Este plano de aula visa fazer com que alunos do 6o ano reflitam sobre a identidade indígena atual, rompendo com visões estereotipadas. Inclui atividades como discussão em grupo sobre o modo de vida indígena, análise de um vídeo sobre a cultura Tupinambá e leitura de depoimentos indígenas. O objetivo é mostrar como a identidade indígena engloba tanto elementos culturais tradicionais quanto aspectos da sociedade nacional, sendo dinâmica e plural.
1. Plano de aula
Ensino Fundamental
6º ano
Juliana de Oliveira Campos 7199461
Thais de Almeida Bessa 6471077
2. Sequência didática:
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Objetivo:
Visamos fazer com que alunos do 6º ano (11 e 12 anos
aproximadamente) reflitam acerca do que é ser índio atualmente. Até então
muitos deles possuem uma visão idealizada ou enviesada das populações
indígenas brasileiras. O intuito é romper com a ideia que perpetua no
imaginário de muitos do índio apenas como aquele como indivíduo que mora
na floresta, e que sobrevive por meio da caça, pesca e coleta, bem como
introduzir o conceito de aculturação.
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Atividade 1: Propor uma discussão em grupo partindo do conhecimento
prévio deles do que é o indígena atualmente
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Atividade 2: Apresentar aos alunos o curta metragem “Somos Tupinambá”
e suscitar questões que os façam refletir sobre a aculturação indígena.
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Atividade 3: Apresentar depoimentos indígenas que mostrem o modo de
vida deles, como vivem nas comunidades, e participar de uma vivência que
os aproxime de algum modo de alguma experiência relatada nos
depoimentos.
3. O que é ser índio?
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O professor deve propor aos alunos que formem grupos e
discutam entre si qual a imagem lhes veem a mente quando
pensam nos índios que vivem no Brasil atualmente. Como eles
se vestem, que língua falam, como vivem, onde vivem etc.
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Feita a discussão, um representante do grupo deve dizer quais
foram as impressões do grupo sobre o tema.
4. SOMOS TUPINAMBÁ
Após o exercício, o vídeo “Somos Tupinambás” produzido pelos
participantes da Oca Digital -projeto que promove oficinas de
arte e tecnologia para comunidades indígenas -, será
apresentado.
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http://www.youtube.com/watch?v=UL6kCQpBq_I (link para o
vídeo)
Os alunos deverão observar e descrever as pessoas que
aparecem no vídeo. Que roupas usam? Que línguas falam? Em
que ambiente estão? Quais instrumentos musicais utilizam? Etc.
5. Identidade Indígena
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Levantadas essas questões, o professor deve discorrer sobre o dinamismo da cultura
indígena – que se modifica de acordo com o tempo, contexto, região etc. Assim como
ocorre com qualquer outra cultura, uma vez que tal dinamismo faz parte da condição
humana. Feito isso, o professor deverá, então, encaminhar a discussão para a seguinte
questão:
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Se o que define o ser índigena não é sua condição de isolamento em relação ao restante da
sociedade não-indígena, se os indígenas não estão “parados no tempo” vivendo da forma
que viviam quando os primeiros europeus chegaram à América, o que confere a um índio a
sua identidade?
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Para se pensar essa questão, um depoimento retirado do livro “Somos todos patrimônio,
índios na visão dos índios” – disponível para download no site:
http://www.indioeduca.org/?p=759 – deve ser lido e analisado em sala de aula.
6. SOMOS TUPINAMBÁ
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Feito o exercício os alunos devem, novamente em conjunto,
comparar as suas primeiras descrições sobre o indígena
brasileiro (feitas antes de assistirem ao vídeo) com as
descrições feitas sobre os indígenas retratados no vídeo.
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Um representante do grupo deve destacar as semelhanças e
diferenças, encontradas pelo grupo, entre a imagem que
faziam do indígena e a imagem que foi vista no vídeo “Somos
Tupinambá”
7. Depoimentos
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Depoimento de Maria Pankararu, da aldeia Pankararu, Pernambuco.
