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Globalização<br />A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração económica, social, cultural, política, que teria sido impulsionada pelo bar ateamento dos meios de transporte e comunicação dos países do mundo no final do século XX e início do século XXI. É um fenómeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. O processo de Globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos económicos, sociais, culturais e políticos. Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, onde é possível realizar transacções financeiras, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado de actuação para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital financeiro, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se como consequência o aumento acirrado da concorrência.<br />A noção de rede tem se constituído em conceito-chave para a compreensão das dinâmicas sociais contemporâneas, ocupando cada vez mais espaço nas investigações académicas e articulando diferentes campos do saber. A despeito da dinamização que o tema vem experimentando, aqueles que se interessam por essa temática, e a integram em suas pesquisas, reconhecem que ainda há muito o que problematizar acerca da constituição/produção das redes, sua dinâmica, suas formas de expressão, o papel destacado que têm desempenhado na circulação da informação e do conhecimento, além da necessidade de se investir em metodologias que possam apreender a complexidade de tais dinâmicas e, no limite, contribuir para o seu favorecimento em termos de modalidades mais colaborativas de interacção.<br />No âmbito de tal compreensão, são inegáveis as transformações operadas pelas ciências e tecnologias, cuja presença crescente nas mais diferentes esferas do conhecimento e da vida tem propiciado novas formas de cognição, de interacção, de acção social, de activismo político, de geração e difusão do conhecimento. Segundo uma concepção de redes, ciência, tecnologia e sociedade interpenetram-se, estabelecendo relações complexas e heterogéneas, possibilitando que se coloquem em questão os determinismos que, muitas vezes, subjazem nos estudos. Não se trata, como se costuma tradicionalmente pensar, de “ligar” ciência e tecnologia à sociedade, segundo uma perspectiva que compreende estes campos como pólos apartados que necessitam estabelecer conexões entre si. Recorrendo a autores no âmbito da sociologia das ciências e das técnicas, ousaríamos afirmar que nossa sociedade se tece com a ciência e a tecnologia, configurando um quadro em que ciência é sociedade, tecnologia é sociedade (BENAKOUCHE, 2005). Esta perspectiva encontra ressonância, sobretudo nos trabalhos de Bruno Latour que, se valendo da metáfora do sistema circulatório e do fluxo sanguíneo para caracterizar as redes científicas,<br /> Doutora em Comunicação e Cultura, Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação e<br />Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – EICOS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Contacto: Instituto de Psicologia, Av. Pasteur, 250, Pavilhão Nilton Campos, telefone 21 3873-5348, e-mail:<br />rosapedro@globo.com<br />Liinc em Revista, v.4, n.1, Março 2008, Rio de Janeiro, p.1-5 http://www.ibict.br/liinc<br />2 afirma que “a noção de uma ciência isolada de resto da sociedade se tornará tão absurda quanto a idéia de um sistema arterial desconectado do sistema venoso” (LATOUR, 2001, p. 97). É isto que permite a Latour afirmar que um conceito não se torna científico por estar distanciado do restante daquilo que ele envolve, mas porque se liga cada vez mais estreitamente a um repertório bem maior de recursos, tecendo e atravessando a trama social.<br />De forma análoga, Latour afirma não ser possível conceber qualquer sociedade sem uma atenção<br />ao trabalho de mediação, posto em cena pelos objetos técnicos (LATOUR, 1994), argumento que<br />também é defendido por Michel Callon, ao sustentar que<br />Nossas sociedades devem sua robustez e sua durabilidade tanto às coisas<br />e aos objetos, tanto às técnicas e às máquinas, quanto às normas e aos<br />valores. O que nos sustenta são nossos automóveis, nossas redes de<br />telefone. E se nos sustentam é porque nós estamos apegados a eles. E se<br />estamos apegados a eles é porque, de uma maneira ou de outra, fomos<br />implicados em sua fabricação (CALLON, 2004, p. 72).<br />Nesse sentido, pensar a ciência e a tecnologia não requer o abandono do mundo, para ingressar<br />em um universo especializado, numa espécie de “salto mortale para fora do discurso e da<br />sociedade(...)” (LATOUR, 2001, p. 115). Trata-se de perscrutar o enredamento que articula<br />ciência-tecnologia-sociedade, desde o modo como esta articulação permeia nossa vida mais<br />cotidiana, passando pelas ressonâncias em termos das novas sociabilidades e competências que<br />favorece, e ainda problematizando a dissolução de fronteiras que este enredamento produz em<br />nós mesmos.