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292
UBERABA
293
Anos 70
A CONSCIÊNCIA DA CULTURA
Falar muito de Guido Bilharinho seria, no mínimo
desnecessário, principalmente quando o leitor tem à sua frente vasto e
bem cuidado depoimento seu para ler. Mas, para não ficar
descompensado, devo relembrar ao leitor que Guido foi o
perfeccionista presidente da Academia de Letras do Triângulo
Mineiro, diretor do extinto Suplemento Cultural do Correio Católico e
autor do livro Poetas do Triângulo Mineiro - Antologia. De Guido
basta sua atividade aliada a um critério incomum em nossa terra.
Critério de avaliação dos movimentos e das produções culturais. No
fundo, o que Guido tem de mais notável é sua capacidade operacional
que resultou em frutos de indiscutível sabor.
hoje?
O panorama cultural da cidade nos dias de hoje não é
satisfatório. A rigor, nunca o foi, embora tenha havido épocas em que
esteve, pelo menos, melhor. E nunca o foi porque a sociedade
brasileira, pelas bases em que se assenta, não favorece atividades
culturais e artísticas, preferenciando e valorizando o conhecimento
técnico de aplicação prática imediata. Sem minimizar a importância
desse conhecimento e a necessidade de seu domínio e
aprofundamento pelo profissional dever-se-ia, também, e com mais
294
razão, atender à formação da sensibilidade do indivíduo e não, apenas,
como acontece, enfatizar unicamente sua dimensão racional. Desse
modo, nossa sociedade, não favorecendo e nem valorizando
devidamente as artes e a cultura, relega-as ao cultivo de poucos, que
se vêem isolados e destacados do corpo social, o qual não possui, de
modo geral, as condições necessárias para usufruir da produção
artística e nem para entendê-la e acompanhá-la em seu
desenvolvimento e aprofundamento constantes e ininterruptos, mercê
da experimentação, da prática e da criatividade dos artistas. O vácuo
deixado por essas deficiência e lacuna é preenchido e ocupado, nas
horas de lazer, pela produção massificada destilada pela indústria do
entretenimento fácil e inconsequente, que se utiliza dos diversos meios
de comunicação de massa, o rádio, a TV, a publicação de livros do
bolso e best-sellers anódinos e inócuos. Contudo, essa característica
não é apenas local, mas ocorrente em todo o país, cada vez mais
massificado e conformado pelo uso inadequado das potencialidades
extraordinárias da comunicação eletrônica.
dos anos 60?
No fundamental, o panorama atual não é muito diverso daquele
existente na década de 1960. No que tange à sociedade de modo geral,
dois fatores contribuíram para torná-lo, agora, mais insatisfatório em
vários aspectos: o longo período de repressão generalizada vivido pelo
país e acentuado a partir de dezembro de 1968 e o crescimento do
consumo e da influência da produção massificada de baixa categoria
295
da TV, do rádio e do cinema. O mal não é o aumento, em si, do
consumo e da influência das produções desses meios de comunicação.
É seu baixo nível, sua superficialidade, o destorcido enfoque da
problemática humana. Naquela década, Uberaba contava, pelo menos,
com movimentos teatral, cineclubista e literário coesos e atuantes,
que, posteriormente, tiveram esvaídas suas possibilidades, restando,
nos dias atuais, nessas áreas, apenas o esforço individual isolado.
Todavia, em compensação, em dois outros campos a década de 1970
superou consideravelmente a anterior: no movimento editorial de
livros históricos regionais e publicação da revista Convergência pela
Academia de Letras do Triângulo Mineiro, iniciados justamente em
1970, e, na área da ciência do Direito, na edição periódica de livros
jurídicos e da Revista Brasileira de Direito Processual, publicações
que transcendem o terreno meramente técnico, constituindo obras de
investigação e contribuição científica.
manifestações culturais? Não em termos gerais, mas no caso
específico de Uberaba. O crescimento da cidade enriqueceu-a
culturalmente?
Todo crescimento material da sociedade traz, por força, algum
progresso cultural, nem que seja parcial, em determinada área. Pode,
também, prejudicar outras áreas. No primeiro caso, a evolução da
cidade ensejou, por exemplo, o aumento do número de escolas
secundárias e superiores, o que redunda em paulatina e ainda morosa
criação de ambiente verdadeiramente universitário na cidade. No
296
segundo caso, o progresso sem orientação e planejamento redunda em
prejuízo cultural quando afasta o ser humano cada vez mais da
natureza e destrói monumentos arquitetônicos e ambientes culturais.
s. Como os
classificaria?
O lançamento de muitos livros não traduz, por si só,
desenvolvimento e enriquecimento cultural. A arte não é prática
gratuita e, como a cultura de modo geral, não se adquire ou existe pela
simples vontade ou intenção em realizá-la. É necessário, sempre, que
escritores, pintores, dramaturgos, compositores, ou seja, todos aqueles
que tenham a pretensão de produzir obras de arte, dominem os meios
específicos de expressão e tenham plena consciência das
possibilidades e virtualidades desses meios expressionais, a fim de não
se limitarem a meros repetidores de fórmulas e formas. A arte
pressupõe, sempre, busca, pesquisa, experimentação e,
principalmente, criatividade. O artista, a par de sensibilidade e aptidão
próprias, necessita conhecer o melhor que se produziu antes dele,
porém, não para repetir ou imitar o que não tem valor e nem é
necessário mas para ampliar, expondo sua própria visão do mundo
em formas expressionais renovadas, renovadoras e atualizadas. Muitos
dos livros que se publicam aqui, como em toda parte, não
correspondem a essas exigências.
-se de apoio cultural, de suplementos, ou,
mais importante, de uma Fundação Cultural?
297
Uberaba necessita de suplementos e de uma Fundação Cultural,
sem dúvida. Contudo, somente isso não é suficiente. É necessário, que
uns e outra, tenham apoio, meios de sobrevivência, sejam dirigidos
pelas pessoas certas e tenham liberdade de atuação. A arte, a cultura e
a ciência só se desenvolvem onde existem essas condições. Não se
pode ter as pessoas erradas nos lugares certos. Não podem instituições
desse tipo depender de meios aleatórios de sobrevivência. E
verdadeiramente só produzam efeitos e geram benefícios no decurso
de período mais ou menos longo de atuação constante, embora um
suplemento, por exemplo, de pronto já permita publicação e
divulgação da criação literária que jaz engavetada.
m o poeta e o
escritor daqui?
Algumas revistas, a exemplo da já citada Convergência, que por
falta de meios e de disponibilidade de tempo de seus editores somente
pode ser publicada anualmente, o que é insuficiente para vazão e
divulgação do que se escreve, que exige e necessita do incentivo e da
possibilidade de publicação permanente. Em potencial, mas infensos à
divulgação de produção cultural e artística, têm-se jornais, rádios e
TV, todos meios legítimos e não utilizados de divulgação de obras
literárias e artísticas de modo geral.
veio cultural que ative a criatividade das novas gerações?
298
No momento não se nota nenhuma. Em decorrência das causas
já apontadas e, também, de diversos outros fatores, há indiferença
generalizada em relação às atividades culturais e artísticas. São poucos
os que verdadeiramente lêem, tanto entre estudantes, professores e o
povo de modo geral. Os que lêem habitualmente livros de valor.
Qualquer desses dois requisitos isoladamente não satisfaz, sendo a
carência do segundo até mesmo nociva. A esporádica e eventual
leitura de bons livros é insuficiente. A habitual leitura de obras
meramente digestivas e de baixo ou de nenhum nível cultural é
deletéria pela persistente deformação do gosto e embotamento da
inteligência, capacidade de discernimento e autonomia de
pensamento. O mesmo fenômeno ocorre com as demais manifestações
artísticas. A assistência a maus filmes, visão de péssima pintura e
audição de música comercial são, no mínimo, inócuas. E são poucos,
em proporção ao total da população, aqueles que procuram assistir
bons filmes, ouvir boa música (popular e/ou erudita) e comparecem a
exposições de quadros. Só ultimamente, há uns dois meses, criou-se
sob o patrocínio do Centro Acadêmico da Faculdade Federal de
Medicina, a sessão cinematográfica de arte, que, a persistir e se
ampliada ou acompanhada de cursos, debates e conferências, poderá,
sem dúvida, abrir perspectivas novas.
as obras de vanguarda, com atitudes culturais, ou provincianamente
como São Paulo diante dia Semana de 22?
299
Até hoje existem pessoas que não aceitam e não aceitam
porque não compreendem a Semana de 1922. A maioria das
pessoas, daqui e de alhures, não aceita as obras autênticas de
vanguarda. É mais fácil, às vezes, um elemento do povo apreciar obra
moderna (poema ou quadro, por exemplo) do que um letrado. Este
costuma aferrar-se, num conservadorismo estiolador, aos princípios,
ideias e obras lidas ou conhecidas na juventude. Até hoje há quem
julgue ou considere Castro Alves (ou qualquer outro poeta do século
passado) o melhor poeta brasileiro. Conservam essas pessoas a
formação que tiveram em seu tempo, julgando-a única e eterna, numa
atitude imobilista, comodista e carente da mínima curiosidade
intelectual.
Até hoje o Modernismo não é aceito porque não refletido e
compreendido pelos eternos provincianos de todos os matizes e de
todos os quadrantes, visto que, como afirmou alguém, possivelmente
Lima Barreto, provincianismo não é lugar geográfico, mas estado de
espírito. Se o Modernismo, cujos primeiros princípios já foram
devidamente assimilados, aplicados, aprofundados e superados em
grande parte, ainda não é aceito e compreendido, aqui e alhures, pela
maioria das pessoas, incluída a maior parte daqueles que, por função e
profissão, têm a responsabilidade de formação da infância e
juventude, imaginem-se os desdobramentos e aprofundamentos que se
deram e estão se dando no pensamento, na cultura e nas artes
brasileiras nesse último meio século! Já estamos no Século XXI e há
pessoas intelectualmente ancoradas no Século XIX!
Essa colocação não implica absolutamente menosprezo por
aquele século ou pelos tempos antigos. Porém, apreciar Machado de
300
Assis ou Eça de Queirós, por exemplo, não determina desconhecer ou
desgostar de Guimarães Rosa, Mário de Andrade e outros. A questão é
que, em arte, o passado, como afirmava o mesmo Mário de Andrade, é
para ser conhecido, estudado, meditado e nunca para ser imitado e
copiado.
anos atrás?
A cidade é, hoje, menos poética do que há vinte anos atrás, por
força de desenvolvimento e progresso não planejados, onde a
qualidade da vida, em sua totalidade, fosse protegida. Medidas,
empíricas e unilaterais tomadas em decorrência da pressão do
progresso e do crescimento populacional atendem ou resolvem,
apenas e às vezes nem isso, os problemas imediatos que as ensejaram.
Nesse vórtice, os grandes e profundos valores da natureza e da
vivência humana não são considerados devidamente. O aspecto
poético é o primeiro a não sê-lo.
juventude às produções culturais e como
vê a nossa juventude, culturalmente falando?
A juventude uberabense, como de resto a juventude brasileira
atual, notadamente a do interior, está, realmente, mal preparada
culturalmente, em consequência das causas já apontadas e de diversos
outros fatores que também contribuem para esse fato e cuja
abordagem escapa aos estreitos limites de uma entrevista. A verdade é
301
que a juventude (e também os mais velhos) não lê e não estuda o tanto
necessário e imprescindível. Isso é efeito das causas e fatores
mencionados, porém, torna-se, também e simultaneamente, fator de
manutenção do statu quo, visto que essa juventude despreparada
culturalmente não terá também, à semelhança das gerações que a
antecederam e quando a substituir nas posições que ocupam,
condições de contribuir para elevação do nível cultural geral da
sociedade e das gerações que se lhe seguirem.
O problema do acesso da juventude às produções culturais é
ambivalente. Apresenta duas facetas. Uma, é que a maioria da
juventude, não se interessando por essas produções, não pressiona a
demanda. A outra, é que não havendo essa pressão, sociedade
estruturada e fundamentada no lucro não procurará e nem terá motivos
para colocar ao alcance da juventude e do povo (não se pode esquecê-
lo) as produções culturais. No interior, então, não se encontra nada.
Onde os filmes, os discos, as exposições, os livros fundamentais,
antigos e atuais, as companhias teatrais? E no Brasil, nesse sentido,
quando se diz interior se diz fora e além do centro e de alguns bairros
do Rio de Janeiro e de S. Paulo.
cultura?
Os órgãos de divulgação têm fins lucrativos e, por isso, não têm
contribuído para disseminar as artes e aumentar o nível cultural da
sociedade. Alguns, principalmente TV e rádio, mercê de sua omissão
302
e programação de baixo ou de ausente nível humano, social e cultural,
contribuem é para manter o estado de coisas.
funcionam como órgãos de criatividade cultural?
Não consta. Normalmente, com algumas exceções, que duram às
vezes o tempo de uma administração, um ou outro órgão oficial, no
Brasil, nos últimos tempos, funciona não como órgão de criatividade
cultural, mas, pelo menos de incentivo e de promoções culturais. Para
esses órgãos funcionarem plenamente, há necessidade de meios
adequados, de pessoas especializadas e, fundamentalmente, de
liberdade e segurança para o indivíduo. A liberdade e a segurança
individuais são, para a sociedade, o ar de seus pulmões e o sangue de
suas veias.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 02 dezembro 1979,
entrevista concedida ao poeta e jornalista Jorge Alberto Nabut)
303
Anos 80
NÃO PUNIR CULPADOS:
CONIVÊNCIA E CUMPLICIDADE
Para Guido Bilharinho, o fracasso quanto ao cumprimento das
promessas de grande virada não é do PMDB, mas de sublegenda que
logrou ser eleita e, por sinal, composta, em sua maior parte, de
p Partido Popular. Veja o seu
posicionamento diante das indagações do Jornal da Manhã:
-presidente do diretório municipal do PMDB, José
Raimundo Jardim, o Partido não conseguiu colocar na prática a
colocação? Por quê?
Concordo plenamente. Ressalvo, contudo, que não foi o PMDB,
como um todo, que não conseguiu esse objetivo. Quem não o
conseguiu foi a sublegenda que logrou ser eleita. O PMDB (e sempre
se tem dito e repetido isso) não constitui, a rigor, um partido. É uma
frente política, que congrega várias tendências, unidas apenas pelo
comum desejo de democratização. No caso, várias podem ter sido as
causas de não se ter colocado em prática até agora a proposta da
, entre as quais, principalmente, absoluta falta de
vontade, desorientação ou total incompetência.
304
em Uberaba?
Nada estou vendo nesse sentido.
poder, a nível local, na sua opinião?
Não foi o PMDB que ascendeu ao poder no município. Foi
somente uma de suas três sublegendas e uma entre suas diversas
tendências. Por sinal, composta, em sua maior parte, de pessoas
oriundas do antigo PP, partido que por força dos imorais casuísmos
eleitorais do Governo Federal (que deu e tem dado vários outros maus
exemplos ao país) foi obrigado a se dissolver e se fundir com o
PMDB, dominando-o em Minas Gerais, onde seu contingente era
muito superior ao deste último. É preciso que se diga que o PMDB,
como tal, não tem a menor participação nos destinos do município.
Como organização partidária, não é ouvido. Seu diretório municipal
nem mesmo é convocado para se reunir. Os candidatos que lograram
ser eleitos por sua legenda gravitam, em sua maioria, em torno dos
centros de poder, olvidando o partido.
Quanto às indagadas mudanças, até o momento, para a cidade,
não houve nenhuma com a ascensão ao poder da sublegenda que
logrou ser eleita. Pelo menos que se dê para notar, já que uma ou outra
obra as demais administrações realizaram. E isso também não
constitui mudança, porém, mera rotina e obrigação administrativa.
305
me de Uberaba vem,
cada vez mais, se arrastando na lama devido aos sucessivos
escândalos envolvendo a administração municipal. Como membro do
PMDB, o senhor vê alguma solução para esta situação?
Para cada tipo das variadas anomalias citadas, há uma solução
adequada. Para esses inomináveis e terrivelmente frequentes
escândalos: a apuração honesta e criteriosa dos fatos, a ampla
divulgação dos resultados das investigações e, finalmente, a rigorosa
punição dos culpados. Nada menos que isso. O contrário, significa
conivência e mesmo cumplicidade, verdadeira traição ao povo. Para as
demais anomalias, que não são de agora, vêm de longe: uma
verdadeira renovação de nossas lideranças político-administrativas,
com escolha e eleição de candidatos à altura dos graves problemas que
afligem o município e, no que toca especificamente aos deputados
estaduais e federais, à altura dos gravíssimos problemas que
angustiam o Estado e o país. E lhes são bastante (a esses candidatos
ideais) duas características: honestidade e competência. A primeira
constitui obrigação. A segunda é qualidade, porém, que se adquire e se
aprimora continuamente.
-presidente do diretório municipal,
está desunido. A curto prazo, como seria possível unir novamente o
partido?
306
O conceito de união e até certo ponto, relativo e sujeito a
diferentes graus de intensidade. Dentro de partido político, deve
necessariamente representar a adesão e concordância com programa e
ideias definidas, não ocorrendo o mesmo em relação às fundamentais
questões de tática e estratégia políticas, onde são comuns e normais as
divergências, que devem, entretanto, submeterem-se às decisões da
maioria, desde que obtidas democraticamente. No caso de verdadeira
frente política como o PMDB (mormente após a incorporação do PP),
a união entre seus membros é muito mais tênue e esgarçada, cingindo-
se, globalmente, a apenas posicionamento democrático e a algumas
questões econômicas básicas. Sobre o mais, florescem as tendências.
E existem (como na maioria absoluta das organizações políticas)
aqueles que possuem, como postura, posição e programa políticos,
somente seus próprios interesses. São os eternos oportunistas e
carreiristas. Por isso, não é possível completa união. E com esse
último tipo de político não interessa mesmo qualquer união. Ao
contrário. Detectados, devem ser combatidos, obrigando-os, se
possível, a procurar legendas condizentes com sua falta de princípios.
Política não é e nem deve ser a arte de engolir sapos, mas, de expelí-
los e combatê-los.
eleições futuras?
Se o PMDB conseguir apresentar, pelo menos através de uma de
suas sublegendas, chapa homogênea, composta por candidatos
capazes, verdadeiramente idealistas e que tenham bom diálogo com o
307
povo, respaldada exclusivamente por recursos próprios ou oriundos de
pequenas colaborações espontâneas descompromissadas, apoiada por
adequada organização eleitoral e atuando por meio de campanha
eleitoral inteligente, bem dirigida e coordenada, é quase certo obter
essa sublegenda triunfo eleitoral.
predominou a política do revanchismo.
Durante a campanha eleitoral, em 1982, o PMDB pregou, em praça
pública, o fim do revanchismo e a união de todos em prol do
desenvolvimento de Uberaba. Por que o PMDB não viabilizou esta
promessa? O senhor acredita que ainda seja possível consertar este
erro, uma vez que o PMDB já provou estar jogando com as mesmas
cartas marcadas da extinta Arena? (trocando professores, delegados,
chefes de empresas estaduais etc?)
Não é o PMDB que não viabilizou a promessa referida. Mas,
apenas os candidatos eleitos pela legenda, os quais, justamente por
terem alcançado o poder, têm não só condições como a obrigação de
cumprir o prometido. Essa não é e nunca foi a posição oficial e a
prática político-administrativa do PMDB. Pelo contrário. A correção
desse erro é perfeitamente possível, desde que haja da parte dos
detentores do poder vontade e determinação política nesse sentido,
complementadas por prática administrativa condizente.
número de
uberabenses participando da administração direta ou indiretamente.
Mesmo assim, de concreto, o município ainda não recebeu nada.
308
Falou-se ao em implantar-se aqui frigoríficos da FRIMISA, silos da
CASEMG etc. Na sua opinião, o que está acontecendo com os
uberabenses no governo mineiro?
Alguns talvez ainda não tenham tido tempo suficiente para
conseguir e implementar essas e diversas outras aspirações. Todavia, é
facilmente constatável que têm faltado aos políticos uberabenses
agressividade, dinamismo e habilidade (em alguns, até mesmo simples
vontade) na defesa dos interesses e direitos não só da cidade como de
toda a região. Muitos se preocupam mais (ou unicamente) com seus
interesses e com suas carreiras políticas, desprezando aqueles que (em
confiança) lhes deram os votos necessários e indispensáveis à eleição
ou os indicaram à nomeação.
reestruturar-se com mais urgência?
De fora, a impressão que se tem é que necessita reestruturar-se
em praticamente todas as áreas. Em algumas, mais completa e
urgentemente que em outras. Porém, não ao ponto de se eliminar
órgãos e secretarias, mudar-se-lhes a natureza jurídica ou
simplesmente se transferí-los para congêneres estaduais, como alguns
pretendem. Isso não seria solução, mas, fuga dos problemas, atestado
de incapacidade administrativa.
dos arara e pachola, com a administração Wagner do Nascimento.
309
Outros acusam a administração atual de agir arbitrariamente, sem
respaldo popular, levando a cidade ao verdadeiro caos. Que atitude o
PMDB Uberaba pode tomar para evitar o agravamento desta
situação? O PMDB tem condições morais para exigir uma mudança
no Governo Wagner do Nascimento, uma vez que o próximo
presidente do diretório municipal do partido sequer reside em
Uberaba nem renuncia ao cargo que ocupa?
O PMDB, como qualquer outro partido, não tem, legalmente,
poder de orientar ou interferir nas administrações e representações
parlamentares dos candidatos eleitos por sua legenda. Não obstante,
poderia e deveria, pelo menos, reunir seu diretório municipal,
examinar e debater os problemas, exigir soluções e mudanças de
rumos, prestando, desse modo, eficaz colaboração à comunidade e aos
poderes públicos. Contudo, na atual conjuntura, até isso parece
também impraticável. É que, pelo menos no Brasil, os partidos
políticos existem, para a maioria absoluta de seus membros
permanentes ou ocasionais, apenas como o necessário instrumento
legal para galgar o poder. Nada mais. Depois disso, eleitos e
derrotados esquecem e congelam suas agremiações até a próxima
véspera eleitoral. Tudo é feito, pois, exatamente ao contrário do que
deveria. Lamentavelmente.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 18 agosto 1984,
)
310
AINDA OS VELHOS PROBLEMAS
cabeça pensante em Uberaba no terreno das artes e
da cultura, esta cabeça é a de Guido Bilharinho. Para tratar do assunto,
palpitante e sempre atual, Vox o procurou na semana passada. Aqui, a
entrevista:
VOX - O que existe para se falar hoje, em termos de cultura?
O problema de cultura em Uberaba, como na maioria das
cidades de porte médio do interior brasileiro, é um problema muito
difícil. Para começar, os governos estaduais só fazem investimentos
culturais nas capitais. Nós temos, por exemplo, em Belo Horizonte, o
Palácio das Artes, que hoje é o maior centro cultural do Estado
praticamente em todos os sentidos, tantas são as promoções culturais
que eles apresentam semanalmente nesse centro, tanto de exposição
como em cinema, teatro, música e etc... Mas esse governo estadual,
para as cidades de interior, pequenas, médias e grandes, não destina
praticamente nada, ou mesmo nada. Então as cidades do interior ficam
entregues à sua própria sorte e apenas às suas rendas, que nem sempre
são grandes. Em Uberaba nós temos a Fundação Cultural da Prefeitura
Municipal que realmente não dispõe de verba suficiente para fazer
promoções culturais, ou as promoções culturais necessárias. Existem
outras cidades do tamanho de Uberaba, que já possuem a sua
Secretaria de Cultura, o que não acontece aqui.
Aqui nós temos a Secretaria Municipal de Educação e Cultura,
sendo que educação e cultura não tem nada a ver uma coisa com a
311
outra, embora sempre se tenha pensado o contrário. Um especialista
em educação e ensino é um especialista em educação e ensino
E não se pode entregar a administração da cultura, a promoção
cultural, para quem não é do ramo. E normalmente a Secretaria de
Educação sempre é ocupada por um especialista em educação e
também não poderia ser de outro modo, porque a educação e o ensino
absorvem quase que inteiramente os trabalhos, atividades e verbas
dessa secretaria.
VOX - O Senhor colocou um descuido do governo do Estado para
com a cultura nas cidades interioranas. Esta mesma displicência
acontece no governo municipal, que faz atuar uma mesma secretaria
para educação e cultura?
