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I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia
GT 01 – Expressões Culturais e Identidades na Amazônia Contemporânea
Artesão de Miriti, Habitué dos sonhos: Praxeologia do processo de criação dos
Brinquedos de Miriti de Abaetetuba, Pará
Resumo
Este trabalho analisa práticas sociais que permitem o desenvolvimento, a preservação e o
repasse de saberes dos artesãos que criam os chamados Brinquedos de Miriti em Abaetetuba,
e que contribuem para definir o processo criativo por eles adotado. Utiliza-se da abordagem
do Campo Social em conjunto com contribuições do estudo dos ajuntamentos e das
interações, sob restrição de dados coletados durante entrevistas e observações diretas, e
conclui que a definição desse ofício é feita por meio dos esquemas estruturadores que são
próprios a esse grupo de artesãos sem necessidade de realização de cálculos inconscientes ou
de obediência a regras explícitas.
Palavras-chave: Práticas sociais. Brinquedos de Miriti. Processo criativo.
Abstract
This study examines social practices that enable the development, preservation and transfer
of the knowledge of the artisans that create the so-called Miriti Toys in Abaetetuba, and that
contribute to defining the creative process adopted by them. Using the approach of Social-
field together with contributions from the study of gatherings and interactions under
restriction data collected during interviews and direct observations, and concludes that the
definition of this craft is made by means of structuring schemas that are proper to this group
of craftsmen without the need to perform calculations or unconscious obedience to explicit
rules.
Keywords: Social practices. Miriti Toys. Creative process.
Introdução
O uso de recursos florestais em atividades socioeconômicas e culturais é
considerado uma das características básicas da humanidade. Entre tais atividades pode-se
citar o artesanato, e dentre os recursos utilizados, a palmeira conhecida popularmente como
miriti (Mauritia flexuosa L.f.) ocupa posição de destaque em diversas localidades, sendo
material de múltiplo uso em que todas suas partes são aproveitadas pelo gênio humano
mediante a aplicação de técnicas variadas, o que permite considerá-la uma palmeira
sociocultural que também possui importância econômica.
Presente em todos os estados da Amazônia Legal e considerada a palmeira mais
abundante do Brasil, destacam-se dentre os usos atuais e potenciais do miriti sua utilização na
ISSN 2359-5353 155
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alimentação por meio do fruto in natura ou sob a forma de doces, tortas, bolos, mingau, etc.
(BARROS; SILVA, 2013); a produção de bebidas fermentadas e não fermentadas; o uso
complementar na construção de pontes e de habitações (paredes e telhados); seu
aproveitamento como matéria-prima para produção de papel (FUNDAÇÃO CURRO
VELHO, 2006); a produção de biocombustível a partir de seu fruto (PESCE, 2009); o uso
como planta ornamental próximo a cursos d’água de parques e jardins (HOYOS; BRAUN,
2001); a produção de cestarias regionais (artefatos trançados de fibra); e a produção de
bijuterias, dentre tantos outros.
Em Abaetetuba, município localizado na mesorregião Nordeste do Estado do Pará,
apesar da palmeira também ser aplicada em muitos dos usos citados e de ser forte sua
presença na vida de seus habitantes, sobretudo os que vivem na região composta por cerca de
70 ilhas pertencentes ao município, há uma distinção em relação aos demais casos citados: o
uso da parte interna do pecíolo, conhecida como bucha do miriti, na produção de um tipo de
artesanato próprio do município, os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba, não identificado em
nenhuma outra localidade em que a palmeira é amplamente utilizada, o que permite que
Abaetetuba, que já fora chamada de “Terra da Cachaça”, hoje seja denominada como a
“Capital Mundial dos Brinquedos de Miriti”.
Os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba são um tipo de artesanato-artístico, ou seja,
um tipo de artesanato que realiza um encontro entre uma técnica e uma intuição, situando-se
na zona fronteiriça entre a arte e a criação extra-artística, no qual a função estética é muito
mais visível e, ipso facto, o que é mais valorizado é sua aparência formal, que é expressa em
sua forma, em suas cores, em seu conjunto expressivo e em sua originalidade (LOUREIRO,
2012).
Por isso este trabalho apresenta uma análise das práticas sociais dos homens e
mulheres que criam os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba – doravante denominados como
artesãos de miriti – que permitem o desenvolvimento, a preservação e o repasse de seus
saberes, e que contribuem para definir o processo criativo que adotam dentro de um campo de
relações estruturado por diferentes agentes sociais (institucionais e individuais) que nele
ocupam posições distintas. Como processo criativo, por sua vez, considera-se aquele que é
mais amplo que a descrição das técnicas empregadas, englobando ademais dessas técnicas
todo o recurso às memórias acumuladas, às experiências vividas e aos sonhos e devaneios
que o artesão de miriti realiza para criar suas peças, e todos os significantes que a atividade
possui enquanto prazer em exercê-la e comercializar seus resultados.
ISSN 2359-5353 156
I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia
Procedimentos teórios-metodológicos
Abordagem teórica
Metodologia, enquanto estudo dos caminhos e dos instrumentos utilizados para se
fazer ciência, é o instrumental básico para que o pesquisador racionalize e aperfeiçoe seus
esforços e garanta as melhores posturas críticas e propositivas no momento da realização da
atividade que lhe confere identidade. Assim como Feyerabend (2007) defendera, a ciência
não se constitui como uma entidade única, coerente e uniforme, o que permite a adoção de
múltiplas abordagens para se aproximar de um entendimento da realidade, evitando-se
abordagens totalizantes.
