enfermeiro?
Sueli: Primeiramente, é amor ao
próximo. Amor, paciência, com-
preensão. A pessoa tem que ser
calma e gostar do que faz.
CM: Você já passou por alguma
situação inusitada na profissão?
Sueli: Várias situações, são tanta
histórias que a gente acaba es-
quecendo.
Doação de sangue no Brasil e no mundo
Sueli Rosangela
Foto:Luiza Almeida
CM: Quais são os maiores desa-
fios da profissão?
Sueli: A carga horária em si. É
muito chato você abandonar a
sua família no dia de Natal para ir
cuidar da família dos outros. Você
não tem vida social, você não tem
carnaval e nem pode programar
uma viagem. Eu trabalho numa
instituição que não posso trocar
plantão e só tenho uma folga no
mês, então , eu tenho que me pro-
gramar para uma festa, uma saída.
Essa parte é muito ruim. A gente
se dedica tanto e acaba não tendo
tempo para nós mesmos.
CM: E o que faz tudo isso valer
a pena?
Sueli:Ver o paciente sair bem, ver o
sorriso e a cura, é o agradecimento.
Eu trabalhei num hospital infantil
logo no início da minha profissão,
e teve uma criança que era modelo
e teve leucemia, e sempre internava
com a gente para fazer quimiote-
rapia. Ela me chamava de dinda
porque eu sempre comentava com
a família sobre o meu afilhado. Foi
muito gratificante vê-la curada, eu
fiquei muito feliz e essa foi a uma
situação que me marcou muito.
Veja dados da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde e seja um doador
O número de diabéticos está em crescimento. Nos últimos 10
anos, houve um aumento de 61% no Brasil. No Rio de Janeiro, o aumen-
to foi maior que 50%. Essa é uma tendência mundial, consequência dos
maus hábitos alimentares e do envelhecimento da população.
	 A diabetes é uma doença crônica que ocorre quando o corpo
não produz insulina suficiente ou não emprega de forma adequada a in-
sulina produzida. Conhecida também como doença silenciosa, a diabe-
tes pode demorar a ser diagnosticada, favorecendo complicações como
doenças cardiovasculares, problemas renais, cegueira e amputações. É
importante ficar atento aos sintomas, sendo os mais comuns necessidade
de urinar frequentemente e sede constante.
	 Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), são
mais de 13 milhões de brasileiros com a doença, e, segundo o Minis-
tério da Saúde, em 2017 foram 12.748 amputações e houve um cresci-
mento de 12% no número de óbitos entre 2010 e 2016. Esses números
são preocupantes para a cuidadora de idosos Eloísa Ferreira, que é
diabética desde que seu filho nasceu. Com pais também diabéticos,
Eloísa recebeu um alerta sobre as possíveis consequências da doença.
“Eu não posso me machucar, me cortar, porque o médico falou que é
arriscar de amputar o pé.”
	 Apesar do fator genético, a diabetes é normalmente ocasionada
por fatores comportamentais como excesso de peso e sedentarismo, então
adotar hábitos mais saudáveis e praticar exercício físico são fundamen-
tais para previnir a doença. A endocrinologista Rita de Cássia considera
um avanço o atual acesso à informação e indica o portal da SBD para
maiores informações sobre a doença e os tratamentos. Além disso, fala da
importância de conhecer sobre os cuidados preventivos, alimentação cor-
reta e utilização de medicamentos. “À medida que você saiba que na sua
família tem um fator genético que predispõe à diabetes, a pessoa já deve
ter cuidados gerais, tanto quanto a sua alimentação quanto com atividade
física, que são fatores ambientais essenciais para a prevenção da doença.
Ou para que, pelo menos, essa doença abra o quadro tardiamente.”
	 A médica Paloma Hess, do Instituto Estadual de Diabetes e En-
docrinologia, também valoriza os programas de educação e o acesso à
informação como caminhos para diminuir a incidência de diabetes, e tem
uma visão holística para o acompanhamento da doença. “O tratamento
multidisciplinar do diabetes é fundamental. O bom controle do diabetes
não é alcançado só com medicação, mas com educação em diabetes. As-
sim como as outras áreas, a dieta é fundamental no tratamento, atividade
física e cuidados com os pés.”
	 A diabetes requer acompanhamento médico e cuidados diá-
rios, mas é possível ter uma vida saudável com o tratamento.
Diabetes faz mais vítimas Adoçantes artificiais
4 ESTILO DE VIDA
C
M
Para exercitar a mente
Complete os espaços vazios com números de 1 a 9 sem repetir na
linha, na coluna ou nos quadrados menores (3x3)
1 5 3 4 6
1 4 2
3 2 8
2 4 7
9 5 8 4
4 9 5 3
8 5
6 1
9 2 7 3 1
Especialistas falam sobre o tratamento e a
prevenção da doença
Como foram descobertos e o risco de seu uso
Os adoçantes
artificiais possuem
moléculas parecidas
com a do açúcar.
Por isso, as papilas
gustativas aceitam o
paladar como doce.
C12
H22
O11
açúcar (sacarose)
Nunca foi possível proposi-
talmente copiar as moléculas,
retirar as calorias e ativar o
receptor de doce no cérebro.
Todos foram descobertos por
acaso. Entre os mais conhe-
cidos, temos stevia, sacarina,
aspartame e sucralose.
Fonte: Naruhodo
Stevia:
150x açúcar
Sacarina:
200x açúcar
Sucralose:
600x açúcar
Aspartame:
200x açúcar
Os guaranis já usavam a planta stevia para
adoçar. A universidade que possui a paten-
te de produção é Universidade Estadual de
Na década de 1870, na indústria de produtos
a partir de carvão, um trabalhador lambeu
resíduo de coproduto de carvão. Ao sentir
Foi descoberto nos anos 1960 em teste de
medicamento para úlcera. É um pouco me-
tabolizado, então tem calorias (mas ainda
A partir da mistura de açúcar e cloro, foi
descoberto na criação de um agrotóxico.
A substância resultante não era tóxica. É o
adoçante artificial mais resistente a calor, por isso é mais utilizado na
culinária, também no "refrigerante zero".
considerada nula quando comparada ao açúcar).
que era doce, foi testar se era tóxico. Theodore Roosevelt adorava a
sacarina e começou a distribuir para os soldados na primeira guerra.
Nesse período surge a ideia de torrão de açúcar. Na década de 1960,
houve uma associação entre consumo de sacarina e câncer de bexiga.
Na mesma época, começaram os problemas da indústria do tabaco. A
indústria alimentícia nos anos 1970 então passou a alertar a população
nas embalagens, como fazia a indústria do tabaco, mas o consumo con-
tinuou a crescer. Nos anos 2000 viu-se que a associação era circunstan-
cial, então foram retirados os avisos.
Maringá, local de colônia japonesa. O Japão tem crisântemo como flor
símbolo, que é da mesma família da stevia. Aprovado para consumo
nos EUA na década de 1990, já era usado há 30 anos no Japão. É o
artificial mais próximo do natural.
	 Adoçantes artificiais podem induzir obesidade indire-
tamente. O cérebro acha que consumiu calorias, dá sensação
de saciedade, mas não houve transformação de energia. O es-
tômago e o cérebro ficam com informações divergentes, então
o cérebro para de associar saciedade com açúcar. Assim, você
passa a comer mais açúcar porque depende apenas da percepção
do estômago.
	 Seu uso é recomendado com acompanhamento médico
e de acordo com suas necessidades metabólicas.
ATENÇÃO!
Eles servem para imitar o efeito
do açúcar, mas sem as calorias.
Isso é possível porque não
interagem com o organismo,
então não são transformados
em energia.
Nascer, crescer, reproduzir-se e morrer: a ordem que parece ló-
gica, com algumas ressalvas, esconde o desafio de envelhecer. O segredo
para aproveitar a terceira idade é manter-se saudável e fugir do isolamen-
to social, visto que a crescente expectativa de vida possibilita que essa
fase seja feliz e produtiva.Aoportunidade de criar novas rotinas e o prota-
gonismo do idoso em sua própria vida são pontos relevantes na sociedade
brasileira, que apresenta um envelhecimento demográfico, ou seja, com
a maior expectativa de vida, a população com mais de 60 anos cresce.
Joaquim Barroso Filho - 14 anos e 76 anos
Fotos: Arquivo pessoal e Julia Barroso
Renovação na terceira idade
5ESTILO DE VIDA
C
M
Idosos falam sobre a importância de ser saudável e feliz nessa fase da vida
“O idoso chegava aos 70
anos e achava que tinha
que sentar e esperar a
morte, mas isso mudou.
Aos 70 anos todo mundo
era um velho, hoje em
dia não.”
- Déa Silveira
	 Dona de casa desde os 16 anos, Déa Silva da Silveira, de 81
anos, se preocupa: “Eu tenho saúde, mas quero me conservar. E serviço
de casa cansa muito”. Casada há 54 anos, não mora com o marido – fica
na casa do filho e da nora ajudando com os dois filhos do casal. “Faço
as coisas todas para ajudar, porque minha nora trabalha. Tenho faxineira
e passadeira, mas cuido da roupa para lavar, da arrumação da casa no
dia a dia, de lavar louça. Isso eu gosto de fazer, e faço porque gosto”.
Há cinco anos na aula de hidroginástica, já fez dois anos de yoga e três
anos de “ginástica na praça”. Começou porque gostava de exercícios, mas
hoje sente que ajuda muito na saúde. “Eu sou muito educada nos meus
exercícios. Não exagero, faço como eu posso e onde eu posso. Frequên-
cia é importante”. Acrescenta que essa possibilidade de fazer exercícios
físicos antes era dada apenas aos jovens. “O idoso chegava aos 70 anos
e achava que tinha que sentar e esperar a morte, mas isso mudou. Aos
70 anos todo mundo era um velho, hoje em dia não. Eu tiro por mim”.
