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HISTÓRIA ANTIGA
Professor Me. Kleber Eduardo Men
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Mincoff
James Prestes
Tiago Stachon
Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Giovana Costa Alfredo
Supervisão do Núcleo de Produção
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Design Educacional
Camila Zaguini Silva, Jaime de Marchi Junior
Larissa Finco, Maria Fernanda Canova Vasconcelos
Nádila de Almeida Toledo, Rossana Costa Giani
Iconografia
Amanda Peçanha dos Santos
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Humberto Garcia da Silva
Revisão Textual
Jaquelina Kutsunugi
Ilustração
Humberto Garcia da Silva
C397	
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a
Distância; MEN, Kleber Eduardo; PAIXÃO, Priscilla Campiolo Ma-
nesco.
	 História Antiga. Kleber Eduardo Men; Priscilla Campiolo
Manesco Paixão
	 Reimpressão - 2019
	 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018.	
	 181 p.
“Graduação em História - EaD”.
	
	 1. História Antiga. 2. Economia . 3. Política 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-8084-940-0
CDD - 22 ed. 907
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um
grande desafio para todos os cidadãos. A busca
por tecnologia, informação, conhecimento de
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar –
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a
educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos
que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais
e sociais; a realização de uma prática acadêmica
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização
do conhecimento acadêmico com a articulação e
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela
qualidade e compromisso do corpo docente;
aquisição de competências institucionais para
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade
da oferta dos ensinos presencial e a distância;
bem-estar e satisfação da comunidade interna;
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de
cooperação e parceria com o mundo do trabalho,
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo.
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo
este processo, pois conforme Freire (1996):“Os homens
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo
competências e habilidades, e aplicando conceitos
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de
professores e tutores que se encontra disponível para
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professor Me. Kleber Eduardo Men
Mestre em História das Ideias e das Instituições pela Universidade Estadual
de Maringá (2013), Especialista em Docência no Ensino Superior pela
UNICESUMAR (2011), com ênfase na Educação a Distância e graduado em
História pela Universidade Estadual de Maringá (2007). Professor do ensino
superior, médio e fundamental da rede particular. Também é organizador
e autor de material didático. Atualmente é aluno do curso de Bacharel em
Direito da UNICESUMAR.
Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Possui Mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM),
Especialista em História Econômica pela mesma instituição; Especialista
em Metodologia do Ensino da Arte pelo Centro Universitário Internacional
(UNINTER), Graduação em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Mandaguari (FAFIMAN) e Licenciatura em Pedagogia pelo Centro
Universitário Cesumar (UNICESUMAR).
AUTORES
SEJA BEM-VINDO(A)!
Prezado(a) aluno(a), somos os professores Kleber Eduardo Men e Priscilla Campiolo Manes-
co Paixão e fomos os responsáveis por preparar este livro da disciplina de História Antiga.
Este material foi feito com muito carinho, tendo em vista, especialmente, o aprendizado
pleno desta tão importante disciplina. Primeiramente, gostaríamos de destacar nossas
formações: Eu, Kleber, sou graduado em História pela Universidade Estadual de Marin-
gá, especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR, além de Mestre em
História das Ideias e das Instituições também pela Universidade Estadual de Maringá.
Tenho experiência nos Ensinos Fundamental e Médio, além do Ensino Superior. Eu, Pris-
cilla, sou também formada em História e Pedagogia, com especialização em História
Econômica e mestrado em História na linha de pesquisa Instituições e História das Ideias
pela Universidade Estadual de Maringá. Trabalho na UNICESUMAR há dez anos e atual-
mente coordeno o curso de História.
Nossa principal preocupação neste livro não foi fornecer a você qualquer tipo de manu-
al sobre a antiguidade, mas sim construirmos um conhecimento sólido das Instituições
Antigas, bem como entendermos a dinâmica que proporcionou muitas mudanças, algu-
mas das quais são sentidas até hoje.
Entretanto, para que nosso conhecimento seja pleno, gostaríamos de pedir a você, fu-
turo(a) professor(a) de História, muito empenho e dedicação. O nosso principal meio de
trabalho será a leitura e a interpretação dos textos e documentos aqui por nós indicados
e, para que isso seja alcançado, preparamos atividades que darão o suporte necessário,
além de toda estrutura humana e tecnológica disponibilizada pela UNICESUMAR.
Interpretar os eventos históricos é tarefa árdua e que requer um amadurecimento que
envolve muita leitura. Costumamos salientar que, se um jogador de futebol quer atingir
excelência, ele precisa correr, fazer musculação, alimentar-se corretamente, assim como
qualquer outro atleta de alto rendimento. Para nós, que trabalhamos na área de huma-
nas, a receita é mais simples, porém, requer o mesmo tipo de dedicação. Então, é preciso
que nos dediquemos à leitura diária dos materiais disponibilizados pelos professores e
que façamos com muito esmero as atividades de autoestudo disponibilizadas aqui e
também na plataforma moodle.
Nosso livro foi escrito tendo como eixo central o estudo do homem e das instituições
construídas por ele na antiguidade. O homem é um agente de si mesmo. Como disse
Ludwig Von Mises (1990), o homem é aquele que procura substituir uma situação des-
confortável por uma de melhor conforto e isso acaba gerando transformações, muitas
vezes, por séculos e séculos, influenciando gerações.
Gostaríamos de destacar que estudar História Antiga é um exercício fascinante. Costu-
mamos afirmar que podemos visitar qualquer lugar do mundo por meio da literatura.
No nosso caso, nossa viagem será pelo mundo das civilizações antigas como egípcios,
gregos, romanos, babilônios, fenícios, entre outros.
A finalidade deste livro é exclusivamente didática. Nossa proposta aqui não é fazer um
estudo minucioso sobre uma determinada estrutura, mas sim mostrar aos alunos do
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA ANTIGA
APRESENTAÇÃO
EAD - UNICESUMAR os elementos basilares ao(à) futuro(a) professor(a) de História,
pois acreditamos que, em breve, seremos colegas de profissão.
Para que nosso objetivo fosse alcançado, dividimos este livro em cinco unidades,
das quais quatro delas têm finalidade informativa, e a última, para fechar com um
requinte indispensável ao historiador, traz uma unidade sui generis, em que faremos
um debate historiográfico e metodológico. Atividade essa que deve ser um exercí-
cio diário na vida de um estudante e professor de História. Dessa forma, destacare-
mos, em linhas gerais, os principais pontos a serem abordados neste livro.
Na primeira unidade, procuramos apresentar o conceito de História Antiga bem
como os procedimentos metodológicos indispensáveis à pesquisa histórica. Sendo
assim, conceituamos fontes, documentos e mostramos de que forma um prudente
historiador deve proceder na análise de um documento, bem como na construção
da narrativa histórica. Também colocamos, ao final da unidade, alguns exemplos de
documentos para exercitar os procedimentos que lecionamos ao longo da unidade.
Na segunda unidade, focaremos nas civilizações Orientais. Essa parte visa apresen-
tar um pouco a região que é considerada o berço da civilização mundial. Desta for-
ma, começamos nossa viagem pela Babilônia, terra de Hammurabi, que também foi
berço dos Sumérios e Assírios. Também vamos estudar os Hebreus e Fenícios. Tudo
isso tendo em vista a organização institucional e estatal dessas civilizações.
Na terceira unidade, entramos no mundo da antiguidade Clássica Ocidental. Nosso
objetivo é mostrar como essa magnífica civilização se formou, bem como o legado
institucional deixado por ela, principalmente na política. O ideal de democracia, que
foi uma das principais heranças deixadas pelos gregos, está presente até hoje entre
nós. Além disso, a organização administrativa e legislativa dessa civilização foi algo
inimaginável no seu tempo.
Na quarta unidade, nós adentramos no mundo romano. Essa civilização, junto com a
Grécia, criou as bases da civilização Ocidental Moderna. As suas instituições estão pre-
sentes no mundo moderno. O conceito de público e privado, a República, o Senado e
principalmente o Direito são institutos que, a todo instante, estão diante de nossas vidas.
A quinta unidade, como já dissemos, é sui generis, pois ela se difere do restante, visto
que não busca apenas informar, mas realizar um debate sobre versões e metodo-
logias diferentes da história. O debate é um exercício vitalício para o professor de
história e estimular isso é nosso objetivo. Assim, tomamos dois pontos de vista dife-
rentes sobre a economia grega e romana e, por meio de uma análise historiográfica,
realizamos um debate sobre essas posições divergentes.
Esperamos que a leitura deste material seja agradável aos olhos e que faça grande
diferença na sua formação. Temos a certeza de que nossa breve jornada na antigui-
dade nos abrirá caminhos para que compreendamos muito mais sobre o que está
ao nosso redor, além de despertar a paixão pela História. Desta forma, gostaríamos
de indagar: estamos tão distantes assim da antiguidade? Reflita sobre isso e tenha
um excelente estudo!
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
13		 Introdução
13		 História e História Antiga: Considerações Preliminares
18		 Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade
30		 Fontes Documentais e Fontes Historiográficas
33		 Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade
36		 Considerações Finais
UNIDADE II
O ORIENTE PRÓXIMO
43		 Introdução
44		 As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições
49		 Economia e Sociedade
51		 Hebreus e Fenícios
56		 O Estado Egípcio
71		 Considerações Finais
UNIDADE III
A POLÍTICA E A SOCIEDADE DA GRÉCIA ANTIGA
79		 Introdução
79		 A Formação da Grécia Antiga
84		 O Período Arcaico e a Formação da Pólis
SUMÁRIO
91		 As Instituições Gregas
95		 A Educação Grega
101		 Apogeu e Queda de um Império
105		 Considerações Finais
UNIDADE IV
ANTIGUIDADE CLÁSSICA OCIDENTAL: A HISTÓRIA DE ROMA
111		 Introdução
111		 As Origens de Roma: Mitologia Versus História
114		 Da Monarquia à República Romana
132		 O Império Romano
137		 Considerações Finais
UNIDADE V
A ECONOMIA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA OCIDENTAL: UM DEBATE
HISTORIOGRÁFICO
145		 Introdução
146		 O Quadro Econômico da Antiguidade Greco-Romana
153		 A Geografia Romana
158		 A Economia Antiga para Moses Finley
166		 Considerações Finais
171	Conclusão
173	Referências
177	Gabarito
UNIDADE
I
Professor Me. Kleber Eduardo Men
A HISTÓRIA ANTIGA: UM
PRIMEIRO OLHAR
Objetivos de Aprendizagem
■
■ Apresentar o conceito de História Antiga a fim de delimitar nosso
campo de trabalho.
■
■ Estudar como é construído o conhecimento histórico na Antiguidade.
■
■ Compreender a diferença entre fontes documentais e
historiográficas.
■
■ Entender o que é análise hermenêutica da História.
■
■ Analisar documentos históricos como forma de exercitar a teoria
abordada.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■
■ História e História Antiga: considerações preliminares
■
■ Fontes e documentos no estudo da antiguidade
■
■ Fontes documentais e fontes historiográficas
INTRODUÇÃO
Caríssimo(a) aluno(a) e futuro(a) professor(a) de História e, quem sabe, histo-
riadores, esta unidade tem por objetivo apresentar a você algumas informações
preambulares relativas aos estudos que versam sobre a antiguidade Ocidental e
Oriental. O debate sobre a antiguidade tem despertado interesse e não é de hoje.
Nos manuais de história, aqueles que estudamos no colégio, sempre é desta-
cado o período do Renascimento Cultural (séculos XIV – XVI) como a primeira
grande fase da história da humanidade que se dedicou ao estudo dos ensinamen-
tos antigos, principalmente daqueles que tratam da antiguidade clássica, Roma
e Grécia. Entretanto, como podemos definir a História Antiga? Quais os instru-
mentos necessários ao historiador para o estudo deste período tão importante?
Partindo dessas duas indagações, podemos dizer que o estudo da antigui-
dade requer, como toda ciência histórica, um conhecimento muito grande das
técnicas e metodologias para a construção desse conhecimento.
De fato, descrever os métodos dos quais se vale o historiador em apenas
um livro não é tarefa simples, mas nossa principal meta aqui é instrumentali-
zá-lo(a) para que você tenha condições de seguir seu próprio caminho, ou seja,
ser sujeito de suas próprias aprendizagens. Sendo assim, apresentaremos concei-
tos e noções sobre a antiguidade, além de alguns estudos sobre os documentos
e fontes deste tão rico período.
HISTÓRIA E HISTÓRIA ANTIGA: CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
Você estudante, certamente já viu nos livros didáticos aquele já ultrapassado
modelo de divisão histórica, denominado de “Quadripartismo Histórico”. Embora
ultrapassado, parece-nos impensável outro modelo que possa substituir as tra-
dicionais divisões do tempo, quais sejam: História Antiga, Medieval, Moderna e
Contemporânea. De fato, essa divisão foi criada para facilitar o estudo desta ciên-
cia e ignorá-la não parece prudente. Entretanto, precisamos compreender que
Introdução
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O período NEOLÍTICO, também conhecido como Idade da Pedra Nova, foi
um momento da história da humanidade em que o homem passa a não
mais utilizar instrumentos rústicos (pedra lascada), mas a se preocupar em
dar um acabamento que visasse facilitar suas atividades. Para saber mais
detalhes desse período, acesse o site disponível em: http://www.mundoe-
ducacao.com/historiageral/periodo-neolitico.htm. Acesso em: 11 fev. 2014.
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
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as mudanças na sociedade, empreendidas pelos homens que desta fazem parte,
ocorrem independente de denominações. Ou quem aqui é ingênuo o bastante
para acreditar que os romanos se achavam antigos, que os cavaleiros cruzados
se consideravam medievais, ou então que os navegantes portugueses e espanhóis
se autodenominavam modernos? Na verdade, cada um de nós enxergamos e
entendemos o tempo de forma particular, com as lentes de nossa própria época.
Fazer um julgamento precipitado das ações desses homens também não nos
parece prudente. É preciso compreender suas ações com base no contexto histó-
rico, ou seja, tendo em vista a sua própria realidade. Afinal, será que a Revolução
Francesa teve para um camponês o mesmo significado que para um membro
do Alto Clero francês do século XVIII? O significado das pirâmides de Gizé, na
visão do Faraó, é a mesma da visão de um escravo?
Costuma-se denominar de História Antiga o momento que vai do surgi-
mento das primeiras civilizações, ocorrido ao final do período neolítico, por volta
do terceiro milênio a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476.
Entretanto,estudarahistóriacomrecortestemporaispodenostrazerváriosequí-
vocos, além de parecer que os homens agem de forma predestinada. Segundo Funari:
As periodizações tradicionais devem ser entendidas como divisões
artificiais. Diferentes pontos de vista, a partir de várias metodologias,
disciplinas acadêmicas e ideologias, resultam em divisões alternativas.
O objeto da apresentação das compartimentações usuais resume-se à
instrumentalização dos leitores e, de maneira alguma, implica a aceita-
ção dos seus pressupostos (FUNARI, 2002, p. 31).
História e História Antiga: Considerações Preliminares
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Conforme bem destacou o autor, a existência de tais periodizações não significa
que sua aceitação deva ser obrigatória. Muito pelo contrário, elas foram criadas
para facilitar a compreensão. Muito das terminologias empregadas para se carac-
terizar um período pode dar a ideia de preconceito com o outro.
Quando falamos em Antiguidade Clássica, logo nos vem à tona as civili-
zações Grega e Romana. Mas qual é a razão, prezado(a) estudante, para essa
definição? Quais os conceitos empregados para classificar uma civilização de
clássica e a outra não? Observe:
A determinação de períodos “clássicos”, em qualquer periodização his-
tórica, por sua parte, depende de um juízo de valor, da transformação
de uma determinada produção intelectual em modelo. A História, nes-
te caso, torna-se segmentada em uma progressão em direção ao padrão
clássico, sucedido pela degeneração ou decadência, correspondente ao
afastamento em relação ao modelo. Esse uso do termo “clássico” em-
bute uma concepção cíclica da História: ascensão, apogeu, decadência,
seguidos de novas ascensões, apogeus e decadências (FUNARI, 2002,
p. 31-32).
Como ficou claro, o termo clássico é empregado para definir um ciclo de acon-
tecimentos. Deste modo, nada impedirá um historiador de empregar o termo
“clássico” para tratar de temas relacionados ao Egito, aos Sumérios, Assírios,
Babilônicos, e assim por diante, desde que se enquadrem nos quesitos descri-
tos por Funari (2002). Conforme observamos, quando uma civilização atinge o
seu apogeu e, devido a fatores internos e/ou externos, os valores cultivados neste
período se perdem (tais como ideias, costumes, política etc.), então temos um
exemplo que podemos classificar como “clássico”.
Posto isso, queremos ressaltar a importância que nós damos ao estudo das
Instituições. A característica principal desse campo da historiografia é obter uma
análise que, “independente de recortes temporais, temáticos e espaciais, este-
jam relacionados ao estudo de fenômenos históricos que se apresentam sob a
forma de instituições” (PEREIRA et al., 2005). Consequentemente, ela nos for-
nece um campo de trabalho amplo, que nos faz refletir o contexto histórico em
que elas foram produzidas.
Além do estudo das instituições, também é indispensável o estudo dos docu-
mentos produzidos pelos antigos. Tucídides, Sócrates, Platão, Aristóteles, Flavio
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
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Joséfo, enfim, todos esses escritores nos deixaram relatos importantíssimos sobre
como era a vida das pessoas em seu tempo.
Em seu livro “Aspectos da Antiguidade”, Finley (1991) aborda de forma geral
algumas características presentes no mundo antigo. Já na introdução de sua
obra, ele faz uma reflexão do quão complexo é o estudo deste período histórico:
Muitas autoridades ilustres sustentam que as questões sobre o passado
podem ser respondidas, pelo menos de maneira aproximada, através
da imaginação, desde que esta seja disciplinada por uma base de sólida
erudição. Diz-se que é possível compartilhar, até certo ponto, da expe-
riência de uma platéia ateniense do século V durante uma apresentação
de Édipo, ainda que não se acredite, no sentido estrito, em oráculos ou
na “malícia divina que perpassa a tragédia grega” (FINLEY, 1991, p. 5).
Em síntese, o que o autor destaca é que, por meio da interpretação, podemos
encontrar o verdadeiro sentido da vida na antiguidade, compreendendo seus
usos e costumes através de um documento encenado, como a obra Édipo, citada
por ele. Mas, o autor chama nossa atenção para um problema muito comum,
a comparação. “A questão crucial é se podemos simplesmente olhar para trás e
ler Richardson como se Jane Austen nunca tivesse escrito, ou reagir ao Orestes
ou ao Édipo como se nunca houvesse existido Hamlet” (FINLEY, 1991, p. 5).
Será que podemos olhar para o passado desprovidos de qualquer ponto de
referência da época em que vivemos? Essa é a questão crucial abordada por Finley
(1991). Certamente, você, estudante, já deva ter lido um livro e, posteriormente,
assistido a um filme que retratava a história dessa mesma obra literária. As rea-
ções são diversas! A tendência é que o livro seja considerado melhor pela sua
ÉDIPO REI, DE SÓFOCLES
O Teatro Grego tem entre seus estilos de dramaturgia a Comédia e a Tra-
gédia. Entre as tragédias, Édipo Rei é uma das mais famosas. Para saber
mais detalhes, acesse o site disponível em: http://greciantiga.org/arquivo.as-
p?num=0455. Acesso em: 11 fev. 2014
História e História Antiga: Considerações Preliminares
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riqueza em detalhes, diferente do filme, que, devido a sua comercialização, pos-
sui uma característica diferente e, não raramente, acaba por sofrer interferências
em seu enredo. Em se tratando de uma peça da dramaturgia antiga, como esta
não poderá esclarecer todos os pontos, assim como no livro, devemos levar em
conta o que ela significava para a época, bem como seu contexto.
Funari (2011) também faz um importante alerta sobre nossa natural tendên-
cia em julgar os fatos antigos com os olhos da época que vivemos.
Os estudiosos sempre analisaram a Antiguidade a partir de suas reali-
dades e isto permite refletir sobre a relação dialética entre o presente e o
passado. Somos nós que imaginamos as outras épocas. Os historiadores
da Antiguidade também viveram em suas épocas, com suas paixões e
preconceitos. Isto tudo deve ficar bem claro (FUNARI, 2011, p. 11-12).
A título de reflexão, observaremos um documento produzido na Babilônia.
Código de HAMURABI, § 278/282
Se um homem comprou um escravo ou escrava e (se) este não tiver
cumprido seu mês (de serviço) e (se) uma moléstia (dos membros) se
apossou dele, ele retornará a seu vendedor e o comprador tomará o
dinheiro que dispendeu.
Se um homem comprou um escravo ou uma escrava e (se) surgir uma
reclamação, seu vendedor satisfará a reclamação.
Se um homem, num país inimigo, comprou um escravo ou uma es-
crava de um homem, assim que for ao centro do país e (assim) que o
senhor do escravo homem ou da escrava mulher reconhecer seu escra-
vo homem ou sua escrava mulher, se o escravo homem ou a escrava
mulher são filhos do país, eles serão postos em liberdade sem dinheiro
(lhes será concedida a liberdade).
Se são filhos de um outro país, o comprador declarará diante de Deus
o dinheiro dispendido, e o senhor do escravo homem ou da escrava
mulher dará ao damqarum o dinheiro que este dispendeu e este torna-
rá a comprar seu escravo homem ou mulher. Se um escravo diz a teu
senhor: “tu não és meu senhor”, seu senhor o convencerá de ser seu
escravo e lhe cortará a orelha (PINSK, 2001, p. 9-10).