Dessa forma, realiza-se aqui uma intersecção teórico-metodológica que tem como
referência a abordagem do Campo Social em que os conceitos de campo de relações e de
habitus são categorias importantes (BOURDIEU, 2013, 2004), com abordagens empíricas e
metodológicas do estudo das culturas populares e da relação destas com o modo de produção
vigente (GARCÍA CANCLINI, 1983) e, como contraponto, o uso do estudo dos
ajuntamentos e das interações (GOFFMAN, 2010).
Pautada na constatação de que o entendimento dos Brinquedos de Miriti enquanto
artesanato requer mais do que descrições do desenho e das técnicas de produção que os
caracterizam, sendo necessário o estudo das práticas sociais de quem o cria e o vende e de
quem o observa ou o compra (GARCÍA CANCLINI, 1983), evidenciadas pelo processo
contínuo de mudança em que se desenvolvem e que tem sua gênese em um conjunto de
influências diretas de natureza complexa, essa abordagem permite estabelecer como foco a
ação social, e seus princípios geradores, dos produtores desse tipo de cultura popular, que
normalmente são deixados em segundo plano nas abordagens mais frequentes, que enquanto
preferem o destaque ao estudo desses bens simbólicos, preterem seus criadores.
Assim, inicialmente são descritas as bases empíricas do objeto de estudo, partindo-se
de conclusões sobre o problema das relações que as culturas populares possuem com o
desenvolvimento capitalista (GARCÍA CANCLINI, 1983) e restabelecendo-se a importância
de se considerar a existência de indivíduos, de ações e de interações dentro do escopo destas
manifestações culturais, situando-as no atual processo pretensamente denominado de
desenvolvimento sem desmembrá-la do social e do econômico.
A noção de campo social, microcosmo que obedece a leis sociais mais ou menos
específicas e dispõe de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada em relação ao
macrocosmo social (BOURDIEU, 2004), destaca o problema de identificar a natureza das
ISSN 2359-5353 157
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pressões externas sobre o campo, enquanto o estudo do conjunto de princípios geradores e
estruturadores de práticas e de representações próprio de um grupo de agentes sociais
(BOURDIEU, 1983), denominado de habitus, permite entender as ações que os agentes
realizam para sua manutenção e reprodução no campo e o grau de capacidade que possuem
de refratar, retraduzir e transfigurar a seu benefício as pressões ou demandas externas de
modo a definir o repasse de seus saberes e seus processos criativos mais em função de suas
determinações internas.
Como contraponto, o uso da análise situacional para o estudo de interações permite a
realização da descrição minuciosa dos momentos de copresença e, ao analisar os lugares de
ajuntamento de atores sociais, propicia o entendimento dos juízos formados pelo grupo social
e a descrição de situações uteis para a compreensão dos processos afetivos, sensíveis e morais
que ressonam durante o desenvolvimento do processo criativo (CEFAÏ; VEIGA; MOTA,
2011; GOFFMAN, 2010).
Coleta e análise dos dados
Após a apresentação da abordagem metodológica adotada, é importante a
apresentação das técnicas de pesquisa utilizadas para a coleta e a análise de dados,
direcionadas de forma descritiva, objetivando identificar características do fenômeno
estudado e estabelecer relações entre variáveis.
Este estudo foi realizado no município de Abaetetuba, pertencente à mesorregião do
Nordeste paraense e à microrregião de Cametá (IDESP, 2012). Com população estimada em
aproximadamente 147.000 habitantes (IBGE, 2014), suas principais atividades econômicas
são a agricultura, o extrativismo (principalmente de frutos de açaí e miriti, e palmito de açaí),
a extração de madeira e a atividade pecuária (IDESP, 2012).
O universo considerado na pesquisa foi composto pelos artesãos do município de
Abaetetuba e das aproximadamente 70 ilhas pertencentes ao município, que trabalham com a
fibra de miriti. A amostra foi composta pelos artesãos que, dentro do universo considerado,
criam como principal artefato os Brinquedos de Miriti, utilizando, para isso, a polpa retirada
do pecíolo da folha ainda verde, e foi selecionada mediante critérios de expressividade e
representatividade no interior da população foco do estudo (GIL, 2011; THIOLLENT, 1987).
Precedidos por uma pesquisa bibliográfica, foram realizados trabalhos de campo em
que se aplicou inicialmente a técnica de entrevista não-diretiva ou aprofundada, que consistiu
na definição de um tema-chave a partir do qual os interlocutores selecionados falaram sem
ISSN 2359-5353 158
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responderem a perguntas predeterminadas, seguida da realização de entrevistas diretivas –
tipo de entrevista em que o pesquisador comunica oralmente a cada interlocutor as mesmas
perguntas, que podem ser fechadas, livres ou de múltipla escolha, e anota as respostas dadas
imediatamente (THIOLLENT, 1987) –, com um grupo maior de indivíduos selecionados com
base no critério de amostragem anteriormente apresentado, e da observação direta de
variáveis determinadas como importantes de serem acompanhadas.