	 Também com uma rotina de atividades físicas, Joaquim Barroso
Filho, de 77 anos, é aposentado desde os 47 e diz ter se adaptado bem por-
que deixou de trabalhar mas sempre fez outras atividades para não ficar
completamente ocioso. Grande colaborador na construção da Paróquia
São Judas Tadeu no IAPI da Penha, Joaquim ainda é membro ativo da co-
munidade. Fez curso de Noções de Jornalismo e de Espanhol na UnATI/
UERJ (Universidade Aberta da Terceira Idade) e faz caminhada regular e
exercícios nos aparelhos da prefeitura. “Sempre pratiquei alguma coisa,
mesmo na época em que eu trabalhava, inclusive no momento em que exer-
cício não era moda. Em 1974 eu corria na rua e me chamavam de maluco.
Essa sede de exercício da população veio nos anos 80”. Joaquim confessa
ter relaxado após a aposentadoria e só retomou as atividades físicas por
questão de saúde, mas diz já ter melhorado muito. Quando compara sua
geração às anteriores, fala da atual qualidade de vida: “Hoje você tem uma
vida bem diversificada. Também entraram novos horários de trabalho. E
inclusive a questão da medicina, que hoje dá um amparo muito maior”.
Especialistas analisam os casos
	 A endocrinologista Rita de Cássia Silveira ressalta que nem
todo idoso tem condições de ser independente. “O pré-requisito é que
ele faça um tratamento continuado e preventivo das várias patologias
que ele possa ter, sobretudo das doenças cardiorrespiratórias e meta-
bólicas. Isso tudo colabora para que ele tenha uma saúde física”. Além
disso, afirma ser importante o acompanhamento da saúde mental e da
existência de uma comunidade ao redor do idoso, seja um grupo familiar
ou de amigos. “Muitas vezes o idoso não quer sinalizar que ele precisa
da outra pessoa. Quanto mais ficarem perto dele, mais feliz ele vai fi-
car. Com isso, melhor será a qualidade de vida e maior a longevidade”.
	 Estímulo à atividade física, acompanhamento nutricional e
educação sobre tratamentos das doenças crônicas significam aumen-
to da qualidade de vida, que depende também do comportamento nos
anos anteriores. Segundo Dra. Rita de Cássia, a educação em saúde é
importante porque o idoso muitas vezes é responsável por conscienti-
zar a família, e a forma mais abrangente de divulgar o conhecimento na
terceira idade tem sido a exposição na mídia sobre problemas de saúde
e esclarecimentos de doenças e seus sintomas. “Principalmente quando
há a recomendação ‘procure seu médico’, porque cada caso é um caso.
Há sempre as contraindicações”. Sobre a atividade física, sinaliza que
nem todos os problemas de saúde restringem os idosos, e menciona a
existência de grupos de reabilitação para os que têm doenças limitantes.
	 Retomar os exercícios ao chegar à terceira idade ou começar a
praticar após os 60 são duas opções válidas – o importante é se movimen-
tar. A professora de Educação Física Gabriela Moreira, que trabalha no
Programa Academia Carioca da prefeitura do Rio de Janeiro, afirma que
a intensidade das atividades físicas vai depender de qual desses caminhos
foi escolhido pelo idoso. “Mesmo não tendo tido uma vida ativa, ele pode
se tornar um atleta. É importante sempre a gradação e o acompanhamento
de um profissional de Educação Física”. Além de depender do histórico
de cada um, é importante alcançar condicionamento físico antes de par-
tir para os exercícios de maior impacto. Ela cita benefícios da prática
regular de atividades físicas: “Melhora o equilíbrio do idoso, melhora a
concentração, ajuda a manter o peso ou emagrecer, aumenta o rendimento
físico. Além disso, estimula o convívio social e melhora a autoestima”.
	 Realizar as atividades em grupo funciona como um incentivo,
mas a professora Gabriela fala que é importante uma análise das necessida-
des individuais dos alunos, porque o histórico de cada idoso mostra o que
deve receber maior atenção e, por exemplo, que remédios precisam ser to-
mados antes do exercício. Além disso, como a maior parte de seus alunos
prefere fazer exercício pela manhã, ela ressalta a importância do protetor
solar, de manter-se hidratado e da alimentação antes da atividade para evi-
tar hipoglicemias, tonturas e quedas. Para o exercício se tornar um hábito, a
professora recomenda que seja escolhida uma atividade que o idoso goste.
Crianças estão se tornando míopes cada dia mais cedo
	 A miopia é uma doença
que já atinge 25% da população
mundial hoje em dia. É causada
por um erro de refração e quem
possui não consegue ver com
nitidez o que está em uma lon-
ga distância. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde
(OMS), a miopia é a epidemia
do século e acredita-se que, até
2050, metade da população será
míope. Porém, com o tratamento
adequado, é possível contornar a
situação.
	 Atualmente, as crian-
ças estão ficando míopes cada
dia mais cedo. Esse é o caso do
Cauê de Santana (13). Ele possui
miopia desde os nove anos e sua
mãe, Eliane de Santana (46), fala
que percebeu na prática que as
tela de computadores e televisões
podem causar problemas na visão
do filho. “Eu sempre soube que o
uso de tecnologia poderia causar
problema de visão, mas não sabia
exatamente qual. Eu levei ao oftal-
mologista porque ele começou a
reclamar de muita dor de cabeça,
principalmente depois que chega-
va da escola”.
	 Hoje em dia, Eliane re-
duz o tempo do seu filho em frente
as telas. De acordo com o Conselho
Brasileiro de Oftalmologia, 20%
das crianças em idade escolar apre-
sentam problemas de visão, assim
como Cauê, e a tecnologia pode ser
a maior culpada mesmo. O oftal-
mologista Antonio Brandão acom-
panha essas pesquisas e confirma a
ligação da tecnologia com mais ca-
sos da doença: “As crianças exage-
ram no uso dessas mídias digitais e
provocam o aumento e o surgimen-
to de miopia. Isso foi percebido de
20 anos pra cá, quando aumentou o
acesso à tecnologia digital”.
	 Sabendo dessa infor-
mação, alguns pais tomam suas
precauções, como Sueli Rosange-
la (53), mãe do Lucas Silva (15).
Ele não possui nenhum problema
de visão, mas existem vários casos
na família, então ela decidiu ficar
sempre de olho no tempo que o
filho passa na frente das telas. “Eu
levo ele ao oftalmologista uma vez
ao ano, não deixo assistir televisão
muito perto da tela e nem ficar mui-
to tempo nos aparelhos eletrônicos,
no máximo uma hora e meia”.
6 CINCO SENTIDOS
C
M
Saiba o que pode causar e como evitar os casos
Aumento dos casos de surdez traz a importância de
conhecer os diferentes níveis da deficiência
	 No Brasil, 5,8 milhões de
pessoas são deficientes auditivas, o
que corresponde a 3,8% da popula-
ção do país, de acordo com o Minis-
tério da Saúde. Em escala mundial,
esse número chega a 360 milhões,
com a alarmante previsão da OMS
(Organização Mundial de Saúde) de
um aumento para 900 milhões no
ano de 2050. Entenda o que causa e
como prevenir a doença.
	 Quando se fala em sur-
dez, é comum imaginar a perda
completa da audição, mas essa
não é a definição médica. São di-
ferentes níveis, podendo ser clas-
sificada em ligeira, média, severa,
profunda e cofose. No primeiro
grau, o ligeiro, apenas alguns fo-
nemas são perdidos, dificultando
uma conversa. No segundo grau,
o médio, já pode haver um atraso
na aquisição de linguagem, e ape-
nas palavras num volume elevado
são ouvidas, existe a necessidade
da leitura labial. No grau severo,
o terceiro, existe a necessidade de
gritar para ter a sensação de estar
falando e a fonética é prejudicada,
a necessidade da leitura labial se
intensifica. No quarto grau, o pro-
fundo, não existe mais a sensação
auditiva, as perturbações na fala
aumentam e surge a facilidade no
aprendizado da linguagem gestual.
	 Observando essa grada-
ção, apenas em seu quinto e último
grau o estereótipo de surdez exis-
te. Na cofose, o afetado vivencia a
ausência total de sons.
	 Existem fatores de ris-
co, que aumentam as chances de
desenvolver a doença, sendo eles:
casos de surdez na família; nas-
cimento prematuro; nascer abai-
xo do peso; o uso de antibióticos
tóxicos ao ouvido e de diuréticos
no berçário; infecções congênitas,
principalmente sífilis, toxoplas-
mose e rubéola. Em outros casos,
ela também pode ser evitada.
	 Deve-se tomar cuidado
com objetos pontiagudos inseri-
dos na orelha, porque eles podem
causar graves lesões. Trabalha-
dores expostos a ruídos intensos
devem fazer uso de equipamento
de proteção auditiva. O atraso na
fala da criança pode ser sinal de
problema auditivo, um médico
deve ser procurado para evitar
que o problema se torne mais
grave. O teste da orelhinha deve
	 O foco para enxergar o
que está nas telas faz com que a
visão se acomode e fique acos-
tumada a focar somente no que
está perto. A luz violeta também
é culpada e Emanuel dos Santos,
que trabalha na Ótica da Vila no
Rio de Janeiro, explica o por quê:
“Os celulares e tablets emitem
uma luz violeta. Essa luz afeta a
córnea e a visão, e por isso está
aparecendo tanta criança com
problema de visão. Agora já tem
lente com proteção contra essa
luz que celular emite”. De acordo
com a OMS, de 2020 até 2049, o
Brasil terá um aumento de 89%
nos casos.
ser feito nos recém-nascidos para
garantir que a audição se encon-
tre em perfeito estado. Já para as
gestantes, é importante o acom-
panhamento pré-natal, para cui-
dar de doenças que podem causar
surdez no bebê, como a sífilis ou
a rubéola.