Penso exatamente isso. Nós temos a Fundação Cultural de
Uberaba de uns anos para cá, já grande avanço. E Uberaba tem quase
duzentos anos, não como cidade autônoma, mas de fundação, que ela
foi fundada no começo do século passado e só agora nós temos
Fundação Cultural, órgão municipal destinado exclusivamente à
cultura. Mas já é avanço, nós temos de reconhecer que é avanço. Mas
esse órgão não possui nem autonomia administrativa nem os recursos
necessários às promoções culturais em Uberaba. E há ainda uma coisa
muito mais séria: não basta só órgão autônomo e não basta só recurso
Há que se ter também orientação adequada e correta sobre
porque, como e quais eventos culturais devam ser promovidos e como
fazê-lo. Mas isso é problema muito mais sério, muito mais complexo.
312
VOX - Uberaba contaria, hoje, com número suficiente de pessoas
para esse tipo de trabalho de orientação?
Contaria, desde que tudo fosse resolvido em grupo, um grupo de
intelectuais que democraticamente pudesse dirigir essa promoção
cultural. E nunca uma só pessoa, porque a cultura é tão complexa,
como, aliás, a política, a administração pública em todos os níveis,
que não pode ficar apenas dependendo da vontade, das limitações ou
possibilidades de uma só pessoa. Há de se redemocratizar o país de
cima a baixo e que as coisas sejam discutidas e sejam tomadas as
deliberações pelo voto da maioria das pessoas que têm condições, de
uma maneira ou de outra, de votar e de participar.
VOX - Mesmo assim, Uberaba ainda é hoje considerada, por vários
uberabenses, como um bom centro cultural. Como se explica isso?
É para você ver como é que estão os outros centros. Realmente
não existe cultura aqui e nem nos outros centros. Não há dúvidas de
que Uberaba tem tradição cultural muito grande, que vem do século
XIX, mas de pessoas e de pesquisadores, que por sua própria vontade,
e às suas custas, fizeram essa pesquisa, como Borges Sampaio,
Hildebrando Pontes, José Mendonça, Gabriel Toti, que atuaram na
historiografia regional. Mas de movimentos coletivos e de iniciativa
do poder público nós sempre tivemos muito pouco e, às vezes,
provisoriamente, como tivemos no começo do século XX o grêmio
Bernardo Guimarães, que doou sua biblioteca para a Câmara
Municipal, que desde o começo do século foi desaparecendo, até
313
Uberaba chegar a ponto de, alguns anos atrás, nem biblioteca ter. Hoje
tem e é biblioteca que precisa fazer promoções, mas o pessoal aqui de
Uberaba está muito parado, tendo apenas biblioteca com livros na
prateleira, mas, onde só alunos vão para fazer pesquisas para matérias
escolares. Mas biblioteca não é órgão passivo, parado. Há que
promover, há que adquirir livros, há que fazer promoções de toda
espécie. Cultura não é coisa estática. E quanto a Uberaba ser grande
centro cultural isso precisa ser repensado e discutido, porque tem até
causado espécie que se façam algumas promoções em Uberaba. A
fama de Uberaba lá fora não é em nada ligada à cultura, ela é ligada ao
ensino, porque nós temos escolas superiores desde a década de 1940,
mas cultura é outra coisa. Do ponto de vista cultural, Uberaba não tem
fama nenhuma, não tem projeção nenhuma lá fora. Até pelo contrário.
E nós poderíamos até citar exemplos...
VOX - Exemplos?
Nós editamos revista de poesias e tem causado espécie que seja,
essa revista, editada aqui em Uberaba. Quer dizer, lá fora se admira
que em Uberaba se possa editar revista de poesias. Isso significa que a
fama de Uberaba não é bem assim. Em São Paulo, principalmente, se
estranha que em Uberaba se lance revista de poesias. Acham que não
havia essa possibilidade aqui.
VOX - Existem novidades, ou pelo menos perspectivas com relação a
eventos ligados à cultura?
314
A Fundação Cultural está fazendo, iniciando serviço que
Uberaba já deveria ter desde o século XIX, que é o Arquivo Público
Municipal. Nós não temos nada. Nunca, nem poder público e nem
ser aqueles que já citei como historiadores que se
se preocuparam em
conservar a memória regional, porque não se dá valor a isso. As
pessoas normalmente não têm condições de avaliar a importância e o
significado que tem a memória de uma cidade e de uma região.
Vivem o presente e mal. Quem não tem conhecimento do
passado não pode viver o presente bem e nem ter perspectiva do
futuro. O pessoal não tem. Por isso, nosso patrimônio arquitetônico,
por exemplo, está sendo destruído. E isso. seria, inclusive, até do
ponto de vista pragmático, uma das grandes fontes de renda de
Uberaba nos próximos séculos, já que quanto mais tempo passar, mais
essa renda seria maior se fosse conservado o patrimônio arquitetônico
da cidade no centro de Uberaba. Mas já destruíram a praça Rui
Barbosa. Então isso agora é impossível. E essa destruição merece até
aplausos e é elogiada pelas pessoas, que ficam torcendo para que se
derrubem os velhos prédios do centro da cidade para que se
construam, em seus espaços, esses arranha-céus incaracterísticos e
sem personalidade, como os que estão construindo por aí. O pessoal
realmente vive o dia a dia apenas.
VOX - O senhor falava de memória. Começa a se fazer um trabalho
de levantamento da memória histórica de Uberaba. Não acontecerá
de fatos se perderem no esquecimento?
315
Muito já se perdeu. Da mesma forma como se está perdendo o
patrimônio arquitetônico, já se perdeu muito da nossa memória
histórica em todos os sentidos, inclusive, até o da memória cultural.
As fotografias antigas de Uberaba, e mesmo quadros e pinturas, que as
próprias famílias daquelas pessoas que se dedicavam a colecionar, não
são guardadas. Joga-se fora e não se valoriza. Então, só para ficarmos
no aspecto da memória fotográfica, o que já perdemos dela em
Uberaba é a maior parte. O que sobrou, ou o que tem sobrado, é
mínimo.
(Vox, Uberaba, 07 julho 1985, entrevista concedida
ao jornalista e editor do jornal, Tarsis Bastos)
316
O QUE RESTOU DE NOSSA CULTURA?
Nesta edição o advogado, poeta e pesquisador Guido Bilharinho
vai fundo na questão. Além do colonião, braquiária e algumas outras
espécies de capim, o que está nos restando de cultura? O arrefecimento
de diversos setores uberabenses na atividade cultural está fazendo com
Uberaba parece ter também se imobilizado na atividade menos onerosa
deste mundo: o pensar. E como ficamos? Veja no primeiro caderno.
O SONHO ACABOU, O SONO NÃO
Dormindo há décadas, o sono pouco esplêndido do comodismo e
sofrendo as injunções de não ter sido beneficiada na medida exata de
seus anseios e importância geográfica pela expansão industrial na região,
Uberaba vive hoje apenas a lembrança de ter sido um dia, longínquo, a
luz irradiadora de cultura cujos raios avassaladores transpunham e
antigo Brasil Central.
O arrefecimento e empalidecer dessa luz pode ser entendido sob o
prisma do desenvolvimento. É inegável que a vida social e cultural de
uma cidade são resultado direto da intensidade de seu próprio
desenvolvimento econômico. Nesse caso, constata-se então que Uberaba
estagnou-se economicamente durante algumas décadas deste século,
perdendo, portanto, aquele formidável empuxo que adquirira e
desenvolvera no anterior, justamente em consequência de sua posição
geográfica privilegiada e pelo dinamismo de sua gente.
317
Para o advogado, poeta e pesquisador Guido Bilharinho, uma
cidade, como Uberaba, quando decai de uma posição pioneira, de
vanguarda, tende fatalmente a mergulhar num estado letárgico, de
a de iniciativa crônica. E o pior
de tudo é que as iniciativas que surgiram nesses últimos anos nasceram
infortunadamente com os vícios e limitações do localismo, onde se
evidenciou a perda daquele espírito dinâmico de se fazer as coisas
.
Para Guido, que edita Dimensão, uma revista de poesia que tem
tido repercussão notável a nível nacional e mesmo internacional,
Uberaba recolheu-se muito do ponto de vista econômico, social e
cultural. E para sair-se desse estado letárgico é preciso, seg
mais arrojo e menos comodismo; de mais trabalho e menos preguiça Ele
observa em tom cáustico que as pessoas estão se contentando com pouco
em todas as suas atividades, tornando-se cada vez menos exigentes com
os padrões que lhes são ofertados. Ele adverte quanto à necessidade de
reciclagem urgente. Reciclagem que ainda, segundo ele, deveria ter
ocorrido com a eclosão do Modernismo, entre as décadas de 1920 e
1930.
acordo com padrões do século passado: isso se aplica à literatura,
filosofia e nas artes em geral. O novo e as inquietudes que trouxe em seu
bojo não contagiaram nossos intelectuais. Eles não acompanharam a
evolução das artes no país. A sua literatura, por exemplo, restou
confinada nos limites do provincianismo estreito, assim como a sua
música, a sua arte plástica. E só de pouco tempo para cá é que nós
318
Essa reação, ainda que tímida, confirma Guido, deve-se à
implantação de focos industriais
É incontestável que Uberaba, desperte ou não do sono letárgico em
do Brasil Central. Pela sua posição geográfica de entreposto comercial,
com a desativação do Desemboque, devido o esgotamento das minas
auríferas do rio das Velhas, Uberaba passou a se configurar na ponta de
lança para o sertão bruto de Goiás e da própria Amazônia, conseguindo
capitalizar e centralizar aqui o que havia de mais avançado numa região
tão distante da orla marítima do continente.
Relata Guido Bilharinho que para aqui, desde a década de 1820,
do século passado, começaram a afluir os intelectuais, sendo que o
primeiro deles foi o famoso vigário Silva, que dá nome a uma das ruas
principais da cidade. Foi ele o primeiro historiador da região. E diversos
outros intelectuais, atraídos pelo dinamismo da cidade, que fervilhava
em consequência de sua atividade comercial febril, passaram a aqui
centralizar suas atividades, incluindo-se inúmeros estrangeiros, como
Henrique des Genettes (francês), Borges Sampaio (português), frei
Eugênio (italiano) e posteriormente, já quase no fim do século, um
verdadeiro gênio universal, o sábio alemão Draenert que descobriu a
existência da bactéria no reino vegetal e dirigiu em Uberaba o primeiro
estabelecimento de ensino superior ainda no século passado, quando a
cidade nem sequer possuía calçamento de ruas, água encanada ou
eletricidade.
Guido Bilharinho relembra também que a Imprensa do Triângulo
Mineiro foi fundada em Uberaba, em 1874, por des Genettes, escritor
francês, que lançou o Paranaíba que teve posteriormente o título trocado
319
para Eco do Sertão. Já nos fins da década de 1880, ainda no século
passado, instalou-se em Uberaba a Escola Normal, que existe até os dias
de hoje, após ter passado por inúmeras modificações, inclusive de nome,
e esteve algum tempo desativada. Para aqui também vieram os
dominicanos, que fundaram em Uberaba a sua primeira casa no Brasil,
justamente em razão da importância da cidade no contexto regional.
Foram inúmeras as manifestações culturais na época: além e após
a fundação do Paranaíba proliferaram jornais diários e órgãos de toda
espécie.
tores de vários gêneros, principalmente na
contista mineiro ou o primeiro ou segundo livro de contos do Estado
tenha sido editado em Uberaba sob autoria de Crispiniano Tavares.
Também já nos fins do século passado Uberaba possuía editora, a Século
XX, responsável pela edição do famoso Almanaque Uberabense, que foi
publicado durante 10 anos e teve circulação nacional. Também aqui foi
lançada, em 1904, a Revista de Uberaba, publicação nitidamente literária
e cultural.
Os livros foram também aparecendo e os historiadores surgindo.
Segundo Guido Bilharinho, o principal deles foi o português Borges
Sampaio e quem mais terá contribuído para a divulgação de Uberaba e
da região em todos os tempos.
deu início à intensa correspondência para os jornais do Rio de Janeiro e
Niterói. E a partir do começo da década de 1860 até 1908 enviou
metodicamente seus artigos para o Jornal do Comércio, do Rio, que era
o maior jornal brasileiro da época. O trabalho de Borges Sampaio
refletiu durante nada menos do que 60 anos a vida social, intelectual,
política e econômica de Uberaba e da região. Algumas de suas matérias
320
foram manchetes de primeira página do Jornal do Comércio,
notadamente aquelas que enviou durante a passagem da coluna militar
que foi invadir o Paraguai pelo norte e que ficou célebre no episódio da
Retirada da Laguna, relatado no famoso livro homônimo do Visconde de
Taunay, que esteve em Uberaba por aproximadamente dois meses.
O OCASO
A partir do começo deste século, a multiplicação de focos de
civilização e principalmente com a fundação de Goiânia e a penetração
da Mojiana, que chegou a Uberaba em 1889 e posteriormente lançou
seus trilhos sertão adentro, a posição única de Uberaba foi sendo aos
poucos erodida e multiplicada por outros focos de civilização.
Guido Bilharinho explica que o progresso do país, a dinâmica das
relações econômicas e sociais não permitiam, evidentemente, que
Uberaba continuasse restando como ponto privilegiado e único:
cultural de Uberaba na região, no Brasil Central com relação a Goiás, já
não existe mais. Hoje Uberaba mantém posição como as demais cidades
irão Preto, São José do Rio Preto, Uberlândia,
Anápolis, Goiânia, etc.
Tem a sua influência cultural, o seu grau irradiador de cultura e
civilização numa determinada sub-região. Todavia, se, soubermos
superar os entraves da rotina e da preguiça, ela poderá voltar a
desempenhar papel de centro irradiador com maior abrangência. Não que
volte a ocupar aquela posição hegemônica que tinha no passado, com
vasta área de influência. Mas é importante não nos esquecermos que
como Uberaba teve posição de hegemonia cultural, de pioneirismo
321
cultural durante décadas, quase século, isso repercute ainda e não deixa
de lhe dar substância, um substrato que a distingue de todas as outras
cidade da região. Evidentemente, que qualquer centro novo, por mais
dinâmico, comercial, social e industrialmente for, não conseguirá superar
aquela substância cultural que Uberaba tem na região, porque isso só se
Bilharinho conclui enfatizando que Uberaba mantém ainda
estrutura cultural melhor do que qualquer outra cidade do Brasil Central,
incluindo-se aí até Brasília.
mais antigo nesse aspecto, onde a cultura foi se estratificando. A não ser
que Uberaba abdique desse potencial que já foi plenamente utilizado e
está hoje um tanto adormecido. Uberaba tem então de se compenetrar da
s
(Cidade Hoje, nº 01, Uberaba, 31 maio 1988,
depoimento concedido ao jornalista Mário
Chimanovitch
)
322
Anos 90
NOMES DE CONSENSO PARA AS ELEIÇÕES
O advogado trabalhista Guido Bilharinho entende que deve ser
estudada a proposta de Uberaba lançar número e nomes consensuais
de candidatos a deputados para as eleições de outubro, sob pena de se
prejudicar se não o fizer, embora ache isso difícil. Membro da
executiva estadual do PDT, ele não descartou ontem a possibilidade
de se candidatar. Já o presidente do Diretório Municipal do partido,
José Raimundo Jardim Alves Pinto, diz que é muito cedo para se falar
em eleições 90.
Guido Bilharinho disse que as definições no quadro sucessório
deste ano vão depender das alianças a serem formadas visando o
Governo do Estado. Para o PDT se abrem várias possibilidades de
uma coligação ampla, nesse momento , analisa Guido, mas esse
quadro pode se reverter completamente depois das alianças para o
Governo do Estado .
Qualquer candidatura, hoje em dia, é um grande sacrifício, na
opinião de Guido, quando se fala em partidos menores, sobretudo no
O sistema eleitoral é completamente viciado e
antidemocrático, só dá chance à manipulação de grupos econômicos
critica.
Sobre a especulação envolvendo seu nome como candidato a
deputado federal, o advogado diz estar estudando a proposta,
colocando-se disposto a trabalhar pela cidade. Acho meio difícil o
323
lançamento de um único grupo de candidatos, como fruto de uma
negociação entre os partidos, mas é uma ideia que precisa ser
estudada, valerá a tentativa Segundo Guido, além desse
aspecto, existe outro com o qual a cidade deve se preocupar, que é o
aumento do colégio eleitoral.
José Raimundo, por sua vez, diz que o diretório vem fazendo
reuniões periódicas, onde o assunto, sem dúvida, é discutido. Mas é
muito cedo ainda para definições , acrescenta o presidente do PDT,
que, como Guido Bilharinho, acha serem decisórias as composições
para o Governo do Estado. As especulações, confirma José Raimundo,
vão indicando, no PDT, as eventuais candidaturas do radialista João
Batista Rodrigues e do ex-vereador Aluísio Inácio de Oliveira, além
de Guido Bilharinho.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 21 janeiro 1990,
324
Anos 2000
DETERMINISMO ANGUSTIANTE
Para o advogado Guido Luís Mendonça Bilharinho, um dos
expoentes da cultura local e regional, a sociedade uberabense tem um
débito com a sua tradição histórica. Uberaba foi no passado a ponta de
lança para o sertão bruto e o polo irradiador de desenvolvimento e
cultura para todo o Brasil Central. Segundo Guido Bilharinho,
Uberaba até o final do século XIX e início do século XX foi a grande
referência no processo de interiorização do desenvolvimento do país.
Para Uberaba convergiam os mais ilustres profissionais da época,
incluindo grandes intelectuais, políticos, cientistas, pesquisadores,
médicos, professores, jornalistas, advogados e demais representantes
da elite pensante do país e do exterior. Este fato, por si só, mereceria
reflexão detalhada por parte da sociedade e da elite política,
econômica e cultural uberabense, no sentido de se reverter o
determinismo angustiante, introjetado, durante décadas, na alma e
espírito uberabense. Para Guido Bilharinho, esta cultura enraizada na
sociedade local gerou apatia e baixa autoestima coletiva, que inibe o
potencial criativo e desenvolvimentista da comunidade uberabense.
PIONEIRISMO
Segundo Guido Bilharinho, Uberaba possui tradição histórica de
vanguarda em vários segmentos. Além do pioneirismo na área médica,
325
educacional, cultural, jurídica, entre outras, a cidade foi referência no
país, atraindo grandes intelectuais e cientistas da época de várias
nacionalidades. Guido Bilharinho destaca entre esses nomes o do
advogado autodidata major Cesário, dos médicos suecos, que
moraram e deram origem à antiga rua dos Ingleses, hoje rua João
Pinheiro. Os uberabenses daquela época, segundo Guido Bilharinho,
acreditavam que os dois médicos estrangeiros eram ingleses e não
suecos. Outro nome, importantíssimo na história de Uberaba, segundo
Bilharinho, é o do notabilíssimo Antônio Borges Sampaio, advogado,
médico, professor e correspondente dos principais jornais do Rio de
Janeiro. Em suas reportagens endereçadas ao Jornal do Comércio, o
órgão de imprensa mais destacado da época, Borges Sampaio relatava
os importantes acontecimentos do Brasil Central, polarizados por
Uberaba.
VOCAÇÃO PARA A LIDERANÇA
Dentre os grandes nomes que alavancaram o desenvolvimento
de Uberaba naquela época, Guido Bilharinho destaca ainda frei
Eugênio Maria de Gênova, pregador incomparável, que foi convidado
pelas lideranças locais da época para se estabelecer em Uberaba. Frei
Eugênio revolucionou a nossa cidade, fundou a Santa Casa, o primeiro
cemitério de Uberaba, etc. Outro nome destacado por Guido
Bilharinho, nessa fase áurea de Uberaba, é o do francês Des Genettes,
geólogo e médico que veio para a nossa cidade realizar pesquisas
geológicas e acabou sendo o responsável pela fundação da imprensa
local. No final do século XIX foram criados dezenas de veículos de
326
imprensa, inclusive a Gazeta de Uberaba, fundada em 1879, mais
tarde surgiu o Correio Católico (1896) e vários outros veículos
(jornais e revistas) de circulação efêmera. O primeiro jornal de
circulação ininterrupta, o Lavoura e Comércio, surgiu em 1899. O
pioneirismo uberabense na imprensa escrita foi consequência natural
da importância de Uberaba no contexto do desenvolvimento do Brasil
Central, segundo comprovam as pesquisas de Guido Bilharinho.
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
Outro estrangeiro importante destacado por Guido Bilharinho na
história e pioneirismo de Uberaba, foi Frederico Draenert, sábio
alemão, contratado para debelar pragas nos canaviais da Bahia no fim
do século XIX. Draenert foi o descobridor da existência de bactérias
no reino vegetal e um dos responsáveis pela criação na Bahia da
primeira instituição brasileira de nível superior na área das ciências
agrárias. Uberaba teve também a primeira escola superior do Brasil
Central na área da zootecnia, o Instituto Zootécnico de Uberaba, no
qual Draenert lecionou. Instituição que foi fechada pelo governador de
Minas, Silviano Brandão, em represália ao movimento dos produtores
rurais da região que se revoltaram contra os altos tributos cobrados
pelo Estado. Draenert é ainda reconhecido internacionalmente pela
autoria do primeiro ensaio sobre o clima subequatorial, a partir de
investigações realizadas no clima de Uberaba. A precisão desse
trabalho, segundo Guido Bilharinho, é de tal ordem, que Draenert
chegou a medir o número de raios que caíam anualmente sobre a
327
nossa região. Segundo Guido Bilharinho, Draenert possui mais de mil
artigos sobre a agropecuária e demais temas correlatos.
NO CENÁRIO NACIONAL
A importância de Uberaba e o pioneirismo de homens como
Borges Sampaio no cenário nacional, de acordo com Guido
Bilharinho, foi de tal ordem que quando o conde
cidade ficou impressionado com a precisão do laboratório
meteorológico adquirido por Borges Sampaio. Como político, o
intelectual Borges Sampaio foi o cérebro do partido Liberal na sua
época, enquanto o barão da Ponte Alta foi o esteio e líder natural
daquele partido no Brasil Central. Major Cesário, outro nome
exponencial na história local, foi responsável pela organização em
Uberaba da maior biblioteca da época, reconhecida pelo visconde de
Taunay, seu frequentador assíduo quando esteve na cidade. A obra
Inocência, de Taunay, homenageia aquele ilustre cidadão através de
uma dos personagens reais daquele romance. A história de Uberaba
não pode esquecer ainda nomes como os de Crispiniano Tavares,
Tobias Rosa, Alexandre Barbosa, Antônio Garcia Adjuto (fundador do
jornal Lavoura e Comércio). Segundo Guido Bilharinho, não foi por
acaso que há cem anos a ordem dominicana escolheu Uberaba como
portão de entrada no Brasil, além dos irmãos Maristas e outros
intelectuais e acadêmicos que aqui também se instalaram.
328
ASCENSÃO E CRISE
Para Guido Bilharinho, os altos e baixos da história econômica
de Uberaba, no final do século XIX, se repetiram no início do século
passado. Nesta fase os destaques foram José Ferreira, médico com
forte atuação comunitária na antiga Sociedade Rural, hoje ABCZ,
Jóquei Clube, etc, o professor Santino Gomes de Matos, dom
Alexandre Gonçalves Amaral, o genial Leopoldino de Oliveira,
Fidélis Reis, José Maria dos Reis, entre outros. Por outro lado, lembra
Guido Bilharinho, que a crise do Zebu nos meados da década de 1940
abalou a cidade. A quebradeira e a consequente moratória abateram o
moral uberabense. Para Guido Bilharinho, a estagnação da economia
local e a abertura de novos mercados na direção de Goiás criaram
estrutura adversa que contribuíram para o determinismo e apatia do
empreendedorismo uberabense.
CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
conhece o passado
da sua cidade não tem consciência histórica para cultivar e valorizar a
vocação natural para o desenvolvimento sustentado de uma região .