Discussão
As relações sociais que ocorrem no interior de uma atividade artístico-cultural
específica e que contribuem para defini-la são importantes de serem estudadas por permitirem
o entendimento de que a cultura também se movimenta no que é visto somente como
socioeconômico e que práticas consideradas culturais também exercem funções econômicas e
sociais. A discussão desenvolvida neste trabalho descreve os artesãos de miriti, suas práticas,
pensamentos e maneira de encarar a realidade para, a partir de então, consolidar análises
sobre a dinâmica de seus saberes, sobre a reprodução do capital cultural específico à
atividade que desenvolvem, sobre o processo de assimilação do habitus do grupo e sobre a
definição do processo criativo que adotam.
Os artesãos de miriti ocupam a centralidade do modelo teórico-metodológico
desenvolvido e a discussão travada está relacionada ao seu modo de vida e o ethos que o
permeia, e aos seus saberes e fazeres, objetivando apreender quem são, como vivem e o que
fazem, para, a partir desse entendimento, alcançar as relações que contribuem para ditar quem
eles devem ser e, em última instância, a forma pela qual devem criar e se associar e organizar
como grupo. Estes agentes criam geralmente integrados com a família e pessoas da
vizinhança, esculpindo no miriti formas simples que recriam suas experiências vividas, o
mundo que lhes cerca e seus sonhos, com ciência e destreza no manuseio das ferramentas
cortantes que utilizam e íntimo conhecimento da matéria frágil que é o miriti (LOUREIRO,
2012; SILVEIRA, 2012; LEITE, 2009).
No início do processo criativo, o artesão aciona memórias acumuladas e
experiências vividas para traduzir, a partir do seu olhar, o universo amazônico que vivencia
(SILVEIRA, 2012), recriando sua realidade sem buscar uma cópia fiel, mas produzindo
objetos e figuras que resultam de uma simplificação de traços, com manutenção dos
essenciais significantes, e que intermedeiam relações entre uma subjetividade e outra
ISSN 2359-5353 159
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(LOUREIRO, 2012). Referenciada na vida cotidiana e laboral da população da qual os
artesãos de miriti fazem parte, toda inspiração provém do que se compartilha com os demais.
Apesar de estarem inseridos no processo de urbanização e globalização em curso,
que faz com que, por conta das tensões e conflitos inerentes ao próprio campo social, oscilem
entre uma lógica e outra, os artesãos de miriti são caracterizados por pensamentos,
percepções e ações próprios dos esquemas interiorizados pelo ribeirinho amazônida, o que
lhes permite, por exemplo, uma maneira distinta de tratar a criança, que é integrada na vida e
nas atividades que exercem por meio de um processo próprio de aprendizagem do mundo.
Por meio desse processo as crianças auxiliam seus pais-artesãos na separação do
material adequado e acompanham com o olhar a realização dos cortes, entalhes e pintura, às
vezes ajudando na arrumação das peças ou elaborando suas primeiras peças para serem
utilizadas em seus jogos, iniciando-se na aprendizagem desse ofício e na reprodução cultural,
moral e intelectual dos arbítrios próprios do grupo. Neste contexto, o trabalho infantil não
possui o caráter aviltante que comumente se lhe associa, sendo mecanismo de inserção das
crianças nos costumes e tradições da comunidade da qual fazem parte e uma forma de
assimilação de habitus e de reprodução de um capital cultural específico.
Além de todas as experiências passadas que integram o habitus dos artesãos de
miriti, empregado como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações, ainda se
destaca neles uma forte Fé, que se expressa no dia a dia e tem como ponto alto a chegada a
Belém, capital do Pará, durante a festa do Círio de Nazaré. O Brinquedo de Miriti é elaborado
manualmente para o público restrito e não orientado, mas sua produção recebe motivações
específicas na época do Círio de Nazaré (LOUREIRO, 2012), estando integrado na estrutura
extralitúrgica dessa festa, compartindo com a Santa na berlinda, símbolo da Fé, e a Corda
atada à berlinda, símbolo da Devoção, a condição de um de seus signos fundamentais, sendo
o símbolo artístico-cultural da festa.
No entanto, os artesãos de miriti não vivem desprendidos dos processos de
transformação acelerada que a própria região vivencia. E talvez como resposta às pressões
exercidas por turistas e outros tipos de consumidores, por lojas de artesanato, por produtores
culturais, por instituições de fomento ao empreendedorismo e por órgãos culturais e de gestão
e planejamento turístico, por exemplo, ampliam as formas de artesanato que criam e
modificam suas maneiras de criar e comercializar sem mudarem, contudo, o princípio gerador
de suas práticas e, por isso, conseguem manter-se e reproduzir-se no campo em que se
relacionam.