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“Quando adolescente sempre me causava algum espanto me deparar com algum pesquisador na aldeia. Não
conseguia entender o que os deixavam tão interessados na nossa rotina, a querer tomar banho na bica, a
experimentar nossa comida, a conhecer nossas festas. Não conseguia enxergar o diferente! Na aldeia,
compartilhávamos todos das mesmas crenças, valores, da mesma condição étnica. Somente mais tarde descobri
que a diferença não estava entre nós Pankararu, mas entre nosso povo e outros povos, entre nós e a sociedade
nacional, tendo em vista as características muito específicas do meu povo: a nossa visão cosmológica, nossa
organização social, nossos rituais e outros comportamentos culturais essencialmente Pankararu.Nossa
comunidade está localizada no alto sertão pernambucano, nos municípios de Tacaratu,Petrolândia e Jatobá, com
uma população estimada em oito mil indivíduos. Devido ao longo e contínuo contato com a sociedade nacional,
muitos traços de nossa cultura foram se perdendo, mas muitos ainda permanecem e são constantemente
fortalecidos na nossa prática social. Para alguns, minha aldeia pode, à primeira vista, não parecer uma aldeia: as
residências são de alvenaria, com instalação elétrica, banheiros e água encanada das nascentes. Esses elementos
foram sendo incorporados paulatinamente pelos Pankararu e funcionam precariamente, pois são advindos por
empenho pessoal ou familiar, como a canalização da água, ou de projetos governamentais que não conseguem
atender toda demanda Pankararu, como a energia elétrica distribuída na comunidade.
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O comportamento social também se confunde em muitos aspectos com o comportamento de comunidades não
indígenas: os jovens curtem axé music, brega e outros gêneros tocados nas rádios e apresentados na TV. É comum
a alegria por um time de futebol carioca ou paulista e ainda outros comportamentos nacionais incorporados no
nosso dia a dia (...)Nós somos fervorosos nas nossas convicções religiosas. Fomos catequizados por missionários
católicos. Por isso, acreditamos firmemente na existência e proteção de Deus. Assim como temos nossas fortes
convicções cristãs, temos nossas fortes convicções na religião indígena Pankararu. Toda a nossa vivência é
mediada pela crença em Deus e pela crença na Força Encantada. Assim, como vamos à missa, com igual fervor e
compromisso vamos aos terreiros onde são realizadas as festas, as danças tradicionais Pankararu.
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Temos vários rituais e estes acontecem com muita frequência na comunidade. A organização em núcleos
familiares favorece os encontros diários para rezar, fumar cachimbo, agradecer e pedir proteção e bênçãos a Deus
e aos Encantados que, em nossas festas ou rituais, são representados pelos praiás. Estes são homens que se
vestem de roupas de caroá e que dançam nos terreiros ao som do maracá e melodias chamadas de toantes,
cantadas por um homem ou mulher que chamamos de cantador (a)”
8. Identidade Indígena
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Tendo em vista a questão “o que confere a identidade dos Pankararu?” o depoimento deve servir de
apoio para algumas possíveis repostas.
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Cabe ao professor enfatizar a questão da vida em comunidade, da preservação de valores antigos - como
a religião da Força Encantada, as festas, danças no terreiro -e também, a incorporação por parte da aldeia
de elementos da sociedade nacional – como as casas de alvenaria, a prática religiosa cristã, ritmos
musicais como o axé.
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O professor deverá enfatizar como todos esses elementos constituem a identidade dos Pankararu não
existindo um mais legítimo - “mais puro” - que outro.
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Aqui cabe ao professor discorrer sobre as diversas identidades indígenas e as diferenças entre elas bem
como a diferença entre as comunidades indígenas e não-indígenas.
