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Letras em dia, Português, 10.° ano
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Educação Literária
Fernão Lopes, Crónica de D. João I
Lê o excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.
«Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender,
quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.»
E nom soomente os que eram assiinados1 em cada logar pera defesom, mas ainda as outras
gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações deles;
e os mesteiraes2 dando folgança a seus oficios3, logo todos com armas corriam rijamente pera
u4 diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas
trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando
fouteza contra seus ẽmigos.
Nom curavom5 entom do texto que diz: «Que mais ajuda a egreja o reino com suas orações,
que os cavaleiros com as armas»; nom se guardava6 ali a degratal7: «Clerici arma portantes»8,
aos quaes segundo dereito nom convem de tomar armas, posto que seja pera defensom da terra;
mas clerigos e frades, especialmente da Trindade, logo eram nos muros, com as melhores que
haver podiam. Cada uũs de noite velavom suas torres; e os das quadrilhas roldavom9 todo o
muro e torres, dũa quadrilha ataa10 outra; e outras sobre-roldas11 andavom pelos muros, ũas indo
e outras viindo.
E nom embargando12 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da guarda
e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria13 per muitas vezes de noite
os muros e torres com tochas acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre consigo
levava. Nom havia i neuũs revees14 dos que haviam de velar, nem tal a que esqueecesse cousa
do que lhe fosse encomendado; mas todos muito prestes15 a fazer o que lhe mandavom, de guisa
que, a todo boom regimento16 que o Meestre ordenava, nom minguava17 avondança de trigosos18
executores.
De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomendadas a
boõs homẽes d’armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neũa pessoa, que muito
conhecida nom fosse, havia d’entrar nem sair, sem primeiro saber em certo por que razom ia ou
viinha; e ali atrevessavom paos com tavoado19 pera dormir os que tal cuidado tiinham, por de
noite seerem deles acompanhadas20, e neuũ malicioso seer atrevido de cometer neuũ erro.
[…]
As outras cousas que perteenciam ao regimento da cidade, todas eram postas em boa e
igual ordenança21; i nom havia nẽuũ que com outro levantasse arroido22 nem lhe empeecesse23
per talentosos24 excessos, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito
comuũ.
LOPES, Fernão, 1980. Crónicas de D. João I. (textos escolhidos, apresentação crítica, seleção, notas
e sugestões para análise literária de Teresa Amado). Lisboa: Seara Nova / Editorial Comunicação (pp. 170-176)
1. assiinados: designados, responsáv eis; 2. mesteiraes: artíf ices, artesãos; 3. dando folgança a seus oficios: f azendo uma paragem no
seu trabalho; 4. u: onde; 5. curavom: pensav am; 6. guardava: respeitav a; 7. degratal: decretal (decreto do Papa), preceito canónico;
8. «Clerici arma portantes»: «Os clérigos que trazem armas»; 9. roldavom: rondav am; 10. ataa: até à; 11. sobre-roldas: homens que f aziam
rondas suplementares, de inspeção; 12. nom embargando: não obstante, apesar de; 13. requeria: inspecionav a; 14. revees (plural de
rev el): rebeldes, desobedientes; 15. prestes: prontos, preparados; 16. regimento: manobra, organização; 17. minguava: f altav a; 18.
trigosos: diligentes, apressados, pressurosos; 19. atrevessavom paos com tavoado: f aziam tabuados com paus cruzados; 20. por de noite
seerem deles acompanhadas: para de noite as portas se manterem sob a sua v igia; 21. ordenança: ordem, ordenação; 22. arroido: ruído,
algazarra; 23. empeecesse: criasse problemas; 24. talentosos: propositados.
5
10
15
20
25
30
Letras em dia, Português, 10.° ano
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Educação Literária
Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada.
1. Contextualiza os acontecimentos narrados no excerto da Crónica de D. João I.
2. Divide o texto nas suas partes constitutivas.
3. Esclarece o papel que é atribuído ao Mestre de Avis.
4. Transcreve do texto vocábulos ou expressões que comprovem a coragem dos habitantes de Lisboa.
5. Para além da coragem, as gentes de Lisboa apresentam outras características merecedoras de
louvor. Comprova esta afirmação.
6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada
espaço. Regista apenas as letras e o número que corresponde à opção selecionada em cada um
dos casos.
O cronista pretende relatar os acontecimentos de forma pormenorizada, como se de
uma (a) se tratasse; para isso, explora a descrição. Recorre às formas verbais
do (b) . (c) e as enumerações contribuem para o realismo do relato e para a
caracterização expressiva do meio e dos intervenientes.