ISSN 2359-5353 160
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Considerações finais
As discussões desenvolvidas neste trabalho estão voltadas para o fomento de uma
narrativa que parte da valorização e do reconhecimento das práticas que surgem dentro de
uma cultura de saberes sobre recursos da natureza que, apesar de acionar em alguns
momentos uma linguagem técnica, busca direcionar-se para uma linguagem de saberes e de
princípios que regem estas práticas sociais e culturais desenvolvidas pelos artesãos que criam
os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba. Há, dessa forma, um movimento de deslocamento da
análise prioritária dos bens culturais criados para os agentes que os criam, uma vez que tais
bens só são possíveis por intermédio destes. As considerações desenvolvidas permitem
afirmar que a dinâmica de transmissão e manutenção de saberes e o processo criativo dos
artesãos de miriti, que varia de acordo com a peça a ser criada e de acordo com o artesão,
com as demais pessoas que comporão esse núcleo criativo e com as relações sociais que
ocorrerão nesse ajuntamento que invariavelmente a criação dos Brinquedos de Miriti
constitui, é definida mais em função das práticas próprias do modo de vida e dos saberes e
fazeres destes agentes do que pelas intervenções e imposições dos agentes responsáveis pelo
controle mercadológico e pelas políticas públicas nesse campo social que se opta por
denominar de Campo de Relações no Artesanato de Miriti em Abaetetuba.
Não há possibilidade de desvincular esse processo criativo desenvolvido pelos
artesãos de miriti que permite a existência desse tipo singular de artesanato em Abaetetuba da
categoria trabalho, e, não obstante, tal processo é a demonstração de que o trabalho, enquanto
categoria-base para o estudo da sociedade e das expressões culturais panamazônicas, é
perfeitamente passível de ter dimensões que não somente aquela dimensão desvirtuada que o
vincula a emprego, a renda e a salário, maneira pela qual essa prática tão própria dos homens
e das mulheres entrou no sistema de mercado como venda de força de trabalho e que
transforma o trabalhador em avatar da própria mentalidade racionalista capitalista. Assim, a
feitura dos Brinquedos de Miriti de Abaetetuba é um processo criativo que envolve um labor
físico, intelectual, sensitivo e criativo de entalhamento dos instantes vividos por seus
realizadores. É uma faina diária que possui uma maneira particular de tratar a beleza e que se
expressa numa atitude de contemplação estética permanente e numa temporalidade lúdica
preenchida pelo deleite do talento, da alegria e da brincadeira, na qual o trabalho também
pode ser liberdade de imaginação e prazer de criar.
Isto significa que na definição do seu ofício, feita por meio dos esquemas
estruturadores que lhe são próprios, os artesãos de miriti conseguem resistir de forma não
ISSN 2359-5353 161
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deliberada às imposições do sistema social e econômico em que estão inseridos por meio de
práticas que lhes são próprias e que não estão pautadas no cumprimento de regras que não
aquelas que são originárias do encontro, a partir de posições específicas, de seu habitus com
uma determinada situação vivida no campo de relações do qual fazem parte sem a
necessidade de realização de uma espécie de cálculo inconsciente ou de obediência a uma
regra explícita, ou seja, como resultado da orientação de suas práticas a determinados fins
(econômicos, sociais e culturais) sem ser conscientemente dirigidas a esses ou por esses fins.
Referências
BARROS, F. B.; SILVA, D. Os mingauleiros de miriti: trabalho, sociabilidade e consumo na
beira de Abaetetuba, Pará. Revista FSA, Teresina, v. 10, n. 4, p. 44-66, out.-dez. 2013.
Disponível em: <http://www4.fsanet.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/308>. Acesso
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BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 7. ed. 1. reimpr. Introdução, organização
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________. Esboço de uma teoria da prática. In: ________. Pierre Bourdieu: sociologia.
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CEFAÏ, D.; VEIGA, F. B.; MOTA, F. R. Introdução. Arenas públicas: por uma etnografia da
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FEYERABEND, P. K. Contra o método. São Paulo: Editora UNESP, 2007. 319-336.
FUNDAÇÃO CURRO VELHO. O saber-fazer a arte do miriti. Pesquisa Jaqueline Cristina
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FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE
Cidades@ Pará >> Abaetetuba. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/233YE>. Acesso em:
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GARCÍA CANCLINI, N. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Editora
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GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. 4. reimpr. São Paulo: Atlas, 2011.
GOFFMAN, E. Comportamentos em espaços públicos: notas sobre a organização social dos
ajuntamentos. Tradução Fábio Rodrigues Ribeiro da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
ISSN 2359-5353 162
I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia
HOYOS, J.; BRAUN, A. Palmas en Venezuela – Autóctonas y Exóticas. Caracas: Sociedad
de Ciencias Naturales La Salle, 2001.
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL DO
PARÁ. Estatística municipal – Abaetetuba. Belém: IDESP, 2012.
LEITE, D. R. Girândolas. Belém: IOEP, 2009.
LOUREIRO, J. J. P. Da Cor do Norte: Brinquedos de Miriti. Fotos de Jarbas Oliveira;
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PESCE, C. Oleaginosas da Amazônia. 2 ed. rev. e atual. Belém: Museu Paraense Emílio
Goeldi. Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2009.
SILVEIRA, F. L. A. Miriti das águas, das ilhas...de Abaeté. In: SILVEIRA, F. L. A. et al.
(Coord.). Catálogo Miriti das Águas: pesquisa etnográfica, estudo da coleção do Museu do
Círio. Belém: Governo do Pará/SECULT, 2012. p. 12-19.
THIOLLENT, M. J. M. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. 5. ed.
São Paulo: Editora Polis, 1987. p. 31-99.

