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LEPTOSPIROSE
Infectologia
Prof. Rodrigo Santana
Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais
FMRP-USP
INTRODUÇÃO
• Zoonose de distribuição mundial
• Doença infecciosa febril de início abrupto
• Homem: hospedeiro terminal e acidental
• Importante problema de saúde pública no Brasil
AGENTE ETIOLÓGICO
• Bactéria espiralada:
espiroqueta do gênero
Leptospira
• Aeróbia obrigatória
• Helicoidal
• Flexível
• Móvel (2 flagelos)
• Extremidades em forma
de gancho
AGENTE ETIOLÓGICO
• 2 espécies
• Leptospira interrogans (patogênica)
• Leptospira biflexa (saprófita)
• Individualizadas em sorotipos ou sorovares pelas suas
características antigênicas
• 2 ou mais sorovares antigenicamente relacionados formam um
sorogrupo
AGENTE ETIOLÓGICO
• L. interrrogans
• 19 sorogrupos
• 180 sorotipos
• Sorogrupos mais comuns:
• Icterohaemorrhagiae
• Pomona
• Canicola
• Grippotyphosa
Nova taxonomia genotípica: 14 espécies genômicas
Classificação
sorológica
AGENTE ETIOLÓGICO
• Pode sobreviver no meio externo por até 180 dias
• Principalmente água doce e solo úmido
• Ampla variedade de animais suscetíveis podem hospedar
o microrganismo
EPIDEMIOLOGIA
• Alta incidência em aglomerados urbanos
• Infra-estrutura sanitária inadequada
• Infestação de roedores
• Estações chuvosas e inundações
• Coeficiente de incidência média anual: 1,9/100.000
habitantes
• A letalidade das formas graves varia de 10 a 50%
EPIDEMIOLOGIA
• Doença de distribuição endêmica, com ocorrência em todos
os meses do ano
• Epidemias urbanas associadas a períodos chuvosos
• Surtos em regiões rurais (subnotificados)
EPIDEMIOLOGIA
• Doença de Notificação Compulsória
• 2004 a 2008
• 68.300 casos notificados
• 25,6% confirmados 
• 78,6% em homens
• 82,4% entre 15 e 59 anos
• 60% zona urbana
Sinan/SVS/MS, 2009
EPIDEMIOLOGIA
Fonte: www.saude.gov.br/svs
EPIDEMIOLOGIA
Fonte: www.saude.gov.br/svs
EPIDEMIOLOGIA
Fonte: www.saude.gov.br/svs
TRANSMISSÃO
• Principal reservatório: roedores sinantrópicos das espécies Rattus
norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou
rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita).
• Ao se infectarem, não desenvolvem a doença e tornam-se portadores,
albergando a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente e
contaminando água, solo e alimentos
• Outros reservatórios de importância são: caninos,suínos, bovinos, equinos,
ovinos, caprinos, animais silvestres
• Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e terminais dentro da
cadeia de transmissão.
TRANSMISSÃO
• Infecção humana
• Exposição direta ou indireta à urina de animais
infectados
•Penetração do microrganismo em pele lesada ou
mucosa da boca, narinas e olhos
• Pele íntegra quando imersa em água por longo tempo
• Contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados
• Ingestão de água e alimentos contaminados
• Transmissão acidental em laboratórios
TRANSMISSÃO
CONTATO COM URINA OU ÁGUA
CONTAMINADA
TRABALHO OU LAZER
ENCHENTES
TRANSMISSÃO
• Período de transmissibilidade
• Os animais infectados podem eliminar a leptospira através da urina
durante meses, anos ou por toda a vida, segundo a espécie animal
e o sorovar envolvido.
