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WILLIAM
__________________AUGUSTO AMBRÓSIO BUNGA____________________
INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Uma abordagem socio-humanista
_____________________________ UÍGE/2017 _____________________________
2
Índice …………………………………………………………………………………1
Dedicatória……………………………………………………………………………4
Agradecimentos………………………………………………………………………5
Epígrafe………………………………………………………………………………..6
Introdução……………………………………………………………………………..7
CAPÍTULO – I GENERALIDADES
1.2 Conceito e definições………………………………………………………8
1.3 Objeto de estudo……………………………………………………………9
1.4 Métodos de investigação…………………………………………………..9
1.5 O conhecimento humano………………………………………………….9
1.6 O lugar das ciências sociais e humanas ………………..……………..18
CAPÍTULO II - A PESSA E A CULTURA
2.1Noção de pessoa……………………………………………………………22
2.2O indivíduo e a sociedade………………………………………………….22
2.3O conceito antropológico da cultura………………………………………23
2.4 Etnocentrismo e relativismo cultural……………………………………..29
2.5 Diversidade cultural………………………………………………………..30
2.6As transformações do comportamento formal nas questões culturais.31
2.7O comportamento social e suas coerções dentro do processo de
construção cultural e educacional………………………………………..31
CAPÍTULO III – ALGUNS AUTORES SOCIAIS DE RELEVO
3.1A sociologia de Durkheim………………………………………………32
3.1.2As relações entre a sociedade e o poder político……………………32
3.2A Sociologia de Max Weber…………………………………………….33
3.2.1Acão social: uma Acão com sentido…………………………………..35
3.2.2A ética protestante e o espírito do capitalismo…………………...38
3.3Sociologia de Karl Max e a história da exploração do homem…..39
3
3.3.1A ideia de alienação………………………………………………………41
3.3.2As classes sociais………………………………………………………....42
3.3.3Trabalho, valor e lucro……………………………………………………44
3.3.4A mais – valia………………………………………………………………45
3.3.5A sociologia, o socialismo e o marxismo………………………………..45
Considerações finais……………………………………………………………47
Alguns conceitos chaves……………………………………………………….48
Referências bibliográficas
4
DEDICATÓRIA
Á todos os estudantes do 1º Ano,
de todos os cursos afetos às Ciências Socias e Humanas.
A todos aqueles interessados na leitura deste material de apoio.
A todos aqueles que acham o caminho da ciência é o caminho triunfal da vida.
5
AGRADECIEMTOS
À Deus Pai todo-poderoso;
A todo o estudante e/ou leitor que está a lê-lo;
Os agradecimentos estendem-se ainda a todos os Docentes
da cadeira de Introdução às Ciências Sociais e Humanas, pois são
os verdadeiros orientadores na desmistificação dessa disciplina e na facilitação
da compreensão dos fenómenos e factos sociais, bem como a relação do homem
com a sociedade.
6
EPÍGRAFE
Uma pessoa é uma coisa complicada.
Mais complicado do que uma pessoa, só duas.
Três, então, é um caos, quando não é um drama passional.
Mas as pessoas só se definem no seu relacionamento com as outras.
Ninguém é o que pensa que é, muito menos o que diz que é (…).
Ou seja, ninguém é nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro.
Luiz Fernando Veríssimo
7
INTRODUÇÃO
Este material de apoio estudantil, intitulado Introdução às Ciências
Sociais e Humanas, surge com intuito de facilitar os estudantes em encontrar
algum suporte quanto a cadeira em referência. Facilitá-los a compreensão no que
concerne a mesma cadeira.
As ciências sociais e humanas, é uma área de formação que abarca muitos
cursos que grande relevância na compreensão da sociedade e também do próprio
homem. No entanto, de conhecer o resto, é preciso que se conheça a sociedade
onde se encontra inserido e posteriormente “conhecer-te ati mesmo”.
O material de apoio é composto de três (3) capítulos fundamentais,
nomeadamente: Capítulo I - Generalidades, através deste o aluno consegue se
enquadrar e compreender a essência da disciplina que está a estudar.
Capítulo II – A pessoa e a cultura, por onde se debruça sobre a noção do
conceito pessoa, do indivíduo e sociedade, do etnocentrismo, relativismo cultural
e diversidade, outros assuntos de grande importância.
Capítulo III – Alguns autores sociais de relevância, abordagens de grandes
sociólogos como: Émile Durkeim, Max Weber e Karl Max, com temáticas
importantes, virados para economia, sociologia, prospectivamente.
O presente material, é um resumo de suma importância para os estudantes
Universitários, das Faculdades, das Escolas Superiores e dos Institutos
Superiores de Ciências Sociais e Humanas, dos cursos neles concebidos.
Permite ao estudante ter uma visão geral das ciências sociais e humanas, pois
muitos, tem dificuldades de enquadrá-la como tal, e encontrar o seu lugar no
sistrema das ciências.
8
CAPÍTULO I - GENERALIDADES
1.1CONCEITO E DEFINIÇÕES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
As ciências sociais e humanas reúnem todas as disciplinas científicas cujo
objeto de estudo se relaciona com as atividades e o comportamento dos seres
humanos. As ciências sociais analisam as manifestações da sociedade, quer
materiais quer simbólicas.
Todavia, pode-se dizer que estas ciências estudam aquilo que não
incumbe às ciências naturais. As pessoas têm consciência e a capacidade de
desenvolver representações abstratas que têm influência no seu comportamento.
Assim sendo, a interação social rege-se por diversas regras e supostas
normas; as ciências naturais, por sua vez, trabalham com objetos fácticos/factuais
e recorrem ao método científico com maior rigor. As ciências sociais e humanas,
de modo geral, não podem preconizar leis universais.
Etimologicamente a palavra ciência deriva do latim scientia, sujo significado
é "conhecimento" ou "saber". Etimologicamente a palavra Social deriva do latim
socialis, cujo significado é “” em mente”. Etimologicamente a palavra humana
deriva do latim humanus e designa o que é relativo ao Homem como espécie.
DEFINIÇÕES
As ciências sociais e humanas são um conjunto de ciências ou disciplinas
científicas organizadas sistematicamente que têm como objetivo o estudo do
homem na sociedade.
As ciências sociais e humanas correspondem ao conjunto de ciências ou
áreas do conhecimento que estudam o Homem como actor social, através das
suas relações com a sociedade e com a cultura onde estão inseridos.
Portanto, Vale ressaltar que diferentemente das ciências naturais, as
ciências sociais possuem um caráter menos objetivo.
9
Por isso que as primeiras são chamadas de ciências duras e as segundas
de moles (com falta de rigor). No entanto, além deste esclarecimento, as ciências
sociais tentam cumprir com os requisitos do método científico.
OBJECTIVO
As Ciências Sociais têm por objetivo o estudo dos fenómenos ligados à
vida dos homens em sociedade.
1.2 – OBJECTO DE ESTUDO
É a vida do homem na sociedade.
1.3-OS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM CIENCIAS SOCIAIS E
HUMANAS
1.3.1 A ciência surge do espanto, quando naturalmente o homem
começou a interrogar-se a respeito de muitos fenómenos da natureza, situações e
factos, inerentes a vida humana e social. Este processo, deu início a metodologia
da investigação científica.
Definições:
Ciência representa todo o conhecimento adquirido através do estudo ou da
prática, baseando em princípios certos. Esta palavra deriva do latim scientia, sujo
significado é "conhecimento" ou "saber".
De acordo com Martins e Santos (2008,p.1) “a ciência pode ser entendida
como conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático
conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”.
É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade.
1.3.2 - Métodos de investigação
Segundo Ferreira, J. citado por Quivuna, M., define etimologicamente a
palavra método, de seguinte forma, “ ela vem do grego «Methodus». Repartida
essa palavra nos seus componentes, «Meta» significa para, objetivo. «Hodus»,
que quer dizer via, direção, caminho”.
10
Para Ramos e Naranjo (2014,p.99) “os métodos são a organização interna
do processo investigativo”. Ou seja, “são a configuração sucessiva de
procedimentos que envolvem diversas técnicas e instrumentos que finalmente lhe
outorgam validade”.
Metodologia, é o conjunto de métodos ou caminhos que se percorrem na
busca do conhecimento científico.
Os métodos categorizam em três (3) grandes grupos quanto ao tipo de
investigação: Quantitativos, Qualitativos e Quali-quantitativos.
Investigação Qualitativa: são métodos baseados em um rigor científico
determinado por um desenho preciso definido a priori a realização do estudo. Este
é o enfoque metodológico das ciências: naturais, positivistas e empiristas.
Investigação Qualitativa: é o enfoque fenomenológico. Este por sua vez,
dá ênfase às características: sociais, antropológicas, arqueológicas, culturais,
psicológicas, criminalísticas, históricas, etc., este enfoque abrangem processos
humanos completos.
Investigação Quali-quantitativa: é o também denominado por enfoque
misto. Consiste em combinar os dois enfoques acima referidos, com o intuito de
encontrar respostas rigorosas das informações e a necessidade de flexibilizar os
extremos de ambos enfoques de investigação.
O enfoque quantitativo utiliza mais o método dedutivo e o enfoque
qualitativo utiliza mais o método indutivo.
Os métodos científicos específicos das ciências sociais e humanas,
dividem-se em dois (2):
1) Métodos de abordagem: segundo Cervo e Bervian (1983) citados por
Andrade, M. M. de (2000,p.130) “Método de abordagem é o conjunto de
procedimentos utilizados na investigação de fenómenos ou no caminho para
chegar-se à verdade”.
11
a. Método indutivo: cuja aproximação dos fenômenos caminha
geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações
mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente); do particular ao
geral. Por ex.
O calor dilata o ferro ________________________ particular;
O calor dilata o broze _______________________ particular;
O calor dilata o cobre _______________________ particular;
Logo, o calor dilata todos os metais ____________ geral, universal.
N.B.: Muita das vezes, o método indutivo é confundível ao método
experimental. Pois este último compreende as seguintes etapas:
1) Observação – manifestações da realidade espontânea ou provocadas;
2) Hipótese – tentativa de explicação;
3) Experimentação – observa-se a reação de causa-efeito, imaginada na
etapa anterior;
4) Comparação – classificação, análise e crítica dos dados recolhidos;
5) Abstração – verificação dos pontos de acordo e de desacordo dos dados
recolhidos;
6) Generalização – consiste em entender a outros casos, da mesma
espécie, um conceito obtido com base nos dados observados.
2 Método dedutivo – que, partindo das teorias e leis, na maioria das
vezes prediz a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão
descendente); isto é do geral ao particular, leva à conclusão.
Exemplo de raciocínio dedutivo:
Todo homem é mortal. __________________ universal, geral;
Salakiaku é homem; ____________________ particular;
Logo, Salakiaku é mortal ________________ conclusão.
12
3-Método hipotético-dedutivo – que se inicia pela perceção de uma
lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo
de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos
abrangidos pela hipótese; é considerado lógico por excelência, é relacionado a
experimentação.
4-Método dialético – que penetra o mundo dos fenômenos através de
sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança
dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
2) Métodos de procedimentos.
Por sua vez, os métodos de procedimento seriam etapas mais concretas
da investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos
fenômenos e menos abstratas.
Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em
métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão
limitados a um domínio particular. São os que veremos a seguir, na área restrita
das ciências sociais, em que geralmente são utilizados vários,
concomitantemente.
a. Método Histórico
Consiste em investigar os acontecimentos, processos e instituições do
passado para verificar a sua influência na sociedade hoje. Partindo do princípio de
que as actuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm a sua
origem no passado, é importante pesquisar as suas raízes, para melhor
compreender a sua natureza e função.
Exemplos: LAKATOS, (2003,p.32) para compreender a noção atual de
família e parentesco, pesquisa-se no passado os diferentes elementos
constitutivos dos vários tipos de família e as fases de sua evolução social; para
descobrir as causas da decadência da aristocracia cafeeira, investigam-se os
fatores sócio-econômicos do passado”.
13
b. Método Comparativo
Empregado por Tylor. Considerando que o estudo das semelhanças e
diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para
uma melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza
comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. O
método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no
passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de
iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.
Exemplos: modo de vida rural e urbano na Província do Uíge;
características sociais da colonização portuguesa e espanhola na África; classes
sociais em Angola, na época colonial e atualmente; organização de empresas
norte-americanas e japonesas; a educação entre os povos ágrafos e os
tecnologicamente desenvolvidos”.
c. Método Monográfico ou estudo de caso
Criado por Le Play, que o empregou ao estudar famílias operárias na
Europa. Partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em
profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de
todos os casos semelhantes, o método monográfico consiste no estudo de
determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou
comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve
examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e
analisando-o em todos os seus aspectos.
Exemplos: Lakatos, (2003,p.33). Estudo de delinquentes juvenis; da mão-
de-obra volante; do papel social da mulher ou dos idosos na sociedade; de
cooperativas; de um grupo de índios; de bairros rurais”.
Em seu início, o método consistia no exame de aspectos particulares,
como, por exemplo, o orçamento familiar, as características de profissões ou de
indústrias domiciliares, o custo de vida etc. Entretanto, o estudo monográfico
14
pode, também, em vez de se concentrar em um aspecto, abranger o conjunto das
atividades de um grupo social particular, como no exemplo das cooperativas e do
grupo indígena.
d. Método Estatístico
O método estatístico significa redução de fenômenos
sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação
estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter
generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Isto é, fundamenta-
se na utilização da teoria estatística das probabilidades.
Exemplos: verificar a correlação entre nível de escolaridade e número de
filhos; pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários e o tipo de lazer
preferido pelos estudantes de 12 e 22 anos”.
5 Método Funcionalista
Utilizado por Malinowski (1884-1942). É, a rigor, mais um método de
interpretação do que de investigação. Levando-se em consideração que a
sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e
interdependentes, satisfazendo, cada uma, funções essenciais da vida social, e
que as partes são mais bem entendidas compreendendo-se as funções que
desempenham no todo, o método funcionalista estuda a sociedade do ponto de
vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de
atividades.
Exemplos: análise das principais diferenciações de funções que devem
existir num pequeno grupo isolado, para que o mesmo sobreviva; averiguação da
função dos usos e costumes no sentido de assegurar a identidade cultural de um
grupo”.
6 Método Estruturalista
Desenvolvido por Lévi-Strauss. O método parte da investigação de um
fenômeno concreto, eleva-se a seguir ao nível do abstrato, por intermédio da
15
constituição de um modelo que represente o objeto de estudo retomando por fim
ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a
experiência do sujeito social. Considera que Ulna linguagem abstrata deve ser
indispensável para assegurar a possibilidade de comparar experiências à primeira
vista irredutíveis que, se assim permanecessem, nada poderiam ensinar; em
outras palavras, não poderiam ser estudadas. Dessa forma, o método
estruturalista caminha do concreto para o abstrato e vice-versa, dispondo,
na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos
fenômenos.
Exemplos:
Estudo das relações sociais e aposição que estas determinam para os
indivíduos e os grupos, com a finalidade de construir um modelo que passa a
retratar a estrutura social onde ocorrem tais relações; verificação das leis que
regem o casamento e o sistema de parentesco das sociedades primitivas, ou
modernas, através da construção do modelo que represente os diferentes
indivíduos e suas relações, no âmbito do matrimónio e parentesco (no primeiro
caso, basta um modelo mecânico, pois os indivíduos são pouco numerosos; no
segundo, será necessário um modelo estatístico).
Para penetrar na realidade concreta, a mente constrói modelos que não
são diretamente observáveis na própria realidade, mas a retratam
fidedignamente, em virtude da razão simplificante do modelo corresponder à
razão explicante da mente, isto é, por baixo de todos os fenômenos existe uma
estrutura invariante e é por este motivo que ela é objetiva; assim, toda análise
deve levar a um modelo, cuja característica é a possibilidade de explicar a
totalidade do fenômeno, assim como a sua variabilidade aparente. Isto porque,
por intermédio da simplificação (representação simplificada), o modela atinge o
nível inconsciente e invariante: resume o fenômeno e propicia sua inteligibilidade.
Utilizando-se o método estruturalista, não se analisa mais os elementos em
si, mas as relações que entre eles ocorrem, pois somente estas são constantes,
ao passo que os elementos podem variar; dessa forma, não existem fatos
16
isolados passíveis de conhecimento, pois a verdadeira significação resulta da
relação entre eles.
1.3.4 - Ciências sociais vs ciências humanas
Ciências Sociais:
Estudam os aspetos sociais do mundo do Homem. Diferenciam-se das
Artes e das Ciências Humanas, quanto ao método científico. Utilizam nos seus
estudos métodos quantitativos e qualitativos. Os métodos das ciências sociais,
como a observação participante, podem ser utilizados nas mais diversas áreas do
conhecimento, não apenas na área das humanidades e artes, mas também nas
ciências sociais aplicadas e nas ciências biomédicas.
1.4– O CONHECIMENTO HUMANO
Conhecimento vem da palavra conhecer. Conhecer é uma relação entre o
sujeito e o objeto. Segundo VandenBos, G. R. (2010,p.2016) “ o conhecimento é
uma informação e entendimento de um tema específico ou do mundo em geral,
via de regra adquirido por experiencia ou por aprendizagem. Ou seja a
consciência de existência de alguma coisa”.
O conhecimento é um conjunto de informação armazenada por intermédio
da experiência ou da aprendizagem (a posteriori), o através da introspeção (a
priori).
Portanto, para o filósofo grego Platão, “o conhecimento é aquilo que é
necessariamente verdadeiro (episteme). Por sua vez, a crença e a opinião
ignoram a realidade das coisas, pelo que fazem parte do âmbito do provável e do
aparente”.
Segundo Moura, S. F. et al (2014, p.13)
A obra intitulada O Pensador retrata uma das mais célebres
criações artísticas do escultor francês Auguste Rodin e captura de
forma singular uma das características constitutivas do ser
humano: a habilidade de refletir sobre as experiências vividas.
Nesse sentido, pode-se dizer que o ser humano é o único animal
que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. De fato,
17
a preocupação em compreender o mundo acompanha a
humanidade ao longo de seu desenvolvimento na Terra, quer seja
pela necessidade de construir mecanismos de controlo e
transformação da natureza, quer pelo desejo de conhecer e
formular explicações acerca dos fenômenos.