Esse pequeno excerto faz parte de um dos códigos de leis escritas mais antigos que
se tem registro (senão o mais antigo) – conhecido como Código de Hammurabi
– o qual desperta muita curiosidade. Logo na primeira leitura, o texto causa
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
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Código
Penal
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arrepios, tamanho a rigidez presente nele. Analisá-lo com base nos direitos que
temos atualmente, com os conceitos de proteção a dignidade da pessoa humana,
torna este código algo a ser banido e duramente criticado. Entretanto, como já
mencionamos, fazer isso em nada ajudará a transformar o passado. Precisamos
olhar esse código buscando entender a razão que o tornou tão famoso. O fato
de a civilização babilônica possuir um código de leis escritas já era considerado
um grande avanço para a época.
Embora o código se baseie no princípio do “olho por olho, dente por dente,
vida por vida”, temos que procurar entender os valores que essa obra jurídica que-
ria proteger. Quais os axiomas salvaguardados pelo Código de Hammurabi? Em
uma análise superficial desse documento, temos uma questão financeira muito
bem colocada, isso nos permite dizer que entre os princípios cultivados pelos
babilônicos estava a lisura nos negócios, a proteção do consumidor e a repara-
ção do dano, bem como a punição a desobediência. Mas o foco principal era a
escravidão vista como uma instituição protegida por lei.
Um fator que não pode passar despercebido é a linguagem. A língua é dinâ-
mica. Basta ver as constantes mudanças que ocorrem dia a dia. Diariamente são
criadas novas gírias, expressões, tratamentos, dentre outros e, sendo assim, a
clareza das palavras deve ser de pleno domínio. Ao ler um documento, o histo-
riador deve, acima de tudo, ter propriedade no vocabulário da época em questão.
Certamente, você, acadêmico(a) de história, deve se perguntar: e quando não há
tradução literal do documento ou as palavras possuem significados diferentes
da nossa língua, o que fazer? Ao longo da carreira, nos depararemos com esses
e outros tipos de “problemas”.
FONTES E DOCUMENTOS NO ESTUDO DA
ANTIGUIDADE
Como estudar o mundo Antigo? Como já deve ser do seu conhecimento, o estudo
da história se faz com documentos. O historiador, munido de documentos e de
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conceitos metodológicos apropriados, busca interpretar o passado e construir uma
narrativa que está ligada umbilicalmente a sua forma de ver o mundo. Cada docu-
mento pesquisado nos remete a reflexões diferentes, mas nem sempre foi assim.
Até o início do século XX, a corrente historiográfica que predominava era
fortemente vinculada ao Positivismo. Esta ciência criada ainda no século XIX
por Augusto Comte serviu como método de análise da sociedade e influenciou
e ainda exerce influência sobre uma geração inteira de escritores.
Um dos pontos críticos do positivismo está relacionado ao conceito de
documento. Para os positivistas, a história se restringia aos grandes homens,
aos eventos políticos dos quais havia registros, ou seja, os documentos, para
os positivistas, resumiam-se àqueles que foram escritos, positivados, limitando
muito o campo de trabalho do historiador. Em suma, a história ficava restrita a
uma pequena parte dominante. Observe, prezado(a) estudante: será que é pos-
sível compreender a história da antiguidade apenas pelos documentos escritos?
E aqueles camponeses que não sabiam ler e nem escrever? E os escravos, será
POSITIVISMO
Auguste Comte (1798-1857) está ligado umbilicalmente ao positivismo,
corrente filosófica que ele fundou com o objetivo de reorganizar o conhe-
cimento humano e que teve grande influência no Brasil. Comte também é
considerado o grande sistematizador da sociologia.
Segundo Gomes (2013), o positivismo de Comte baseia-se em três estágios
de desenvolvimento (Lei dos Três Estados) sendo o primeiro o Teológico, o
segundo o Metafísico e, por fim, o Positivo. No estado Teológico, os seres
humanos buscavam explicar os eventos baseados na ação de espíritos, em
elementos mágicos, etc. Na fase Metafísica, essa imaginação da primeira
fase daria lugar a uma reflexão maior sobre a existência das coisas, ou seja,
o sobrenatural passa a dar lugar a força das ideias. Já no Positivo, a ciência
assumiria definitivamente o seu papel de norteadora das ações do homem.
Fonte: adaptado de Gomes (2013).
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que eles não foram importantes para a economia e a sociedade desse período?
E as mulheres e outros grupos sociais de menor expressão?
Foi na primeira metade do século XX que houve o que podemos denominar
de revolução na história, ou melhor, na ciência histórica. Com a publicação de
Revista dos Annales, na França, quebraram-se paradigmas.
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ
Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Lima dourada moravam
os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou
pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu?
Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo a lendária Atlântida.
Os que afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar o tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?
César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro?
Felipe da Espanha chorou, quando sua armada naufragou. Ninguém mais
chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem. Quem pagava a conta?
Tantas histórias. Tantas questões.
Fonte: Brecht (1986. p.167).
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A partir desse contexto, tudo passou a ter valor documental. Os escritos,
fotos, jornais, entre inúmeros outros, ganharam status de documento histórico.
A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela subs-
tituiu a história de Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos
textos, por uma história baseada numa multiplicidade de documentos:
escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escava-
ções arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística, uma curva
de preços, uma fotografia, um filme, ou, para um passado mais distante,
um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a história nova,
documentos de primeira ordem (LE GOFF, 1990, p. 28).
Entretanto, o que realmente faria a diferença era o método que o historiador
empregaria para dialogar com esses documentos e testar a veracidade das infor-
mações deles extraídas. Observemos o que destacou Funari:
O documento foi definido tradicionalmente com um texto escrito à
disposição do historiador. Fustel de Coulanges (1888, p. 29-33) afirma-
va que “a habilidade do historiador consiste em retirar dos documentos
o que contém e nada a acrescentar”. A leitura dos documentos de nada
serviria se fosse feita com ideias preconcebidas (FUNARI, 2002, p. 14).
Embora a citação apresente forte cunho positivista, ela nos traz uma importante
reflexão e deverá sempre ser lembrada pelo historiador. Como assim retirar sem
nada a acrescentar? Esse alerta é feito no sentido de que devemos conservar as
informações da maneira mais fidedigna possível. Não podemos criar uma nar-
rativa ou uma reflexão sobre um documento sem que seja possível atestar sua
veracidade. O historiador precisa ter consciência de que seu trabalho é sério e
que seus erros podem condenar toda uma geração.
Caro(a) aluno(a), para um melhor esclarecimento sobre a importância histó-
rica da Escola dos Annales, indicamos o artigo escrito por José D’Assunção
Barros, intitulado: A Escola dos Annales e a crítica ao Historicismo e ao
Positivismo. Disponível em: http://www.ppghis.com/territoriosfrontei-
ras/index.php/v03n02/article/view/56. Acesso em: 11 fev. 2014.
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Outro fato importante que destacamos da citação acima é com relação às
ideias preconcebidas. Costumamos sempre dizer que os historiadores não são juí-
zes do tempo. Não é dever do historiador julgar aquilo que ocorreu no passado,
mas sim interpretar e analisar. Nosso julgamento em nada vai mudar aquilo que
já passou, mas poderá, como já mencionado, condenar a memória de inocentes
e manchar sua reputação. Desta forma, o alerta de Funari (2002) serve para nos
lembrar de que não é possível fazer uma análise documental com preconceitos.
Se você, acadêmico(a) de História, ao se deparar com um documento escrito e
for analisá-lo, munir-se de informações preconceituosas ou equivocadas certa-
mente comprometerá a qualidade final do seu trabalho.
Os procedimentos que o historiador deve tomar ao analisar um documento,
logo de início, são muitos simples. Funari divide essas críticas em duas partes:
interna e externa.
A busca pela veracidade do relato, implícita nesta abordagem, deveria
ser levada a cabo, em primeiro lugar, por um estudo dos aspectos exter-
nos do documento. A materialidade do texto deveria ser questionada e
posta à prova: haveria incompatibilidade entre a data escrita no texto e
sua composição física? Por exemplo, um texto datilografado não pode
ser anterior à invenção da máquina de escrever, nem o uso da impren-
sa pode preceder Gutemberg. Caso um texto datilografado apresen-
te a assinatura de Júlio César (primeiro século a.C.) pode concluir-se,
pela crítica externa, material, do documento que este é falso (FUNARI,
2002, p. 14).
Os exemplos destacados por Funari já são claros o bastante, mas vamos refle-
tir sobre isso um pouco mais. Forjar documentos é algo muito comum. Não é
raro ver que muitas pessoas elaboram provas para evidenciar aquilo que elas
defendem. Desta forma, cabe ao historiador não se deixar levar pela obviedade
e procurar eliminar de imediato qualquer sinal de inverdade, mas isso somente
pode ser feito com base em muitos estudos e amadurecimento intelectual.
Além dessa crítica externa, que se faz no que diz respeito ao conteúdo mate-
rial do documento, há a necessidade da crítica interna.
Um texto escrito apresenta, também, uma série de informações que
podem ajudar a caracterizar o documento como verdadeiro ou falso. A
crítica interna visa verificar se há motivos para duvidar da sua auten-
ticidade devido a informações inverossímeis. Um tipo de inverossimi-
lhança muito comum é o anacronismo. Se um documento afirma que
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dom Pedro I, quando subia a Serra do Mar para Proclamar a Indepen-
dência do Brasil, utilizou-se da Via Anchieta, pode constatar-se que o
documento é falso, pois não havia, em 1822, essa rodovia (FUNARI,
2002, p. 14).
Embora os exemplos destacados pelo autor beirem ao absurdo, não podemos
ignorá-lo. O anacronismo, como ele bem destacou, consiste em um dos piores
erros cometidos pelo historiador. Em síntese, podemos defini-lo como a utiliza-
ção de elementos que ainda não existiam em uma determinada época. Ou seja,
não é possível haver elementos que em um determinado período eram desco-
nhecidos. Por exemplo, não é possível a existência de cavalos na América antes
da chegada dos europeus.
Em se tratando da História Antiga, o cuidado deve ser ainda maior, visto a
escassez de documentos que há sobre o período. Le Goff alerta para esse problema:
A história faz-se com documentos e ideias, com fontes e com imagi-
nação. Ora o historiador da Antiguidade (eu pecava, claro está, pelo
menos por exagero) parecia-me condenado a uma alternativa desen-
corajante: ou tinha de haver-se com o magro espólio do legado de um
passado mal preparado para se poder perpetuar ou abandonar às sedu-
ções castradoras da erudição pura, ou tinha de entregar-se aos encantos
da reconstituição ocasional (LE GOFF, 1993, p. 9).
Entre os documentos utilizados para o estudo da história, não pode haver nenhum
tipo de hierarquia. Um pedaço de papel com algumas linhas anotadas por alguém
de pouca expressão não pode ser considerado inferior aos inúmeros relatos dos
secretários de governo. Uma fotografia não é superior a um filme. Tampouco, a his-
tória vista pela ótica de um camponês pode ser inferior a de um senhor de terras.
Funari nos apresentou também as diferentes informações que podemos
obter. Segundo ele, “os documentos procuram abranger diferentes categorias
documentais: textos transmitidos pela tradição textual, epígrafes, restos arqueo-
lógicos. Diversas, também, as abordagens: textos filosóficos, poesias, documentos
oficiais, leis” (2002, p. 26). Assim, torna-se possível ao pesquisador abordar um
determinado tema por vários ângulos. Analisar a situação econômica da Roma
Antiga tendo como foco os relatos de um comerciante pode ser bem diferente
da opinião de um plebeu, desta forma, o conhecimento histórico se torna rico
em detalhes, levando o leitor a um nível de compreensão muito mais satisfa-
tório. Posto isso, é indispensável um trabalho focado na interdisciplinaridade.
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Venturini (2012) destaca que o historiador da antiguidade deve ter um diálogo
constante com as outras disciplinas, principalmente a epigrafia e a arqueologia.
Em se tratando das informações que podemos obter sobre um documento
histórico, é preciso salientar que o historiador, ao propor uma pesquisa e pos-
teriormente a sua publicação, deve ter em mente o tipo de público que gostaria
de atingir. Um livro destinado exclusivamente aos estudantes do Ensino Médio
não pode ter o mesmo nível de profundidade daquele destinado a um aluno do
Ensino Superior. Assim, podemos utilizar um mesmo documento, porém, com
linguagens e abordagens diferentes.
Os documentos podem ser analisados de múltiplas maneiras tendo em
vista, em particular, os níveis de profundidade do estudo, as diferen-
tes disciplinas e os diferentes paradigmas ou modelo hermenêuticos. A
profundidade de uma análise varia segundo a especialização do estu-
dioso e a expectativa do público (FUNARI, 2002, p. 26).
Após esta abordagem genérica sobre documentos, cabe a nós voltarmos nossos
olhares especialmente ao tema central – a História Antiga. Embora estudos mais
aprofundados sejam feitos nas próximas unidades, é oportuno também destacar
este estudo preliminar sobre documentos nesta parte do livro.
Utilizam-se como documentos para o estudo da história muitos relatos feitos
por pessoas que foram contemporâneas ao período. Digamos que muitas dessas
pessoas que viveram em determinada época foram os jornalistas do seu tempo.
Costuma-se atribuir ao jornalista a alcunha de “historiador do tempo presente”,
pois a sua função deve ser a de levar a informação factual até os olhos e ouvidos
daqueles que se interessam pela notícia, além de procurar influenciar a opinião
de muitas pessoas, pois não podemos nos esquecer dos interesses que há por trás
do meio de comunicação para o qual trabalham os jornalistas.
Não entrando no mérito da profissão do jornalista, devemos entender que
esses relatos feitos por essas pessoas, embora muito ricos em informações, não
devem ser entendidos como uma fonte fidedigna de informação. Devemos, como
já mencionamos anteriormente, atestar a veracidade dessas informações. Quando
se tratam de memórias escritas por alguém, o cuidado deve ser ainda maior.
Devemos ter em mente que a memória é seletiva, pois o cérebro humano não é
capaz de guardar todas as informações, salvo em alguns casos patológicos. Desta
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forma, esses homens, autores de relatos, podem ter sido traídos por suas memó-
rias, mas o historiador não deve cair nessa armadilha. Como definiu Le Goff:
A memória, como propriedade de conservar certas informações, reme-
te-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às
quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou
que representa como passadas (LE GOFF, 2003, p. 419).
Prezado(a) acadêmico(a), quero chamar a sua atenção para a última linha desta
citação. Quando o autor menciona que o homem atualiza as informações que
são passadas ou que ele representa como passadas, é certo que cada um vai ver
o passado como lhe é mais confortável. Não é difícil encontrar entre nós pessoas
que idealizam o passado como um tempo melhor, ou que também se colocam
como protagonista da história como fica claro no filme indicado no material com-
plementar. É comum ouvir das pessoas mais velhas a expressão “no meu tempo
era assim ou assado”. Uma determinada época pode apresentar um ponto posi-
tivo para mim, mas pode ser ruim para outro. E o historiador deve ficar atento
a isso ao analisar um relato.
Igualmente, ao analisar a historiografia, o pesquisador deve atentar-se aos
objetivos do autor, bem como às características de cunho teórico-metodológicas
das quais o mesmo lançou mão. A História do Egito vista do aspecto econômico
é diferente da ótica social. Embora possamos analisar os mesmos documentos,
os resultados podem ser diferentes, mas não por isso inverídicos. Vale destacar
também a diferença entre fontes documentais e historiográficas.
O conceito de documento, após a Escola dos Annales, passou a ser bastante
amplo, conforme já alertamos. Recortes de jornais, moedas, vestimentas, usos e
costumes, tudo isso passou a ser considerado fonte documental à produção do
conhecimento histórico. Em linhas gerais, podemos definir que documentos são
todos os materiais produzidos pelo homem.
Tendo em vista a importância dos documentos para o estudo da história,
vejamos um exemplo que ilustra bem o nosso conteúdo. Considerado o pai da
História, Heródoto de Halicarnasso foi autor de obras imprescindíveis ao estudo
da antiguidade. Segundo Pereira M.,
Se é certo que o desenvolvimento dos estudos da história da Grécia e
do Próximo Oriente nos últimos três séculos teria sido impossível sem
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a obra de Heródoto, como advertiu Momigliano, o seu lugar na Litera-
tura Grega não é menos relevante. Efectivamente, embora seja difícil
considerá-lo “o primeiro expoente da literatura ática”, não obstante ter
usado o dialeto iônico, ele foi, tanto quanto sabemos, “o inventor da
primeira obra complexa em prosa da literatura européia” (PEREIRA
M., 1994, p. XXIX).
Esse historiador é importantíssimo ao estudo do mundo antigo. Embora haja nas
obras de Heródoto uma boa
dose de fantasias, ele é con-
siderado o pai da História,
pois escreveu baseado em um
método próprio, onde procu-
rava obter as razões dos fatos
de forma racional, não ape-
nas exaltar os grandes feitos,
como era o costume entre os
escritores desta época.
Entretanto, Pereira M.
(1994, p. XXII) alerta que
essa atitude não o impede
de dar destaque a outros
elementos pouco prováveis,
como a força sobrenatural ou superior que atua sobre a vida dos homens. Vejamos
as palavras do próprio Heródoto:
Impõe-se, neste ponto da minha narrativa, uma reflexão sobre quem
era Ciro, o destruidor do império de Creso, e por que forma os Persas
assumiram a supremacia sobre a Ásia. É no testemunho de um certo
número de Persas – aqueles que não pretendem enaltecer a história de
Ciro, mas simplesmente narrar os fatos – que me fundamento; estou,
no entanto, em condições de relatar, a respeito do mesmo Ciro, três
outras versões diferentes (HERÓDOTO, 1994, p. 125).
Observem o alerta que faz o autor a respeito da metodologia que ele emprega
para construir a narrativa histórica. Quando o autor destacou que se baseou em
certo número de Persas e os selecionou dentro de um critério estabelecido (que
não simplesmente queria enaltecer os fatos), fica clara a preocupação dele com
Heródoto de Halicarnasso “O pai da História”
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a isenção que a narrativa histórica deveria ter. Outro fator importante são as
versões que o mesmo fez questão de confrontar, tendo em vista os vários depoi-
mentos. É exatamente este cuidado que o historiador precisa ter no trato com
as fontes. Confrontar as informações consiste em uma das melhores formas de
atestar a veracidade dos fatos.
Outro exemplo que podemos destacar como documento para o estudo da
antiguidade está na obra de Tucídides. Esse autor grego do século V a.C. foi res-
ponsável por nos retratar a História da Guerra do Peloponeso. Entretanto, para
analisarmos esse acontecimento sob a óptica desse autor, maiores cuidados ainda
deveremos tomar, pois o mesmo era comandante das tropas atenienses. Além
do mais, sua obra, apesar de rica, é incompleta.
Mesmo diante desses fatos, não podemos tirar o mérito de historiador de
Tucídides. Segundo Kury (1987), ele “inovou substancialmente o método his-
tórico, influenciado pelo racionalismo de Anaxágoras e pelo espírito crítico e
iconoclasta dos sofistas”. A importância da história para Tucídides era registrar
os eventos e torná-los uma espécie de patrimônio útil aos homens.
Tucídides foi responsável também, segundo Kury (1987), por não apenas
narrar os fatos, mas incluir documentos oriundos dos tratados selados entre as
partes envolvidas no conflito. Não obstante, não os utiliza de forma ilustrativa,
mas exerce duras críticas para mostrar que esses tratados não serviam de nada,
devido à guerra se estender apesar da existência desses acordos. Vejamos um
trecho da obra de Tucídides:
Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados, embo-
ra seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. Os ho-
mens, na verdade, aceitam uns dos outros relatos de segunda mão dos
eventos passados, negligenciando pô-los a prova, ainda que tais eventos
se relacionem com sua própria terra (TUCÍDIDES, 1987, p. 27).
O alerta feito pelo autor, assim como Heródoto, refere-se à importância de
confrontar as fontes para se obter maior confiabilidade nelas. Assim como
foi citado, deve ser feita uma análise hermenêutica, ou seja, uma análise
crítica das fontes e dos seus conteúdos, visto que a história é uma ciência
e como tal precisa ter, acima de tudo, sustentação científica dos argumen-
tos apresentados.
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O autor prossegue com suas críticas pela falta de interesse pelo saber histó-
rico e, como não podia ser diferente, sendo a história um patrimônio do homem,
deve este buscar o seu conhecimento. Entretanto, Tucídides lamenta a falta de
interesse pela procura da verdade, “a tal ponto chega à aversão de certos homens
pela pesquisa meticulosa da verdade, e tão grande é a predisposição para valer-
se apenas do que está ao seu alcance” (1987, p. 27).
Utilizo as palavras de Tucídides (1987) para fazer um alerta a você, acadêmi-
co(a) de história: não devemos apenas ficar em uma zona de conforto, precisamos
sempre ir ao encontro de novos problemas, colocando à prova toda informação
nova obtida. Esse será, portanto, o nosso maior desafio.
Tito Lívio também é um autor indispensável ao estudo da antiguidade. A lista
de pessoas inspiradas por esse autor é enorme, dentre os quais podemos desta-
car Nicolau Maquiavel e Montesquieu, além de Shakespeare e Voltaire. Nascido
em Pádua, uma cidade de cultura muito desenvolvida e de destacada severi-
dade moral entre seus habitantes, esse autor foi responsável pela obra História
de Roma, composta por 142 livros (SIERRA, 1990).