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Ferreira Júnior; Figueiredo - Artesão de Miriti, Habitué dos sonhos: praxeologia do processo de criação dos Brinquedos de Miriti de Abaetetuba, Pará

  • 1. ISSN 2359-5353 154 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia GT 01 – Expressões Culturais e Identidades na Amazônia Contemporânea Artesão de Miriti, Habitué dos sonhos: Praxeologia do processo de criação dos Brinquedos de Miriti de Abaetetuba, Pará Resumo Este trabalho analisa práticas sociais que permitem o desenvolvimento, a preservação e o repasse de saberes dos artesãos que criam os chamados Brinquedos de Miriti em Abaetetuba, e que contribuem para definir o processo criativo por eles adotado. Utiliza-se da abordagem do Campo Social em conjunto com contribuições do estudo dos ajuntamentos e das interações, sob restrição de dados coletados durante entrevistas e observações diretas, e conclui que a definição desse ofício é feita por meio dos esquemas estruturadores que são próprios a esse grupo de artesãos sem necessidade de realização de cálculos inconscientes ou de obediência a regras explícitas. Palavras-chave: Práticas sociais. Brinquedos de Miriti. Processo criativo. Abstract This study examines social practices that enable the development, preservation and transfer of the knowledge of the artisans that create the so-called Miriti Toys in Abaetetuba, and that contribute to defining the creative process adopted by them. Using the approach of Social- field together with contributions from the study of gatherings and interactions under restriction data collected during interviews and direct observations, and concludes that the definition of this craft is made by means of structuring schemas that are proper to this group of craftsmen without the need to perform calculations or unconscious obedience to explicit rules. Keywords: Social practices. Miriti Toys. Creative process. Introdução O uso de recursos florestais em atividades socioeconômicas e culturais é considerado uma das características básicas da humanidade. Entre tais atividades pode-se citar o artesanato, e dentre os recursos utilizados, a palmeira conhecida popularmente como miriti (Mauritia flexuosa L.f.) ocupa posição de destaque em diversas localidades, sendo material de múltiplo uso em que todas suas partes são aproveitadas pelo gênio humano mediante a aplicação de técnicas variadas, o que permite considerá-la uma palmeira sociocultural que também possui importância econômica. Presente em todos os estados da Amazônia Legal e considerada a palmeira mais abundante do Brasil, destacam-se dentre os usos atuais e potenciais do miriti sua utilização na
  • 2. ISSN 2359-5353 155 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia alimentação por meio do fruto in natura ou sob a forma de doces, tortas, bolos, mingau, etc. (BARROS; SILVA, 2013); a produção de bebidas fermentadas e não fermentadas; o uso complementar na construção de pontes e de habitações (paredes e telhados); seu aproveitamento como matéria-prima para produção de papel (FUNDAÇÃO CURRO VELHO, 2006); a produção de biocombustível a partir de seu fruto (PESCE, 2009); o uso como planta ornamental próximo a cursos d’água de parques e jardins (HOYOS; BRAUN, 2001); a produção de cestarias regionais (artefatos trançados de fibra); e a produção de bijuterias, dentre tantos outros. Em Abaetetuba, município localizado na mesorregião Nordeste do Estado do Pará, apesar da palmeira também ser aplicada em muitos dos usos citados e de ser forte sua presença na vida de seus habitantes, sobretudo os que vivem na região composta por cerca de 70 ilhas pertencentes ao município, há uma distinção em relação aos demais casos citados: o uso da parte interna do pecíolo, conhecida como bucha do miriti, na produção de um tipo de artesanato próprio do município, os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba, não identificado em nenhuma outra localidade em que a palmeira é amplamente utilizada, o que permite que Abaetetuba, que já fora chamada de “Terra da Cachaça”, hoje seja denominada como a “Capital Mundial dos Brinquedos de Miriti”. Os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba são um tipo de artesanato-artístico, ou seja, um tipo de artesanato que realiza um encontro entre uma técnica e uma intuição, situando-se na zona fronteiriça entre a arte e a criação extra-artística, no qual a função estética é muito mais visível e, ipso facto, o que é mais valorizado é sua aparência formal, que é expressa em sua forma, em suas cores, em seu conjunto expressivo e em sua originalidade (LOUREIRO, 2012). Por isso este trabalho apresenta uma análise das práticas sociais dos homens e mulheres que criam os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba – doravante denominados como artesãos de miriti – que permitem o desenvolvimento, a preservação e o repasse de seus saberes, e que contribuem para definir o processo criativo que adotam dentro de um campo de relações estruturado por diferentes agentes sociais (institucionais e individuais) que nele ocupam posições distintas. Como processo criativo, por sua vez, considera-se aquele que é mais amplo que a descrição das técnicas empregadas, englobando ademais dessas técnicas todo o recurso às memórias acumuladas, às experiências vividas e aos sonhos e devaneios que o artesão de miriti realiza para criar suas peças, e todos os significantes que a atividade possui enquanto prazer em exercê-la e comercializar seus resultados.