1.4.1 – Tipologia ou níveis de conhecimento
Conhecimento religioso – Este tipo de conhecimento do mundo se dá a
partir da separação entre as esferas do sagrado e do profano. As religiões
também apresentam, de forma geral, uma explicação sobrenatural para o mundo;
porém, para aderir a uma religião, é condição funda- mental crer ou ter fé nessa
explicação. Além disso, é uma parte essencial da crença religiosa a fé no fato de
que essa explicação sobrenatural pode proporcionar ao homem uma garantia de
salvação, bem como prescrever maneiras ou técnicas de obter e conservar essa
garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações.
• Conhecimento filosófico – De modo geral, o conhecimento filosófico
pode ser traduzido como amor à sabedoria, à busca do conhecimento. Embora a
concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para numerosas questões
formuladas pela mente, ela é traduzida em ideologia. E como tal influi diretamente
na vida concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual.
• Conhecimento de senso comum ou popular – O senso comum ou
conhecimento espontâneo é a compreensão do mundo baseada no aprendizado
acumulado de gerações anteriores. Segundo ARRUDA (2010), esse tipo de
conhecimento nasce da tentativa do homem de resolver os problemas da vida
diária. Daí esse tipo de saber implicar em juízos pessoais acerca das coisas, pois
parte dos valores de cada indivíduo, mediante as situações vivenciadas.
• Conhecimento Científico – Tradicionalmente, o conhecimento científico
é definido como aquele que resulta de investigação metódica, sistemática da
realidade. Transcende os fatos e os fenômenos em si, analisa-os para descobrir
suas causas e concluir as leis gerais que os regem. De um modo geral, as
pessoas costumam considerar que esse tipo de saber pressupõe um modo de
conhecimento com absoluta garantia de validade. No entanto, trata-se também de
uma crença, pois, como sabemos, as formulações científicas mudam o tempo
todo e podem estar a serviço de interesses políticos, econômicos e sociais.
18
1.4.1.1 - Características do conhecimento científico
1.Objectivo – descrever a realidade como ela é ou pode ser, mas nunca
como gostaríamos que ela fosse.
2.Empírico – sempre baseado na experiência, nos fenómenos e factos.
3.Racional – Mais assente na razão e na lógica do que na intuição.
4.Replicável – as mesmas condições, em diferentes locais e com
diferentes experimentadores devem replicar os resultados.
5.Sistemático – conhecimento organizado, ordenado, consistente e
coerente nos seus elementos.
6.Metódico – conhecimento obtido através de procedimentos e estratégias
fiáveis mediante planos metodológicos rigorosos.
Portanto, não há hierarquia entre os saberes. A Mitologia, a Religião, a
Filosofia, o senso comum e a Ciência são formas de compreensão do mundo.
Todos são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os
segredos do mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido. É importante
dizer também que tal classificação resulta antes de um processo histórico
específico que diz respeito à constituição dos saberes no mundo ocidental.
1.5 - O LUGAR DAS CIENCIAS SOCIAS E HUMANAS ENTRE AS
OUTRAS
Como todas as ciências, nenhuma é isolada são assim também as
Ciências Sociais e Humanas, elas mantêm relações com todas outras ciências,
quer sejam: Exatas, Naturais bem como as Filosóficas.
19
Ciências Exatas
Ciências Filosóficas Ciências da Natureza
O triângulo acima é adaptado do triângulo de Kedrov, representado no livro
de Alexandre, D. S. (2000,p.122), intitulado Psicologia e Personalidade do Homo-
Nacionalicus para uma Cultura de Paz e Fraternidade Humanas.
1.5.1 - Ciências Sociais vs Ciências Humanas
Ciências Humanas:
Ciências que têm o próprio ser humano como objeto. Estudam os aspetos
do homem como indivíduo e como ser social. Surgiram depois das Ciências
Exatas e fora do movimento positivista que definia a ideia de cientificidade, de
método e de conhecimento científico.
1.5.1 - O campo das ciências sociais e humanas
. As Ciências Sociais e Humanas têm as seguintes ciências como seu
domínio: Economia, Linguística, Demografia, Economia, Epidemiologia,
Antropologia, Ciências Políticas, Sociologia, Psicologia, Antropologia, etc.
Economia: A Economia é uma ciência que estuda os processos de
produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. A palavra
“economia” deriva da junção dos termos gregos “oikos” (casa) e “nomos”
(costume, lei) resultando em “regras ou administração da casa, do lar”.
Linguística: A Linguística é a ciência que se ocupa em estudar as
características da linguagem humana. O linguista é responsável por analisar e
investigar toda a evolução e desdobramentos dos diferentes idiomas, bem como a
Ciências Sociais
e Humanas
20
estrutura das palavras, expressões idiomáticas e aspetos fonéticos de cada
língua.
Demografia: A Demografia é a ciência que estuda as características das
populações humanas e exprime-se geralmente através de valores estatísticos. As
características da população estudadas pela demografia são inúmeras e incluem
o número de pessoas, a sua distribuição por sexo e escalões etários, a
distribuição espacial, a mobilidade, entre muitas outras.
Epidemiologia: a Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição
e dos determinantes dos problemas de saúde em populações humanas, bem
como a aplicação desses estudos no controle dos eventos relacionados com
saúde. É a principal ciência de informação de saúde, sendo a ciência básica para
a saúde coletiva. Etimologicamente, “epidemiologia” significa o estudo que afeta a
população (epi= sobre; demio= povo; logos= estudo).
Ciências Políticas: estuda os sistemas de poder, as instituições e os
partidos políticos de um país, o comportamento e as políticas públicas em suas
diversas fases (elaboração, implantação e avaliação).
Sociologia: Investiga as relações sociais, as estruturas e a dinâmica das
sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das
organizações sociais.
Psicologia: A Psicologia é o estudo científico dos processos mentais e do
comportamento do ser humano e as suas interações com o ambiente físico e
social. A palavra provém dos termos gregos PSYCHÉ = psico (alma ou atividade
mental) e LOGOS = logía (estudo, discurso, tratado).
Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos
sociais, culturais ou étnicos e as transformações ocorridas em função da inte-
ração entre os grupos.
21
CIÊNCIAS SOCIAIS VS CIÊNCIAS HUMANAS
Antropologia Psicologia
Sociologia Sociologia
Ciências Políticas Antropologia
Epistemologia Economia
Demografia Linguística
Economia
As ciências socias no dia-a-dia
Segundo Stagner, R. citado por Rogrigues, A. et al. (2010,p.201) “As
ciências físicas atingiram um tal estado de desenvolvimento que agora todos os
homens podem morre juntos. Cabe agora às ciências sociais atingirem um tal
estado de desenvolvimento de forma que todos os homens possam viver juntos”.
Temas sociais atuantes para reflexão e debates.
 O aumento de lixo em Luanda e um pouco por todo o País;
 A delinquência juvenil;
 O caso de um bebé encontrado no lixo na Damba;
 A crise económica em Angola;
 O empreendedorismo e o desemprego juvenil em Angola;
 O aumento de inflação em Angola;
 A precocidade sexual e gravidez na adolescência em Angola.
22
CAPÍTULO II - A PESSA E A CULTURA
2.1 – NOÇÃO DE PESSOA
Falar de pessoa é falar de um ente social e individual, dotado de razão, de
direitos e de personalidade. Com características próprias que lhe permitem
participar na vida social.
Etimologicamente, a palavra pessoa deriva do latim «persona», o que
significa: máscara, figura, papel representado por um actor.
Nesta óptica, para muitos autores, os indivíduos, as pessoas, na sua vida
quotidiana, agem assumindo várias personagens, representando papeis impostos
pelo grupo, como se a vida social fosse um palco.
Outrossim, a palavra persona enquanto máscara do autor, também deriva a
palavra personalidade.
A personalidade, segundo Silva, E. e Moinho, R. (2013,p.14) “ é o
elemento estável da conduta de uma pessoa, o que caracteriza e diferencia dos
outros”. Assim sendo, ela é o ser total, essencial e particular de uma pessoa. Uno
e indivisível.
Para Sousa, V. B. de (2013,p.92) “ a noção da pessoa distingue-se da de
personalidade. Cada um tem a sua personalidade, mas somos todos, pessoas
quando estabelecemos a diferença em relação a outros objectos”.
2.2 – O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE
2.2.1 - A noção de Indivíduo
Segundo Louis Dumont e Norbert Elias citados por Gilberto, G. et al
(2007,p.16)
A noção do individuo foi construída no ocidente. Antes do século
XVI, o indivíduo não existia. Sua vontade era a vontade de Deus.
O cristianismo, produziu um «individuo fora do mundo», isto é, um
indivíduo em relação a Deus. Ser cristão é ser como Cristo, um ser
abdicante da vida mundana. Tal como se dá entre cristãos,
também na Índia, renunciar o mundo social seria condição
fundamental para o desenvolvimento espiritual. Cristo, Buda ou os
indianos desvalorizam a vida social.
23
O grande mestre e introdutor da doutrina eclesiástica foi Santo Agostinho
da Hipona (354-430). Os seus ensinamentos fazem uma leitura da Filosofia a
partir da fé, por fim, se apossam do homem introduzindo Deus na razão humana.
Na sua obra cidade de Deus, ele propõe teocracia hierarquizando a Igreja,
colocando-a acima da Filosofia e do Estado. Na sua lógica, o Estado deveria
prestar contas a Deus.
Posteriormente, o filósofo francês, Augusto Comte (1798-1857), reafirma
essa posição no seu calendário positivista, propondo a substituição de Deus pela
ciência. No entanto, até que o indivíduo viesse a nacer, teria que aguardar a
valorização ideológica da vida privada, fonte de onde a noção de indivíduo.
Portanto, Indivíduo consiste num ser individual, conhecido pela sua
existência única e indivisível. Este termo costuma ser utilizado como sinônimo
de cidadão, ou seja, um ser humano inserido num ambiente social.
Indivíduo e sociedade
Do ponto de vista das Ciências Sociais, o indivíduo é parte formadora de
uma sociedade. Esta, por sua vez, é constituída a partir do conjunto de todas as
relações sociais que os indivíduos mantêm entre si.
Assim como os indivíduos são responsáveis por formar a sociedade, a
sociedade também atual diretamente na formação do indivíduo, visto que este,
desde que nasce, deve aprender a seguir as regras e condutas morais que são
ditadas pelo ambiente social que habita.
Ao contrário da ideia de singularidade que gira em torno do indivíduo, uma
sociedade deve apresentar alguns padrões que servem para unir e organizar os
indivíduos.
No entanto, vale lembrar que também existem diferentes sociedades,
sendo que cada uma costuma apresentar as suas peculiaridades, principalmente
ligadas a cultura e as tradições das pessoas que as compõem.
24
Entre alguns dos principais teóricos conhecidos por estudar a relação entre
os indivíduos e a sociedade estão: Émile Durkheim (1858 – 1917), Max Weber
(1864 – 1920) e Karl Marx (1818 – 1883).
2.2.2 - Sociedade
A Sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos,
preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma
comunidade. A origem da palavra sociedade vem do latim 'societas', uma
"associação amistosa com outros". 'Societas' é derivado de 'socius', que significa
"companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado
àquilo que é social.
Conforme vimos, nossas vivências pessoais estão em estreita conexão
com as experiências de outros tantos indivíduos; isto porque nascemos e vivemos
em sociedade. Entretanto, diferente de formigas, abelhas e outros animais em
que tal processo é reduzido ao mais ínfimo pormenor por instintos hereditários
rígidos, a relação indivíduo e sociedade depende de um aprendizado ao qual
chamamos socialização.
Por socialização compreendem-se os processos através dos quais os
seres humanos são induzidos a adotar os padrões de comportamento, normas,
regras e valores do seu mundo social. Eles começam na infância e prosseguem
ao longo da vida.
A socialização é um processo de aprendizagem que se apoia, em parte, no
ensino explícito e, também em parte, na aprendizagem latente – ou seja, na
absorção espontânea de formas consideradas evidentes de relacionamento com
os outros. Embora estejamos todos expostos a influências socializantes, os
indivíduos variam consideravelmente em sua abertura deliberada ou involuntária a
elas.
2.3-O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DA CULTURA
Um dos pioneiros da antropologia, Edward Tylor (1832-1917) (1871, p.1).
Fez uma das primeiras propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo
25
sentido etnográfico, este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos
pelo homem como membro de uma sociedade”.
Apesar de não ficar tão claro a cultura material na proposta de Tylor, a
cultura seria algo socialmente adquirido, não genético ou inato.
Em uma definição menos estática, outros pioneiros (Franz Boas)
propuseram que “cultura abrange todas as manifestações de hábitos sociais de
uma comunidade, as reações do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que
vive e o produto das atividades humanas, como determinado por esses hábitos.”
(Bronislaw Malinowski). E que “a cultura é uma unidade bem organizada dividido
em dois aspectos fundamentais – um corpo de artefactos e um sistema de
costumes”.
2.3.1 - De onde veio essa complicação de cultura?
O termo cultura vem do latim colere e é cognata às palavras agricultura,
cultivar, colher, culto (tanto o adjetivo quanto o substantivo), ou seja, tudo aquilo
que requer esforço humano para transformar em oposição ao encontrado na
natureza. Para Cícero, educar um indivíduo em um ser social e político implicava
em cultivá-lo: a filosofia é a cultura da mente. No século XVIII e XIX, filósofos
alemães passaram a empregar o termo Kultur como cultivado, culto ou civilizado,
daí vem a acepção de cultura como erudição.
Com a popularização do termo pela antropologia, surgiram outras nuances.
Antecedido pelo modificador “outro”, o termo cultura é usado para referir a um
grupo social. É nesse sentido que aparece no plural: culturas. É o caso de a
cultura dos xavantes, a cultura japonesa ou a cultura ocidental. Nessa acepção,
há uma idealização de uma cultura como pertencente a um grupo, idealmente
com suas fronteiras e conteúdos definidos. Entretanto, essa concepção é mais
uma abstração empregada no sentido lato que propriamente reflexo da realidade.
Falar algo como cultura brasileira ou cultura paraguaia seria um tipo ideal.
Internamente há outras facetas nessas culturas nacionais.
26
2.3.2 – Tipologias de culturas
Nesse contexto, pode-se falar ainda em cultura popular, de massa,
subcultura, contracultura e a cultura subalterna.
 A cultura popular é aquela produzida pelo povão em contraste às
instituições formais de educação. É a música Semba em contraste com
Kuduro.
 Ao passo que cultura de massa reifica a cultura popular e a empacota
para vender no mercado. É a música Kizomba em contraste com a música
Semba.
 Subcultura reflete o uso seletivo de alguns elementos de uma cultura para
reforçar a identidade de um grupo social, étnico, de gênero, etário, de
orientação sexual ou de afinidade. É o caso dos cowboys urbanos que
frequentam Barretos e acham que leite nasce das caixinhas Tetrapak.
 Contracultura ou cultura marginal (underground) são aquelas
subculturas de descolados que não gostam de se conformar com o status
quo. São os que ainda insistem em escutar música Semba de raiz em
Kimbundo.
 A cultura subalterna é aquela que feita de baixo para cima, não consegue
um reconhecimento e aceitação amplos. São as modinhas ainda tocadas
em serão por violeiros não profissionais nos sertões do Brasil.
Apesar dessa diversidade de empregos do termo, Avruch (1998) aponta
seis usos equivocados da noção antropológica de cultura:
1. Cultura é homogênea.
2. A cultura é uma coisa que funciona ou existe independente da ação
humana.
3. A cultura se distribui uniformemente entre os membros de um grupo.
4. Um indivíduo possui apenas uma única cultura.
5. Cultura é costume.
6. Cultura é atemporal.
27
Como se vê, ainda que haja uma pluralidade semântica no termo “cultura”,
esse conceito possui seus contornos. Entre outros, o uso inadequado desse
termo produz atitudes similares ao racismo. Se racistas pressupõem (1) a
existência de raças fixas determinando atributos, comportamento e valores a seus
membros; (2) a superioridade entre raças; (3) a raça ser propriedade do indivíduo
e de um povo; (4) a raça deve ser protegida contra contaminação externa; basta
trocar a palavra “raça” nessas afirmações por “cultura” para identificar um
preconceituoso “culturista”.
2.3.3 - Como se configura a cultura
Segundo Laraia, (1986). A cultura não é uma mera soma de elementos. A
experiência de cada pessoa com a cultura é única. A cultura condiciona a visão
de mundo, interfere na existência física do ser humano, opera com uma lógica
própria e se mantém dinâmica. Com isso, a configuração dos elementos da
cultura, às vezes funcionais (ou não), é complexa.
Nesse modelo de cultura de Lloyd Kwast (1992), um pouco modificado
pela adição do habitus, compreende a cultura como um sistema concêntrico de
atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o comportamento e o habitus.
Kwast adverte: este modelo de cultura é demasiado simples para explicar a
vastidão de componentes e relações complexas existentes em cada cultura.
28
Já o modelo de cultura de Edgar Schein (1988), representa a cultura sob
outra estrutura de diferentes níveis quando aplicada aos estudos organizacionais:
2.3.3.4 - Atributos da Cultura
Uma vez posto o que cultura não é, vale apontar alguns de seus atributos
clássicos:
 Cultura é aprendida. Não é biologicamente herdada ou inata, antes requer
enculturação.
 Cultura é compartilhada. Vemos o mundo com as mesmas lentes e nele
agimos com as mesmas atitudes. A cultura é mais onipresente que o ar.
 Cultura é simbólica. Lembre-se que símbolo representa outra coisa e
seus significados são arbitrários. O significado vem com seu uso em
contexto na comunidade que lhe atribui sentido.
 Cultura é integrada. As várias partes de uma cultura, são interligadas e
indivisíveis. A religião, a economia, a linguagem não existem
independentes entre si, mas se ligam como fenômenos culturais.
 Cultura é dinâmica. Sendo interligada e comunicando com símbolos, a
cultura recebe influências constante da própria cultura, das pessoas e da
natureza.
29
Mas, realmente existe a cultura?
Há quem diga que não. O termo tem sido usado com tantas significações
que perdeu sua serventia como unidade de análise. É impossível usá-lo na
antropologia sem antes delimitá-lo operacionalmente. Termos mais específicos
como ethos ou artefato são preferidos ao genérico cultura. Também, cultura poder
ser uma simples abstração para ajuntar acriticamente tudo quanto é atividade
humana. Portanto, seja como for, ainda cultura é instrumento quotidiano da teoria
antropológica.