O historiador Tito Lívio foi pioneiro ao valorizar a linguística e a arqueo-
logia como fontes históricas. Ele parte de uma comparação com os textos de
Políbio para atestar a veracidade de suas fontes, pois o mesmo considera esse
autor uma fonte segura. Essa é uma característica original do método empregado
por Tito Lívio, que é a tendência em se basear em apenas um autor (SIERRA,
1990). Observemos o que escreve esse autor:
Catorze mil boios foram massacrados nesse dia. Aprisionaram-se mil e
noventa e dois infantes, setecentos e vinte e um cavaleiros, três chefes,
duzentos e doze estandartes e sessenta e três carros. Mas também aos
romanos a vitória custou bastante sangue: perderam mais de cinco mil
homens, tanto das suas quanto das tropas aliadas, vinte e três centu-
riões, quatro prefeito dos aliados, e marco Genúcio, Quinto e Marco
Márcio, tribunos militares da segunda legião (TITO LÍVIO, 1990, p.
13).
Quais as lições, prezado(a) aluno(a), que podemos tirar dessa citação?
Primeiramente, é a riqueza em detalhes, pois traz uma descrição minuciosa do
que ocorreu. Talvez seja uma estratégia para mostrar o quanto foi desgastante ou
sofrido obter tal vitória sobre os boios. Também da ênfase às perdas humanas,
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mostrando a dramaticidade do evento. Outro exemplo da riqueza de detalhes
que a obra de Tito Lívio possui é evidenciado quando Tito destaca como o luxo
vindo do oriente se propagou entre os romanos.
Com efeito, o luxo das nações estrangeiras penetrou em Roma na estei-
ra do exército da Ásia: foi ele que introduziu na cidade os leitos ador-
nados de bronze, os tapetes preciosos, os véus e tecidos delicados, as
mesas de refeição, os aparadores, enfim, aquelas peças de mobiliário
consideradas muitíssimo elegantes (TITO LÍVIO, 1990, p. 284).
Em suma, prossegue o autor em sua descrição minuciosa:
Por essa época, apareceram nos festins as cantoras e tocadoras de harpa,
para divertir os comensais; empregou-se mais cuidado e magnificência
nos preparos dos banquetes, e os cozinheiros, que para os antigos eram
os escravos mais humildes, entraram a encarecer: o que antes não pas-
sava de um ofício começou a ser considerada uma arte. Mas isso tudo
era apenas a semente do que ainda estava por vir (TITO LÍVIO, 1990,
p. 284-285).
É impressionante o olhar cirúrgico que esse historiador tem sobre as transforma-
ções dos costumes desse período. Ele observou, além das mudanças de ordem
material, as de ordem social, visto que destacou a virada ocorrida no ofício de
cozinheiro. O que antes era visto como depreciativo passou gradualmente a ter o
status de arte. Além do mais, ele antevia que mais mudanças ocorreriam. Em linhas
gerais, a transformação de Roma em um Império Cosmopolita passa também
pelos usos e costumes da população, e não apenas pelo campo político e militar.
Portanto, é desta forma que precisamos observar os documentos e sujeitá-
-los a uma verificação. A interpretação crítica é indispensável e requer atenção e
dedicação. Os exemplos destacados neste livro apresentam modelos de análise e
construção do conhecimento histórico que deverão ser dominados pelo(a) futu-
ro(a) professor(a) de História ou ainda pelo(a) historiador(a). Entretanto, além
das fontes e dos documentos, precisamos compreender a importância da histo-
riografia e do método empregado.
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FONTES DOCUMENTAIS E FONTES
HISTORIOGRÁFICAS
O(a) acadêmico(a) de história perceberá imediatamente que as palavras “fonte”
e “documento” fazem parte do cotidiano do historiador. Por isso, é necessá-
rio esclarecermos pormenorizadamente qual é o significado delas, bem como
classificá-las de maneira adequada, para que o trabalho do historiador tenha
mais qualidade.
Costuma-se dividir as fontes em duas categorias distintas: fontes documen-
tais e fontes historiográficas. Podemos definir, em linhas gerais, que as fontes
documentais são aquelas originais, onde o historiador faz sua própria interpre-
tação. Em síntese, os escritos de Heródoto, Tito Lívio, Tucídides, Cícero, Catão
são considerados fontes documentais. Assim como os demais objetos já citados
como peças arqueológicas, fotografias, filmes etc.
Já as fontes historiográficas são aquelas obras em que o historiador vai buscar
suas informações, ou seja, você pode fazer uma pesquisa sobre o Egito utilizando
obras de outros historiadores. Por exemplo, Nicolau Maquiavel foi autor da obra
“Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”. Esse livro foi escrito na pri-
meira metade do século XVI. Nesse sentido, podemos considerá-la uma fonte
documental para estudar a Florença renascentista, mas também pode ser uma
fonte historiográfica para o estudo da antiguidade, pois o que fez Maquiavel foi
interpretar a obra de Tito Lívio e sintetizar alguns pontos em seu livro.
Vejamos alguns exemplos:
A escravidão, segundo Aristóteles
A propriedade é uma parte da casa e a arte aquisitiva uma parte da
administração doméstica, já que sem as coisas necessárias são impossí-
veis a vida e o bem-estar; na administração doméstica assim como nas
artes determinadas, é necessário dispor dos instrumentos adequados se
se deseja levar a cabo sua obra. Os instrumentos podem ser animados
ou inanimados, por exemplo, o timão do piloto é inanimado, o vigia
animado (pois o subordinado faz às vezes de instrumento nas artes).
Assim também os bens que se possui são um instrumento para a vida,
a propriedade em geral uma multidão de instrumento, o escravo um
bem animado e algo assim como um instrumento prévio aos outros
instrumentos. Se todos os instrumentos pudessem cumprir seu dever
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obedecendo às ordens de outro ou antecipando-se a elas, como contam
das estátuas de Dédalo ou dos tridentes de Hefesto, dos que diz o po-
eta que entravam por si só na assembléia dos deuses, se as lançadeiras
tecessem sós e os plectros tocassem sozinhos a cítara, os maestros não
necessitariam de ajuda e nem de escravos os amos (ARISTÓTELES
apud PINSK, 2001 p. 11-12).
O pesquisador pode perfeitamente fazer uma análise histórica e construir o seu
entendimento sobre a escravidão na Grécia Antiga lançando mão dos textos
de Aristóteles. A citação anterior é um exemplo de como a escravidão era vista
como essencial à sociedade ateniense. Esse é um exemplo de fonte documental.
Vejamos outro exemplo:
Aulo Capreilio Timóteo, Mercador de escravos:
Aulo Capreilio Timóteo não figura em qualquer livro de história. Nem
haveria por quê. Contudo, um acidente arqueológico confere-lhe certo
interesse, e, talvez, até mesmo certa importância. Ele foi um escravo do
primeiro século de nossa era que obteve liberdade e passou a se dedicar
ao comércio de escravos, atividade em que prosperou muito, a ponto de
poder arcar com uma lápide funerária dispendiosa, com cerca de dois
metros de altura, em mármore finamente decorado (FINLEY, 1991, p.
187).
A referida citação é um exemplo de fonte historiográfica. Finley (1991) fez uma
análise de um documento que faz menção a um escravo. Sua interpretação, suas
teses e conclusões a respeito disso podem também nos servir para fundamentar
nossa pesquisa. Mas precisamos estar sempre alertas com relação aos conceitos
por trás dessas interpretações, pois esse autor escreveu esse texto buscando res-
ponder aos seus questionamentos, atendendo aos seus anseios, baseando-se em
seus preceitos teórico-metodológicos. Por isso a importância do confronto das
fontes dos constantes questionamentos que ele deve sofrer.
Código de Hamurabi
§ 10
Se o comprador não trouxe o vendedor que lhe vendeu (o objeto) e as
testemunhas diante dos quais comprou e o dono do (objeto) perdido
trouxe as testemunhas que conhecem seu (objeto) perdido: o compra-
dor é um ladrão, ele será morto; o dono do (objeto) perdido tomará seu
(objeto) perdido.
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
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§ 11
Se o dono do (objeto) perdido não trouxe as testemunhas que conhecem
seu (objeto) perdido: ele é um mentiroso, levantou uma falsa denúncia;
ele será morto.
§ 12
Se o vendedor já morreu, o comprador tomará da casa do vendedor cinco
vezes a soma reclamada nesse processo.
§ 13
Se as testemunhas desse awilum não estão perto, os juízes conceder-lhe-ão
um prazo de seis meses; se no sexto mês ele não trouxer suas testemu-
nhas: esse awilum é um mentiroso, ele carregará a pena desse processo
(BOUZON, 1998, p. 54).
O Código de Hammurabi consiste em uma fonte documental para se compreender
a sociedade babilônica. Sua compreensão e interpretação passam, primeiramente,
pelo entendimento do vocabulário empregado no original ou na tradução que
foi feita sobre o documento. Entretanto, o pesquisador pode optar por fazer uma
análise historiográfica dessa sociedade.
Hammurabi e sua Legislação
Uma das finalidades da composição de uma obra literária como a estela
de Hamumurabi era, sem dúvida, enaltecer a figura do rei. O caráter
programático e propagandístico da obra transparece em cada linha do
prólogo e do epílogo. É difícil, portanto, atribuir a uma composição
com tais características a função de norma válida para todas as regiões
do reino de Hammurabi. Quando Hammurabi proclama no prólogo de
sua estela: “Que o homem oprimido, que está implicado em um pro-
cesso, venha diante de minha estátua de rei da justiça, leia atentamen-
te, minha estela escrita e ouça minhas palavras preciosas. Que minha
estela resolva sua questão, ele veja o seu direito, o seu coração se dila-
te!”(BOUZON, 1998, p. 54).
O texto de Bouzon é mais um exemplo de fonte historiográfica, que, como já
informado, necessita de cuidados metodológicos adequados.
Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade
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DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA PARA O ESTUDO DA
ANTIGUIDADE
Venturini (2012), ao fazer referência aos instrumentos de pesquisa do historia-
dor da antiguidade, aponta os seguintes elementos como imprescindíveis para
análise documental:
1) Considerar o contexto histórico a cada documento; 2) analisar o
conteúdo do documento e esclarecer os termos específicos utilizados;
3) pesquisar a respeito dos nomes próprios citados; 4) identificar a im-
portância do documento para o processo histórico que se quer analisar
(VENTURINI, 2012, p. 129).
Com base nesses pressupostos, prezado(a) aluno(a), observaremos os documen-
tos abaixo, bem como os comentários que a eles se seguem, com o intuito de
aprimorar nossa percepção acerca dos documentos históricos.
Como tratar escravo em Roma
É louvável mandar em seus escravos com moderação. Mesmo no
que diz respeito às nossas posses humanas, cumpre perguntar-se
constantemente, não apenas tudo aquilo que podemos fazê-los sofrer
sem sermos punidos, mas também o que permite a natureza da
equidade e do bem, a qual ordena poupar mesmo os cativos e aqueles
que se compra com dinheiro. Quando se trata de homens livres de
nascença, honrados, é mais justo tratá-los não como material humano,
mas como pessoas que estão sob tua autoridade e que te foram confia-
das, não como escravos, mas como pupilos. Aos escravos, é permitido
refugiarem-se junto a uma estátua. Embora tudo seja permitido para
com um escravo, existem coisas que não podem ser autorizadas em
nome do direito comum dos seres animados. Quem podia ter para com
Védio Pólio um ódio maior que seus escravos? Ele engordava moréias
com sangue humano e mandava jogar quem o ofendia num lugar que
não era senão um viveiro de serpentes... (SÊNECA apud PINSK, 2001,
p. 14).
COMENTÁRIOS: Sêneca foi um escritor que viveu entre os séculos I a.C e I
d.C. Neste texto, podemos perceber a importância da instituição escravidão na
Roma Antiga.
Campanha de Seti i no norte da Palestina
Ano I, 3.º mês da terceira estação, dia 10. Viva o Hórus: Touro Pode-
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roso, Aparecendo em Tebas, Fazendo Viver Duas Terras; as Duas Deu-
sas: Repetindo Nascimentos, Poderosas nas Armas, Repelindo os Nove
Arcos; o Hórus de Ouro: Repetindo Aparições, Poderoso de Arcos em
Todas as Terras; o Rei do Alto e Baixo Egito, Senhor das Duas Terras;
Men-maat-Re [Ir]-em-Re; o Filho de Ré, Senhor dos Diademas: Seti
Mer-ne-Ptah, amado de Ré-Har-akhti, o grande deus. O bom deus,
potente com seu braço, heróico e valente como Montu, rico em escra-
vos, sabendo (como) colocar sua mão, alerta onde estiver; falando com
sua boca, agindo com suas mãos, valente líder de seu exército, valente
guerreiro no fragor da luta, um terrível Bastet em combate, penetrando
numa massa de asiáticos e prostando-os, esmagando os príncipes de
Reteneu (ANET apud PINSK, 2001, p. 22-23).
COMENTÁRIOS: Esse documento é referente ao Egito Antigo e fica exposta a
força da religião na vida dessa civilização. Percebe-se uma louvação grande aos
deuses da mitologia egípcia.
Senaqueribe invade Judá
No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei dos
assírios, atacou e tomou todas as cidades fortes de Judá. Então Eze-
quias, rei de Judá, mandou mensageiros ao rei dos assírios, em Laquis,
dizendo: Eu cometi uma falta; retira-te das minhas terras e eu aceitarei
tudo o que me impuseres. O rei dos assírios, então, impôs a Ezequias,
rei de Judá, trezentos talentos de prata, e trinta talentos de ouro. E Eze-
quias deu-lhe toda a prata que foi encontrada na casa do Senhor e nos
tesouros do rei. Foi quando, Ezequias arrancou das portas do templo
do Senhor as chapas de ouro com que ele próprio as tinha forrado e as
entregou ao rei dos assírios (II REIS apud PINSK 2001, p. 26).
COMENTÁRIOS: O documento acima é um trecho Bíblico e também nos serve
de documento para o estudo da antiguidade. Mas, é preciso tratar esse docu-
mento com o mesmo rigor metodológico dos demais.
O dilúvio sumério
Minha humanidade, em sua destruição eu vou..., (aproximadamente
as primeiras 37 linhas destruídas) Para Mintu eu vou devolver o... de
minhas criaturas, Eu vou devolver o povo aos seus povoados, (40)
Das cidades, em verdade eles construirão seus lugares de (divinos) ritu-
ais, eu farei pacífica sua sombra,
De nossas casas, em verdade eles assentarão seus tijolos em lugares puros,
Os lugares de nossas decisões em verdade eles estabelecerão em lugares
puros
Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade
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Ele dirigiu o... dos lugares sagrados
Aperfeiçoou os ritos (e) as exaltadas (divinas) ordenações,
Na terra ele... ou, colocou o... ali (ANET apud PINSK, 2001, p. 43).
COMENTÁRIOS: Esse texto refere-se aos Assírios, civilização mesopotâmica.
Nesse exemplo, fica patente a precariedade material em que foram encontrados
alguns documentos, visto que muitas linhas foram destruídas.
O aparecimento dos deuses gregos
No princípio era o nada. Depois a terra de largos flancos, assento in-
falível de todas as coisas para sempre... e o Amor, o mais belo entre os
deuses imortais. Ele rompe os membros e, no seio de todos os deuses,
como de todos os homens, doma o espírito e a sábia vontade. Do Nada,
nasceram Erebos e a negra Noite... Primeiro a Terra concebeu, gran-
de como ela, o Céu estrelado, capaz de cobri-la inteira, o qual ia ser
para os deuses bem-aventurados um assento infalível para sempre. Em
seguida, concebeu os altos montes, aprazíveis moradas das deusas, as
Ninfas, que vivem nos montes ondulados. Em seguida deu à luz o mar
infecundo, de ondas impetuosas, o Largo, sem ajuda do terno amor. Em
seguida, tendo-se unido ao Céu, deu à luz o Oceano de torvelinhos pro-
fundos, Coios, Crios, Hyperion, Iapetos, Theia, Rheia, Themis, Mne-
mósina, Phoibe com a coroa de ouro e a amável Tétis. Depois deles,
nasceu Cronos, o mais jovem, de espírito manhoso, o mais terrível de
seus filhos. E seu vigoroso pai tornou-se objeto de seu ódio [...] (HESÍ-
ODO apud PINSK, 2001, p. 51).
COMENTÁRIOS: O texto acima é uma versão sobre o aparecimento dos Deuses
Gregos sob uma ótica bem romantizada.
Hino a Ishtar
Louvada seja a Deusa, a mais poderosa das deusas.
Que se venere a soberana dos povos, a favorita dos Igigi.
Louvada seja Ishtar, a mais poderosa das deusas.
Que se venere a rainha das mulheres, a favorita dos Igigi.
Ela está vestida de prazer e amor.
Ela está carregada de vitalidade, fascínio e volúpia.
Ishtar está vestida de prazer e amor.
Ela está carregada de vitalidade, fascínio e volúpia.
A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR
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Nos lábios ela é doce; a vida está em sua boca.
Quando ela surge a alegria se completa.
Ela é maravilhosa; véus são jogados por sobre sua cabeça.
Seu corpo é lindo; seus olhos, brilhantes (ANET apud PINSK, 2001, p. 53).
COMENTÁRIOS: Mais um texto de cunho mitológico que exalta de forma
incansável uma divindade. Esta Deusa, Ishtar, consta na mitologia de vários
povos antigos orientais.
É importante destacar que este último tópico de nossa primeira unidade
refere-se aos diversos documentos e interpretações aos quais estão sujei-
tos as fontes e documentos históricos. É salutar ao ofício do historiador o
exercício constante da interpretação. Não se faz História sem documentos
e, para que isso seja possível, a interpretação se faz indispensável. Portanto,
é importante que o(a) futuro(a) professor(a) de história tenha em mente os
procedimentos metodológicos adequados, bem como uma carga enorme
de leitura para que seu trabalho se enriqueça cada vez mais em se tratando
de cientificidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) acadêmico(a) de História. Nesta primeira unidade, gostaríamos de
destacar alguns pontos indispensáveis ao ofício do historiador. O assunto traba-
lhado é de suma importância para se compreender como é construída a escrita
da História, além de lhe apresentar os requisitos básicos para a continuidade
dos nossos estudos sobre a antiguidade. Fique atento(a), você até pode não se
enveredar pelos caminhos da antiguidade, mas o cuidado com as fontes são indis-
pensáveis a qualquer periodicidade.
Primeiramente, vale lembrar que a história não se faz sem documentos. Da
mesma forma que o biólogo lança mãos dos recursos disponíveis no seu labo-
ratório para pesquisa, sejam eles células, animais, restos mortais, entre outros,
o historiador deve valer-se dos documentos como instrumento indispensável à
Considerações Finais
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profissão. As palavras “fonte” e “documento” serão incorporadas ao seu voca-
bulário a partir de agora.
Também precisamos nos lembrar da importância do conhecimento teórico-
metodológico para o desenvolvimento da pesquisa. São esses procedimentos
que lhe indicarão o caminho que deverá ser percorrido ao embrenhar-se em um
estudo de determinado tema.
Devemos estar atentos para não cometermos equívocos quando formos
analisar uma fonte. Por isso, é imprescindível a crítica interna e externa ao docu-
mento para evitar o anacronismo.
Portanto, acreditamos que, com essas informações preliminares, você, aca-
dêmico(a) de História da UNICESUMAR, estará apto(a) a dar continuidade aos
estudos sobre a antiguidade, não obstante, de forma mais aprofundada e específica.
1.	Pesquise sobre uma civilização que é denominada clássica e, com base na expo-
sição feita nesta unidade, descreva quais os motivos que justificam tal título.
2.	Tendo em vista os cuidados que o pesquisador precisa ter no trato das fontes,
é possível interpretar um fato histórico isento de juízo de valor? Justifique sua
resposta.
3.	Descreva o conceito de crítica interna e externa destacado por Funari.
4.	Explique o significado do termo ANACRONISMO e exemplifique como isso pode
ocorrer na elaboração de um texto histórico.
5.	Escolha dois documentos de sua preferência contidos nesta unidade e analise-
-os com base nos preceitos elencados por Venturini.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
QUADRO SINÓTICO
HISTÓRIA
ANTIGA
CONCEITO
Período histórico que compreende, didaticamente, a formação
das primeiras civilizações juridicamente organizadas (por volta
do século XXX a.C.) até a Queda do Império Romano Ocidental,
em 476 d.C.
FONTES
Documentais
São as fontes em que o historiador utiliza os
materiais originais de um determinado perí-
odo, sem o auxílio de interpretações já feitas.
Podemos citar como exemplo as obras origi-
nais de Homero, a Lei das 12 Tábuas Romana,
O Código de Hammurabi, dentre outras.
Historiográficas
São as fontes resultantes de estudos já feitos
sobre determinado assunto por outros pes-
quisadores não contemporâneos à produção
do documento.
ANÁLISE HER-
MENÊUTICA
Crítica Externa
É a análise que visa identificar incompati-
bilidades aparentes em um determinado
documento. Por exemplo: se um texto da
antiguidade poderia ser ou não escrito em
computador ou se uma arma da pré-história
poderia apresentar vestígios de pólvora.
Crítica Interna
É a análise centrada no conteúdo material
do documento, ou seja, visa identificar se
os elementos textuais de um determinado
documento são compatíveis com o momento
em que foram produzidos. Por exemplo: se
em um texto da Grécia arcaica há referências
ao cristianismo.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Embora não seja um filme sobre História Antiga, seu enredo é importante para se entender as
dificuldades de se construir uma narrativa histórica, bem como a falta de técnica e método pode
comprometer severamente o ofício do historiador.
Os Narradores de Javé
Ano: 2003
Direção: Eliane Caffé
Sinopse: Quando um pequeno vilarejo se vê à beira da extinção, os seus moradores resolvem unir
suas forças para impedir que isso ocorra. Entretanto, para que o pequeno vilarejo não sucumbisse
diante do iminente progresso, comprovar que o local possuía riqueza histórica e, portanto, não
merecesse ser alagado para a construção de um reservatório para a usina hidrelétrica era de
primeira necessidade. Daí surgem as questões: quem poderia escrever a história da“grande”Javé?