  • 3. ISSN 2359-5353 156 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia Procedimentos teórios-metodológicos Abordagem teórica Metodologia, enquanto estudo dos caminhos e dos instrumentos utilizados para se fazer ciência, é o instrumental básico para que o pesquisador racionalize e aperfeiçoe seus esforços e garanta as melhores posturas críticas e propositivas no momento da realização da atividade que lhe confere identidade. Assim como Feyerabend (2007) defendera, a ciência não se constitui como uma entidade única, coerente e uniforme, o que permite a adoção de múltiplas abordagens para se aproximar de um entendimento da realidade, evitando-se abordagens totalizantes. Dessa forma, realiza-se aqui uma intersecção teórico-metodológica que tem como referência a abordagem do Campo Social em que os conceitos de campo de relações e de habitus são categorias importantes (BOURDIEU, 2013, 2004), com abordagens empíricas e metodológicas do estudo das culturas populares e da relação destas com o modo de produção vigente (GARCÍA CANCLINI, 1983) e, como contraponto, o uso do estudo dos ajuntamentos e das interações (GOFFMAN, 2010). Pautada na constatação de que o entendimento dos Brinquedos de Miriti enquanto artesanato requer mais do que descrições do desenho e das técnicas de produção que os caracterizam, sendo necessário o estudo das práticas sociais de quem o cria e o vende e de quem o observa ou o compra (GARCÍA CANCLINI, 1983), evidenciadas pelo processo contínuo de mudança em que se desenvolvem e que tem sua gênese em um conjunto de influências diretas de natureza complexa, essa abordagem permite estabelecer como foco a ação social, e seus princípios geradores, dos produtores desse tipo de cultura popular, que normalmente são deixados em segundo plano nas abordagens mais frequentes, que enquanto preferem o destaque ao estudo desses bens simbólicos, preterem seus criadores. Assim, inicialmente são descritas as bases empíricas do objeto de estudo, partindo-se de conclusões sobre o problema das relações que as culturas populares possuem com o desenvolvimento capitalista (GARCÍA CANCLINI, 1983) e restabelecendo-se a importância de se considerar a existência de indivíduos, de ações e de interações dentro do escopo destas manifestações culturais, situando-as no atual processo pretensamente denominado de desenvolvimento sem desmembrá-la do social e do econômico. A noção de campo social, microcosmo que obedece a leis sociais mais ou menos específicas e dispõe de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada em relação ao macrocosmo social (BOURDIEU, 2004), destaca o problema de identificar a natureza das
  • 4. ISSN 2359-5353 157 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia pressões externas sobre o campo, enquanto o estudo do conjunto de princípios geradores e estruturadores de práticas e de representações próprio de um grupo de agentes sociais (BOURDIEU, 1983), denominado de habitus, permite entender as ações que os agentes realizam para sua manutenção e reprodução no campo e o grau de capacidade que possuem de refratar, retraduzir e transfigurar a seu benefício as pressões ou demandas externas de modo a definir o repasse de seus saberes e seus processos criativos mais em função de suas determinações internas. Como contraponto, o uso da análise situacional para o estudo de interações permite a realização da descrição minuciosa dos momentos de copresença e, ao analisar os lugares de ajuntamento de atores sociais, propicia o entendimento dos juízos formados pelo grupo social e a descrição de situações uteis para a compreensão dos processos afetivos, sensíveis e morais que ressonam durante o desenvolvimento do processo criativo (CEFAÏ; VEIGA; MOTA, 2011; GOFFMAN, 2010). Coleta e análise dos dados Após a apresentação da abordagem metodológica adotada, é importante a apresentação das técnicas de pesquisa utilizadas para a coleta e a análise de dados, direcionadas de forma descritiva, objetivando identificar características do fenômeno estudado e estabelecer relações entre variáveis. Este estudo foi realizado no município de Abaetetuba, pertencente à mesorregião do Nordeste paraense e à microrregião de Cametá (IDESP, 2012). Com população estimada em aproximadamente 147.000 habitantes (IBGE, 2014), suas principais atividades econômicas são a agricultura, o extrativismo (principalmente de frutos de açaí e miriti, e palmito de açaí), a extração de madeira e a atividade pecuária (IDESP, 2012). O universo considerado na pesquisa foi composto pelos artesãos do município de Abaetetuba e das aproximadamente 70 ilhas pertencentes ao município, que trabalham com a fibra de miriti. A amostra foi composta pelos artesãos que, dentro do universo considerado, criam como principal artefato os Brinquedos de Miriti, utilizando, para isso, a polpa retirada do pecíolo da folha ainda verde, e foi selecionada mediante critérios de expressividade e representatividade no interior da população foco do estudo (GIL, 2011; THIOLLENT, 1987). Precedidos por uma pesquisa bibliográfica, foram realizados trabalhos de campo em que se aplicou inicialmente a técnica de entrevista não-diretiva ou aprofundada, que consistiu na definição de um tema-chave a partir do qual os interlocutores selecionados falaram sem