	 Em caso de sintomas
como zumbidos, sensibilidade ou
dificuldade para ouvir, busque aju-
da médica. A surdez pode ser de-
finitiva, resolvida com cirurgia ou
com aparelho auditivo, mas, para
que essa resposta seja dada, é ne-
cessária a consulta com um otorri-
nolaringologista, um clínico geral
ou um fonoaudiólogo o quanto
antes para que o problema não se
agrave e passe de um caso cirúrgi-
co para um caso irreversível.
É possível previnir o agravamento ao procurar ajuda médica nos primeiros sinais de algo errado
Cauê de Santana começou a apresentar problemas de visão devido ao uso exces-
sivo da tecnologia. Fotos: Letícia Freitas
No início do ano de
2019, Kim Kardashian teve que
lidar com críticas ao que o Daily
Mail chamou de um “dia de pele
ruim” na vida da empresária. Mas
como poderia uma empresária
multimilionária, referência em
beleza e dona de uma linha de
maquiagens sofrer com uma “pele
ruim”? A resposta é: com a pre-
sença implacável da genética. A
doença que acomete a celebridade
é a psoríase e não tem nenhuma
relação com idade, classe social
ou até mesmo higiene, como o
preconceito pode levar alguns a
crer, mas sim com o fato de sua
mãe também ser uma das afetadas
pela patologia. Kim Kardashian é
apenas um exemplo de celebrida-
de que sofre com a doença, ainda
sem cura, que também tem como
vítimas Britney Spears, Cara Dele-
vingne e Cameron Diaz, além de, é
claro, muitos anônimos.	
	 A psoríase é uma doen-
ça de pele crônica não contagio-
sa, influenciada efetivamente pelo
estresse. De acordo com a ong
Conheça a psoríase
Mês de conscientização do câncer de pele
	 A cada verão, as expectativas por altas temperaturas crescem.
Logo, a importância do protetor solar aumenta, e os movimentos de
conscientização estimulando o uso do produto, também. Isso faz parte
do Dezembro Laranja, uma campanha para alertar a população sobre a
prevenção ao câncer de pele, o diagnóstico e acesso ao tratamento no
Brasil. Esse ano, a ação com cerca de quatro mil médicos dermatologistas
e voluntários acontecerá no dia sete de dezembro, e tem o intuito de pres-
tar atendimento, tirar dúvidas e esclarecer o por quê de adotar as medidas
preventivas.As consultas serão gratuitas em mais de 100 postos pelo país,
e a previsão é de ajudar 30 mil brasileiros.
	 É o sexto ano consecutivo que a Sociedade Brasileira de Der-
matologia (SBD) organiza o movimento, e o doutor Elimar Gomes, co-
ordenador nacional da campanha, explica qual a importância da ação na
descoberta do câncer de pele: “Nós conhecemos a causa e sabemos que é
possível preveni-lo, por este motivo a conscientização pública é uma das
formas de reduzir o número de casos. Outro ponto muito importante é que
a doença está visível para todos nós, então um maior conhecimento sobre,
determina o diagnóstico precoce que possibilita a cura na grande maioria
dos casos”.
	 Mas a prevenção pode começar desde cedo. Um estudo publi-
cado em 1999 pela pesquisadora Adele Chandler Green, da Universidade
de Queensland, na Austrália, mostra que adultos que foram acompanha-
Psoríase Brasil no ano de 2014
ela já atingia aproximadamente
cinco milhões de brasileiros por
todo o país, e em 77% dos casos
o portador da doença afirmava
sofrer preconceito por conta das
manchas espalhadas pelo corpo.
Uma pesquisa de Anvisa realiza-
da em 2018 aponta que a psoríase
afeta 2,5% da população mundial
e que 1,5% dos brasileiros tem a
doença. A Sociedade Brasileira de
Dermatologia afirma que a região
sudeste é líder em casos de psorí-
ase no país mas não divulgou os
números exatos.
	 Para entender as conse-
quências da psoríase no corpo de
alguém é preciso saber como a
pessoa pode contrair a doença. E
é exatamente isso que o dermato-
logista Antônio Dacre explica. “A
pessoa para ter essa doença ela
vem algumas questões não muito
esclarecidas no código genético
que a levam a ter uma propensão
para abrir essa doença de pele em
algum momento na vida. O estres-
se e outra questões que nem sem-
dos por quatro anos e meio utilizando o protetor solar FPS 15 todos os
dias tiveram uma redução de 39% nas chances de ter câncer de pele, em
comparação ao grupo que não fez uso todos os dias. Doze anos depois,
o grupo continuou sendo observado e notou-se que o número agora era
de 50%. Hoje em dia, a SBD recomenda o uso do FPS 30, mas ressaltam
que, quanto maior o fator, mais eficaz é a proteção.
	 A conscientização também parte dos farmacêuticos, que devem
orientar os seus clientes sobre os danos provocados pela exposição solar,
que podem ser o câncer de pele e envelhecimento cutâneo, além de incen-
tivar o uso de chapéus, óculos escuros, roupas com proteção ultravioleta
e alertar sobre se expor no período de 10 às 15 horas. “Isso pode ser
realizado de diversas formas, desde abordagem direta aos clientes, ban-
ners explicativos, materiais gráficos de orientação, replicando materiais
da campanha Dezembro Laranja”, disse dr. Elimar.
	 A aplicação do protetor é fundamental e deve acontecer quinze
minutos antes da exposição solar, a preferência é que seja sem a roupa e
na maior quantidade possível. A reaplicação deve acontecer a cada duas
horas ou após a entrada na água. De acordo com o INCA, a cada ano,
são diagnosticados 180 mil novos casos de câncer de pele no país e Dr.
Elimar afirma que, independentemente do tipo de melanoma, a remoção
do tumor é o tratamento mais eficaz. “Somente um médico especializado
em câncer da pele pode avaliar e definir o tipo mais adequado de terapia”.
7CINCO SENTIDOS
C
M
Entenda como uma doença dermatológica afeta o psicológico
pre são muito claras podem desen-
cadear a psoríase.”
	 Edna Maria de Santana
é portadora da patologia e afirma
que com o aparição dos sintomas
até suas roupas foram modifica-
das para que não precisasse lidar
com o preconceito e desconheci-
mento das pessoas.” Com o diag-
nóstico de que era psoríase eu
ficava com medo e vergonha de
usar roupas decotadas ou shorts.
Fui me isolando das pessoas, elas
não entendiam que não era conta-
giosa, elas ficavam com receio de
ficar perto de mim.”
	 A doença pode trazer
prejuízo estético como no caso de
Edna mas o dermatologista expli-
ca que as manchas espalhadas pelo
corpo são uma forma que o corpo
encontra para se proteger. “A pso-
ríase é uma defesa para proteger
aquela pessoa do mundo real. As
placas que aparecem nos joelhos
e cotovelos são como protestos de
jogadores de futebol americano.”
	 Mas mesmo assim o
controle da doença é necessário,
como explica Mônica Arruda,
que precisou mudar seu estilo de
vida.“O médico passou exames e
medicação. Eu comecei caminhan-
do e correndo e nisso meu corpo
começou a reagir de outra manei-
ra. Faço atividade física todos os
dias e agora estou sem medicação
nenhuma, não é como se eu ainda
não sentisse dores. Quando passo
por algum problema mais compli-
cado voltam as dores e eu retorno
com as medicações.”
	 Atividade física e medi-
cações não são as únicas formas de
tratamento e por isso a psicóloga
Laís Carneiro aproveitou para fa-
lar sobre a importância dos trata-
mentos paliativos.“A psicoterapia
ajuda no controle da doença fazen-
do com que o paciente saiba lidar
com os problemas rotineiros que
lhe causam estresse, que é uma das
principais causas da psoríase.Uma
das técnicas que a gente usa é a
técnica cognitiva comportamental
que são por exemplo técnicas de
relaxamento, treinamento de habi-
lidades sociais ou respiração.”
A Sociedade Brasileira de Dermatologia conta como você pode se proteger no Dezembro Laranja
Ameaça à saúde mental pode começar em casa
8 SAÚDE MENTAL
C
M
	 O Estatuto da Criança e do Adolescente diz em seu quarto arti-
go: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do po-
der público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária”. Mas nem sempre esse é um direito
garantido em sua integridade. E o problema fica ainda maior quando a
confiança é quebrada no meio em que se espera maior apoio e suporte: o
da família.
	 Em alguns casos, transtornos psiquiátricos vão de encontro aos
interesses das crianças e dos adolescentes, como no narcisismo. Em ou-
tros, os conflitos internos entre membros da família acabam refletindo nos
filhos, como no caso da alienação parental ou abandono afetivo.
São casos diferentes, que têm em comum a importância de desconstruir o
mito de que famílias são sempre formadas por pessoas que prezam pelo
bem-estar dos seus membros. É preciso entender que familiares são seres
humanos assim como todos e estão sujeitos a erros, e nada disso é culpa
da criança em questão. Dentre essas situações a epidemia que faz o maior
número de vítimas no país é abandono afetivo, que criou mais de um
milhão de famílias compostas por mães solo nos últimos dez anos, de
acordo com dados do Instituto Brasileiro Geografia e Estatistica (IBGE).
	 B., de 22 anos, que prefere não se identificar, foi uma das afeta-
das por este tipo de abandono. Seu pai tem mais três filhos, sendo apenas
um fruto do casamento com sua mãe. Quando nova, teve dificuldade em
entender que a decisão do pai em manter contato somente com seus ou-
tros irmãos não era culpa dela. “A relação dele com esses filhos é comple-
tamente diferente da que tem comigo e com meu irmão por parte de mãe.
