2. Entrevista com o
Dr. Jorge Carvajal,
médico cirurgião da
Universidade de Andaluzia,
Espanha, pioneiro da
Medicina Bioenergética.
3. Qual adoece primeiro: o corpo ou a alma?
A alma não pode adoecer, porque é
o que há de perfeito em ti, a alma evolui,
aprende. Na realidade, boa parte das
enfermidades são exatamente o contrário:
são a resistência do corpo emocional e
mental à alma. Quando nossa personalidade
resiste aos desígnios da alma, adoecemos.
4. A Saúde e as Emoções
Há emoções prejudiciais à saúde?
Quais são as que mais nos prejudicam?
70 por cento das enfermidades do ser humano
vêm do campo da consciência emocional. As
doenças muitas vezes procedem de emoções não
processadas, não expressadas, reprimidas. O medo,
que é a ausência de amor, é a grande enfermidade,
o denominador comum de boa parte das
enfermidades que temos hoje. Quando o temor se
congela, afeta os rins, as glândulas suprarrenais, os
ossos, a energia vital, e pode converter-se em
pânico.
5. Então nos fazemos de fortes e descuidamos de
nossa saúde?
De heróis os cemitérios estão cheios. Tens que
cuidar de ti. Tens teus limites, não vás além. Tens que
reconhecer quais são os teus limites e superá-los, pois,
se não os reconheceres, vais destruir teu corpo.
Como é que a raiva nos afeta?
A raiva é santa, é sagrada, é uma emoção positiva,
porque te leva à auto-afirmação, à busca do teu território,
a defender o que é teu, o que é justo. Porém, quando a
raiva se torna irritabilidade, agressividade, ressentimento,
ódio, ela se volta contra ti e afeta o fígado, a digestão, o
sistema imunológico.
6. Então a alegria, ao contrário, nos ajuda a
permanecer saudáveis?
A alegria é a mais bela das emoções, porque é a
emoção da inocência, do coração e é a mais curativa de
todas, porque não é contrária a nenhuma outra. Um
pouquinho de tristeza com alegria escreve poemas. A
alegria com medo leva-nos a contextualizar o medo e a
não lhe darmos tanta importância.
A alegria acalma os ânimos?
Sim, a alegria suaviza todas as outras emoções,
porque nos permite processá-las a partir da inocência. A
alegria põe as outras emoções em contato com o
coração e dá-lhes um sentido ascendente. Canaliza-as
para que cheguem ao mundo da mente.
7. E a tristeza?
A tristeza é um sentimento que pode te
levar à depressão quando te deixas
envolver por ela e não a expressas, porém
ela também pode te ajudar.
A tristeza te leva a contatares contigo
mesmo e a restaurares o controle interno.
Todas as emoções negativas têm seu
próprio aspecto positivo.
Tornamo-las negativas quando as
reprimimos.
8. Convém aceitarmos essas emoções que
consideramos negativas como parte de
nós mesmos?
Como parte para transformá-las, ou seja,
quando se aceitam, fluem, e já não se estancam e
podem se transmutar. Temos de as canalizar para
que cheguem à cabeça a partir do coração. Que
difícil! Sim, é muito difícil. Realmente as emoções
básica são o amor e o medo (que é ausência de
amor), de modo que tudo que existe é amor, por
excesso ou deficiência. Construtivo ou destrutivo.
Porque também existe o amor que se aferra, o
amor que superprotege, o amor tóxico, destrutivo.
9. Como prevenir a enfermidade?
Somos criadores, portanto creio que a melhor forma é criarmos saúde. E, se
criarmos saúde, não teremos que prevenir nem combater a enfermidade, porque seremos
saúde.
E se aparecer a doença?
Teremos, pois, de aceitá-la, porque somos humanos. Krishnamurti também
adoeceu de um câncer de pâncreas e ele não era alguém que levasse uma vida
desregrada. Muita gente espiritualmente muito valiosa já adoeceu. Devemos explicar isso
para aqueles que crêem que adoecer é fracassar.
O fracasso e o êxito são dois mestres e nada mais. E, quando tu és o aprendiz,
tens que aceitar e incorporar a lição da enfermidade em tua vida... Cada vez mais as
pessoas sofrem de ansiedade. A ansiedade é um sentimento de vazio, que às vezes se
torna um oco no estômago, uma sensação de falta de ar. É um vazio existencial que
surge quando buscamos fora em vez de buscarmos dentro. Surge quando buscamos nos
acontecimentos externos, quando buscamos muleta, apoios externos, quando não temos
a solidez da busca interior. Se não aceitarmos a solidão e não nos tornarmos nossa
própria companhia, sentiremos esse vazio e tentaremos preenchê-lo com coisas e
posses. Porém, como não pode ser preenchido de coisas, cada vez mais o vazio
aumenta.