FISIOPATOGENIA
• A penetração da Leptospira
ocorre através das mucosas,
pele, ingestão ou aerossol
• Após invasão dissemina
através do sangue para todos
os órgãos, incluindo o SNC
• Lesão multiorgânica em casos graves
Conjuntivas
Aerossol
ou ingestão
Lesões em
pele ou
mucosas
FISIOPATOGENIA
Agressividade
da bactéria
Defesa do
Hospedeiro
FISIOPATOGENIA
• Fatores de virulência:
• Produção de endotoxinas (LPS)
• Sistema imune inato reconhece mal LPS da Leptospira
• Toxinas hemolíticas
• Superantígenos – causa ativação de células T
• Adesinas
• Hialuronidase
FISIOPATOGENIA
• Hospedeiro:
• Fatores genéticos – HLA DQ6 (susceptibilidade)
• Liberação de citocinas
• Imunocomplexos
• Resultado:
• Vasculite sistêmica mediada por citocinas e resposta inflamatória
• Suscetibilidade e imunidade
• A imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-específica
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Formas graves
Formas
assintomáticas/
oligossintomáticas
FORMAS CLÍNICAS
LEPTOSPIROSE – forma anictérica
• Período de incubação: 3 a 14 dias
• Evolução geralmente bifásica (gravidade variável)
• Fase de leptospirosemia: 3 a 7d
•Febre, calafrios, cefaléia, mialgia, artralgia,
náuseas e vômitos, tosse seca ou produtiva,
exantema macular ou maculo-papular.
• Defervescência em lise: 1 a 2d
• Fase Imune: 4 a 30 d
•Febre, meningismo, uveíte anterior e/ou
posterior, paralisia de nervos cranianos.
• Detecção de anticorpos específicos, leptospirúria.
• Duração: 1 a 4 semanas
LEPTOSPIROSE – forma ictérica
• Evolução monofásica  Gravidade é elevada.
• Sintomas descritos anteriormente
• Maior intensidade
• + Icterícia rubínica (coloração alaranjada)
• Sinais de Gravidade comuns:
• Insuficiência renal
• Manifestações hemorrágicas
• Duração: 3 a 4 sem
SÍNDROME DE WEIL – forma icterohemorrágica
• Icterícia rubínica (colestase)
• Insuficiência renal aguda (nefrite tubulointersticial)
• Fenômenos hemorrágicos:
• Devido a vasculite sistêmica, agravada pela plaquetopenia
• Petéquias e equimoses em pele e mucosa
• Hemorragia pulmonar
• Hemorragia TGI alta/baixa
• Hematêmese, melena, enterorragia
• Comprometimento cardíaco:
• Miocardite
• Alterações eletrocardiográficas
Tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragias (pulmonar)
Indicam gravidade
Internação hospitalar
PERFIL LABORATORIAL
• Hemograma: anemia, leucocitose com desvio a esquerda,
plaquetopenia
• Transaminases normais ou elevadas
• Aumento bilirrubinas (direta)
• CPK elevada
• Aumento de uréia e creatinina
• Potássio sérico normal ou diminuído
• Reduzida reabsorção de sódio (perda de canais de sódio no epitélio tubular
proximal), aumento do aporte distal, perda de potássio
• TP alargado, fibrinogênio elevado
• Urina rotina:
• Leucocitúria, proteinúria, cilindrúria
• Gasometria arterial: acidose metabólica e hipoxemia
DIAGNÓSTICO
• Suspeição clínica e epidemiológica
• Antecedente de contato com ratos
• Exposição a enchentes ou animais
• Icterícia rubínica
• Mialgia na panturrilha
• Petéquias conjuntivais
• Exames gerais
• Bilirrubina direta muito elevada e TGO/TGP pouco elevadas/normal
• Uréia e creatinina elevadas com K+ baixo
• Plaquetopenia
• Leucocitose com desvio à esquerda
• Tempo de protrombina alargado
EXAMES CONFIRMATÓRIOS
• Fase precoce
• Leptospiras podem ser
visualizadas no sangue
por meio de exame
direto, cultura em meios
apropriados, PCR
• Fase tardia
• Leptospiras podem ser
encontradas na urina,
cultivadas ou inoculadas
Depende
da fase
evolutiva
DIAGNÓSTICO
• Métodos sorológicos: melhor alternativa
• Reação de microaglutinação - padrão-ouro
• Detecta os sorovares. O aumento de 4 vezes ou mais nos títulos
de anticorpos confirma o diagnóstico.
• Alta sensibilidade
• Títulos maiores que 1:800
• Reação de macroaglutinação - mais acessível
• Ideal coletar a partir do 7º dia de doença.