(a) (b) (c)
1. reportagem
2. notícia
3. página de diário
4. peça teatral
1. infinitivo
2. presente
3. pretérito imperfeito
4. pretérito perfeito
1. As metáforas
2. A adjetivação
3. Os recursos expressivos
4. A aliteração
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Sugestões de resolução
Educação Literária
Fernão Lopes, Crónica de D. João I
1. Os acontecimentos narrados referem a forma como a cidade de Lisboa se preparou para o cerco feito pelo rei de
Castela, após a morte do conde Andeiro e a aclamação popular do Mestre de Avis.
2. A organização em parágrafos acompanha a organização das ideias desenvolvidas. Assim, no primeiro parágrafo, o
cronista descreve o que faziam as pessoas quando ouviam repicar os sinos.No segundo,apresenta o papel dos clérigos
na defesa dos muros da cidade.No terceiro parágrafo,o cronista explica o papel do Mestre de Avis na vigilância e defesa
dos muros e, no quarto, refere a estratégia de defesa das portas da cidade. O quinto parágrafo tem um cariz conclusivo
e geral,mostrando que toda a cidade trabalhava de forma ordenada e em harmonia,em prol do seu bem comum – a sua
segurança.
3. O Mestre de Avis tinha a responsabilidadede liderar a proteção e o governo da cidade (ll. 14-15).O cronista refere que
ele pouco descansava («dando seu corpo a mui breve sono» l. 15) e inspecionava, de noite, a guarda dos muros da
cidade.
4. «avivavom-se os corações deles», (l. 2); «corriam rijamente», (l. 3); «mostrando fouteza», (ll. 5-6).
5. Para além da coragem,as gentes de Lisboa são obedientes («Nom havia i neuũs revees»,l. 17), competentes («nem
tal a que esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado»,ll.17-18),ordeiras e cientes de que o bem comum passa
pela postura individual («i nom havia nẽuũ que com outro levantasse arroido nem lhe empeecesse per talentosos
excessos, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comuũ», ll. 28-30).
6. (a) 1; (b) 3; (c) 2.

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Defesa de Lisboa sob o cerco de Castela

  • 1. Letras em dia, Português, 10.° ano LDIA10 © Porto Editora Educação Literária Fernão Lopes, Crónica de D. João I Lê o excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I, de Fernão Lopes. «Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela pôs cerco sobr’ela.» E nom soomente os que eram assiinados1 em cada logar pera defesom, mas ainda as outras gentes da cidade, ouvindo repicar na See, e nas outras torres, avivavom-se os corações deles; e os mesteiraes2 dando folgança a seus oficios3, logo todos com armas corriam rijamente pera u4 diziam que os Castelãos mostravom de viinr. Ali viriees os muros cheos de gentes, com muitas trombetas e braados e apupos esgremindo espadas e lanças e semelhantes armas, mostrando fouteza contra seus ẽmigos. Nom curavom5 entom do texto que diz: «Que mais ajuda a egreja o reino com suas orações, que os cavaleiros com as armas»; nom se guardava6 ali a degratal7: «Clerici arma portantes»8, aos quaes segundo dereito nom convem de tomar armas, posto que seja pera defensom da terra; mas clerigos e frades, especialmente da Trindade, logo eram nos muros, com as melhores que haver podiam. Cada uũs de noite velavom suas torres; e os das quadrilhas roldavom9 todo o muro e torres, dũa quadrilha ataa10 outra; e outras sobre-roldas11 andavom pelos muros, ũas indo e outras viindo. E nom embargando12 todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria13 per muitas vezes de noite os muros e torres com tochas acesas ante si, bem acompanhado de muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuũs revees14 dos que haviam de velar, nem tal a que esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito prestes15 a fazer o que lhe mandavom, de guisa que, a todo boom regimento16 que o Meestre ordenava, nom minguava17 avondança de trigosos18 executores. De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomendadas a boõs homẽes d’armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neũa pessoa, que muito conhecida nom fosse, havia d’entrar nem sair, sem primeiro saber em certo por que razom ia ou viinha; e ali atrevessavom paos com tavoado19 pera dormir os que tal cuidado tiinham, por de noite seerem deles acompanhadas20, e neuũ malicioso seer atrevido de cometer neuũ erro. […] As outras cousas que perteenciam ao regimento da cidade, todas eram postas em boa e