Quais seriam os atributos que deveriam ser enaltecidos para que a memória dos seus habitantes
fosse preservada? Essa missão foi dada ao grande desafeto da população chamado Antônio Biá
(José Dumont). A falta de rigor metodológico fez com que a aventura historiográfica de Biá se
tornasse um eterno pesadelo.
Sobre as CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA, visite o seguinte site disponível em: http://www.
arqnet.pt/portal/estudo/paleog.html. Acesso em: 11 fev. 2014.
Sobre INTERDISCIPLINARIDADE, acesse o site disponível em: http://anpuh.org/
anais/?p=17362. Acesso em: 11 fev. 2014
Para saber mais sobre HERMENÊUTICA, acesse o site disponível em: http://www.infoescola.com/
filosofia/hermeneutica/. Acesso em: 11 fev. 2014
UNIDADE
II
Professor Me. Kleber Eduardo Men
O ORIENTE PRÓXIMO
Objetivos de Aprendizagem
■
■ Compreender os elementos que proporcionaram a sedentarização
do homem e a formação das primeiras sociedades.
■
■ Estudar os fatores que contribuíram para a formação das primeiras
civilizações.
■
■ Conhecer o Crescente Fértil e suas principais civilizações, bem como
a estrutura jurídica que contribuiu para que essas civilizações se
consolidassem.
■
■ Entender os fatores que condicionaram a formação do Império
Egípcio, destacando também a importância da estrutura burocrática
à consolidação do Estado Egípcio.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■
■ As civilizações mesopotâmicas e suas instituições
■
■ Hebreus e fenícios
■
■ O estado egípcio
INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a) de História, nesta unidade, o tema central de nossa
discussão será o Crescente Fértil. Após a sedentarização do homem, proporcio-
nada pela domesticação de plantas e de animais, começaram a surgir pequenos
agrupamentos humanos que deram origem a civilizações que, consequente-
mente, tornaram-se Estados organizados. Os primeiros vestígios do homem em
sociedade foram encontrados na região denominada de Crescente Fértil. Isso se
deve à existência de rios bem como de um solo bastante agricultável. Egípcios,
Hebreus, Sumérios, Assírios, Babilônios, Persas fazem parte da história desse
espaço geográfico.
Embora nos pareça uma situação bem distante de nossa realidade, as ins-
tituições formadas por essas civilizações ainda fazem parte de nossas vidas. A
experiência vivida por esses povos são importantes para a compreensão da organi-
zação humana, principalmente no que diz respeito ao surgimento do Estado e de
sua estrutura burocrática. Como é humanamente impossível sintetizar a história
do Oriente nesta unidade, proporcionaremos a você, prezado(a) acadêmico(a),
as características gerais dessas civilizações e refletiremos sobre sua organização
e legitimação, exercitando e engrandecendo ainda mais nossos conhecimentos
sobre a Ciência Histórica.
Introdução
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O ORIENTE PRÓXIMO
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AS CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS E SUAS
INSTITUIÇÕES
O que é um Estado? Essa pergunta, a primeira vista, parece um tanto simples,
embora não o seja. Certamente, quando fazemos essa pergunta a um aluno da
Educação Básica, este pensa no Estado do Paraná, São Paulo, Minas Gerais,
Mato Grosso, e assim por diante. Na verdade, o conceito de Estado que abor-
daremos é muito mais complexo, pois significa que um povo ou nação está
organizado dentro de uma estrutura política e principalmente jurídica.
Certa vez, a apresentadora de televisão Regina Casé disse que todo brasileiro
gostava de samba, futebol e funk e, em face dessa afirmação, muitas pessoas e
inclusive você deve ter se perguntado: e se eu não gosto disso, será que eu não
sou brasileiro? Isso justifica a dificuldade que temos em enquadrar as pessoas
dentro de um padrão cultural único.
Gostando ou não de futebol, do samba e/ou do funk, estamos ligados uns
aos outros por fatores políticos e jurídicos, pois temos um mesmo presidente,
obedecemos às mesmas leis elaboradas pelos legisladores federais, temos um
mesmo código civil, código penal e seguimos o mesmo calendário. Enfim, são
essas estruturas que engendram nossa nação.
As primeiras experiências da formação de Estados organizados juridicamente
e politicamente foram vistas na Mesopotâmia. Situada no Crescente Fértil, mais
especificamente entre os Rios Tigre e Eufrates, essa região abrigou três impor-
tantes civilizações - os Assírios, os Sumérios e os Babilônios.
Gordon Childe fala de uma revolução que “transformou pequenas al-
deias de agricultores autossuficientes em cidades populosas”. A impres-
são que a frase nos passa é a de que logo após se organizar sedentaria-
mente como agricultor, atingindo a autossuficiência e administrando o
excedente, o homem administra uma nova mudança, desta feita quase
natural e sempre obrigatória: a urbanização. Um rápido olhar acusa
uma aparente coincidência: a agricultura inicia-se no Oriente Próximo,
a urbanização também. Falamos mais exatamente do Crescente Fértil
como local onde as revoluções Agrícola e Urbana teriam se realizado
(PINSKY, 2011, p. 58-59).
As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições
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Trópico de Câncer
Jerusalém
Damasco
Tiro
Sidon
Biblos
Mêntis
Saís
N
i
l
o
N
il
o
Tebas
EGITO
Mar
Vermelho
Golfo
Pérsico
MESOPOTÂMIA
Babilônia
Assur
Ninive
T
i
g
r
e
E
u
f
r
a
t
e
s
Mediterrâneo
A citação de Pinsky (2011) endossa o que foi destacado até aqui. Em outras
palavras, é quase um consenso entre os pesquisadores que as primeiras experi-
ências da vida em sociedade foram realizadas no Oriente, mais especificamente
na região denominada de Crescente Fértil (veja ilustração anterior).
Segundo as diversas obras pesquisadas, a região apresentada pelo mapa
denomina-se Crescente Fértil pelo fato de possuir o formato de lua cres-
cente e devido à existência de rios de vazão perene. Assim a ciclotimia das
águas tornaram suas margens áreas de extrema fertilidade, contribuindo
para fixação do homem na terra (nota do autor).
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Um dos fatores indispensáveis para a fixação do homem em um determi-
nado espaço é a existência de recursos naturais, principalmente a água. Fonte de
vida, sem esse recurso a fixação e expansão dessas cidades ficaria comprometida.
A dependência que essas civilizações tinham da água fez com que elas fossem
também denominadas de Civilizações Hidráulicas, visto que desenvolveram
mecanismos para dominar e racionalizar o uso dos rios. Pinsky (2011) afirma
que, no Egito e na Mesopotâmia, o domínio de técnicas que visassem aperfei-
çoar o ciclo das águas era indispensável, isto porque o período das cheias nem
sempre era homogêneo. A respeito da Mesopotâmia ele descreve:
Lá, por conta da irregularidade do degelo nas vertentes, as cheias eram
surpreendentes e intempestivas – às vezes destruidoras. A extrema fer-
tilidade das terras às suas margens (pelo menos ao sul de Bagdá) re-
queria uma defesa contra a imprevisibilidade dos rios, o que era obtido
por meio da construção de valas que, graças à topografia plana e aos
canais e braços naturais, desviavam as águas para onde fosse necessário
(PINSKY, 2011, p. 60).
Em suma, embora a região do Crescente Fértil abrigasse povos de diferentes
culturas, com climas e condições geográficas heterogêneas, o fator que os torna
semelhantes é a forte dependência do ciclo das águas, pois foi possível criar um
modelo de organização da vida em sociedade que foi considerado o principal
pilar de todas as primeiras civilizações.
A estrutura política tinha como centro das relações as cidades. Era den-
tro dessa organização que se exercia o poder. Tanto a agricultura quanto a vida
urbana surgiram nessa região e, para que fosse possível viver em sociedade, era
necessário organizar um código de regras que servisse a todos.
É importante destacar que o fato de um código servir para todos não significa
que todos eram tratados de forma isonômica. Geralmente, essas regras surgem
de axiomas (valores) tidos pela maioria dos habitantes como indispensáveis à
organização e que por meio de leis visam protegê-los. E assim nasce o Direito.
Não existe sociedade sem Direito (ubi societas ibi jus). Mesmo que não haja
leis escritas, um código moral e costumeiro deve ser respeitado dentro de uma
estrutura social, ou seja, o Direito é consuetudinário. Assim como o Direito,
assistimos também o surgimento de um corpo burocrático que tem como obje-
tivo fiscalizar se os preceitos jurídicos estão sendo cumpridos. E no topo dessa
As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições
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cadeia de comando estavam os reis.
O terceiro Milênio a.C. testemunha um grande número de núcleos ur-
banos se desenvolvendo ao longo do Tigre e do Eufrates. Historiadores
como Paul Garelli levantaram, só para o período que vai de 2700 a 2100
a.C., uma enorme lista de reis em localidades como Lagash, Umma,
Kish, Ur, Uruk, Akad, Gatium, Elam – incluindo o herói Gilgamesh e
outros, de nomes quase impronunciáveis por nós, como Lugalkinishe-
dudu, Meskiagnunna e Kutik-in-shishinak (PINSKY, 2011, p. 69).
Como podemos perceber, junto com o Direito, a burocracia surge de maneira con-
comitante às relações de poder. Mas devemos ter em mente que o fortalecimento do
Estado e das instituições políticas não ocorria por si só. Uma quantidade enorme
de pessoas precisava se sacrificar trabalhando para esse Estado, que pouco a pouco
se tornou gigantesco, não em tamanho, mas no poder de influenciar e determinar a
vida das pessoas. O maior exemplo disso foi o Egito (que veremos logo mais adiante).
Templos e mais templos foram construídos à custa do trabalho de pessoas
que muitas vezes não podiam gozar do resultado de seus esforços. Até parece,
caro(a) estudante, que estamos falando dos dias atuais. Observe o exposto a seguir:
Em Uruk foram encontrados vestígios de um templo que tinha mais de
dois mil metros quadrados (exatamente 80 m por 33 m). Perto dele foi
edificado um monte artificial (zigurate) com 11 metros de altura, cons-
truído com tijolos e enfeitado com pedaços de cerâmica. Com o uso de
uma escada chega-se ao pequeno templo, no alto; paredes de tijolos bran-
cos e madeiras importadas, altares nas extremidades e outros detalhes
mostram o requinte e a técnica da construção (PINSKY, 2011, p. 69).
O exemplo destacado por Pinsky (2011) demonstra como a imponência era uma
forma de demonstrar poder. Mas não podemos esquecer-nos do forte apelo reli-
gioso que havia nessas sociedades. Muito do esforço empregado nessas grandes
obras era legitimado por uma força divina. A propósito disso, o autor prossegue:
A exploração do trabalho de uma parte da sociedade por outra cria, pela
primeira vez na humanidade, antagonismos determinados pelo papel
econômico exercido pelo indivíduo no grupo. É importante notar que
não se está falando de divergências pessoais, questões subjetivas, mas
de oposição socialmente determinada, impessoal, portanto. O sacer-
dote não explorava o artesão pelo fato de ser, pessoalmente, um mau
elemento, de possuir um mau-caráter. Ele na verdade desempenhava o
papel organizador do processo de trabalho, em nome de cuja racionali-
dade agia (PINKY, 2011, p. 71).
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Como foi possível perceber, prezado(a) acadêmico(a), havia uma exploração
impessoal do trabalho, mas que de fato era importantíssima para as relações de
poder. A vida religiosa era uma das principais características do homem meso-
potâmico, e não havia a separação do que era público e do que era privado. Essa
discussão do que é público e do que é privado só se dará em Roma (veremos esse
assunto na unidade IV do nosso livro).
Como o rei era o representante maior do poder e exercia-o legitimado por
uma entidade divina, ele, de fato, possuía maiores vantagens. Uma dessas van-
tagens era a posse de terras (PINSKY, 2011).
Não é possível propor uma discussão sobre a Mesopotâmia sem nos reme-
termos ao Império Babilônico. Mais difícil ainda é fazê-la sem mencionar o tão
famoso Código de Hammurabi. Conforme foi visto na unidade anterior, esse
código foi um dos primeiros conjuntos de leis escritas que se tem registro, mas
a importância dele não é apenas com relação à importância jurídica que possui,
esse código vai mais além. Segundo Pinsky:
Não é, no entanto, um projeto de mudanças sociais. Muito pelo contrá-
rio, legisla a partir do reconhecimento da existência de três classes dis-
tintas: os ricos, o povo e os escravos. Os primeiros com mais privilégios e
obrigações (pelo menos em teoria); os ricos pagavam mais impostos, mas
um delito contra eles seria, reconhecidamente, punido de forma mais
severa; os escravos, que tinham direitos delimitados em lei (não eram
apenas um objeto, como diria deles Aristóteles, na Grécia), podiam ca-
sar-se com uma mulher livre e possuir bens, mas eram marcados como
gado, já que não deixavam de ser propriedade de alguém (2011, p. 82).
Aqui fica explícita a questão da falta de isonomia jurídica desse código. O fato
de estar positivada no Código de Hammurabi a existência de três classes distin-
tas já é determinante para entendermos que havia uma diferenciação legítima
entre as pessoas. Punir com o rigor da lei, mas de maneira desigual, era a tônica
dessa civilização.
Enfim, há inúmeras outras interpretações que podemos fazer sobre os diver-
sos institutos surgidos na Babilônia. Assim como também podemos perceber
que muito do que ali existia teve origem em outras civilizações, demonstrando
desde já que a comunicação e a integração entre os povos ocorria desde os pri-
mórdios da civilização.
Economia e Sociedade
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ECONOMIA E SOCIEDADE
Estudar a antiguidade, como já mencionamos na primeira unidade, é uma tarefa
bastante difícil, visto a escassez de documentos sobre o período. Quando se
trata de antiguidade Oriental, a dificuldade é maior ainda. Sobre a problemá-
tica de se estudar as estruturas econômicas e sociais da mesopotâmia, Garelli e
Nikiprowetzky (1982, p. 227) alertam que:
Quando se intenta analisar as estruturas econômicas e sociais dos im-
périos mesopotâmicos, esbarra-se no duplo obstáculo das lacunas da
documentação e da insuficiência da investigação moderna. Os textos
assírios e babilônicos apresentam características quase antitéticas, que
inspiraram trabalhos muito distintos. De um lado, os escassos dados
relativos à economia assíria não constituíram, até o momento, objeto
de sínteses recentes; de outro, o conhecimento da administração real e
dos componentes sociais babilônicos é ainda bem deficiente. Os docu-
mentos babilônicos atraíram, sobretudo a atenção dos historiadores do
direito, amiúde mais preocupados com as características jurídicas de
suas fontes do que com o conteúdo econômico e social destas, de modo
que, com freqüência, ficamos reduzidos a reunir observações dissemi-
nadas em artigos especializados.
Gostaríamos de chamar a sua atenção, primeiramente, para a afirmação que os auto-
res fazem sobre as lacunas da documentação. Conseguir encontrar a peça que falta
nesse quebra-cabeça, muitas vezes, é tarefa impossível. Há hiatos documentais sobre
determinados temas que acabam comprometendo a qualidade do trabalho, entre-
tanto, cabe ao prudente historiador explorar ao máximo aquilo que tem em mãos.
Outro ponto importante é a interdisciplinaridade – que também já mencio-
namos na primeira unidade. Os autores mencionam a história do Direito como
referência, mas poderiam citar outras disciplinas, ou seja, poderíamos fazer um
estudo das civilizações mesopotâmicas tendo como prisma diversas abordagens,
tais como econômica, social, jurídica, geográfica etc.
Ao analisar a agricultura Assíria, Garelli e Nikiprowetzky (1982) traçam
um perfil da produção iniciando pelo tipo de repartição que havia da proprie-
dade, bem como a renda daqueles que a exploravam. Também analisaram o
recenseamento, o que demonstra que o controle do Estado era importantíssimo
para tributar e direcionar as atividades econômicas. Nas tábulas analisadas, fica
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evidente a burocracia que fazia parte do sistema de governo e o resultado ao qual
os autores chegaram foram os seguintes:
a.	 O escriba recenseava todo mundo.
b.	 Contudo, seu total apenas incluía as pessoas que não eram indepen-
dentes. Dado o caráter visivelmente oficial da documentação, é prová-
vel que estejamos diante de rendeiros dependentes do Estado ou de um
membro da administração;
c.	 O escriba também exclui todos os que não cultivavam a terra (servi-
çais, pastores, guardas). Se o recenseamento tinha objetivo fiscal, como
tudo faz supor, somente os produtores agrícolas estariam submetidos
ao imposto.
d.	 Designam-se como “cultivador” todos os membros de uma família
estabelecida em uma gleba, inclusive mulheres e crianças (GARELLI;
NIKIPROWETZKY, 1982, p. 231).
As informações servem para estabelecermos alguns pontos de referência como,
por exemplo, quem era o responsável pelo controle estatal (escriba). Mas tam-
bém fica evidente a forte dependência do Estado, visto que o documento não
incluía, como ficou demonstrado, as pessoas independentes. Outra conclusão
demonstrada foi a exclusiva tributação dos produtores agrícolas, visto que não
há sinais de que os prestadores de serviços eram submetidos aos impostos, mas
essas são hipóteses levantadas pelos autores a fim de apresentar as dificuldades
de se pesquisar a antiguidade mesopotâmica, devido à restrição de documentos.
Outra questão que podemos abordar em se tratando de economia e sociedade está
relacionada ao comércio e à indústria. Embora sejam temas mal conhecidos, como
alertam Garelli e Nikiprowetzky (1982), para que se possa fazer uma reconstrução
do que eram essas instituições naquele período, eles precisam se basear em evidên-
cias, em vestígios, mais ou menos “bancando Sherlock Holmes”. Cada indício, cada
sinal, cada número deve ser explorado ao máximo buscando entender a sua verda-
deira essência. Assim, destacaremos algumas conclusões a que chegaram os autores:
É bastante possível que os arameus hajam desempenhado papel
preponderante nesse domínio. Ora, eles não escreviam em tábulas de
argila. O material que utilizavam, couro ou pergaminho, pode ter de-
saparecido sem deixar traços, de forma que apenas dispomos da docu-
mentação assíria, em tábulas. Convém esclarecer ainda que a maior par-
te dos arquivos parece revestir caráter oficial e que, em consequência,
Hebreus e Fenícios
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o quadro de conjunto se apresenta sob uma forma menos diversificada
que nas épocas antigas (GARELLI; NIKIPROWETZKY, 1982, p. 233).
Além da consequência já apontada pelos autores, acrescentamos outra: por
se tratar de documentos oficiais, o que acaba prevalecendo é aquilo que a
classe dirigente deseja registrar. Será que um determinado assunto é tão
importante para o produtor quanto para o recenseador? Será que os inte-
resses do Estado vão ao encontro do que desejava o pequeno comerciante
ou artesão? De fato, os dados possuem mais generalizações e menos diver-
sificação, como alertado.
Um dos pontos importantes que devemos compreender a título de conclu-
são é a dificuldades de se estudar a História Antiga Oriental, visto a escassez
de documentos. Há também de se atentar às lacunas históricas, pois estas são
como um quebra cabeças faltando peças fundamentais para sua conclusão. Mas
isso de forma alguma poderá ser um empecilho ao historiador, que munido de
leituras e muita pesquisa, buscará, por meios de diversos referenciais metodo-
lógicos, decifrar tais lacunas.
No que diz respeito à formação dessas civilizações, devemos compreender
que, embora vejamos nações bastante diferentes e em espaços geográficos com-
pletamente distintos, elas se assemelham pela existência dos mesmos fatores
jurídicos e econômicos para sua consolidação. Ademais, parece que a existência
de um Estado centralizador também foi um fator determinante para a consoli-
dação dessas civilizações.
HEBREUS E FENÍCIOS
Prezado(a) aluno(a) do curso de História do EaD – UNICESUMAR, se fizermos
uma pesquisa rápida pelos diversos programas dos cursos de História Antiga das
diversas instituições brasileiras, perceberemos que os estudos sobre essas duas
civilizações citadas são bem escassos. Um elemento que justifica a pouca produ-
ção historiográfica dessas duas civilizações, se comparadas com Roma, Grécia e
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Egito, dá-se pela escassez de fontes. Problema esse que, a esta altura, não é mais
novidade alguma para você, tendo em vista nosso constante alerta.
Nos manuais de Ensino de História com os quais conviveremos em nossa
jornada como professores de História, mesmo que seja apenas no período do
estágio obrigatório, o ensino dessas civilizações antigas está vinculado ao 6º ano
do Ensino Fundamental e ao 1º ano do Ensino Médio. Como a nossa função
principal aqui é formarmos profissionais para trabalhar na docência de História,
não podemos omitir a importância que essas duas civilizações tiveram na forma-
ção do mundo Ocidental, embora esses dois povos sejam oriundos do Oriente.
Foram os hebreus os responsáveis por estabelecer as bases da religião cristã,
a qual é um dos principais elementos de configuração da civilização Ocidental.
A história desse povo está registrada no Antigo Testamento da Bíblia, principal-
mente nos cinco primeiros livros que são denominados de Pentateuco. os quais
foram creditados a Moisés. Entretanto, sua origem como civilização está no pri-
meiro milênio antes de Cristo:
Os hebreus desenvolveram sua civilização no primeiro milênio a.C. Ela
não tem, portanto, a antiguidade da civilização egípcia ou da mesopo-
tâmica, embora tenha convivido de maneira estreita com essas duas
civilizações (na proto-história dos hebreus, Moisés tira o povo do Egito
no século XIII a.C. e Nabucodonossor da Babilônia destrói o templo de
Jerusalém em 586 a.C.) (PINSKY, 2011, p. 105).