2.4 - ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL
Etnocentrismo é um conceito da Antropologia definido como a visão
demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de
tudo, portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades.
O termo é formado pela justaposição da palavra de origem grega "ethnos"
que significa "nação, tribo ou pessoas que vivem juntas" e centrismo que indica o
centro.
Um indivíduo etnocêntrico considera as normas e valores da sua própria
cultura melhores do que as das outras culturas. Isso pode representar um
problema, porque frequentemente dá origem a preconceitos e ideias
infundamentadas.
Uma visão etnocêntrica demonstra, por vezes, desconhecimento dos
diferentes hábitos culturais, levando ao desrespeito, depreciação e intolerância
por quem é diferente, originando em seus casos mais extremos, atitudes
preconceituosas, radicais e xenófobas.
Este fenômeno universal pode atingir proporções drásticas, quando
culturas tecnicamente mais frágeis entram em contato com culturas mais
dominantes e avançadas.
Alguns exemplos de etnocentrismo estão relacionados ao vestuário. Um
deles é o hábito indígena de vestir pouca ou nenhuma roupa; outro caso é o uso
30
do kilt (uma típica saia) pelos escoceses. São duas situações que podem ser
tratadas com alguma hostilidade ou estranheza por quem não pertence àquelas
culturas.
2.4.1 Relativismo cultural
O relativismo cultural é uma corrente de pensamento ou doutrina que tem
como objetivo entender as diferenças culturais e estudar o porquê das diferenças
entre culturas distintas. Enquanto o etnocentrismo tem uma vertente de confronto,
o relativismo aborda as diferenças de uma forma apaziguadora.
É importante destacar que o relativismo cultural é uma ideologia que
defende que os valores, princípios morais, o certo e o errado, o bem e o mal, são
convenções sociais intrínsecas a cada cultura. Um ato considerado errado em
uma cultura não significa que o seja também quando praticado por povos de
diferente cultura.
2.5 - DIVERSIDADE CULTURAL
Diversidade cultural são os vários aspectos que representam
particularmente as diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a
culinária, a religião, os costumes, o modelo de organização familiar, a política,
entre outras características próprias de um grupo de seres humanos que habitam
um determinado território.
A diversidade cultural é um conceito criado para compreender os
processos de diferenciação entre as várias culturas que existem ao redor do
mundo. As múltiplas culturas formam a chamada identidade cultural dos
indivíduos ou de uma sociedade; uma "marca" que personaliza e diferencia os
membros de determinado lugar do restante da população mundial.
A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação, conceito
que é considerado o oposto total da homogeneidade. Atualmente, devido ao
processo de colonização e miscigenação cultural entre a maioria das nações do
31
planeta, quase todos os países possuem a sua diversidade cultural, ou seja, um
"pedacinho" das tradições e costumes de várias culturas diferentes.
Algumas pessoas consideram a globalização um perigo para a
preservação da diversidade cultural, pois acreditam na perda de costumes
tradicionais e típicos de cada sociedade, dando lugar à características globais e
"impessoais".
32
CAPÍTULO III – ALGUNS AUTORES SOCIAIS DE RELEVO
3.1- A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM
Émile Durkheim (1858-1917), de nacionalidade francesa, é considerado por
muitos estudiosos o fundador ou o pai da Sociologia como ciência independente
das Ciências Socias. Ao preconizar o estudo das ciências sociais como facto
“coisas”, através das regras de rigor científico, determinou seu objecto, próprio
dos estudos sociológicos, e sua metodologia.
Sua primeira obra, A divisão do trabalho social (1893), combate certas
ideias de Spencer e enuncia dois princípios básicos: consciência coletiva e
solidariedade mecânica e orgânica.
Entende-se por consciência coletiva: a soma de crenças e sentimentos
comuns à medida dos membros da comunidade, formando um sistema autónomo,
isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as gerações. A
consciência coletiva envolve quase completamente a mentalidade e a moralidade
do indivíduo: o homem “primitivo”, pensa, sente e age conforme determina ou
prescreve o grupo a que pertence. Durkheim acusa a existência, em cada
indivíduo de duas consciências, a coletiva e a individual. A primeira,
predominante, compartilhará com o grupo; a segunda; peculiar ao indivíduo. Nas
sociedades “primitivas”, a consciência coletiva subjuga a individual, e as sanções
aplicadas ao indivíduo, que foge às normas de conduta do grupo, são
extremamente severas.
No entanto, o princípio de divisão do trabalho está baseado nas
diversidades das pessoas e dos grupos e se opõe diretamente à sociedade por
semelhança. A divisão do trabalho gera um novo tipo de solidariedade, baseada
na complementação de partes diversificadas. O encontro de interesses
complementares cria um laço social novo, ou seja um outro tipo de princípio de
solidariedade, com moral própria, e que dá origem a uma nova organização
social.
33
Durkheim denomina de solidariedade orgânica esta solidariedade, não
mais baseada nas semelhanças de indivíduos e grupos, mas na sua
independência. Sendo o seu fundamento a diversidade, a solidariedade orgânica
implica maior autonomia com uma consciência individual e livre.
3.1.1- As relações entre a sociedade e o poder político
3.1.2 – O comportamento social e suas coerções dentro do processo
de construção cultural e educacional
3.1.3 – A moral social como organizadora social
3.1.4 – As transformações no comportamento formal refletindo nas
questões culturais
3.2- A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER
Karl Emil Maximilian Weber nasceu em Erfurt, então cidade da Prússia, no
ano de 1864. Desde cedo mostrava sinais de grande capacidade intelectual:
entediado com os professores da escola, leu secretamente em sala de aula a
obra completa de Goethe (são 40 livros). Doutorou-se em Direito em 1889, e logo
começou a ensinar na Universidade de Berlim. Já casado com Marianne Weber,
que viria a ser uma das líderes do movimento feminista na Alemanha, muda-se
para Freiburg e depois para Heidelberg, onde leciona na faculdade de Economia.
A morte de seu pai, em 1897, o abala profundamente, e Weber começa a
desenvolver sintomas de depressão grave, com ataques de ansiedade e insônia
constante. Sem condições de dar prosseguimento ao trabalho de professor,
Weber é internado em um sanatório. Depois de um começo de carreira brilhante e
muito produtivo, Weber para de escrever; só voltaria a dar aulas em 1919.
Contudo, começa a publicar em 1904 aquela que seria a sua obra mais famosa, A
ética protestante e o espírito do capitalismo.
Introdução
Pode-se entender a obra de Weber como uma tentativa de ultrapassar
Marx, não para lhe refutar completamente as ideias, mas para complementá-las,
para examinar aspectos importantes que este teria deixado de captar. Weber
34
emergiu intelectualmente entre as décadas de 1880 e 1890, justamente no
período em que o marxismo começa- va a ganhar força política na Alemanha.
Politicamente, Weber tendia para a esquerda, mas rejeitava a ideia de uma
revolução socialista, que os marxistas acreditavam inevitável. Porém, não foi
apenas no campo da política que ele se afastou de Marx, embora compartilhas-
se de certa simpatia por sua perspectiva e reconhecesse a importância e
grandeza de sua obra. Também na esfera do trabalho científico Weber irá se
distanciar de Marx, como veremos mais adiante.
Weber rejeitava qualquer teoria geral do desenvolvimento histórico; logo,
rejeitava o materialismo dialético de Marx como esquema explicativo da mudança
histórica. Não era apenas o conflito de classes e as contradições dos modos de
produção que faziam a história andar para frente. Weber não acreditava em uma
separação cada vez maior entre burguesia e proletariado, nem considerava a
ruína do capitalismo como algo inescapável. Enxergava múltiplos conflitos de
interesses dentro das classes, e não entre elas, sugerindo um panorama mais
complexo do que a oposição marxista burguesia x proletariado delineava.
Segundo Weber, compreender por que a história se transforma, e de que modo,
exigiria uma perspectiva multidimensional, que levasse em consideração outros
fatores além do conflito entre dominadores e dominados. Seria preciso observar
certos aspectos da realidade social que Marx teria ignorado.
Por exemplo: Marx não definiu com precisão o que seria próprio do campo
econômico, isto é, não delimitou exatamente a esfera da Economia em relação às
outras esferas da sociedade. Para Weber, diversas formas de ação humana,
como as práticas religiosas, influenciam na Economia, apesar de não serem
explicitamente econômicas. A religião, embora não fosse diretamente uma
atividade econômica, era economicamente relevante. Ou seja, as fronteiras dos
fatos econômicos não possuíam um contorno claramente definido, sendo muito
mais vagas do que o marxismo afirmava. Além disso, Weber criticava também o
fato de Marx haver confundido Economia e tecnologia, como se fossem uma coisa
só. Uma tecnologia pode estar associada a diferentes formas de organização
social e produtiva: o socialismo, apesar de ser radicalmente distinto do
capitalismo, possuiria a mesma base tecnológica.
35
Estas são diferenças importantes entre os dois autores (e nós as
examinaremos mais detalhadamente neste capítulo), mas não são as únicas.
Weber distanciou-se de Marx em outro aspecto fundamental: ele se colocava a
tarefa de ser um cientista social, isto é, de agir intelectualmente de acordo com as
obrigações da ciência, que são diferentes das exigências da atuação política.
Ciência e política
Por ex. um sociólogo não deveria defender uma determinada causa política
em sala de aula, mas apenas na esfera pública, em debates nos meios de
comunicação, passeatas, encontros, enfim, onde possa ser livremente
confrontado por qualquer um, em condições de igualdade.
Segundo Weber, sociólogos deveriam emitir apenas juízos científicos, e
não juízos de valor. Um juízo científico refere-se àquilo que é, ao passo que um
juízo de valor refere-se àquilo que deveria ser. Em outras palavras, um juízo
científico é uma conclusão, baseada em estudos, que pode ser testada
empiricamente, e validada (ou não). Já um juízo de valor, por ser fruto de uma
crença puramente subjetiva, não pode ser nem verdadeiro, nem falso. Por
exemplo: quem afirma que o capitalismo produz desigualdade social, está
emitindo um juízo científico. Mas quem diz que o socialismo é superior ao capita-
lismo está emitindo um juízo de valor. Weber queria remover os juízos de valor da
atividade científica, isto é, os juízos de natureza política, ética ou estética. Isto,
entretanto, não significa que juízos de valor não possam ser eles mesmos
avaliados cientificamente.
O sociólogo poderia analisar cientificamente o capitalismo e o socialismo,
mas para isso teria que deixar suas opiniões pessoais de lado. Ou seja, o
sociólogo pode descrever o funcionamento do socialismo e do capitalismo, mas
não avaliar se são bons ou ruins. Aqui o pensamento weberiano cai em um
paradoxo. Weber reconhecia que é a paixão que leva o cientista a se interessar
por algum assunto a ponto de querer estudá-lo.
36
3.2.1 - Acão social: uma acção com sentido
O conceito de ação social baseia-se no processo comunicativo entre
sujeitos, tomando como ponto de partida o sentido dado pelo autor de uma ação e
seu objetivo.
Em meio ao grande labirinto de interações que tomam grande parte de
nossa convivência diária em uma sociedade, não é raro nos encontrarmos em
situações em que acabamos nos preocupando com os significados ou o sentido
que podem ter nossas ações para as pessoas com quem nos relacionamos. Afinal
de contas, nossas interações com os demais indivíduos estão relacionadas com
uma parte muito importante de nossas vidas sociais: a comunicação.
A teoria sociológica da ação social foi amplamente trabalhada pelo
teórico Max Weber, que acreditava que a principal função da Sociologia era
compreender os diversos aspectos da ação social. A ação social é entendida por
Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em um meio social que,
no entanto, possua um sentido determinado por seu autor. O contínuo
processo de comunicação está intimamente ligado ao conceito de ação social. A
manifestação do sujeito que deseja uma resposta é manifestada em função dessa
resposta. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da
intenção de seu autor quanto à resposta que deseja de seu interlocutor.
A partir desse entendimento, Weber justifica que a função dos esforços
sociológicos é justamente tentar compreender os sentidos dados às ações
humanas em suas relações sociais. As relações humanas e, por sua vez, as
ações que estão inseridas no contexto dessas relações possuem sentido atribuído
a elas por seus autores. Para que se compreenda o processo de comunicação e
de interação social, é necessário, então, que se compreenda o sentido da ação,
bem como, ainda mais importante, desvende-se o objetivo do autor da ação em
seu esforço comunicativo. Peguemos, por exemplo, a ação social de um abraço,
que pode carregar uma infinidade de sentidos. O autor da ação, ao realizá-la,
deseja que seu interlocutor apreenda o sentido que desejou implantar em seu ato,
e não apenas que entenda o sentido genérico do ato de abraçar.
37
Weber ainda faz distinção em relação a tipos ideais de ações sociais. É
importante entender que o estabelecimento de tipos ideais, método comum da
teoria weberiana, não busca construir tipologias fixas nem mesmo buscar
classificar o objeto em questão. Eles nos servem como parâmetro de observação,
um “boneco” com características fixas que serve apenas como ponto de
comparação entre o que é observado e sua obra teórica. Com isso em mente,
Weber estipula quatro tipos ideais de ações sociais: a ação racional com
relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação afetiva e a ação
tradicional.
Uma ação social é considerada como sendo relacionada a fins quando
é tomada tendo em vista um objetivo racionalmente estabelecido, no qual o autor
da ação busca atingir um resultado e, para isso, utiliza os meios necessários. A
conduta científica em busca do entendimento de um fenômeno é um exemplo.
Uma ação social é entendida como sendo relacionada a valores
quando o autor da ação orienta seu sentido de acordo com seus valores e
convicções pessoais. O autor orienta o sentido de sua ação de acordo com o que
acredita ser correto, o que pode ser observado no exercício das ações baseadas
em crenças religiosas ou políticas.
A ação do tipo tradicional está alicerçada em hábitos e costumes
firmados na vivência do sujeito. Age-se de determinada forma porque sempre se
agiu assim.
Por fim, a ação do tipo emocional é realizada com base nas emoções do
indivíduo. O objetivo é mostrar sentimentos pessoais, como o choro do luto ou a
risada de momentos alegres, sem, no entanto, levar em consideração os fins que
se deseja atingir.
3.2.2 - A ética protestante e o espírito do capitalismo
Max estava preocupado em entender as leis econômicas do capitalismo, e
em denunciar seu caráter explorador, alienante. Weber, por outro lado,
38
interessava-se pelas motivações originais do capitalismo, os fatores que levaram
ao seu surgimento.
Weber parte de uma constatação: no século XVI, a maioria das cidades
ricas do império alemão havia se convertido ao protestantismo; no século XIX, os
protestantes eram maioria entre os proprietários de empresas e de capital, ao
passo que os católicos ocupavam posições menos privilegiadas.
Para Saber Mais O protestantismo é uma dissidência do catolicismo, que
teve início na Europa do século XVI, com as pregações de Martinho Lutero.
Desde então, o protestantismo dividiu-se em três igrejas: Calvinista, Luterana e
Anglicana.
Poderia a religião ser um fator explicativo desta diferença de sucesso
profissional entre protestantes e católicos? Teriam os protestantes inclinação
específica para o racionalismo econômico? Weber mostrou que sim e, em
fazendo isso, ajudou a esclarecer um importante aspecto que contribuiu para a
expansão do capitalismo no Ocidente. Fiel ao seu princípio metodológico, Weber
realizou uma pesquisa histórica com o objetivo de analisar as ações dos
indivíduos da religião protestante, tentando captar o sentido que lhes atribuíam e
os efeitos que acabaram gerando.
Resumindo bastante, Weber percebeu que: 1) os protestantes acreditavam
que ninguém poderia saber de ante- mão quem iria ser salvo na vida após a
morte (ou, como eles diziam na época, ser um eleito); 2) por não saberem disso,
os protestantes se esforçavam para fazer o bem para a sua comunidade, para
serem pessoas ordeiras, trabalhadoras; 3) eles acreditavam também que, se
trabalhassem com dedicação, se seguissem a sua vocação, iriam prosperar, e
que isto era um sinal de que o indivíduo poderia conseguir a salvação eterna (um
mendigo certamente não seria um eleito). Com o passar do tempo, este medo de
não saber se seria eleito levou os protestantes a desenvolverem uma ética
completamente voltada para o trabalho. Mas não qualquer trabalho: o que o
protestantismo exigia era o trabalho metódico, racionalmente organizado, de
modo que o indivíduo poupasse seus ganhos e os reinvestisse na atividade
39
produtiva, como uma forma de louvar a Deus, melhorando as condições de vida
da comunidade.
Não se tratava do acúmulo de dinheiro para fins exibicionistas ou
hedonistas. Ao contrário, os prazeres e as distrações mundanas eram vistas pelos
protestantes como algo que afastava o indivíduo de sua obrigação moral para
com o trabalho. Quanto maior a riqueza produzida, maior a responsabilidade de
conservá-la e de multiplicá-la pela glória da comunidade e de Deus. Para o
protestante, ganhar dinheiro era uma obrigação moral que impunha certas
exigências práticas cotidianas. Você só iria ser bem-sucedido nos negócios se
pudesse ser uma pessoa confiável, pontual, metódica, cumpridora dos prazos,
perfeccionista. É isto que Weber chama de ética protestante, ou seja, um conjunto
de exigências sociais que levava os protestantes a se comportarem de uma
determinada forma em relação ao trabalho e à vida como um todo. A genialidade
de Weber estava em perceber que esta ética protestante acabou ajudando a
moldar o que ele chamou de espírito do capitalismo. A ética protestante
estrangulou o consumo, especialmente o de luxo, e liberou a ambição pelo lucro.
O esforço diário passou a ser não pelo ganho, mas pelo uso racional das posses.
Como resultado, os protestantes
3.3-KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM
Introdução
Pensamento sociológico, em seu desenvolvimento, abordou níveis
diferentes de realidade. Sabemos que, se iluminarmos uma mesa cheia de
objetos com luzes de diferentes cores, partindo de diversos focos, estará
produzindo imagens distintas dos mesmos objetos. Nenhuma delas, entretanto, é
desnecessária ou incorreta.
