A matemática é um produto social. Tal afirmação se justifica ao estudarmos a história da disciplina. É certamente difícil, senão impossível, datar o nascimento das primeiras expressões desse saber – documentos babilônicos e egípcios, ambos de quase dois mil anos antes de Cristo, já versavam sobre aquilo que seria sistematizado no Teorema de Pitágoras, demonstrando a preocupação com o cálculo presente naquelas civilizações. Desenvolvimentos posteriores foram feitos por fenícios, árabes e, mais recentemente, povos da América pré-colombiana. Embora saibamos disso, seria precipitado estabelecer uma data de nascimento para a Matemática. Para além de detalhes específicos, o que importa reter aqui é a relação entre a disciplina e as necessidades da sociedade. Todos os povos acima têm em comum a ênfase no comércio e, por conseguinte, a necessidade de calcular o excedente do produto social que seria mercantilizado e/ou armazenado. Aqui percebemos claramente quão importante é a Matemática para civilizações complexas, como a nossa. A relação íntima entre matemática e a vida em sociedade se evidencia com a aurora da época que nomeamos Moderna, ali pelos séculos XIV e XV depois de Cristo. O Renascimento, expressão da transição da Idade Média para aquele período, traz consigo uma nova forma de pensar: o racionalismo, largamente sustentado pela lógica matemática. Os fatos da natureza e da sociedade já não eram somente explicados como desejo divino, cada vez mais necessitando de demonstrações típicas da nossa disciplina. Essa transformação no campo do pensamento permitiu o desenvolvimento científico e o maior controle da natureza pelo homem, tornando nossa existência relativamente mais fácil e confortável. Já nos tempos do capitalismo, a Matemática é afirmada como a mãe das ciências, linguagem pretensamente universal. É compreensível. Em mundo pautado pela lógica da racionalidade do lucro, o cálculo ganha lugar especial no panteão dos saberes. Base de uma certa economia, a Matemática se torna um código que justifica inclusive projetos de políticas públicas como os que vemos atualmente serem anunciados pelo governo. Desnecessário dizer que, para o bem ou para o mal, tais medidas impactam a vida de todos nós. Por isso insistimos aqui na importância desse saber para a História dos homens e das mulheres. Não apenas por sua instrumentalidade, que fique claro, mas também por sua lógica permitir um olhar renovado sobre a natureza e as relações sociais. Saber Matemática é importante mesmo se você não for “das exatas”. É fundamental para entender a nossa vida.