• Menos sensível, rápida execução
• Teste de Elisa IgM
• Detecção a partir do 7º dia de doença. Permanece positivo por 1
a 2 meses
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
FORMAS ANICTÉRICAS
• Dengue;
• Influenza (síndrome gripal);
• Malária;
• Riquetsioses;
• Doença de Chagas aguda;
• Toxoplasmose;
• Febre tifóide;
• Meningites
FORMAS ICTÉRICAS/ GRAVES
• Hepatites virais agudas;
• Febre amarela;
• Sepse;
• Dengue (FHD)
• Colangites
• Malária (formas graves)
TRATAMENTO
Antibioticoterapia está indicada em qualquer período da
doença, mas sua eficácia é maior na 1ª semana do início
dos sintomas
TRATAMENTO
• Doxiciclina
• Amoxicilina
• Penicilina G cristalina
• Ampicilina
• Ceftriaxone
• Cefotaxima
FORMAS
MODERADAS
FORMAS
GRAVES
O tempo de tratamento é de 7 a 10 dias
TRATAMENTO
• Hidratação vigorosa EV (SF 0,9% ou Ringer)
• Furosemida se disfunção renal oligúrica
• Reposição de K+ se hipocalemia
• Terapia renal substitutiva, se necessário
• Assistência ventilatória, se necessário
• Transfusão de hemácias e plaquetas, se
necessário
PREVENÇÃO
• Controle de reservatórios
• Melhora de infra-estrutura
• Educação em saúde
• EPI para profissionais expostos
• Vacinação de animais
• Profilaxia
• Doxiciclina 200mg VO 1x/semana
• Exposição de risco
VACINA
• Animais
• Imunogenicidade limitada a alguns meses (2 doses/ano)
• Previne a doença e não o estado de portador
• Humanos
• Imunidade serovar-específica dificulta o desenvolvimento de
vacinas para humanos
CASO CLÍNICO
CASO CLÍNICO
• ID: F.J.A., 28 anos, sexo masculino, andarilho, solteiro,
natural e procedente de Ribeirão Preto, negro.
• QD: febre e dor no corpo há 1 semana
• HMA: Paciente relata há 1 semana quadro de dor de
garganta e tosse seca. Febre diária não aferida sem
horário preferencial, associada a mialgia intensa,
principalmente em panturrilhas, artralgia, hiporexia e
diminuição de diurese. Houve 2 episódios de vômitos
após crise de tosse e 3 episódios de escarro com
sangue. Refere epistaxe de moderada intensidade nas
últimas 48 horas. Dispneia de evolução progressiva.
CASO CLÍNICO
• AP: Ferimento por arma de fogo - laparotomia
exploradora em 1998, nega comorbidades, usuário de
crack desde 1992, tabagista (10 anos/maço), nega
etilismo, nega atividade sexual atual, anterior com uso de
preservativo.
• Antecedentes sociais: há 8 meses deixou detenção, onde
esteve por 3 anos. Atualmente morador de rua, trabalha
com recicláveis.
• AF: não sabe informar.
CASO CLÍNICO
• Ao exame: MEG, desidratado (2+/4), descorado (2+/4), febril
ao toque, ictérico (2+/4) – rubínica.
• Oroscopia: orofaringe com hiperemia em palato, sem placas.
• Pele: petéquias e equimoses.
• AR: MV+, sim, com estertores crepitantes em base D. FR:
28irpm.
• ACV: 2BRNF, sem sopros. FC: 130 bpm. PA: 80x60. TEC < 3
seg.
• Abdome: plano, RHA+ e hipoativos, doloroso à palpação
superficial difusamente. Fígado no RCD, traube livre.
• MMII: sem edema, panturrilhas livres. Dor intensa à palpação
de panturrilhas.
• Neurológico: Glasgow 15, sem déficits focais.