Cada uma delas “põe à luz” ou privilegia determinados aspectos. Assim
também acontece com as teorias científicas e, entre elas, as sociais.
O método positivista expôs ao pensamento humano a idéias de que uma
sociedade é mais do que a soma de indivíduos, que há normas, instituições e
40
valores estabelecidos que constituam o social. Weber, por sua vez, reorganizou
os fatos sociais “a luz” da história e da subjetividade do agente social.
Agora falaremos de Karl Marx, e materialismo histórico, a corrente mais
revolucionária do pensamento social nas consequências teóricas e na prática
social que propõe. É também um dos pensamentos mais difíceis de compreender,
explicar ou sintetizar, pois Marx produziu muito, suas ideias se desdobraram em
várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos.
Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves na Alemanha, matriculou-se na
Universidade de Berlim em 1836 e doutorou-se em filosofia em Lena, em 1845
participou da liga dos comunistas em Bruxelas. Marx também foi um dos
fundadores Associação Internacional dos Operários ou Primeira Internacional,
suas principais obras foram: A ideologia Alemã, Miséria da filosofia, Para a crítica
da economia política, A luta de classes em França e O Capital.
O objetivo de entender o capitalismo
Com o objetivo de entender o capitalismo Marx produziu obras de filosofia,
economia e sociologia. Sua intenção, porém, não era apenas contribuir para o
desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política,
econômica e social. Sua obra máxima O Capital, destinava-se a todos os
homens, não apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade.
Este é um aspecto singular na teoria de Marx. Há um alcance mais amplo
nas suas formulações, que adquiriam dimensões de ideal revolucionário e ação
política efetiva.
As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de
superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer
ignoradas pela sociologia.
41
Podemos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do
pensamento de Marx. Em primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filosofia de
Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou de modo peculiar, o método dialético.
Também significativo foi seu contato com o pensamento socialista Frances e
inglês do século XIX, de Claude Henri de Rouvroy, ou conde de Saint-Simon
(1760-1858), Francois-Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858).
Marx desenvolveu o pioneirismo desses críticos da sociedade burguesa, mas
reprova o “utopismo” das suas propostas de mudança social. As três teorias
criadas tinham como traço comum o desejo de impor de uma só vez uma
transformação social total, implantando, assim, o império da razão e da justiça
eterna. Nos três sistemas elaborados havia a eliminação do individualismo, da
competição e da influência da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de
descobrir um sistema novo e perfeito de ordem social, vindo de fora, para
implantá-lo na sociedade, por meio da propaganda e, sendo possível, com o
exemplo, mediante experiências que servissem de modelo. Com esta formulação,
os três desconsideravam a necessidade da luta política entre classes sociais e o
papel revolucionário do proletariado na realização desta transição.
Finalmente, há toda crítica da obra dos economistas clássicos ingleses, em
particular Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tornou a atenção de Marx
até o final de sua vida. Essa trajetória é marcada pelo desenvolvimento de
conceitos importantes como alienação, classes sociais, valor, mercadoria,
trabalho, mais-valia, modo de produção.
3.3.1 A ideia de alienação
Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que a industrialização,
a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de
produção – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina -, que se tornaram
propriedade privada do capitalismo. Separava também, ou alienava o trabalhador
fruto do seu trabalho, que também é apropriado pelo capitalista. Essa é à base da
alienação econômica do homem sob o capital.
Politicamente, também o homem tornou-se alienado, pois o princípio da
representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado com um órgão
42
político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder
alegado aos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes
esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse
desta.
Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também
passou a criar representações do homem e da sociedade. Diz Marx que a divisão
social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um
determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo.
Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas
reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformou a filosofia em
“Filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do
poder resultou também na alienação do homem.
Uma vez alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua
condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia
que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se
efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora.
Com base nesse princípio, os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação
política. Marx propôs não apenas um novo método de abordar e explicar a
sociedade, mas também um projeto para a ação sobre ela.
3.3.2 - As classes sociais
As ideias liberais consideravam os homens, por natureza, iguais
politicamente e juridicamente. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de
todo cidadão. Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural
e observa que o liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem
livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade.
Segundo Marx, as desigualdades sociais observadas no seu tempo eram
provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os
43
homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As
desigualdades são a base da formação das classes sociais.
As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição,
antagonismo, exploração e complementaridade entre classes sociais.
Marx identificou relações de exploração da classe dos proprietários – a burguesia
– sobre os trabalhadores – o proletariado. Isso porque a posse dom meios de
produção, sob forma legal de propriedade privada, faz com que os trabalhadores,
a fim de assegurar a sobrevivência, tenham de vender sua força de trabalho ao
empresário capitalista, o qual se apropria do produto do trabalho de seus
operários.
Essas mesmas relações são também de oposição e antagonismo, na
medida em que os interesses de classes são inconciliáveis. O capitalista deseja
preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos e à
máxima exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e
participação nos lucros.
Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma
só existe em relação à outra. Só existem proprietários porque há uma massa de
despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam
vender para assegurar a sua sobrevivência. As classes sociais são, pois, apesar
de sua oposição intrínseca, complementares e interdependentes.
A história do homem é segundo Marx, a história da luta de classes, da luta
Constante entre interesses opostos, embora esses conflitos nem sempre se
manifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divergências,
oposições e antagonismo de classes estão subjacentes a toda relação social, nos
mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da
propriedade privada.
44
3.3.3 - Trabalho, valor e lucro
O capitalismo vê a força de trabalho, como mercadoria, mas é claro que
não se trata de uma mercadoria qualquer. Enquanto os produtos, ao serem
usados, simplesmente se desgastam ou desaparece, o uso da força de trabalho
significa, ao contrário, criação de valor. Os economistas clássicos ingleses desde
Adam Smith, já haviam percebido isso ao reconhecerem o trabalho como a
verdadeira fonte de riqueza das sociedades.
Marx foi além. Para ele, o trabalho, ao se exercer sobre determinados
objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo
homem, diz Marx, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser
reanimado por outro trabalho. Assim, por exemplo, um pedaço de couro animal
curtido, uma faca e fios de linha são, todos, produtos do trabalho humano.
Deixados em si mesmos, são coisas mortas; utilizadas para produzir um par de
sapatos, renascem como meios de produção e se incorporam um novo produto,
uma nova mercadoria, um novo valor.
Os economistas ingleses já haviam postulado que o valor das mercadorias
dependia do tempo de trabalho gasto na sua produção. Marx acrescentou que
este tempo de trabalho se estabelecia em relação às habilidades individuais
medias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no
valor de uma mercadoria era incorporado o tempo de trabalho socialmente
necessário à sua produção.
De modo geral, as mercadorias resultam da colaboração de várias
habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos
de trabalho específicos. Por exemplo, o valor de um par de sapatos incluí só o
tempo gasto para confeccioná-lo, mas também o dos trabalhadores que curtiram
o couro, produziram fios de linha, a máquina de costurar, etc.. O valor de todos
esses trabalhos está embutido no preço que a capitalista paga ao adquirir essas
matérias-primas e instrumentos, os quais, juntamente com a quantia paga ao
título de salário, serão incorporados ao preço do produto.
45
De acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda
de mercadorias que se encontram bases estáveis nem para o lucro dos
capitalistas nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário, a
valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção.
3.3.4 - A mais-valia
Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas de
trabalho e confeccione um par de sapatos a cada três horas, ele cria uma
quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o
necessário à sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de
força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais
mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A
duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em
consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem
desvalorizar seu produto.
Visualiza-se, portanto, que uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é,
o salário, e outra é quanto esse trabalho rende ao capitalista. Esse valor
excedente produzido pelo funcionário é o que Marx chama de mais-valia.
3.3.5 - A sociologia, o socialismo e o marxismo
A teoria marxista teve ampla aceitação teórica e metodológica, assim como
política e revolucionária. Já em 1864, em Londres, Karl Marx e Friedrich Engels –
companheiro em grande parte de suas obras – estruturaram a Primeira
Associação Internacional de Operários, ou Primeira internacional, promovendo a
organização e a defesa dos operários em nível internacional. Extinguida em 1873,
a difusão das ideias e das propostas marxistas ficou por conta dos sindicatos
existentes em diversos países e nos partidos, especialmente os social-
democratas.
A Segunda Internacional surgiu na época do centenário da Revolução
Francesa (1889), quando diversos congressos socialistas tiveram lugar nas
principais capitais europeias, com várias tendências, nem sempre conciliáveis. A
46
Primeira Guerra Mundial pôs fim a Segunda Internacional, em 1914. Em 1917,
uma revolução inspirada nas ideias marxistas, a Revolução Bolchevique, na
Rússia, criava no mundo o primeiro Estado operário. Em 1919, inaugurava-se a
Terceira Internacional ou Comité, que, como a primeira, procurava difundir os
ideais comunistas e organizar os partidos e a luta dos operários pela tomada do
poder. Ela continua atualmente até hoje, enfrentando intensa crise provocada pelo
fim da União Soviética e pela expansão mundial do neoliberalismo.
A aceitação dos ideais marxistas não se restringe mais apenas à Europa.
Difundia-se pelos quatro continentes, à medida que se desenvolvia o capital
internacional. À formação do operariado no restante do mundo seguia-se o
surgimento de sindicatos e partidos marxistas. Os ideais marxistas se adequavam
também perfeitamente à luta pela independência que surgia nas colônias
europeias da África e Ásia, após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, assim
como à luta por soberania e autonomia, existente nos países latino-americanos.
Em 1919, surgiram partidos comunistas na América do Norte, na China e no
México. Em 1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile; e, em 1925, em
Cuba.
O movimento revolucionário tornava-se mais forte à medida que os
Estados Unidos e a URSS emergiam como potências mundiais e passavam a
disputar sua influência no mundo. Várias revoluções como a chinesa, a cubana, a
vietnamita e a coreana instauraram regimes operários que, apesar das suas
diferenças, organizavam um sistema político com algumas características comuns
– forte centralização e o uso intenso de propaganda ideológica e do culto ao
dirigente.
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O material de apoio intitulado Introdução às cias Socias e Humanas, é um
resumo que facilita o estudante na compreensão da mesma ciência por um lado e
por outro na compressão de muitos fenómenos e factos da realidade socia e
humana propriamente.
Foram esmiuçados em três capítulos, o pouco necessário para disciplina
em referência. De modo que os estudantes tenha um suporte, das ideias a tratar,
cujo desenvolvimento deve-se recorrer as grandes obras de referência a fim de
buscar o grande leque de conhecimento necessário, para o enriquecimento do
repertório e do acervo bibliográfico.
As ciências sociais e humanas é a área do conhecimento que se preocupa
a fundo com todas as situações inerentes a vida humana, investiga-los e
soluciona-los, para a melhoria da qualidade de vida social das populações.
Desde a saúde mental e comunitária, organização social, partidos políticos,
organizações das eleições, equilíbrio orçamental, superação da crise económica,
criação de postos de empregos para juventude, informação clarividente,
investigação de crimes, etc.
Portanto, essa área de conhecimento objetiva-se a formação do homem
novo, capaz de inverter o quadro daquilo que é socialmente errado, para o
socialmente certo. Facilitando deste modo, a vida das populações na sociedade e
contribuir cada vez mais, na construção e melhoria de uma sociedade cada vez
mais coesa e próspera com igualde de direitos para todos os angolanos.
48
ALGUNS CONCEITOS CHAVES
Método: s.m. Maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, segundo
certos princípios e em determinada ordem. Conjunto de procedimentos.
Empírico: adj. Que se fundamenta na observação e na experiência,
seguindo métodos ou não.
Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos
sociais, culturais ou étnicos e as transformações ocorridas em função da inte-
ração entre os grupos.
Ciência política: estuda os sistemas de poder, as instituições e os partidos
políticos de um país, o comportamento e as políticas públicas em suas diversas
fases (elaboração, implantação e avaliação).
Sociologia: Investiga as relações sociais, as estruturas e a dinâmica das
sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das
organizações sociais.
Microcosmo: s.m. Mundo pequeno, mundo abreviado; miniatura do
universo. O próprio homem como expressão do universo.
Macrocosmo: s.m. Filosofia. O Universo, em oposição ao homem,
considera- do este como um mundo em miniatura, ou microcosmo.
Epistemologia: A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos
e a va- lidade do conhecimento, sendo também conhecida como teoria do
conhecimento.
Infanticídio: Grosso modo se aplica ao assassinato de crianças.
Etnocentrismo: é um conceito antropológico que define o que ocorre
quando um determinado indivíduo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos
hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando- se melhor, seja por causa de
sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma
diferente forma de se vestir. Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita
49
a partir de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal
posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro. Do ponto
de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o
mundo com os olhos dos outros.
Etnografia: é um método clássico que visa realizar a descrição dos
significados pertencentes a um determinado grupo. Todo grupo social atribui
significados às suas experiências de vida. A etnografia atua enfatizando a
exploração da natureza e de um fenômeno social particular; realiza entrevistas em
profundidade; inicia observação; analisa o discurso dos informantes; investiga os
detalhes de um fato; lança perspectiva microscópica; e por fim interpreta os
significados e prá- ticas sociais. A etnografia investiga a realidade de um grupo e
o saber gerado a partir do ponto de vista do outro. Essa ferramenta antropológica
praticamente inaugurou as aplicações dos métodos na antropologia.
Globalização: Define-se pela intensificação de relações sociais mundiais
que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são
condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-
versa. (GIDDENS, 2010)
Racionalismo: Corrente filosófica que dá prioridade à razão, como
elemento de conhecimento.
Feudalismo: Modo de produção baseado em relações de servidão. Tem
suas origens na decadência do Império Romano. Predominou na Europa durante
a chamada Idade Média.
Burguesia: Classe social do regime capitalista, cujos membros são os
proprietários do capital, ou seja, comerciantes, industria, proprietários de terras,
de imóveis, os possuidores de riquezas e dos meios de produção.
Positivismo: O termo positivismo, em francês, também significa certo,
seguro, o que remete ao privilégio das análises racionais em detrimento das
explicações religiosas e metafísicas.
Darwinismo social: Por darwinismo social entende-se a transposição das
ideias de Darwin, em especial a da sobrevivência dos mais aptos do campo das
50
Ciências Naturais para o das explicações acerca da vida social e da História da
Humanidade. Esse conceito é muito usado no contexto da competição entre os
indivíduos no capitalismo, mas motivou, de for- ma similar, o racismo, o
imperialismo, o nazismo etc. O termo foi popularizado em 1944 pelo historiador
americano Richard Hofstadter.
Maneiras de agir: As maneiras de agir são formas de agir e pensar
coletivas, que determinam o comportamento dos indivíduos, que os obrigam a
agir de uma determinada for- ma, mas não têm uma longa duração no tempo, ou
seja, são efêmeras e instáveis. Um linchamento seria um bom exemplo desse tipo
de fenômeno, se considerar- mos que, na maioria das vezes, os participantes,
individualmente, não seriam capazes de praticar tal ato. É o grupo, a coletividade,
pela sua capacidade de coerção, que os leva a agir de uma deter- minada
maneira em um dado momento.
Maneiras de ser: As maneiras de ser também são fenômenos de ordem
coletiva que determinam o comportamento dos in- divíduos, mas nesse caso há
uma durabilidade no tempo, uma permanência ou estabilidade. Um sistema
religioso ou econômico estabelecido pode ser um bom exemplo desse tipo de fato
social. Os dogmas de uma religião, que não foram criados por nenhum dos fiéis,
se impõem de maneira estável e contínua no tempo, coagindo as pessoas a os
aceitarem.
Idealismo: O idealismo é uma corrente bastante ampla de filosofia (já
havia idealistas na Grécia e na Índia antigas...). Mas, de modo geral, podemos
resumi-la como sendo a afirmação de que a realidade, tal como a conhecemos, é
construída mentalmente. Em termos sociológicos, o idealismo consiste na
alegação de que as ideias humanas, crenças e valo- res, moldam a sociedade.
Liberalismo: Liberalismo é uma escola de pensa- mento que abrange
Filosofia, Política e Economia, e tem na defesa da liberdade sua principal
característica. Entre seus pensadores mais famosos, destacam-se Adam Smith,
John Locke, John Stuart Mill e Friedrich Hayek.
Materialismo: Materialismo, como veremos logo adiante, refere-se às
condições materiais de existência, que, para Marx, era a base de onde deveria
51
partir toda avaliação da vida humana. O conceito de “dialética” é oriundo da
filosofia, e foi utilizado de di- ferentes formas por diferentes autores. Para Marx,
dialética refere-se sobretudo a uma contradição. Por exemplo: um processo em
que algo ocorre (uma tese), gera um efeito contrário (antítese), e do choque de
ambos resultará um novo fenômeno (uma síntese). Este movimento conflituoso,
no qual “tese” e “antítese” se chocam de modo a dar origem a uma “síntese”, é
um movimento dialético.
Dessacralizar: Dessacralizar é fazer com que algo não seja mais sagrado;
se não é mais sagra- do, é porque virou profano.
Empirismo: O conhecimento empírico é derivado de experiências
concretas, é resultado de tentativas práticas, de erros e acertos.