No caso uberabense, esse conhecimento ficou restrito aos intelectuais
e acadêmicos que não participam diretamente do processo de
desenvolvimento da cidade. Bilharinho descreve de forma angustiada
a constatação da acomodação, apatia e determinismo impregnados nos
uberabenses, destacando ainda, que a sociedade precisa reagir. A
mobilização das lideranças uberabenses se faz necessária e urgente, já
329
que o capital e os empreendimentos uberabenses estão desaparecendo
da economia local, dando lugar e espaço para grupos de fora (também
importantes para o progresso da cidade), mas que intimidam a
iniciativa empresarial uberabense, desestimulada pela falta de
incentivo, valorização e reconhecimento por parte do setor público
municipal. Para Guido Bilharinho,
esplê
PLANO ESTRATÉGICO
Guido Bilharinho destaca que movimentos como o Fórum
Regional de Desenvolvimento devem sair do papel e se multiplicarem
comissão daquele Fórum, formada por representantes de vários
segmentos da sociedade local, não deve ser algo abstrato, mas
concreto, traduzido em ações concretas e urgentes. Dentro desse
do jornal Lavoura e Comércio, publicou em 25 de agosto do ano
passado algumas diretrizes para a elaboração de um Plano Estratégico
para o Desenvolvimento de Uberaba. Esse trabalho merece ser
avaliado pelas lideranças políticas e empresariais da cidade. Através
daquele documento, Guido Bi
Uberaba, inserida em região privilegiada em todos os sentidos, mas
colocada no centro (no caso verdadeiro epicentro) de três fortes e
dinâmicos centros polarizadores, como Ribeirão Preto, Uberlândia e
São José do Rio Preto, de há muito necessita que, acima das
divergências partidárias, grupais e familiares e até individuais - aliás,
330
esse pluralismo, ao contrário do que se possa pensar, é positivo,
mesmo porque, como constatado por um filósofo, não existem duas
pessoas que pensem do mesmo modo - organize-se plano estratégico
de desenvolvimento, que ao fim e ao cabo, será benéfico a todos,
mesmo e principalmente àqueles que só têm olhos para o seu próprio
umbigo e que, por isso justamente, nem atinam com as possibilidades
que lhes podem ser abertas, que, na hipótese aventada, certamente o
PLURALISMO CULTURAL
O advogado Guido Luís Mendonça Bilharinho, 63 anos,
formou-se em 1962 pela antiga Faculdade Nacional de Direito do Rio
de Janeiro, hoje UFRJ, é casado com Leda Almeida Bilharinho.
Jurista e ex-professor de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito
do Triângulo Mineiro (atual Uniube), tem três filhos, dois advogados
Sérgio e Marcos Almeida Bilharinho e uma psicóloga, Márcia
Almeida Bilharinho. Na Faculdade de Direito de Uberaba (Uniube)
Guido Bilharinho atuou como professor, assessor jurídico e diretor
daquela faculdade. Paralelamente à carreira jurídica e antes mesmo da
sua formatura em 1962, Guido Bilharinho passou a se dedicar, através
de ardorosa missão voluntária, à cultura uberabense e do nosso país.
Foi uma época de grande efervescência cultural, lembra Guido
Bilharinho. Através da sua vocação e pluralismo cultural nato, ajudou
na viabilização e fundação do cine clube de Uberaba (1962),
contribuindo para movimentos que, direta ou indiretamente, deram
origem a outras instituições culturais. Nessa fase, surgiram ainda na
331
cidade o NATA (Núcleo Artístico de Teatro Amador), o TEU (Teatro
Experimental Uberabense). Nesse período destacaram-se ainda
grandes nomes, como o do economista Paulo Vicente de Sousa Lima
(fundador da FCETM), Ronaldo Benedito Cunha Campos, Clarkson
de Castro Silva, Lincoln Borges de Carvalho, José Sexto Batista de
Andrade, Maurílio Cunha Campos de Morais e Castro, Edelweis
Teixeira, Eugênio Maria Diniz, Aquiles Riccioppo, José Fonseca, José
Cleito Lopes, Edson Prata, José Mendonça, monsenhor Juvenal
Arduini, entre outros.
DIMENSÃO
A atuação constante de Guido Bilharinho levou-o a participar de
vários outros projetos culturais, inclusive da criação da revista
Dimensão, que surgiu no final da década de 70 e durante vinte anos
seu nome. Aquela publicação contou com a participação e colaboração
de poetas de todo o país e do exterior e até hoje, após a edição do seu
último número, há quase dois anos, o seu idealizador recebe
correspondências de críticos literários e poetas de todo o mundo.
Paralelamente, o poeta, escritor, ensaísta e articulista Guido
Bilharinho escreveu livros, artigos e críticas principalmente sobre
cinema e literatura, participou da revista Convergência da ALTM e
durante vários anos da editoração do Suplemento Cultural do Correio
Católico. As proporções globais da revista Dimensão ganharam maior
amplitude a partir da sua décima edição com a incorporação da arte do
visual. A revista que não teve compromisso local, mas, com a poesia
332
universal de qualidade, participou de exposições internacionais na
Rússia, Austrália e vários países do Leste Europeu, cumprindo, de
fato, sua proposta de revista internacional, segundo Guido Bilharinho.
ALIENAÇÃO CULTURAL
Para Guido Bilharinho, a efervescência cultural do início da
década de 1960 foi inibida pelo governo militar a partir de 1964. As
atividades políticas, artísticas, culturais e movimentos estudantis
foram o alvo principal da censura e intransigência dos militares.
Guido Bilharinho destaca que a partir dessa fase inicia-se nova etapa
partir do período militar não serão revertidos no curto e médio prazos.
A alienação cultural e política foi a principal herança dess
afirma Guido.
ÊNFASE TRABALHISTA
Guido Bilharinho, embora tenha trabalhado no início da sua
carreira jurídica (na década de 1960), em causas cíveis e comerciais,
em parceria com os advogados Benito Caparelli e Helton Prata,
profissionalmente sempre preferiu as causas trabalhistas. Aliás, essa
preferência trouxe algumas dores de cabeça a ele e aos demais
advogados trabalhistas do país durante o período do governo militar,
principalmente na fase do AI-5. Naquela época, as militâncias política,
trabalhista, cultural e artística eram vistas e consideradas sob suspeita
por parte do governo. Apesar dos problemas na fase militarista, Guido
333
Bilharinho nunca deixou de atuar nesta área do Direito. Há seis meses
transferiu seu escritório, juntamente com os seus dois filhos, Sérgio e
Marcos Bilharinho, também advogados, para amplo e moderno espaço
que ocupa no terceiro andar do "Diamond Business Center ,
localizado na avenida Leopoldino de Oliveira.
(Jornal de Uberaba , 20 janeiro 2002,
depoimento concedido à jornalista Olésia Borges)
334
DATAS DO ANIVERSÁRIO DE UBERABA
Uberaba comemora hoje 183 anos de vida. O aniversário da
cidade acontece em meio a muita polêmica. Muitos defendem que 02
de maio, e não de março, deveria ser o dia certo a se comemorar. Para
esclarecer essa questão e tentar acabar com as dúvidas, o historiador
Guido Mendonça Bilharinho fez uma viagem no tempo com a
reportagem do Cidade Livre.
Para ele, o primeiro erro é que não deveria ser comemorado o
aniversário da cidade. Isso porque não existe uma data oficial da
fund
dia da cidade. Não existe documento oficial ou particular registrando
Bilharinho conta que a primeira tentativa de estabelecer uma
cidade na região aconteceu logo após 1806 a 1808. José Francisco de
Azevedo, trisavô do ex-deputado Chico Humberto, começou a
tentativa de povoado onde hoje fica Santa Rosa. Quando o major
Eustáquio chegou ao local, já existia até uma capelinha, mas ele
percebeu que a água não era o bastante para desenvolver uma cidade.
começo da Univerdecidade, na foz do córrego das Lajes, instalando ali
a sede de sua fazenda. Próxima, existia aldeia
historia Antônio Eustáquio
veio com a intenção deliberada de construir aqui uma cidade. Por isso
335
O fazendeiro e major construiu seu retiro de gado no lugar onde
hoje fica o hotel Chaves. Montou ali também a ferraria e foi
convidando o pessoal dos arraiais vizinhos para se instalarem aqui.
Começava aí a se formar o que futuramente seria Uberaba.
Na opinião de Bilharinho, a data de fundação oficial deveria ser
a registra -se
que se descubra essa prova, de que não temos conhecimento. Pode ser
uma carta para o rei, para o governador de Goiás, alguma coisa
Rosa continuasse, talvez morresse ou não se desenvolveria, como
tantos povoados que temos aqui ao redor que não se tornaram cidades.
Acontece que aqui, além de ser ponto estratégico, tivemos o major
O major acabou falecendo quatro anos antes de Uberaba ser
proclamado município, naquela época chamado de vila. O primeiro
agente executivo (prefeito) foi seu irmão, capitão Domingos.
DATAS CONFUSAS
Guido Bilharinho aponta algumas datas históricas de Uberaba:
em 13 de fevereiro de 1811 teria ocorrido a elevação da região a
distrito de índios segundo alguns historiadores. Em 02 de março de
1820 surgiu a paróquia. Em 1836, elevação a vila ou município. Em
1840 foi criada a comarca do rio Paraná, mudada para comarca de
tes éramos subordinados a Paracatu. Imagina
só, naquela distância e com os meios de transportes precários naquela
336
dia 02 de maio, houve a
elevação à cidade.
A transformação em vila, em 1836, significou a autonomia
administrativa de Uberaba, que então passou a ter
necessário ter o prédio da Câmara (que foi fundada um ano depois, em
07 de janeiro de 1837) e uma cadeia. Atendidos esses requisitos, foi
A elevação à categoria de
cidade deu-se em 1856, quando Borges Sampaio promoveu
se receber o título honorífico de cidade. Ganhamos o status de cidade,
mas nada mudou, apenas a categoria toriador, que acha
que, mais importante que esse título, foi a criação da Câmara,
representando a autonomia administrativa.
Ele lembra que os historiadores divergem sobre qual seria a data
preferível para se comemorar. Durante muito tempo, foi 02 de maio,
data de elevação à cidade, em 1856. Porém, a data foi mudada há
poucos anos por causa da proximidade com o Dia do Trabalho e a
abertura oficial da ExpoZebu, prejudicando comemoração à altura.
como Sete de Setembro. Mas a data foi
afogada pela Exposição e pelo Dia do Trabalho. Hoje não, mas
antigamente o Dia do Trabalho era muito comemorado, com direito a
Segundo ele, a escolha do dia 02 de março é boa, pois foi
quando surgiu a paróquia. Naquela época, a Igreja tinha importância
relevante, acumulando funções civis, tendo, por exemplo, a obrigação
autoridade civil. Antes as
pessoas tinham de esperar um padre que passava para ter um
337
documento. Para se ter ideia de sua importância, o primeiro padre a se
instalar aqui, vigário Silva, que ficou de 1820 a 1852, era historiador,
empresário, sendo até presidente da Câmara. Foi ele que, junto com
historiador.
Para o historiador, a data atual acabou sendo bem escolhida,
pois não co
coincidiu com o carnaval, mas isso só acontece de seis em seis anos.
As escolas já funcionam e pode haver a comemoração adequa
opina.
EVOLUÇÃO
Guido Bilharinho revela um pouco de como era Uberaba no
começo. A primeira rua seria hoje a Manuel Borges e a Vigário Silva.
A Art
era fundo de quintal das casas. Uma vez, com alguns amigos, fizemos
uma aventura, saímos de hoje onde começa a Univerdecidade e,
margeando o córrego da Laje, fomos sair na praça do Correio, ainda
de chão batido, lembra ele. no
mandato era festejado
O historiador recorda que, por causa da região e do dinamismo
da cidade, muitas pessoas vieram de diversos cantos para cá. Por
maior em relação à região, hoje não é assim. Nas décadas de 1940 e
1950, éramos a terceira cidade do Estado, a
Triângu1o . Hoje, Araxá e Pa
338
agropecuário é grande, não se discute, mas devíamos ter indústria para
sua produçã
(Cidade Livre, Uberaba, 02 março 2003, depoimento
prestado ao jornalista Wagner Ghizzoni Júnior, sob
)
339
ELEIÇÕES UBERABENSES
Os uberabenses vão às urnas amanhã para escolherem o novo
prefeito e os novos vereadores da cidade. Enquanto o momento do
pleito não chega, o Cidade Livre traz entrevista com o historiador e
escritor Guido Mendonça Bilharinho. Ele fala sobre as eleições
passadas e analisa as propostas de cada candidato. Para Bilharinho, a
campanha de Anderson é a mais consistente, e Eclair é uma surpresa
boa.
passadas, em Uberaba?
Esta é uma eleição única, histórica. Pelo menos se for
confirmado o que apontam as pesquisas. Desde 1946, quando houve a
redemocratização, nunca houve diferença tão grande entre os
candidatos a prefeito. As diferenças no número de votos sempre foram
muito pequenas, especialmente entre os dois primeiros colocados.
candidato a prefeito?
Tenho posição definida - claro que é minha opinião. Para mim,
Anderson Adauto é quem tem programa mais consistente, bem
amarrado. Ele se preocupou em estar ouvindo diversos segmentos da
sociedade, colhendo sugestões de diversas áreas para fazer um
programa amplo, completo.
340
Adriano Espíndola faz campanha ideológica, seu programa
partidário é nacional, ou seja, suas questões são praticamente
nacionais, o que ele apresenta para Uberaba é em ideias gerais. Ele
não concorda com as candidaturas dos concorrentes, se baseia
praticamente no ideologismo.
Por outro lado, Eclair é uma surpresa boa. Suas ideias e planos
me agradam. Mas falta estrutura, ela está praticamente sozinha. Mas
suas ideias são muito bem expostas, com clareza, sem atacar nenhum
candidato, já que ataque para mim é falta de ética.
Já Fahim Sawan está com o PSDB, que imobilizou, engessou o
país. Então, não tem como ele escapar dessa filosofia, se está nesse
partido é porque comunga com essa filosofia, de dar mais preferência
ao financeiro do que ao produtivo. Precisamos de plano de
desenvolvimento no médio e no longo prazo. Os prefeitos anteriores
não tiveram essa preocupação. É só limpeza de rua, asfaltamento,
escolas, ou seja, manutenção da máquina administrativa. Claro que
isso é necessário, mas, além disso, precisa de haver desenvolvimento.
Creio que Anderson, em sua quarta candidatura, mostra
experiência para organizar a administração.
candidatos estão fazendo promessas que são difíceis ou
impossíveis de cumprir?
Bem, certas propostas que estamos vendo são mesmo difíceis.
Mas, para mim, os candidatos deveriam mostrar propostas de postura
desenvolvimentista. Mas, eles optam pelo desenvolvimento, vamos
dizer, como rotina administrativa. Acho que só Anderson tem aquela
341
intenção desenvolvimentista, aquele negócio de alternância de poder.
O Brasil inteiro hoje está numa corrente monetarista, rotineira, são
milhões de desempregados, gente sem condição de sobreviver, um
absurdo num país grande e abençoado pela natureza como o nosso.
governo dos candidatos?
Parece que é saúde e segurança. Outros setores, como educação,
por exemplo, estão funcionando melhor que essas áreas. Realmente,
Uberaba precisa de mais segurança. Está de um jeito impensável anos
atrás.
(Cidade Livre, Uberaba, 02 outubro
2004, entrevista concedida ao jornalista
Wagner Ghizzoni Júnior, sob o título
dor F az Análise d as
E l e i ç õ e s U b e r a b e n s e s )
342
POTENCIALIDADES DE UBERABA
O resultado nas urnas demonstrou que o povo realmente estava
disposto a abraçar a alternância de poder. Esta é a avaliação do
advogado, escritor e ativista cultural Guido Bilharinho sobre o
processo eleitoral que culminou com a vitória de Anderson Adauto e
demonstrado efetivamente, não só no Executivo, mas no Legislativo
também. A população de Uberaba demonstrou que está amadurecida
politicamente, analisando propostas dos candidatos, não se deixando
URNAS DEMONSTRAM A ALTERNÂNCIA DO PODER
Uberaba precisa de um Plano de
Desenvolvimento, diz Guido Bilharinho
Em entrevista ao Cidade Livre, o advogado, escritor e ativista
cultural Guido Bilharinho faz uma análise sobre o novo cenário
político em Uberaba, após as eleições municipais. Para Bilharinho, o
resultado nas urnas demonstrou que o povo realmente estava disposto
a abraçar a a
não só no Executivo, mas no Legislativo também. Houve uma
renovação: muitos vereadores que acreditaram na reeleição não
conseguiram. A população de Uberaba demonstrou que está
amadurecida politicamente, analisando propostas dos candidatos, não
343
citou, ainda, a votação expressiva de Eclair Gonçalves (Prona), que
ocorreu face às suas propostas de governo e ao seu trabalho realizado
no Procon.
legendas trazem mais ideias e debates e que a alternância de poder no
pleito foi demonstrada não apenas no Executivo, mas também na
acompanhe o trabalho da Câmara, de forma participativa, ou seja, a
participação popular para decidir os destinos da cidade. A
administração anterior não fez Uberaba progredir, apenas fez a
advogado
aponta, ainda, que o Legislativo não pode ficar submisso ao
Estratégico de Desenvolvimento para o município abrir possibilidades
preciso fazer diagnóstico da cidade, ver
nossas potencialidades. Um exemplo: Uberaba hoje é a maior
produção de milho do Estado, passou Patos de Minas. Como
(Cidade Livre, Uberaba, 05 outubro 2004, sob o
d a )
344
IDADE DE UBERABA
No último dia 02 de março, aniversário da cidade, o jornal
Cidade Livre publicou entrevista exclusiva com o professor e
folclorista Carlos Pedroso, onde ele dizia, dentre outras coisas, que a
data em que se comemorava o aniversário de Uberaba não é correta e
compromete a verdadeira idade da cidade. Agora surge nova data,
1812. Apesar das divergências, o advogado Guido Bilharinho acredita
que o mais importante já foi descoberto: o interesse dos uberabenses
em descobrir suas origens.
IDADE DE UBERABA AINDA NÃO TEM DATA DEFINIDA
No dia dois de março, aniversário da cidade, o jornal Cidade
Livre publicou entrevista exclusiva com o professor, historiador e
folclorista Carlos Pedroso, onde ele dizia, dentre outras coisas, que a
data em que se comemorava o aniversário de Uberaba não é correta e
compromete a verdadeira idade da cidade.
Diante dos fatos, o advogado Guido Bilharinho entrou em
contato com o jornal para expor mais alguns dados históricos e sua
opinião sobre o que foi noticiado. Bilharinho não vê as comemorações
como equívocos e, sim, como uma divergência quanto ao aniversário
da cidade.
centenários que foram comemorados pela
cidade são justos, pois eram datas que relembravam fatos importantes
que aconteceram em Uberaba. Mas é importante que se saiba que em
nenhum deles pode ser comemorado o aniversário da cidade, uma vez
345
que ainda não há data e
advogado e também estudioso da história da cidade.
Segundo Guido Bilharinho, o ano de fundação da cidade seria
1812*
. Portanto
historiadores uberabenses já levantaram essa informação, mas ainda
não conseguimos os documentos com o mês e o dia desse fato. Pode
ser que eles estejam em Portugal, mas, infelizmente, não foram
, explica o advogado.
Ele relembra ainda que, antes das duas datas apresentadas na
1911, houve exposição pública do zebu e do distrito de índios, por
iniciativa de Hildebrando Pontes, comprovando os vários povos que já
Para Guido, toda esta discussão sobre datas e fatos é muito
importante e mostra o quanto a cidade e as pessoas que nela habitam
supostas datas e
discussões sobre comemorações, oficiais ou não, fomentam a pesquisa
histórica e a riqueza cultural da cidade. Conhecer sobre tudo isso é
conhecer sobre nós mesmos e sobre nossos antepassados. Um
exemplo disso, é que antes de 1900, Uberaba
Em 1820, havia o vigário, em 1837, o primeiro prefeito e em
1840, o primeiro juiz de Direito. O mais importante já foi descoberto:
conseguimos despertar o interesse em nós mesmos, pela História da
naliza Guido.
346
(Cidade Livre, Uberaba, 07 março 2005, sob o título
)
_______________
*Pesquisas posteriores, com base nos relatos dos viajantes
estrangeiros, demonstram que Uberaba, conforme Hildebrando Pontes
também indica, foi fundada nos fins de 1816 e inícios de 1817)
347
UBERABA É UMA ETERNA FESTA
Para Você Por Que Uberaba Pode Ser
Considerada Cidade Turística?
Preto, Diamantina e Mariana, mas é uma cidade com valor turístico. A
nossa paisagem rural é excepcional. Os próprios produtos regionais
são atrativos, os espécimes arquitetônicos da cidade ainda são
preservados, como a Igreja São Domingos, patrimônio inigualável.
Nós temos o entorno cultural no centro da cidade, como o Mercado e a
igreja Santa Rita, que cria um espetáculo que não existe em outras
cidades. Nós temos até cachoeiras no município, ainda desconhecidas
pela própria população uberabense.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 02 março 2007,
depoimento concedido à jornalista Daniela Brito)
348
ERROS EM NOMES DE RUAS
Erros de português podem ser vistos em várias placas novas de
identificação das vias de Uberaba. A rua Vigário Silva aparece na
placa como Vigário Sílvia. Inconformado com a quantidade de erros,
o advogado e historiador Guido Bilharinho qualificou o fato de
escárnio para com a história e memória da cidade. A Secretaria de
Infraestrutura não reconhece ter havido erros nas novas placas e ainda
esclarece que as placas serão reformadas em todo o município.
PMU INSTALA PLACAS COM ERROS DE PORTUGUÊS
responsabiliza o aluno pelo erro. Se for em uma avaliação,
provavelmente ele perderá nota. Qual será a penalidade então para a
Secretaria de Infraestrutura ao colocar nomes errados nas placas e
avenidas da cidade?
A denú
um absurdo, um escárnio para com a história e memória da cidade,
in
As atribuições de Bilharinho dizem respeito às placas
novíssimas colocadas recentemente na cidade, porém com erros
crassos que ultrapassam a barreira da língua portuguesa. Um exemplo
está estampado bem no coração de Uberaba, lugar onde Guido destaca
ter nascido a cidade há quase dois séculos, a praça Rui Barbosa. Ali,
uma placa fixada indica a rua Vigário Sílvia, ao invés de Silva. Outro
erro ocorre na rua Padre Zeferino. Embora haja muitas indicações com
349
o nome correto, há também uma aberração nomeando um dos
principais religiosos existentes na cidade pelo nome de Padre José
Ferino.
O historiador corrige, afirmando que Zeferino era o prenome e
país. Não há responsabilidade em todas as escalas. Se isso acontece
com pequenas coisas, o que podemos e
questiona.
E os erros se sucedem. Onde é rua colocam avenida e vice-
versa. A placa em frente do prédio do Jornal da Manhã comprova
esse exemplo. O correto é avenida, e não rua Fidé
haver penali
O subsecretário de Infraestrutura, Luís Humberto Frange, não
foi encontrado para comentar os equívocos, porém a Secretaria de
Infraestrutura não reconhece ter havido erros e ainda esclarece que a
cidade toda terá placas reformadas. A pasta está elaborando processo
licitatório para o serviço de reforma. Quanto às placas em que foram
encontrados erros, ninguém da repartição soube dar explicação.
( Jo r n a l d a Man h ã , Ub er ab a , 0 7 j u l h o 20 0 7 ,
depoimento concedido ao jornalista Rodrigo Matos,
)
350
CINE CULTURA DA OAB/UBERABA
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/Uberaba) realiza uma
sessão de cinema gratuita no primeiro sábado de cada mês, há seis
anos.
O evento, denominado Cine Cultura, que direcionava a escolha
dos filmes pela temática da obra, mudou o foco este semestre.
Segundo o historiador e advogado Guido Bilharinho, o critério agora
adotado é a estética dos filmes.
A sessão de hoje, por exemplo, apresenta uma das produções do
diretor sueco Ingmar Bergman, que morreu aos 89, há pouco mais de
um mês. Entre os mais de 50 filmes do currículo do diretor, a equipe
organizadora do evento escolheu dois clássicos: Morangos Silvestres
(1957) e Gritos e Sussurros (1972), previstos para serem exibidos,
respectivamente, neste mês e em outubro.
Segundo Bilharinho, o título selecionado para este fim de
semana é um drama. Nele, um médico é convidado para receber uma
o presente, a
memória e o sonho. E ele faz uma ligação desses três tempos de uma
Para os meses de novembro e dezembro, estão na programação
obras de um diretor contemporâneo de Bergman que, curiosamente,
também faleceu no mesmo dia do sueco - 30 de julho deste ano. O
legado do cineasta italiano Michelangelo Antonioni será tema de
debate nos últimos meses do ano pelo Cine Cultura.
