A cantora e compositora Adriana Calcanhotto lançou uma Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira com poemas curtos de 41 poetas brasileiros que ela própria ilustrou. O livro foi feito para ela mesma depois de não encontrar outro semelhante. A parte mais gostosa foi redescobrir os poetas, mas foi difícil escolher apenas dois poemas de cada um. A aproximação com o mundo infantil tem ajudado Adriana a se distanciar do mundo adulto que ela acha que gosta de complicar as coisas.
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Galeria
Entrevista
CARLOTACAFIERO
DAREDAÇÃO
Adriana Calcanhotto é como
o poeta Álvaro de Campos –
heterônimo de Fernando Pes-
soa: traz em si “todos os so-
nhos do mundo”. E o bacana
disso é que ela não apenas
sonha como parte para a
ação. Desde quando assu-
miu a persona Adriana Par-
timpim, com um disco dire-
cionado ao público infantil
em 2004, a cantora e compo-
sitora gaúcha se distanciou
de vez da figura introspecti-
va que a tornou célebre nos
anos 90 para descomplicar a
vida e fazer das cinzas bo-
lhas de sabão.
Um dos primeiros exem-
plos dessa capacidade de rir
de si mesma veio em 2008,
após sofrer um colapso ner-
voso por conta da ingestão
de um coquetel de remédios
para combater uma forte gri-
pe durante a turnê do álbum
Maré em Portugal. Ela ficou
120 horas sem dormir, teve
de cancelar os shows e, em
vez de surtar geral, concebeu
o primeiro livro de sua vida:
o divertido Saga Lusa, escri-
to em prosa, tanto durante
os momentos de lucidez
quanto nos de delírio.
Agora, a cantora nos sur-
preende de novo no campo da
literatura, desta vez com o
lançamento da AntologiaIlus-
tradadaPoesiaBrasileira–Pa-
ra Crianças de Qualquer Ida-
de, no qual não apenas sele-
cionou poemas de 41 autores
como os ilustrou.
Em uma caprichada edi-
ção da Casa da Palavra, o
livro é um irresistível convite
à poesia brasileira por meio
de poemas curtos – e haikais
–de poetasde diferentes perío-
dos reunidos pela cantora: de
Casimiro de Abreu (1839) a
Gregório Duvivier (1986), e
singelos desenhos feitos com
lápis e aquarela – que reme-
tem às ilustrações do escritor
francêsAntoine deSaint-Exu-
péry no clássico O Pequeno
Príncipe.
“Os critérios para a escolha
dos poemas têm a ver com as
ilustrações pelo simples fato de
eu poder ‘enxergar’ o poema
desenhado assim que o leio. E
como tenho, com todos os poe-
mas ou poetas compilados, al-
guma intimidade como leito-
ra, os rabiscos são a primeira
imagem que o poema me trou-
xe”, conta Adriana, que define
o livro como “antologiazinha
íntima”.
Antologia Ilustrada da Poe-
siaBrasileiraédedicadaaVini-
cius de Moraes, um dos poetas
preferidosdacantora,eaTitili-
ta, sua tia materna, com quem
aprendeu o amor aos livros.
Leia,abaixo,àentrevistaconce-
didaporAdriana.
Há quanto tempo você vinha
tendo esse comichão de reu-
nir poetas brasileiros em um
livrocomilustraçõessuas?
Não sei precisar o tempo, mas
leveianosprocurandoumlivro
assim nas prateleiras das ban-
cas e livrarias e de tanto não
encontrá-lo comecei a pensar
em fazê-lo eu mesma. Fiz o
livroparamim.
Comochegouaos41poetas?
Nãofoimuitodifícil,gostomui-
to de todos os poetas presentes
no livro. Alguns não entraram
por não terem, a meu ver, ne-
nhum link com o universo in-
fantil,apesardaestupendapoe-
sia, como Augusto dos Anjos,
Gregório de Mattos ou o con-
temporâneo Paulo Henriques
Brito,dequemsougrandefã.
Quando se tornou uma leitora
depoesia?
A poesia entrou na minha vida
via música. Ouvi Bethânia di-
zendo Fernando Pessoa, Fag-
ner cantando Cecilia Meire-
les e Ferreira Gullar, Vinicius
de Moraes cantando no rádio
e fui descobrir a partir daí o
que era poesia.Hoje em dia
quanto mais leio poesia mais
gosto de ler.
Que sensações um bom poe-
ma costuma provocar em
você?
Diferentessensações,novas,ca-
da poema é único e adoro
ser arrebatada por um belo
poema.
Em quanto tempo ilustrou o
livro e que técnicas utilizou?
Fui desenhando entre meus
compromissos, shows, entre-
vistas, fotos, viagens. Não
saberia precisar a quantida-
de de horas que desenhei.
Sei que fiquei mais de um
ano trabalhando no livro e
levei o material de desenho
para as turnês e trabalhei
nas horas vagas. Desenho a
lápis depois uso canetas de
mangá para contornar e colo-
rir e fiz aquarelas para os
fundos, para o chão, man-
chas de aguadas.
Qual foi a parte mais gostosa
e qual foi a mais difícil de
realizarnessaantologia?
A parte mais gostosa foi a caça
aos poemas, reli muitos dos
poetas que amo e foi muito,
muito bom. A parte difícil é
deixar poemas de fora. Como
escolher apenas dois poemas
de Vinicius de Moraes, por
exemplo?
O que a aproximação do mun-
do infantil tem proporciona-
do a você, como artista e
pessoa?
Odistanciamentodomun-
do adulto no qual já não
vejo muita graça. Os adul-
tos têm prazer em compli-
car,meparece.
Poesia é de quem faz ou
dequemprecisadela?
Poesia não tem endereço.
ComodizMarioQuintana
no poema S.O.S. : “O poe-
ma é uma garrafa de náu-
frago jogada ao mar.
Quem a encontra salva-se
asimesmo...”.
Nas pequenas biografias
dos poetas no final do
livro, optou-se por colo-
car apenas a data de nas-
cimento dos escritores
que já morreram. Por
quê?
Para que no livro eles per-
maneçam vivos, assim co-
mosuapoesiaestá.
SERVIÇO–ANTOLOGIAILUSTRADADA
POESIABRASILEIRA–ORGANIZAÇÃOE
ILUSTRAÇÕESDEADRIANA
CALCANHOTTO.136PÁGINAS,R$48,90.
“Adultos têm prazer em complicar”
“
Apartemaisgostosafoia
caçaaospoemas,relimuitos
dospoetasqueamoefoi
muitobom.Apartedifícilé
deixarpoemasdefora”
IngressoscarosparashowsdeBiebernoBrasilestãoesgotados
OcantorJustinBieberseapresentadia2denovembronaArenaAnhembi,emSãoPaulo,
comasentradasparaaPistaPremium(aR$650,00)esgotadas.Àsfãs,queainda
queremiraoshow,restamapenasingressosparaaPistaComum(aR$280,00)
AdrianaCalcanhotto.
Cantora,compositoraeescritora
Acima, capa da
antologia poética
organizada por
Adriana Calcanhotto
(foto ao lado) e
desenhos feitos à mão
pela cantora
LEONARDOAVERSA/DIVULGAÇÃO
Terça-feira 16
D-1julho de2013 www.atribuna.com.br