O mais novo principalmente, sempre foi o mundo dele. Isso sempre me
machucou muito. Quando eu era criança eu até perguntava para a minha
mãe o que ele tinha que eu e o meu outro irmão não tínhamos, por que ele
ganhava toda essa atenção e a gente nenhuma”.
	 Ela foi registrada por seu pai, e teve algum, mesmo que pouco,
contato com ele, o que pode causar confusão quanto a ser ou não um caso
de abandono parental. O artigo 227 da Constituição Federal diz que é de-
ver da família manter a criança ou o adolescente a salvo de qualquer ato
de negligência. Então a resposta é sim, agir com indiferença em relação a
um filho configura abandono afetivo.
	 Isso esclarecido, é de se imaginar que talvez B. não quisesse
ter contato com o pai que a renegou por tantos anos, mas não é o caso.
Mesmo sem ter muita certeza do motivo, decidiu engolir a dor e perdoá-
-lo pelo sofrimento que ele causou ao abandoná-la e se dispôs a retomar
a relação e dar uma chance para o que não teve na infância “A minha
vida toda ele aparecia e sumia, então minha confiança é quase zero, mas
em 2018 ele quis recomeçar uma relação, disse que tinha mudado e que
seria tudo diferente. Eu resolvi dar essa chance, até porque meu irmão
já tinha entrado de cabeça, mas já deixei claro que acho que estou sendo
burra em confiar, porque até agora ele não me deu provas de que vai
ficar na minha vida”.
	 A psicóloga e terapeuta familiar Maria Imaculada Mundim
afirma que por mais que a reaproximação seja possível, é difícil e
depende muito da vontade e abertura dos dois lados e de quem está
intermediando o processo. Além disso, é importante entender as moti-
vações, que podem ser muitas, como culpa ou julgamento por parte de
outros, tornando a situação ainda mais complexa.
	 Mas e quando a reaproximação não é possível? Quando não
existe o interesse? Quando ela não dá certo? Por mais que seja polê-
mica, já existe a possibilidade de pedir uma reparação legal devido
aos danos causados pelo abandono. Em 2012, pela primeira vez, um
pai foi condenado por abandono afetivo e foi sentenciado a pagar 200
mil reais por danos morais à sua filha. Em voto a favor da sentença,
o ministro Marou Buzzi afirmou. “Amor não pode ser cobrado, mas
afeto compreende também os deveres dos pais com os filhos. […] A
proteção integral à criança exige afeto, mesmo que pragmático, e im-
põe dever de cuidar”.
	 Em defesa própria o pai afirmou que o contato com a filha foi
perdido devido ao comportamento da mãe da menina, que não aceitava
que os dois se relacionassem, o que não foi aceito como justificativa.
Se o impedimento da mãe da menina fosse comprovado, hoje em dia
essa história poderia ter outro fim. De acordo com a lei 13.431/2017, que
entrou em vigor em abril de 2018, alienação parental é crime e, mesmo
não tendo a prisão como consequência, pode gerar a perda da guarda da
criança ou adolescente.
	 Mas o que é alienação parental? Ela consiste em desqualificar
o outro genitor ou o membro da família responsável pela criança ou ado-
lescente visando criar sentimentos negativos no menor em relação a essa
pessoa. Mesmo sendo menos conhecida que o abandono, ela também tem
grandes efeitos na saúde mental de uma pessoa ainda em formação.
Foi por essa complicada situação que L., de 19 anos, passou. Quando o
menino fez 5 anos, seus pais se separaram de maneira nada amigável, e
a mãe de L. ficou com sua guarda, gerando um distanciamento entre a
criança e o pai. Quando o menino cresceu, ele decidiu que não queria
viver desta forma para sempre. “Quando fiquei mais velho eu senti falta
de tê-lo mais próximo e passei a procurar por ele além das visitas quin-
zenais que ele fazia quando eu era criança. Minha mãe sempre o pintou
como a pior pessoa do mundo, mas isso não me impediu e ela não reagiu
nada bem”.
Como o ambiente que deveria ser de conforto para os jovens pode se tornar um problema
"Ela não conseguiu entender
que mesmo ele não tendo
sido um bom marido para
ela, ele ainda poderia ser um
bom pai para mim”
- L.
	 Ainda segundo o jovem, a mãe não soube separar as coisas e
acabou descontando os sentimentos pelo pai nele. “Acho que ela sentiu
que foi traída por mim, assim como foi traída por ele. Ela não conseguiu
entender que mesmo ele não tendo sido um bom marido para ela, ele
ainda poderia ser um bom pai para mim”.
	 Esse tipo de atitude controladora, segundo a psicóloga Maria
Imaculada, se deve muitas vezes ao fato de o alienador não conseguir
viver sem a criança. Por causa dessa dependência, ela começa a mani-
pulá-lo, consciente ou inconscientemente, causando danos e ansiedade,
deixando-o perdido e sem referência de família. Ela ainda ressalta que a
partir de 2014, o Brasil adotou a guarda compartilhada como regra após a
separação do casal parental, e isso mudou a dinâmica das relações. Antes,
a mulher tinha a guarda dos filhos, exercendo mais poder sobre a vida
deles. Agora ambos compartilham a responsabilidade e participam ativa-
mente da criação dos filhos.
	 Às vezes a alienação é tão intensa que acaba com o alienador
tentando impor suas vontades não só para as crianças, mas também em
outros ambientes, como relata a professora de educação infantil Eliane de
Santana: “Já aconteceu em caso de separação o responsável informar que
não quer mais que o ex parceiro busque na escola, mesmo sem nenhuma
ordem judicial que restrinja o contato do outro responsável, mas não ha-
vendo restrição judicial não temos essa autoridade”.
	 A saúde mental e física da criança e do adolescente sempre es-
tará além da autoridade dos pais. Um adulto, como ser capaz e respon-
sável, tem o dever de zelar pelo bem-estar dos menores e de não omitir
socorro em caso de suspeita de maus tratos. A felicidade ainda não é um
direito garantido, o que não significa que não se deve tentar fazer com que
isto ocorra.

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Saúde Corpo Mente Revista Setembro

  • 1. Corpo + MenteNº 1 - SETEMBRO/2019 DIABETES: Com o crescimento do número de casos, número de amputações e mortes em decorrência da doença, especialistas alertam para o perigo da má alimentação e da falta de exercício • página 4 SAÚDE MENTAL | UM PERIGO FAMILIAR COMO MANTER-SE JOVEM PSORÍASE: Saiba mais sobre a doença que, mesmo não sendo contagiosa, gera tanto preconceito e muda o estilo de vida dos afetados • página 7 APENAS 1,8% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA DOA SANGUE • PÁGINA 3 SAIBA MAIS CIRCULAÇÃO GRATUITA Como determinados comportamentos podem tornar o ambiente familiar um lugar hostil e prejudicial para a saúde mental de crianças e adolescentes. Leia os relatos de jovens que sofreram de abandono e alienação parental, e saiba como isso afetou o seu desenvolvimento mental • página 8 Apesar do inevitável envelhecimento físico, é possível viver bem e se divertir na terceira idade. Déa Silva da Silveira, nas fotos acima com 20 e 80 anos, e Joaquim Barroso Filho falam sobre saúde, atividades cotidia- nas e a felicidade de serem idosos ativos • página 5 MIOPIA: O problema de visão que atingiu níveis alarmantes e corre o risco de se tornar uma epidemia. Veja como evitar • página 6
  • 2. A Corpo + Mente é um jornal de saúde que visa a emancipação do público leigo, e entendemos que nada melhor do que o conhecimen- to para fazer isso. O jornal entende a importância da pro- ximidade do ser humano com o próprio corpo e da capaci- dade de entender quando há algo errado com ele. Estar em contato com você mesmo é o melhor remédio. Com a evo- lução da medicina, veio o au- mento da expectativa de vida. Esse aumento pode soar como algo incrível, o que realmente é, mas também traz o aumen- to do número de doenças, tor- nando ainda mais importante um diagnóstico precoce para ajudar nas chances de cura e na diminuição de sequelas. O nome do jornal e a nossa matéria de capa deixam claros que não é apenas com o corpo que nos preocupamos. O século XXI, com todos as mudanças tecnológicas ocor- ridas de maneira tão rápida, vem mostrando um grande aumento no número de do- enças mentais e psicológicas. Mesmo que com o grande estigma que essas patologias carregam, a sociedade está cada vez mais ciente de que elas são reais e que necessi- tam de tratamento tanto quan- to qualquer outra patologia. É Julia Silveira barroso.julia@gmail.com C M 2 Caro leitor, A Corpo + Mente tem o intuito de promover conhe- cimento de diversas áreas da saúde na população. Essa edição contém entrevistas com especialistas nos casos citados e dados apurados meticulosamente para trazer a notícia da forma mais simples e concreta para os nossos leitores. Nosso jornal tem o objetivo de conscientizar pessoas de todas as idades, desde os mais jovens até os idosos. Além disso, contamos com a personagens, que foram de grande ajuda para a composição das nossas reportagens, agradecemos pelas contribuições, e podemos afirmar que tive- mos todo cuidado possível com os seus casos na hora de escre- ver suas histórias. Esperamos ter atendido as suas expectativas. Estamos, sempre, abertos a sugestões de pautas para a próxima edição da nossa revista, pois o nosso interesse é escrever sobre o que o público quer ler e saber mais. Editorial Luta Antimanicomial continua Letícia Freitas leticiasantana21@gmail.com Luiza Almeida luiza.1803@hotmail.com A luta antimanico- mial tem o intuito de reivin- dicar os direitos das pessoas mentalmente instáveis, com- batendo a concepção de que um paciente psiquiátrico deve ficar internado