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Para se “concluir” a questão da identidade indígena, será lido o depoimento de Aracy Tupinambá sobre o
que é ser indígena para ela, disponível no endereço: http://www.indioeduca.org/?p=1713
9. Depoimentos
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Depoimento de Aracy Tupinambá, intitulado Você é Indígena
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“Lembro da primeira vez que me perguntaram isso, eu tinha oitos anos, estava na escola brincando e acabei cortando meu
joelho. Encontrei próxima a mim uma erva que servia para cicatrização, lavei e coloquei no pequeno ferimento.
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Uma coleguinha da mesma idade me olhava assustada e perguntou curiosa: “você é índia? Como sabe que essa planta serve
para isso?” Indagou-me. Eu falei que minha avó conhecia as plantas, sempre fazia remédio para as pessoas, gostava de
cuidar das pessoas e também rezava as pessoas para elas não ficarem doentes.
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Naquela época eu não entendia muito bem porque as pessoas sempre ficavam surpresas com essa informação, de ser
indígena, mestiça ou não. Eu me perguntava porque havia algo diferente no meu mundo que de alguma forma não parecia
ser o mesmo mundo dessas pessoas. Porque ficavam tão surpresas? Era sempre motivo de alguma brincadeira ou comoção
geral. Vivi grande parte da minha infância e pré-adolescência camuflada na multidão da cidade, mas mesmo assim às vezes
surgia essa mesma pergunta: “você é indígena?”, e outras como: “Você é mestiça? Alguém é índio na sua família?”.
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Na escola me ensinavam como eram os índios, o que comiam, como viviam e todas essas coisas. Havia sempre alguma piada
relacionada à nudez ou aos nossos rituais sagrados. Quando falavam sobre pajelança, parecia tão distante da realidade,
sempre algo muito afastado do mundo deles e para mim sempre algo muito próximo, eu acabava corrigindo alguns
professores e nesse momento percebiam minha identidade.
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Pensando nisso que resolvi escrever esse texto, afinal o que é ser indígena?
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Para o não índio é totalmente diferente, a imagem estereotipada ainda prevalece em muitas mentes, como desconstruir
isso? Somos motivo de encanto, fascínio e medo. Caminhamos lado a lado nas ruas da cidade e ainda assim somos
desconhecidos por essa sociedade. Fazemos parte do mesmo país embora tenhamos diferentes culturas, estamos em todos
os lugares, em comunidades ou cidades, carregando no sangue o canto da nossa nação. Não é possível compreender o que é
ser indígena, olhando no museu nossos objetos sagrados, nossas fotos, nossas roupas, grafismos, instrumentos, cerâmica,
artesanato ou buscando uma pureza racial dos livros de historia. É preciso vivenciar.
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Nas salas de aula ao professor é dado esse desafio, nossa educação é através do exemplo, da vivência. Assim educamos e
somos educados em nossos dia a dia. É impossível para os alunos compreender o valor de uma cultura sem vivência-lá. O
aluno deve primeiramente compreender que ela não está afastada geograficamente, que ela não vive apenas em um lugar e
que ela se transforma, não é imutável e sim viva. Ela não é uma cultura, mais muitas culturas e que não somos um povo,
mais muitos povos.”
10. Proposta de OFICINA
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Após a leitura do depoimento de Aracy Tupinambá, o professor deve propor em sala
de aula uma oficina, uma vivência, que permita conhecer melhor a cultura indígena,
tal como foi recomendado por Aracy.
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Para isso, relizar-se-á a leitura de outro depoimento, de Cícero Brasilino Truká da Ilha
de Cabrobró (PE), sobre a importância, na sua aldeia, da relação dos jovens com os
mais velhos para a aprendizagem de valores, tradições etc.