EXAMES COMPLEMENTATES
• HMG: Hb: 10,2/ Ht: 33/ VCM: 90/ GB: 18.800/ B: 7%/ N:
14000/ L: 1200/ Plaquetas: 14000
• Cr: 3,4/ Ur: 70/ Na: 149/ K: 3,4
• TGO: 110/ TGP: 96
• BT: 9,4/ BD: 7,5
EXAMES COMPLEMENTARES
• Sorologia para Leptospirose:
• 1ª amostra: Elisa IgM não reagente, teste de soroaglutinação
microscópica não reagente
• 2 ª amostra: Elisa IgM reagente, teste de soroaglutinação
microscópica reagente para os sorovares:
• Icterohaemorrhagiae 1/3200
• Copenhageni 1/6400
• Australis 1/400
• Pyrogenes 1/3200
• Autumnalis 1/800

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  • 1. LEPTOSPIROSE Infectologia Prof. Rodrigo Santana Divisão de Moléstias Infecciosas e Tropicais FMRP-USP
  • 2. INTRODUÇÃO • Zoonose de distribuição mundial • Doença infecciosa febril de início abrupto • Homem: hospedeiro terminal e acidental • Importante problema de saúde pública no Brasil
  • 3. AGENTE ETIOLÓGICO • Bactéria espiralada: espiroqueta do gênero Leptospira • Aeróbia obrigatória • Helicoidal • Flexível • Móvel (2 flagelos) • Extremidades em forma de gancho
  • 4. AGENTE ETIOLÓGICO • 2 espécies • Leptospira interrogans (patogênica) • Leptospira biflexa (saprófita) • Individualizadas em sorotipos ou sorovares pelas suas características antigênicas • 2 ou mais sorovares antigenicamente relacionados formam um sorogrupo
  • 5. AGENTE ETIOLÓGICO • L. interrrogans • 19 sorogrupos • 180 sorotipos • Sorogrupos mais comuns: • Icterohaemorrhagiae • Pomona • Canicola • Grippotyphosa Nova taxonomia genotípica: 14 espécies genômicas Classificação sorológica
  • 6. AGENTE ETIOLÓGICO • Pode sobreviver no meio externo por até 180 dias • Principalmente água doce e solo úmido • Ampla variedade de animais suscetíveis podem hospedar o microrganismo
  • 7. EPIDEMIOLOGIA • Alta incidência em aglomerados urbanos • Infra-estrutura sanitária inadequada • Infestação de roedores • Estações chuvosas e inundações • Coeficiente de incidência média anual: 1,9/100.000 habitantes • A letalidade das formas graves varia de 10 a 50%
  • 8. EPIDEMIOLOGIA • Doença de distribuição endêmica, com ocorrência em todos os meses do ano • Epidemias urbanas associadas a períodos chuvosos • Surtos em regiões rurais (subnotificados)
  • 9. EPIDEMIOLOGIA • Doença de Notificação Compulsória • 2004 a 2008 • 68.300 casos notificados • 25,6% confirmados  • 78,6% em homens • 82,4% entre 15 e 59 anos • 60% zona urbana Sinan/SVS/MS, 2009
  • 13. TRANSMISSÃO • Principal reservatório: roedores sinantrópicos das espécies Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita). • Ao se infectarem, não desenvolvem a doença e tornam-se portadores, albergando a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente e contaminando água, solo e alimentos • Outros reservatórios de importância são: caninos,suínos, bovinos, equinos, ovinos, caprinos, animais silvestres • Os seres humanos são apenas hospedeiros acidentais e terminais dentro da cadeia de transmissão.
  • 14. TRANSMISSÃO • Infecção humana • Exposição direta ou indireta à urina de animais infectados •Penetração do microrganismo em pele lesada ou mucosa da boca, narinas e olhos • Pele íntegra quando imersa em água por longo tempo • Contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados • Ingestão de água e alimentos contaminados • Transmissão acidental em laboratórios
  • 15. TRANSMISSÃO CONTATO COM URINA OU ÁGUA CONTAMINADA TRABALHO OU LAZER ENCHENTES
  • 16. TRANSMISSÃO • Período de transmissibilidade • Os animais infectados podem eliminar a leptospira através da urina durante meses, anos ou por toda a vida, segundo a espécie animal e o sorovar envolvido.