Embora seja um povo de muitos atributos, um dos fatores que nos chama mais
a atenção é a questão religiosa. Inclusive, deve-se à religião o fato dessa civiliza-
ção existir até hoje, mantendo boa parte dos usos e costumes religiosos oriundos
dos primórdios da civilização, criando uma identidade que se firma indepen-
dente de onde vivem. Pinsky (2011) destaca que os hebreus foram o elo entre as
civilizações Oriental e Ocidental.
Por meio deles conhecemos mitos e ciência, práticas sociais e valores
de povos de toda a região. Estudos que utilizam a Bíblia não de forma
dogmática, mas como fonte de informações históricas, obtiveram refe-
rências que descobertas arqueológicas depois confirmaram (PINSKY,
2011, p. 105-106).
Continuando com a questão religiosa, a origem dessa civilização está toda retra-
tada na Bíblia Sagrada. Não é nossa função aqui fazer apologia a esta ou àquela
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História antiga uni cesumar

  • 1. HISTÓRIA ANTIGA Professor Me. Kleber Eduardo Men Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão GRADUAÇÃO Unicesumar
  • 2. Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Priscilla Campiolo Manesco Paixão Design Educacional Camila Zaguini Silva, Jaime de Marchi Junior Larissa Finco, Maria Fernanda Canova Vasconcelos Nádila de Almeida Toledo, Rossana Costa Giani Iconografia Amanda Peçanha dos Santos Ana Carolina Martins Prado Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Editoração Humberto Garcia da Silva Revisão Textual Jaquelina Kutsunugi Ilustração Humberto Garcia da Silva C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; MEN, Kleber Eduardo; PAIXÃO, Priscilla Campiolo Ma- nesco. História Antiga. Kleber Eduardo Men; Priscilla Campiolo Manesco Paixão Reimpressão - 2019 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 181 p. “Graduação em História - EaD”. 1. História Antiga. 2. Economia . 3. Política 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-8084-940-0 CDD - 22 ed. 907 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por:
  • 3. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar – assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada.
  • 4.
  • 5. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quan- do investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequente- mente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa- zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa- tível com os desafios que surgem no mundo contem- porâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996):“Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó- gica e encontram-se integrados à proposta pedagó- gica, contribuindo no processo educacional, comple- mentando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inse- ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproxi- mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi- bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pes- soal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cres- cimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda- gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi- bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en- quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus- sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
  • 6. Professor Me. Kleber Eduardo Men Mestre em História das Ideias e das Instituições pela Universidade Estadual de Maringá (2013), Especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR (2011), com ênfase na Educação a Distância e graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (2007). Professor do ensino superior, médio e fundamental da rede particular. Também é organizador e autor de material didático. Atualmente é aluno do curso de Bacharel em Direito da UNICESUMAR. Professora Me. Priscilla Campiolo Manesco Paixão Possui Mestrado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Especialista em História Econômica pela mesma instituição; Especialista em Metodologia do Ensino da Arte pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER), Graduação em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari (FAFIMAN) e Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário Cesumar (UNICESUMAR). AUTORES
  • 7. SEJA BEM-VINDO(A)! Prezado(a) aluno(a), somos os professores Kleber Eduardo Men e Priscilla Campiolo Manes- co Paixão e fomos os responsáveis por preparar este livro da disciplina de História Antiga. Este material foi feito com muito carinho, tendo em vista, especialmente, o aprendizado pleno desta tão importante disciplina. Primeiramente, gostaríamos de destacar nossas formações: Eu, Kleber, sou graduado em História pela Universidade Estadual de Marin- gá, especialista em Docência no Ensino Superior pela UNICESUMAR, além de Mestre em História das Ideias e das Instituições também pela Universidade Estadual de Maringá. Tenho experiência nos Ensinos Fundamental e Médio, além do Ensino Superior. Eu, Pris- cilla, sou também formada em História e Pedagogia, com especialização em História Econômica e mestrado em História na linha de pesquisa Instituições e História das Ideias pela Universidade Estadual de Maringá. Trabalho na UNICESUMAR há dez anos e atual- mente coordeno o curso de História. Nossa principal preocupação neste livro não foi fornecer a você qualquer tipo de manu- al sobre a antiguidade, mas sim construirmos um conhecimento sólido das Instituições Antigas, bem como entendermos a dinâmica que proporcionou muitas mudanças, algu- mas das quais são sentidas até hoje. Entretanto, para que nosso conhecimento seja pleno, gostaríamos de pedir a você, fu- turo(a) professor(a) de História, muito empenho e dedicação. O nosso principal meio de trabalho será a leitura e a interpretação dos textos e documentos aqui por nós indicados e, para que isso seja alcançado, preparamos atividades que darão o suporte necessário, além de toda estrutura humana e tecnológica disponibilizada pela UNICESUMAR. Interpretar os eventos históricos é tarefa árdua e que requer um amadurecimento que envolve muita leitura. Costumamos salientar que, se um jogador de futebol quer atingir excelência, ele precisa correr, fazer musculação, alimentar-se corretamente, assim como qualquer outro atleta de alto rendimento. Para nós, que trabalhamos na área de huma- nas, a receita é mais simples, porém, requer o mesmo tipo de dedicação. Então, é preciso que nos dediquemos à leitura diária dos materiais disponibilizados pelos professores e que façamos com muito esmero as atividades de autoestudo disponibilizadas aqui e também na plataforma moodle. Nosso livro foi escrito tendo como eixo central o estudo do homem e das instituições construídas por ele na antiguidade. O homem é um agente de si mesmo. Como disse Ludwig Von Mises (1990), o homem é aquele que procura substituir uma situação des- confortável por uma de melhor conforto e isso acaba gerando transformações, muitas vezes, por séculos e séculos, influenciando gerações. Gostaríamos de destacar que estudar História Antiga é um exercício fascinante. Costu- mamos afirmar que podemos visitar qualquer lugar do mundo por meio da literatura. No nosso caso, nossa viagem será pelo mundo das civilizações antigas como egípcios, gregos, romanos, babilônios, fenícios, entre outros. A finalidade deste livro é exclusivamente didática. Nossa proposta aqui não é fazer um estudo minucioso sobre uma determinada estrutura, mas sim mostrar aos alunos do APRESENTAÇÃO HISTÓRIA ANTIGA
  • 8. APRESENTAÇÃO EAD - UNICESUMAR os elementos basilares ao(à) futuro(a) professor(a) de História, pois acreditamos que, em breve, seremos colegas de profissão. Para que nosso objetivo fosse alcançado, dividimos este livro em cinco unidades, das quais quatro delas têm finalidade informativa, e a última, para fechar com um requinte indispensável ao historiador, traz uma unidade sui generis, em que faremos um debate historiográfico e metodológico. Atividade essa que deve ser um exercí- cio diário na vida de um estudante e professor de História. Dessa forma, destacare- mos, em linhas gerais, os principais pontos a serem abordados neste livro. Na primeira unidade, procuramos apresentar o conceito de História Antiga bem como os procedimentos metodológicos indispensáveis à pesquisa histórica. Sendo assim, conceituamos fontes, documentos e mostramos de que forma um prudente historiador deve proceder na análise de um documento, bem como na construção da narrativa histórica. Também colocamos, ao final da unidade, alguns exemplos de documentos para exercitar os procedimentos que lecionamos ao longo da unidade. Na segunda unidade, focaremos nas civilizações Orientais. Essa parte visa apresen- tar um pouco a região que é considerada o berço da civilização mundial. Desta for- ma, começamos nossa viagem pela Babilônia, terra de Hammurabi, que também foi berço dos Sumérios e Assírios. Também vamos estudar os Hebreus e Fenícios. Tudo isso tendo em vista a organização institucional e estatal dessas civilizações. Na terceira unidade, entramos no mundo da antiguidade Clássica Ocidental. Nosso objetivo é mostrar como essa magnífica civilização se formou, bem como o legado institucional deixado por ela, principalmente na política. O ideal de democracia, que foi uma das principais heranças deixadas pelos gregos, está presente até hoje entre nós. Além disso, a organização administrativa e legislativa dessa civilização foi algo inimaginável no seu tempo. Na quarta unidade, nós adentramos no mundo romano. Essa civilização, junto com a Grécia, criou as bases da civilização Ocidental Moderna. As suas instituições estão pre- sentes no mundo moderno. O conceito de público e privado, a República, o Senado e principalmente o Direito são institutos que, a todo instante, estão diante de nossas vidas. A quinta unidade, como já dissemos, é sui generis, pois ela se difere do restante, visto que não busca apenas informar, mas realizar um debate sobre versões e metodo- logias diferentes da história. O debate é um exercício vitalício para o professor de história e estimular isso é nosso objetivo. Assim, tomamos dois pontos de vista dife- rentes sobre a economia grega e romana e, por meio de uma análise historiográfica, realizamos um debate sobre essas posições divergentes. Esperamos que a leitura deste material seja agradável aos olhos e que faça grande diferença na sua formação. Temos a certeza de que nossa breve jornada na antigui- dade nos abrirá caminhos para que compreendamos muito mais sobre o que está ao nosso redor, além de despertar a paixão pela História. Desta forma, gostaríamos de indagar: estamos tão distantes assim da antiguidade? Reflita sobre isso e tenha um excelente estudo!
  • 9. SUMÁRIO 09 UNIDADE I A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR 13 Introdução 13 História e História Antiga: Considerações Preliminares 18 Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade 30 Fontes Documentais e Fontes Historiográficas 33 Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade 36 Considerações Finais UNIDADE II O ORIENTE PRÓXIMO 43 Introdução 44 As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições 49 Economia e Sociedade 51 Hebreus e Fenícios 56 O Estado Egípcio 71 Considerações Finais UNIDADE III A POLÍTICA E A SOCIEDADE DA GRÉCIA ANTIGA 79 Introdução 79 A Formação da Grécia Antiga 84 O Período Arcaico e a Formação da Pólis
  • 10. SUMÁRIO 91 As Instituições Gregas 95 A Educação Grega 101 Apogeu e Queda de um Império 105 Considerações Finais UNIDADE IV ANTIGUIDADE CLÁSSICA OCIDENTAL: A HISTÓRIA DE ROMA 111 Introdução 111 As Origens de Roma: Mitologia Versus História 114 Da Monarquia à República Romana 132 O Império Romano 137 Considerações Finais UNIDADE V A ECONOMIA NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA OCIDENTAL: UM DEBATE HISTORIOGRÁFICO 145 Introdução 146 O Quadro Econômico da Antiguidade Greco-Romana 153 A Geografia Romana 158 A Economia Antiga para Moses Finley 166 Considerações Finais 171 Conclusão 173 Referências 177 Gabarito
  • 11. UNIDADE I Professor Me. Kleber Eduardo Men A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Objetivos de Aprendizagem ■ ■ Apresentar o conceito de História Antiga a fim de delimitar nosso campo de trabalho. ■ ■ Estudar como é construído o conhecimento histórico na Antiguidade. ■ ■ Compreender a diferença entre fontes documentais e historiográficas. ■ ■ Entender o que é análise hermenêutica da História. ■ ■ Analisar documentos históricos como forma de exercitar a teoria abordada. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ ■ História e História Antiga: considerações preliminares ■ ■ Fontes e documentos no estudo da antiguidade ■ ■ Fontes documentais e fontes historiográficas
  • 12.
  • 13. INTRODUÇÃO Caríssimo(a) aluno(a) e futuro(a) professor(a) de História e, quem sabe, histo- riadores, esta unidade tem por objetivo apresentar a você algumas informações preambulares relativas aos estudos que versam sobre a antiguidade Ocidental e Oriental. O debate sobre a antiguidade tem despertado interesse e não é de hoje. Nos manuais de história, aqueles que estudamos no colégio, sempre é desta- cado o período do Renascimento Cultural (séculos XIV – XVI) como a primeira grande fase da história da humanidade que se dedicou ao estudo dos ensinamen- tos antigos, principalmente daqueles que tratam da antiguidade clássica, Roma e Grécia. Entretanto, como podemos definir a História Antiga? Quais os instru- mentos necessários ao historiador para o estudo deste período tão importante? Partindo dessas duas indagações, podemos dizer que o estudo da antigui- dade requer, como toda ciência histórica, um conhecimento muito grande das técnicas e metodologias para a construção desse conhecimento. De fato, descrever os métodos dos quais se vale o historiador em apenas um livro não é tarefa simples, mas nossa principal meta aqui é instrumentali- zá-lo(a) para que você tenha condições de seguir seu próprio caminho, ou seja, ser sujeito de suas próprias aprendizagens. Sendo assim, apresentaremos concei- tos e noções sobre a antiguidade, além de alguns estudos sobre os documentos e fontes deste tão rico período. HISTÓRIA E HISTÓRIA ANTIGA: CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Você estudante, certamente já viu nos livros didáticos aquele já ultrapassado modelo de divisão histórica, denominado de “Quadripartismo Histórico”. Embora ultrapassado, parece-nos impensável outro modelo que possa substituir as tra- dicionais divisões do tempo, quais sejam: História Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. De fato, essa divisão foi criada para facilitar o estudo desta ciên- cia e ignorá-la não parece prudente. Entretanto, precisamos compreender que Introdução Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 13
  • 14. O período NEOLÍTICO, também conhecido como Idade da Pedra Nova, foi um momento da história da humanidade em que o homem passa a não mais utilizar instrumentos rústicos (pedra lascada), mas a se preocupar em dar um acabamento que visasse facilitar suas atividades. Para saber mais detalhes desse período, acesse o site disponível em: http://www.mundoe- ducacao.com/historiageral/periodo-neolitico.htm. Acesso em: 11 fev. 2014. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 14 as mudanças na sociedade, empreendidas pelos homens que desta fazem parte, ocorrem independente de denominações. Ou quem aqui é ingênuo o bastante para acreditar que os romanos se achavam antigos, que os cavaleiros cruzados se consideravam medievais, ou então que os navegantes portugueses e espanhóis se autodenominavam modernos? Na verdade, cada um de nós enxergamos e entendemos o tempo de forma particular, com as lentes de nossa própria época. Fazer um julgamento precipitado das ações desses homens também não nos parece prudente. É preciso compreender suas ações com base no contexto histó- rico, ou seja, tendo em vista a sua própria realidade. Afinal, será que a Revolução Francesa teve para um camponês o mesmo significado que para um membro do Alto Clero francês do século XVIII? O significado das pirâmides de Gizé, na visão do Faraó, é a mesma da visão de um escravo? Costuma-se denominar de História Antiga o momento que vai do surgi- mento das primeiras civilizações, ocorrido ao final do período neolítico, por volta do terceiro milênio a.C., até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476. Entretanto,estudarahistóriacomrecortestemporaispodenostrazerváriosequí- vocos, além de parecer que os homens agem de forma predestinada. Segundo Funari: As periodizações tradicionais devem ser entendidas como divisões artificiais. Diferentes pontos de vista, a partir de várias metodologias, disciplinas acadêmicas e ideologias, resultam em divisões alternativas. O objeto da apresentação das compartimentações usuais resume-se à instrumentalização dos leitores e, de maneira alguma, implica a aceita- ção dos seus pressupostos (FUNARI, 2002, p. 31).
  • 15. História e História Antiga: Considerações Preliminares Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 15 Conforme bem destacou o autor, a existência de tais periodizações não significa que sua aceitação deva ser obrigatória. Muito pelo contrário, elas foram criadas para facilitar a compreensão. Muito das terminologias empregadas para se carac- terizar um período pode dar a ideia de preconceito com o outro. Quando falamos em Antiguidade Clássica, logo nos vem à tona as civili- zações Grega e Romana. Mas qual é a razão, prezado(a) estudante, para essa definição? Quais os conceitos empregados para classificar uma civilização de clássica e a outra não? Observe: A determinação de períodos “clássicos”, em qualquer periodização his- tórica, por sua parte, depende de um juízo de valor, da transformação de uma determinada produção intelectual em modelo. A História, nes- te caso, torna-se segmentada em uma progressão em direção ao padrão clássico, sucedido pela degeneração ou decadência, correspondente ao afastamento em relação ao modelo. Esse uso do termo “clássico” em- bute uma concepção cíclica da História: ascensão, apogeu, decadência, seguidos de novas ascensões, apogeus e decadências (FUNARI, 2002, p. 31-32). Como ficou claro, o termo clássico é empregado para definir um ciclo de acon- tecimentos. Deste modo, nada impedirá um historiador de empregar o termo “clássico” para tratar de temas relacionados ao Egito, aos Sumérios, Assírios, Babilônicos, e assim por diante, desde que se enquadrem nos quesitos descri- tos por Funari (2002). Conforme observamos, quando uma civilização atinge o seu apogeu e, devido a fatores internos e/ou externos, os valores cultivados neste período se perdem (tais como ideias, costumes, política etc.), então temos um exemplo que podemos classificar como “clássico”. Posto isso, queremos ressaltar a importância que nós damos ao estudo das Instituições. A característica principal desse campo da historiografia é obter uma análise que, “independente de recortes temporais, temáticos e espaciais, este- jam relacionados ao estudo de fenômenos históricos que se apresentam sob a forma de instituições” (PEREIRA et al., 2005). Consequentemente, ela nos for- nece um campo de trabalho amplo, que nos faz refletir o contexto histórico em que elas foram produzidas. Além do estudo das instituições, também é indispensável o estudo dos docu- mentos produzidos pelos antigos. Tucídides, Sócrates, Platão, Aristóteles, Flavio
  • 16. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 16 Joséfo, enfim, todos esses escritores nos deixaram relatos importantíssimos sobre como era a vida das pessoas em seu tempo. Em seu livro “Aspectos da Antiguidade”, Finley (1991) aborda de forma geral algumas características presentes no mundo antigo. Já na introdução de sua obra, ele faz uma reflexão do quão complexo é o estudo deste período histórico: Muitas autoridades ilustres sustentam que as questões sobre o passado podem ser respondidas, pelo menos de maneira aproximada, através da imaginação, desde que esta seja disciplinada por uma base de sólida erudição. Diz-se que é possível compartilhar, até certo ponto, da expe- riência de uma platéia ateniense do século V durante uma apresentação de Édipo, ainda que não se acredite, no sentido estrito, em oráculos ou na “malícia divina que perpassa a tragédia grega” (FINLEY, 1991, p. 5). Em síntese, o que o autor destaca é que, por meio da interpretação, podemos encontrar o verdadeiro sentido da vida na antiguidade, compreendendo seus usos e costumes através de um documento encenado, como a obra Édipo, citada por ele. Mas, o autor chama nossa atenção para um problema muito comum, a comparação. “A questão crucial é se podemos simplesmente olhar para trás e ler Richardson como se Jane Austen nunca tivesse escrito, ou reagir ao Orestes ou ao Édipo como se nunca houvesse existido Hamlet” (FINLEY, 1991, p. 5). Será que podemos olhar para o passado desprovidos de qualquer ponto de referência da época em que vivemos? Essa é a questão crucial abordada por Finley (1991). Certamente, você, estudante, já deva ter lido um livro e, posteriormente, assistido a um filme que retratava a história dessa mesma obra literária. As rea- ções são diversas! A tendência é que o livro seja considerado melhor pela sua ÉDIPO REI, DE SÓFOCLES O Teatro Grego tem entre seus estilos de dramaturgia a Comédia e a Tra- gédia. Entre as tragédias, Édipo Rei é uma das mais famosas. Para saber mais detalhes, acesse o site disponível em: http://greciantiga.org/arquivo.as- p?num=0455. Acesso em: 11 fev. 2014
  • 17. História e História Antiga: Considerações Preliminares Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 17 riqueza em detalhes, diferente do filme, que, devido a sua comercialização, pos- sui uma característica diferente e, não raramente, acaba por sofrer interferências em seu enredo. Em se tratando de uma peça da dramaturgia antiga, como esta não poderá esclarecer todos os pontos, assim como no livro, devemos levar em conta o que ela significava para a época, bem como seu contexto. Funari (2011) também faz um importante alerta sobre nossa natural tendên- cia em julgar os fatos antigos com os olhos da época que vivemos. Os estudiosos sempre analisaram a Antiguidade a partir de suas reali- dades e isto permite refletir sobre a relação dialética entre o presente e o passado. Somos nós que imaginamos as outras épocas. Os historiadores da Antiguidade também viveram em suas épocas, com suas paixões e preconceitos. Isto tudo deve ficar bem claro (FUNARI, 2011, p. 11-12). A título de reflexão, observaremos um documento produzido na Babilônia. Código de HAMURABI, § 278/282 Se um homem comprou um escravo ou escrava e (se) este não tiver cumprido seu mês (de serviço) e (se) uma moléstia (dos membros) se apossou dele, ele retornará a seu vendedor e o comprador tomará o dinheiro que dispendeu. Se um homem comprou um escravo ou uma escrava e (se) surgir uma reclamação, seu vendedor satisfará a reclamação. Se um homem, num país inimigo, comprou um escravo ou uma es- crava de um homem, assim que for ao centro do país e (assim) que o senhor do escravo homem ou da escrava mulher reconhecer seu escra- vo homem ou sua escrava mulher, se o escravo homem ou a escrava mulher são filhos do país, eles serão postos em liberdade sem dinheiro (lhes será concedida a liberdade). Se são filhos de um outro país, o comprador declarará diante de Deus o dinheiro dispendido, e o senhor do escravo homem ou da escrava mulher dará ao damqarum o dinheiro que este dispendeu e este torna- rá a comprar seu escravo homem ou mulher. Se um escravo diz a teu senhor: “tu não és meu senhor”, seu senhor o convencerá de ser seu escravo e lhe cortará a orelha (PINSK, 2001, p. 9-10). Esse pequeno excerto faz parte de um dos códigos de leis escritas mais antigos que se tem registro (senão o mais antigo) – conhecido como Código de Hammurabi – o qual desperta muita curiosidade. Logo na primeira leitura, o texto causa
  • 18. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 18 arrepios, tamanho a rigidez presente nele. Analisá-lo com base nos direitos que temos atualmente, com os conceitos de proteção a dignidade da pessoa humana, torna este código algo a ser banido e duramente criticado. Entretanto, como já mencionamos, fazer isso em nada ajudará a transformar o passado. Precisamos olhar esse código buscando entender a razão que o tornou tão famoso. O fato de a civilização babilônica possuir um código de leis escritas já era considerado um grande avanço para a época. Embora o código se baseie no princípio do “olho por olho, dente por dente, vida por vida”, temos que procurar entender os valores que essa obra jurídica que- ria proteger. Quais os axiomas salvaguardados pelo Código de Hammurabi? Em uma análise superficial desse documento, temos uma questão financeira muito bem colocada, isso nos permite dizer que entre os princípios cultivados pelos babilônicos estava a lisura nos negócios, a proteção do consumidor e a repara- ção do dano, bem como a punição a desobediência. Mas o foco principal era a escravidão vista como uma instituição protegida por lei. Um fator que não pode passar despercebido é a linguagem. A língua é dinâ- mica. Basta ver as constantes mudanças que ocorrem dia a dia. Diariamente são criadas novas gírias, expressões, tratamentos, dentre outros e, sendo assim, a clareza das palavras deve ser de pleno domínio. Ao ler um documento, o histo- riador deve, acima de tudo, ter propriedade no vocabulário da época em questão. Certamente, você, acadêmico(a) de história, deve se perguntar: e quando não há tradução literal do documento ou as palavras possuem significados diferentes da nossa língua, o que fazer? Ao longo da carreira, nos depararemos com esses e outros tipos de “problemas”. FONTES E DOCUMENTOS NO ESTUDO DA ANTIGUIDADE Como estudar o mundo Antigo? Como já deve ser do seu conhecimento, o estudo da história se faz com documentos. O historiador, munido de documentos e de
  • 19. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 19 conceitos metodológicos apropriados, busca interpretar o passado e construir uma narrativa que está ligada umbilicalmente a sua forma de ver o mundo. Cada docu- mento pesquisado nos remete a reflexões diferentes, mas nem sempre foi assim. Até o início do século XX, a corrente historiográfica que predominava era fortemente vinculada ao Positivismo. Esta ciência criada ainda no século XIX por Augusto Comte serviu como método de análise da sociedade e influenciou e ainda exerce influência sobre uma geração inteira de escritores. Um dos pontos críticos do positivismo está relacionado ao conceito de documento. Para os positivistas, a história se restringia aos grandes homens, aos eventos políticos dos quais havia registros, ou seja, os documentos, para os positivistas, resumiam-se àqueles que foram escritos, positivados, limitando muito o campo de trabalho do historiador. Em suma, a história ficava restrita a uma pequena parte dominante. Observe, prezado(a) estudante: será que é pos- sível compreender a história da antiguidade apenas pelos documentos escritos? E aqueles camponeses que não sabiam ler e nem escrever? E os escravos, será POSITIVISMO Auguste Comte (1798-1857) está ligado umbilicalmente ao positivismo, corrente filosófica que ele fundou com o objetivo de reorganizar o conhe- cimento humano e que teve grande influência no Brasil. Comte também é considerado o grande sistematizador da sociologia. Segundo Gomes (2013), o positivismo de Comte baseia-se em três estágios de desenvolvimento (Lei dos Três Estados) sendo o primeiro o Teológico, o segundo o Metafísico e, por fim, o Positivo. No estado Teológico, os seres humanos buscavam explicar os eventos baseados na ação de espíritos, em elementos mágicos, etc. Na fase Metafísica, essa imaginação da primeira fase daria lugar a uma reflexão maior sobre a existência das coisas, ou seja, o sobrenatural passa a dar lugar a força das ideias. Já no Positivo, a ciência assumiria definitivamente o seu papel de norteadora das ações do homem. Fonte: adaptado de Gomes (2013).