num ambiente hostil, quando o cidadão tem todo o direito à liberdade e a viver em sociedade, aberto a tratamentos sem necessidade de internação. O movimento teve início na década de 1970, com o lema “por uma socie- dade sem manicômios” e a reunião dos profissionais da área de psicologia, o Encon- tro dos Trabalhadores da Saú- de Mental no dia 18 de maio, marcando o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O projeto da reforma psiquiátrica visa uma recupe- ração junto à família, fortale- cendo os vínculos sociais e a cidadania. O intuito é que o Estado não precise fornecer um hospital psiquiátrico, pois o enfermo teria acesso a ati- vidades alternativas, relacio- nadas ao lazer, além dos tra- tamentos psicológicos menos invasivos. Em 2001, a Lei Paulo Delgado colocou muitos dos tópicos pensados em prática. Os pacientes ganham o direi- to à informação sobre a sua esse protagonismo necessário da mente que influenciou na escolha do nome do nosso periódico. Mesmo que seja impossível dissociar o corpo da mente, e tudo esteja inter- ligado, fazendo com que pos- sa soar redundante chamar o jornal de Corpo + Mente, é de suma importância deixar claro para o leitor, que pode ainda estar aprendendo a lidar com essa nova realidade na qual essas doenças são cada vez mais comuns, que elas são sim reais e que sim, nos importamos com elas. Com esse jornal, a expectativa é de que o leitor se torne cada vez mais capaz e consciente de si e se torne mais apto a participar ativa- mente do tratamento de suas doenças, sejam elas quais forem. O paciente não é ne- cessariamente um ser passivo que apenas escuta e obedece sem questionar as possibili- dades. Com o conhecimento necessário, é possível que haja uma troca de informa- ções e o doente possa debater com os médicos sobre as pos- sibilidades e sobre qual trata- mento mais se encaixa no seu estilo de vida ou até mesmo ser capaz de escolher qual médico se alinha mais com a sua visão de mundo e as suas necessidades. condição, a abordagem usa- da pelos especialistas e estão protegidos de qualquer abuso. Apesar das conquis- tas feitas pelo movimento, até 2016, ainda existiam 160 hos- pitais psiquiátricos no Brasil. E os casos de saúde mental ainda são banalizados pelo governo, que não cria novas políticas públicas para ajudar essa parte marginalizada da sociedade. Muitos dos casos podem ser tratados com mé- todos menos invasivos e mais saudáveis para o paciente, para que ele tenha consciên- cia do que se passa durante o período de crise. O jornal Corpo + Mente se solidariza com a luta antimanicomial e busca ex- pressar através desse artigo, o nosso apoio ao tratamen- to humanizado em pacientes com doenças psicológicas. O sistema psiquiátrico brasilei- ro os deixam mais doentes do que antes, injetando drogas que os deixam sonolentos e sedados, entre outros efeitos colaterais. Esse movimento ainda precisa de ajustes do governo e apoio da popula- ção, que precisa aprender que doentes mentais precisam de empatia, e não serem isolados da sociedade.
  • 3. 3SAIBA MAIS C M Técnica de enfermagem desmistifica a profissão Sueli Rosangela fala sobre os grandes desafios e o que faz esse exaustivo trabalho valer a pena No profissional do mês de dezembro, conversamos com a técnica de enfermagem da Casa de Saúde São José, hospital em Bota- fogo, no Rio de Janeiro. Com mais de 25 anos na ativa, Sueli Rosange- la (53) conta sobre os desafios do cargo e fala de questões que geram curiosidade acerca da profissão. Corpo e Mente: Vamos começar pelo básico, o que um técnico de enfermagem faz? Sueli: Eu dou banho, administro medicação, pulsiono veia e faço alguns exames. Todo plantão tem que verificar os sinais vitais, tem- peratura e etc. O paciente acama- do, nós trocamos a fralda, fazemos uma higiene íntima e pessoal, e o ajudamos a trocar de posição. As- sim vai o plantão. CM: O que te fez trabalhar nes- sa área? Sueli: Quando eu era criança, fi- quei internada com hepatite e na nessa época os pais não podiam ficar no hospital, então eu chorava muito quando eles iam embora. En- tão as enfermeiras me colocavam pra ajudar elas dando mamadeira e comida. Quando eu tive alta, falei pro meu pai queria ser enfermeira. CM: Qual é a diferença entre o técnico de enfermagem, o auxi- liar de enfermagem e o enfer- meiro? Sueli: O auxiliar de enfermagem não existe mais, pois o COREN tirou essa profissão. O técnico de enfermagem é a nível de ensino médio e o enfermeiro é nível supe- rior e eles que delegam as funções para o técnico. Tem coisas, como passar uma sonda e curativos, que só o enfermeiro que faz. CM: É comum ouvir que enfer- meiros são desvalorizados e vis- tos como menos importantes que os médicos. Você se sente desse jeito? Se sim, de quem esse tipo de pensamento costuma vir, dos médicos ou dos pacientes? Sueli: Sim, claro.Todos nós nos sentimos desse jeito. Nós que passamos a maior parte do tempo com paciente e sabemos tudo so- bre eles, e o mérito é sempre do médico. Esse tipo de pensamento costuma vir dos pacientes. CM: Outra polêmica que en- volve a enfermagem gira em torno da hipersexualização da profissão. Você já passou ou presenciou alguma situação de assédio vinda de um paciente ou colega de trabalho? Sueli: Nunca aconteceu comigo, nem com a enfermagem e nem com o paciente, mas já acontece- ram situações que colegas da en- fermagem assediaram o paciente, assim como teve pacientes que assediaram alguns colegas meus. CM: Quais qualidades você acredita que são necessárias para se tornar um enfermeiro? Sueli: Primeiramente, é amor ao próximo. Amor, paciência, com- preensão. A pessoa tem que ser calma e gostar do que faz. CM: Você já passou por alguma situação inusitada na profissão? Sueli: Várias situações, são tanta histórias que a gente acaba es- quecendo. Doação de sangue no Brasil e no mundo Sueli Rosangela Foto:Luiza Almeida CM: Quais são os maiores desa- fios da profissão? Sueli: A carga horária em si. É muito chato você abandonar a sua família no dia de Natal para ir cuidar da família dos outros. Você não tem vida social, você não tem carnaval e nem pode programar uma viagem. Eu trabalho numa instituição que não posso trocar plantão e só tenho uma folga no mês, então , eu tenho que me pro- gramar para uma festa, uma saída. Essa parte é muito ruim. A gente se dedica tanto e acaba não tendo tempo para nós mesmos. CM: E o que faz tudo isso valer a pena? Sueli:Ver o paciente sair bem, ver o sorriso e a cura, é o agradecimento. Eu trabalhei num hospital infantil logo no início da minha profissão, e teve uma criança que era modelo e teve leucemia, e sempre internava com a gente para fazer quimiote- rapia. Ela me chamava de dinda porque eu sempre comentava com a família sobre o meu afilhado. Foi muito gratificante vê-la curada, eu fiquei muito feliz e essa foi a uma situação que me marcou muito. Veja dados da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde e seja um doador
  • 4. O número de diabéticos está em crescimento. Nos últimos 10 anos, houve um aumento de 61% no Brasil. No Rio de Janeiro, o aumen- to foi maior que 50%. Essa é uma tendência mundial, consequência dos maus hábitos alimentares e do envelhecimento da população. A diabetes é uma doença crônica que ocorre quando o corpo não produz insulina suficiente ou não emprega de forma adequada a in- sulina produzida. Conhecida também como doença silenciosa, a diabe- tes pode demorar a ser diagnosticada, favorecendo complicações como doenças cardiovasculares, problemas renais, cegueira e amputações. É importante ficar atento aos sintomas, sendo os mais comuns necessidade de urinar frequentemente e sede constante. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), são mais de 13 milhões de brasileiros com a doença, e, segundo o Minis- tério da Saúde, em 2017 foram 12.748 amputações e houve um cresci- mento de 12% no número de óbitos entre 2010 e 2016. Esses números são preocupantes para a cuidadora de idosos Eloísa Ferreira, que é diabética desde que seu filho nasceu. Com pais também diabéticos, Eloísa recebeu um alerta sobre as possíveis consequências da doença. “Eu não posso me machucar, me cortar, porque o médico falou que é arriscar de amputar o pé.” Apesar do fator genético, a diabetes é normalmente ocasionada por fatores comportamentais como excesso de peso e sedentarismo, então adotar hábitos mais saudáveis e praticar exercício físico são fundamen- tais para previnir a doença. A endocrinologista Rita de Cássia considera um avanço o atual acesso à informação e indica o portal da SBD para maiores informações sobre a doença e os tratamentos. Além disso, fala da importância de conhecer sobre os cuidados preventivos, alimentação cor- reta e utilização de medicamentos. “À medida que você saiba que na sua família tem um fator genético que predispõe à diabetes, a pessoa já deve ter cuidados gerais, tanto quanto a sua alimentação quanto com atividade física, que são fatores ambientais essenciais para a prevenção da doença. Ou para que, pelo menos, essa doença abra o quadro tardiamente.” A médica Paloma Hess, do Instituto Estadual de Diabetes e En- docrinologia, também valoriza os programas de educação e o acesso à informação como caminhos para diminuir a incidência de diabetes, e tem uma visão holística para o acompanhamento da doença. “O tratamento multidisciplinar do diabetes é fundamental. O bom controle do diabetes não é alcançado só com medicação, mas com educação em diabetes. As- sim