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“Eu aprendi com os mais velhos. Tudo que a gente sabe aqui dentro da aldeia, é
aprendido com os mais velhos. O Toré é muito importante para nós. O Toré é cantado
e vai de 6 horas da noite, até 7 horas da manhã, a gente passa a noite todinha
balançando o maracá, e bebendo a água da jurema. E a gente não cansa. No outro dia
tá todo mundo alegre, e tá todo mundo satisfeito. Se por acaso entra uma pessoa com
a cabeça doendo, no outro dia tá curado, por causa da força dos Encantos e a vontade
que a gente tem de trabalhar. Tudo que eu aprendi, tudo que hoje eu sei fazer, eu
agradeço aos nossos mais velho, porque se não fosse eles, a gente não sabia de nada,
e agradeço aos Encantados porque eles têm que aluminar nós para nós saber onde é
que a gente vai entrar”
11. Proposta de OFICINA
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Tendo em vista a leitura desse último depoimento, o professor
deve propor aos alunos que, em casa, conversem com seus
avós, vizinhos, ou conhecidos mais velhos e peçam a eles para
que os ensinem algo que eles considerem de grande
importância (ex. uma receita, uma história, um ofício, uma
piada etc.).
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Feito isso, os alunos devem trazer esses aprendizados para a
sala de aula para, em uma dinâmica de grupo, compartilhar
aquilo que apreendeu com os colegas.
12. Proposta de OFICINA
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O objetivo do exercício é fazer com que os alunos tenham
contato com uma realidade que não a deles. E a partir disso,
perceberem o que há de diferente e de comum entre práticas
culturais de diferentes pessoas. Dessa forma, ele irá perceber
o que há de semelhante e diferente não só entre a cultura
dele e a dos indígenas mas entre a sua cultura e a dos seus
colegas, entre a sua cultura e de outras gerações, trazendo à
tona a questão da alteridade – que é inerente ao ser humano
– e que é, ao mesmo tempo, o que todas as culturas têm em
comum.
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A oficina deverá, portanto, cumprir o papel de mostrar as
múltipas identidades que coexistem e a forma como elas se
alteram, se modificam, de acordo com uma série de fatores.
Daí, entender a impossibilidade de se pensar em identidades
como fixas, imútaveis e únicas.
13. Conclusão
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Por fim, será proposto que os alunos digam qual é a
identidade que eles consideram que é a deles – exercício esse
que caminhará para a conclusão de que a nossa identidade
está muito mais vinculada àquilo que reivindicamos como
nossa identidade do que a traços fisícos, ao local de
nascimento etc.
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E que, portanto, ser indígena tem muito mais a ver com
reconhecer e reivindicar sua identidade indígena do que
cumprir uma série de critérios pré-estabelecidos como viver
isolado na mata, sobreviver por meio da caça, coleta e pesca,
preservar tradições oriundas da época pré-colonial etc.
14. Anexo
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“No Brasil, a poderosa imagem de povos isolados e primitivos,
com seu suposto apego ferrenho à natureza e à liberdade,
permanece como obstáculo para a conceitualização e a
compreensão dos múltiplos processos de transformação
étnica que tornam a história do Brasil um desafio permanente
para sucessivas gerações” John Manuel Monteiro, ARMAS E
ARMADILHAS, História e Resistência dos índios, p. 248.
15. Bibliografia, leituras, vídeos e sites
recomendados
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010.
CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1992.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Escritos Coligidos. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
Monteiro, John Manuel. Armas e Armadilhas, História e Resistência dos índios. São Paulo: Cia das
Letras/ minc – funarte. 1999.
SILVA, Adriane Costa da. Versões didáticas da história indígena. São Paulo: Dissertação de mestrado
apresentada à FEUSP, 2000.
SPOSITO, Fernanda. Nem cidadãos, nem brasileiros. Indígenas na formação do Estado nacional
brasileiro e conflitos na província de São Paulo (1822-1845). São Paulo: Editora Alameda, 2012.
http://lemad.fflch.usp.br/
http://www.indioeduca.org
http://ocadigital.art.br
http://www.funai.gov.br
http://vimeo.com/11283052 - curta metragem: indígenas digitais - sobre a apropriação, por parte
de uma aldeia, dos meios digitais para propagar sua cultura.