1. O período gótico medieval estendeu-se por mais de dois séculos, tendo sua
origem marcada na Itália e espalhando-se pelo restante da Europa. O termo gótico era
uma referência pejorativa a arte que se produziu na Renascença tardia mas que, ainda
assim, seguia um estilo medieval. Os italianos foram os primeiros a usar da palavra e,
dessa forma, faziam uma referência ao passado bárbaro, em especial aos godos –
povo que semeou a destruição na Roma Antiga. Com o passar do tempo, o sentido
pejorativo se perdeu e passou a servir para classificar o período artístico entre o
românico e o Renascimento.
Comparado ao período anterior, o estilo gótico é afirmação de uma
nova filosofia: uma harmonia particular, proporção inovadoras resultado de
relações matemáticas, cenas e características impregnadas de simbolismo como, por
exemplo, a luz sempre presente nas representações artísticas da época: seria a
comunicação do divino, o veículo real para a comunhão com o sagrado,
o sobrenatural, através dela o homem comum pode admirar a glória de Deus e melhor
aperceber-se da sua mortalidade e inferioridade. É um estilo mais sombrio e emotivo
que o do período predecessor.
A obra de Jan Van Eyck, apesar de datar o período posterior ao estilo gótico
pleno, trás características marcantes do período como, por exemplo, a presença do
simbolismo característico – ao encaixar diversos objetos que fazem alusão a riqueza
do casal e a cerimônia de matrimônio, por exemplo – e o naturalismo inerente as
figuras. O artista utiliza do contraste de luz e sombras no quadro para destacar pontos
importantes como, por exemplo, a figura do homem do casal – uma iluminação
impossível devido ao retrato ser do interior da casa e, naquele ponto, não existe uma
fonte de luz – e, dessa forma, temos uma característica do gótico pleno onde a luz é
uma forma de aproximação ao divino.
No principio do período gótico a arte era produzida principalmente com fins
religiosos e didáticos para a população analfabeta. O quadro “O Casal Arnolfini” foge
desse padrão, destacando uma cena do cotidiano onde um casal se encontra no
interior de sua residência e o objetivo do quadro, por sua vez, parece servir como
certidão de casamento para o jovem casal.