- OAB. O nosso
351
objetivo é fomentar a cultura, tão necessária e importante para todos
A sessão de setembro do Cine Cultura da OAB/Uberaba
acontece hoje, às 19h30, na sede da instituição, situada na rua Lauro
Borges, 82. A exibição do filme é seguida de um debate e uma
confraternização.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 01 setembro 2007,
depoimento prestado à jornalista Faeza Resende)
352
A HISTÓRIA DE UBERABA
Natural de Conquista, o advogado e escritor Guido Bilharinho,
69 anos, conta a história de dois séculos de Uberaba, em livro que será
lançado na quarta-feira (28), às 20h, na Câmara de Vereadores. No
século XIX, o município uberabense era Centro Regional do Império,
uma das dez cidades mais importantes do Brasil, num tempo em que a
cidade toda se engajava. Ele destaca que a vaidade mineira foi a
culpada pela perda da condição de polo de desenvolvimento que
pertencia a Uberaba. Ele fala também que está entre os desanimados
com a política e que não vota mais em presidente da República,
senador e governador.
UBERABA CARECE DE PARTICIPAÇÃO
POPULAR E UNIÃO DE LIDERANÇAS
No século XIX, o município uberabense era Centro
Regional do Império, uma das dez cidades mais importantes
do Brasil, num tempo em que a cidade toda se engajava
A história mostra Uberaba como polo desenvolvimentista que se
destacou no Brasil, antes mesmo da cidade de São Paulo. A perda da
hegemonia da cidade, inclusive, é um dos pontos que permitiram o
boom da cidade paulista. O escritor Guido Bilharinho, autor do livro
Uberaba - Dois Séculos de História, em entrevista especial ao Jornal
de Uberaba, revela fatos importantes para a cidade e também expõe
sua opinião sobre os uberabenses. Ele considera o povo uberabense
pouco participativo e aposta na união de lideranças políticas para tirar
353
Uberaba do marasmo verificado no país inteiro. Advogado e uma das
mais respeitadas personalidades da cidade, Guido é ardoroso defensor
da emancipação do Triângulo e revela que está entre os desanimados
com a política. Destaca que pretende, nas próximas eleições, anular o
voto para presidente da República, senador e governador.
Jornal de Uberaba - O senhor tem veia de escritor e já comprovou
esse talento com vários livros lançados, entretanto, todos na área da
arte cinematográfica e da poesia. O que o levou a escrever sobre os
dois séculos da história de Uberaba?
Esse livro não estava nos meus planos. Já tenho preparados dois
livros quase prontos, praticamente, sobre Uberaba. Um sobre
personalidades uberabenses. São quase 50 biografias de pessoas
falecidas, da área administrativo-cultural da cidade. Outro sobre os
periódicos culturais de Uberaba. Publiquei no Lavoura e Comércio
sobre quase todos eles. Tenho ideia de publicar, também, coletânea de
ensaios culturais sobre artes plásticas, música, literatura, teatro, de
outros autores, mas reuní-los em um livro só. Há até um inédito sobre
a imprensa de Uberaba, do Hildebrando Pontes.
JU - E como surgiu a ideia de publicar Uberaba - Dois Séculos de
História, que o senhor vai lançar na quarta-feira, dia 28, na Câmara
de Vereadores de Uberaba?
Esse livro surgiu quase por imposição das circunstâncias. Eu ia a
um programa semanal de entrevistas na Rádio Metropolitana, em que
eu falava sobre Uberaba. Eu falei sobre as personalidades. Em um dos
354
programas fui perguntado sobre a história da cidade. Nesse momento
tive a ideia de fazer um trabalho cronológico da cidade. Para eu falar
sobre as 50 personalidades da cidade reuni muito material. Comecei a
falar sobre o assunto, e, depois, o padre Júnior me convidou para o
programa dele na TV Universitária. Tudo mais ou menos simultâneo,
quando o jornalista Fabiano Fidélis [diretor-presidente do Jornal de
Uberaba] me convidou para escrever uma página cultural. Comecei a
falar por décadas, já estamos na metade. Esse primeiro volume vai até
dezembro de 1929.
JU - Nesses dois séculos que fatos o senhor poderia destacar como
mais importantes para Uberaba, por exemplo, no setor econômico?
Foi fundamental a atuação do major Eustáquio [Antônio
Eustáquio da Silva e Oliveira]. Ele veio deliberadamente para fundar
uma cidade. Não foi por acaso. Agiu nessa direção. Primeiro ele esco-
lheu aqui, com o cônego Hermógenes, este uma das pessoas mais
inteligentes que o Brasil Central teve na primeira metade do século
XIX. Ele chegou a ser eleito deputado às Cortes de Lisboa morando
no Desemboque de onde nunca saiu. O Desemboque foi o grande
núcleo da civilização do Brasil Central. Por causa do ouro ter
diminuído, boa parte do pessoal de lá veio para Uberaba. Lá não tinha
futuro. Aqui as terras eram férteis, tinha abundância de água e passava
a via Anhanguera. Major Eustáquio veio e aqui edificou a sede de sua
fazenda em 1812. Posteriormente, ele mandou construir retiro para o
gado onde hoje está localizado o hotel Chaves, reservando espaço para
o largo da Matriz. Em 1820 conseguiu o verdadeiro registro de
nascimento da cidade, com a criação da Freguesia. Uberaba era
355
povoado sem nome com amontoado de casas. Ele desviou a via
Anhanguera e criou a estrada Uberaba/Delta. Além de abrir a estrada,
conseguiu com o Governo dez anos de isenção de impostos para quem
se estabelecesse nas margens da estrada. Política que prevalece hoje,
de incentivo fiscal. Ele já tinha essa ideia.
JU - A abertura da estrada deu inicio à característica de Uberaba, no
que se refere à sua posição geográfica?
Sim, porque além de abrir a estrada ele também fez um porto e
estabeleceu navegação do rio Moji Guaçu e rio Grande para trazer sal,
colocando Uberaba como entreposto comercial. Era impressionante a
quantidade de sal que a cidade recebia, toneladas, e enviava para
Goiás e Mato Grosso. Major Eustáquio fez sociedade com o vigário
Silva e eles exploraram o porto comercialmente. Nessa época ele já
trabalhava para elevar Uberaba a município, mas faleceu antes.
JU - Mas o major Eustáquio foi o responsável pela data oficial
documentada mais antiga de Uberaba?
Exatamente. Ele conseguiu elevá-la à Freguesia em 02 de março
de 1820. Aquela data de 02 de maio, que veio 40 anos depois, com a
elevação à cidade, é honorífica. Em 1836, uma lei da Assembleia
Provincial Mineira elevou Uberaba e outros arraiais à Vila, mas
impunha condições: a comunidade teria de construir o prédio da
Câmara e da cadeia. Uberaba conseguiu construir. Houve eleições em
Uberaba monitoradas por Araxá, que foi vila antes. O capitão
Domingos, irmão do major Eustáquio, foi o mais votado. Ele foi a
Araxá, tomou posse e deram poder a ele de instalar a Câmara e
356
empossar os demais. A instalação da Câmara aconteceu no dia 07 de
janeiro de 1837. Em 1840, Uberaba foi elevada à Comarca. Até então,
toda demanda judicial corria em Paracatu.
JU - A história mostra um avanço grande de Uberaba em relação às
demais cidades brasileiras?
Mostra, sim. São Paulo levou 155 anos para ser elevada de vila à
cidade e Uberaba conseguiu tudo em curto espaço de tempo. Para
aquela cidadezinha, com cerca de dois mil habitantes, ter juiz de
direito, vigário e prefeito era fantástico. Veja como essas datas são
importantes: em 1820 Uberaba teve seu vigário fixo. Antes um padre
passava por aqui uma vez por ano e fazia tudo de uma vez,
casamentos, batizados, enfim. Por decreto foi criada a paróquia e por
outro decreto nomeado o vigário. Em 22 de fevereiro de 1836, foi
Uberaba elevada à vila. A partir de 1837, ganhou o seu administrador,
o prefeito, naquela época chamado agente executivo, e a partir de
1840 o juiz. Em 1856 foi feito recenseamento por Borges Sampaio e
se pleiteou a elevação da vila à categoria de cidade. Só mudava o
nome de vila para cidade, o que aconteceu em 02 de maio de 1856. O
único efeito prático que ela teve foi que a Câmara tinha sete
vereadores e passou a ter nove.
JU - É dessa forma que o livro se desenvolve?
Na verdade o livro aborda isso tudo, mas não assim. Ele vai
acompanhando a história de Uberaba cronologicamente de forma
rigorosa. Vêm o século, a década e o ano. Muitos acontecimentos não
357
têm data, dia e mês, mas sabe-se o ano. Todos os acontecimentos mais
importantes constam do livro. Muito poderá ser acrescidos se
percorrermos a coleção da Gazeta de Uberaba e do Lavoura e
Comércio. O Lavoura registrou os fatos durante 104 anos e a Gazeta
20 anos antes da fundação do Lavoura.
JU - A quem o senhor recomenda a leitura do livro?
A todas as pessoas que gostam de saber da história de Uberaba.
Ele pode ser lido e depois virar obra de consulta. Há um índice que
amarra tudo, ou seja, todas as pessoas citadas, as instituições,
acontecimentos, enfim. Por exemplo, Uberaba teve problema sério
com cachorros com a chamada hidrofobia. Foi uma batalha tremenda,
antes de 1930. Todos os prefeitos enfrentaram o excesso de cães.
Uberaba era o maior freguês do instituto Pasteur porque os cachorros
mordiam as pessoas e elas ficavam contaminadas. O Doca, em seu
livro Terra Madrasta, analisa as administrações municipais até 1930 e
conta que um prefeito fez uma pinguela e matou cachorro, outro
prefeito calçou uma rua e matou cachorro, enfim. Mas tinha de matar
mesmo. A quantidade era imensa.
JU - E a abertura da cidade para a cultura? Houve um político ou
outro que o senhor pode destacar como importante para essa área?
O Doca destaca três políticos em Uberaba até 1930: Alexandre
Barbosa, que não chegou a ser prefeito, mas foi deputado estadual e
vereador; Hildebrando Pontes, que foi vereador, presidente da Câmara
e agente executivo, e Leopoldino de Oliveira, que foi isso tudo e mais
deputado federal.
358
JU - Na história mais recente, que políticos o senhor destaca?
Acho que nenhum se destaca demais. Os administradores, até
1970, não tinham renda. A PMU tinha, em 1964, cerca de 90 celetistas
e 40 servidores. Naquela época os vereadores não recebiam subsídios.
Houve criação de impostos e os municípios começaram a ter dinheiro.
Começou a canalização de córregos por João Guido. Ele conseguiu
dinheiro. O Jorge Furtado não pôde fazer nada, apenas pagar dívidas.
Manteve a máquina funcionando, enxugou e acertou as dívidas com
muita honestidade. Todos tinham vontade de fazer. É difícil fazer
comparações entre administradores. Hoje a prefeitura tem R$ 500
milhões para trabalhar.
JU - E na área cultural, especificamente?
Na área cultural o prefeito Wagner do Nascimento foi o mais
importante para Uberaba. Ele teve muito mais sensibilidade que os
demais. Mas não é só a qualidade dele, é a época também. Vieram
projetos, ideias, solicitações que não existiam antes.
JU - Quando Uberaba passou a ser polo de desenvolvimento?
No começo da década de 1970, com a inauguração da Fosfértil.
Não temos nada de matéria-prima, ela fica perto de Araxá. Mas não
havia como eles instalarem usina lá por causa de água, transporte,
enfim. O lugar ideal era Uberaba. Sempre a posição geográfica
privilegiando a cidade.
359
JU - Por que Uberaba perdeu sua condição de polo?
Uberaba teve vários choques negativos econômicos. Vou falar
os principais que arrebentaram com a cidade neste aspecto. Em
meados da década de 1850 a navegação do rio Moji-rio Grande que
morria aqui foi estendida até Frutal. Uberaba já não era mais polo de
receber e reexportar, havia Frutal também. Nessa mesma década
inaugurou-se a navegação do rio Araguaia. Os goianos começaram a ir
para Belém. Houve crise bancária em que as agências retraíram o
crédito, o que segurou o comércio. O sal aumentou de preço. Tudo na
mesma época. Ainda teve o começo da navegação do rio Paraguai.
Não dependia dos uberabenses. Se dependesse, Uberaba estaria
sempre no topo. Isso é coisa do país, da dinâmica da economia e do
desenvolvimento das outras regiões.
JU - Não houve um tempo em que Uberaba e Uberlândia tinham o
mesmo porte?
Uberlândia foi fundada 40 anos depois. Com a Mojiana, em
1889, Uberaba deu novo salto, mas os trilhos continuaram. Sete anos
depois estavam em Araguari. Uberaba deixou de ser o centro dos
eixos de exportação e importação. A estrada parou lá. Araguari e
Uberlândia é que começaram a se movimentar mais. Uberaba tornou-
se passagem. Mas houve outro fato que foi a pá de cal contra Uberaba.
Já estava demarcada a estrada de ferro Uberaba/Coxim, na divisa do
Mato Grosso com o Paraguai. O pessoal da construção foi recebido
com baile em 1906. Afonso Pena foi candidato à presidência da
360
República e uma das condições que o governador de São Paulo impôs
para apoiá-lo era que essa estrada fosse transferida para São Paulo e
ele concordou. Matou Uberaba e Minas. Passou a ser a Noroeste
Paulista, um dos fatores do progresso de São Paulo. Uberaba teve
Banco do Brasil antes de São Paulo. O tirocínio paulista e a vaidade
mineira prejudicaram definitivamente Uberaba. Depois inauguraram a
ponte Afonso Pena, no rio Paranaíba, e Uberlândia se atirou
comercialmente para Goiás. Os que eram fregueses de Uberaba
passaram a ser de Uberlândia. O grande desenvolvimento de
Uberlândia começou por volta de 1910 e Uberaba passou a perder a
hegemonia.
JU - Mesmo com esses golpes, Uberaba se manteve como polo do
zebu.
A riqueza de Uberaba passou a ser o zebu, que veio desde a
década de 1870 e 1880 do século anterior e veio devagar. Os criadores
não eram industriais. Os uberabenses é que descobriram a
potencialidade do zebu. Foram os únicos que tiveram essa visão no
mundo ocidental. O zebu já existia no Estado do Rio de Janeiro. Um
uberabense viu, entusiasmou-se, trouxe, revendeu e recebeu novas
encomendas. Nesse meio tempo, em São Paulo, surgiu um médico que
desenvolveu campanha tremenda contra o zebu. Foi a nossa sorte. Isso
inibiu os fazendeiros paulistas de descobrirem o zebu.
JU - O que move uma população?
361
É o dinamismo econômico. Não adianta apenas ter vontade.
Uberaba era polo econômico, era fluxo comercial e atraía muita gente,
como Uberlândia passou a atrair.
JU - A sociedade se mostra desanimada com a classe política diante
de tantos escândalos de corrupção. Que avaliação o senhor faz?
A corrupção existe por causa do financiamento de campanha. Os
candidatos atendem ao que querem os grupos econômicos para
garantir a reeleição e por aí vai. E a sociedade é corrupta. Os eleitos
são um reflexo da sociedade. O povo reelege corruptos. Estou entre os
que não querem votar mais. Votar para quê? Se os eleitos atendem a
interesses dos grupos econômicos? Para governador de Minas vou
anular meu voto, até porque sou favorável à emancipação do
Triângulo. Pra senador também não voto mais. E para presidente da
República também não. Depois do Lula não voto em mais ninguém.
Quem governa não é o eleito, mas os grupos econômicos. Para
deputado estadual e federal vou analisar. Já para prefeito e vereadores
você conhece, tem como fazer a melhor escolha. E quem não vota em
alguém por achar que ele não vai ganhar, comete uma estupidez. Esse
é o chamado voto inconsciente.
(Jornal de Uberaba, 25 novembro 2007, entrevista
concedida à jornalista Rose Dutra
)
362
SEGUNDO TURNO AUMENTA DEBATE
O historiador Guido Bilharinho defende e aponta a importância
de Uberaba manter possibilidade de segundo turno nas eleições de
Bilharinho pontua que o segundo turno permite maior
ressalta. O historiador garante ainda que o procedimento eleva a
categoria da cidade.
Com o segundo turno, a e do
confusão no eleitorado menos culto, mais despolitizado. Ou mesmo
aquele candidato que não tem chance e vai concorrer. No segundo
turno, apenas os dois grupos mais fortes ficam frente a frente, é muito
Bilharinho lembra que Uberaba chegou a sediar eleições
municipais com oito candidatos, mesmo com um único turno, e
garante que a tendência é pluralidade de concorrentes para o 1º turno
do próximo ano.
(Jornal da Manhã, Uberaba, 11 dezembro 2007,
depoimento concedido à jornalista Faeza Resende)
363
DERROTA
A inauguração do Centro de Cultura José Maria Barra e as
reformas do Cine Teatro Vera Cruz, da Biblioteca Municipal e dos
imóveis históricos da cidade foram, sem dúvida, fatos importantes na
vida cultural de Uberaba, em 2007. Porém, a venda da coleção do
jornal Lavoura e Comércio para uma universidade de Uberlândia, foi
fato humilhante, que se sobrepôs a todas as conquistas. Ainda não
sabemos se o material ficará na cidade ou não, mas perdemos a
propriedade do nosso maior patrimônio, porque foi pouco o interesse
das instituições, tanto públicas, quanto particulares, em dar lances para
arrematar o acervo em leilão. São mais de 100 anos de história local
registrados e não somos mais donos desse material. Para 2008, faço
votos para que o uberabense seja mais participativo e assuma mais
responsabilidades pelo patrimônio físico, históric
(Jornal da Manhã, Uberaba, 23 dezembro 2007)
364
MEMÓRIA REVERENCIADA
Foi em abril de 1962, por aprovação da Câmara de Vereadores e
sanção do então prefeito Jorge Furtado, que a avenida Brasil tornou-se
avenida Fidélis Reis. Na época, a lei 1.019, que consta nos
documentos do Arquivo Público de Uberaba, determinou que a nova
denominação guardasse as delimitações previstas, indo da praça Dr.
Henrique Krüger até a praça Coronel Geraldino Rodrigues da Cunha.
A partir dos anos 70, resultado de desapropriação amigável de antiga
área de terra, a Fidélis Reis se estendeu então até a rua Gabriel
Junqueira, atual delimitação. E não demorou. Foi no mesmo ano da
morte do intelectual Fidélis Reis, filho de Uberaba, que por iniciativa
de José Sexto Batista de Andrade, então presidente do Banco do
Triângulo Mineiro, nasceu uma das principais artérias da cidade de
Uberaba.
A URBANIZAÇÃO DA FIDÉLIS REIS
Dos tempos da avenida Brasil, ainda nos idos de 1945, o
historiador Guido Bilharinho tem depoimento pessoal. Quando
menino foi morador de uma das travessa -me
que era mesmo um fundo de quintal, como as demais avenidas hoje
traçadas em Uberaba, e o córrego a céu aberto era preocupação para as
Reis aconteceu a partir da ca
que o segundo quarteirão foi canalizado no governo de Arnaldo Rosa
Prata, em 1971, porque na década de 1950 só havia uma construção
365
urbanização da avenida Fidélis Reis, junto com as demais avenidas da
cidade, observa o historiador, representou o surgimento de novo
modelo para as vias públicas de Uberaba, passando das ruas apertadas
para espaços mais amplos.
(Jornal de Uberaba, 29 junho 2008,
depoimento prestado à jornalista Roseli Lara,
)
366
SUBSTITUIÇÃO DE TELHAS
DA IGREJA SANTA RITA
O advogado e historiador Guido Bilharinho recorda que a igreja
Santa Rita foi construída em 1854 por Cândido Justiniano de Lira
Gama em cumprimento de promessa. A igreja de Santa Rita foi
submetida em 1877 à ampliação por Manuel Joaquim de Barcelos,
também em decorrência de promessa, sendo tombada em 1939 pelo
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional por solicitação
de Gabriel Toti, nela operando-se em 1940 ampla reforma por
iniciativa de Antônio Zeferino dos Santos.
(Jornal de Uberaba, 14 outubro 2008,
Igreja Santa Rita Causa Tra )
367
VOLTANDO NO TEMPO
Historiador, escritor e advogado Guido Bilharinho é
considerado um dos principais intelectuais
da cidade. Memória Viva, como é chamado por
muitos, não poderia ficar fora da comemoração
de 85 anos da ACIU
Do à Cidade das Sete Colinas ,
Uberaba com sua beleza transformou o Triângulo Mineiro em palco
de Terra do Zebu vem merecendo
destaque no cenário nacional. A Associação Comercial, Industrial e de
Serviços de Uberaba, ACIU, com 85 anos de existência, é parte
fundamental no desenvolvimento da cidade. Em entrevista à
Associação, o historiador Guido Bilharinho conta como foi a criação
da entidade no município e destaca pontos fortes da ACIU em relação
ao desenvolvimento comercial e industrial de Uberaba.
ACIU: Antes da década de 1920, Uberaba era eixo comercial e
abastecia cidades de Goiás, Mato Grosso etc. Como estava a cidade
do ponto de vista comercial e econômico quando a Associação foi
fundada em nosso município?
Na década de 1920, quando Uberaba já tinha perdido a condição
de entreposto comercial, detinha ainda certa importância comercial,
368
como centro operacional da região que a circunda. A fundação da
ACIU originou-se da necessidade de os comerciantes e industriais
locais se organizarem tanto para a defesa de seus interesses
específicos, quanto para lutar por conquistas para a cidade. Nesse
sentido, a ACIU posicionou-se desde o primeiro momento, mantendo
e ampliando posteriormente sua participação na coletividade local e
regional.
ACIU: Um dos grandes marcos na história da ACIU foi a chegada da
estação de energia na cidade; com isso Uberaba passou a receber
grandes indústrias, criando-se assim a cidade industrial. Como foi
esse marco?
O fornecimento de energia elétrica em Uberaba passou por três
fases distintas. A primeira, com a criação da Empresa de Força e Luz
de Uberaba, que inaugurou a eletricidade em 1905. A segunda, a partir
de 1935, quando o Estado de Minas encampou esse serviço. A
terceira, finalmente, em 1960, com transferência para a Companhia
Energética de Minas Gerais (CEMIG) dos serviços de eletricidade do
município, com a presença, na solenidade, de diretores da ACIU. A
vinda da Cemig foi resultado de campanha liderada pela ACIU, sendo
que, a partir daí, a cidade não mais sofreu os frequentes apagões ou
quedas do fornecimento, além de ter ampliado consideravelmente a
capacidade geradora instalada, propiciando a futura criação e
instalação dos distritos industriais, ideia, aliás, já defendida na ACIU
desde a década de 1950 sob a denominação de .
369
ACIU: Um ponto importante que podemos destacar foi a chegada da
TV em Uberaba, tendo a ACIU lutado para essa conquista. Como foi?
A Aciu sempre se posicionou como vanguarda na luta por
conquistas para a cidade. Por isso, a grande conquista na área da
comunicação, como a TV, não lhe seria, como não foi, indiferente,
tendo suas diretorias na época se empenhado para mais essa conquista.
ACIU: A implantação da Faculdade de Ciências Econômicas do
Triângulo Mineiro fez da ACIU a pioneira e a única em Minas Gerais
a criar uma faculdade. O que isso gerou na cidade?
A criação da Faculdade de Ciências Econômicas constituiu um
marco na história da cidade, tanto para enriquecer seu centro
universitário, ampliando-o para área educacional inexistente então,
quanto para contribuir para a ampliação dos horizontes econômicos do
empresariado. Na época de sua fundação, Uberaba só tinha um
economista, Paulo Vicente de Sousa Lima, por sinal comerciante,
professor da Faculdade de Engenharia e o responsável pela
organização e pelo projeto pedagógico da nova Escola.
ACIU: A luta pela emancipação do Triângulo também havia marcado
a história da ACIU. Uma forte campanha foi feita. Como isso
aconteceu ?
Uma das mais notáveis e consistentes campanhas para a
emancipação do Triângulo foi encetada e dirigida, em 1968, pela
370
ACIU, juntamente com sua congênere de Uberlândia, que fundaram,
com a participação de diversas entidades de classe da região, a UDET
- União Para o Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo, que
desenvolveu consistente e empolgante campanha nesse sentido.
ACIU: Qual a importância de uma associação do porte da ACIU para
a cidade?
