Este documento fornece informações biográficas e bibliográficas sobre a escritora portuguesa Natália Correia. Ela nasceu nos Açores em 1923, trabalhou como deputada e colaborou em jornais. Sua obra abrange vários gêneros como poesia, romance, teatro e ensaio. Ela também teve um papel ativo na oposição ao Estado Novo e defendia a literatura como forma de intervenção social. O documento lista muitas de suas obras publicadas.
2. Nasceu nos Açores em 1923 e faleceu em Lisboa em 1993. Fez os
estudos secundários já em Lisboa. Sem estudos universitários foi, em
1979, deputada à Assembleia da República. Colaborou em diversos
jornais e revistas. Não se prendendo fortemente a nenhuma corrente
literária, esteve inicialmente ligada ao surrealismo e, segundo a
própria, a sua mais importante filiação estabeleceu-se em relação ao
romantismo. A obra de Natália Correia estende-se por géneros
variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio.
Foi fundadora da Frente Nacional para a Defesa da Cultura, interveio
politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos
direitos humanos e dos direitos da mulher. Apelou sempre à literatura
como forma de intervenção na sociedade, tendo tido um papel activo
na oposição ao Estado Novo.
Ficou conhecida pela sua personalidade vigorosa e polémica, que se
reflecte na sua escrita.
3. Rio de Nuvens (1947)
Poemas (1955)
Dimensão Encontrada (1957)
Passaporte (1958)
Comunicação (1958)
Cântico do País Emerso (1961)
O Vinho e a Lira (1966)
Mátria (1968)
As Maçãs de Orestes (1970)
A Mosca Iluminada (1972)
O Anjo do Ocidente à Entrada de Ferro (1973)
Poemas a Rebate (1975)
Epístola aos Iamitas (1978)
O Dilúvio e a Pomba (1979)
4. O Armistício (1985)
Os Sonetos Românticos (1990)
O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I e II (1993)
Aventuras de Um Pequeno Herói (1945)
Anoiteceu no Bairro (1946), A Madona (1968)
A Ilha de Circe (1983)
Onde Está o Menino Jesus (1987)
As Núpcias (1990)
Como dramaturga escreveu O Progresso de Édipo (1957)
O Homúnculo (1965)
O Encoberto (1969)
Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (1981)
A Pécora (1983)
5. Descobri que Era Europeia — Impressões de Uma Viagem à
América (1951)
Poesia de Arte e Realismo Poético (1958)
A Questão Académica de 1907 (1962)
Uma Estátua para Herodes (1974)
Não Percas a Rosa — Diário e algo mais: 25 de Abril de 1974 —
20 de Dezembro de 1975 (1978)
Somos Todos Hispanos (1988)
Antologia da Poesia Erótica e Satírica (1966)
Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (1970)
Trovas de D. Dinis (1970)
O Surrealismo na Poesia Portuguesa (1973)
A Mulher (1973)
A Ilha de São Nunca (1982)
Antologia da Poesia do Período Barroco (1982)
6. Quanto Mais Amada Mais Desisto
De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.
reter-
Natália Correia, in quot;O Dilúvio e a Pombaquot;
7. Poema Involuntário
Decididamente a palavra
quer entrar no poema e dispõe
com caligráfica raiva
do que o poeta no poema põe.
Entretanto o poema subsiste
informal em teus olhos talvez
mas perdido se em precisa palavra
significas o que vês.
Virtualmente teus cabelos sabem
se espalhando avencas no travesseiro
que se eu digo prodigiosos cabelos
as insólitas flores que se abrem
não têm sua cor nem seu cheiro.
Finalmente vejo-te e sei que o mar
vejo-
o pinheiro a nuvem valem a pena
e é assim que sem poetizar
se faz a si mesmo o poema.
Natália Correia, in quot;O Vinho e a Liraquot;
8. Cidadania
Buquê de ruídos úteis
o dia. O tom mais púrpura
do avião sobressai
locomovida rosa pública.
Entre os edifícios a acácia
de antigamente ainda ousa
trazer ao cimo a folhagem
sua dor de apertada coisa.
Um solo de saxofone excresce
mensagem que a morte adia
aflito pássaro que enrouquece
a garganta da telefonia.
Em cada bolso do cimento
uma lenta aranha de gás
manipula o dividendo
de um suicídio lilás.
Natália Correia, in quot;O Vinho e a Liraquot;
9. Paz
Irreprimível natureza
exacta medida do sem-fim
sem-
não atinjas outras distâncias
que existem dentro de mim.
Que os meus outros rostos não sejam
o instável pretexto da minha essência.
Possam meus rios confluir
para o mar duma só consciência.
Quero que suba à minha fronte
a serenidade desta condição:
harmonia exterior à estátua
que sabe que não tem coração.
Natália Correia, in quot;Poemas (1955)quot;
10. Os Namorados Lisboetas
Entre o olival e a vinha
o Tejo líquido jumento
sua solar viola afina
a todo o azul do seu comprimento
tendo por lânguida bainha
barcaças de bacia larga
que possessas de ócio animam
o sol a possuí-las de ilharga.
possuí-
Sua lata de branca tinta
vai derramando um vapor
precisando a tela marinha
debuxada com os lápis de cor
da liberdade de sermos dois
a máquina de fazer púrpura
que em todas as coisas fermenta
seu tácito sumo de uva.
Natália Correia, in quot;O Vinho e a Liraquot;
11. O Testamento dos Namorados
Escolhamos as coisas mais inúteis
o verde água o rumor das frutas
e partamos como quem sai
ao domingo naturalmente.
Deixemos entretanto o sinal
de ter existido carnalmente:
da tua força um castiçal
da minha fragilidade um pente.
Esse hieróglifo essa lousa
deixemos para que uma criança
a encontre como quem ousa
um novo passo de dança.
Natália Correia, in quot;O Vinho e a Liraquot;