<br />Pensar as redes implica também pensar com a rede. Dito de outro modo, para além de investigar<br />as articulações que uma perspectiva de redes permite vislumbrar – tomando, neste caso, a rede<br />como uma espécie de modelo ou ponto de vista diferenciado sobre um determinado objeto; ou,<br />ainda, explorar as formas diferenciadas de interação que as novas redes sociotécnicas têm<br />propiciado – como nos casos das redes sociais, das redes acadêmicas, das novas formas de<br />ativismo; parece decisivo explorar conceitos e metodologias que têm emergido na atualidade<br />para dar conta da complexidade requerida por um “pensar em rede”. Essas metodologias –<br />muitas delas ainda pouco difundidas – apresentam um potencial importante em termos de suas<br />ressonâncias com a dinâmica própria das redes1.<br />Vale fazer referência ainda à potência ontológica das redes (MOL, 2007; LAW; URRY, 2002),<br />isto é, à sua capacidade de produzir realidade. Ou seja, quando dizemos, costumeiramente, que o<br />mundo contemporâneo é “um mundo em rede” (ou uma rede de redes) e precisamos de um<br />modelo capaz de apreendê-lo, deixamos de atentar para o poder que cada formulação teórica e/ou<br />metodológica tem de reforçar esse modelo. Dito de forma simples, nós não apenas apreendemos<br />as conexões, nós também as modelamos. Ao nosso ceticismo em relação à neutralidade em<br />pesquisa, vem agora se associar o reconhecimento de que a atividade científica é<br />simultaneamente epistemologia, política e ética. Sem isso, “corremos o risco de deixar fora do<br />campo de problematização os nossos próprios movimentos, enquanto cientistas e pesquisadores,<br />na rede” (PEDRO, 2003, p. 46).<br />Antes de entender como os países se adaptaram ao processo de globalização, faz-se necessário definir globalização. Não há consenso sobre um conceito fechado do que seja a globalização e sua origem. Pode-se analisar os fatos que colaboraram para o seu desenvolvimento e discutir conceitos defendidos por alguns autores. Há uma grande discussão que defende que a globalização teve seu início e começou a desenvolver-se de fato, com a empreitada europeia em direcção aos outros continentes. Outros defendem que começou ainda antes com a expansão do império romano por Alexandre, o Grande. O Autor Thomas L. Friedman no livro Os Lexos da Oliveira, denomina a globalização como uma vertente da fragmentação da política, que teve seu auge a partir do ano de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, até 1989, com a queda do muro de Berlim, o que simbolizou o insucesso do Socialismo. O processo de finalização da política bipolar ocorreu em função do final da Segunda Guerra Mundial, que teve seu desenvolvimento baseado em argumentos ideológicos onde havia apenas “um inimigo” a quem se opor. Dessa maneira, a política externa mundial era baseada em princípios e disputas estabelecidas pelos países líderes dos divergentes sistemas económicos vigentes naquele momento. A popularização do termo globalização ocorreu em meados de 1980, e rapidamente passou a ser associado aos aspectos financeiros inerentes a esse processo. Dessa forma, o processo de globalização passou a ser considerado como uma constante no mundo moderno. Há que ressaltar que esse fenómeno não se restringe apenas às transacções comerciais e termos económicos, mesmo sendo esses aspectos os principais focos do processo de globalização. Porém, é fato que, além das relações económicas, esse processo envolve as demais áreas que integram as sociedades, como o âmbito cultural, social e político. A globalização é um fenómeno amplamente debatido, porém a compreensão das entradas que esse processo oferece às sociedades não pode ser definida, interpretada ou compreendida sem uma profunda reflexão, uma vez que, de acordo com David Held e Antony McGrew: “Não existe uma definição única e universalmente aceita para a globalização. Como acontece com todos os conceitos nucleares das ciências, seu sentido exacto é contestável. A globalização tem sido (quando os altos dos agentes sociais de um lugar podem ter consequências significativas para “terceiros distantes”; como compreensão espaço temporal (numa referencia ao modo como a comunicação instantânea vem desgastando as limitações da distância e do tempo na organização e na interacção social); como interdependência acelerada entendida como a intensificação do entrelaçamento entre economias e sociedades nacionais, de tal modo que os acontecimentos de um país têm impacto directo em outros; como um mundo em processo de encolhimento (erosão das fronteiras e das barreiras geográficas a actividade socioeconómica); e, entre outros conceitos, como integração global, reordenação das relações de poder inter-regionais, consciência da situação global e intensificação da interligação inter-regional.”