Não se compreende, desde o início do século XX, uma cidade
do porte de Uberaba sem sua Associação Comercial e Industrial, como
também não se pode compreender e entender Uberaba sem a ACIU e
toda a atividade, campanhas e conquistas em que se empenhou desde
sua fundação.
ACIU: Como historiador e morador da nossa cidade, o que podemos
destacar nesses anos e o que precisa ser melhorado?
Uma das conquistas da ACIU e de Uberaba foi a construção de
sua sede própria. Além das campanhas vitoriosas que tiveram
participação da ACIU, destaca-se sua permanente disposição e diretriz
de se empenhar pelo progresso da cidade e da região.
Já no que pode ser melhorado, é certo que todas as áreas de
atividades da comunidade necessitam se desenvolver. No campo
específico de atuação da ACIU, salienta-se como uma de suas lutas
mais importantes, a ampliação do parque industrial da cidade. A
atração de novos investimentos industriais para o município deve ser,
371
pois, preocupação (e ocupação) constante da ACIU, da Prefeitura e da
Câmara.
(Revista ACIU, edição comemorativa de 85
Anos da Associação Comercial, Industrial e
de Serviços de Uberaba, novembro 2009,
entrevista concedida à jornalista Ione Felizardo)
Entrevistas e Depoimentos, de Guido Bilharinho - Parte 2
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Revista nº 14
 

Entrevistas e Depoimentos, de Guido Bilharinho - Parte 2

  • 2. 293 Anos 70 A CONSCIÊNCIA DA CULTURA Falar muito de Guido Bilharinho seria, no mínimo desnecessário, principalmente quando o leitor tem à sua frente vasto e bem cuidado depoimento seu para ler. Mas, para não ficar descompensado, devo relembrar ao leitor que Guido foi o perfeccionista presidente da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, diretor do extinto Suplemento Cultural do Correio Católico e autor do livro Poetas do Triângulo Mineiro - Antologia. De Guido basta sua atividade aliada a um critério incomum em nossa terra. Critério de avaliação dos movimentos e das produções culturais. No fundo, o que Guido tem de mais notável é sua capacidade operacional que resultou em frutos de indiscutível sabor. hoje? O panorama cultural da cidade nos dias de hoje não é satisfatório. A rigor, nunca o foi, embora tenha havido épocas em que esteve, pelo menos, melhor. E nunca o foi porque a sociedade brasileira, pelas bases em que se assenta, não favorece atividades culturais e artísticas, preferenciando e valorizando o conhecimento técnico de aplicação prática imediata. Sem minimizar a importância desse conhecimento e a necessidade de seu domínio e aprofundamento pelo profissional dever-se-ia, também, e com mais
  • 3. 294 razão, atender à formação da sensibilidade do indivíduo e não, apenas, como acontece, enfatizar unicamente sua dimensão racional. Desse modo, nossa sociedade, não favorecendo e nem valorizando devidamente as artes e a cultura, relega-as ao cultivo de poucos, que se vêem isolados e destacados do corpo social, o qual não possui, de modo geral, as condições necessárias para usufruir da produção artística e nem para entendê-la e acompanhá-la em seu desenvolvimento e aprofundamento constantes e ininterruptos, mercê da experimentação, da prática e da criatividade dos artistas. O vácuo deixado por essas deficiência e lacuna é preenchido e ocupado, nas horas de lazer, pela produção massificada destilada pela indústria do entretenimento fácil e inconsequente, que se utiliza dos diversos meios de comunicação de massa, o rádio, a TV, a publicação de livros do bolso e best-sellers anódinos e inócuos. Contudo, essa característica não é apenas local, mas ocorrente em todo o país, cada vez mais massificado e conformado pelo uso inadequado das potencialidades extraordinárias da comunicação eletrônica. dos anos 60? No fundamental, o panorama atual não é muito diverso daquele existente na década de 1960. No que tange à sociedade de modo geral, dois fatores contribuíram para torná-lo, agora, mais insatisfatório em vários aspectos: o longo período de repressão generalizada vivido pelo país e acentuado a partir de dezembro de 1968 e o crescimento do consumo e da influência da produção massificada de baixa categoria
  • 4. 295 da TV, do rádio e do cinema. O mal não é o aumento, em si, do consumo e da influência das produções desses meios de comunicação. É seu baixo nível, sua superficialidade, o destorcido enfoque da problemática humana. Naquela década, Uberaba contava, pelo menos, com movimentos teatral, cineclubista e literário coesos e atuantes, que, posteriormente, tiveram esvaídas suas possibilidades, restando, nos dias atuais, nessas áreas, apenas o esforço individual isolado. Todavia, em compensação, em dois outros campos a década de 1970 superou consideravelmente a anterior: no movimento editorial de livros históricos regionais e publicação da revista Convergência pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro, iniciados justamente em 1970, e, na área da ciência do Direito, na edição periódica de livros jurídicos e da Revista Brasileira de Direito Processual, publicações que transcendem o terreno meramente técnico, constituindo obras de investigação e contribuição científica. manifestações culturais? Não em termos gerais, mas no caso específico de Uberaba. O crescimento da cidade enriqueceu-a culturalmente? Todo crescimento material da sociedade traz, por força, algum progresso cultural, nem que seja parcial, em determinada área. Pode, também, prejudicar outras áreas. No primeiro caso, a evolução da cidade ensejou, por exemplo, o aumento do número de escolas secundárias e superiores, o que redunda em paulatina e ainda morosa criação de ambiente verdadeiramente universitário na cidade. No
  • 5. 296 segundo caso, o progresso sem orientação e planejamento redunda em prejuízo cultural quando afasta o ser humano cada vez mais da natureza e destrói monumentos arquitetônicos e ambientes culturais. s. Como os classificaria? O lançamento de muitos livros não traduz, por si só, desenvolvimento e enriquecimento cultural. A arte não é prática gratuita e, como a cultura de modo geral, não se adquire ou existe pela simples vontade ou intenção em realizá-la. É necessário, sempre, que escritores, pintores, dramaturgos, compositores, ou seja, todos aqueles que tenham a pretensão de produzir obras de arte, dominem os meios específicos de expressão e tenham plena consciência das possibilidades e virtualidades desses meios expressionais, a fim de não se limitarem a meros repetidores de fórmulas e formas. A arte pressupõe, sempre, busca, pesquisa, experimentação e, principalmente, criatividade. O artista, a par de sensibilidade e aptidão próprias, necessita conhecer o melhor que se produziu antes dele, porém, não para repetir ou imitar o que não tem valor e nem é necessário mas para ampliar, expondo sua própria visão do mundo em formas expressionais renovadas, renovadoras e atualizadas. Muitos dos livros que se publicam aqui, como em toda parte, não correspondem a essas exigências. -se de apoio cultural, de suplementos, ou, mais importante, de uma Fundação Cultural?
  • 6. 297 Uberaba necessita de suplementos e de uma Fundação Cultural, sem dúvida. Contudo, somente isso não é suficiente. É necessário, que uns e outra, tenham apoio, meios de sobrevivência, sejam dirigidos pelas pessoas certas e tenham liberdade de atuação. A arte, a cultura e a ciência só se desenvolvem onde existem essas condições. Não se pode ter as pessoas erradas nos lugares certos. Não podem instituições desse tipo depender de meios aleatórios de sobrevivência. E verdadeiramente só produzam efeitos e geram benefícios no decurso de período mais ou menos longo de atuação constante, embora um suplemento, por exemplo, de pronto já permita publicação e divulgação da criação literária que jaz engavetada. m o poeta e o escritor daqui? Algumas revistas, a exemplo da já citada Convergência, que por falta de meios e de disponibilidade de tempo de seus editores somente pode ser publicada anualmente, o que é insuficiente para vazão e divulgação do que se escreve, que exige e necessita do incentivo e da possibilidade de publicação permanente. Em potencial, mas infensos à divulgação de produção cultural e artística, têm-se jornais, rádios e TV, todos meios legítimos e não utilizados de divulgação de obras literárias e artísticas de modo geral. veio cultural que ative a criatividade das novas gerações?
  • 7. 298 No momento não se nota nenhuma. Em decorrência das causas já apontadas e, também, de diversos outros fatores, há indiferença generalizada em relação às atividades culturais e artísticas. São poucos os que verdadeiramente lêem, tanto entre estudantes, professores e o povo de modo geral. Os que lêem habitualmente livros de valor. Qualquer desses dois requisitos isoladamente não satisfaz, sendo a carência do segundo até mesmo nociva. A esporádica e eventual leitura de bons livros é insuficiente. A habitual leitura de obras meramente digestivas e de baixo ou de nenhum nível cultural é deletéria pela persistente deformação do gosto e embotamento da inteligência, capacidade de discernimento e autonomia de pensamento. O mesmo fenômeno ocorre com as demais manifestações artísticas. A assistência a maus filmes, visão de péssima pintura e audição de música comercial são, no mínimo, inócuas. E são poucos, em proporção ao total da população, aqueles que procuram assistir bons filmes, ouvir boa música (popular e/ou erudita) e comparecem a exposições de quadros. Só ultimamente, há uns dois meses, criou-se sob o patrocínio do Centro Acadêmico da Faculdade Federal de Medicina, a sessão cinematográfica de arte, que, a persistir e se ampliada ou acompanhada de cursos, debates e conferências, poderá, sem dúvida, abrir perspectivas novas. as obras de vanguarda, com atitudes culturais, ou provincianamente como São Paulo diante dia Semana de 22?
  • 8. 299 Até hoje existem pessoas que não aceitam e não aceitam porque não compreendem a Semana de 1922. A maioria das pessoas, daqui e de alhures, não aceita as obras autênticas de vanguarda. É mais fácil, às vezes, um elemento do povo apreciar obra moderna (poema ou quadro, por exemplo) do que um letrado. Este costuma aferrar-se, num conservadorismo estiolador, aos princípios, ideias e obras lidas ou conhecidas na juventude. Até hoje há quem julgue ou considere Castro Alves (ou qualquer outro poeta do século passado) o melhor poeta brasileiro. Conservam essas pessoas a formação que tiveram em seu tempo, julgando-a única e eterna, numa atitude imobilista, comodista e carente da mínima curiosidade intelectual. Até hoje o Modernismo não é aceito porque não refletido e compreendido pelos eternos provincianos de todos os matizes e de todos os quadrantes, visto que, como afirmou alguém, possivelmente Lima Barreto, provincianismo não é lugar geográfico, mas estado de espírito. Se o Modernismo, cujos primeiros princípios já foram devidamente assimilados, aplicados, aprofundados e superados em grande parte, ainda não é aceito e compreendido, aqui e alhures, pela maioria das pessoas, incluída a maior parte daqueles que, por função e profissão, têm a responsabilidade de formação da infância e juventude, imaginem-se os desdobramentos e aprofundamentos que se deram e estão se dando no pensamento, na cultura e nas artes brasileiras nesse último meio século! Já estamos no Século XXI e há pessoas intelectualmente ancoradas no Século XIX! Essa colocação não implica absolutamente menosprezo por aquele século ou pelos tempos antigos. Porém, apreciar Machado de
  • 9. 300 Assis ou Eça de Queirós, por exemplo, não determina desconhecer ou desgostar de Guimarães Rosa, Mário de Andrade e outros. A questão é que, em arte, o passado, como afirmava o mesmo Mário de Andrade, é para ser conhecido, estudado, meditado e nunca para ser imitado e copiado. anos atrás? A cidade é, hoje, menos poética do que há vinte anos atrás, por força de desenvolvimento e progresso não planejados, onde a qualidade da vida, em sua totalidade, fosse protegida. Medidas, empíricas e unilaterais tomadas em decorrência da pressão do progresso e do crescimento populacional atendem ou resolvem, apenas e às vezes nem isso, os problemas imediatos que as ensejaram. Nesse vórtice, os grandes e profundos valores da natureza e da vivência humana não são considerados devidamente. O aspecto poético é o primeiro a não sê-lo. juventude às produções culturais e como vê a nossa juventude, culturalmente falando? A juventude uberabense, como de resto a juventude brasileira atual, notadamente a do interior, está, realmente, mal preparada culturalmente, em consequência das causas já apontadas e de diversos outros fatores que também contribuem para esse fato e cuja abordagem escapa aos estreitos limites de uma entrevista. A verdade é
  • 10. 301 que a juventude (e também os mais velhos) não lê e não estuda o tanto necessário e imprescindível. Isso é efeito das causas e fatores mencionados, porém, torna-se, também e simultaneamente, fator de manutenção do statu quo, visto que essa juventude despreparada culturalmente não terá também, à semelhança das gerações que a antecederam e quando a substituir nas posições que ocupam, condições de contribuir para elevação do nível cultural geral da sociedade e das gerações que se lhe seguirem. O problema do acesso da juventude às produções culturais é ambivalente. Apresenta duas facetas. Uma, é que a maioria da juventude, não se interessando por essas produções, não pressiona a demanda. A outra, é que não havendo essa pressão, sociedade estruturada e fundamentada no lucro não procurará e nem terá motivos para colocar ao alcance da juventude e do povo (não se pode esquecê- lo) as produções culturais. No interior, então, não se encontra nada. Onde os filmes, os discos, as exposições, os livros fundamentais, antigos e atuais, as companhias teatrais? E no Brasil, nesse sentido, quando se diz interior se diz fora e além do centro e de alguns bairros do Rio de Janeiro e de S. Paulo. cultura? Os órgãos de divulgação têm fins lucrativos e, por isso, não têm contribuído para disseminar as artes e aumentar o nível cultural da sociedade. Alguns, principalmente TV e rádio, mercê de sua omissão
  • 11. 302 e programação de baixo ou de ausente nível humano, social e cultural, contribuem é para manter o estado de coisas. funcionam como órgãos de criatividade cultural? Não consta. Normalmente, com algumas exceções, que duram às vezes o tempo de uma administração, um ou outro órgão oficial, no Brasil, nos últimos tempos, funciona não como órgão de criatividade cultural, mas, pelo menos de incentivo e de promoções culturais. Para esses órgãos funcionarem plenamente, há necessidade de meios adequados, de pessoas especializadas e, fundamentalmente, de liberdade e segurança para o indivíduo. A liberdade e a segurança individuais são, para a sociedade, o ar de seus pulmões e o sangue de suas veias. (Jornal da Manhã, Uberaba, 02 dezembro 1979, entrevista concedida ao poeta e jornalista Jorge Alberto Nabut)
  • 12. 303 Anos 80 NÃO PUNIR CULPADOS: CONIVÊNCIA E CUMPLICIDADE Para Guido Bilharinho, o fracasso quanto ao cumprimento das promessas de grande virada não é do PMDB, mas de sublegenda que logrou ser eleita e, por sinal, composta, em sua maior parte, de p Partido Popular. Veja o seu posicionamento diante das indagações do Jornal da Manhã: -presidente do diretório municipal do PMDB, José Raimundo Jardim, o Partido não conseguiu colocar na prática a colocação? Por quê? Concordo plenamente. Ressalvo, contudo, que não foi o PMDB, como um todo, que não conseguiu esse objetivo. Quem não o conseguiu foi a sublegenda que logrou ser eleita. O PMDB (e sempre se tem dito e repetido isso) não constitui, a rigor, um partido. É uma frente política, que congrega várias tendências, unidas apenas pelo comum desejo de democratização. No caso, várias podem ter sido as causas de não se ter colocado em prática até agora a proposta da , entre as quais, principalmente, absoluta falta de vontade, desorientação ou total incompetência.
  • 13. 304 em Uberaba? Nada estou vendo nesse sentido. poder, a nível local, na sua opinião? Não foi o PMDB que ascendeu ao poder no município. Foi somente uma de suas três sublegendas e uma entre suas diversas tendências. Por sinal, composta, em sua maior parte, de pessoas oriundas do antigo PP, partido que por força dos imorais casuísmos eleitorais do Governo Federal (que deu e tem dado vários outros maus exemplos ao país) foi obrigado a se dissolver e se fundir com o PMDB, dominando-o em Minas Gerais, onde seu contingente era muito superior ao deste último. É preciso que se diga que o PMDB, como tal, não tem a menor participação nos destinos do município. Como organização partidária, não é ouvido. Seu diretório municipal nem mesmo é convocado para se reunir. Os candidatos que lograram ser eleitos por sua legenda gravitam, em sua maioria, em torno dos centros de poder, olvidando o partido. Quanto às indagadas mudanças, até o momento, para a cidade, não houve nenhuma com a ascensão ao poder da sublegenda que logrou ser eleita. Pelo menos que se dê para notar, já que uma ou outra obra as demais administrações realizaram. E isso também não constitui mudança, porém, mera rotina e obrigação administrativa.
  • 14. 305 me de Uberaba vem, cada vez mais, se arrastando na lama devido aos sucessivos escândalos envolvendo a administração municipal. Como membro do PMDB, o senhor vê alguma solução para esta situação? Para cada tipo das variadas anomalias citadas, há uma solução adequada. Para esses inomináveis e terrivelmente frequentes escândalos: a apuração honesta e criteriosa dos fatos, a ampla divulgação dos resultados das investigações e, finalmente, a rigorosa punição dos culpados. Nada menos que isso. O contrário, significa conivência e mesmo cumplicidade, verdadeira traição ao povo. Para as demais anomalias, que não são de agora, vêm de longe: uma verdadeira renovação de nossas lideranças político-administrativas, com escolha e eleição de candidatos à altura dos graves problemas que afligem o município e, no que toca especificamente aos deputados estaduais e federais, à altura dos gravíssimos problemas que angustiam o Estado e o país. E lhes são bastante (a esses candidatos ideais) duas características: honestidade e competência. A primeira constitui obrigação. A segunda é qualidade, porém, que se adquire e se aprimora continuamente. -presidente do diretório municipal, está desunido. A curto prazo, como seria possível unir novamente o partido?
  • 15. 306 O conceito de união e até certo ponto, relativo e sujeito a diferentes graus de intensidade. Dentro de partido político, deve necessariamente representar a adesão e concordância com programa e ideias definidas, não ocorrendo o mesmo em relação às fundamentais questões de tática e estratégia políticas, onde são comuns e normais as divergências, que devem, entretanto, submeterem-se às decisões da maioria, desde que obtidas democraticamente. No caso de verdadeira frente política como o PMDB (mormente após a incorporação do PP), a união entre seus membros é muito mais tênue e esgarçada, cingindo- se, globalmente, a apenas posicionamento democrático e a algumas questões econômicas básicas. Sobre o mais, florescem as tendências. E existem (como na maioria absoluta das organizações políticas) aqueles que possuem, como postura, posição e programa políticos, somente seus próprios interesses. São os eternos oportunistas e carreiristas. Por isso, não é possível completa união. E com esse último tipo de político não interessa mesmo qualquer união. Ao contrário. Detectados, devem ser combatidos, obrigando-os, se possível, a procurar legendas condizentes com sua falta de princípios. Política não é e nem deve ser a arte de engolir sapos, mas, de expelí- los e combatê-los. eleições futuras? Se o PMDB conseguir apresentar, pelo menos através de uma de suas sublegendas, chapa homogênea, composta por candidatos capazes, verdadeiramente idealistas e que tenham bom diálogo com o
  • 16. 307 povo, respaldada exclusivamente por recursos próprios ou oriundos de pequenas colaborações espontâneas descompromissadas, apoiada por adequada organização eleitoral e atuando por meio de campanha eleitoral inteligente, bem dirigida e coordenada, é quase certo obter essa sublegenda triunfo eleitoral. predominou a política do revanchismo. Durante a campanha eleitoral, em 1982, o PMDB pregou, em praça pública, o fim do revanchismo e a união de todos em prol do desenvolvimento de Uberaba. Por que o PMDB não viabilizou esta promessa? O senhor acredita que ainda seja possível consertar este erro, uma vez que o PMDB já provou estar jogando com as mesmas cartas marcadas da extinta Arena? (trocando professores, delegados, chefes de empresas estaduais etc?) Não é o PMDB que não viabilizou a promessa referida. Mas, apenas os candidatos eleitos pela legenda, os quais, justamente por terem alcançado o poder, têm não só condições como a obrigação de cumprir o prometido. Essa não é e nunca foi a posição oficial e a prática político-administrativa do PMDB. Pelo contrário. A correção desse erro é perfeitamente possível, desde que haja da parte dos detentores do poder vontade e determinação política nesse sentido, complementadas por prática administrativa condizente. número de uberabenses participando da administração direta ou indiretamente. Mesmo assim, de concreto, o município ainda não recebeu nada.
  • 17. 308 Falou-se ao em implantar-se aqui frigoríficos da FRIMISA, silos da CASEMG etc. Na sua opinião, o que está acontecendo com os uberabenses no governo mineiro? Alguns talvez ainda não tenham tido tempo suficiente para conseguir e implementar essas e diversas outras aspirações. Todavia, é facilmente constatável que têm faltado aos políticos uberabenses agressividade, dinamismo e habilidade (em alguns, até mesmo simples vontade) na defesa dos interesses e direitos não só da cidade como de toda a região. Muitos se preocupam mais (ou unicamente) com seus interesses e com suas carreiras políticas, desprezando aqueles que (em confiança) lhes deram os votos necessários e indispensáveis à eleição ou os indicaram à nomeação. reestruturar-se com mais urgência? De fora, a impressão que se tem é que necessita reestruturar-se em praticamente todas as áreas. Em algumas, mais completa e urgentemente que em outras. Porém, não ao ponto de se eliminar órgãos e secretarias, mudar-se-lhes a natureza jurídica ou simplesmente se transferí-los para congêneres estaduais, como alguns pretendem. Isso não seria solução, mas, fuga dos problemas, atestado de incapacidade administrativa. dos arara e pachola, com a administração Wagner do Nascimento.
  • 18. 309 Outros acusam a administração atual de agir arbitrariamente, sem respaldo popular, levando a cidade ao verdadeiro caos. Que atitude o PMDB Uberaba pode tomar para evitar o agravamento desta situação? O PMDB tem condições morais para exigir uma mudança no Governo Wagner do Nascimento, uma vez que o próximo presidente do diretório municipal do partido sequer reside em Uberaba nem renuncia ao cargo que ocupa? O PMDB, como qualquer outro partido, não tem, legalmente, poder de orientar ou interferir nas administrações e representações parlamentares dos candidatos eleitos por sua legenda. Não obstante, poderia e deveria, pelo menos, reunir seu diretório municipal, examinar e debater os problemas, exigir soluções e mudanças de rumos, prestando, desse modo, eficaz colaboração à comunidade e aos poderes públicos. Contudo, na atual conjuntura, até isso parece também impraticável. É que, pelo menos no Brasil, os partidos políticos existem, para a maioria absoluta de seus membros permanentes ou ocasionais, apenas como o necessário instrumento legal para galgar o poder. Nada mais. Depois disso, eleitos e derrotados esquecem e congelam suas agremiações até a próxima véspera eleitoral. Tudo é feito, pois, exatamente ao contrário do que deveria. Lamentavelmente. (Jornal da Manhã, Uberaba, 18 agosto 1984, )
  • 19. 310 AINDA OS VELHOS PROBLEMAS cabeça pensante em Uberaba no terreno das artes e da cultura, esta cabeça é a de Guido Bilharinho. Para tratar do assunto, palpitante e sempre atual, Vox o procurou na semana passada. Aqui, a entrevista: VOX - O que existe para se falar hoje, em termos de cultura? O problema de cultura em Uberaba, como na maioria das cidades de porte médio do interior brasileiro, é um problema muito difícil. Para começar, os governos estaduais só fazem investimentos culturais nas capitais. Nós temos, por exemplo, em Belo Horizonte, o Palácio das Artes, que hoje é o maior centro cultural do Estado praticamente em todos os sentidos, tantas são as promoções culturais que eles apresentam semanalmente nesse centro, tanto de exposição como em cinema, teatro, música e etc... Mas esse governo estadual, para as cidades de interior, pequenas, médias e grandes, não destina praticamente nada, ou mesmo nada. Então as cidades do interior ficam entregues à sua própria sorte e apenas às suas rendas, que nem sempre são grandes. Em Uberaba nós temos a Fundação Cultural da Prefeitura Municipal que realmente não dispõe de verba suficiente para fazer promoções culturais, ou as promoções culturais necessárias. Existem outras cidades do tamanho de Uberaba, que já possuem a sua Secretaria de Cultura, o que não acontece aqui. Aqui nós temos a Secretaria Municipal de Educação e Cultura, sendo que educação e cultura não tem nada a ver uma coisa com a
  • 20. 311 outra, embora sempre se tenha pensado o contrário. Um especialista em educação e ensino é um especialista em educação e ensino E não se pode entregar a administração da cultura, a promoção cultural, para quem não é do ramo. E normalmente a Secretaria de Educação sempre é ocupada por um especialista em educação e também não poderia ser de outro modo, porque a educação e o ensino absorvem quase que inteiramente os trabalhos, atividades e verbas dessa secretaria. VOX - O Senhor colocou um descuido do governo do Estado para com a cultura nas cidades interioranas. Esta mesma displicência acontece no governo municipal, que faz atuar uma mesma secretaria para educação e cultura? Penso exatamente isso. Nós temos a Fundação Cultural de Uberaba de uns anos para cá, já grande avanço. E Uberaba tem quase duzentos anos, não como cidade autônoma, mas de fundação, que ela foi fundada no começo do século passado e só agora nós temos Fundação Cultural, órgão municipal destinado exclusivamente à cultura. Mas já é avanço, nós temos de reconhecer que é avanço. Mas esse órgão não possui nem autonomia administrativa nem os recursos necessários às promoções culturais em Uberaba. E há ainda uma coisa muito mais séria: não basta só órgão autônomo e não basta só recurso Há que se ter também orientação adequada e correta sobre porque, como e quais eventos culturais devam ser promovidos e como fazê-lo. Mas isso é problema muito mais sério, muito mais complexo.