  • 17. FISIOPATOGENIA • A penetração da Leptospira ocorre através das mucosas, pele, ingestão ou aerossol • Após invasão dissemina através do sangue para todos os órgãos, incluindo o SNC • Lesão multiorgânica em casos graves Conjuntivas Aerossol ou ingestão Lesões em pele ou mucosas
  • 19. FISIOPATOGENIA • Fatores de virulência: • Produção de endotoxinas (LPS) • Sistema imune inato reconhece mal LPS da Leptospira • Toxinas hemolíticas • Superantígenos – causa ativação de células T • Adesinas • Hialuronidase
  • 20. FISIOPATOGENIA • Hospedeiro: • Fatores genéticos – HLA DQ6 (susceptibilidade) • Liberação de citocinas • Imunocomplexos • Resultado: • Vasculite sistêmica mediada por citocinas e resposta inflamatória • Suscetibilidade e imunidade • A imunidade adquirida pós-infecção é sorovar-específica
  • 23. LEPTOSPIROSE – forma anictérica • Período de incubação: 3 a 14 dias • Evolução geralmente bifásica (gravidade variável) • Fase de leptospirosemia: 3 a 7d •Febre, calafrios, cefaléia, mialgia, artralgia, náuseas e vômitos, tosse seca ou produtiva, exantema macular ou maculo-papular. • Defervescência em lise: 1 a 2d • Fase Imune: 4 a 30 d •Febre, meningismo, uveíte anterior e/ou posterior, paralisia de nervos cranianos. • Detecção de anticorpos específicos, leptospirúria. • Duração: 1 a 4 semanas
  • 24. LEPTOSPIROSE – forma ictérica • Evolução monofásica  Gravidade é elevada. • Sintomas descritos anteriormente • Maior intensidade • + Icterícia rubínica (coloração alaranjada) • Sinais de Gravidade comuns: • Insuficiência renal • Manifestações hemorrágicas • Duração: 3 a 4 sem
  • 25. SÍNDROME DE WEIL – forma icterohemorrágica • Icterícia rubínica (colestase) • Insuficiência renal aguda (nefrite tubulointersticial) • Fenômenos hemorrágicos: • Devido a vasculite sistêmica, agravada pela plaquetopenia • Petéquias e equimoses em pele e mucosa • Hemorragia pulmonar • Hemorragia TGI alta/baixa • Hematêmese, melena, enterorragia • Comprometimento cardíaco: • Miocardite • Alterações eletrocardiográficas Tríade de icterícia, insuficiência renal e hemorragias (pulmonar)
  • 26.
  • 28. PERFIL LABORATORIAL • Hemograma: anemia, leucocitose com desvio a esquerda, plaquetopenia • Transaminases normais ou elevadas • Aumento bilirrubinas (direta) • CPK elevada • Aumento de uréia e creatinina • Potássio sérico normal ou diminuído • Reduzida reabsorção de sódio (perda de canais de sódio no epitélio tubular proximal), aumento do aporte distal, perda de potássio • TP alargado, fibrinogênio elevado • Urina rotina: • Leucocitúria, proteinúria, cilindrúria • Gasometria arterial: acidose metabólica e hipoxemia
  • 29. DIAGNÓSTICO • Suspeição clínica e epidemiológica • Antecedente de contato com ratos • Exposição a enchentes ou animais • Icterícia rubínica • Mialgia na panturrilha • Petéquias conjuntivais • Exames gerais • Bilirrubina direta muito elevada e TGO/TGP pouco elevadas/normal • Uréia e creatinina elevadas com K+ baixo • Plaquetopenia • Leucocitose com desvio à esquerda • Tempo de protrombina alargado
  • 30. EXAMES CONFIRMATÓRIOS • Fase precoce • Leptospiras podem ser visualizadas no sangue por meio de exame direto, cultura em meios apropriados, PCR • Fase tardia • Leptospiras podem ser encontradas na urina, cultivadas ou inoculadas Depende da fase evolutiva
  • 31. DIAGNÓSTICO • Métodos sorológicos: melhor alternativa • Reação de microaglutinação - padrão-ouro • Detecta os sorovares. O aumento de 4 vezes ou mais nos títulos de anticorpos confirma o diagnóstico. • Alta sensibilidade • Títulos maiores que 1:800 • Reação de macroaglutinação - mais acessível • Ideal coletar a partir do 7º dia de doença. • Menos sensível, rápida execução • Teste de Elisa IgM • Detecção a partir do 7º dia de doença. Permanece positivo por 1 a 2 meses