como as outras áreas, a dieta é fundamental no tratamento, atividade física e cuidados com os pés.” A diabetes requer acompanhamento médico e cuidados diá- rios, mas é possível ter uma vida saudável com o tratamento. Diabetes faz mais vítimas Adoçantes artificiais 4 ESTILO DE VIDA C M Para exercitar a mente Complete os espaços vazios com números de 1 a 9 sem repetir na linha, na coluna ou nos quadrados menores (3x3) 1 5 3 4 6 1 4 2 3 2 8 2 4 7 9 5 8 4 4 9 5 3 8 5 6 1 9 2 7 3 1 Especialistas falam sobre o tratamento e a prevenção da doença Como foram descobertos e o risco de seu uso Os adoçantes artificiais possuem moléculas parecidas com a do açúcar. Por isso, as papilas gustativas aceitam o paladar como doce. C12 H22 O11 açúcar (sacarose) Nunca foi possível proposi- talmente copiar as moléculas, retirar as calorias e ativar o receptor de doce no cérebro. Todos foram descobertos por acaso. Entre os mais conhe- cidos, temos stevia, sacarina, aspartame e sucralose. Fonte: Naruhodo Stevia: 150x açúcar Sacarina: 200x açúcar Sucralose: 600x açúcar Aspartame: 200x açúcar Os guaranis já usavam a planta stevia para adoçar. A universidade que possui a paten- te de produção é Universidade Estadual de Na década de 1870, na indústria de produtos a partir de carvão, um trabalhador lambeu resíduo de coproduto de carvão. Ao sentir Foi descoberto nos anos 1960 em teste de medicamento para úlcera. É um pouco me- tabolizado, então tem calorias (mas ainda A partir da mistura de açúcar e cloro, foi descoberto na criação de um agrotóxico. A substância resultante não era tóxica. É o adoçante artificial mais resistente a calor, por isso é mais utilizado na culinária, também no "refrigerante zero". considerada nula quando comparada ao açúcar). que era doce, foi testar se era tóxico. Theodore Roosevelt adorava a sacarina e começou a distribuir para os soldados na primeira guerra. Nesse período surge a ideia de torrão de açúcar. Na década de 1960, houve uma associação entre consumo de sacarina e câncer de bexiga. Na mesma época, começaram os problemas da indústria do tabaco. A indústria alimentícia nos anos 1970 então passou a alertar a população nas embalagens, como fazia a indústria do tabaco, mas o consumo con- tinuou a crescer. Nos anos 2000 viu-se que a associação era circunstan- cial, então foram retirados os avisos. Maringá, local de colônia japonesa. O Japão tem crisântemo como flor símbolo, que é da mesma família da stevia. Aprovado para consumo nos EUA na década de 1990, já era usado há 30 anos no Japão. É o artificial mais próximo do natural. Adoçantes artificiais podem induzir obesidade indire- tamente. O cérebro acha que consumiu calorias, dá sensação de saciedade, mas não houve transformação de energia. O es- tômago e o cérebro ficam com informações divergentes, então o cérebro para de associar saciedade com açúcar. Assim, você passa a comer mais açúcar porque depende apenas da percepção do estômago. Seu uso é recomendado com acompanhamento médico e de acordo com suas necessidades metabólicas. ATENÇÃO! Eles servem para imitar o efeito do açúcar, mas sem as calorias. Isso é possível porque não interagem com o organismo, então não são transformados em energia.
  • 5. Nascer, crescer, reproduzir-se e morrer: a ordem que parece ló- gica, com algumas ressalvas, esconde o desafio de envelhecer. O segredo para aproveitar a terceira idade é manter-se saudável e fugir do isolamen- to social, visto que a crescente expectativa de vida possibilita que essa fase seja feliz e produtiva.Aoportunidade de criar novas rotinas e o prota- gonismo do idoso em sua própria vida são pontos relevantes na sociedade brasileira, que apresenta um envelhecimento demográfico, ou seja, com a maior expectativa de vida, a população com mais de 60 anos cresce. Joaquim Barroso Filho - 14 anos e 76 anos Fotos: Arquivo pessoal e Julia Barroso Renovação na terceira idade 5ESTILO DE VIDA C M Idosos falam sobre a importância de ser saudável e feliz nessa fase da vida “O idoso chegava aos 70 anos e achava que tinha que sentar e esperar a morte, mas isso mudou. Aos 70 anos todo mundo era um velho, hoje em dia não.” - Déa Silveira Dona de casa desde os 16 anos, Déa Silva da Silveira, de 81 anos, se preocupa: “Eu tenho saúde, mas quero me conservar. E serviço de casa cansa muito”. Casada há 54 anos, não mora com o marido – fica na casa do filho e da nora ajudando com os dois filhos do casal. “Faço as coisas todas para ajudar, porque minha nora trabalha. Tenho faxineira e passadeira, mas cuido da roupa para lavar, da arrumação da casa no dia a dia, de lavar louça. Isso eu gosto de fazer, e faço porque gosto”. Há cinco anos na aula de hidroginástica, já fez dois anos de yoga e três anos de “ginástica na praça”. Começou porque gostava de exercícios, mas hoje sente que ajuda muito na saúde. “Eu sou muito educada nos meus exercícios. Não exagero, faço como eu posso e onde eu posso. Frequên- cia é importante”. Acrescenta que essa possibilidade de fazer exercícios físicos antes era dada apenas aos jovens. “O idoso chegava aos 70 anos e achava que tinha que sentar e esperar a morte, mas isso mudou. Aos 70 anos todo mundo era um velho, hoje em dia não. Eu tiro por mim”. Também com uma rotina de atividades físicas, Joaquim Barroso Filho, de 77 anos, é aposentado desde os 47 e diz ter se adaptado bem por- que deixou de trabalhar mas sempre fez outras atividades para não ficar completamente ocioso. Grande colaborador na construção da Paróquia São Judas Tadeu no IAPI da Penha, Joaquim ainda é membro ativo da co- munidade. Fez curso de Noções de Jornalismo e de Espanhol na UnATI/ UERJ (Universidade Aberta da Terceira Idade) e faz caminhada regular e exercícios nos aparelhos da prefeitura. “Sempre pratiquei alguma coisa, mesmo na época em que eu trabalhava, inclusive no momento em que exer- cício não era moda. Em 1974 eu corria na rua e me chamavam de maluco. Essa sede de exercício da população veio nos anos 80”. Joaquim confessa ter relaxado após a aposentadoria e só retomou as atividades físicas por questão de saúde, mas diz já ter melhorado muito. Quando compara sua geração às anteriores, fala da atual qualidade de vida: “Hoje você tem uma vida bem diversificada. Também entraram novos horários de trabalho. E inclusive a questão da medicina, que hoje dá um amparo muito maior”. Especialistas analisam os casos A endocrinologista Rita de Cássia Silveira ressalta que nem todo idoso tem condições de ser independente. “O pré-requisito é que ele faça um tratamento continuado e preventivo das várias patologias que ele possa ter, sobretudo das doenças cardiorrespiratórias e meta- bólicas. Isso tudo colabora para que ele tenha uma saúde física”. Além disso, afirma ser importante o acompanhamento da saúde mental e da existência de uma comunidade ao redor do idoso, seja um grupo familiar ou de amigos. “Muitas vezes o idoso não quer sinalizar que ele precisa da outra pessoa. Quanto mais ficarem perto dele, mais feliz ele vai fi- car. Com isso, melhor será a qualidade de vida e maior a longevidade”. Estímulo à atividade física, acompanhamento nutricional e educação sobre tratamentos das doenças crônicas significam aumen- to da qualidade de vida, que depende também do comportamento nos anos anteriores. Segundo Dra. Rita de Cássia, a educação em saúde é importante porque o idoso muitas vezes é responsável por conscienti- zar a família, e a forma mais abrangente de divulgar o conhecimento na terceira idade tem sido a exposição na mídia sobre problemas de saúde e esclarecimentos de doenças e seus sintomas. “Principalmente quando há a recomendação ‘procure seu médico’, porque cada caso é um caso. Há sempre as contraindicações”. Sobre a atividade física, sinaliza que nem todos os problemas de saúde restringem os idosos, e menciona a existência de grupos de reabilitação para os que têm doenças limitantes. Retomar os exercícios ao chegar à terceira idade ou começar a praticar após os 60 são duas opções válidas – o importante é se movimen- tar. A professora de Educação Física Gabriela Moreira, que trabalha no Programa Academia Carioca da prefeitura do Rio de Janeiro, afirma que a intensidade das atividades físicas vai depender de qual desses caminhos foi escolhido pelo idoso. “Mesmo não tendo tido uma vida ativa, ele pode se tornar um atleta. É importante sempre a gradação e o acompanhamento de um profissional de Educação Física”. Além de depender do histórico de cada um, é importante alcançar condicionamento físico antes de par- tir para os exercícios de maior impacto. Ela cita benefícios da prática regular de atividades físicas: “Melhora o equilíbrio do idoso, melhora a concentração, ajuda a manter o peso ou emagrecer, aumenta o rendimento físico. Além disso, estimula o convívio social e melhora a autoestima”. Realizar as atividades em grupo funciona como um incentivo, mas a professora Gabriela fala que é importante uma análise das necessida- des individuais dos alunos, porque o histórico de cada idoso mostra o que deve receber maior atenção e, por exemplo, que remédios precisam ser to- mados antes do exercício. Além disso, como a maior parte de seus alunos prefere fazer exercício pela manhã, ela ressalta a importância do protetor solar, de manter-se hidratado e da alimentação antes da atividade para evi- tar hipoglicemias, tonturas e quedas. Para o exercício se tornar um hábito, a professora recomenda que seja escolhida uma atividade que o idoso goste.