  • 21. 312 VOX - Uberaba contaria, hoje, com número suficiente de pessoas para esse tipo de trabalho de orientação? Contaria, desde que tudo fosse resolvido em grupo, um grupo de intelectuais que democraticamente pudesse dirigir essa promoção cultural. E nunca uma só pessoa, porque a cultura é tão complexa, como, aliás, a política, a administração pública em todos os níveis, que não pode ficar apenas dependendo da vontade, das limitações ou possibilidades de uma só pessoa. Há de se redemocratizar o país de cima a baixo e que as coisas sejam discutidas e sejam tomadas as deliberações pelo voto da maioria das pessoas que têm condições, de uma maneira ou de outra, de votar e de participar. VOX - Mesmo assim, Uberaba ainda é hoje considerada, por vários uberabenses, como um bom centro cultural. Como se explica isso? É para você ver como é que estão os outros centros. Realmente não existe cultura aqui e nem nos outros centros. Não há dúvidas de que Uberaba tem tradição cultural muito grande, que vem do século XIX, mas de pessoas e de pesquisadores, que por sua própria vontade, e às suas custas, fizeram essa pesquisa, como Borges Sampaio, Hildebrando Pontes, José Mendonça, Gabriel Toti, que atuaram na historiografia regional. Mas de movimentos coletivos e de iniciativa do poder público nós sempre tivemos muito pouco e, às vezes, provisoriamente, como tivemos no começo do século XX o grêmio Bernardo Guimarães, que doou sua biblioteca para a Câmara Municipal, que desde o começo do século foi desaparecendo, até
  • 22. 313 Uberaba chegar a ponto de, alguns anos atrás, nem biblioteca ter. Hoje tem e é biblioteca que precisa fazer promoções, mas o pessoal aqui de Uberaba está muito parado, tendo apenas biblioteca com livros na prateleira, mas, onde só alunos vão para fazer pesquisas para matérias escolares. Mas biblioteca não é órgão passivo, parado. Há que promover, há que adquirir livros, há que fazer promoções de toda espécie. Cultura não é coisa estática. E quanto a Uberaba ser grande centro cultural isso precisa ser repensado e discutido, porque tem até causado espécie que se façam algumas promoções em Uberaba. A fama de Uberaba lá fora não é em nada ligada à cultura, ela é ligada ao ensino, porque nós temos escolas superiores desde a década de 1940, mas cultura é outra coisa. Do ponto de vista cultural, Uberaba não tem fama nenhuma, não tem projeção nenhuma lá fora. Até pelo contrário. E nós poderíamos até citar exemplos... VOX - Exemplos? Nós editamos revista de poesias e tem causado espécie que seja, essa revista, editada aqui em Uberaba. Quer dizer, lá fora se admira que em Uberaba se possa editar revista de poesias. Isso significa que a fama de Uberaba não é bem assim. Em São Paulo, principalmente, se estranha que em Uberaba se lance revista de poesias. Acham que não havia essa possibilidade aqui. VOX - Existem novidades, ou pelo menos perspectivas com relação a eventos ligados à cultura?
  • 23. 314 A Fundação Cultural está fazendo, iniciando serviço que Uberaba já deveria ter desde o século XIX, que é o Arquivo Público Municipal. Nós não temos nada. Nunca, nem poder público e nem ser aqueles que já citei como historiadores que se se preocuparam em conservar a memória regional, porque não se dá valor a isso. As pessoas normalmente não têm condições de avaliar a importância e o significado que tem a memória de uma cidade e de uma região. Vivem o presente e mal. Quem não tem conhecimento do passado não pode viver o presente bem e nem ter perspectiva do futuro. O pessoal não tem. Por isso, nosso patrimônio arquitetônico, por exemplo, está sendo destruído. E isso. seria, inclusive, até do ponto de vista pragmático, uma das grandes fontes de renda de Uberaba nos próximos séculos, já que quanto mais tempo passar, mais essa renda seria maior se fosse conservado o patrimônio arquitetônico da cidade no centro de Uberaba. Mas já destruíram a praça Rui Barbosa. Então isso agora é impossível. E essa destruição merece até aplausos e é elogiada pelas pessoas, que ficam torcendo para que se derrubem os velhos prédios do centro da cidade para que se construam, em seus espaços, esses arranha-céus incaracterísticos e sem personalidade, como os que estão construindo por aí. O pessoal realmente vive o dia a dia apenas. VOX - O senhor falava de memória. Começa a se fazer um trabalho de levantamento da memória histórica de Uberaba. Não acontecerá de fatos se perderem no esquecimento?
  • 24. 315 Muito já se perdeu. Da mesma forma como se está perdendo o patrimônio arquitetônico, já se perdeu muito da nossa memória histórica em todos os sentidos, inclusive, até o da memória cultural. As fotografias antigas de Uberaba, e mesmo quadros e pinturas, que as próprias famílias daquelas pessoas que se dedicavam a colecionar, não são guardadas. Joga-se fora e não se valoriza. Então, só para ficarmos no aspecto da memória fotográfica, o que já perdemos dela em Uberaba é a maior parte. O que sobrou, ou o que tem sobrado, é mínimo. (Vox, Uberaba, 07 julho 1985, entrevista concedida ao jornalista e editor do jornal, Tarsis Bastos)
  • 25. 316 O QUE RESTOU DE NOSSA CULTURA? Nesta edição o advogado, poeta e pesquisador Guido Bilharinho vai fundo na questão. Além do colonião, braquiária e algumas outras espécies de capim, o que está nos restando de cultura? O arrefecimento de diversos setores uberabenses na atividade cultural está fazendo com Uberaba parece ter também se imobilizado na atividade menos onerosa deste mundo: o pensar. E como ficamos? Veja no primeiro caderno. O SONHO ACABOU, O SONO NÃO Dormindo há décadas, o sono pouco esplêndido do comodismo e sofrendo as injunções de não ter sido beneficiada na medida exata de seus anseios e importância geográfica pela expansão industrial na região, Uberaba vive hoje apenas a lembrança de ter sido um dia, longínquo, a luz irradiadora de cultura cujos raios avassaladores transpunham e antigo Brasil Central. O arrefecimento e empalidecer dessa luz pode ser entendido sob o prisma do desenvolvimento. É inegável que a vida social e cultural de uma cidade são resultado direto da intensidade de seu próprio desenvolvimento econômico. Nesse caso, constata-se então que Uberaba estagnou-se economicamente durante algumas décadas deste século, perdendo, portanto, aquele formidável empuxo que adquirira e desenvolvera no anterior, justamente em consequência de sua posição geográfica privilegiada e pelo dinamismo de sua gente.
  • 26. 317 Para o advogado, poeta e pesquisador Guido Bilharinho, uma cidade, como Uberaba, quando decai de uma posição pioneira, de vanguarda, tende fatalmente a mergulhar num estado letárgico, de a de iniciativa crônica. E o pior de tudo é que as iniciativas que surgiram nesses últimos anos nasceram infortunadamente com os vícios e limitações do localismo, onde se evidenciou a perda daquele espírito dinâmico de se fazer as coisas . Para Guido, que edita Dimensão, uma revista de poesia que tem tido repercussão notável a nível nacional e mesmo internacional, Uberaba recolheu-se muito do ponto de vista econômico, social e cultural. E para sair-se desse estado letárgico é preciso, seg mais arrojo e menos comodismo; de mais trabalho e menos preguiça Ele observa em tom cáustico que as pessoas estão se contentando com pouco em todas as suas atividades, tornando-se cada vez menos exigentes com os padrões que lhes são ofertados. Ele adverte quanto à necessidade de reciclagem urgente. Reciclagem que ainda, segundo ele, deveria ter ocorrido com a eclosão do Modernismo, entre as décadas de 1920 e 1930. acordo com padrões do século passado: isso se aplica à literatura, filosofia e nas artes em geral. O novo e as inquietudes que trouxe em seu bojo não contagiaram nossos intelectuais. Eles não acompanharam a evolução das artes no país. A sua literatura, por exemplo, restou confinada nos limites do provincianismo estreito, assim como a sua música, a sua arte plástica. E só de pouco tempo para cá é que nós
  • 27. 318 Essa reação, ainda que tímida, confirma Guido, deve-se à implantação de focos industriais É incontestável que Uberaba, desperte ou não do sono letárgico em do Brasil Central. Pela sua posição geográfica de entreposto comercial, com a desativação do Desemboque, devido o esgotamento das minas auríferas do rio das Velhas, Uberaba passou a se configurar na ponta de lança para o sertão bruto de Goiás e da própria Amazônia, conseguindo capitalizar e centralizar aqui o que havia de mais avançado numa região tão distante da orla marítima do continente. Relata Guido Bilharinho que para aqui, desde a década de 1820, do século passado, começaram a afluir os intelectuais, sendo que o primeiro deles foi o famoso vigário Silva, que dá nome a uma das ruas principais da cidade. Foi ele o primeiro historiador da região. E diversos outros intelectuais, atraídos pelo dinamismo da cidade, que fervilhava em consequência de sua atividade comercial febril, passaram a aqui centralizar suas atividades, incluindo-se inúmeros estrangeiros, como Henrique des Genettes (francês), Borges Sampaio (português), frei Eugênio (italiano) e posteriormente, já quase no fim do século, um verdadeiro gênio universal, o sábio alemão Draenert que descobriu a existência da bactéria no reino vegetal e dirigiu em Uberaba o primeiro estabelecimento de ensino superior ainda no século passado, quando a cidade nem sequer possuía calçamento de ruas, água encanada ou eletricidade. Guido Bilharinho relembra também que a Imprensa do Triângulo Mineiro foi fundada em Uberaba, em 1874, por des Genettes, escritor francês, que lançou o Paranaíba que teve posteriormente o título trocado
  • 28. 319 para Eco do Sertão. Já nos fins da década de 1880, ainda no século passado, instalou-se em Uberaba a Escola Normal, que existe até os dias de hoje, após ter passado por inúmeras modificações, inclusive de nome, e esteve algum tempo desativada. Para aqui também vieram os dominicanos, que fundaram em Uberaba a sua primeira casa no Brasil, justamente em razão da importância da cidade no contexto regional. Foram inúmeras as manifestações culturais na época: além e após a fundação do Paranaíba proliferaram jornais diários e órgãos de toda espécie. tores de vários gêneros, principalmente na contista mineiro ou o primeiro ou segundo livro de contos do Estado tenha sido editado em Uberaba sob autoria de Crispiniano Tavares. Também já nos fins do século passado Uberaba possuía editora, a Século XX, responsável pela edição do famoso Almanaque Uberabense, que foi publicado durante 10 anos e teve circulação nacional. Também aqui foi lançada, em 1904, a Revista de Uberaba, publicação nitidamente literária e cultural. Os livros foram também aparecendo e os historiadores surgindo. Segundo Guido Bilharinho, o principal deles foi o português Borges Sampaio e quem mais terá contribuído para a divulgação de Uberaba e da região em todos os tempos. deu início à intensa correspondência para os jornais do Rio de Janeiro e Niterói. E a partir do começo da década de 1860 até 1908 enviou metodicamente seus artigos para o Jornal do Comércio, do Rio, que era o maior jornal brasileiro da época. O trabalho de Borges Sampaio refletiu durante nada menos do que 60 anos a vida social, intelectual, política e econômica de Uberaba e da região. Algumas de suas matérias
  • 29. 320 foram manchetes de primeira página do Jornal do Comércio, notadamente aquelas que enviou durante a passagem da coluna militar que foi invadir o Paraguai pelo norte e que ficou célebre no episódio da Retirada da Laguna, relatado no famoso livro homônimo do Visconde de Taunay, que esteve em Uberaba por aproximadamente dois meses. O OCASO A partir do começo deste século, a multiplicação de focos de civilização e principalmente com a fundação de Goiânia e a penetração da Mojiana, que chegou a Uberaba em 1889 e posteriormente lançou seus trilhos sertão adentro, a posição única de Uberaba foi sendo aos poucos erodida e multiplicada por outros focos de civilização. Guido Bilharinho explica que o progresso do país, a dinâmica das relações econômicas e sociais não permitiam, evidentemente, que Uberaba continuasse restando como ponto privilegiado e único: cultural de Uberaba na região, no Brasil Central com relação a Goiás, já não existe mais. Hoje Uberaba mantém posição como as demais cidades irão Preto, São José do Rio Preto, Uberlândia, Anápolis, Goiânia, etc. Tem a sua influência cultural, o seu grau irradiador de cultura e civilização numa determinada sub-região. Todavia, se, soubermos superar os entraves da rotina e da preguiça, ela poderá voltar a desempenhar papel de centro irradiador com maior abrangência. Não que volte a ocupar aquela posição hegemônica que tinha no passado, com vasta área de influência. Mas é importante não nos esquecermos que como Uberaba teve posição de hegemonia cultural, de pioneirismo
  • 30. 321 cultural durante décadas, quase século, isso repercute ainda e não deixa de lhe dar substância, um substrato que a distingue de todas as outras cidade da região. Evidentemente, que qualquer centro novo, por mais dinâmico, comercial, social e industrialmente for, não conseguirá superar aquela substância cultural que Uberaba tem na região, porque isso só se Bilharinho conclui enfatizando que Uberaba mantém ainda estrutura cultural melhor do que qualquer outra cidade do Brasil Central, incluindo-se aí até Brasília. mais antigo nesse aspecto, onde a cultura foi se estratificando. A não ser que Uberaba abdique desse potencial que já foi plenamente utilizado e está hoje um tanto adormecido. Uberaba tem então de se compenetrar da s (Cidade Hoje, nº 01, Uberaba, 31 maio 1988, depoimento concedido ao jornalista Mário Chimanovitch )
  • 31. 322 Anos 90 NOMES DE CONSENSO PARA AS ELEIÇÕES O advogado trabalhista Guido Bilharinho entende que deve ser estudada a proposta de Uberaba lançar número e nomes consensuais de candidatos a deputados para as eleições de outubro, sob pena de se prejudicar se não o fizer, embora ache isso difícil. Membro da executiva estadual do PDT, ele não descartou ontem a possibilidade de se candidatar. Já o presidente do Diretório Municipal do partido, José Raimundo Jardim Alves Pinto, diz que é muito cedo para se falar em eleições 90. Guido Bilharinho disse que as definições no quadro sucessório deste ano vão depender das alianças a serem formadas visando o Governo do Estado. Para o PDT se abrem várias possibilidades de uma coligação ampla, nesse momento , analisa Guido, mas esse quadro pode se reverter completamente depois das alianças para o Governo do Estado . Qualquer candidatura, hoje em dia, é um grande sacrifício, na opinião de Guido, quando se fala em partidos menores, sobretudo no O sistema eleitoral é completamente viciado e antidemocrático, só dá chance à manipulação de grupos econômicos critica. Sobre a especulação envolvendo seu nome como candidato a deputado federal, o advogado diz estar estudando a proposta, colocando-se disposto a trabalhar pela cidade. Acho meio difícil o
  • 32. 323 lançamento de um único grupo de candidatos, como fruto de uma negociação entre os partidos, mas é uma ideia que precisa ser estudada, valerá a tentativa Segundo Guido, além desse aspecto, existe outro com o qual a cidade deve se preocupar, que é o aumento do colégio eleitoral. José Raimundo, por sua vez, diz que o diretório vem fazendo reuniões periódicas, onde o assunto, sem dúvida, é discutido. Mas é muito cedo ainda para definições , acrescenta o presidente do PDT, que, como Guido Bilharinho, acha serem decisórias as composições para o Governo do Estado. As especulações, confirma José Raimundo, vão indicando, no PDT, as eventuais candidaturas do radialista João Batista Rodrigues e do ex-vereador Aluísio Inácio de Oliveira, além de Guido Bilharinho. (Jornal da Manhã, Uberaba, 21 janeiro 1990,
  • 33. 324 Anos 2000 DETERMINISMO ANGUSTIANTE Para o advogado Guido Luís Mendonça Bilharinho, um dos expoentes da cultura local e regional, a sociedade uberabense tem um débito com a sua tradição histórica. Uberaba foi no passado a ponta de lança para o sertão bruto e o polo irradiador de desenvolvimento e cultura para todo o Brasil Central. Segundo Guido Bilharinho, Uberaba até o final do século XIX e início do século XX foi a grande referência no processo de interiorização do desenvolvimento do país. Para Uberaba convergiam os mais ilustres profissionais da época, incluindo grandes intelectuais, políticos, cientistas, pesquisadores, médicos, professores, jornalistas, advogados e demais representantes da elite pensante do país e do exterior. Este fato, por si só, mereceria reflexão detalhada por parte da sociedade e da elite política, econômica e cultural uberabense, no sentido de se reverter o determinismo angustiante, introjetado, durante décadas, na alma e espírito uberabense. Para Guido Bilharinho, esta cultura enraizada na sociedade local gerou apatia e baixa autoestima coletiva, que inibe o potencial criativo e desenvolvimentista da comunidade uberabense. PIONEIRISMO Segundo Guido Bilharinho, Uberaba possui tradição histórica de vanguarda em vários segmentos. Além do pioneirismo na área médica,
  • 34. 325 educacional, cultural, jurídica, entre outras, a cidade foi referência no país, atraindo grandes intelectuais e cientistas da época de várias nacionalidades. Guido Bilharinho destaca entre esses nomes o do advogado autodidata major Cesário, dos médicos suecos, que moraram e deram origem à antiga rua dos Ingleses, hoje rua João Pinheiro. Os uberabenses daquela época, segundo Guido Bilharinho, acreditavam que os dois médicos estrangeiros eram ingleses e não suecos. Outro nome, importantíssimo na história de Uberaba, segundo Bilharinho, é o do notabilíssimo Antônio Borges Sampaio, advogado, médico, professor e correspondente dos principais jornais do Rio de Janeiro. Em suas reportagens endereçadas ao Jornal do Comércio, o órgão de imprensa mais destacado da época, Borges Sampaio relatava os importantes acontecimentos do Brasil Central, polarizados por Uberaba. VOCAÇÃO PARA A LIDERANÇA Dentre os grandes nomes que alavancaram o desenvolvimento de Uberaba naquela época, Guido Bilharinho destaca ainda frei Eugênio Maria de Gênova, pregador incomparável, que foi convidado pelas lideranças locais da época para se estabelecer em Uberaba. Frei Eugênio revolucionou a nossa cidade, fundou a Santa Casa, o primeiro cemitério de Uberaba, etc. Outro nome destacado por Guido Bilharinho, nessa fase áurea de Uberaba, é o do francês Des Genettes, geólogo e médico que veio para a nossa cidade realizar pesquisas geológicas e acabou sendo o responsável pela fundação da imprensa local. No final do século XIX foram criados dezenas de veículos de
  • 35. 326 imprensa, inclusive a Gazeta de Uberaba, fundada em 1879, mais tarde surgiu o Correio Católico (1896) e vários outros veículos (jornais e revistas) de circulação efêmera. O primeiro jornal de circulação ininterrupta, o Lavoura e Comércio, surgiu em 1899. O pioneirismo uberabense na imprensa escrita foi consequência natural da importância de Uberaba no contexto do desenvolvimento do Brasil Central, segundo comprovam as pesquisas de Guido Bilharinho. CIÊNCIAS AGRÁRIAS Outro estrangeiro importante destacado por Guido Bilharinho na história e pioneirismo de Uberaba, foi Frederico Draenert, sábio alemão, contratado para debelar pragas nos canaviais da Bahia no fim do século XIX. Draenert foi o descobridor da existência de bactérias no reino vegetal e um dos responsáveis pela criação na Bahia da primeira instituição brasileira de nível superior na área das ciências agrárias. Uberaba teve também a primeira escola superior do Brasil Central na área da zootecnia, o Instituto Zootécnico de Uberaba, no qual Draenert lecionou. Instituição que foi fechada pelo governador de Minas, Silviano Brandão, em represália ao movimento dos produtores rurais da região que se revoltaram contra os altos tributos cobrados pelo Estado. Draenert é ainda reconhecido internacionalmente pela autoria do primeiro ensaio sobre o clima subequatorial, a partir de investigações realizadas no clima de Uberaba. A precisão desse trabalho, segundo Guido Bilharinho, é de tal ordem, que Draenert chegou a medir o número de raios que caíam anualmente sobre a
  • 36. 327 nossa região. Segundo Guido Bilharinho, Draenert possui mais de mil artigos sobre a agropecuária e demais temas correlatos. NO CENÁRIO NACIONAL A importância de Uberaba e o pioneirismo de homens como Borges Sampaio no cenário nacional, de acordo com Guido Bilharinho, foi de tal ordem que quando o conde cidade ficou impressionado com a precisão do laboratório meteorológico adquirido por Borges Sampaio. Como político, o intelectual Borges Sampaio foi o cérebro do partido Liberal na sua época, enquanto o barão da Ponte Alta foi o esteio e líder natural daquele partido no Brasil Central. Major Cesário, outro nome exponencial na história local, foi responsável pela organização em Uberaba da maior biblioteca da época, reconhecida pelo visconde de Taunay, seu frequentador assíduo quando esteve na cidade. A obra Inocência, de Taunay, homenageia aquele ilustre cidadão através de uma dos personagens reais daquele romance. A história de Uberaba não pode esquecer ainda nomes como os de Crispiniano Tavares, Tobias Rosa, Alexandre Barbosa, Antônio Garcia Adjuto (fundador do jornal Lavoura e Comércio). Segundo Guido Bilharinho, não foi por acaso que há cem anos a ordem dominicana escolheu Uberaba como portão de entrada no Brasil, além dos irmãos Maristas e outros intelectuais e acadêmicos que aqui também se instalaram.