  • 32. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL FORMAS ANICTÉRICAS • Dengue; • Influenza (síndrome gripal); • Malária; • Riquetsioses; • Doença de Chagas aguda; • Toxoplasmose; • Febre tifóide; • Meningites FORMAS ICTÉRICAS/ GRAVES • Hepatites virais agudas; • Febre amarela; • Sepse; • Dengue (FHD) • Colangites • Malária (formas graves)
  • 33. TRATAMENTO Antibioticoterapia está indicada em qualquer período da doença, mas sua eficácia é maior na 1ª semana do início dos sintomas
  • 34. TRATAMENTO • Doxiciclina • Amoxicilina • Penicilina G cristalina • Ampicilina • Ceftriaxone • Cefotaxima FORMAS MODERADAS FORMAS GRAVES O tempo de tratamento é de 7 a 10 dias
  • 35. TRATAMENTO • Hidratação vigorosa EV (SF 0,9% ou Ringer) • Furosemida se disfunção renal oligúrica • Reposição de K+ se hipocalemia • Terapia renal substitutiva, se necessário • Assistência ventilatória, se necessário • Transfusão de hemácias e plaquetas, se necessário
  • 36. PREVENÇÃO • Controle de reservatórios • Melhora de infra-estrutura • Educação em saúde • EPI para profissionais expostos • Vacinação de animais • Profilaxia • Doxiciclina 200mg VO 1x/semana • Exposição de risco
  • 37. VACINA • Animais • Imunogenicidade limitada a alguns meses (2 doses/ano) • Previne a doença e não o estado de portador • Humanos • Imunidade serovar-específica dificulta o desenvolvimento de vacinas para humanos
  • 39. CASO CLÍNICO • ID: F.J.A., 28 anos, sexo masculino, andarilho, solteiro, natural e procedente de Ribeirão Preto, negro. • QD: febre e dor no corpo há 1 semana • HMA: Paciente relata há 1 semana quadro de dor de garganta e tosse seca. Febre diária não aferida sem horário preferencial, associada a mialgia intensa, principalmente em panturrilhas, artralgia, hiporexia e diminuição de diurese. Houve 2 episódios de vômitos após crise de tosse e 3 episódios de escarro com sangue. Refere epistaxe de moderada intensidade nas últimas 48 horas. Dispneia de evolução progressiva.
  • 40. CASO CLÍNICO • AP: Ferimento por arma de fogo - laparotomia exploradora em 1998, nega comorbidades, usuário de crack desde 1992, tabagista (10 anos/maço), nega etilismo, nega atividade sexual atual, anterior com uso de preservativo. • Antecedentes sociais: há 8 meses deixou detenção, onde esteve por 3 anos. Atualmente morador de rua, trabalha com recicláveis. • AF: não sabe informar.
  • 41. CASO CLÍNICO • Ao exame: MEG, desidratado (2+/4), descorado (2+/4), febril ao toque, ictérico (2+/4) – rubínica. • Oroscopia: orofaringe com hiperemia em palato, sem placas. • Pele: petéquias e equimoses. • AR: MV+, sim, com estertores crepitantes em base D. FR: 28irpm. • ACV: 2BRNF, sem sopros. FC: 130 bpm. PA: 80x60. TEC < 3 seg. • Abdome: plano, RHA+ e hipoativos, doloroso à palpação superficial difusamente. Fígado no RCD, traube livre. • MMII: sem edema, panturrilhas livres. Dor intensa à palpação de panturrilhas. • Neurológico: Glasgow 15, sem déficits focais.
  • 42. EXAMES COMPLEMENTATES • HMG: Hb: 10,2/ Ht: 33/ VCM: 90/ GB: 18.800/ B: 7%/ N: 14000/ L: 1200/ Plaquetas: 14000 • Cr: 3,4/ Ur: 70/ Na: 149/ K: 3,4 • TGO: 110/ TGP: 96 • BT: 9,4/ BD: 7,5
  • 43.
  • 44. EXAMES COMPLEMENTARES • Sorologia para Leptospirose: • 1ª amostra: Elisa IgM não reagente, teste de soroaglutinação microscópica não reagente • 2 ª amostra: Elisa IgM reagente, teste de soroaglutinação microscópica reagente para os sorovares: • Icterohaemorrhagiae 1/3200 • Copenhageni 1/6400 • Australis 1/400 • Pyrogenes 1/3200 • Autumnalis 1/800