  • 6. Crianças estão se tornando míopes cada dia mais cedo A miopia é uma doença que já atinge 25% da população mundial hoje em dia. É causada por um erro de refração e quem possui não consegue ver com nitidez o que está em uma lon- ga distância. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a miopia é a epidemia do século e acredita-se que, até 2050, metade da população será míope. Porém, com o tratamento adequado, é possível contornar a situação. Atualmente, as crian- ças estão ficando míopes cada dia mais cedo. Esse é o caso do Cauê de Santana (13). Ele possui miopia desde os nove anos e sua mãe, Eliane de Santana (46), fala que percebeu na prática que as tela de computadores e televisões podem causar problemas na visão do filho. “Eu sempre soube que o uso de tecnologia poderia causar problema de visão, mas não sabia exatamente qual. Eu levei ao oftal- mologista porque ele começou a reclamar de muita dor de cabeça, principalmente depois que chega- va da escola”. Hoje em dia, Eliane re- duz o tempo do seu filho em frente as telas. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 20% das crianças em idade escolar apre- sentam problemas de visão, assim como Cauê, e a tecnologia pode ser a maior culpada mesmo. O oftal- mologista Antonio Brandão acom- panha essas pesquisas e confirma a ligação da tecnologia com mais ca- sos da doença: “As crianças exage- ram no uso dessas mídias digitais e provocam o aumento e o surgimen- to de miopia. Isso foi percebido de 20 anos pra cá, quando aumentou o acesso à tecnologia digital”. Sabendo dessa infor- mação, alguns pais tomam suas precauções, como Sueli Rosange- la (53), mãe do Lucas Silva (15). Ele não possui nenhum problema de visão, mas existem vários casos na família, então ela decidiu ficar sempre de olho no tempo que o filho passa na frente das telas. “Eu levo ele ao oftalmologista uma vez ao ano, não deixo assistir televisão muito perto da tela e nem ficar mui- to tempo nos aparelhos eletrônicos, no máximo uma hora e meia”. 6 CINCO SENTIDOS C M Saiba o que pode causar e como evitar os casos Aumento dos casos de surdez traz a importância de conhecer os diferentes níveis da deficiência No Brasil, 5,8 milhões de pessoas são deficientes auditivas, o que corresponde a 3,8% da popula- ção do país, de acordo com o Minis- tério da Saúde. Em escala mundial, esse número chega a 360 milhões, com a alarmante previsão da OMS (Organização Mundial de Saúde) de um aumento para 900 milhões no ano de 2050. Entenda o que causa e como prevenir a doença. Quando se fala em sur- dez, é comum imaginar a perda completa da audição, mas essa não é a definição médica. São di- ferentes níveis, podendo ser clas- sificada em ligeira, média, severa, profunda e cofose. No primeiro grau, o ligeiro, apenas alguns fo- nemas são perdidos, dificultando uma conversa. No segundo grau, o médio, já pode haver um atraso na aquisição de linguagem, e ape- nas palavras num volume elevado são ouvidas, existe a necessidade da leitura labial. No grau severo, o terceiro, existe a necessidade de gritar para ter a sensação de estar falando e a fonética é prejudicada, a necessidade da leitura labial se intensifica. No quarto grau, o pro- fundo, não existe mais a sensação auditiva, as perturbações na fala aumentam e surge a facilidade no aprendizado da linguagem gestual. Observando essa grada- ção, apenas em seu quinto e último grau o estereótipo de surdez exis- te. Na cofose, o afetado vivencia a ausência total de sons. Existem fatores de ris- co, que aumentam as chances de desenvolver a doença, sendo eles: casos de surdez na família; nas- cimento prematuro; nascer abai- xo do peso; o uso de antibióticos tóxicos ao ouvido e de diuréticos no berçário; infecções congênitas, principalmente sífilis, toxoplas- mose e rubéola. Em outros casos, ela também pode ser evitada. Deve-se tomar cuidado com objetos pontiagudos inseri- dos na orelha, porque eles podem causar graves lesões. Trabalha- dores expostos a ruídos intensos devem fazer uso de equipamento de proteção auditiva. O atraso na fala da criança pode ser sinal de problema auditivo, um médico deve ser procurado para evitar que o problema se torne mais grave. O teste da orelhinha deve O foco para enxergar o que está nas telas faz com que a visão se acomode e fique acos- tumada a focar somente no que está perto. A luz violeta também é culpada e Emanuel dos Santos, que trabalha na Ótica da Vila no Rio de Janeiro, explica o por quê: “Os celulares e tablets emitem uma luz violeta. Essa luz afeta a córnea e a visão, e por isso está aparecendo tanta criança com problema de visão. Agora já tem lente com proteção contra essa luz que celular emite”. De acordo com a OMS, de 2020 até 2049, o Brasil terá um aumento de 89% nos casos. ser feito nos recém-nascidos para garantir que a audição se encon- tre em perfeito estado. Já para as gestantes, é importante o acom- panhamento pré-natal, para cui- dar de doenças que podem causar surdez no bebê, como a sífilis ou a rubéola. Em caso de sintomas como zumbidos, sensibilidade ou dificuldade para ouvir, busque aju- da médica. A surdez pode ser de- finitiva, resolvida com cirurgia ou com aparelho auditivo, mas, para que essa resposta seja dada, é ne- cessária a consulta com um otorri- nolaringologista, um clínico geral ou um fonoaudiólogo o quanto antes para que o problema não se agrave e passe de um caso cirúrgi- co para um caso irreversível. É possível previnir o agravamento ao procurar ajuda médica nos primeiros sinais de algo errado Cauê de Santana começou a apresentar problemas de visão devido ao uso exces- sivo da tecnologia. Fotos: Letícia Freitas
  • 7. No início do ano de 2019, Kim Kardashian teve que lidar com críticas ao que o Daily Mail chamou de um “dia de pele ruim” na vida da empresária. Mas como poderia uma empresária multimilionária, referência em beleza e dona de uma linha de maquiagens sofrer com uma “pele ruim”? A resposta é: com a pre- sença implacável da genética. A doença que acomete a celebridade é a psoríase e não tem nenhuma relação com idade, classe social ou até mesmo higiene, como o preconceito pode levar alguns a crer, mas sim com o fato de sua mãe também ser uma das afetadas pela patologia. Kim Kardashian é apenas um exemplo de celebrida- de que sofre com a doença, ainda sem cura, que também tem como vítimas Britney Spears, Cara Dele- vingne e Cameron Diaz, além de, é claro, muitos anônimos. A psoríase é uma doen- ça de pele crônica não contagio- sa, influenciada efetivamente pelo estresse. De acordo com a ong Conheça a psoríase Mês de conscientização do câncer de pele A cada verão, as expectativas por altas temperaturas crescem. Logo, a importância do protetor solar aumenta, e os movimentos de conscientização estimulando o uso do produto, também. Isso faz parte do Dezembro Laranja, uma campanha para alertar a população sobre a prevenção ao câncer de pele, o diagnóstico e acesso ao tratamento no Brasil. Esse ano, a ação com cerca de quatro mil médicos dermatologistas e voluntários acontecerá no dia sete de dezembro, e tem o intuito de pres- tar atendimento, tirar dúvidas e esclarecer o por quê de adotar as medidas preventivas.As consultas serão gratuitas em mais de 100 postos pelo país, e a previsão é de ajudar 30 mil brasileiros. É o sexto ano consecutivo que a Sociedade Brasileira de Der- matologia (SBD) organiza o movimento, e o doutor Elimar Gomes, co- ordenador nacional da campanha, explica qual a importância da ação na descoberta do câncer de pele: “Nós conhecemos a causa e sabemos que é possível preveni-lo, por este motivo a conscientização pública é uma das formas de reduzir o número de casos. Outro ponto muito importante é que a doença está visível para todos nós, então um maior conhecimento sobre, determina o diagnóstico precoce que possibilita a cura na grande maioria dos casos”. Mas a prevenção pode começar desde cedo. Um estudo publi- cado em 1999 pela pesquisadora Adele Chandler Green, da Universidade de Queensland, na Austrália, mostra que adultos que foram acompanha- Psoríase Brasil no ano de 2014 ela já atingia aproximadamente cinco milhões de brasileiros por todo o país, e em 77% dos casos o portador da doença afirmava sofrer preconceito por conta das manchas espalhadas pelo corpo. Uma pesquisa de Anvisa realiza- da em 2018 aponta que a psoríase afeta 2,5% da população mundial e que 1,5% dos brasileiros tem a doença. A Sociedade Brasileira de Dermatologia afirma que a região sudeste é líder em casos de psorí- ase no país mas não divulgou os números exatos. Para entender as conse- quências da psoríase no corpo de alguém é preciso saber como a pessoa pode contrair a doença. E é exatamente isso que o dermato- logista Antônio Dacre explica. “A pessoa para ter essa doença ela vem algumas questões não muito esclarecidas no código genético que a levam a ter uma propensão para abrir essa doença de pele em algum momento na vida. O estres- se e outra questões que nem sem- dos por quatro anos e meio utilizando o protetor solar FPS 15 todos os dias tiveram uma redução de 39% nas chances de ter câncer de pele, em comparação ao grupo que não fez uso todos os dias. Doze anos depois, o grupo continuou sendo observado e notou-se que o número agora era de 50%. Hoje em dia, a SBD recomenda o uso do FPS 30, mas ressaltam que, quanto maior o fator, mais eficaz é a proteção. A conscientização também parte dos farmacêuticos, que devem orientar os seus clientes sobre os danos provocados pela exposição solar, que podem ser o câncer de pele e envelhecimento cutâneo, além de incen- tivar o uso de chapéus, óculos escuros, roupas com proteção ultravioleta e alertar sobre se expor no período de 10 às 15 horas. “Isso pode ser realizado de diversas formas, desde abordagem direta aos clientes, ban- ners explicativos, materiais gráficos de orientação, replicando materiais da campanha Dezembro Laranja”, disse dr. Elimar. A aplicação do protetor é fundamental e deve acontecer quinze minutos antes da exposição solar, a preferência é que seja sem a roupa e na maior quantidade possível. A reaplicação deve acontecer a cada duas horas ou após a entrada na água. De acordo com o INCA, a cada ano, são diagnosticados 180 mil novos casos de câncer de pele no país e Dr. Elimar afirma que, independentemente do tipo de melanoma, a remoção do tumor é o tratamento mais eficaz. “Somente um médico especializado em câncer da pele pode avaliar e definir o tipo mais adequado de terapia”. 