  • 37. 328 ASCENSÃO E CRISE Para Guido Bilharinho, os altos e baixos da história econômica de Uberaba, no final do século XIX, se repetiram no início do século passado. Nesta fase os destaques foram José Ferreira, médico com forte atuação comunitária na antiga Sociedade Rural, hoje ABCZ, Jóquei Clube, etc, o professor Santino Gomes de Matos, dom Alexandre Gonçalves Amaral, o genial Leopoldino de Oliveira, Fidélis Reis, José Maria dos Reis, entre outros. Por outro lado, lembra Guido Bilharinho, que a crise do Zebu nos meados da década de 1940 abalou a cidade. A quebradeira e a consequente moratória abateram o moral uberabense. Para Guido Bilharinho, a estagnação da economia local e a abertura de novos mercados na direção de Goiás criaram estrutura adversa que contribuíram para o determinismo e apatia do empreendedorismo uberabense. CONSCIÊNCIA HISTÓRICA conhece o passado da sua cidade não tem consciência histórica para cultivar e valorizar a vocação natural para o desenvolvimento sustentado de uma região . No caso uberabense, esse conhecimento ficou restrito aos intelectuais e acadêmicos que não participam diretamente do processo de desenvolvimento da cidade. Bilharinho descreve de forma angustiada a constatação da acomodação, apatia e determinismo impregnados nos uberabenses, destacando ainda, que a sociedade precisa reagir. A mobilização das lideranças uberabenses se faz necessária e urgente, já
  • 38. 329 que o capital e os empreendimentos uberabenses estão desaparecendo da economia local, dando lugar e espaço para grupos de fora (também importantes para o progresso da cidade), mas que intimidam a iniciativa empresarial uberabense, desestimulada pela falta de incentivo, valorização e reconhecimento por parte do setor público municipal. Para Guido Bilharinho, esplê PLANO ESTRATÉGICO Guido Bilharinho destaca que movimentos como o Fórum Regional de Desenvolvimento devem sair do papel e se multiplicarem comissão daquele Fórum, formada por representantes de vários segmentos da sociedade local, não deve ser algo abstrato, mas concreto, traduzido em ações concretas e urgentes. Dentro desse do jornal Lavoura e Comércio, publicou em 25 de agosto do ano passado algumas diretrizes para a elaboração de um Plano Estratégico para o Desenvolvimento de Uberaba. Esse trabalho merece ser avaliado pelas lideranças políticas e empresariais da cidade. Através daquele documento, Guido Bi Uberaba, inserida em região privilegiada em todos os sentidos, mas colocada no centro (no caso verdadeiro epicentro) de três fortes e dinâmicos centros polarizadores, como Ribeirão Preto, Uberlândia e São José do Rio Preto, de há muito necessita que, acima das divergências partidárias, grupais e familiares e até individuais - aliás,
  • 39. 330 esse pluralismo, ao contrário do que se possa pensar, é positivo, mesmo porque, como constatado por um filósofo, não existem duas pessoas que pensem do mesmo modo - organize-se plano estratégico de desenvolvimento, que ao fim e ao cabo, será benéfico a todos, mesmo e principalmente àqueles que só têm olhos para o seu próprio umbigo e que, por isso justamente, nem atinam com as possibilidades que lhes podem ser abertas, que, na hipótese aventada, certamente o PLURALISMO CULTURAL O advogado Guido Luís Mendonça Bilharinho, 63 anos, formou-se em 1962 pela antiga Faculdade Nacional de Direito do Rio de Janeiro, hoje UFRJ, é casado com Leda Almeida Bilharinho. Jurista e ex-professor de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito do Triângulo Mineiro (atual Uniube), tem três filhos, dois advogados Sérgio e Marcos Almeida Bilharinho e uma psicóloga, Márcia Almeida Bilharinho. Na Faculdade de Direito de Uberaba (Uniube) Guido Bilharinho atuou como professor, assessor jurídico e diretor daquela faculdade. Paralelamente à carreira jurídica e antes mesmo da sua formatura em 1962, Guido Bilharinho passou a se dedicar, através de ardorosa missão voluntária, à cultura uberabense e do nosso país. Foi uma época de grande efervescência cultural, lembra Guido Bilharinho. Através da sua vocação e pluralismo cultural nato, ajudou na viabilização e fundação do cine clube de Uberaba (1962), contribuindo para movimentos que, direta ou indiretamente, deram origem a outras instituições culturais. Nessa fase, surgiram ainda na
  • 40. 331 cidade o NATA (Núcleo Artístico de Teatro Amador), o TEU (Teatro Experimental Uberabense). Nesse período destacaram-se ainda grandes nomes, como o do economista Paulo Vicente de Sousa Lima (fundador da FCETM), Ronaldo Benedito Cunha Campos, Clarkson de Castro Silva, Lincoln Borges de Carvalho, José Sexto Batista de Andrade, Maurílio Cunha Campos de Morais e Castro, Edelweis Teixeira, Eugênio Maria Diniz, Aquiles Riccioppo, José Fonseca, José Cleito Lopes, Edson Prata, José Mendonça, monsenhor Juvenal Arduini, entre outros. DIMENSÃO A atuação constante de Guido Bilharinho levou-o a participar de vários outros projetos culturais, inclusive da criação da revista Dimensão, que surgiu no final da década de 70 e durante vinte anos seu nome. Aquela publicação contou com a participação e colaboração de poetas de todo o país e do exterior e até hoje, após a edição do seu último número, há quase dois anos, o seu idealizador recebe correspondências de críticos literários e poetas de todo o mundo. Paralelamente, o poeta, escritor, ensaísta e articulista Guido Bilharinho escreveu livros, artigos e críticas principalmente sobre cinema e literatura, participou da revista Convergência da ALTM e durante vários anos da editoração do Suplemento Cultural do Correio Católico. As proporções globais da revista Dimensão ganharam maior amplitude a partir da sua décima edição com a incorporação da arte do visual. A revista que não teve compromisso local, mas, com a poesia
  • 41. 332 universal de qualidade, participou de exposições internacionais na Rússia, Austrália e vários países do Leste Europeu, cumprindo, de fato, sua proposta de revista internacional, segundo Guido Bilharinho. ALIENAÇÃO CULTURAL Para Guido Bilharinho, a efervescência cultural do início da década de 1960 foi inibida pelo governo militar a partir de 1964. As atividades políticas, artísticas, culturais e movimentos estudantis foram o alvo principal da censura e intransigência dos militares. Guido Bilharinho destaca que a partir dessa fase inicia-se nova etapa partir do período militar não serão revertidos no curto e médio prazos. A alienação cultural e política foi a principal herança dess afirma Guido. ÊNFASE TRABALHISTA Guido Bilharinho, embora tenha trabalhado no início da sua carreira jurídica (na década de 1960), em causas cíveis e comerciais, em parceria com os advogados Benito Caparelli e Helton Prata, profissionalmente sempre preferiu as causas trabalhistas. Aliás, essa preferência trouxe algumas dores de cabeça a ele e aos demais advogados trabalhistas do país durante o período do governo militar, principalmente na fase do AI-5. Naquela época, as militâncias política, trabalhista, cultural e artística eram vistas e consideradas sob suspeita por parte do governo. Apesar dos problemas na fase militarista, Guido
  • 42. 333 Bilharinho nunca deixou de atuar nesta área do Direito. Há seis meses transferiu seu escritório, juntamente com os seus dois filhos, Sérgio e Marcos Bilharinho, também advogados, para amplo e moderno espaço que ocupa no terceiro andar do "Diamond Business Center , localizado na avenida Leopoldino de Oliveira. (Jornal de Uberaba , 20 janeiro 2002, depoimento concedido à jornalista Olésia Borges)
  • 43. 334 DATAS DO ANIVERSÁRIO DE UBERABA Uberaba comemora hoje 183 anos de vida. O aniversário da cidade acontece em meio a muita polêmica. Muitos defendem que 02 de maio, e não de março, deveria ser o dia certo a se comemorar. Para esclarecer essa questão e tentar acabar com as dúvidas, o historiador Guido Mendonça Bilharinho fez uma viagem no tempo com a reportagem do Cidade Livre. Para ele, o primeiro erro é que não deveria ser comemorado o aniversário da cidade. Isso porque não existe uma data oficial da fund dia da cidade. Não existe documento oficial ou particular registrando Bilharinho conta que a primeira tentativa de estabelecer uma cidade na região aconteceu logo após 1806 a 1808. José Francisco de Azevedo, trisavô do ex-deputado Chico Humberto, começou a tentativa de povoado onde hoje fica Santa Rosa. Quando o major Eustáquio chegou ao local, já existia até uma capelinha, mas ele percebeu que a água não era o bastante para desenvolver uma cidade. começo da Univerdecidade, na foz do córrego das Lajes, instalando ali a sede de sua fazenda. Próxima, existia aldeia historia Antônio Eustáquio veio com a intenção deliberada de construir aqui uma cidade. Por isso
  • 44. 335 O fazendeiro e major construiu seu retiro de gado no lugar onde hoje fica o hotel Chaves. Montou ali também a ferraria e foi convidando o pessoal dos arraiais vizinhos para se instalarem aqui. Começava aí a se formar o que futuramente seria Uberaba. Na opinião de Bilharinho, a data de fundação oficial deveria ser a registra -se que se descubra essa prova, de que não temos conhecimento. Pode ser uma carta para o rei, para o governador de Goiás, alguma coisa Rosa continuasse, talvez morresse ou não se desenvolveria, como tantos povoados que temos aqui ao redor que não se tornaram cidades. Acontece que aqui, além de ser ponto estratégico, tivemos o major O major acabou falecendo quatro anos antes de Uberaba ser proclamado município, naquela época chamado de vila. O primeiro agente executivo (prefeito) foi seu irmão, capitão Domingos. DATAS CONFUSAS Guido Bilharinho aponta algumas datas históricas de Uberaba: em 13 de fevereiro de 1811 teria ocorrido a elevação da região a distrito de índios segundo alguns historiadores. Em 02 de março de 1820 surgiu a paróquia. Em 1836, elevação a vila ou município. Em 1840 foi criada a comarca do rio Paraná, mudada para comarca de tes éramos subordinados a Paracatu. Imagina só, naquela distância e com os meios de transportes precários naquela
  • 45. 336 dia 02 de maio, houve a elevação à cidade. A transformação em vila, em 1836, significou a autonomia administrativa de Uberaba, que então passou a ter necessário ter o prédio da Câmara (que foi fundada um ano depois, em 07 de janeiro de 1837) e uma cadeia. Atendidos esses requisitos, foi A elevação à categoria de cidade deu-se em 1856, quando Borges Sampaio promoveu se receber o título honorífico de cidade. Ganhamos o status de cidade, mas nada mudou, apenas a categoria toriador, que acha que, mais importante que esse título, foi a criação da Câmara, representando a autonomia administrativa. Ele lembra que os historiadores divergem sobre qual seria a data preferível para se comemorar. Durante muito tempo, foi 02 de maio, data de elevação à cidade, em 1856. Porém, a data foi mudada há poucos anos por causa da proximidade com o Dia do Trabalho e a abertura oficial da ExpoZebu, prejudicando comemoração à altura. como Sete de Setembro. Mas a data foi afogada pela Exposição e pelo Dia do Trabalho. Hoje não, mas antigamente o Dia do Trabalho era muito comemorado, com direito a Segundo ele, a escolha do dia 02 de março é boa, pois foi quando surgiu a paróquia. Naquela época, a Igreja tinha importância relevante, acumulando funções civis, tendo, por exemplo, a obrigação autoridade civil. Antes as pessoas tinham de esperar um padre que passava para ter um
  • 46. 337 documento. Para se ter ideia de sua importância, o primeiro padre a se instalar aqui, vigário Silva, que ficou de 1820 a 1852, era historiador, empresário, sendo até presidente da Câmara. Foi ele que, junto com historiador. Para o historiador, a data atual acabou sendo bem escolhida, pois não co coincidiu com o carnaval, mas isso só acontece de seis em seis anos. As escolas já funcionam e pode haver a comemoração adequa opina. EVOLUÇÃO Guido Bilharinho revela um pouco de como era Uberaba no começo. A primeira rua seria hoje a Manuel Borges e a Vigário Silva. A Art era fundo de quintal das casas. Uma vez, com alguns amigos, fizemos uma aventura, saímos de hoje onde começa a Univerdecidade e, margeando o córrego da Laje, fomos sair na praça do Correio, ainda de chão batido, lembra ele. no mandato era festejado O historiador recorda que, por causa da região e do dinamismo da cidade, muitas pessoas vieram de diversos cantos para cá. Por maior em relação à região, hoje não é assim. Nas décadas de 1940 e 1950, éramos a terceira cidade do Estado, a Triângu1o . Hoje, Araxá e Pa
  • 47. 338 agropecuário é grande, não se discute, mas devíamos ter indústria para sua produçã (Cidade Livre, Uberaba, 02 março 2003, depoimento prestado ao jornalista Wagner Ghizzoni Júnior, sob )
  • 48. 339 ELEIÇÕES UBERABENSES Os uberabenses vão às urnas amanhã para escolherem o novo prefeito e os novos vereadores da cidade. Enquanto o momento do pleito não chega, o Cidade Livre traz entrevista com o historiador e escritor Guido Mendonça Bilharinho. Ele fala sobre as eleições passadas e analisa as propostas de cada candidato. Para Bilharinho, a campanha de Anderson é a mais consistente, e Eclair é uma surpresa boa. passadas, em Uberaba? Esta é uma eleição única, histórica. Pelo menos se for confirmado o que apontam as pesquisas. Desde 1946, quando houve a redemocratização, nunca houve diferença tão grande entre os candidatos a prefeito. As diferenças no número de votos sempre foram muito pequenas, especialmente entre os dois primeiros colocados. candidato a prefeito? Tenho posição definida - claro que é minha opinião. Para mim, Anderson Adauto é quem tem programa mais consistente, bem amarrado. Ele se preocupou em estar ouvindo diversos segmentos da sociedade, colhendo sugestões de diversas áreas para fazer um programa amplo, completo.
  • 49. 340 Adriano Espíndola faz campanha ideológica, seu programa partidário é nacional, ou seja, suas questões são praticamente nacionais, o que ele apresenta para Uberaba é em ideias gerais. Ele não concorda com as candidaturas dos concorrentes, se baseia praticamente no ideologismo. Por outro lado, Eclair é uma surpresa boa. Suas ideias e planos me agradam. Mas falta estrutura, ela está praticamente sozinha. Mas suas ideias são muito bem expostas, com clareza, sem atacar nenhum candidato, já que ataque para mim é falta de ética. Já Fahim Sawan está com o PSDB, que imobilizou, engessou o país. Então, não tem como ele escapar dessa filosofia, se está nesse partido é porque comunga com essa filosofia, de dar mais preferência ao financeiro do que ao produtivo. Precisamos de plano de desenvolvimento no médio e no longo prazo. Os prefeitos anteriores não tiveram essa preocupação. É só limpeza de rua, asfaltamento, escolas, ou seja, manutenção da máquina administrativa. Claro que isso é necessário, mas, além disso, precisa de haver desenvolvimento. Creio que Anderson, em sua quarta candidatura, mostra experiência para organizar a administração. candidatos estão fazendo promessas que são difíceis ou impossíveis de cumprir? Bem, certas propostas que estamos vendo são mesmo difíceis. Mas, para mim, os candidatos deveriam mostrar propostas de postura desenvolvimentista. Mas, eles optam pelo desenvolvimento, vamos dizer, como rotina administrativa. Acho que só Anderson tem aquela
  • 50. 341 intenção desenvolvimentista, aquele negócio de alternância de poder. O Brasil inteiro hoje está numa corrente monetarista, rotineira, são milhões de desempregados, gente sem condição de sobreviver, um absurdo num país grande e abençoado pela natureza como o nosso. governo dos candidatos? Parece que é saúde e segurança. Outros setores, como educação, por exemplo, estão funcionando melhor que essas áreas. Realmente, Uberaba precisa de mais segurança. Está de um jeito impensável anos atrás. (Cidade Livre, Uberaba, 02 outubro 2004, entrevista concedida ao jornalista Wagner Ghizzoni Júnior, sob o título dor F az Análise d as E l e i ç õ e s U b e r a b e n s e s )
  • 51. 342 POTENCIALIDADES DE UBERABA O resultado nas urnas demonstrou que o povo realmente estava disposto a abraçar a alternância de poder. Esta é a avaliação do advogado, escritor e ativista cultural Guido Bilharinho sobre o processo eleitoral que culminou com a vitória de Anderson Adauto e demonstrado efetivamente, não só no Executivo, mas no Legislativo também. A população de Uberaba demonstrou que está amadurecida politicamente, analisando propostas dos candidatos, não se deixando URNAS DEMONSTRAM A ALTERNÂNCIA DO PODER Uberaba precisa de um Plano de Desenvolvimento, diz Guido Bilharinho Em entrevista ao Cidade Livre, o advogado, escritor e ativista cultural Guido Bilharinho faz uma análise sobre o novo cenário político em Uberaba, após as eleições municipais. Para Bilharinho, o resultado nas urnas demonstrou que o povo realmente estava disposto a abraçar a a não só no Executivo, mas no Legislativo também. Houve uma renovação: muitos vereadores que acreditaram na reeleição não conseguiram. A população de Uberaba demonstrou que está amadurecida politicamente, analisando propostas dos candidatos, não
  • 52. 343 citou, ainda, a votação expressiva de Eclair Gonçalves (Prona), que ocorreu face às suas propostas de governo e ao seu trabalho realizado no Procon. legendas trazem mais ideias e debates e que a alternância de poder no pleito foi demonstrada não apenas no Executivo, mas também na acompanhe o trabalho da Câmara, de forma participativa, ou seja, a participação popular para decidir os destinos da cidade. A administração anterior não fez Uberaba progredir, apenas fez a advogado aponta, ainda, que o Legislativo não pode ficar submisso ao Estratégico de Desenvolvimento para o município abrir possibilidades preciso fazer diagnóstico da cidade, ver nossas potencialidades. Um exemplo: Uberaba hoje é a maior produção de milho do Estado, passou Patos de Minas. Como (Cidade Livre, Uberaba, 05 outubro 2004, sob o d a )
  • 53. 344 IDADE DE UBERABA No último dia 02 de março, aniversário da cidade, o jornal Cidade Livre publicou entrevista exclusiva com o professor e folclorista Carlos Pedroso, onde ele dizia, dentre outras coisas, que a data em que se comemorava o aniversário de Uberaba não é correta e compromete a verdadeira idade da cidade. Agora surge nova data, 1812. Apesar das divergências, o advogado Guido Bilharinho acredita que o mais importante já foi descoberto: o interesse dos uberabenses em descobrir suas origens. IDADE DE UBERABA AINDA NÃO TEM DATA DEFINIDA No dia dois de março, aniversário da cidade, o jornal Cidade Livre publicou entrevista exclusiva com o professor, historiador e folclorista Carlos Pedroso, onde ele dizia, dentre outras coisas, que a data em que se comemorava o aniversário de Uberaba não é correta e compromete a verdadeira idade da cidade. Diante dos fatos, o advogado Guido Bilharinho entrou em contato com o jornal para expor mais alguns dados históricos e sua opinião sobre o que foi noticiado. Bilharinho não vê as comemorações como equívocos e, sim, como uma divergência quanto ao aniversário da cidade. centenários que foram comemorados pela cidade são justos, pois eram datas que relembravam fatos importantes que aconteceram em Uberaba. Mas é importante que se saiba que em nenhum deles pode ser comemorado o aniversário da cidade, uma vez
  • 54. 345 que ainda não há data e advogado e também estudioso da história da cidade. Segundo Guido Bilharinho, o ano de fundação da cidade seria 1812* . Portanto historiadores uberabenses já levantaram essa informação, mas ainda não conseguimos os documentos com o mês e o dia desse fato. Pode ser que eles estejam em Portugal, mas, infelizmente, não foram , explica o advogado. Ele relembra ainda que, antes das duas datas apresentadas na 1911, houve exposição pública do zebu e do distrito de índios, por iniciativa de Hildebrando Pontes, comprovando os vários povos que já Para Guido, toda esta discussão sobre datas e fatos é muito importante e mostra o quanto a cidade e as pessoas que nela habitam supostas datas e discussões sobre comemorações, oficiais ou não, fomentam a pesquisa histórica e a riqueza cultural da cidade. Conhecer sobre tudo isso é conhecer sobre nós mesmos e sobre nossos antepassados. Um exemplo disso, é que antes de 1900, Uberaba Em 1820, havia o vigário, em 1837, o primeiro prefeito e em 1840, o primeiro juiz de Direito. O mais importante já foi descoberto: conseguimos despertar o interesse em nós mesmos, pela História da naliza Guido.