  • 20. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 20 que eles não foram importantes para a economia e a sociedade desse período? E as mulheres e outros grupos sociais de menor expressão? Foi na primeira metade do século XX que houve o que podemos denominar de revolução na história, ou melhor, na ciência histórica. Com a publicação de Revista dos Annales, na França, quebraram-se paradigmas. PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ Quem construiu a Tebas de sete portas? Nos livros estão nomes de reis. Arrastaram eles os blocos de pedra? E a Babilônia várias vezes destruída – Quem a reconstruiu tantas vezes? Em que casas da Lima dourada moravam os construtores? Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta? A grande Roma está cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares? A decantada Bizâncio tinha somente palácios para seus habitantes? Mesmo a lendária Atlântida. Os que afogavam gritaram por seus escravos na noite em que o mar o tragou. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César bateu os gauleses. Não levava sequer um cozinheiro? Felipe da Espanha chorou, quando sua armada naufragou. Ninguém mais chorou? Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem venceu além dele? Cada página uma vitória. Quem cozinhava o banquete? A cada dez anos um grande homem. Quem pagava a conta? Tantas histórias. Tantas questões. Fonte: Brecht (1986. p.167).
  • 21. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 21 A partir desse contexto, tudo passou a ter valor documental. Os escritos, fotos, jornais, entre inúmeros outros, ganharam status de documento histórico. A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela subs- tituiu a história de Langlois e Seignobos, fundada essencialmente nos textos, por uma história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escava- ções arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística, uma curva de preços, uma fotografia, um filme, ou, para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são, para a história nova, documentos de primeira ordem (LE GOFF, 1990, p. 28). Entretanto, o que realmente faria a diferença era o método que o historiador empregaria para dialogar com esses documentos e testar a veracidade das infor- mações deles extraídas. Observemos o que destacou Funari: O documento foi definido tradicionalmente com um texto escrito à disposição do historiador. Fustel de Coulanges (1888, p. 29-33) afirma- va que “a habilidade do historiador consiste em retirar dos documentos o que contém e nada a acrescentar”. A leitura dos documentos de nada serviria se fosse feita com ideias preconcebidas (FUNARI, 2002, p. 14). Embora a citação apresente forte cunho positivista, ela nos traz uma importante reflexão e deverá sempre ser lembrada pelo historiador. Como assim retirar sem nada a acrescentar? Esse alerta é feito no sentido de que devemos conservar as informações da maneira mais fidedigna possível. Não podemos criar uma nar- rativa ou uma reflexão sobre um documento sem que seja possível atestar sua veracidade. O historiador precisa ter consciência de que seu trabalho é sério e que seus erros podem condenar toda uma geração. Caro(a) aluno(a), para um melhor esclarecimento sobre a importância histó- rica da Escola dos Annales, indicamos o artigo escrito por José D’Assunção Barros, intitulado: A Escola dos Annales e a crítica ao Historicismo e ao Positivismo. Disponível em: http://www.ppghis.com/territoriosfrontei- ras/index.php/v03n02/article/view/56. Acesso em: 11 fev. 2014.
  • 22. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 22 Outro fato importante que destacamos da citação acima é com relação às ideias preconcebidas. Costumamos sempre dizer que os historiadores não são juí- zes do tempo. Não é dever do historiador julgar aquilo que ocorreu no passado, mas sim interpretar e analisar. Nosso julgamento em nada vai mudar aquilo que já passou, mas poderá, como já mencionado, condenar a memória de inocentes e manchar sua reputação. Desta forma, o alerta de Funari (2002) serve para nos lembrar de que não é possível fazer uma análise documental com preconceitos. Se você, acadêmico(a) de História, ao se deparar com um documento escrito e for analisá-lo, munir-se de informações preconceituosas ou equivocadas certa- mente comprometerá a qualidade final do seu trabalho. Os procedimentos que o historiador deve tomar ao analisar um documento, logo de início, são muitos simples. Funari divide essas críticas em duas partes: interna e externa. A busca pela veracidade do relato, implícita nesta abordagem, deveria ser levada a cabo, em primeiro lugar, por um estudo dos aspectos exter- nos do documento. A materialidade do texto deveria ser questionada e posta à prova: haveria incompatibilidade entre a data escrita no texto e sua composição física? Por exemplo, um texto datilografado não pode ser anterior à invenção da máquina de escrever, nem o uso da impren- sa pode preceder Gutemberg. Caso um texto datilografado apresen- te a assinatura de Júlio César (primeiro século a.C.) pode concluir-se, pela crítica externa, material, do documento que este é falso (FUNARI, 2002, p. 14). Os exemplos destacados por Funari já são claros o bastante, mas vamos refle- tir sobre isso um pouco mais. Forjar documentos é algo muito comum. Não é raro ver que muitas pessoas elaboram provas para evidenciar aquilo que elas defendem. Desta forma, cabe ao historiador não se deixar levar pela obviedade e procurar eliminar de imediato qualquer sinal de inverdade, mas isso somente pode ser feito com base em muitos estudos e amadurecimento intelectual. Além dessa crítica externa, que se faz no que diz respeito ao conteúdo mate- rial do documento, há a necessidade da crítica interna. Um texto escrito apresenta, também, uma série de informações que podem ajudar a caracterizar o documento como verdadeiro ou falso. A crítica interna visa verificar se há motivos para duvidar da sua auten- ticidade devido a informações inverossímeis. Um tipo de inverossimi- lhança muito comum é o anacronismo. Se um documento afirma que
  • 23. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 23 dom Pedro I, quando subia a Serra do Mar para Proclamar a Indepen- dência do Brasil, utilizou-se da Via Anchieta, pode constatar-se que o documento é falso, pois não havia, em 1822, essa rodovia (FUNARI, 2002, p. 14). Embora os exemplos destacados pelo autor beirem ao absurdo, não podemos ignorá-lo. O anacronismo, como ele bem destacou, consiste em um dos piores erros cometidos pelo historiador. Em síntese, podemos defini-lo como a utiliza- ção de elementos que ainda não existiam em uma determinada época. Ou seja, não é possível haver elementos que em um determinado período eram desco- nhecidos. Por exemplo, não é possível a existência de cavalos na América antes da chegada dos europeus. Em se tratando da História Antiga, o cuidado deve ser ainda maior, visto a escassez de documentos que há sobre o período. Le Goff alerta para esse problema: A história faz-se com documentos e ideias, com fontes e com imagi- nação. Ora o historiador da Antiguidade (eu pecava, claro está, pelo menos por exagero) parecia-me condenado a uma alternativa desen- corajante: ou tinha de haver-se com o magro espólio do legado de um passado mal preparado para se poder perpetuar ou abandonar às sedu- ções castradoras da erudição pura, ou tinha de entregar-se aos encantos da reconstituição ocasional (LE GOFF, 1993, p. 9). Entre os documentos utilizados para o estudo da história, não pode haver nenhum tipo de hierarquia. Um pedaço de papel com algumas linhas anotadas por alguém de pouca expressão não pode ser considerado inferior aos inúmeros relatos dos secretários de governo. Uma fotografia não é superior a um filme. Tampouco, a his- tória vista pela ótica de um camponês pode ser inferior a de um senhor de terras. Funari nos apresentou também as diferentes informações que podemos obter. Segundo ele, “os documentos procuram abranger diferentes categorias documentais: textos transmitidos pela tradição textual, epígrafes, restos arqueo- lógicos. Diversas, também, as abordagens: textos filosóficos, poesias, documentos oficiais, leis” (2002, p. 26). Assim, torna-se possível ao pesquisador abordar um determinado tema por vários ângulos. Analisar a situação econômica da Roma Antiga tendo como foco os relatos de um comerciante pode ser bem diferente da opinião de um plebeu, desta forma, o conhecimento histórico se torna rico em detalhes, levando o leitor a um nível de compreensão muito mais satisfa- tório. Posto isso, é indispensável um trabalho focado na interdisciplinaridade.
  • 24. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 24 Venturini (2012) destaca que o historiador da antiguidade deve ter um diálogo constante com as outras disciplinas, principalmente a epigrafia e a arqueologia. Em se tratando das informações que podemos obter sobre um documento histórico, é preciso salientar que o historiador, ao propor uma pesquisa e pos- teriormente a sua publicação, deve ter em mente o tipo de público que gostaria de atingir. Um livro destinado exclusivamente aos estudantes do Ensino Médio não pode ter o mesmo nível de profundidade daquele destinado a um aluno do Ensino Superior. Assim, podemos utilizar um mesmo documento, porém, com linguagens e abordagens diferentes. Os documentos podem ser analisados de múltiplas maneiras tendo em vista, em particular, os níveis de profundidade do estudo, as diferen- tes disciplinas e os diferentes paradigmas ou modelo hermenêuticos. A profundidade de uma análise varia segundo a especialização do estu- dioso e a expectativa do público (FUNARI, 2002, p. 26). Após esta abordagem genérica sobre documentos, cabe a nós voltarmos nossos olhares especialmente ao tema central – a História Antiga. Embora estudos mais aprofundados sejam feitos nas próximas unidades, é oportuno também destacar este estudo preliminar sobre documentos nesta parte do livro. Utilizam-se como documentos para o estudo da história muitos relatos feitos por pessoas que foram contemporâneas ao período. Digamos que muitas dessas pessoas que viveram em determinada época foram os jornalistas do seu tempo. Costuma-se atribuir ao jornalista a alcunha de “historiador do tempo presente”, pois a sua função deve ser a de levar a informação factual até os olhos e ouvidos daqueles que se interessam pela notícia, além de procurar influenciar a opinião de muitas pessoas, pois não podemos nos esquecer dos interesses que há por trás do meio de comunicação para o qual trabalham os jornalistas. Não entrando no mérito da profissão do jornalista, devemos entender que esses relatos feitos por essas pessoas, embora muito ricos em informações, não devem ser entendidos como uma fonte fidedigna de informação. Devemos, como já mencionamos anteriormente, atestar a veracidade dessas informações. Quando se tratam de memórias escritas por alguém, o cuidado deve ser ainda maior. Devemos ter em mente que a memória é seletiva, pois o cérebro humano não é capaz de guardar todas as informações, salvo em alguns casos patológicos. Desta
  • 25. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 25 forma, esses homens, autores de relatos, podem ter sido traídos por suas memó- rias, mas o historiador não deve cair nessa armadilha. Como definiu Le Goff: A memória, como propriedade de conservar certas informações, reme- te-nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que representa como passadas (LE GOFF, 2003, p. 419). Prezado(a) acadêmico(a), quero chamar a sua atenção para a última linha desta citação. Quando o autor menciona que o homem atualiza as informações que são passadas ou que ele representa como passadas, é certo que cada um vai ver o passado como lhe é mais confortável. Não é difícil encontrar entre nós pessoas que idealizam o passado como um tempo melhor, ou que também se colocam como protagonista da história como fica claro no filme indicado no material com- plementar. É comum ouvir das pessoas mais velhas a expressão “no meu tempo era assim ou assado”. Uma determinada época pode apresentar um ponto posi- tivo para mim, mas pode ser ruim para outro. E o historiador deve ficar atento a isso ao analisar um relato. Igualmente, ao analisar a historiografia, o pesquisador deve atentar-se aos objetivos do autor, bem como às características de cunho teórico-metodológicas das quais o mesmo lançou mão. A História do Egito vista do aspecto econômico é diferente da ótica social. Embora possamos analisar os mesmos documentos, os resultados podem ser diferentes, mas não por isso inverídicos. Vale destacar também a diferença entre fontes documentais e historiográficas. O conceito de documento, após a Escola dos Annales, passou a ser bastante amplo, conforme já alertamos. Recortes de jornais, moedas, vestimentas, usos e costumes, tudo isso passou a ser considerado fonte documental à produção do conhecimento histórico. Em linhas gerais, podemos definir que documentos são todos os materiais produzidos pelo homem. Tendo em vista a importância dos documentos para o estudo da história, vejamos um exemplo que ilustra bem o nosso conteúdo. Considerado o pai da História, Heródoto de Halicarnasso foi autor de obras imprescindíveis ao estudo da antiguidade. Segundo Pereira M., Se é certo que o desenvolvimento dos estudos da história da Grécia e do Próximo Oriente nos últimos três séculos teria sido impossível sem
  • 26. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 26 a obra de Heródoto, como advertiu Momigliano, o seu lugar na Litera- tura Grega não é menos relevante. Efectivamente, embora seja difícil considerá-lo “o primeiro expoente da literatura ática”, não obstante ter usado o dialeto iônico, ele foi, tanto quanto sabemos, “o inventor da primeira obra complexa em prosa da literatura européia” (PEREIRA M., 1994, p. XXIX). Esse historiador é importantíssimo ao estudo do mundo antigo. Embora haja nas obras de Heródoto uma boa dose de fantasias, ele é con- siderado o pai da História, pois escreveu baseado em um método próprio, onde procu- rava obter as razões dos fatos de forma racional, não ape- nas exaltar os grandes feitos, como era o costume entre os escritores desta época. Entretanto, Pereira M. (1994, p. XXII) alerta que essa atitude não o impede de dar destaque a outros elementos pouco prováveis, como a força sobrenatural ou superior que atua sobre a vida dos homens. Vejamos as palavras do próprio Heródoto: Impõe-se, neste ponto da minha narrativa, uma reflexão sobre quem era Ciro, o destruidor do império de Creso, e por que forma os Persas assumiram a supremacia sobre a Ásia. É no testemunho de um certo número de Persas – aqueles que não pretendem enaltecer a história de Ciro, mas simplesmente narrar os fatos – que me fundamento; estou, no entanto, em condições de relatar, a respeito do mesmo Ciro, três outras versões diferentes (HERÓDOTO, 1994, p. 125). Observem o alerta que faz o autor a respeito da metodologia que ele emprega para construir a narrativa histórica. Quando o autor destacou que se baseou em certo número de Persas e os selecionou dentro de um critério estabelecido (que não simplesmente queria enaltecer os fatos), fica clara a preocupação dele com Heródoto de Halicarnasso “O pai da História”
  • 27. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 27 a isenção que a narrativa histórica deveria ter. Outro fator importante são as versões que o mesmo fez questão de confrontar, tendo em vista os vários depoi- mentos. É exatamente este cuidado que o historiador precisa ter no trato com as fontes. Confrontar as informações consiste em uma das melhores formas de atestar a veracidade dos fatos. Outro exemplo que podemos destacar como documento para o estudo da antiguidade está na obra de Tucídides. Esse autor grego do século V a.C. foi res- ponsável por nos retratar a História da Guerra do Peloponeso. Entretanto, para analisarmos esse acontecimento sob a óptica desse autor, maiores cuidados ainda deveremos tomar, pois o mesmo era comandante das tropas atenienses. Além do mais, sua obra, apesar de rica, é incompleta. Mesmo diante desses fatos, não podemos tirar o mérito de historiador de Tucídides. Segundo Kury (1987), ele “inovou substancialmente o método his- tórico, influenciado pelo racionalismo de Anaxágoras e pelo espírito crítico e iconoclasta dos sofistas”. A importância da história para Tucídides era registrar os eventos e torná-los uma espécie de patrimônio útil aos homens. Tucídides foi responsável também, segundo Kury (1987), por não apenas narrar os fatos, mas incluir documentos oriundos dos tratados selados entre as partes envolvidas no conflito. Não obstante, não os utiliza de forma ilustrativa, mas exerce duras críticas para mostrar que esses tratados não serviam de nada, devido à guerra se estender apesar da existência desses acordos. Vejamos um trecho da obra de Tucídides: Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados, embo- ra seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. Os ho- mens, na verdade, aceitam uns dos outros relatos de segunda mão dos eventos passados, negligenciando pô-los a prova, ainda que tais eventos se relacionem com sua própria terra (TUCÍDIDES, 1987, p. 27). O alerta feito pelo autor, assim como Heródoto, refere-se à importância de confrontar as fontes para se obter maior confiabilidade nelas. Assim como foi citado, deve ser feita uma análise hermenêutica, ou seja, uma análise crítica das fontes e dos seus conteúdos, visto que a história é uma ciência e como tal precisa ter, acima de tudo, sustentação científica dos argumen- tos apresentados.
