3. • A partir das descobertas do físico Isaac Newton
sobre a gravitação universal e sobre o movimento
dos corpos, a pesquisa científica como forma de
compreender e explicar o funcionamento da
natureza ganha forte impulso. O ser humano
recupera, aos poucos, seu desejo de encontrar
explicações racionais para os fenômenos que observa
à sua volta. As ameaças de condenação eterna e a
necessidade de subordinação absoluta ao poder
divino perdem força.
Características principais
4. • O reinado da fé foi substituído pela crença na racionalidade.
• Para eles, a razão e a ciência seriam os "faróis" que guiariam o
ser humano para longe do obscurantismo e da ignorância que
haviam predominado em séculos anteriores. Por esse motivo,
a razão é metaforicamente apresentada nesse momento
como a luz interior.
• Cada poema árcade transforma-se em uma espécie de
propaganda que pretende, como resultado final, modificar a
mentalidade das elites do período. Por esse motivo, o
combate à futilidade é um dos principais objetivos dos
autores da época.
Características principais
5. • fugere urbem: fuga da cidade, da urbanização;
afirmação das qualidades da vida no campo.
• aurea mediocritas: literalmente significa
mediocridade áurea (dourada); simboliza a
valorização das coisas cotidianas, simples, focalizadas
pela razão e pelo bom senso.
• locus amoenus: caracterização de um lugar ameno,
tranqüilo, agradável, onde os amantes se encontram
para desfrutar dos prazeres da natureza.
O resgate de temas clássicos
6. • inutilia truncat: significa cortar o inútil; princípio muito
valorizado pelos poetas árcades, que se preocupavam em
eliminar os excessos, evitando qual-quer uso mais elaborado
da linguagem. Por trás desse princípio estava o desejo de
separar o bom do defeituoso, a fim de garantir que os textos
literários se aproximassem da perfeição da natureza que
pretendiam imitar.
• carpe diem: cantar o dia, aproveitá-lo; o mais conhecido dos
temas desenvolvidos por Horácio, trata da passagem do
tempo como algo que traz a velhice, a fragilidade e a morte,
tornando imperativo aproveitar o momento presente de
modo intenso.
O resgate de temas clássicos
7. Em Portugal
• Fundação da Arcádia
Lusitana (1756) para
combater o exagero barroco;
• Poesia como gênero literário
predominante;
• Uso de pseudônimos
pastoris;
• Carpe diem, fugere urbem,
inutilia truncat.
Templo de Apolo em Phigalia, de
Burlloff, 1835
9. Lírica
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a noite me causara.
10. Satírica
Dos tórridos sertões, pejados de ouro,
Saiu um sabichão de escassa fama,
Que os livros preza, os cartapácios ama,
Que das línguas repartem o tesouro.
Arranha o persiano, arranha o mouro,
Sabe que Deus em turco Allah se chama;
Que no grego alfabeto o G é gamma,
Que taurus em latim quer dizer touro.
Para papaguear saiu do mato.
Abocanha talentos, que não goza.
É mono, e prega unhadas como gato.
É nada em verso, quase nada em prosa.
Não conheces, leitor, neste retrato
O guapo charlatão Tomé Barbosa?
11. No Brasil
• Inconfidência Mineira (1789)
Tiradentes
• O centro sócio-econômico
desloca-se do nordeste para o
centro-sul, devido á descoberta
de ouro e diamantes em Minas
Gerais;
• Surto de urbanização em Minas
e no Rio de Janeiro (nova
capital da colônia);
12. Cláudio Manuel da Costa
(1729-1789)
• O lançamento de Obras
poéticas (1768), de
Cláudio Manuel da
Costa, foi o marco
inicial do Arcadismo no
Brasil.
Pastores, que levais ao monte o gado,
Vêde lá como andais por essa serra;
Que para dar contágio a toda a terra,
Basta ver se o meu rosto magoado:
Eu ando (vós me vedes) tão pesado;
E a pastora infiel, que me faz guerra,
É a mesma, que em seu semblante encerra
A causa de um martírio tão cansado.
Se a quereis conhecer, vinde comigo,
Vereis a formosura, que eu adoro;
Mas não; tanto não sou vosso inimigo:
Deixai, não a vejais; eu vo-lo imploro;
Que se seguir quiserdes, o que eu sigo,
Chorareis, ó pastores, o que eu choro.