  • 5. ISSN 2359-5353 158 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia responderem a perguntas predeterminadas, seguida da realização de entrevistas diretivas – tipo de entrevista em que o pesquisador comunica oralmente a cada interlocutor as mesmas perguntas, que podem ser fechadas, livres ou de múltipla escolha, e anota as respostas dadas imediatamente (THIOLLENT, 1987) –, com um grupo maior de indivíduos selecionados com base no critério de amostragem anteriormente apresentado, e da observação direta de variáveis determinadas como importantes de serem acompanhadas. Discussão As relações sociais que ocorrem no interior de uma atividade artístico-cultural específica e que contribuem para defini-la são importantes de serem estudadas por permitirem o entendimento de que a cultura também se movimenta no que é visto somente como socioeconômico e que práticas consideradas culturais também exercem funções econômicas e sociais. A discussão desenvolvida neste trabalho descreve os artesãos de miriti, suas práticas, pensamentos e maneira de encarar a realidade para, a partir de então, consolidar análises sobre a dinâmica de seus saberes, sobre a reprodução do capital cultural específico à atividade que desenvolvem, sobre o processo de assimilação do habitus do grupo e sobre a definição do processo criativo que adotam. Os artesãos de miriti ocupam a centralidade do modelo teórico-metodológico desenvolvido e a discussão travada está relacionada ao seu modo de vida e o ethos que o permeia, e aos seus saberes e fazeres, objetivando apreender quem são, como vivem e o que fazem, para, a partir desse entendimento, alcançar as relações que contribuem para ditar quem eles devem ser e, em última instância, a forma pela qual devem criar e se associar e organizar como grupo. Estes agentes criam geralmente integrados com a família e pessoas da vizinhança, esculpindo no miriti formas simples que recriam suas experiências vividas, o mundo que lhes cerca e seus sonhos, com ciência e destreza no manuseio das ferramentas cortantes que utilizam e íntimo conhecimento da matéria frágil que é o miriti (LOUREIRO, 2012; SILVEIRA, 2012; LEITE, 2009). No início do processo criativo, o artesão aciona memórias acumuladas e experiências vividas para traduzir, a partir do seu olhar, o universo amazônico que vivencia (SILVEIRA, 2012), recriando sua realidade sem buscar uma cópia fiel, mas produzindo objetos e figuras que resultam de uma simplificação de traços, com manutenção dos essenciais significantes, e que intermedeiam relações entre uma subjetividade e outra
  • 6. ISSN 2359-5353 159 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia (LOUREIRO, 2012). Referenciada na vida cotidiana e laboral da população da qual os artesãos de miriti fazem parte, toda inspiração provém do que se compartilha com os demais. Apesar de estarem inseridos no processo de urbanização e globalização em curso, que faz com que, por conta das tensões e conflitos inerentes ao próprio campo social, oscilem entre uma lógica e outra, os artesãos de miriti são caracterizados por pensamentos, percepções e ações próprios dos esquemas interiorizados pelo ribeirinho amazônida, o que lhes permite, por exemplo, uma maneira distinta de tratar a criança, que é integrada na vida e nas atividades que exercem por meio de um processo próprio de aprendizagem do mundo. Por meio desse processo as crianças auxiliam seus pais-artesãos na separação do material adequado e acompanham com o olhar a realização dos cortes, entalhes e pintura, às vezes ajudando na arrumação das peças ou elaborando suas primeiras peças para serem utilizadas em seus jogos, iniciando-se na aprendizagem desse ofício e na reprodução cultural, moral e intelectual dos arbítrios próprios do grupo. Neste contexto, o trabalho infantil não possui o caráter aviltante que comumente se lhe associa, sendo mecanismo de inserção das crianças nos costumes e tradições da comunidade da qual fazem parte e uma forma de assimilação de habitus e de reprodução de um capital cultural específico. Além de todas as experiências passadas que integram o habitus dos artesãos de miriti, empregado como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações, ainda se destaca neles uma forte Fé, que se expressa no dia a dia e tem como ponto alto a chegada a Belém, capital do Pará, durante a festa do Círio de Nazaré. O Brinquedo de Miriti é elaborado manualmente para o público restrito e não orientado, mas sua produção recebe motivações específicas na época do Círio de Nazaré (LOUREIRO, 2012), estando integrado na estrutura extralitúrgica dessa festa, compartindo com a Santa na berlinda, símbolo da Fé, e a Corda atada à berlinda, símbolo da Devoção, a condição de um de seus signos fundamentais, sendo o símbolo artístico-cultural da festa. No entanto, os artesãos de miriti não vivem desprendidos dos processos de transformação acelerada que a própria região vivencia. E talvez como resposta às pressões exercidas por turistas e outros tipos de consumidores, por lojas de artesanato, por produtores culturais, por instituições de fomento ao empreendedorismo e por órgãos culturais e de gestão e planejamento turístico, por exemplo, ampliam as formas de artesanato que criam e modificam suas maneiras de criar e comercializar sem mudarem, contudo, o princípio gerador de suas práticas e, por isso, conseguem manter-se e reproduzir-se no campo em que se relacionam.