  • 55. 346 (Cidade Livre, Uberaba, 07 março 2005, sob o título ) _______________ *Pesquisas posteriores, com base nos relatos dos viajantes estrangeiros, demonstram que Uberaba, conforme Hildebrando Pontes também indica, foi fundada nos fins de 1816 e inícios de 1817)
  • 56. 347 UBERABA É UMA ETERNA FESTA Para Você Por Que Uberaba Pode Ser Considerada Cidade Turística? Preto, Diamantina e Mariana, mas é uma cidade com valor turístico. A nossa paisagem rural é excepcional. Os próprios produtos regionais são atrativos, os espécimes arquitetônicos da cidade ainda são preservados, como a Igreja São Domingos, patrimônio inigualável. Nós temos o entorno cultural no centro da cidade, como o Mercado e a igreja Santa Rita, que cria um espetáculo que não existe em outras cidades. Nós temos até cachoeiras no município, ainda desconhecidas pela própria população uberabense. (Jornal da Manhã, Uberaba, 02 março 2007, depoimento concedido à jornalista Daniela Brito)
  • 57. 348 ERROS EM NOMES DE RUAS Erros de português podem ser vistos em várias placas novas de identificação das vias de Uberaba. A rua Vigário Silva aparece na placa como Vigário Sílvia. Inconformado com a quantidade de erros, o advogado e historiador Guido Bilharinho qualificou o fato de escárnio para com a história e memória da cidade. A Secretaria de Infraestrutura não reconhece ter havido erros nas novas placas e ainda esclarece que as placas serão reformadas em todo o município. PMU INSTALA PLACAS COM ERROS DE PORTUGUÊS responsabiliza o aluno pelo erro. Se for em uma avaliação, provavelmente ele perderá nota. Qual será a penalidade então para a Secretaria de Infraestrutura ao colocar nomes errados nas placas e avenidas da cidade? A denú um absurdo, um escárnio para com a história e memória da cidade, in As atribuições de Bilharinho dizem respeito às placas novíssimas colocadas recentemente na cidade, porém com erros crassos que ultrapassam a barreira da língua portuguesa. Um exemplo está estampado bem no coração de Uberaba, lugar onde Guido destaca ter nascido a cidade há quase dois séculos, a praça Rui Barbosa. Ali, uma placa fixada indica a rua Vigário Sílvia, ao invés de Silva. Outro erro ocorre na rua Padre Zeferino. Embora haja muitas indicações com
  • 58. 349 o nome correto, há também uma aberração nomeando um dos principais religiosos existentes na cidade pelo nome de Padre José Ferino. O historiador corrige, afirmando que Zeferino era o prenome e país. Não há responsabilidade em todas as escalas. Se isso acontece com pequenas coisas, o que podemos e questiona. E os erros se sucedem. Onde é rua colocam avenida e vice- versa. A placa em frente do prédio do Jornal da Manhã comprova esse exemplo. O correto é avenida, e não rua Fidé haver penali O subsecretário de Infraestrutura, Luís Humberto Frange, não foi encontrado para comentar os equívocos, porém a Secretaria de Infraestrutura não reconhece ter havido erros e ainda esclarece que a cidade toda terá placas reformadas. A pasta está elaborando processo licitatório para o serviço de reforma. Quanto às placas em que foram encontrados erros, ninguém da repartição soube dar explicação. ( Jo r n a l d a Man h ã , Ub er ab a , 0 7 j u l h o 20 0 7 , depoimento concedido ao jornalista Rodrigo Matos, )
  • 59. 350 CINE CULTURA DA OAB/UBERABA A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/Uberaba) realiza uma sessão de cinema gratuita no primeiro sábado de cada mês, há seis anos. O evento, denominado Cine Cultura, que direcionava a escolha dos filmes pela temática da obra, mudou o foco este semestre. Segundo o historiador e advogado Guido Bilharinho, o critério agora adotado é a estética dos filmes. A sessão de hoje, por exemplo, apresenta uma das produções do diretor sueco Ingmar Bergman, que morreu aos 89, há pouco mais de um mês. Entre os mais de 50 filmes do currículo do diretor, a equipe organizadora do evento escolheu dois clássicos: Morangos Silvestres (1957) e Gritos e Sussurros (1972), previstos para serem exibidos, respectivamente, neste mês e em outubro. Segundo Bilharinho, o título selecionado para este fim de semana é um drama. Nele, um médico é convidado para receber uma o presente, a memória e o sonho. E ele faz uma ligação desses três tempos de uma Para os meses de novembro e dezembro, estão na programação obras de um diretor contemporâneo de Bergman que, curiosamente, também faleceu no mesmo dia do sueco - 30 de julho deste ano. O legado do cineasta italiano Michelangelo Antonioni será tema de debate nos últimos meses do ano pelo Cine Cultura. - OAB. O nosso
  • 60. 351 objetivo é fomentar a cultura, tão necessária e importante para todos A sessão de setembro do Cine Cultura da OAB/Uberaba acontece hoje, às 19h30, na sede da instituição, situada na rua Lauro Borges, 82. A exibição do filme é seguida de um debate e uma confraternização. (Jornal da Manhã, Uberaba, 01 setembro 2007, depoimento prestado à jornalista Faeza Resende)
  • 61. 352 A HISTÓRIA DE UBERABA Natural de Conquista, o advogado e escritor Guido Bilharinho, 69 anos, conta a história de dois séculos de Uberaba, em livro que será lançado na quarta-feira (28), às 20h, na Câmara de Vereadores. No século XIX, o município uberabense era Centro Regional do Império, uma das dez cidades mais importantes do Brasil, num tempo em que a cidade toda se engajava. Ele destaca que a vaidade mineira foi a culpada pela perda da condição de polo de desenvolvimento que pertencia a Uberaba. Ele fala também que está entre os desanimados com a política e que não vota mais em presidente da República, senador e governador. UBERABA CARECE DE PARTICIPAÇÃO POPULAR E UNIÃO DE LIDERANÇAS No século XIX, o município uberabense era Centro Regional do Império, uma das dez cidades mais importantes do Brasil, num tempo em que a cidade toda se engajava A história mostra Uberaba como polo desenvolvimentista que se destacou no Brasil, antes mesmo da cidade de São Paulo. A perda da hegemonia da cidade, inclusive, é um dos pontos que permitiram o boom da cidade paulista. O escritor Guido Bilharinho, autor do livro Uberaba - Dois Séculos de História, em entrevista especial ao Jornal de Uberaba, revela fatos importantes para a cidade e também expõe sua opinião sobre os uberabenses. Ele considera o povo uberabense pouco participativo e aposta na união de lideranças políticas para tirar
  • 62. 353 Uberaba do marasmo verificado no país inteiro. Advogado e uma das mais respeitadas personalidades da cidade, Guido é ardoroso defensor da emancipação do Triângulo e revela que está entre os desanimados com a política. Destaca que pretende, nas próximas eleições, anular o voto para presidente da República, senador e governador. Jornal de Uberaba - O senhor tem veia de escritor e já comprovou esse talento com vários livros lançados, entretanto, todos na área da arte cinematográfica e da poesia. O que o levou a escrever sobre os dois séculos da história de Uberaba? Esse livro não estava nos meus planos. Já tenho preparados dois livros quase prontos, praticamente, sobre Uberaba. Um sobre personalidades uberabenses. São quase 50 biografias de pessoas falecidas, da área administrativo-cultural da cidade. Outro sobre os periódicos culturais de Uberaba. Publiquei no Lavoura e Comércio sobre quase todos eles. Tenho ideia de publicar, também, coletânea de ensaios culturais sobre artes plásticas, música, literatura, teatro, de outros autores, mas reuní-los em um livro só. Há até um inédito sobre a imprensa de Uberaba, do Hildebrando Pontes. JU - E como surgiu a ideia de publicar Uberaba - Dois Séculos de História, que o senhor vai lançar na quarta-feira, dia 28, na Câmara de Vereadores de Uberaba? Esse livro surgiu quase por imposição das circunstâncias. Eu ia a um programa semanal de entrevistas na Rádio Metropolitana, em que eu falava sobre Uberaba. Eu falei sobre as personalidades. Em um dos
  • 63. 354 programas fui perguntado sobre a história da cidade. Nesse momento tive a ideia de fazer um trabalho cronológico da cidade. Para eu falar sobre as 50 personalidades da cidade reuni muito material. Comecei a falar sobre o assunto, e, depois, o padre Júnior me convidou para o programa dele na TV Universitária. Tudo mais ou menos simultâneo, quando o jornalista Fabiano Fidélis [diretor-presidente do Jornal de Uberaba] me convidou para escrever uma página cultural. Comecei a falar por décadas, já estamos na metade. Esse primeiro volume vai até dezembro de 1929. JU - Nesses dois séculos que fatos o senhor poderia destacar como mais importantes para Uberaba, por exemplo, no setor econômico? Foi fundamental a atuação do major Eustáquio [Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira]. Ele veio deliberadamente para fundar uma cidade. Não foi por acaso. Agiu nessa direção. Primeiro ele esco- lheu aqui, com o cônego Hermógenes, este uma das pessoas mais inteligentes que o Brasil Central teve na primeira metade do século XIX. Ele chegou a ser eleito deputado às Cortes de Lisboa morando no Desemboque de onde nunca saiu. O Desemboque foi o grande núcleo da civilização do Brasil Central. Por causa do ouro ter diminuído, boa parte do pessoal de lá veio para Uberaba. Lá não tinha futuro. Aqui as terras eram férteis, tinha abundância de água e passava a via Anhanguera. Major Eustáquio veio e aqui edificou a sede de sua fazenda em 1812. Posteriormente, ele mandou construir retiro para o gado onde hoje está localizado o hotel Chaves, reservando espaço para o largo da Matriz. Em 1820 conseguiu o verdadeiro registro de nascimento da cidade, com a criação da Freguesia. Uberaba era
  • 64. 355 povoado sem nome com amontoado de casas. Ele desviou a via Anhanguera e criou a estrada Uberaba/Delta. Além de abrir a estrada, conseguiu com o Governo dez anos de isenção de impostos para quem se estabelecesse nas margens da estrada. Política que prevalece hoje, de incentivo fiscal. Ele já tinha essa ideia. JU - A abertura da estrada deu inicio à característica de Uberaba, no que se refere à sua posição geográfica? Sim, porque além de abrir a estrada ele também fez um porto e estabeleceu navegação do rio Moji Guaçu e rio Grande para trazer sal, colocando Uberaba como entreposto comercial. Era impressionante a quantidade de sal que a cidade recebia, toneladas, e enviava para Goiás e Mato Grosso. Major Eustáquio fez sociedade com o vigário Silva e eles exploraram o porto comercialmente. Nessa época ele já trabalhava para elevar Uberaba a município, mas faleceu antes. JU - Mas o major Eustáquio foi o responsável pela data oficial documentada mais antiga de Uberaba? Exatamente. Ele conseguiu elevá-la à Freguesia em 02 de março de 1820. Aquela data de 02 de maio, que veio 40 anos depois, com a elevação à cidade, é honorífica. Em 1836, uma lei da Assembleia Provincial Mineira elevou Uberaba e outros arraiais à Vila, mas impunha condições: a comunidade teria de construir o prédio da Câmara e da cadeia. Uberaba conseguiu construir. Houve eleições em Uberaba monitoradas por Araxá, que foi vila antes. O capitão Domingos, irmão do major Eustáquio, foi o mais votado. Ele foi a Araxá, tomou posse e deram poder a ele de instalar a Câmara e
  • 65. 356 empossar os demais. A instalação da Câmara aconteceu no dia 07 de janeiro de 1837. Em 1840, Uberaba foi elevada à Comarca. Até então, toda demanda judicial corria em Paracatu. JU - A história mostra um avanço grande de Uberaba em relação às demais cidades brasileiras? Mostra, sim. São Paulo levou 155 anos para ser elevada de vila à cidade e Uberaba conseguiu tudo em curto espaço de tempo. Para aquela cidadezinha, com cerca de dois mil habitantes, ter juiz de direito, vigário e prefeito era fantástico. Veja como essas datas são importantes: em 1820 Uberaba teve seu vigário fixo. Antes um padre passava por aqui uma vez por ano e fazia tudo de uma vez, casamentos, batizados, enfim. Por decreto foi criada a paróquia e por outro decreto nomeado o vigário. Em 22 de fevereiro de 1836, foi Uberaba elevada à vila. A partir de 1837, ganhou o seu administrador, o prefeito, naquela época chamado agente executivo, e a partir de 1840 o juiz. Em 1856 foi feito recenseamento por Borges Sampaio e se pleiteou a elevação da vila à categoria de cidade. Só mudava o nome de vila para cidade, o que aconteceu em 02 de maio de 1856. O único efeito prático que ela teve foi que a Câmara tinha sete vereadores e passou a ter nove. JU - É dessa forma que o livro se desenvolve? Na verdade o livro aborda isso tudo, mas não assim. Ele vai acompanhando a história de Uberaba cronologicamente de forma rigorosa. Vêm o século, a década e o ano. Muitos acontecimentos não
  • 66. 357 têm data, dia e mês, mas sabe-se o ano. Todos os acontecimentos mais importantes constam do livro. Muito poderá ser acrescidos se percorrermos a coleção da Gazeta de Uberaba e do Lavoura e Comércio. O Lavoura registrou os fatos durante 104 anos e a Gazeta 20 anos antes da fundação do Lavoura. JU - A quem o senhor recomenda a leitura do livro? A todas as pessoas que gostam de saber da história de Uberaba. Ele pode ser lido e depois virar obra de consulta. Há um índice que amarra tudo, ou seja, todas as pessoas citadas, as instituições, acontecimentos, enfim. Por exemplo, Uberaba teve problema sério com cachorros com a chamada hidrofobia. Foi uma batalha tremenda, antes de 1930. Todos os prefeitos enfrentaram o excesso de cães. Uberaba era o maior freguês do instituto Pasteur porque os cachorros mordiam as pessoas e elas ficavam contaminadas. O Doca, em seu livro Terra Madrasta, analisa as administrações municipais até 1930 e conta que um prefeito fez uma pinguela e matou cachorro, outro prefeito calçou uma rua e matou cachorro, enfim. Mas tinha de matar mesmo. A quantidade era imensa. JU - E a abertura da cidade para a cultura? Houve um político ou outro que o senhor pode destacar como importante para essa área? O Doca destaca três políticos em Uberaba até 1930: Alexandre Barbosa, que não chegou a ser prefeito, mas foi deputado estadual e vereador; Hildebrando Pontes, que foi vereador, presidente da Câmara e agente executivo, e Leopoldino de Oliveira, que foi isso tudo e mais deputado federal.
  • 67. 358 JU - Na história mais recente, que políticos o senhor destaca? Acho que nenhum se destaca demais. Os administradores, até 1970, não tinham renda. A PMU tinha, em 1964, cerca de 90 celetistas e 40 servidores. Naquela época os vereadores não recebiam subsídios. Houve criação de impostos e os municípios começaram a ter dinheiro. Começou a canalização de córregos por João Guido. Ele conseguiu dinheiro. O Jorge Furtado não pôde fazer nada, apenas pagar dívidas. Manteve a máquina funcionando, enxugou e acertou as dívidas com muita honestidade. Todos tinham vontade de fazer. É difícil fazer comparações entre administradores. Hoje a prefeitura tem R$ 500 milhões para trabalhar. JU - E na área cultural, especificamente? Na área cultural o prefeito Wagner do Nascimento foi o mais importante para Uberaba. Ele teve muito mais sensibilidade que os demais. Mas não é só a qualidade dele, é a época também. Vieram projetos, ideias, solicitações que não existiam antes. JU - Quando Uberaba passou a ser polo de desenvolvimento? No começo da década de 1970, com a inauguração da Fosfértil. Não temos nada de matéria-prima, ela fica perto de Araxá. Mas não havia como eles instalarem usina lá por causa de água, transporte, enfim. O lugar ideal era Uberaba. Sempre a posição geográfica privilegiando a cidade.
  • 68. 359 JU - Por que Uberaba perdeu sua condição de polo? Uberaba teve vários choques negativos econômicos. Vou falar os principais que arrebentaram com a cidade neste aspecto. Em meados da década de 1850 a navegação do rio Moji-rio Grande que morria aqui foi estendida até Frutal. Uberaba já não era mais polo de receber e reexportar, havia Frutal também. Nessa mesma década inaugurou-se a navegação do rio Araguaia. Os goianos começaram a ir para Belém. Houve crise bancária em que as agências retraíram o crédito, o que segurou o comércio. O sal aumentou de preço. Tudo na mesma época. Ainda teve o começo da navegação do rio Paraguai. Não dependia dos uberabenses. Se dependesse, Uberaba estaria sempre no topo. Isso é coisa do país, da dinâmica da economia e do desenvolvimento das outras regiões. JU - Não houve um tempo em que Uberaba e Uberlândia tinham o mesmo porte? Uberlândia foi fundada 40 anos depois. Com a Mojiana, em 1889, Uberaba deu novo salto, mas os trilhos continuaram. Sete anos depois estavam em Araguari. Uberaba deixou de ser o centro dos eixos de exportação e importação. A estrada parou lá. Araguari e Uberlândia é que começaram a se movimentar mais. Uberaba tornou- se passagem. Mas houve outro fato que foi a pá de cal contra Uberaba. Já estava demarcada a estrada de ferro Uberaba/Coxim, na divisa do Mato Grosso com o Paraguai. O pessoal da construção foi recebido com baile em 1906. Afonso Pena foi candidato à presidência da
  • 69. 360 República e uma das condições que o governador de São Paulo impôs para apoiá-lo era que essa estrada fosse transferida para São Paulo e ele concordou. Matou Uberaba e Minas. Passou a ser a Noroeste Paulista, um dos fatores do progresso de São Paulo. Uberaba teve Banco do Brasil antes de São Paulo. O tirocínio paulista e a vaidade mineira prejudicaram definitivamente Uberaba. Depois inauguraram a ponte Afonso Pena, no rio Paranaíba, e Uberlândia se atirou comercialmente para Goiás. Os que eram fregueses de Uberaba passaram a ser de Uberlândia. O grande desenvolvimento de Uberlândia começou por volta de 1910 e Uberaba passou a perder a hegemonia. JU - Mesmo com esses golpes, Uberaba se manteve como polo do zebu. A riqueza de Uberaba passou a ser o zebu, que veio desde a década de 1870 e 1880 do século anterior e veio devagar. Os criadores não eram industriais. Os uberabenses é que descobriram a potencialidade do zebu. Foram os únicos que tiveram essa visão no mundo ocidental. O zebu já existia no Estado do Rio de Janeiro. Um uberabense viu, entusiasmou-se, trouxe, revendeu e recebeu novas encomendas. Nesse meio tempo, em São Paulo, surgiu um médico que desenvolveu campanha tremenda contra o zebu. Foi a nossa sorte. Isso inibiu os fazendeiros paulistas de descobrirem o zebu. JU - O que move uma população?
  • 70. 361 É o dinamismo econômico. Não adianta apenas ter vontade. Uberaba era polo econômico, era fluxo comercial e atraía muita gente, como Uberlândia passou a atrair. JU - A sociedade se mostra desanimada com a classe política diante de tantos escândalos de corrupção. Que avaliação o senhor faz? A corrupção existe por causa do financiamento de campanha. Os candidatos atendem ao que querem os grupos econômicos para garantir a reeleição e por aí vai. E a sociedade é corrupta. Os eleitos são um reflexo da sociedade. O povo reelege corruptos. Estou entre os que não querem votar mais. Votar para quê? Se os eleitos atendem a interesses dos grupos econômicos? Para governador de Minas vou anular meu voto, até porque sou favorável à emancipação do Triângulo. Pra senador também não voto mais. E para presidente da República também não. Depois do Lula não voto em mais ninguém. Quem governa não é o eleito, mas os grupos econômicos. Para deputado estadual e federal vou analisar. Já para prefeito e vereadores você conhece, tem como fazer a melhor escolha. E quem não vota em alguém por achar que ele não vai ganhar, comete uma estupidez. Esse é o chamado voto inconsciente. (Jornal de Uberaba, 25 novembro 2007, entrevista concedida à jornalista Rose Dutra )
  • 71. 362 SEGUNDO TURNO AUMENTA DEBATE O historiador Guido Bilharinho defende e aponta a importância de Uberaba manter possibilidade de segundo turno nas eleições de Bilharinho pontua que o segundo turno permite maior ressalta. O historiador garante ainda que o procedimento eleva a categoria da cidade. Com o segundo turno, a e do confusão no eleitorado menos culto, mais despolitizado. Ou mesmo aquele candidato que não tem chance e vai concorrer. No segundo turno, apenas os dois grupos mais fortes ficam frente a frente, é muito Bilharinho lembra que Uberaba chegou a sediar eleições municipais com oito candidatos, mesmo com um único turno, e garante que a tendência é pluralidade de concorrentes para o 1º turno do próximo ano. (Jornal da Manhã, Uberaba, 11 dezembro 2007, depoimento concedido à jornalista Faeza Resende)
  • 72. 363 DERROTA A inauguração do Centro de Cultura José Maria Barra e as reformas do Cine Teatro Vera Cruz, da Biblioteca Municipal e dos imóveis históricos da cidade foram, sem dúvida, fatos importantes na vida cultural de Uberaba, em 2007. Porém, a venda da coleção do jornal Lavoura e Comércio para uma universidade de Uberlândia, foi fato humilhante, que se sobrepôs a todas as conquistas. Ainda não sabemos se o material ficará na cidade ou não, mas perdemos a propriedade do nosso maior patrimônio, porque foi pouco o interesse das instituições, tanto públicas, quanto particulares, em dar lances para arrematar o acervo em leilão. São mais de 100 anos de história local registrados e não somos mais donos desse material. Para 2008, faço votos para que o uberabense seja mais participativo e assuma mais responsabilidades pelo patrimônio físico, históric (Jornal da Manhã, Uberaba, 23 dezembro 2007)
  • 73. 364 MEMÓRIA REVERENCIADA Foi em abril de 1962, por aprovação da Câmara de Vereadores e sanção do então prefeito Jorge Furtado, que a avenida Brasil tornou-se avenida Fidélis Reis. Na época, a lei 1.019, que consta nos documentos do Arquivo Público de Uberaba, determinou que a nova denominação guardasse as delimitações previstas, indo da praça Dr. Henrique Krüger até a praça Coronel Geraldino Rodrigues da Cunha. A partir dos anos 70, resultado de desapropriação amigável de antiga área de terra, a Fidélis Reis se estendeu então até a rua Gabriel Junqueira, atual delimitação. E não demorou. Foi no mesmo ano da morte do intelectual Fidélis Reis, filho de Uberaba, que por iniciativa de José Sexto Batista de Andrade, então presidente do Banco do Triângulo Mineiro, nasceu uma das principais artérias da cidade de Uberaba. A URBANIZAÇÃO DA FIDÉLIS REIS Dos tempos da avenida Brasil, ainda nos idos de 1945, o historiador Guido Bilharinho tem depoimento pessoal. Quando menino foi morador de uma das travessa -me que era mesmo um fundo de quintal, como as demais avenidas hoje traçadas em Uberaba, e o córrego a céu aberto era preocupação para as Reis aconteceu a partir da ca que o segundo quarteirão foi canalizado no governo de Arnaldo Rosa Prata, em 1971, porque na década de 1950 só havia uma construção
  • 74. 365 urbanização da avenida Fidélis Reis, junto com as demais avenidas da cidade, observa o historiador, representou o surgimento de novo modelo para as vias públicas de Uberaba, passando das ruas apertadas para espaços mais amplos. (Jornal de Uberaba, 29 junho 2008, depoimento prestado à jornalista Roseli Lara, )
  • 75. 366 SUBSTITUIÇÃO DE TELHAS DA IGREJA SANTA RITA O advogado e historiador Guido Bilharinho recorda que a igreja Santa Rita foi construída em 1854 por Cândido Justiniano de Lira Gama em cumprimento de promessa. A igreja de Santa Rita foi submetida em 1877 à ampliação por Manuel Joaquim de Barcelos, também em decorrência de promessa, sendo tombada em 1939 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional por solicitação de Gabriel Toti, nela operando-se em 1940 ampla reforma por iniciativa de Antônio Zeferino dos Santos. (Jornal de Uberaba, 14 outubro 2008, Igreja Santa Rita Causa Tra )
  • 76. 367 VOLTANDO NO TEMPO Historiador, escritor e advogado Guido Bilharinho é considerado um dos principais intelectuais da cidade. Memória Viva, como é chamado por muitos, não poderia ficar fora da comemoração de 85 anos da ACIU Do à Cidade das Sete Colinas , Uberaba com sua beleza transformou o Triângulo Mineiro em palco de Terra do Zebu vem merecendo destaque no cenário nacional. A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba, ACIU, com 85 anos de existência, é parte fundamental no desenvolvimento da cidade. Em entrevista à Associação, o historiador Guido Bilharinho conta como foi a criação da entidade no município e destaca pontos fortes da ACIU em relação ao desenvolvimento comercial e industrial de Uberaba. ACIU: Antes da década de 1920, Uberaba era eixo comercial e abastecia cidades de Goiás, Mato Grosso etc. Como estava a cidade do ponto de vista comercial e econômico quando a Associação foi fundada em nosso município? Na década de 1920, quando Uberaba já tinha perdido a condição de entreposto comercial, detinha ainda certa importância comercial,
  • 77. 368 como centro operacional da região que a circunda. A fundação da ACIU originou-se da necessidade de os comerciantes e industriais locais se organizarem tanto para a defesa de seus interesses específicos, quanto para lutar por conquistas para a cidade. Nesse sentido, a ACIU posicionou-se desde o primeiro momento, mantendo e ampliando posteriormente sua participação na coletividade local e regional. ACIU: Um dos grandes marcos na história da ACIU foi a chegada da estação de energia na cidade; com isso Uberaba passou a receber grandes indústrias, criando-se assim a cidade industrial. Como foi esse marco? O fornecimento de energia elétrica em Uberaba passou por três fases distintas. A primeira, com a criação da Empresa de Força e Luz de Uberaba, que inaugurou a eletricidade em 1905. A segunda, a partir de 1935, quando o Estado de Minas encampou esse serviço. A terceira, finalmente, em 1960, com transferência para a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) dos serviços de eletricidade do município, com a presença, na solenidade, de diretores da ACIU. A vinda da Cemig foi resultado de campanha liderada pela ACIU, sendo que, a partir daí, a cidade não mais sofreu os frequentes apagões ou quedas do fornecimento, além de ter ampliado consideravelmente a capacidade geradora instalada, propiciando a futura criação e instalação dos distritos industriais, ideia, aliás, já defendida na ACIU desde a década de 1950 sob a denominação de .
  • 78. 369 ACIU: Um ponto importante que podemos destacar foi a chegada da TV em Uberaba, tendo a ACIU lutado para essa conquista. Como foi? A Aciu sempre se posicionou como vanguarda na luta por conquistas para a cidade. Por isso, a grande conquista na área da comunicação, como a TV, não lhe seria, como não foi, indiferente, tendo suas diretorias na época se empenhado para mais essa conquista. ACIU: A implantação da Faculdade de Ciências Econômicas do Triângulo Mineiro fez da ACIU a pioneira e a única em Minas Gerais a criar uma faculdade. O que isso gerou na cidade? A criação da Faculdade de Ciências Econômicas constituiu um marco na história da cidade, tanto para enriquecer seu centro universitário, ampliando-o para área educacional inexistente então, quanto para contribuir para a ampliação dos horizontes econômicos do empresariado. Na época de sua fundação, Uberaba só tinha um economista, Paulo Vicente de Sousa Lima, por sinal comerciante, professor da Faculdade de Engenharia e o responsável pela organização e pelo projeto pedagógico da nova Escola. ACIU: A luta pela emancipação do Triângulo também havia marcado a história da ACIU. Uma forte campanha foi feita. Como isso aconteceu ? Uma das mais notáveis e consistentes campanhas para a emancipação do Triângulo foi encetada e dirigida, em 1968, pela
  • 79. 370 ACIU, juntamente com sua congênere de Uberlândia, que fundaram, com a participação de diversas entidades de classe da região, a UDET - União Para o Desenvolvimento e Emancipação do Triângulo, que desenvolveu consistente e empolgante campanha nesse sentido. ACIU: Qual a importância de uma associação do porte da ACIU para a cidade? Não se compreende, desde o início do século XX, uma cidade do porte de Uberaba sem sua Associação Comercial e Industrial, como também não se pode compreender e entender Uberaba sem a ACIU e toda a atividade, campanhas e conquistas em que se empenhou desde sua fundação. ACIU: Como historiador e morador da nossa cidade, o que podemos destacar nesses anos e o que precisa ser melhorado? Uma das conquistas da ACIU e de Uberaba foi a construção de sua sede própria. Além das campanhas vitoriosas que tiveram participação da ACIU, destaca-se sua permanente disposição e diretriz de se empenhar pelo progresso da cidade e da região. Já no que pode ser melhorado, é certo que todas as áreas de atividades da comunidade necessitam se desenvolver. No campo específico de atuação da ACIU, salienta-se como uma de suas lutas mais importantes, a ampliação do parque industrial da cidade. A atração de novos investimentos industriais para o município deve ser,
  • 80. 371 pois, preocupação (e ocupação) constante da ACIU, da Prefeitura e da Câmara. (Revista ACIU, edição comemorativa de 85 Anos da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Uberaba, novembro 2009, entrevista concedida à jornalista Ione Felizardo)