14. Lírica
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado,
De tosco trato, de expressões grosseiro,
Dos frios gelos e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte:
Dos anos inda não está cortado;
Os pastores que habitam este monte
Respeitam o poder do meu cajado.
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste,
Nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela,
Graças à minha estrela!
Trecho de Marília de Dirceu,
Parte 1, Lira I. Nesta primeira
parte, Gonzaga conta para
Marília os planos para o
casamento. O eu lírico é
superior.
15. Lírica
Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro,
Fui honrado Pastor da tua Aldeia;
Vestia finas lãs e tinha sempre
A minha choça do preciso cheia.
Tiraram-me o casal e o manso gado,
Nem tenho, a que me encoste, um só cajado.
Para ter que te dar, é que eu queria
De mor rebanho ainda ser o dono;
Prezava o teu semblante, os teus cabelos
Ainda muito mais que um grande Trono.
Agora que te oferte já não vejo,
Além de um puro amor, de um são desejo.
Se o rio levantando me causava,
Levando a sementeira, prejuízo,
Eu alegre ficava apenas via
Na tua breve boca um ar de riso.
Tudo agora perdi; nem tenho o gosto
De ver-te ao menos compassivo o rosto.
Trecho de Marília de Dirceu,
Parte 2, Lira XV. Na segunda
parte da obra, após ser preso
junto aos outros inconfidentes,
Gonzaga lamenta a solidão e o
sofrimento em razão do
afastamento forçado da amada.
O eu lírico é inferior.
16. Satírica
Não cuides, Doroteu, que vou contar-te
por verdadeira história uma novela
da classe das patranhas, que nos contam
verbosos navegantes, que já deram
ao globo deste mundo volta inteira.
Uma velha madrasta me persiga,
uma mulher zelosa me atormente
e tenha um bando de gatunos filhos,
que um chavo não me deixem, se este chefe
não fez ainda mais do que eu refiro.
(...) Tem pesado semblante, a cor é baça,
o corpo de estatura um tanto esbelta,
feições compridas e olhadura feia;
tem grossas sobrancelhas, testa curta,
nariz direito e grande, fala pouco
em rouco, baixo som de mau falsete;
sem ser velho, já tem cabelo ruço,
e cobre este defeito e fria calva
à força de polvilho que lhe deita.
Trecho de Cartas chilenas, em
que, sob o psudônimo de Critilo,
Gonzaga critica os desmandos de
Luís da Cunha Menezes (a quem o
poeta dá o apelido de Fanfarrão
Minésio), que governou a cidade
de Vila Rica entre 1783 e 1788. As
críticas são enviadas por carta
ficticiamente do Chile (daí o
título) para um amigo do poeta
chamado Doroteu.
Ainda me parece que o estou vendo
no gordo rocinante escarranchado,
as longas calças pelo embigo atadas,
amarelo colete, e sobre tudo
vestida uma vermelha e justa farda.
17. Basílio da Gama
(1741-1795)
• Poema épico em que
há crítica às ações dos
jesuítas e exaltação ao
marquês de Pombal.
Aqui não temos. Os padres faziam crer aos índios
que os
portugueses eram gente sem lei, que adoravam o
ouro.
Rios de areias de ouro. Essa riqueza
Que cobre os templos dos benditos padres,
Fruto da sua indústria e do comércio
Da folha e peles, é riqueza sua.
Com o arbítrio dos corpos e das almas
O céu lha deu em sorte. A nós somente
Nos toca arar e cultivar a terra,
Sem outra paga mais que o repartido
Por mãos escassas mísero sustento.
Podres choupanas, e algodões tecidos,
E o arco, e as setas, e as vistosas penas
São as nossas fantásticas riquezas.
Muito suor, e pouco ou nenhum fasto.
Volta, senhor, não passes adiante.
Que mais queres de nós? Não nos obrigues
A resistir-te em campo aberto. Pode
Custar-te muito sangue o dar um passo.
18. Santa Rita Durão
(1722 - 1784)
• Poema épico sobre o
descobrimento da Bahia, de
importância histórica pela
mensagem nacionalista. O
poema conta a lenda
de Diogo Álvares Correia,
o Caramuru.
“- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças no amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco”
(Trecho do Canto VI, onde narra a morte de
Moema)