52
REFERÊNCIA BUBLIOGRÃFICAS
ALEXANDRE, Dissengomoka Sebastião. Psicologia e Personalidade do Homo-
Nacionalicus: Uma Nova Ciencia para a Cultura de Paz e Fraternidade
Humanas. 1ª edição. Uíge: Dilanel, 2000
GILBERTO, Gnoato et al. Psicologia das Organizações. 1ª edição. Curitiba:
IESDE, 2008
MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da
Metodologia Científica. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003
MOURA, Solange Ferreira et al. Livro Didático de Fundamentos das Ciencias
Sociais. 1ª edição. Rio de Janeiro, Estácio,2014
RODRIGUES, Aroldo et al. Psicologia Social. 28ª edição. Petropólis: Vozes,
2010
SILVA, Elsa e MOINHO, Rosa. Área de Integração: Ensino Técnico
Profissional. Ano 1. 1ª edição. Lisboa: Plátano, 2013
SOUSA, Virgínia Blanc de. Atlas básico de Filosofia. 1ª edição. Lisboa: Didática,
2013

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Introdução às Ciencias Sociais e Humanas

  • 1. WILLIAM __________________AUGUSTO AMBRÓSIO BUNGA____________________ INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS Uma abordagem socio-humanista _____________________________ UÍGE/2017 _____________________________
  • 2. 2 Índice …………………………………………………………………………………1 Dedicatória……………………………………………………………………………4 Agradecimentos………………………………………………………………………5 Epígrafe………………………………………………………………………………..6 Introdução……………………………………………………………………………..7 CAPÍTULO – I GENERALIDADES 1.2 Conceito e definições………………………………………………………8 1.3 Objeto de estudo……………………………………………………………9 1.4 Métodos de investigação…………………………………………………..9 1.5 O conhecimento humano………………………………………………….9 1.6 O lugar das ciências sociais e humanas ………………..……………..18 CAPÍTULO II - A PESSA E A CULTURA 2.1Noção de pessoa……………………………………………………………22 2.2O indivíduo e a sociedade………………………………………………….22 2.3O conceito antropológico da cultura………………………………………23 2.4 Etnocentrismo e relativismo cultural……………………………………..29 2.5 Diversidade cultural………………………………………………………..30 2.6As transformações do comportamento formal nas questões culturais.31 2.7O comportamento social e suas coerções dentro do processo de construção cultural e educacional………………………………………..31 CAPÍTULO III – ALGUNS AUTORES SOCIAIS DE RELEVO 3.1A sociologia de Durkheim………………………………………………32 3.1.2As relações entre a sociedade e o poder político……………………32 3.2A Sociologia de Max Weber…………………………………………….33 3.2.1Acão social: uma Acão com sentido…………………………………..35 3.2.2A ética protestante e o espírito do capitalismo…………………...38 3.3Sociologia de Karl Max e a história da exploração do homem…..39
  • 3. 3 3.3.1A ideia de alienação………………………………………………………41 3.3.2As classes sociais………………………………………………………....42 3.3.3Trabalho, valor e lucro……………………………………………………44 3.3.4A mais – valia………………………………………………………………45 3.3.5A sociologia, o socialismo e o marxismo………………………………..45 Considerações finais……………………………………………………………47 Alguns conceitos chaves……………………………………………………….48 Referências bibliográficas
  • 4. 4 DEDICATÓRIA Á todos os estudantes do 1º Ano, de todos os cursos afetos às Ciências Socias e Humanas. A todos aqueles interessados na leitura deste material de apoio. A todos aqueles que acham o caminho da ciência é o caminho triunfal da vida.
  • 5. 5 AGRADECIEMTOS À Deus Pai todo-poderoso; A todo o estudante e/ou leitor que está a lê-lo; Os agradecimentos estendem-se ainda a todos os Docentes da cadeira de Introdução às Ciências Sociais e Humanas, pois são os verdadeiros orientadores na desmistificação dessa disciplina e na facilitação da compreensão dos fenómenos e factos sociais, bem como a relação do homem com a sociedade.
  • 6. 6 EPÍGRAFE Uma pessoa é uma coisa complicada. Mais complicado do que uma pessoa, só duas. Três, então, é um caos, quando não é um drama passional. Mas as pessoas só se definem no seu relacionamento com as outras. Ninguém é o que pensa que é, muito menos o que diz que é (…). Ou seja, ninguém é nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro. Luiz Fernando Veríssimo
  • 7. 7 INTRODUÇÃO Este material de apoio estudantil, intitulado Introdução às Ciências Sociais e Humanas, surge com intuito de facilitar os estudantes em encontrar algum suporte quanto a cadeira em referência. Facilitá-los a compreensão no que concerne a mesma cadeira. As ciências sociais e humanas, é uma área de formação que abarca muitos cursos que grande relevância na compreensão da sociedade e também do próprio homem. No entanto, de conhecer o resto, é preciso que se conheça a sociedade onde se encontra inserido e posteriormente “conhecer-te ati mesmo”. O material de apoio é composto de três (3) capítulos fundamentais, nomeadamente: Capítulo I - Generalidades, através deste o aluno consegue se enquadrar e compreender a essência da disciplina que está a estudar. Capítulo II – A pessoa e a cultura, por onde se debruça sobre a noção do conceito pessoa, do indivíduo e sociedade, do etnocentrismo, relativismo cultural e diversidade, outros assuntos de grande importância. Capítulo III – Alguns autores sociais de relevância, abordagens de grandes sociólogos como: Émile Durkeim, Max Weber e Karl Max, com temáticas importantes, virados para economia, sociologia, prospectivamente. O presente material, é um resumo de suma importância para os estudantes Universitários, das Faculdades, das Escolas Superiores e dos Institutos Superiores de Ciências Sociais e Humanas, dos cursos neles concebidos. Permite ao estudante ter uma visão geral das ciências sociais e humanas, pois muitos, tem dificuldades de enquadrá-la como tal, e encontrar o seu lugar no sistrema das ciências.
  • 8. 8 CAPÍTULO I - GENERALIDADES 1.1CONCEITO E DEFINIÇÕES DAS CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS As ciências sociais e humanas reúnem todas as disciplinas científicas cujo objeto de estudo se relaciona com as atividades e o comportamento dos seres humanos. As ciências sociais analisam as manifestações da sociedade, quer materiais quer simbólicas. Todavia, pode-se dizer que estas ciências estudam aquilo que não incumbe às ciências naturais. As pessoas têm consciência e a capacidade de desenvolver representações abstratas que têm influência no seu comportamento. Assim sendo, a interação social rege-se por diversas regras e supostas normas; as ciências naturais, por sua vez, trabalham com objetos fácticos/factuais e recorrem ao método científico com maior rigor. As ciências sociais e humanas, de modo geral, não podem preconizar leis universais. Etimologicamente a palavra ciência deriva do latim scientia, sujo significado é "conhecimento" ou "saber". Etimologicamente a palavra Social deriva do latim socialis, cujo significado é “” em mente”. Etimologicamente a palavra humana deriva do latim humanus e designa o que é relativo ao Homem como espécie. DEFINIÇÕES As ciências sociais e humanas são um conjunto de ciências ou disciplinas científicas organizadas sistematicamente que têm como objetivo o estudo do homem na sociedade. As ciências sociais e humanas correspondem ao conjunto de ciências ou áreas do conhecimento que estudam o Homem como actor social, através das suas relações com a sociedade e com a cultura onde estão inseridos. Portanto, Vale ressaltar que diferentemente das ciências naturais, as ciências sociais possuem um caráter menos objetivo.
  • 9. 9 Por isso que as primeiras são chamadas de ciências duras e as segundas de moles (com falta de rigor). No entanto, além deste esclarecimento, as ciências sociais tentam cumprir com os requisitos do método científico. OBJECTIVO As Ciências Sociais têm por objetivo o estudo dos fenómenos ligados à vida dos homens em sociedade. 1.2 – OBJECTO DE ESTUDO É a vida do homem na sociedade. 1.3-OS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM CIENCIAS SOCIAIS E HUMANAS 1.3.1 A ciência surge do espanto, quando naturalmente o homem começou a interrogar-se a respeito de muitos fenómenos da natureza, situações e factos, inerentes a vida humana e social. Este processo, deu início a metodologia da investigação científica. Definições: Ciência representa todo o conhecimento adquirido através do estudo ou da prática, baseando em princípios certos. Esta palavra deriva do latim scientia, sujo significado é "conhecimento" ou "saber". De acordo com Martins e Santos (2008,p.1) “a ciência pode ser entendida como conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação”. É o conhecimento racional, sistemático, exato e verificável da realidade. 1.3.2 - Métodos de investigação Segundo Ferreira, J. citado por Quivuna, M., define etimologicamente a palavra método, de seguinte forma, “ ela vem do grego «Methodus». Repartida essa palavra nos seus componentes, «Meta» significa para, objetivo. «Hodus», que quer dizer via, direção, caminho”.
  • 10. 10 Para Ramos e Naranjo (2014,p.99) “os métodos são a organização interna do processo investigativo”. Ou seja, “são a configuração sucessiva de procedimentos que envolvem diversas técnicas e instrumentos que finalmente lhe outorgam validade”. Metodologia, é o conjunto de métodos ou caminhos que se percorrem na busca do conhecimento científico. Os métodos categorizam em três (3) grandes grupos quanto ao tipo de investigação: Quantitativos, Qualitativos e Quali-quantitativos. Investigação Qualitativa: são métodos baseados em um rigor científico determinado por um desenho preciso definido a priori a realização do estudo. Este é o enfoque metodológico das ciências: naturais, positivistas e empiristas. Investigação Qualitativa: é o enfoque fenomenológico. Este por sua vez, dá ênfase às características: sociais, antropológicas, arqueológicas, culturais, psicológicas, criminalísticas, históricas, etc., este enfoque abrangem processos humanos completos. Investigação Quali-quantitativa: é o também denominado por enfoque misto. Consiste em combinar os dois enfoques acima referidos, com o intuito de encontrar respostas rigorosas das informações e a necessidade de flexibilizar os extremos de ambos enfoques de investigação. O enfoque quantitativo utiliza mais o método dedutivo e o enfoque qualitativo utiliza mais o método indutivo. Os métodos científicos específicos das ciências sociais e humanas, dividem-se em dois (2): 1) Métodos de abordagem: segundo Cervo e Bervian (1983) citados por Andrade, M. M. de (2000,p.130) “Método de abordagem é o conjunto de procedimentos utilizados na investigação de fenómenos ou no caminho para chegar-se à verdade”.
  • 11. 11 a. Método indutivo: cuja aproximação dos fenômenos caminha geralmente para planos cada vez mais abrangentes, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente); do particular ao geral. Por ex. O calor dilata o ferro ________________________ particular; O calor dilata o broze _______________________ particular; O calor dilata o cobre _______________________ particular; Logo, o calor dilata todos os metais ____________ geral, universal. N.B.: Muita das vezes, o método indutivo é confundível ao método experimental. Pois este último compreende as seguintes etapas: 1) Observação – manifestações da realidade espontânea ou provocadas; 2) Hipótese – tentativa de explicação; 3) Experimentação – observa-se a reação de causa-efeito, imaginada na etapa anterior; 4) Comparação – classificação, análise e crítica dos dados recolhidos; 5) Abstração – verificação dos pontos de acordo e de desacordo dos dados recolhidos; 6) Generalização – consiste em entender a outros casos, da mesma espécie, um conceito obtido com base nos dados observados. 2 Método dedutivo – que, partindo das teorias e leis, na maioria das vezes prediz a ocorrência dos fenômenos particulares (conexão descendente); isto é do geral ao particular, leva à conclusão. Exemplo de raciocínio dedutivo: Todo homem é mortal. __________________ universal, geral; Salakiaku é homem; ____________________ particular; Logo, Salakiaku é mortal ________________ conclusão.
  • 12. 12 3-Método hipotético-dedutivo – que se inicia pela perceção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese; é considerado lógico por excelência, é relacionado a experimentação. 4-Método dialético – que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. 2) Métodos de procedimentos. Por sua vez, os métodos de procedimento seriam etapas mais concretas da investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos e menos abstratas. Dir-se-ia até serem técnicas que, pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitados a um domínio particular. São os que veremos a seguir, na área restrita das ciências sociais, em que geralmente são utilizados vários, concomitantemente. a. Método Histórico Consiste em investigar os acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade hoje. Partindo do princípio de que as actuais formas de vida social, as instituições e os costumes têm a sua origem no passado, é importante pesquisar as suas raízes, para melhor compreender a sua natureza e função. Exemplos: LAKATOS, (2003,p.32) para compreender a noção atual de família e parentesco, pesquisa-se no passado os diferentes elementos constitutivos dos vários tipos de família e as fases de sua evolução social; para descobrir as causas da decadência da aristocracia cafeeira, investigam-se os fatores sócio-econômicos do passado”.
  • 13. 13 b. Método Comparativo Empregado por Tylor. Considerando que o estudo das semelhanças e diferenças entre diversos tipos de grupos, sociedades ou povos contribui para uma melhor compreensão do comportamento humano, este método realiza comparações, com a finalidade de verificar similitudes e explicar divergências. O método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento. Exemplos: modo de vida rural e urbano na Província do Uíge; características sociais da colonização portuguesa e espanhola na África; classes sociais em Angola, na época colonial e atualmente; organização de empresas norte-americanas e japonesas; a educação entre os povos ágrafos e os tecnologicamente desenvolvidos”. c. Método Monográfico ou estudo de caso Criado por Le Play, que o empregou ao estudar famílias operárias na Europa. Partindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes, o método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação deve examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos. Exemplos: Lakatos, (2003,p.33). Estudo de delinquentes juvenis; da mão- de-obra volante; do papel social da mulher ou dos idosos na sociedade; de cooperativas; de um grupo de índios; de bairros rurais”. Em seu início, o método consistia no exame de aspectos particulares, como, por exemplo, o orçamento familiar, as características de profissões ou de indústrias domiciliares, o custo de vida etc. Entretanto, o estudo monográfico
  • 14. 14 pode, também, em vez de se concentrar em um aspecto, abranger o conjunto das atividades de um grupo social particular, como no exemplo das cooperativas e do grupo indígena. d. Método Estatístico O método estatístico significa redução de fenômenos sociológicos, políticos, econômicos etc. a termos quantitativos e a manipulação estatística, que permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou significado. Isto é, fundamenta- se na utilização da teoria estatística das probabilidades. Exemplos: verificar a correlação entre nível de escolaridade e número de filhos; pesquisar as classes sociais dos estudantes universitários e o tipo de lazer preferido pelos estudantes de 12 e 22 anos”. 5 Método Funcionalista Utilizado por Malinowski (1884-1942). É, a rigor, mais um método de interpretação do que de investigação. Levando-se em consideração que a sociedade é formada por partes componentes, diferenciadas, inter-relacionadas e interdependentes, satisfazendo, cada uma, funções essenciais da vida social, e que as partes são mais bem entendidas compreendendo-se as funções que desempenham no todo, o método funcionalista estuda a sociedade do ponto de vista da função de suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades. Exemplos: análise das principais diferenciações de funções que devem existir num pequeno grupo isolado, para que o mesmo sobreviva; averiguação da função dos usos e costumes no sentido de assegurar a identidade cultural de um grupo”. 6 Método Estruturalista Desenvolvido por Lévi-Strauss. O método parte da investigação de um fenômeno concreto, eleva-se a seguir ao nível do abstrato, por intermédio da
  • 15. 15 constituição de um modelo que represente o objeto de estudo retomando por fim ao concreto, dessa vez como uma realidade estruturada e relacionada com a experiência do sujeito social. Considera que Ulna linguagem abstrata deve ser indispensável para assegurar a possibilidade de comparar experiências à primeira vista irredutíveis que, se assim permanecessem, nada poderiam ensinar; em outras palavras, não poderiam ser estudadas. Dessa forma, o método estruturalista caminha do concreto para o abstrato e vice-versa, dispondo, na segunda etapa, de um modelo para analisar a realidade concreta dos diversos fenômenos. Exemplos: Estudo das relações sociais e aposição que estas determinam para os indivíduos e os grupos, com a finalidade de construir um modelo que passa a retratar a estrutura social onde ocorrem tais relações; verificação das leis que regem o casamento e o sistema de parentesco das sociedades primitivas, ou modernas, através da construção do modelo que represente os diferentes indivíduos e suas relações, no âmbito do matrimónio e parentesco (no primeiro caso, basta um modelo mecânico, pois os indivíduos são pouco numerosos; no segundo, será necessário um modelo estatístico). Para penetrar na realidade concreta, a mente constrói modelos que não são diretamente observáveis na própria realidade, mas a retratam fidedignamente, em virtude da razão simplificante do modelo corresponder à razão explicante da mente, isto é, por baixo de todos os fenômenos existe uma estrutura invariante e é por este motivo que ela é objetiva; assim, toda análise deve levar a um modelo, cuja característica é a possibilidade de explicar a totalidade do fenômeno, assim como a sua variabilidade aparente. Isto porque, por intermédio da simplificação (representação simplificada), o modela atinge o nível inconsciente e invariante: resume o fenômeno e propicia sua inteligibilidade. Utilizando-se o método estruturalista, não se analisa mais os elementos em si, mas as relações que entre eles ocorrem, pois somente estas são constantes, ao passo que os elementos podem variar; dessa forma, não existem fatos
  • 16. 16 isolados passíveis de conhecimento, pois a verdadeira significação resulta da relação entre eles. 1.3.4 - Ciências sociais vs ciências humanas Ciências Sociais: Estudam os aspetos sociais do mundo do Homem. Diferenciam-se das Artes e das Ciências Humanas, quanto ao método científico. Utilizam nos seus estudos métodos quantitativos e qualitativos. Os métodos das ciências sociais, como a observação participante, podem ser utilizados nas mais diversas áreas do conhecimento, não apenas na área das humanidades e artes, mas também nas ciências sociais aplicadas e nas ciências biomédicas. 1.4– O CONHECIMENTO HUMANO Conhecimento vem da palavra conhecer. Conhecer é uma relação entre o sujeito e o objeto. Segundo VandenBos, G. R. (2010,p.2016) “ o conhecimento é uma informação e entendimento de um tema específico ou do mundo em geral, via de regra adquirido por experiencia ou por aprendizagem. Ou seja a consciência de existência de alguma coisa”. O conhecimento é um conjunto de informação armazenada por intermédio da experiência ou da aprendizagem (a posteriori), o através da introspeção (a priori). Portanto, para o filósofo grego Platão, “o conhecimento é aquilo que é necessariamente verdadeiro (episteme). Por sua vez, a crença e a opinião ignoram a realidade das coisas, pelo que fazem parte do âmbito do provável e do aparente”. Segundo Moura, S. F. et al (2014, p.13) A obra intitulada O Pensador retrata uma das mais célebres criações artísticas do escultor francês Auguste Rodin e captura de forma singular uma das características constitutivas do ser humano: a habilidade de refletir sobre as experiências vividas. Nesse sentido, pode-se dizer que o ser humano é o único animal que vive no mundo e pensa sobre o mundo em que vive. De fato,
  • 17. 17 a preocupação em compreender o mundo acompanha a humanidade ao longo de seu desenvolvimento na Terra, quer seja pela necessidade de construir mecanismos de controlo e transformação da natureza, quer pelo desejo de conhecer e formular explicações acerca dos fenômenos. 1.4.1 – Tipologia ou níveis de conhecimento Conhecimento religioso – Este tipo de conhecimento do mundo se dá a partir da separação entre as esferas do sagrado e do profano. As religiões também apresentam, de forma geral, uma explicação sobrenatural para o mundo; porém, para aderir a uma religião, é condição funda- mental crer ou ter fé nessa explicação. Além disso, é uma parte essencial da crença religiosa a fé no fato de que essa explicação sobrenatural pode proporcionar ao homem uma garantia de salvação, bem como prescrever maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações. • Conhecimento filosófico – De modo geral, o conhecimento filosófico pode ser traduzido como amor à sabedoria, à busca do conhecimento. Embora a concepção filosófica não ofereça soluções definitivas para numerosas questões formuladas pela mente, ela é traduzida em ideologia. E como tal influi diretamente na vida concreta do ser humano, orientando sua atividade prática e intelectual. • Conhecimento de senso comum ou popular – O senso comum ou conhecimento espontâneo é a compreensão do mundo baseada no aprendizado acumulado de gerações anteriores. Segundo ARRUDA (2010), esse tipo de conhecimento nasce da tentativa do homem de resolver os problemas da vida diária. Daí esse tipo de saber implicar em juízos pessoais acerca das coisas, pois parte dos valores de cada indivíduo, mediante as situações vivenciadas. • Conhecimento Científico – Tradicionalmente, o conhecimento científico é definido como aquele que resulta de investigação metódica, sistemática da realidade. Transcende os fatos e os fenômenos em si, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem. De um modo geral, as pessoas costumam considerar que esse tipo de saber pressupõe um modo de conhecimento com absoluta garantia de validade. No entanto, trata-se também de uma crença, pois, como sabemos, as formulações científicas mudam o tempo todo e podem estar a serviço de interesses políticos, econômicos e sociais.