* A globalização caracteriza-se por um processo de integração global que induz ao crescimento da interdependência entre as nações, objectivando um claro entendimento quanto aos princípios desse processo, concordando com a perspectiva de David Held e Anthony McGrew, para uma clara compreensão o seguinte conceito de globalização será adoptado: “É o conjunto de transformações na ordem política e económica mundial que vem acontecendo nas últimas décadas. O ponto de mudanças é a integração dos mercados numa “aldeia-global”, explorada pelas grandes corporações internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras tarifárias para proteger sua produção da concorrência dos produtos estrangeiros e abrem-se ao comércio e ao capital internacional.Esse processo tem sido acompanhado de umaintensa revolução nas tecnologias de informação — telefones, computadores e televisão. As fontes de informação também se uniformizam devido ao alcance mundial e à crescente popularização dos canais de televisão por assinatura e da internet. Isso faz com que os desdobramentos da globalização ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar uma certa homogeneização cultural entre os países.” * Uma das nítidas consequências do processo de globalização foi o impulso dado a uma transformação nos padrões de interligação mundial, dessa maneira:·“O conceito de globalização denota muito mais do que a ampliação de relações e actividades sociais atravessando regiões e fronteiras. E que ele sugere uma magnitude ou intensidade crescente de fluxos globais, de tal monta que Estados e sociedades ficam cada vez mais enredados em sistemas mundiais e redes de interacção. Em consequência disso, ocorrências e fenómenos distantes podem passar a ter sérios impactos internos, enquanto os acontecimentos locais podem gerar repercussões globais de peso. Em outras palavras, a globalização representa uma mudança significativa no alcance espacial da acção e da organização social, que passa para uma escala inter-regional ou intercontinental.”* Esse fenómeno proporciona maior visibilidade à política interna dos países em um cenário global, com maior velocidade na interacção social, passando os acontecimentos a ter um impacto não apenas local, mas mundial em um efeito imediato. De acordo com Nestor Garcia Canclini “a globalização denota a escala crescente, a magnitude progressiva, a aceleração e o aprofundamento do impacto dos fluxos e padrões inter-regionais de interacção social.” *A partir disso todas, as esferas da sociedade passam a sofrer influências oriundas desse processo, integrando aspectos que não possuía na sua génese. Citação do citado autor.<br />
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Com isso, gerando a fase da expansão capitalista, onde é possível realizar transacções financeiras, expandir seu negócio até então restrito ao seu mercado de actuação para mercados distantes e emergentes, sem necessariamente um investimento alto de capital financeiro, pois a comunicação no mundo globalizado permite tal expansão, porém, obtêm-se como consequência o aumento acirrado da concorrência.<br />A noção de rede tem se constituído em conceito-chave para a compreensão das dinâmicas sociais contemporâneas, ocupando cada vez mais espaço nas investigações académicas e articulando diferentes campos do saber. A despeito da dinamização que o tema vem experimentando, aqueles que se interessam por essa temática, e a integram em suas pesquisas, reconhecem que ainda há muito o que problematizar acerca da constituição/produção das redes, sua dinâmica, suas formas de expressão, o papel destacado que têm desempenhado na circulação da informação e do conhecimento, além da necessidade de se investir em metodologias que possam apreender a complexidade de tais dinâmicas e, no limite, contribuir para o seu favorecimento em termos de modalidades mais colaborativas de interacção.<br />No âmbito de tal compreensão, são inegáveis as transformações operadas pelas ciências e tecnologias, cuja presença crescente nas mais diferentes esferas do conhecimento e da vida tem propiciado novas formas de cognição, de interacção, de acção social, de activismo político, de geração e difusão do conhecimento. Segundo uma concepção de redes, ciência, tecnologia e sociedade interpenetram-se, estabelecendo relações complexas e heterogéneas, possibilitando que se coloquem em questão os determinismos que, muitas vezes, subjazem nos estudos. Não se trata, como se costuma tradicionalmente pensar, de “ligar” ciência e tecnologia à sociedade, segundo uma perspectiva que compreende estes campos como pólos apartados que necessitam estabelecer conexões entre si. Recorrendo a autores no âmbito da sociologia das ciências e das técnicas, ousaríamos afirmar que nossa sociedade se tece com a ciência e a tecnologia, configurando um quadro em que ciência é sociedade, tecnologia é sociedade (BENAKOUCHE, 2005). Esta perspectiva encontra ressonância, sobretudo nos trabalhos de Bruno Latour que, se valendo da metáfora do sistema circulatório e do fluxo sanguíneo para caracterizar as redes científicas,<br /> Doutora em Comunicação e Cultura, Professora e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação e<br />Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social – EICOS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Contacto: Instituto de Psicologia, Av. Pasteur, 250, Pavilhão Nilton Campos, telefone 21 3873-5348, e-mail:<br />rosapedro@globo.com<br />Liinc em Revista, v.4, n.1, Março 2008, Rio de Janeiro, p.1-5 http://www.ibict.br/liinc<br />2 afirma que “a noção de uma ciência isolada de resto da sociedade se tornará tão absurda quanto a idéia de um sistema arterial desconectado do sistema venoso” (LATOUR, 2001, p. 97). É isto que permite a Latour afirmar que um conceito não se torna científico por estar distanciado do restante daquilo que ele envolve, mas porque se liga cada vez mais estreitamente a um repertório bem maior de recursos, tecendo e atravessando a trama social.