  • 28. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 28 O autor prossegue com suas críticas pela falta de interesse pelo saber histó- rico e, como não podia ser diferente, sendo a história um patrimônio do homem, deve este buscar o seu conhecimento. Entretanto, Tucídides lamenta a falta de interesse pela procura da verdade, “a tal ponto chega à aversão de certos homens pela pesquisa meticulosa da verdade, e tão grande é a predisposição para valer- se apenas do que está ao seu alcance” (1987, p. 27). Utilizo as palavras de Tucídides (1987) para fazer um alerta a você, acadêmi- co(a) de história: não devemos apenas ficar em uma zona de conforto, precisamos sempre ir ao encontro de novos problemas, colocando à prova toda informação nova obtida. Esse será, portanto, o nosso maior desafio. Tito Lívio também é um autor indispensável ao estudo da antiguidade. A lista de pessoas inspiradas por esse autor é enorme, dentre os quais podemos desta- car Nicolau Maquiavel e Montesquieu, além de Shakespeare e Voltaire. Nascido em Pádua, uma cidade de cultura muito desenvolvida e de destacada severi- dade moral entre seus habitantes, esse autor foi responsável pela obra História de Roma, composta por 142 livros (SIERRA, 1990). O historiador Tito Lívio foi pioneiro ao valorizar a linguística e a arqueo- logia como fontes históricas. Ele parte de uma comparação com os textos de Políbio para atestar a veracidade de suas fontes, pois o mesmo considera esse autor uma fonte segura. Essa é uma característica original do método empregado por Tito Lívio, que é a tendência em se basear em apenas um autor (SIERRA, 1990). Observemos o que escreve esse autor: Catorze mil boios foram massacrados nesse dia. Aprisionaram-se mil e noventa e dois infantes, setecentos e vinte e um cavaleiros, três chefes, duzentos e doze estandartes e sessenta e três carros. Mas também aos romanos a vitória custou bastante sangue: perderam mais de cinco mil homens, tanto das suas quanto das tropas aliadas, vinte e três centu- riões, quatro prefeito dos aliados, e marco Genúcio, Quinto e Marco Márcio, tribunos militares da segunda legião (TITO LÍVIO, 1990, p. 13). Quais as lições, prezado(a) aluno(a), que podemos tirar dessa citação? Primeiramente, é a riqueza em detalhes, pois traz uma descrição minuciosa do que ocorreu. Talvez seja uma estratégia para mostrar o quanto foi desgastante ou sofrido obter tal vitória sobre os boios. Também da ênfase às perdas humanas,
  • 29. Fontes e Documentos no Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 29 mostrando a dramaticidade do evento. Outro exemplo da riqueza de detalhes que a obra de Tito Lívio possui é evidenciado quando Tito destaca como o luxo vindo do oriente se propagou entre os romanos. Com efeito, o luxo das nações estrangeiras penetrou em Roma na estei- ra do exército da Ásia: foi ele que introduziu na cidade os leitos ador- nados de bronze, os tapetes preciosos, os véus e tecidos delicados, as mesas de refeição, os aparadores, enfim, aquelas peças de mobiliário consideradas muitíssimo elegantes (TITO LÍVIO, 1990, p. 284). Em suma, prossegue o autor em sua descrição minuciosa: Por essa época, apareceram nos festins as cantoras e tocadoras de harpa, para divertir os comensais; empregou-se mais cuidado e magnificência nos preparos dos banquetes, e os cozinheiros, que para os antigos eram os escravos mais humildes, entraram a encarecer: o que antes não pas- sava de um ofício começou a ser considerada uma arte. Mas isso tudo era apenas a semente do que ainda estava por vir (TITO LÍVIO, 1990, p. 284-285). É impressionante o olhar cirúrgico que esse historiador tem sobre as transforma- ções dos costumes desse período. Ele observou, além das mudanças de ordem material, as de ordem social, visto que destacou a virada ocorrida no ofício de cozinheiro. O que antes era visto como depreciativo passou gradualmente a ter o status de arte. Além do mais, ele antevia que mais mudanças ocorreriam. Em linhas gerais, a transformação de Roma em um Império Cosmopolita passa também pelos usos e costumes da população, e não apenas pelo campo político e militar. Portanto, é desta forma que precisamos observar os documentos e sujeitá- -los a uma verificação. A interpretação crítica é indispensável e requer atenção e dedicação. Os exemplos destacados neste livro apresentam modelos de análise e construção do conhecimento histórico que deverão ser dominados pelo(a) futu- ro(a) professor(a) de História ou ainda pelo(a) historiador(a). Entretanto, além das fontes e dos documentos, precisamos compreender a importância da histo- riografia e do método empregado.
  • 30. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 30 FONTES DOCUMENTAIS E FONTES HISTORIOGRÁFICAS O(a) acadêmico(a) de história perceberá imediatamente que as palavras “fonte” e “documento” fazem parte do cotidiano do historiador. Por isso, é necessá- rio esclarecermos pormenorizadamente qual é o significado delas, bem como classificá-las de maneira adequada, para que o trabalho do historiador tenha mais qualidade. Costuma-se dividir as fontes em duas categorias distintas: fontes documen- tais e fontes historiográficas. Podemos definir, em linhas gerais, que as fontes documentais são aquelas originais, onde o historiador faz sua própria interpre- tação. Em síntese, os escritos de Heródoto, Tito Lívio, Tucídides, Cícero, Catão são considerados fontes documentais. Assim como os demais objetos já citados como peças arqueológicas, fotografias, filmes etc. Já as fontes historiográficas são aquelas obras em que o historiador vai buscar suas informações, ou seja, você pode fazer uma pesquisa sobre o Egito utilizando obras de outros historiadores. Por exemplo, Nicolau Maquiavel foi autor da obra “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”. Esse livro foi escrito na pri- meira metade do século XVI. Nesse sentido, podemos considerá-la uma fonte documental para estudar a Florença renascentista, mas também pode ser uma fonte historiográfica para o estudo da antiguidade, pois o que fez Maquiavel foi interpretar a obra de Tito Lívio e sintetizar alguns pontos em seu livro. Vejamos alguns exemplos: A escravidão, segundo Aristóteles A propriedade é uma parte da casa e a arte aquisitiva uma parte da administração doméstica, já que sem as coisas necessárias são impossí- veis a vida e o bem-estar; na administração doméstica assim como nas artes determinadas, é necessário dispor dos instrumentos adequados se se deseja levar a cabo sua obra. Os instrumentos podem ser animados ou inanimados, por exemplo, o timão do piloto é inanimado, o vigia animado (pois o subordinado faz às vezes de instrumento nas artes). Assim também os bens que se possui são um instrumento para a vida, a propriedade em geral uma multidão de instrumento, o escravo um bem animado e algo assim como um instrumento prévio aos outros instrumentos. Se todos os instrumentos pudessem cumprir seu dever
  • 31. Fontes Documentais e Fontes Historiográficas Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 31 obedecendo às ordens de outro ou antecipando-se a elas, como contam das estátuas de Dédalo ou dos tridentes de Hefesto, dos que diz o po- eta que entravam por si só na assembléia dos deuses, se as lançadeiras tecessem sós e os plectros tocassem sozinhos a cítara, os maestros não necessitariam de ajuda e nem de escravos os amos (ARISTÓTELES apud PINSK, 2001 p. 11-12). O pesquisador pode perfeitamente fazer uma análise histórica e construir o seu entendimento sobre a escravidão na Grécia Antiga lançando mão dos textos de Aristóteles. A citação anterior é um exemplo de como a escravidão era vista como essencial à sociedade ateniense. Esse é um exemplo de fonte documental. Vejamos outro exemplo: Aulo Capreilio Timóteo, Mercador de escravos: Aulo Capreilio Timóteo não figura em qualquer livro de história. Nem haveria por quê. Contudo, um acidente arqueológico confere-lhe certo interesse, e, talvez, até mesmo certa importância. Ele foi um escravo do primeiro século de nossa era que obteve liberdade e passou a se dedicar ao comércio de escravos, atividade em que prosperou muito, a ponto de poder arcar com uma lápide funerária dispendiosa, com cerca de dois metros de altura, em mármore finamente decorado (FINLEY, 1991, p. 187). A referida citação é um exemplo de fonte historiográfica. Finley (1991) fez uma análise de um documento que faz menção a um escravo. Sua interpretação, suas teses e conclusões a respeito disso podem também nos servir para fundamentar nossa pesquisa. Mas precisamos estar sempre alertas com relação aos conceitos por trás dessas interpretações, pois esse autor escreveu esse texto buscando res- ponder aos seus questionamentos, atendendo aos seus anseios, baseando-se em seus preceitos teórico-metodológicos. Por isso a importância do confronto das fontes dos constantes questionamentos que ele deve sofrer. Código de Hamurabi § 10 Se o comprador não trouxe o vendedor que lhe vendeu (o objeto) e as testemunhas diante dos quais comprou e o dono do (objeto) perdido trouxe as testemunhas que conhecem seu (objeto) perdido: o compra- dor é um ladrão, ele será morto; o dono do (objeto) perdido tomará seu (objeto) perdido.
  • 32. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 32 § 11 Se o dono do (objeto) perdido não trouxe as testemunhas que conhecem seu (objeto) perdido: ele é um mentiroso, levantou uma falsa denúncia; ele será morto. § 12 Se o vendedor já morreu, o comprador tomará da casa do vendedor cinco vezes a soma reclamada nesse processo. § 13 Se as testemunhas desse awilum não estão perto, os juízes conceder-lhe-ão um prazo de seis meses; se no sexto mês ele não trouxer suas testemu- nhas: esse awilum é um mentiroso, ele carregará a pena desse processo (BOUZON, 1998, p. 54). O Código de Hammurabi consiste em uma fonte documental para se compreender a sociedade babilônica. Sua compreensão e interpretação passam, primeiramente, pelo entendimento do vocabulário empregado no original ou na tradução que foi feita sobre o documento. Entretanto, o pesquisador pode optar por fazer uma análise historiográfica dessa sociedade. Hammurabi e sua Legislação Uma das finalidades da composição de uma obra literária como a estela de Hamumurabi era, sem dúvida, enaltecer a figura do rei. O caráter programático e propagandístico da obra transparece em cada linha do prólogo e do epílogo. É difícil, portanto, atribuir a uma composição com tais características a função de norma válida para todas as regiões do reino de Hammurabi. Quando Hammurabi proclama no prólogo de sua estela: “Que o homem oprimido, que está implicado em um pro- cesso, venha diante de minha estátua de rei da justiça, leia atentamen- te, minha estela escrita e ouça minhas palavras preciosas. Que minha estela resolva sua questão, ele veja o seu direito, o seu coração se dila- te!”(BOUZON, 1998, p. 54). O texto de Bouzon é mais um exemplo de fonte historiográfica, que, como já informado, necessita de cuidados metodológicos adequados.
  • 33. Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 33 DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA PARA O ESTUDO DA ANTIGUIDADE Venturini (2012), ao fazer referência aos instrumentos de pesquisa do historia- dor da antiguidade, aponta os seguintes elementos como imprescindíveis para análise documental: 1) Considerar o contexto histórico a cada documento; 2) analisar o conteúdo do documento e esclarecer os termos específicos utilizados; 3) pesquisar a respeito dos nomes próprios citados; 4) identificar a im- portância do documento para o processo histórico que se quer analisar (VENTURINI, 2012, p. 129). Com base nesses pressupostos, prezado(a) aluno(a), observaremos os documen- tos abaixo, bem como os comentários que a eles se seguem, com o intuito de aprimorar nossa percepção acerca dos documentos históricos. Como tratar escravo em Roma É louvável mandar em seus escravos com moderação. Mesmo no que diz respeito às nossas posses humanas, cumpre perguntar-se constantemente, não apenas tudo aquilo que podemos fazê-los sofrer sem sermos punidos, mas também o que permite a natureza da equidade e do bem, a qual ordena poupar mesmo os cativos e aqueles que se compra com dinheiro. Quando se trata de homens livres de nascença, honrados, é mais justo tratá-los não como material humano, mas como pessoas que estão sob tua autoridade e que te foram confia- das, não como escravos, mas como pupilos. Aos escravos, é permitido refugiarem-se junto a uma estátua. Embora tudo seja permitido para com um escravo, existem coisas que não podem ser autorizadas em nome do direito comum dos seres animados. Quem podia ter para com Védio Pólio um ódio maior que seus escravos? Ele engordava moréias com sangue humano e mandava jogar quem o ofendia num lugar que não era senão um viveiro de serpentes... (SÊNECA apud PINSK, 2001, p. 14). COMENTÁRIOS: Sêneca foi um escritor que viveu entre os séculos I a.C e I d.C. Neste texto, podemos perceber a importância da instituição escravidão na Roma Antiga. Campanha de Seti i no norte da Palestina Ano I, 3.º mês da terceira estação, dia 10. Viva o Hórus: Touro Pode-
  • 34. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 34 roso, Aparecendo em Tebas, Fazendo Viver Duas Terras; as Duas Deu- sas: Repetindo Nascimentos, Poderosas nas Armas, Repelindo os Nove Arcos; o Hórus de Ouro: Repetindo Aparições, Poderoso de Arcos em Todas as Terras; o Rei do Alto e Baixo Egito, Senhor das Duas Terras; Men-maat-Re [Ir]-em-Re; o Filho de Ré, Senhor dos Diademas: Seti Mer-ne-Ptah, amado de Ré-Har-akhti, o grande deus. O bom deus, potente com seu braço, heróico e valente como Montu, rico em escra- vos, sabendo (como) colocar sua mão, alerta onde estiver; falando com sua boca, agindo com suas mãos, valente líder de seu exército, valente guerreiro no fragor da luta, um terrível Bastet em combate, penetrando numa massa de asiáticos e prostando-os, esmagando os príncipes de Reteneu (ANET apud PINSK, 2001, p. 22-23). COMENTÁRIOS: Esse documento é referente ao Egito Antigo e fica exposta a força da religião na vida dessa civilização. Percebe-se uma louvação grande aos deuses da mitologia egípcia. Senaqueribe invade Judá No décimo quarto ano do reinado de Ezequias, Senaqueribe, rei dos assírios, atacou e tomou todas as cidades fortes de Judá. Então Eze- quias, rei de Judá, mandou mensageiros ao rei dos assírios, em Laquis, dizendo: Eu cometi uma falta; retira-te das minhas terras e eu aceitarei tudo o que me impuseres. O rei dos assírios, então, impôs a Ezequias, rei de Judá, trezentos talentos de prata, e trinta talentos de ouro. E Eze- quias deu-lhe toda a prata que foi encontrada na casa do Senhor e nos tesouros do rei. Foi quando, Ezequias arrancou das portas do templo do Senhor as chapas de ouro com que ele próprio as tinha forrado e as entregou ao rei dos assírios (II REIS apud PINSK 2001, p. 26). COMENTÁRIOS: O documento acima é um trecho Bíblico e também nos serve de documento para o estudo da antiguidade. Mas, é preciso tratar esse docu- mento com o mesmo rigor metodológico dos demais. O dilúvio sumério Minha humanidade, em sua destruição eu vou..., (aproximadamente as primeiras 37 linhas destruídas) Para Mintu eu vou devolver o... de minhas criaturas, Eu vou devolver o povo aos seus povoados, (40) Das cidades, em verdade eles construirão seus lugares de (divinos) ritu- ais, eu farei pacífica sua sombra, De nossas casas, em verdade eles assentarão seus tijolos em lugares puros, Os lugares de nossas decisões em verdade eles estabelecerão em lugares puros
  • 35. Documentos de Referência para o Estudo da Antiguidade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 35 Ele dirigiu o... dos lugares sagrados Aperfeiçoou os ritos (e) as exaltadas (divinas) ordenações, Na terra ele... ou, colocou o... ali (ANET apud PINSK, 2001, p. 43). COMENTÁRIOS: Esse texto refere-se aos Assírios, civilização mesopotâmica. Nesse exemplo, fica patente a precariedade material em que foram encontrados alguns documentos, visto que muitas linhas foram destruídas. O aparecimento dos deuses gregos No princípio era o nada. Depois a terra de largos flancos, assento in- falível de todas as coisas para sempre... e o Amor, o mais belo entre os deuses imortais. Ele rompe os membros e, no seio de todos os deuses, como de todos os homens, doma o espírito e a sábia vontade. Do Nada, nasceram Erebos e a negra Noite... Primeiro a Terra concebeu, gran- de como ela, o Céu estrelado, capaz de cobri-la inteira, o qual ia ser para os deuses bem-aventurados um assento infalível para sempre. Em seguida, concebeu os altos montes, aprazíveis moradas das deusas, as Ninfas, que vivem nos montes ondulados. Em seguida deu à luz o mar infecundo, de ondas impetuosas, o Largo, sem ajuda do terno amor. Em seguida, tendo-se unido ao Céu, deu à luz o Oceano de torvelinhos pro- fundos, Coios, Crios, Hyperion, Iapetos, Theia, Rheia, Themis, Mne- mósina, Phoibe com a coroa de ouro e a amável Tétis. Depois deles, nasceu Cronos, o mais jovem, de espírito manhoso, o mais terrível de seus filhos. E seu vigoroso pai tornou-se objeto de seu ódio [...] (HESÍ- ODO apud PINSK, 2001, p. 51). COMENTÁRIOS: O texto acima é uma versão sobre o aparecimento dos Deuses Gregos sob uma ótica bem romantizada. Hino a Ishtar Louvada seja a Deusa, a mais poderosa das deusas. Que se venere a soberana dos povos, a favorita dos Igigi. Louvada seja Ishtar, a mais poderosa das deusas. Que se venere a rainha das mulheres, a favorita dos Igigi. Ela está vestida de prazer e amor. Ela está carregada de vitalidade, fascínio e volúpia. Ishtar está vestida de prazer e amor. Ela está carregada de vitalidade, fascínio e volúpia.
  • 36. A HISTÓRIA ANTIGA: UM PRIMEIRO OLHAR Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. I U N I D A D E 36 Nos lábios ela é doce; a vida está em sua boca. Quando ela surge a alegria se completa. Ela é maravilhosa; véus são jogados por sobre sua cabeça. Seu corpo é lindo; seus olhos, brilhantes (ANET apud PINSK, 2001, p. 53). COMENTÁRIOS: Mais um texto de cunho mitológico que exalta de forma incansável uma divindade. Esta Deusa, Ishtar, consta na mitologia de vários povos antigos orientais. É importante destacar que este último tópico de nossa primeira unidade refere-se aos diversos documentos e interpretações aos quais estão sujei- tos as fontes e documentos históricos. É salutar ao ofício do historiador o exercício constante da interpretação. Não se faz História sem documentos e, para que isso seja possível, a interpretação se faz indispensável. Portanto, é importante que o(a) futuro(a) professor(a) de história tenha em mente os procedimentos metodológicos adequados, bem como uma carga enorme de leitura para que seu trabalho se enriqueça cada vez mais em se tratando de cientificidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado(a) acadêmico(a) de História. Nesta primeira unidade, gostaríamos de destacar alguns pontos indispensáveis ao ofício do historiador. O assunto traba- lhado é de suma importância para se compreender como é construída a escrita da História, além de lhe apresentar os requisitos básicos para a continuidade dos nossos estudos sobre a antiguidade. Fique atento(a), você até pode não se enveredar pelos caminhos da antiguidade, mas o cuidado com as fontes são indis- pensáveis a qualquer periodicidade. Primeiramente, vale lembrar que a história não se faz sem documentos. Da mesma forma que o biólogo lança mãos dos recursos disponíveis no seu labo- ratório para pesquisa, sejam eles células, animais, restos mortais, entre outros, o historiador deve valer-se dos documentos como instrumento indispensável à
  • 37. Considerações Finais Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 37 profissão. As palavras “fonte” e “documento” serão incorporadas ao seu voca- bulário a partir de agora. Também precisamos nos lembrar da importância do conhecimento teórico- metodológico para o desenvolvimento da pesquisa. São esses procedimentos que lhe indicarão o caminho que deverá ser percorrido ao embrenhar-se em um estudo de determinado tema. Devemos estar atentos para não cometermos equívocos quando formos analisar uma fonte. Por isso, é imprescindível a crítica interna e externa ao docu- mento para evitar o anacronismo. Portanto, acreditamos que, com essas informações preliminares, você, aca- dêmico(a) de História da UNICESUMAR, estará apto(a) a dar continuidade aos estudos sobre a antiguidade, não obstante, de forma mais aprofundada e específica.
  • 38. 1. Pesquise sobre uma civilização que é denominada clássica e, com base na expo- sição feita nesta unidade, descreva quais os motivos que justificam tal título. 2. Tendo em vista os cuidados que o pesquisador precisa ter no trato das fontes, é possível interpretar um fato histórico isento de juízo de valor? Justifique sua resposta. 3. Descreva o conceito de crítica interna e externa destacado por Funari. 4. Explique o significado do termo ANACRONISMO e exemplifique como isso pode ocorrer na elaboração de um texto histórico. 5. Escolha dois documentos de sua preferência contidos nesta unidade e analise- -os com base nos preceitos elencados por Venturini.
  • 39. Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR QUADRO SINÓTICO HISTÓRIA ANTIGA CONCEITO Período histórico que compreende, didaticamente, a formação das primeiras civilizações juridicamente organizadas (por volta do século XXX a.C.) até a Queda do Império Romano Ocidental, em 476 d.C. FONTES Documentais São as fontes em que o historiador utiliza os materiais originais de um determinado perí- odo, sem o auxílio de interpretações já feitas. Podemos citar como exemplo as obras origi- nais de Homero, a Lei das 12 Tábuas Romana, O Código de Hammurabi, dentre outras. Historiográficas São as fontes resultantes de estudos já feitos sobre determinado assunto por outros pes- quisadores não contemporâneos à produção do documento. ANÁLISE HER- MENÊUTICA Crítica Externa É a análise que visa identificar incompati- bilidades aparentes em um determinado documento. Por exemplo: se um texto da antiguidade poderia ser ou não escrito em computador ou se uma arma da pré-história poderia apresentar vestígios de pólvora. Crítica Interna É a análise centrada no conteúdo material do documento, ou seja, visa identificar se os elementos textuais de um determinado documento são compatíveis com o momento em que foram produzidos. Por exemplo: se em um texto da Grécia arcaica há referências ao cristianismo.
  • 40. MATERIAL COMPLEMENTAR Embora não seja um filme sobre História Antiga, seu enredo é importante para se entender as dificuldades de se construir uma narrativa histórica, bem como a falta de técnica e método pode comprometer severamente o ofício do historiador. Os Narradores de Javé Ano: 2003 Direção: Eliane Caffé Sinopse: Quando um pequeno vilarejo se vê à beira da extinção, os seus moradores resolvem unir suas forças para impedir que isso ocorra. Entretanto, para que o pequeno vilarejo não sucumbisse diante do iminente progresso, comprovar que o local possuía riqueza histórica e, portanto, não merecesse ser alagado para a construção de um reservatório para a usina hidrelétrica era de primeira necessidade. Daí surgem as questões: quem poderia escrever a história da“grande”Javé? Quais seriam os atributos que deveriam ser enaltecidos para que a memória dos seus habitantes fosse preservada? Essa missão foi dada ao grande desafeto da população chamado Antônio Biá (José Dumont). A falta de rigor metodológico fez com que a aventura historiográfica de Biá se tornasse um eterno pesadelo. Sobre as CIÊNCIAS AUXILIARES DA HISTÓRIA, visite o seguinte site disponível em: http://www. arqnet.pt/portal/estudo/paleog.html. Acesso em: 11 fev. 2014. Sobre INTERDISCIPLINARIDADE, acesse o site disponível em: http://anpuh.org/ anais/?p=17362. Acesso em: 11 fev. 2014 Para saber mais sobre HERMENÊUTICA, acesse o site disponível em: http://www.infoescola.com/ filosofia/hermeneutica/. Acesso em: 11 fev. 2014
  • 41. UNIDADE II Professor Me. Kleber Eduardo Men O ORIENTE PRÓXIMO Objetivos de Aprendizagem ■ ■ Compreender os elementos que proporcionaram a sedentarização do homem e a formação das primeiras sociedades. ■ ■ Estudar os fatores que contribuíram para a formação das primeiras civilizações. ■ ■ Conhecer o Crescente Fértil e suas principais civilizações, bem como a estrutura jurídica que contribuiu para que essas civilizações se consolidassem. ■ ■ Entender os fatores que condicionaram a formação do Império Egípcio, destacando também a importância da estrutura burocrática à consolidação do Estado Egípcio. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ ■ As civilizações mesopotâmicas e suas instituições ■ ■ Hebreus e fenícios ■ ■ O estado egípcio
  • 42.