  • 18. 18 1.4.1.1 - Características do conhecimento científico 1.Objectivo – descrever a realidade como ela é ou pode ser, mas nunca como gostaríamos que ela fosse. 2.Empírico – sempre baseado na experiência, nos fenómenos e factos. 3.Racional – Mais assente na razão e na lógica do que na intuição. 4.Replicável – as mesmas condições, em diferentes locais e com diferentes experimentadores devem replicar os resultados. 5.Sistemático – conhecimento organizado, ordenado, consistente e coerente nos seus elementos. 6.Metódico – conhecimento obtido através de procedimentos e estratégias fiáveis mediante planos metodológicos rigorosos. Portanto, não há hierarquia entre os saberes. A Mitologia, a Religião, a Filosofia, o senso comum e a Ciência são formas de compreensão do mundo. Todos são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, explicando-o ou atribuindo-lhe um sentido. É importante dizer também que tal classificação resulta antes de um processo histórico específico que diz respeito à constituição dos saberes no mundo ocidental. 1.5 - O LUGAR DAS CIENCIAS SOCIAS E HUMANAS ENTRE AS OUTRAS Como todas as ciências, nenhuma é isolada são assim também as Ciências Sociais e Humanas, elas mantêm relações com todas outras ciências, quer sejam: Exatas, Naturais bem como as Filosóficas.
  • 19. 19 Ciências Exatas Ciências Filosóficas Ciências da Natureza O triângulo acima é adaptado do triângulo de Kedrov, representado no livro de Alexandre, D. S. (2000,p.122), intitulado Psicologia e Personalidade do Homo- Nacionalicus para uma Cultura de Paz e Fraternidade Humanas. 1.5.1 - Ciências Sociais vs Ciências Humanas Ciências Humanas: Ciências que têm o próprio ser humano como objeto. Estudam os aspetos do homem como indivíduo e como ser social. Surgiram depois das Ciências Exatas e fora do movimento positivista que definia a ideia de cientificidade, de método e de conhecimento científico. 1.5.1 - O campo das ciências sociais e humanas . As Ciências Sociais e Humanas têm as seguintes ciências como seu domínio: Economia, Linguística, Demografia, Economia, Epidemiologia, Antropologia, Ciências Políticas, Sociologia, Psicologia, Antropologia, etc. Economia: A Economia é uma ciência que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens materiais. A palavra “economia” deriva da junção dos termos gregos “oikos” (casa) e “nomos” (costume, lei) resultando em “regras ou administração da casa, do lar”. Linguística: A Linguística é a ciência que se ocupa em estudar as características da linguagem humana. O linguista é responsável por analisar e investigar toda a evolução e desdobramentos dos diferentes idiomas, bem como a Ciências Sociais e Humanas
  • 20. 20 estrutura das palavras, expressões idiomáticas e aspetos fonéticos de cada língua. Demografia: A Demografia é a ciência que estuda as características das populações humanas e exprime-se geralmente através de valores estatísticos. As características da população estudadas pela demografia são inúmeras e incluem o número de pessoas, a sua distribuição por sexo e escalões etários, a distribuição espacial, a mobilidade, entre muitas outras. Epidemiologia: a Epidemiologia é o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes dos problemas de saúde em populações humanas, bem como a aplicação desses estudos no controle dos eventos relacionados com saúde. É a principal ciência de informação de saúde, sendo a ciência básica para a saúde coletiva. Etimologicamente, “epidemiologia” significa o estudo que afeta a população (epi= sobre; demio= povo; logos= estudo). Ciências Políticas: estuda os sistemas de poder, as instituições e os partidos políticos de um país, o comportamento e as políticas públicas em suas diversas fases (elaboração, implantação e avaliação). Sociologia: Investiga as relações sociais, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das organizações sociais. Psicologia: A Psicologia é o estudo científico dos processos mentais e do comportamento do ser humano e as suas interações com o ambiente físico e social. A palavra provém dos termos gregos PSYCHÉ = psico (alma ou atividade mental) e LOGOS = logía (estudo, discurso, tratado). Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos sociais, culturais ou étnicos e as transformações ocorridas em função da inte- ração entre os grupos.
  • 21. 21 CIÊNCIAS SOCIAIS VS CIÊNCIAS HUMANAS Antropologia Psicologia Sociologia Sociologia Ciências Políticas Antropologia Epistemologia Economia Demografia Linguística Economia As ciências socias no dia-a-dia Segundo Stagner, R. citado por Rogrigues, A. et al. (2010,p.201) “As ciências físicas atingiram um tal estado de desenvolvimento que agora todos os homens podem morre juntos. Cabe agora às ciências sociais atingirem um tal estado de desenvolvimento de forma que todos os homens possam viver juntos”. Temas sociais atuantes para reflexão e debates.  O aumento de lixo em Luanda e um pouco por todo o País;  A delinquência juvenil;  O caso de um bebé encontrado no lixo na Damba;  A crise económica em Angola;  O empreendedorismo e o desemprego juvenil em Angola;  O aumento de inflação em Angola;  A precocidade sexual e gravidez na adolescência em Angola.
  • 22. 22 CAPÍTULO II - A PESSA E A CULTURA 2.1 – NOÇÃO DE PESSOA Falar de pessoa é falar de um ente social e individual, dotado de razão, de direitos e de personalidade. Com características próprias que lhe permitem participar na vida social. Etimologicamente, a palavra pessoa deriva do latim «persona», o que significa: máscara, figura, papel representado por um actor. Nesta óptica, para muitos autores, os indivíduos, as pessoas, na sua vida quotidiana, agem assumindo várias personagens, representando papeis impostos pelo grupo, como se a vida social fosse um palco. Outrossim, a palavra persona enquanto máscara do autor, também deriva a palavra personalidade. A personalidade, segundo Silva, E. e Moinho, R. (2013,p.14) “ é o elemento estável da conduta de uma pessoa, o que caracteriza e diferencia dos outros”. Assim sendo, ela é o ser total, essencial e particular de uma pessoa. Uno e indivisível. Para Sousa, V. B. de (2013,p.92) “ a noção da pessoa distingue-se da de personalidade. Cada um tem a sua personalidade, mas somos todos, pessoas quando estabelecemos a diferença em relação a outros objectos”. 2.2 – O INDIVÍDUO E A SOCIEDADE 2.2.1 - A noção de Indivíduo Segundo Louis Dumont e Norbert Elias citados por Gilberto, G. et al (2007,p.16) A noção do individuo foi construída no ocidente. Antes do século XVI, o indivíduo não existia. Sua vontade era a vontade de Deus. O cristianismo, produziu um «individuo fora do mundo», isto é, um indivíduo em relação a Deus. Ser cristão é ser como Cristo, um ser abdicante da vida mundana. Tal como se dá entre cristãos, também na Índia, renunciar o mundo social seria condição fundamental para o desenvolvimento espiritual. Cristo, Buda ou os indianos desvalorizam a vida social.
  • 23. 23 O grande mestre e introdutor da doutrina eclesiástica foi Santo Agostinho da Hipona (354-430). Os seus ensinamentos fazem uma leitura da Filosofia a partir da fé, por fim, se apossam do homem introduzindo Deus na razão humana. Na sua obra cidade de Deus, ele propõe teocracia hierarquizando a Igreja, colocando-a acima da Filosofia e do Estado. Na sua lógica, o Estado deveria prestar contas a Deus. Posteriormente, o filósofo francês, Augusto Comte (1798-1857), reafirma essa posição no seu calendário positivista, propondo a substituição de Deus pela ciência. No entanto, até que o indivíduo viesse a nacer, teria que aguardar a valorização ideológica da vida privada, fonte de onde a noção de indivíduo. Portanto, Indivíduo consiste num ser individual, conhecido pela sua existência única e indivisível. Este termo costuma ser utilizado como sinônimo de cidadão, ou seja, um ser humano inserido num ambiente social. Indivíduo e sociedade Do ponto de vista das Ciências Sociais, o indivíduo é parte formadora de uma sociedade. Esta, por sua vez, é constituída a partir do conjunto de todas as relações sociais que os indivíduos mantêm entre si. Assim como os indivíduos são responsáveis por formar a sociedade, a sociedade também atual diretamente na formação do indivíduo, visto que este, desde que nasce, deve aprender a seguir as regras e condutas morais que são ditadas pelo ambiente social que habita. Ao contrário da ideia de singularidade que gira em torno do indivíduo, uma sociedade deve apresentar alguns padrões que servem para unir e organizar os indivíduos. No entanto, vale lembrar que também existem diferentes sociedades, sendo que cada uma costuma apresentar as suas peculiaridades, principalmente ligadas a cultura e as tradições das pessoas que as compõem.
  • 24. 24 Entre alguns dos principais teóricos conhecidos por estudar a relação entre os indivíduos e a sociedade estão: Émile Durkheim (1858 – 1917), Max Weber (1864 – 1920) e Karl Marx (1818 – 1883). 2.2.2 - Sociedade A Sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade. A origem da palavra sociedade vem do latim 'societas', uma "associação amistosa com outros". 'Societas' é derivado de 'socius', que significa "companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado àquilo que é social. Conforme vimos, nossas vivências pessoais estão em estreita conexão com as experiências de outros tantos indivíduos; isto porque nascemos e vivemos em sociedade. Entretanto, diferente de formigas, abelhas e outros animais em que tal processo é reduzido ao mais ínfimo pormenor por instintos hereditários rígidos, a relação indivíduo e sociedade depende de um aprendizado ao qual chamamos socialização. Por socialização compreendem-se os processos através dos quais os seres humanos são induzidos a adotar os padrões de comportamento, normas, regras e valores do seu mundo social. Eles começam na infância e prosseguem ao longo da vida. A socialização é um processo de aprendizagem que se apoia, em parte, no ensino explícito e, também em parte, na aprendizagem latente – ou seja, na absorção espontânea de formas consideradas evidentes de relacionamento com os outros. Embora estejamos todos expostos a influências socializantes, os indivíduos variam consideravelmente em sua abertura deliberada ou involuntária a elas. 2.3-O CONCEITO ANTROPOLÓGICO DA CULTURA Um dos pioneiros da antropologia, Edward Tylor (1832-1917) (1871, p.1). Fez uma das primeiras propostas científicas de que cultura seria “em seu amplo
  • 25. 25 sentido etnográfico, este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Apesar de não ficar tão claro a cultura material na proposta de Tylor, a cultura seria algo socialmente adquirido, não genético ou inato. Em uma definição menos estática, outros pioneiros (Franz Boas) propuseram que “cultura abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto das atividades humanas, como determinado por esses hábitos.” (Bronislaw Malinowski). E que “a cultura é uma unidade bem organizada dividido em dois aspectos fundamentais – um corpo de artefactos e um sistema de costumes”. 2.3.1 - De onde veio essa complicação de cultura? O termo cultura vem do latim colere e é cognata às palavras agricultura, cultivar, colher, culto (tanto o adjetivo quanto o substantivo), ou seja, tudo aquilo que requer esforço humano para transformar em oposição ao encontrado na natureza. Para Cícero, educar um indivíduo em um ser social e político implicava em cultivá-lo: a filosofia é a cultura da mente. No século XVIII e XIX, filósofos alemães passaram a empregar o termo Kultur como cultivado, culto ou civilizado, daí vem a acepção de cultura como erudição. Com a popularização do termo pela antropologia, surgiram outras nuances. Antecedido pelo modificador “outro”, o termo cultura é usado para referir a um grupo social. É nesse sentido que aparece no plural: culturas. É o caso de a cultura dos xavantes, a cultura japonesa ou a cultura ocidental. Nessa acepção, há uma idealização de uma cultura como pertencente a um grupo, idealmente com suas fronteiras e conteúdos definidos. Entretanto, essa concepção é mais uma abstração empregada no sentido lato que propriamente reflexo da realidade. Falar algo como cultura brasileira ou cultura paraguaia seria um tipo ideal. Internamente há outras facetas nessas culturas nacionais.
  • 26. 26 2.3.2 – Tipologias de culturas Nesse contexto, pode-se falar ainda em cultura popular, de massa, subcultura, contracultura e a cultura subalterna.  A cultura popular é aquela produzida pelo povão em contraste às instituições formais de educação. É a música Semba em contraste com Kuduro.  Ao passo que cultura de massa reifica a cultura popular e a empacota para vender no mercado. É a música Kizomba em contraste com a música Semba.  Subcultura reflete o uso seletivo de alguns elementos de uma cultura para reforçar a identidade de um grupo social, étnico, de gênero, etário, de orientação sexual ou de afinidade. É o caso dos cowboys urbanos que frequentam Barretos e acham que leite nasce das caixinhas Tetrapak.  Contracultura ou cultura marginal (underground) são aquelas subculturas de descolados que não gostam de se conformar com o status quo. São os que ainda insistem em escutar música Semba de raiz em Kimbundo.  A cultura subalterna é aquela que feita de baixo para cima, não consegue um reconhecimento e aceitação amplos. São as modinhas ainda tocadas em serão por violeiros não profissionais nos sertões do Brasil. Apesar dessa diversidade de empregos do termo, Avruch (1998) aponta seis usos equivocados da noção antropológica de cultura: 1. Cultura é homogênea. 2. A cultura é uma coisa que funciona ou existe independente da ação humana. 3. A cultura se distribui uniformemente entre os membros de um grupo. 4. Um indivíduo possui apenas uma única cultura. 5. Cultura é costume. 6. Cultura é atemporal.
  • 27. 27 Como se vê, ainda que haja uma pluralidade semântica no termo “cultura”, esse conceito possui seus contornos. Entre outros, o uso inadequado desse termo produz atitudes similares ao racismo. Se racistas pressupõem (1) a existência de raças fixas determinando atributos, comportamento e valores a seus membros; (2) a superioridade entre raças; (3) a raça ser propriedade do indivíduo e de um povo; (4) a raça deve ser protegida contra contaminação externa; basta trocar a palavra “raça” nessas afirmações por “cultura” para identificar um preconceituoso “culturista”. 2.3.3 - Como se configura a cultura Segundo Laraia, (1986). A cultura não é uma mera soma de elementos. A experiência de cada pessoa com a cultura é única. A cultura condiciona a visão de mundo, interfere na existência física do ser humano, opera com uma lógica própria e se mantém dinâmica. Com isso, a configuração dos elementos da cultura, às vezes funcionais (ou não), é complexa. Nesse modelo de cultura de Lloyd Kwast (1992), um pouco modificado pela adição do habitus, compreende a cultura como um sistema concêntrico de atributos: a visão de mundo, as crenças, os valores, o comportamento e o habitus. Kwast adverte: este modelo de cultura é demasiado simples para explicar a vastidão de componentes e relações complexas existentes em cada cultura.
  • 28. 28 Já o modelo de cultura de Edgar Schein (1988), representa a cultura sob outra estrutura de diferentes níveis quando aplicada aos estudos organizacionais: 2.3.3.4 - Atributos da Cultura Uma vez posto o que cultura não é, vale apontar alguns de seus atributos clássicos:  Cultura é aprendida. Não é biologicamente herdada ou inata, antes requer enculturação.  Cultura é compartilhada. Vemos o mundo com as mesmas lentes e nele agimos com as mesmas atitudes. A cultura é mais onipresente que o ar.  Cultura é simbólica. Lembre-se que símbolo representa outra coisa e seus significados são arbitrários. O significado vem com seu uso em contexto na comunidade que lhe atribui sentido.  Cultura é integrada. As várias partes de uma cultura, são interligadas e indivisíveis. A religião, a economia, a linguagem não existem independentes entre si, mas se ligam como fenômenos culturais.  Cultura é dinâmica. Sendo interligada e comunicando com símbolos, a cultura recebe influências constante da própria cultura, das pessoas e da natureza.