igual ordenança21; i nom havia nẽuũ que com outro levantasse arroido22 nem lhe empeecesse23 per talentosos24 excessos, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comuũ. LOPES, Fernão, 1980. Crónicas de D. João I. (textos escolhidos, apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de Teresa Amado). Lisboa: Seara Nova / Editorial Comunicação (pp. 170-176) 1. assiinados: designados, responsáv eis; 2. mesteiraes: artíf ices, artesãos; 3. dando folgança a seus oficios: f azendo uma paragem no seu trabalho; 4. u: onde; 5. curavom: pensav am; 6. guardava: respeitav a; 7. degratal: decretal (decreto do Papa), preceito canónico; 8. «Clerici arma portantes»: «Os clérigos que trazem armas»; 9. roldavom: rondav am; 10. ataa: até à; 11. sobre-roldas: homens que f aziam rondas suplementares, de inspeção; 12. nom embargando: não obstante, apesar de; 13. requeria: inspecionav a; 14. revees (plural de rev el): rebeldes, desobedientes; 15. prestes: prontos, preparados; 16. regimento: manobra, organização; 17. minguava: f altav a; 18. trigosos: diligentes, apressados, pressurosos; 19. atrevessavom paos com tavoado: f aziam tabuados com paus cruzados; 20. por de noite seerem deles acompanhadas: para de noite as portas se manterem sob a sua v igia; 21. ordenança: ordem, ordenação; 22. arroido: ruído, algazarra; 23. empeecesse: criasse problemas; 24. talentosos: propositados. 5 10 15 20 25 30
  • 2. Letras em dia, Português, 10.° ano LDIA10 © Porto Editora Educação Literária Apresenta as tuas respostas aos itens que se seguem de forma bem estruturada. 1. Contextualiza os acontecimentos narrados no excerto da Crónica de D. João I. 2. Divide o texto nas suas partes constitutivas. 3. Esclarece o papel que é atribuído ao Mestre de Avis. 4. Transcreve do texto vocábulos ou expressões que comprovem a coragem dos habitantes de Lisboa. 5. Para além da coragem, as gentes de Lisboa apresentam outras características merecedoras de louvor. Comprova esta afirmação. 6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada espaço. Regista apenas as letras e o número que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos. O cronista pretende relatar os acontecimentos de forma pormenorizada, como se de uma (a) se tratasse; para isso, explora a descrição. Recorre às formas verbais do (b) . (c) e as enumerações contribuem para o realismo do relato e para a caracterização expressiva do meio e dos intervenientes. (a) (b) (c) 1. reportagem 2. notícia 3. página de diário 4. peça teatral 1. infinitivo 2. presente 3. pretérito imperfeito 4. pretérito perfeito 1. As metáforas 2. A adjetivação 3. Os recursos expressivos 4. A aliteração
  • 3. Letras em dia, Português, 10.° ano LDIA10 © Porto Editora Sugestões de resolução Educação Literária Fernão Lopes, Crónica de D. João I 1. Os acontecimentos narrados referem a forma como a cidade de Lisboa se preparou para o cerco feito pelo rei de Castela, após a morte do conde Andeiro e a aclamação popular do Mestre de Avis. 2. A organização em parágrafos acompanha a organização das ideias desenvolvidas. Assim, no primeiro parágrafo, o cronista descreve o que faziam as pessoas quando ouviam repicar os sinos.No segundo,apresenta o papel dos clérigos na defesa dos muros da cidade.No terceiro parágrafo,o cronista explica o papel do Mestre de Avis na vigilância e defesa dos muros e, no quarto, refere a estratégia de defesa das portas da cidade. O quinto parágrafo tem um cariz conclusivo e geral,mostrando que toda a cidade trabalhava de forma ordenada e em harmonia,em prol do seu bem comum – a sua segurança. 3. O Mestre de Avis tinha a responsabilidadede liderar a proteção e o governo da cidade (ll. 14-15).O cronista refere que ele pouco descansava («dando seu corpo a mui breve sono» l. 15) e inspecionava, de noite, a guarda dos muros da cidade. 4. «avivavom-se os corações deles», (l. 2); «corriam rijamente», (l. 3); «mostrando fouteza», (ll. 5-6). 5. Para além da coragem,as gentes de Lisboa são obedientes («Nom havia i neuũs revees»,l. 17), competentes («nem tal a que esqueecesse cousa do que lhe fosse encomendado»,ll.17-18),ordeiras e cientes de que o bem comum passa pela postura individual («i nom havia nẽuũ que com outro levantasse arroido nem lhe empeecesse per talentosos excessos, mas todos usavom d’amigavel concordia, acompanhada de proveito comuũ», ll. 28-30). 6. (a) 1; (b) 3; (c) 2.