  • 43. INTRODUÇÃO Prezado(a) acadêmico(a) de História, nesta unidade, o tema central de nossa discussão será o Crescente Fértil. Após a sedentarização do homem, proporcio- nada pela domesticação de plantas e de animais, começaram a surgir pequenos agrupamentos humanos que deram origem a civilizações que, consequente- mente, tornaram-se Estados organizados. Os primeiros vestígios do homem em sociedade foram encontrados na região denominada de Crescente Fértil. Isso se deve à existência de rios bem como de um solo bastante agricultável. Egípcios, Hebreus, Sumérios, Assírios, Babilônios, Persas fazem parte da história desse espaço geográfico. Embora nos pareça uma situação bem distante de nossa realidade, as ins- tituições formadas por essas civilizações ainda fazem parte de nossas vidas. A experiência vivida por esses povos são importantes para a compreensão da organi- zação humana, principalmente no que diz respeito ao surgimento do Estado e de sua estrutura burocrática. Como é humanamente impossível sintetizar a história do Oriente nesta unidade, proporcionaremos a você, prezado(a) acadêmico(a), as características gerais dessas civilizações e refletiremos sobre sua organização e legitimação, exercitando e engrandecendo ainda mais nossos conhecimentos sobre a Ciência Histórica. Introdução Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 43
  • 44. O ORIENTE PRÓXIMO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II U N I D A D E 44 AS CIVILIZAÇÕES MESOPOTÂMICAS E SUAS INSTITUIÇÕES O que é um Estado? Essa pergunta, a primeira vista, parece um tanto simples, embora não o seja. Certamente, quando fazemos essa pergunta a um aluno da Educação Básica, este pensa no Estado do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, e assim por diante. Na verdade, o conceito de Estado que abor- daremos é muito mais complexo, pois significa que um povo ou nação está organizado dentro de uma estrutura política e principalmente jurídica. Certa vez, a apresentadora de televisão Regina Casé disse que todo brasileiro gostava de samba, futebol e funk e, em face dessa afirmação, muitas pessoas e inclusive você deve ter se perguntado: e se eu não gosto disso, será que eu não sou brasileiro? Isso justifica a dificuldade que temos em enquadrar as pessoas dentro de um padrão cultural único. Gostando ou não de futebol, do samba e/ou do funk, estamos ligados uns aos outros por fatores políticos e jurídicos, pois temos um mesmo presidente, obedecemos às mesmas leis elaboradas pelos legisladores federais, temos um mesmo código civil, código penal e seguimos o mesmo calendário. Enfim, são essas estruturas que engendram nossa nação. As primeiras experiências da formação de Estados organizados juridicamente e politicamente foram vistas na Mesopotâmia. Situada no Crescente Fértil, mais especificamente entre os Rios Tigre e Eufrates, essa região abrigou três impor- tantes civilizações - os Assírios, os Sumérios e os Babilônios. Gordon Childe fala de uma revolução que “transformou pequenas al- deias de agricultores autossuficientes em cidades populosas”. A impres- são que a frase nos passa é a de que logo após se organizar sedentaria- mente como agricultor, atingindo a autossuficiência e administrando o excedente, o homem administra uma nova mudança, desta feita quase natural e sempre obrigatória: a urbanização. Um rápido olhar acusa uma aparente coincidência: a agricultura inicia-se no Oriente Próximo, a urbanização também. Falamos mais exatamente do Crescente Fértil como local onde as revoluções Agrícola e Urbana teriam se realizado (PINSKY, 2011, p. 58-59).
  • 45. As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 45 Trópico de Câncer Jerusalém Damasco Tiro Sidon Biblos Mêntis Saís N i l o N il o Tebas EGITO Mar Vermelho Golfo Pérsico MESOPOTÂMIA Babilônia Assur Ninive T i g r e E u f r a t e s Mediterrâneo A citação de Pinsky (2011) endossa o que foi destacado até aqui. Em outras palavras, é quase um consenso entre os pesquisadores que as primeiras experi- ências da vida em sociedade foram realizadas no Oriente, mais especificamente na região denominada de Crescente Fértil (veja ilustração anterior). Segundo as diversas obras pesquisadas, a região apresentada pelo mapa denomina-se Crescente Fértil pelo fato de possuir o formato de lua cres- cente e devido à existência de rios de vazão perene. Assim a ciclotimia das águas tornaram suas margens áreas de extrema fertilidade, contribuindo para fixação do homem na terra (nota do autor).
  • 46. O ORIENTE PRÓXIMO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II U N I D A D E 46 Um dos fatores indispensáveis para a fixação do homem em um determi- nado espaço é a existência de recursos naturais, principalmente a água. Fonte de vida, sem esse recurso a fixação e expansão dessas cidades ficaria comprometida. A dependência que essas civilizações tinham da água fez com que elas fossem também denominadas de Civilizações Hidráulicas, visto que desenvolveram mecanismos para dominar e racionalizar o uso dos rios. Pinsky (2011) afirma que, no Egito e na Mesopotâmia, o domínio de técnicas que visassem aperfei- çoar o ciclo das águas era indispensável, isto porque o período das cheias nem sempre era homogêneo. A respeito da Mesopotâmia ele descreve: Lá, por conta da irregularidade do degelo nas vertentes, as cheias eram surpreendentes e intempestivas – às vezes destruidoras. A extrema fer- tilidade das terras às suas margens (pelo menos ao sul de Bagdá) re- queria uma defesa contra a imprevisibilidade dos rios, o que era obtido por meio da construção de valas que, graças à topografia plana e aos canais e braços naturais, desviavam as águas para onde fosse necessário (PINSKY, 2011, p. 60). Em suma, embora a região do Crescente Fértil abrigasse povos de diferentes culturas, com climas e condições geográficas heterogêneas, o fator que os torna semelhantes é a forte dependência do ciclo das águas, pois foi possível criar um modelo de organização da vida em sociedade que foi considerado o principal pilar de todas as primeiras civilizações. A estrutura política tinha como centro das relações as cidades. Era den- tro dessa organização que se exercia o poder. Tanto a agricultura quanto a vida urbana surgiram nessa região e, para que fosse possível viver em sociedade, era necessário organizar um código de regras que servisse a todos. É importante destacar que o fato de um código servir para todos não significa que todos eram tratados de forma isonômica. Geralmente, essas regras surgem de axiomas (valores) tidos pela maioria dos habitantes como indispensáveis à organização e que por meio de leis visam protegê-los. E assim nasce o Direito. Não existe sociedade sem Direito (ubi societas ibi jus). Mesmo que não haja leis escritas, um código moral e costumeiro deve ser respeitado dentro de uma estrutura social, ou seja, o Direito é consuetudinário. Assim como o Direito, assistimos também o surgimento de um corpo burocrático que tem como obje- tivo fiscalizar se os preceitos jurídicos estão sendo cumpridos. E no topo dessa
  • 47. As Civilizações Mesopotâmicas e suas Instituições Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 47 cadeia de comando estavam os reis. O terceiro Milênio a.C. testemunha um grande número de núcleos ur- banos se desenvolvendo ao longo do Tigre e do Eufrates. Historiadores como Paul Garelli levantaram, só para o período que vai de 2700 a 2100 a.C., uma enorme lista de reis em localidades como Lagash, Umma, Kish, Ur, Uruk, Akad, Gatium, Elam – incluindo o herói Gilgamesh e outros, de nomes quase impronunciáveis por nós, como Lugalkinishe- dudu, Meskiagnunna e Kutik-in-shishinak (PINSKY, 2011, p. 69). Como podemos perceber, junto com o Direito, a burocracia surge de maneira con- comitante às relações de poder. Mas devemos ter em mente que o fortalecimento do Estado e das instituições políticas não ocorria por si só. Uma quantidade enorme de pessoas precisava se sacrificar trabalhando para esse Estado, que pouco a pouco se tornou gigantesco, não em tamanho, mas no poder de influenciar e determinar a vida das pessoas. O maior exemplo disso foi o Egito (que veremos logo mais adiante). Templos e mais templos foram construídos à custa do trabalho de pessoas que muitas vezes não podiam gozar do resultado de seus esforços. Até parece, caro(a) estudante, que estamos falando dos dias atuais. Observe o exposto a seguir: Em Uruk foram encontrados vestígios de um templo que tinha mais de dois mil metros quadrados (exatamente 80 m por 33 m). Perto dele foi edificado um monte artificial (zigurate) com 11 metros de altura, cons- truído com tijolos e enfeitado com pedaços de cerâmica. Com o uso de uma escada chega-se ao pequeno templo, no alto; paredes de tijolos bran- cos e madeiras importadas, altares nas extremidades e outros detalhes mostram o requinte e a técnica da construção (PINSKY, 2011, p. 69). O exemplo destacado por Pinsky (2011) demonstra como a imponência era uma forma de demonstrar poder. Mas não podemos esquecer-nos do forte apelo reli- gioso que havia nessas sociedades. Muito do esforço empregado nessas grandes obras era legitimado por uma força divina. A propósito disso, o autor prossegue: A exploração do trabalho de uma parte da sociedade por outra cria, pela primeira vez na humanidade, antagonismos determinados pelo papel econômico exercido pelo indivíduo no grupo. É importante notar que não se está falando de divergências pessoais, questões subjetivas, mas de oposição socialmente determinada, impessoal, portanto. O sacer- dote não explorava o artesão pelo fato de ser, pessoalmente, um mau elemento, de possuir um mau-caráter. Ele na verdade desempenhava o papel organizador do processo de trabalho, em nome de cuja racionali- dade agia (PINKY, 2011, p. 71).
  • 48. O ORIENTE PRÓXIMO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II U N I D A D E 48 Como foi possível perceber, prezado(a) acadêmico(a), havia uma exploração impessoal do trabalho, mas que de fato era importantíssima para as relações de poder. A vida religiosa era uma das principais características do homem meso- potâmico, e não havia a separação do que era público e do que era privado. Essa discussão do que é público e do que é privado só se dará em Roma (veremos esse assunto na unidade IV do nosso livro). Como o rei era o representante maior do poder e exercia-o legitimado por uma entidade divina, ele, de fato, possuía maiores vantagens. Uma dessas van- tagens era a posse de terras (PINSKY, 2011). Não é possível propor uma discussão sobre a Mesopotâmia sem nos reme- termos ao Império Babilônico. Mais difícil ainda é fazê-la sem mencionar o tão famoso Código de Hammurabi. Conforme foi visto na unidade anterior, esse código foi um dos primeiros conjuntos de leis escritas que se tem registro, mas a importância dele não é apenas com relação à importância jurídica que possui, esse código vai mais além. Segundo Pinsky: Não é, no entanto, um projeto de mudanças sociais. Muito pelo contrá- rio, legisla a partir do reconhecimento da existência de três classes dis- tintas: os ricos, o povo e os escravos. Os primeiros com mais privilégios e obrigações (pelo menos em teoria); os ricos pagavam mais impostos, mas um delito contra eles seria, reconhecidamente, punido de forma mais severa; os escravos, que tinham direitos delimitados em lei (não eram apenas um objeto, como diria deles Aristóteles, na Grécia), podiam ca- sar-se com uma mulher livre e possuir bens, mas eram marcados como gado, já que não deixavam de ser propriedade de alguém (2011, p. 82). Aqui fica explícita a questão da falta de isonomia jurídica desse código. O fato de estar positivada no Código de Hammurabi a existência de três classes distin- tas já é determinante para entendermos que havia uma diferenciação legítima entre as pessoas. Punir com o rigor da lei, mas de maneira desigual, era a tônica dessa civilização. Enfim, há inúmeras outras interpretações que podemos fazer sobre os diver- sos institutos surgidos na Babilônia. Assim como também podemos perceber que muito do que ali existia teve origem em outras civilizações, demonstrando desde já que a comunicação e a integração entre os povos ocorria desde os pri- mórdios da civilização.
  • 49. Economia e Sociedade Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 49 ECONOMIA E SOCIEDADE Estudar a antiguidade, como já mencionamos na primeira unidade, é uma tarefa bastante difícil, visto a escassez de documentos sobre o período. Quando se trata de antiguidade Oriental, a dificuldade é maior ainda. Sobre a problemá- tica de se estudar as estruturas econômicas e sociais da mesopotâmia, Garelli e Nikiprowetzky (1982, p. 227) alertam que: Quando se intenta analisar as estruturas econômicas e sociais dos im- périos mesopotâmicos, esbarra-se no duplo obstáculo das lacunas da documentação e da insuficiência da investigação moderna. Os textos assírios e babilônicos apresentam características quase antitéticas, que inspiraram trabalhos muito distintos. De um lado, os escassos dados relativos à economia assíria não constituíram, até o momento, objeto de sínteses recentes; de outro, o conhecimento da administração real e dos componentes sociais babilônicos é ainda bem deficiente. Os docu- mentos babilônicos atraíram, sobretudo a atenção dos historiadores do direito, amiúde mais preocupados com as características jurídicas de suas fontes do que com o conteúdo econômico e social destas, de modo que, com freqüência, ficamos reduzidos a reunir observações dissemi- nadas em artigos especializados. Gostaríamos de chamar a sua atenção, primeiramente, para a afirmação que os auto- res fazem sobre as lacunas da documentação. Conseguir encontrar a peça que falta nesse quebra-cabeça, muitas vezes, é tarefa impossível. Há hiatos documentais sobre determinados temas que acabam comprometendo a qualidade do trabalho, entre- tanto, cabe ao prudente historiador explorar ao máximo aquilo que tem em mãos. Outro ponto importante é a interdisciplinaridade – que também já mencio- namos na primeira unidade. Os autores mencionam a história do Direito como referência, mas poderiam citar outras disciplinas, ou seja, poderíamos fazer um estudo das civilizações mesopotâmicas tendo como prisma diversas abordagens, tais como econômica, social, jurídica, geográfica etc. Ao analisar a agricultura Assíria, Garelli e Nikiprowetzky (1982) traçam um perfil da produção iniciando pelo tipo de repartição que havia da proprie- dade, bem como a renda daqueles que a exploravam. Também analisaram o recenseamento, o que demonstra que o controle do Estado era importantíssimo para tributar e direcionar as atividades econômicas. Nas tábulas analisadas, fica
  • 50. O ORIENTE PRÓXIMO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II U N I D A D E 50 evidente a burocracia que fazia parte do sistema de governo e o resultado ao qual os autores chegaram foram os seguintes: a. O escriba recenseava todo mundo. b. Contudo, seu total apenas incluía as pessoas que não eram indepen- dentes. Dado o caráter visivelmente oficial da documentação, é prová- vel que estejamos diante de rendeiros dependentes do Estado ou de um membro da administração; c. O escriba também exclui todos os que não cultivavam a terra (servi- çais, pastores, guardas). Se o recenseamento tinha objetivo fiscal, como tudo faz supor, somente os produtores agrícolas estariam submetidos ao imposto. d. Designam-se como “cultivador” todos os membros de uma família estabelecida em uma gleba, inclusive mulheres e crianças (GARELLI; NIKIPROWETZKY, 1982, p. 231). As informações servem para estabelecermos alguns pontos de referência como, por exemplo, quem era o responsável pelo controle estatal (escriba). Mas tam- bém fica evidente a forte dependência do Estado, visto que o documento não incluía, como ficou demonstrado, as pessoas independentes. Outra conclusão demonstrada foi a exclusiva tributação dos produtores agrícolas, visto que não há sinais de que os prestadores de serviços eram submetidos aos impostos, mas essas são hipóteses levantadas pelos autores a fim de apresentar as dificuldades de se pesquisar a antiguidade mesopotâmica, devido à restrição de documentos. Outra questão que podemos abordar em se tratando de economia e sociedade está relacionada ao comércio e à indústria. Embora sejam temas mal conhecidos, como alertam Garelli e Nikiprowetzky (1982), para que se possa fazer uma reconstrução do que eram essas instituições naquele período, eles precisam se basear em evidên- cias, em vestígios, mais ou menos “bancando Sherlock Holmes”. Cada indício, cada sinal, cada número deve ser explorado ao máximo buscando entender a sua verda- deira essência. Assim, destacaremos algumas conclusões a que chegaram os autores: É bastante possível que os arameus hajam desempenhado papel preponderante nesse domínio. Ora, eles não escreviam em tábulas de argila. O material que utilizavam, couro ou pergaminho, pode ter de- saparecido sem deixar traços, de forma que apenas dispomos da docu- mentação assíria, em tábulas. Convém esclarecer ainda que a maior par- te dos arquivos parece revestir caráter oficial e que, em consequência,
  • 51. Hebreus e Fenícios Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 51 o quadro de conjunto se apresenta sob uma forma menos diversificada que nas épocas antigas (GARELLI; NIKIPROWETZKY, 1982, p. 233). Além da consequência já apontada pelos autores, acrescentamos outra: por se tratar de documentos oficiais, o que acaba prevalecendo é aquilo que a classe dirigente deseja registrar. Será que um determinado assunto é tão importante para o produtor quanto para o recenseador? Será que os inte- resses do Estado vão ao encontro do que desejava o pequeno comerciante ou artesão? De fato, os dados possuem mais generalizações e menos diver- sificação, como alertado. Um dos pontos importantes que devemos compreender a título de conclu- são é a dificuldades de se estudar a História Antiga Oriental, visto a escassez de documentos. Há também de se atentar às lacunas históricas, pois estas são como um quebra cabeças faltando peças fundamentais para sua conclusão. Mas isso de forma alguma poderá ser um empecilho ao historiador, que munido de leituras e muita pesquisa, buscará, por meios de diversos referenciais metodo- lógicos, decifrar tais lacunas. No que diz respeito à formação dessas civilizações, devemos compreender que, embora vejamos nações bastante diferentes e em espaços geográficos com- pletamente distintos, elas se assemelham pela existência dos mesmos fatores jurídicos e econômicos para sua consolidação. Ademais, parece que a existência de um Estado centralizador também foi um fator determinante para a consoli- dação dessas civilizações. HEBREUS E FENÍCIOS Prezado(a) aluno(a) do curso de História do EaD – UNICESUMAR, se fizermos uma pesquisa rápida pelos diversos programas dos cursos de História Antiga das diversas instituições brasileiras, perceberemos que os estudos sobre essas duas civilizações citadas são bem escassos. Um elemento que justifica a pouca produ- ção historiográfica dessas duas civilizações, se comparadas com Roma, Grécia e
  • 52. O ORIENTE PRÓXIMO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. II U N I D A D E 52 Egito, dá-se pela escassez de fontes. Problema esse que, a esta altura, não é mais novidade alguma para você, tendo em vista nosso constante alerta. Nos manuais de Ensino de História com os quais conviveremos em nossa jornada como professores de História, mesmo que seja apenas no período do estágio obrigatório, o ensino dessas civilizações antigas está vinculado ao 6º ano do Ensino Fundamental e ao 1º ano do Ensino Médio. Como a nossa função principal aqui é formarmos profissionais para trabalhar na docência de História, não podemos omitir a importância que essas duas civilizações tiveram na forma- ção do mundo Ocidental, embora esses dois povos sejam oriundos do Oriente. Foram os hebreus os responsáveis por estabelecer as bases da religião cristã, a qual é um dos principais elementos de configuração da civilização Ocidental. A história desse povo está registrada no Antigo Testamento da Bíblia, principal- mente nos cinco primeiros livros que são denominados de Pentateuco. os quais foram creditados a Moisés. Entretanto, sua origem como civilização está no pri- meiro milênio antes de Cristo: Os hebreus desenvolveram sua civilização no primeiro milênio a.C. Ela não tem, portanto, a antiguidade da civilização egípcia ou da mesopo- tâmica, embora tenha convivido de maneira estreita com essas duas civilizações (na proto-história dos hebreus, Moisés tira o povo do Egito no século XIII a.C. e Nabucodonossor da Babilônia destrói o templo de Jerusalém em 586 a.C.) (PINSKY, 2011, p. 105). Embora seja um povo de muitos atributos, um dos fatores que nos chama mais a atenção é a questão religiosa. Inclusive, deve-se à religião o fato dessa civiliza- ção existir até hoje, mantendo boa parte dos usos e costumes religiosos oriundos dos primórdios da civilização, criando uma identidade que se firma indepen- dente de onde vivem. Pinsky (2011) destaca que os hebreus foram o elo entre as civilizações Oriental e Ocidental. Por meio deles conhecemos mitos e ciência, práticas sociais e valores de povos de toda a região. Estudos que utilizam a Bíblia não de forma dogmática, mas como fonte de informações históricas, obtiveram refe- rências que descobertas arqueológicas depois confirmaram (PINSKY, 2011, p. 105-106). Continuando com a questão religiosa, a origem dessa civilização está toda retra- tada na Bíblia Sagrada. Não é nossa função aqui fazer apologia a esta ou àquela