  • 29. 29 Mas, realmente existe a cultura? Há quem diga que não. O termo tem sido usado com tantas significações que perdeu sua serventia como unidade de análise. É impossível usá-lo na antropologia sem antes delimitá-lo operacionalmente. Termos mais específicos como ethos ou artefato são preferidos ao genérico cultura. Também, cultura poder ser uma simples abstração para ajuntar acriticamente tudo quanto é atividade humana. Portanto, seja como for, ainda cultura é instrumento quotidiano da teoria antropológica. 2.4 - ETNOCENTRISMO E RELATIVISMO CULTURAL Etnocentrismo é um conceito da Antropologia definido como a visão demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de tudo, portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades. O termo é formado pela justaposição da palavra de origem grega "ethnos" que significa "nação, tribo ou pessoas que vivem juntas" e centrismo que indica o centro. Um indivíduo etnocêntrico considera as normas e valores da sua própria cultura melhores do que as das outras culturas. Isso pode representar um problema, porque frequentemente dá origem a preconceitos e ideias infundamentadas. Uma visão etnocêntrica demonstra, por vezes, desconhecimento dos diferentes hábitos culturais, levando ao desrespeito, depreciação e intolerância por quem é diferente, originando em seus casos mais extremos, atitudes preconceituosas, radicais e xenófobas. Este fenômeno universal pode atingir proporções drásticas, quando culturas tecnicamente mais frágeis entram em contato com culturas mais dominantes e avançadas. Alguns exemplos de etnocentrismo estão relacionados ao vestuário. Um deles é o hábito indígena de vestir pouca ou nenhuma roupa; outro caso é o uso
  • 30. 30 do kilt (uma típica saia) pelos escoceses. São duas situações que podem ser tratadas com alguma hostilidade ou estranheza por quem não pertence àquelas culturas. 2.4.1 Relativismo cultural O relativismo cultural é uma corrente de pensamento ou doutrina que tem como objetivo entender as diferenças culturais e estudar o porquê das diferenças entre culturas distintas. Enquanto o etnocentrismo tem uma vertente de confronto, o relativismo aborda as diferenças de uma forma apaziguadora. É importante destacar que o relativismo cultural é uma ideologia que defende que os valores, princípios morais, o certo e o errado, o bem e o mal, são convenções sociais intrínsecas a cada cultura. Um ato considerado errado em uma cultura não significa que o seja também quando praticado por povos de diferente cultura. 2.5 - DIVERSIDADE CULTURAL Diversidade cultural são os vários aspectos que representam particularmente as diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o modelo de organização familiar, a política, entre outras características próprias de um grupo de seres humanos que habitam um determinado território. A diversidade cultural é um conceito criado para compreender os processos de diferenciação entre as várias culturas que existem ao redor do mundo. As múltiplas culturas formam a chamada identidade cultural dos indivíduos ou de uma sociedade; uma "marca" que personaliza e diferencia os membros de determinado lugar do restante da população mundial. A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação, conceito que é considerado o oposto total da homogeneidade. Atualmente, devido ao processo de colonização e miscigenação cultural entre a maioria das nações do
  • 31. 31 planeta, quase todos os países possuem a sua diversidade cultural, ou seja, um "pedacinho" das tradições e costumes de várias culturas diferentes. Algumas pessoas consideram a globalização um perigo para a preservação da diversidade cultural, pois acreditam na perda de costumes tradicionais e típicos de cada sociedade, dando lugar à características globais e "impessoais".
  • 32. 32 CAPÍTULO III – ALGUNS AUTORES SOCIAIS DE RELEVO 3.1- A SOCIOLOGIA DE DURKHEIM Émile Durkheim (1858-1917), de nacionalidade francesa, é considerado por muitos estudiosos o fundador ou o pai da Sociologia como ciência independente das Ciências Socias. Ao preconizar o estudo das ciências sociais como facto “coisas”, através das regras de rigor científico, determinou seu objecto, próprio dos estudos sociológicos, e sua metodologia. Sua primeira obra, A divisão do trabalho social (1893), combate certas ideias de Spencer e enuncia dois princípios básicos: consciência coletiva e solidariedade mecânica e orgânica. Entende-se por consciência coletiva: a soma de crenças e sentimentos comuns à medida dos membros da comunidade, formando um sistema autónomo, isto é, uma realidade distinta que persiste no tempo e une as gerações. A consciência coletiva envolve quase completamente a mentalidade e a moralidade do indivíduo: o homem “primitivo”, pensa, sente e age conforme determina ou prescreve o grupo a que pertence. Durkheim acusa a existência, em cada indivíduo de duas consciências, a coletiva e a individual. A primeira, predominante, compartilhará com o grupo; a segunda; peculiar ao indivíduo. Nas sociedades “primitivas”, a consciência coletiva subjuga a individual, e as sanções aplicadas ao indivíduo, que foge às normas de conduta do grupo, são extremamente severas. No entanto, o princípio de divisão do trabalho está baseado nas diversidades das pessoas e dos grupos e se opõe diretamente à sociedade por semelhança. A divisão do trabalho gera um novo tipo de solidariedade, baseada na complementação de partes diversificadas. O encontro de interesses complementares cria um laço social novo, ou seja um outro tipo de princípio de solidariedade, com moral própria, e que dá origem a uma nova organização social.
  • 33. 33 Durkheim denomina de solidariedade orgânica esta solidariedade, não mais baseada nas semelhanças de indivíduos e grupos, mas na sua independência. Sendo o seu fundamento a diversidade, a solidariedade orgânica implica maior autonomia com uma consciência individual e livre. 3.1.1- As relações entre a sociedade e o poder político 3.1.2 – O comportamento social e suas coerções dentro do processo de construção cultural e educacional 3.1.3 – A moral social como organizadora social 3.1.4 – As transformações no comportamento formal refletindo nas questões culturais 3.2- A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER Karl Emil Maximilian Weber nasceu em Erfurt, então cidade da Prússia, no ano de 1864. Desde cedo mostrava sinais de grande capacidade intelectual: entediado com os professores da escola, leu secretamente em sala de aula a obra completa de Goethe (são 40 livros). Doutorou-se em Direito em 1889, e logo começou a ensinar na Universidade de Berlim. Já casado com Marianne Weber, que viria a ser uma das líderes do movimento feminista na Alemanha, muda-se para Freiburg e depois para Heidelberg, onde leciona na faculdade de Economia. A morte de seu pai, em 1897, o abala profundamente, e Weber começa a desenvolver sintomas de depressão grave, com ataques de ansiedade e insônia constante. Sem condições de dar prosseguimento ao trabalho de professor, Weber é internado em um sanatório. Depois de um começo de carreira brilhante e muito produtivo, Weber para de escrever; só voltaria a dar aulas em 1919. Contudo, começa a publicar em 1904 aquela que seria a sua obra mais famosa, A ética protestante e o espírito do capitalismo. Introdução Pode-se entender a obra de Weber como uma tentativa de ultrapassar Marx, não para lhe refutar completamente as ideias, mas para complementá-las, para examinar aspectos importantes que este teria deixado de captar. Weber
  • 34. 34 emergiu intelectualmente entre as décadas de 1880 e 1890, justamente no período em que o marxismo começa- va a ganhar força política na Alemanha. Politicamente, Weber tendia para a esquerda, mas rejeitava a ideia de uma revolução socialista, que os marxistas acreditavam inevitável. Porém, não foi apenas no campo da política que ele se afastou de Marx, embora compartilhas- se de certa simpatia por sua perspectiva e reconhecesse a importância e grandeza de sua obra. Também na esfera do trabalho científico Weber irá se distanciar de Marx, como veremos mais adiante. Weber rejeitava qualquer teoria geral do desenvolvimento histórico; logo, rejeitava o materialismo dialético de Marx como esquema explicativo da mudança histórica. Não era apenas o conflito de classes e as contradições dos modos de produção que faziam a história andar para frente. Weber não acreditava em uma separação cada vez maior entre burguesia e proletariado, nem considerava a ruína do capitalismo como algo inescapável. Enxergava múltiplos conflitos de interesses dentro das classes, e não entre elas, sugerindo um panorama mais complexo do que a oposição marxista burguesia x proletariado delineava. Segundo Weber, compreender por que a história se transforma, e de que modo, exigiria uma perspectiva multidimensional, que levasse em consideração outros fatores além do conflito entre dominadores e dominados. Seria preciso observar certos aspectos da realidade social que Marx teria ignorado. Por exemplo: Marx não definiu com precisão o que seria próprio do campo econômico, isto é, não delimitou exatamente a esfera da Economia em relação às outras esferas da sociedade. Para Weber, diversas formas de ação humana, como as práticas religiosas, influenciam na Economia, apesar de não serem explicitamente econômicas. A religião, embora não fosse diretamente uma atividade econômica, era economicamente relevante. Ou seja, as fronteiras dos fatos econômicos não possuíam um contorno claramente definido, sendo muito mais vagas do que o marxismo afirmava. Além disso, Weber criticava também o fato de Marx haver confundido Economia e tecnologia, como se fossem uma coisa só. Uma tecnologia pode estar associada a diferentes formas de organização social e produtiva: o socialismo, apesar de ser radicalmente distinto do capitalismo, possuiria a mesma base tecnológica.
  • 35. 35 Estas são diferenças importantes entre os dois autores (e nós as examinaremos mais detalhadamente neste capítulo), mas não são as únicas. Weber distanciou-se de Marx em outro aspecto fundamental: ele se colocava a tarefa de ser um cientista social, isto é, de agir intelectualmente de acordo com as obrigações da ciência, que são diferentes das exigências da atuação política. Ciência e política Por ex. um sociólogo não deveria defender uma determinada causa política em sala de aula, mas apenas na esfera pública, em debates nos meios de comunicação, passeatas, encontros, enfim, onde possa ser livremente confrontado por qualquer um, em condições de igualdade. Segundo Weber, sociólogos deveriam emitir apenas juízos científicos, e não juízos de valor. Um juízo científico refere-se àquilo que é, ao passo que um juízo de valor refere-se àquilo que deveria ser. Em outras palavras, um juízo científico é uma conclusão, baseada em estudos, que pode ser testada empiricamente, e validada (ou não). Já um juízo de valor, por ser fruto de uma crença puramente subjetiva, não pode ser nem verdadeiro, nem falso. Por exemplo: quem afirma que o capitalismo produz desigualdade social, está emitindo um juízo científico. Mas quem diz que o socialismo é superior ao capita- lismo está emitindo um juízo de valor. Weber queria remover os juízos de valor da atividade científica, isto é, os juízos de natureza política, ética ou estética. Isto, entretanto, não significa que juízos de valor não possam ser eles mesmos avaliados cientificamente. O sociólogo poderia analisar cientificamente o capitalismo e o socialismo, mas para isso teria que deixar suas opiniões pessoais de lado. Ou seja, o sociólogo pode descrever o funcionamento do socialismo e do capitalismo, mas não avaliar se são bons ou ruins. Aqui o pensamento weberiano cai em um paradoxo. Weber reconhecia que é a paixão que leva o cientista a se interessar por algum assunto a ponto de querer estudá-lo.
  • 36. 36 3.2.1 - Acão social: uma acção com sentido O conceito de ação social baseia-se no processo comunicativo entre sujeitos, tomando como ponto de partida o sentido dado pelo autor de uma ação e seu objetivo. Em meio ao grande labirinto de interações que tomam grande parte de nossa convivência diária em uma sociedade, não é raro nos encontrarmos em situações em que acabamos nos preocupando com os significados ou o sentido que podem ter nossas ações para as pessoas com quem nos relacionamos. Afinal de contas, nossas interações com os demais indivíduos estão relacionadas com uma parte muito importante de nossas vidas sociais: a comunicação. A teoria sociológica da ação social foi amplamente trabalhada pelo teórico Max Weber, que acreditava que a principal função da Sociologia era compreender os diversos aspectos da ação social. A ação social é entendida por Weber como qualquer ação realizada por um sujeito em um meio social que, no entanto, possua um sentido determinado por seu autor. O contínuo processo de comunicação está intimamente ligado ao conceito de ação social. A manifestação do sujeito que deseja uma resposta é manifestada em função dessa resposta. Em outras palavras, uma ação social constitui-se como ação a partir da intenção de seu autor quanto à resposta que deseja de seu interlocutor. A partir desse entendimento, Weber justifica que a função dos esforços sociológicos é justamente tentar compreender os sentidos dados às ações humanas em suas relações sociais. As relações humanas e, por sua vez, as ações que estão inseridas no contexto dessas relações possuem sentido atribuído a elas por seus autores. Para que se compreenda o processo de comunicação e de interação social, é necessário, então, que se compreenda o sentido da ação, bem como, ainda mais importante, desvende-se o objetivo do autor da ação em seu esforço comunicativo. Peguemos, por exemplo, a ação social de um abraço, que pode carregar uma infinidade de sentidos. O autor da ação, ao realizá-la, deseja que seu interlocutor apreenda o sentido que desejou implantar em seu ato, e não apenas que entenda o sentido genérico do ato de abraçar.
  • 37. 37 Weber ainda faz distinção em relação a tipos ideais de ações sociais. É importante entender que o estabelecimento de tipos ideais, método comum da teoria weberiana, não busca construir tipologias fixas nem mesmo buscar classificar o objeto em questão. Eles nos servem como parâmetro de observação, um “boneco” com características fixas que serve apenas como ponto de comparação entre o que é observado e sua obra teórica. Com isso em mente, Weber estipula quatro tipos ideais de ações sociais: a ação racional com relação a fins, a ação racional com relação a valores, a ação afetiva e a ação tradicional. Uma ação social é considerada como sendo relacionada a fins quando é tomada tendo em vista um objetivo racionalmente estabelecido, no qual o autor da ação busca atingir um resultado e, para isso, utiliza os meios necessários. A conduta científica em busca do entendimento de um fenômeno é um exemplo. Uma ação social é entendida como sendo relacionada a valores quando o autor da ação orienta seu sentido de acordo com seus valores e convicções pessoais. O autor orienta o sentido de sua ação de acordo com o que acredita ser correto, o que pode ser observado no exercício das ações baseadas em crenças religiosas ou políticas. A ação do tipo tradicional está alicerçada em hábitos e costumes firmados na vivência do sujeito. Age-se de determinada forma porque sempre se agiu assim. Por fim, a ação do tipo emocional é realizada com base nas emoções do indivíduo. O objetivo é mostrar sentimentos pessoais, como o choro do luto ou a risada de momentos alegres, sem, no entanto, levar em consideração os fins que se deseja atingir. 3.2.2 - A ética protestante e o espírito do capitalismo Max estava preocupado em entender as leis econômicas do capitalismo, e em denunciar seu caráter explorador, alienante. Weber, por outro lado,
  • 38. 38 interessava-se pelas motivações originais do capitalismo, os fatores que levaram ao seu surgimento. Weber parte de uma constatação: no século XVI, a maioria das cidades ricas do império alemão havia se convertido ao protestantismo; no século XIX, os protestantes eram maioria entre os proprietários de empresas e de capital, ao passo que os católicos ocupavam posições menos privilegiadas. Para Saber Mais O protestantismo é uma dissidência do catolicismo, que teve início na Europa do século XVI, com as pregações de Martinho Lutero. Desde então, o protestantismo dividiu-se em três igrejas: Calvinista, Luterana e Anglicana. Poderia a religião ser um fator explicativo desta diferença de sucesso profissional entre protestantes e católicos? Teriam os protestantes inclinação específica para o racionalismo econômico? Weber mostrou que sim e, em fazendo isso, ajudou a esclarecer um importante aspecto que contribuiu para a expansão do capitalismo no Ocidente. Fiel ao seu princípio metodológico, Weber realizou uma pesquisa histórica com o objetivo de analisar as ações dos indivíduos da religião protestante, tentando captar o sentido que lhes atribuíam e os efeitos que acabaram gerando. Resumindo bastante, Weber percebeu que: 1) os protestantes acreditavam que ninguém poderia saber de ante- mão quem iria ser salvo na vida após a morte (ou, como eles diziam na época, ser um eleito); 2) por não saberem disso, os protestantes se esforçavam para fazer o bem para a sua comunidade, para serem pessoas ordeiras, trabalhadoras; 3) eles acreditavam também que, se trabalhassem com dedicação, se seguissem a sua vocação, iriam prosperar, e que isto era um sinal de que o indivíduo poderia conseguir a salvação eterna (um mendigo certamente não seria um eleito). Com o passar do tempo, este medo de não saber se seria eleito levou os protestantes a desenvolverem uma ética completamente voltada para o trabalho. Mas não qualquer trabalho: o que o protestantismo exigia era o trabalho metódico, racionalmente organizado, de modo que o indivíduo poupasse seus ganhos e os reinvestisse na atividade
  • 39. 39 produtiva, como uma forma de louvar a Deus, melhorando as condições de vida da comunidade. Não se tratava do acúmulo de dinheiro para fins exibicionistas ou hedonistas. Ao contrário, os prazeres e as distrações mundanas eram vistas pelos protestantes como algo que afastava o indivíduo de sua obrigação moral para com o trabalho. Quanto maior a riqueza produzida, maior a responsabilidade de conservá-la e de multiplicá-la pela glória da comunidade e de Deus. Para o protestante, ganhar dinheiro era uma obrigação moral que impunha certas exigências práticas cotidianas. Você só iria ser bem-sucedido nos negócios se pudesse ser uma pessoa confiável, pontual, metódica, cumpridora dos prazos, perfeccionista. É isto que Weber chama de ética protestante, ou seja, um conjunto de exigências sociais que levava os protestantes a se comportarem de uma determinada forma em relação ao trabalho e à vida como um todo. A genialidade de Weber estava em perceber que esta ética protestante acabou ajudando a moldar o que ele chamou de espírito do capitalismo. A ética protestante estrangulou o consumo, especialmente o de luxo, e liberou a ambição pelo lucro. O esforço diário passou a ser não pelo ganho, mas pelo uso racional das posses. Como resultado, os protestantes 3.3-KARL MARX E A HISTÓRIA DA EXPLORAÇÃO DO HOMEM Introdução Pensamento sociológico, em seu desenvolvimento, abordou níveis diferentes de realidade. Sabemos que, se iluminarmos uma mesa cheia de objetos com luzes de diferentes cores, partindo de diversos focos, estará produzindo imagens distintas dos mesmos objetos. Nenhuma delas, entretanto, é desnecessária ou incorreta. Cada uma delas “põe à luz” ou privilegia determinados aspectos. Assim também acontece com as teorias científicas e, entre elas, as sociais. O método positivista expôs ao pensamento humano a idéias de que uma sociedade é mais do que a soma de indivíduos, que há normas, instituições e
  • 40. 40 valores estabelecidos que constituam o social. Weber, por sua vez, reorganizou os fatos sociais “a luz” da história e da subjetividade do agente social. Agora falaremos de Karl Marx, e materialismo histórico, a corrente mais revolucionária do pensamento social nas consequências teóricas e na prática social que propõe. É também um dos pensamentos mais difíceis de compreender, explicar ou sintetizar, pois Marx produziu muito, suas ideias se desdobraram em várias correntes e foram incorporadas por inúmeros teóricos. Karl Marx (1818-1883) nasceu em Treves na Alemanha, matriculou-se na Universidade de Berlim em 1836 e doutorou-se em filosofia em Lena, em 1845 participou da liga dos comunistas em Bruxelas. Marx também foi um dos fundadores Associação Internacional dos Operários ou Primeira Internacional, suas principais obras foram: A ideologia Alemã, Miséria da filosofia, Para a crítica da economia política, A luta de classes em França e O Capital. O objetivo de entender o capitalismo Com o objetivo de entender o capitalismo Marx produziu obras de filosofia, economia e sociologia. Sua intenção, porém, não era apenas contribuir para o desenvolvimento da ciência, mas propor uma ampla transformação política, econômica e social. Sua obra máxima O Capital, destinava-se a todos os homens, não apenas aos estudiosos da economia, da política e da sociedade. Este é um aspecto singular na teoria de Marx. Há um alcance mais amplo nas suas formulações, que adquiriam dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva. As contradições básicas da sociedade capitalista e as possibilidades de superação apontadas pela obra de Marx não puderam, pois, permanecer ignoradas pela sociologia.