  • 7. ISSN 2359-5353 160 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia Considerações finais As discussões desenvolvidas neste trabalho estão voltadas para o fomento de uma narrativa que parte da valorização e do reconhecimento das práticas que surgem dentro de uma cultura de saberes sobre recursos da natureza que, apesar de acionar em alguns momentos uma linguagem técnica, busca direcionar-se para uma linguagem de saberes e de princípios que regem estas práticas sociais e culturais desenvolvidas pelos artesãos que criam os Brinquedos de Miriti de Abaetetuba. Há, dessa forma, um movimento de deslocamento da análise prioritária dos bens culturais criados para os agentes que os criam, uma vez que tais bens só são possíveis por intermédio destes. As considerações desenvolvidas permitem afirmar que a dinâmica de transmissão e manutenção de saberes e o processo criativo dos artesãos de miriti, que varia de acordo com a peça a ser criada e de acordo com o artesão, com as demais pessoas que comporão esse núcleo criativo e com as relações sociais que ocorrerão nesse ajuntamento que invariavelmente a criação dos Brinquedos de Miriti constitui, é definida mais em função das práticas próprias do modo de vida e dos saberes e fazeres destes agentes do que pelas intervenções e imposições dos agentes responsáveis pelo controle mercadológico e pelas políticas públicas nesse campo social que se opta por denominar de Campo de Relações no Artesanato de Miriti em Abaetetuba. Não há possibilidade de desvincular esse processo criativo desenvolvido pelos artesãos de miriti que permite a existência desse tipo singular de artesanato em Abaetetuba da categoria trabalho, e, não obstante, tal processo é a demonstração de que o trabalho, enquanto categoria-base para o estudo da sociedade e das expressões culturais panamazônicas, é perfeitamente passível de ter dimensões que não somente aquela dimensão desvirtuada que o vincula a emprego, a renda e a salário, maneira pela qual essa prática tão própria dos homens e das mulheres entrou no sistema de mercado como venda de força de trabalho e que transforma o trabalhador em avatar da própria mentalidade racionalista capitalista. Assim, a feitura dos Brinquedos de Miriti de Abaetetuba é um processo criativo que envolve um labor físico, intelectual, sensitivo e criativo de entalhamento dos instantes vividos por seus realizadores. É uma faina diária que possui uma maneira particular de tratar a beleza e que se expressa numa atitude de contemplação estética permanente e numa temporalidade lúdica preenchida pelo deleite do talento, da alegria e da brincadeira, na qual o trabalho também pode ser liberdade de imaginação e prazer de criar. Isto significa que na definição do seu ofício, feita por meio dos esquemas estruturadores que lhe são próprios, os artesãos de miriti conseguem resistir de forma não
  • 8. ISSN 2359-5353 161 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia deliberada às imposições do sistema social e econômico em que estão inseridos por meio de práticas que lhes são próprias e que não estão pautadas no cumprimento de regras que não aquelas que são originárias do encontro, a partir de posições específicas, de seu habitus com uma determinada situação vivida no campo de relações do qual fazem parte sem a necessidade de realização de uma espécie de cálculo inconsciente ou de obediência a uma regra explícita, ou seja, como resultado da orientação de suas práticas a determinados fins (econômicos, sociais e culturais) sem ser conscientemente dirigidas a esses ou por esses fins. Referências BARROS, F. B.; SILVA, D. Os mingauleiros de miriti: trabalho, sociabilidade e consumo na beira de Abaetetuba, Pará. Revista FSA, Teresina, v. 10, n. 4, p. 44-66, out.-dez. 2013. Disponível em: <http://www4.fsanet.com.br/revista/index.php/fsa/article/view/308>. Acesso em: 12 mar. 2014. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 7. ed. 1. reimpr. Introdução, organização e seleção Sergio Miceli. São Paulo: Perspectiva, 2013. ________. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004. ________. Esboço de uma teoria da prática. In: ________. Pierre Bourdieu: sociologia. Organizador [da coletânea] Renato Ortiz; tradução Paula Montero e Alícia Auzmendi. São Paulo: Ática, 1983. CEFAÏ, D.; VEIGA, F. B.; MOTA, F. R. Introdução. Arenas públicas: por uma etnografia da vida associativa. In: CEFAÏ, D. et al. (Org.). Arenas públicas: por uma etnografia da vida associativa. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2011. p. 9-63. FEYERABEND, P. K. Contra o método. São Paulo: Editora UNESP, 2007. 319-336. FUNDAÇÃO CURRO VELHO. O saber-fazer a arte do miriti. Pesquisa Jaqueline Cristina Souza da Silva; coordenação Maria de Fátima Baganha e Sandra Lima. Belém: Fundação Curro Velho, 2006. FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE Cidades@ Pará >> Abaetetuba. Disponível em <http://cod.ibge.gov.br/233YE>. Acesso em: 04 mar. 2014. GARCÍA CANCLINI, N. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. 4. reimpr. São Paulo: Atlas, 2011. GOFFMAN, E. Comportamentos em espaços públicos: notas sobre a organização social dos ajuntamentos. Tradução Fábio Rodrigues Ribeiro da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
  • 9. ISSN 2359-5353 162 I Seminário Internacional Sociedade e Cultura na Panamazônia HOYOS, J.; BRAUN, A. Palmas en Venezuela – Autóctonas y Exóticas. Caracas: Sociedad de Ciencias Naturales La Salle, 2001. INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E AMBIENTAL DO PARÁ. Estatística municipal – Abaetetuba. Belém: IDESP, 2012. LEITE, D. R. Girândolas. Belém: IOEP, 2009. LOUREIRO, J. J. P. Da Cor do Norte: Brinquedos de Miriti. Fotos de Jarbas Oliveira; tradução de Hamilton Moura Ribeiro. Fortaleza: Lumiar Comunicação e Consultoria, 2012. PESCE, C. Oleaginosas da Amazônia. 2 ed. rev. e atual. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2009. SILVEIRA, F. L. A. Miriti das águas, das ilhas...de Abaeté. In: SILVEIRA, F. L. A. et al. (Coord.). Catálogo Miriti das Águas: pesquisa etnográfica, estudo da coleção do Museu do Círio. Belém: Governo do Pará/SECULT, 2012. p. 12-19. THIOLLENT, M. J. M. Crítica metodológica, investigação social e enquete operária. 5. ed. São Paulo: Editora Polis, 1987. p. 31-99.