<br />De forma análoga, Latour afirma não ser possível conceber qualquer sociedade sem uma atenção<br />ao trabalho de mediação, posto em cena pelos objetos técnicos (LATOUR, 1994), argumento que<br />também é defendido por Michel Callon, ao sustentar que<br />Nossas sociedades devem sua robustez e sua durabilidade tanto às coisas<br />e aos objetos, tanto às técnicas e às máquinas, quanto às normas e aos<br />valores. O que nos sustenta são nossos automóveis, nossas redes de<br />telefone. E se nos sustentam é porque nós estamos apegados a eles. 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Dito de outro modo, para além de investigar<br />as articulações que uma perspectiva de redes permite vislumbrar – tomando, neste caso, a rede<br />como uma espécie de modelo ou ponto de vista diferenciado sobre um determinado objeto; ou,<br />ainda, explorar as formas diferenciadas de interação que as novas redes sociotécnicas têm<br />propiciado – como nos casos das redes sociais, das redes acadêmicas, das novas formas de<br />ativismo; parece decisivo explorar conceitos e metodologias que têm emergido na atualidade<br />para dar conta da complexidade requerida por um “pensar em rede”. Essas metodologias –<br />muitas delas ainda pouco difundidas – apresentam um potencial importante em termos de suas<br />ressonâncias com a dinâmica própria das redes1.<br />Vale fazer referência ainda à potência ontológica das redes (MOL, 2007; LAW; URRY, 2002),<br />isto é, à sua capacidade de produzir realidade. Ou seja, quando dizemos, costumeiramente, que o<br />mundo contemporâneo é “um mundo em rede” (ou uma rede de redes) e precisamos de um<br />modelo capaz de apreendê-lo, deixamos de atentar para o poder que cada formulação teórica e/ou<br />metodológica tem de reforçar esse modelo. Dito de forma simples, nós não apenas apreendemos<br />as conexões, nós também as modelamos. Ao nosso ceticismo em relação à neutralidade em<br />pesquisa, vem agora se associar o reconhecimento de que a atividade científica é<br />simultaneamente epistemologia, política e ética. Sem isso, “corremos o risco de deixar fora do<br />campo de problematização os nossos próprios movimentos, enquanto cientistas e pesquisadores,<br />na rede” (PEDRO, 2003, p. 46).<br />Antes de entender como os países se adaptaram ao processo de globalização, faz-se necessário definir globalização. Não há consenso sobre um conceito fechado do que seja a globalização e sua origem. Pode-se analisar os fatos que colaboraram para o seu desenvolvimento e discutir conceitos defendidos por alguns autores. Há uma grande discussão que defende que a globalização teve seu início e começou a desenvolver-se de fato, com a empreitada europeia em direcção aos outros continentes. Outros defendem que começou ainda antes com a expansão do império romano por Alexandre, o Grande. O Autor Thomas L. Friedman no livro Os Lexos da Oliveira, denomina a globalização como uma vertente da fragmentação da política, que teve seu auge a partir do ano de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial, até 1989, com a queda do muro de Berlim, o que simbolizou o insucesso do Socialismo. O processo de finalização da política bipolar ocorreu em função do final da Segunda Guerra Mundial, que teve seu desenvolvimento baseado em argumentos ideológicos onde havia apenas “um inimigo” a quem se opor. Dessa maneira, a política externa mundial era baseada em princípios e disputas estabelecidas pelos países líderes dos divergentes sistemas económicos vigentes naquele momento. A popularização do termo globalização ocorreu em meados de 1980, e rapidamente passou a ser associado aos aspectos financeiros inerentes a esse processo. Dessa forma, o processo de globalização passou a ser considerado como uma constante no mundo moderno. Há que ressaltar que esse fenómeno não se restringe apenas às transacções comerciais e termos económicos, mesmo sendo esses aspectos os principais focos do processo de globalização. Porém, é fato que, além das relações económicas, esse processo envolve as demais áreas que integram as sociedades, como o âmbito cultural, social e político. 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Em outras palavras, a globalização representa uma mudança significativa no alcance espacial da acção e da organização social, que passa para uma escala inter-regional ou intercontinental.”* Esse fenómeno proporciona maior visibilidade à política interna dos países em um cenário global, com maior velocidade na interacção social, passando os acontecimentos a ter um impacto não apenas local, mas mundial em um efeito imediato. De acordo com Nestor Garcia Canclini “a globalização denota a escala crescente, a magnitude progressiva, a aceleração e o aprofundamento do impacto dos fluxos e padrões inter-regionais de interacção social.” *A partir disso todas, as esferas da sociedade passam a sofrer influências oriundas desse processo, integrando aspectos que não possuía na sua génese. Citação do citado autor.<br />