  • 41. 41 Podemos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do pensamento de Marx. Em primeiro lugar, coloca-se a leitura crítica da filosofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou de modo peculiar, o método dialético. Também significativo foi seu contato com o pensamento socialista Frances e inglês do século XIX, de Claude Henri de Rouvroy, ou conde de Saint-Simon (1760-1858), Francois-Charles Fourier (1772-1837) e Robert Owen (1771-1858). Marx desenvolveu o pioneirismo desses críticos da sociedade burguesa, mas reprova o “utopismo” das suas propostas de mudança social. As três teorias criadas tinham como traço comum o desejo de impor de uma só vez uma transformação social total, implantando, assim, o império da razão e da justiça eterna. Nos três sistemas elaborados havia a eliminação do individualismo, da competição e da influência da propriedade privada. Tratava-se, por isso, de descobrir um sistema novo e perfeito de ordem social, vindo de fora, para implantá-lo na sociedade, por meio da propaganda e, sendo possível, com o exemplo, mediante experiências que servissem de modelo. Com esta formulação, os três desconsideravam a necessidade da luta política entre classes sociais e o papel revolucionário do proletariado na realização desta transição. Finalmente, há toda crítica da obra dos economistas clássicos ingleses, em particular Adam Smith e David Ricardo. Esse trabalho tornou a atenção de Marx até o final de sua vida. Essa trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes como alienação, classes sociais, valor, mercadoria, trabalho, mais-valia, modo de produção. 3.3.1 A ideia de alienação Marx desenvolve o conceito de alienação mostrando que a industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separavam o trabalhador dos meios de produção – ferramentas, matéria-prima, terra e máquina -, que se tornaram propriedade privada do capitalismo. Separava também, ou alienava o trabalhador fruto do seu trabalho, que também é apropriado pelo capitalista. Essa é à base da alienação econômica do homem sob o capital. Politicamente, também o homem tornou-se alienado, pois o princípio da representatividade, base do liberalismo, criou a ideia de Estado com um órgão
  • 42. 42 político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder alegado aos indivíduos. Marx mostrou, entretanto, que na sociedade de classes esse Estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta. Com o desenvolvimento do capitalismo, a filosofia, por sua vez, também passou a criar representações do homem e da sociedade. Diz Marx que a divisão social do trabalho fez com que a filosofia se tornasse a atividade de um determinado grupo. Ela é, portanto, parcial e reflete o pensamento desse grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais – como, por exemplo, o liberalismo – transformou a filosofia em “Filosofia do Estado”. Esse comportamento do filósofo e do cientista em face do poder resultou também na alienação do homem. Uma vez alienado, separado e mutilado, o homem só pode recuperar sua condição humana pela crítica radical ao sistema econômico, à política e à filosofia que o excluíram da participação efetiva na vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, que é a ação política consciente e transformadora. Com base nesse princípio, os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de abordar e explicar a sociedade, mas também um projeto para a ação sobre ela. 3.3.2 - As classes sociais As ideias liberais consideravam os homens, por natureza, iguais politicamente e juridicamente. Liberdade e justiça eram direitos inalienáveis de todo cidadão. Marx, por sua vez, proclama a inexistência de tal igualdade natural e observa que o liberalismo vê os homens como átomos, como se estivessem livres das evidentes desigualdades estabelecidas pela sociedade. Segundo Marx, as desigualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os
  • 43. 43 homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais. As relações entre os homens se caracterizam por relações de oposição, antagonismo, exploração e complementaridade entre classes sociais. Marx identificou relações de exploração da classe dos proprietários – a burguesia – sobre os trabalhadores – o proletariado. Isso porque a posse dom meios de produção, sob forma legal de propriedade privada, faz com que os trabalhadores, a fim de assegurar a sobrevivência, tenham de vender sua força de trabalho ao empresário capitalista, o qual se apropria do produto do trabalho de seus operários. Essas mesmas relações são também de oposição e antagonismo, na medida em que os interesses de classes são inconciliáveis. O capitalista deseja preservar seu direito à propriedade dos meios de produção e dos produtos e à máxima exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros. Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra. Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam vender para assegurar a sua sobrevivência. As classes sociais são, pois, apesar de sua oposição intrínseca, complementares e interdependentes. A história do homem é segundo Marx, a história da luta de classes, da luta Constante entre interesses opostos, embora esses conflitos nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divergências, oposições e antagonismo de classes estão subjacentes a toda relação social, nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da propriedade privada.
  • 44. 44 3.3.3 - Trabalho, valor e lucro O capitalismo vê a força de trabalho, como mercadoria, mas é claro que não se trata de uma mercadoria qualquer. Enquanto os produtos, ao serem usados, simplesmente se desgastam ou desaparece, o uso da força de trabalho significa, ao contrário, criação de valor. Os economistas clássicos ingleses desde Adam Smith, já haviam percebido isso ao reconhecerem o trabalho como a verdadeira fonte de riqueza das sociedades. Marx foi além. Para ele, o trabalho, ao se exercer sobre determinados objetos, provoca nestes uma espécie de “ressurreição”. Tudo o que é criado pelo homem, diz Marx, contém em si um trabalho passado, “morto”, que só pode ser reanimado por outro trabalho. Assim, por exemplo, um pedaço de couro animal curtido, uma faca e fios de linha são, todos, produtos do trabalho humano. Deixados em si mesmos, são coisas mortas; utilizadas para produzir um par de sapatos, renascem como meios de produção e se incorporam um novo produto, uma nova mercadoria, um novo valor. Os economistas ingleses já haviam postulado que o valor das mercadorias dependia do tempo de trabalho gasto na sua produção. Marx acrescentou que este tempo de trabalho se estabelecia em relação às habilidades individuais medias e às condições técnicas vigentes na sociedade. Por isso, dizia que no valor de uma mercadoria era incorporado o tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. De modo geral, as mercadorias resultam da colaboração de várias habilidades profissionais distintas; por isso, seu valor incorpora todos os tempos de trabalho específicos. Por exemplo, o valor de um par de sapatos incluí só o tempo gasto para confeccioná-lo, mas também o dos trabalhadores que curtiram o couro, produziram fios de linha, a máquina de costurar, etc.. O valor de todos esses trabalhos está embutido no preço que a capitalista paga ao adquirir essas matérias-primas e instrumentos, os quais, juntamente com a quantia paga ao título de salário, serão incorporados ao preço do produto.
  • 45. 45 De acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda de mercadorias que se encontram bases estáveis nem para o lucro dos capitalistas nem para a manutenção do sistema capitalista. Ao contrário, a valorização da mercadoria se dá no âmbito de sua produção. 3.3.4 - A mais-valia Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas de trabalho e confeccione um par de sapatos a cada três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua subsistência. Como o capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto. Visualiza-se, portanto, que uma coisa é o valor da força de trabalho, isto é, o salário, e outra é quanto esse trabalho rende ao capitalista. Esse valor excedente produzido pelo funcionário é o que Marx chama de mais-valia. 3.3.5 - A sociologia, o socialismo e o marxismo A teoria marxista teve ampla aceitação teórica e metodológica, assim como política e revolucionária. Já em 1864, em Londres, Karl Marx e Friedrich Engels – companheiro em grande parte de suas obras – estruturaram a Primeira Associação Internacional de Operários, ou Primeira internacional, promovendo a organização e a defesa dos operários em nível internacional. Extinguida em 1873, a difusão das ideias e das propostas marxistas ficou por conta dos sindicatos existentes em diversos países e nos partidos, especialmente os social- democratas. A Segunda Internacional surgiu na época do centenário da Revolução Francesa (1889), quando diversos congressos socialistas tiveram lugar nas principais capitais europeias, com várias tendências, nem sempre conciliáveis. A
  • 46. 46 Primeira Guerra Mundial pôs fim a Segunda Internacional, em 1914. Em 1917, uma revolução inspirada nas ideias marxistas, a Revolução Bolchevique, na Rússia, criava no mundo o primeiro Estado operário. Em 1919, inaugurava-se a Terceira Internacional ou Comité, que, como a primeira, procurava difundir os ideais comunistas e organizar os partidos e a luta dos operários pela tomada do poder. Ela continua atualmente até hoje, enfrentando intensa crise provocada pelo fim da União Soviética e pela expansão mundial do neoliberalismo. A aceitação dos ideais marxistas não se restringe mais apenas à Europa. Difundia-se pelos quatro continentes, à medida que se desenvolvia o capital internacional. À formação do operariado no restante do mundo seguia-se o surgimento de sindicatos e partidos marxistas. Os ideais marxistas se adequavam também perfeitamente à luta pela independência que surgia nas colônias europeias da África e Ásia, após a Primeira e Segunda Guerra Mundial, assim como à luta por soberania e autonomia, existente nos países latino-americanos. Em 1919, surgiram partidos comunistas na América do Norte, na China e no México. Em 1920, no Uruguai; em 1922, no Brasil e no Chile; e, em 1925, em Cuba. O movimento revolucionário tornava-se mais forte à medida que os Estados Unidos e a URSS emergiam como potências mundiais e passavam a disputar sua influência no mundo. Várias revoluções como a chinesa, a cubana, a vietnamita e a coreana instauraram regimes operários que, apesar das suas diferenças, organizavam um sistema político com algumas características comuns – forte centralização e o uso intenso de propaganda ideológica e do culto ao dirigente.
  • 47. 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS O material de apoio intitulado Introdução às cias Socias e Humanas, é um resumo que facilita o estudante na compreensão da mesma ciência por um lado e por outro na compressão de muitos fenómenos e factos da realidade socia e humana propriamente. Foram esmiuçados em três capítulos, o pouco necessário para disciplina em referência. De modo que os estudantes tenha um suporte, das ideias a tratar, cujo desenvolvimento deve-se recorrer as grandes obras de referência a fim de buscar o grande leque de conhecimento necessário, para o enriquecimento do repertório e do acervo bibliográfico. As ciências sociais e humanas é a área do conhecimento que se preocupa a fundo com todas as situações inerentes a vida humana, investiga-los e soluciona-los, para a melhoria da qualidade de vida social das populações. Desde a saúde mental e comunitária, organização social, partidos políticos, organizações das eleições, equilíbrio orçamental, superação da crise económica, criação de postos de empregos para juventude, informação clarividente, investigação de crimes, etc. Portanto, essa área de conhecimento objetiva-se a formação do homem novo, capaz de inverter o quadro daquilo que é socialmente errado, para o socialmente certo. Facilitando deste modo, a vida das populações na sociedade e contribuir cada vez mais, na construção e melhoria de uma sociedade cada vez mais coesa e próspera com igualde de direitos para todos os angolanos.
  • 48. 48 ALGUNS CONCEITOS CHAVES Método: s.m. Maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, segundo certos princípios e em determinada ordem. Conjunto de procedimentos. Empírico: adj. Que se fundamenta na observação e na experiência, seguindo métodos ou não. Antropologia: estuda as diferentes culturas do homem, os diversos grupos sociais, culturais ou étnicos e as transformações ocorridas em função da inte- ração entre os grupos. Ciência política: estuda os sistemas de poder, as instituições e os partidos políticos de um país, o comportamento e as políticas públicas em suas diversas fases (elaboração, implantação e avaliação). Sociologia: Investiga as relações sociais, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das organizações sociais. Microcosmo: s.m. Mundo pequeno, mundo abreviado; miniatura do universo. O próprio homem como expressão do universo. Macrocosmo: s.m. Filosofia. O Universo, em oposição ao homem, considera- do este como um mundo em miniatura, ou microcosmo. Epistemologia: A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a va- lidade do conhecimento, sendo também conhecida como teoria do conhecimento. Infanticídio: Grosso modo se aplica ao assassinato de crianças. Etnocentrismo: é um conceito antropológico que define o que ocorre quando um determinado indivíduo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando- se melhor, seja por causa de sua condição social, pelos diferentes hábitos ou manias, ou até mesmo por uma diferente forma de se vestir. Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita
  • 49. 49 a partir de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro. Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros. Etnografia: é um método clássico que visa realizar a descrição dos significados pertencentes a um determinado grupo. Todo grupo social atribui significados às suas experiências de vida. A etnografia atua enfatizando a exploração da natureza e de um fenômeno social particular; realiza entrevistas em profundidade; inicia observação; analisa o discurso dos informantes; investiga os detalhes de um fato; lança perspectiva microscópica; e por fim interpreta os significados e prá- ticas sociais. A etnografia investiga a realidade de um grupo e o saber gerado a partir do ponto de vista do outro. Essa ferramenta antropológica praticamente inaugurou as aplicações dos métodos na antropologia. Globalização: Define-se pela intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice- versa. (GIDDENS, 2010) Racionalismo: Corrente filosófica que dá prioridade à razão, como elemento de conhecimento. Feudalismo: Modo de produção baseado em relações de servidão. Tem suas origens na decadência do Império Romano. Predominou na Europa durante a chamada Idade Média. Burguesia: Classe social do regime capitalista, cujos membros são os proprietários do capital, ou seja, comerciantes, industria, proprietários de terras, de imóveis, os possuidores de riquezas e dos meios de produção. Positivismo: O termo positivismo, em francês, também significa certo, seguro, o que remete ao privilégio das análises racionais em detrimento das explicações religiosas e metafísicas. Darwinismo social: Por darwinismo social entende-se a transposição das ideias de Darwin, em especial a da sobrevivência dos mais aptos do campo das
  • 50. 50 Ciências Naturais para o das explicações acerca da vida social e da História da Humanidade. Esse conceito é muito usado no contexto da competição entre os indivíduos no capitalismo, mas motivou, de for- ma similar, o racismo, o imperialismo, o nazismo etc. O termo foi popularizado em 1944 pelo historiador americano Richard Hofstadter. Maneiras de agir: As maneiras de agir são formas de agir e pensar coletivas, que determinam o comportamento dos indivíduos, que os obrigam a agir de uma determinada for- ma, mas não têm uma longa duração no tempo, ou seja, são efêmeras e instáveis. Um linchamento seria um bom exemplo desse tipo de fenômeno, se considerar- mos que, na maioria das vezes, os participantes, individualmente, não seriam capazes de praticar tal ato. É o grupo, a coletividade, pela sua capacidade de coerção, que os leva a agir de uma deter- minada maneira em um dado momento. Maneiras de ser: As maneiras de ser também são fenômenos de ordem coletiva que determinam o comportamento dos in- divíduos, mas nesse caso há uma durabilidade no tempo, uma permanência ou estabilidade. Um sistema religioso ou econômico estabelecido pode ser um bom exemplo desse tipo de fato social. Os dogmas de uma religião, que não foram criados por nenhum dos fiéis, se impõem de maneira estável e contínua no tempo, coagindo as pessoas a os aceitarem. Idealismo: O idealismo é uma corrente bastante ampla de filosofia (já havia idealistas na Grécia e na Índia antigas...). Mas, de modo geral, podemos resumi-la como sendo a afirmação de que a realidade, tal como a conhecemos, é construída mentalmente. Em termos sociológicos, o idealismo consiste na alegação de que as ideias humanas, crenças e valo- res, moldam a sociedade. Liberalismo: Liberalismo é uma escola de pensa- mento que abrange Filosofia, Política e Economia, e tem na defesa da liberdade sua principal característica. Entre seus pensadores mais famosos, destacam-se Adam Smith, John Locke, John Stuart Mill e Friedrich Hayek. Materialismo: Materialismo, como veremos logo adiante, refere-se às condições materiais de existência, que, para Marx, era a base de onde deveria
  • 51. 51 partir toda avaliação da vida humana. O conceito de “dialética” é oriundo da filosofia, e foi utilizado de di- ferentes formas por diferentes autores. Para Marx, dialética refere-se sobretudo a uma contradição. Por exemplo: um processo em que algo ocorre (uma tese), gera um efeito contrário (antítese), e do choque de ambos resultará um novo fenômeno (uma síntese). Este movimento conflituoso, no qual “tese” e “antítese” se chocam de modo a dar origem a uma “síntese”, é um movimento dialético. Dessacralizar: Dessacralizar é fazer com que algo não seja mais sagrado; se não é mais sagra- do, é porque virou profano. Empirismo: O conhecimento empírico é derivado de experiências concretas, é resultado de tentativas práticas, de erros e acertos.
  • 52. 52 REFERÊNCIA BUBLIOGRÃFICAS ALEXANDRE, Dissengomoka Sebastião. Psicologia e Personalidade do Homo- Nacionalicus: Uma Nova Ciencia para a Cultura de Paz e Fraternidade Humanas. 1ª edição. Uíge: Dilanel, 2000 GILBERTO, Gnoato et al. Psicologia das Organizações. 1ª edição. Curitiba: IESDE, 2008 MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica. 5ª Edição. São Paulo: Atlas, 2003 MOURA, Solange Ferreira et al. Livro Didático de Fundamentos das Ciencias Sociais. 1ª edição. Rio de Janeiro, Estácio,2014 RODRIGUES, Aroldo et al. Psicologia Social. 28ª edição. Petropólis: Vozes, 2010 SILVA, Elsa e MOINHO, Rosa. Área de Integração: Ensino Técnico Profissional. Ano 1. 1ª edição. Lisboa: Plátano, 2013 SOUSA, Virgínia Blanc de. Atlas básico de Filosofia. 1ª edição. Lisboa: Didática, 2013