7CINCO SENTIDOS C M Entenda como uma doença dermatológica afeta o psicológico pre são muito claras podem desen- cadear a psoríase.” Edna Maria de Santana é portadora da patologia e afirma que com o aparição dos sintomas até suas roupas foram modifica- das para que não precisasse lidar com o preconceito e desconheci- mento das pessoas.” Com o diag- nóstico de que era psoríase eu ficava com medo e vergonha de usar roupas decotadas ou shorts. Fui me isolando das pessoas, elas não entendiam que não era conta- giosa, elas ficavam com receio de ficar perto de mim.” A doença pode trazer prejuízo estético como no caso de Edna mas o dermatologista expli- ca que as manchas espalhadas pelo corpo são uma forma que o corpo encontra para se proteger. “A pso- ríase é uma defesa para proteger aquela pessoa do mundo real. As placas que aparecem nos joelhos e cotovelos são como protestos de jogadores de futebol americano.” Mas mesmo assim o controle da doença é necessário, como explica Mônica Arruda, que precisou mudar seu estilo de vida.“O médico passou exames e medicação. Eu comecei caminhan- do e correndo e nisso meu corpo começou a reagir de outra manei- ra. Faço atividade física todos os dias e agora estou sem medicação nenhuma, não é como se eu ainda não sentisse dores. Quando passo por algum problema mais compli- cado voltam as dores e eu retorno com as medicações.” Atividade física e medi- cações não são as únicas formas de tratamento e por isso a psicóloga Laís Carneiro aproveitou para fa- lar sobre a importância dos trata- mentos paliativos.“A psicoterapia ajuda no controle da doença fazen- do com que o paciente saiba lidar com os problemas rotineiros que lhe causam estresse, que é uma das principais causas da psoríase.Uma das técnicas que a gente usa é a técnica cognitiva comportamental que são por exemplo técnicas de relaxamento, treinamento de habi- lidades sociais ou respiração.” A Sociedade Brasileira de Dermatologia conta como você pode se proteger no Dezembro Laranja
  • 8. Ameaça à saúde mental pode começar em casa 8 SAÚDE MENTAL C M O Estatuto da Criança e do Adolescente diz em seu quarto arti- go: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do po- der público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Mas nem sempre esse é um direito garantido em sua integridade. E o problema fica ainda maior quando a confiança é quebrada no meio em que se espera maior apoio e suporte: o da família. Em alguns casos, transtornos psiquiátricos vão de encontro aos interesses das crianças e dos adolescentes, como no narcisismo. Em ou- tros, os conflitos internos entre membros da família acabam refletindo nos filhos, como no caso da alienação parental ou abandono afetivo. São casos diferentes, que têm em comum a importância de desconstruir o mito de que famílias são sempre formadas por pessoas que prezam pelo bem-estar dos seus membros. É preciso entender que familiares são seres humanos assim como todos e estão sujeitos a erros, e nada disso é culpa da criança em questão. Dentre essas situações a epidemia que faz o maior número de vítimas no país é abandono afetivo, que criou mais de um milhão de famílias compostas por mães solo nos últimos dez anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro Geografia e Estatistica (IBGE). B., de 22 anos, que prefere não se identificar, foi uma das afeta- das por este tipo de abandono. Seu pai tem mais três filhos, sendo apenas um fruto do casamento com sua mãe. Quando nova, teve dificuldade em entender que a decisão do pai em manter contato somente com seus ou- tros irmãos não era culpa dela. “A relação dele com esses filhos é comple- tamente diferente da que tem comigo e com meu irmão por parte de mãe. O mais novo principalmente, sempre foi o mundo dele. Isso sempre me machucou muito. Quando eu era criança eu até perguntava para a minha mãe o que ele tinha que eu e o meu outro irmão não tínhamos, por que ele ganhava toda essa atenção e a gente nenhuma”. Ela foi registrada por seu pai, e teve algum, mesmo que pouco, contato com ele, o que pode causar confusão quanto a ser ou não um caso de abandono parental. O artigo 227 da Constituição Federal diz que é de- ver da família manter a criança ou o adolescente a salvo de qualquer ato de negligência. Então a resposta é sim, agir com indiferença em relação a um filho configura abandono afetivo. Isso esclarecido, é de se imaginar que talvez B. não quisesse ter contato com o pai que a renegou por tantos anos, mas não é o caso. Mesmo sem ter muita certeza do motivo, decidiu engolir a dor e perdoá- -lo pelo sofrimento que ele causou ao abandoná-la e se dispôs a retomar a relação e dar uma chance para o que não teve na infância “A minha vida toda ele aparecia e sumia, então minha confiança é quase zero, mas em 2018 ele quis recomeçar uma relação, disse que tinha mudado e que seria tudo diferente. Eu resolvi dar essa chance, até porque meu irmão já tinha entrado de cabeça, mas já deixei claro que acho que estou sendo burra em confiar, porque até agora ele não me deu provas de que vai ficar na minha vida”. A psicóloga e terapeuta familiar Maria Imaculada Mundim afirma que por mais que a reaproximação seja possível, é difícil e depende muito da vontade e abertura dos dois lados e de quem está intermediando o processo. Além disso, é importante entender as moti- vações, que podem ser muitas, como culpa ou julgamento por parte de outros, tornando a situação ainda mais complexa. Mas e quando a reaproximação não é possível? Quando não existe o interesse? Quando ela não dá certo? Por mais que seja polê- mica, já existe a possibilidade de pedir uma reparação legal devido aos danos causados pelo abandono. Em 2012, pela primeira vez, um pai foi condenado por abandono afetivo e foi sentenciado a pagar 200 mil reais por danos morais à sua filha. Em voto a favor da sentença, o ministro Marou Buzzi afirmou. “Amor não pode ser cobrado, mas afeto compreende também os deveres dos pais com os filhos. […] A proteção integral à criança exige afeto, mesmo que pragmático, e im- põe dever de cuidar”. Em defesa própria o pai afirmou que o contato com a filha foi perdido devido ao comportamento da mãe da menina, que não aceitava que os dois se relacionassem, o que não foi aceito como justificativa. Se o impedimento da mãe da menina fosse comprovado, hoje em dia essa história poderia ter outro fim. De acordo com a lei 13.431/2017, que entrou em vigor em abril de 2018, alienação parental é crime e, mesmo não tendo a prisão como consequência, pode gerar a perda da guarda da criança ou adolescente. Mas o que é alienação parental? Ela consiste em desqualificar o outro genitor ou o membro da família responsável pela criança ou ado- lescente visando criar sentimentos negativos no menor em relação a essa pessoa. Mesmo sendo menos conhecida que o abandono, ela também tem grandes efeitos na saúde mental de uma pessoa ainda em formação. Foi por essa complicada situação que L., de 19 anos, passou. Quando o menino fez 5 anos, seus pais se separaram de maneira nada amigável, e a mãe de L. ficou com sua guarda, gerando um distanciamento entre a criança e o pai. Quando o menino cresceu, ele decidiu que não queria viver desta forma para sempre. “Quando fiquei mais velho eu senti falta de tê-lo mais próximo e passei a procurar por ele além das visitas quin- zenais que ele fazia quando eu era criança. Minha mãe sempre o pintou como a pior pessoa do mundo, mas isso não me impediu e ela não reagiu nada bem”. Como o ambiente que deveria ser de conforto para os jovens pode se tornar um problema "Ela não conseguiu entender que mesmo ele não tendo sido um bom marido para ela, ele ainda poderia ser um bom pai para mim” - L. Ainda segundo o jovem, a mãe não soube separar as coisas e acabou descontando os sentimentos pelo pai nele. “Acho que ela sentiu que foi traída por mim, assim como foi traída por ele. Ela não conseguiu entender que mesmo ele não tendo sido um bom marido para ela, ele ainda poderia ser um bom pai para mim”. Esse tipo de atitude controladora, segundo a psicóloga Maria Imaculada, se deve muitas vezes ao fato de o alienador não conseguir viver sem a criança. Por causa dessa dependência, ela começa a mani- pulá-lo, consciente ou inconscientemente, causando danos e ansiedade, deixando-o perdido e sem referência de família. Ela ainda ressalta que a partir de 2014, o Brasil adotou a guarda compartilhada como regra após a separação do casal parental, e isso mudou a dinâmica das relações. Antes, a mulher tinha a guarda dos filhos, exercendo mais poder sobre a vida deles. Agora ambos compartilham a responsabilidade e participam ativa- mente da criação dos filhos. Às vezes a alienação é tão intensa que acaba com o alienador tentando impor suas vontades não só para as crianças, mas também em outros ambientes, como relata a professora de educação infantil Eliane de Santana: “Já aconteceu em caso de separação o responsável informar que não quer mais que o ex parceiro busque na escola, mesmo sem nenhuma ordem judicial que restrinja o contato do outro responsável, mas não ha- vendo restrição judicial não temos essa autoridade”. A saúde mental e física da criança e do adolescente sempre es- tará além da autoridade dos pais. Um adulto, como ser capaz e respon- sável, tem o dever de zelar pelo bem-estar dos menores e de não omitir socorro em caso de suspeita de maus tratos. A felicidade ainda não é um direito garantido, o que não significa que não se deve tentar fazer com que isto ocorra.