10. Então, o que podemos fazer para nos libertarmos dessa
angústia?
Não podemos fazer passar a angústia comendo chocolate ou
com mais calorias, ou buscando um príncipe fora. Só passa a
angústia quando entras em teu interior, te aceitas como és e te
reconcilias contigo mesmo. A angústia vem de que não somos o
que queremos ser, muito menos o que somos, de modo que
ficamos no "deveria ser", e não somos nem uma coisa nem outra.
O stress é outro dos males de nossa época. O stress vem da
competitividade, de que quero ser perfeito, quero ser melhor,
quero ter uma aparência que não é minha, quero imitar. E
realmente só podes competir quando decides ser um competidor
de ti mesmo, ou seja, quando queres ser único, original, autêntico
e não uma fotocópia de ninguém. O stress destrutivo prejudica o
sistema imunológico. Porém, um bom stress é uma maravilha,
porque te permite estar alerta e desperto nas crises e poder
aproveitá-las como oportunidades para emergir a um novo nível
de consciência.
11. O que nos recomendaria para nos sentirmos melhor com
nós mesmos?
A solidão. Estar consigo mesmo todos os dias é maravilhoso. Passar
20 minutos consigo mesmo é o começo da meditação, é estender uma
ponte para a verdadeira saúde, é aceder o altar interior, o ser interior. Minha
recomendação é que a gente ponha o relógio para despertar 20 minutos
antes, para não tomar o tempo de nossas ocupações. Se dedicares, não o
tempo que te sobra, mas esses primeiros minutos da manhã, quando estás
rejuvenescido e descansado, para meditar, essa pausa vai te recarregar,
porque na pausa habita o potencial da alma.
O que é para você a felicidade?
É a essência da vida. É o próprio sentido da vida. Estamos aqui para
sermos felizes, não para outra coisa. Porém, felicidade não é prazer, é
integridade. Quando todos os sentidos se consagram ao ser, podemos ser
felizes. Somos felizes quando cremos em nós mesmos, quando confiamos
em nós, quando nos empenhamos transpessoalmente a um nível que
transcende o pequeno eu ou o pequeno ego. Somos felizes quando temos
um sentido que vai mais além da vida cotidiana, quando não adiamos a
vida, quando não nos alienamos de nós mesmos, quando estamos em paz e
a salvo com a vida e com nossa consciência. Viver o Presente.
12. É importante viver no presente? Como conseguir?
Deixamos ir-se o passado e não hipotecamos a vida às
expectativas do futuro quando nos ancoramos no ser e não no
ter, ou a algo ou alguém fora. Eu digo que a felicidade tem a
ver com a realização, e esta com a capacidade de habitarmos
a realidade. E viver em realidade é sairmos do mundo da
confusão.
Na sua opinião, estamos tão confusos assim?
Temos três ilusões enormes que nos confundem:
Primeiro: cremos que somos um corpo e não uma alma,
quando o corpo é o instrumento da vida e se acaba com a
morte.
Segundo: cremos que o sentido da vida é o prazer, porém
com mais prazer não há mais felicidade, senão mais
dependência... Prazer e felicidade não são o mesmo. Há que
se consagrar o prazer à vida e não a vida ao prazer.
13. Terceiro: ilusão é o poder; desejamos o poder infinito de viver no mundo. E do
que realmente necessitamos para viver? Será de amor, por acaso?
O amor, tão trazido e tão levado, e tão caluniado, é uma força
renovadora. O amor é magnífico porque cria coesão. No amor tudo está vivo,
como um rio que se renova a si mesmo. No amor a gente sempre pode renovar-
se, porque ordena tudo. No amor não há usurpação, não há transferência, não
há medo, não há ressentimento, porque quando tu te ordenas, porque vives o
amor, cada coisa ocupa o seu lugar, e então se restaura a harmonia. Agora,
pela perspectiva humana, nós o assimilamos com a fraqueza, porém o amor
não é fraco.
Enfraquece-nos quando entendemos que alguém a quem amamos não
nos ama. Há uma grande confusão na nossa cultura. Cremos que sofremos por
amor, porém não é por amor, é por paixão, que é uma variação do apego. O
que habitualmente chamamos de amor é uma droga. Tal qual se depende da
cocaína, da maconha ou da morfina, também se depende da paixão. É uma
muleta para apoiar-se, em vez de levar alguém no meu coração para libertá-lo e
libertar-me. O verdadeiro amor tem uma essência fundamental que é a
liberdade, e sempre conduz à liberdade. Mas às vezes nos sentimos atados a
um amor. Se o amor conduz à dependência é Eros. Eros é um fósforo, e
quando o acendes ele se consome rapidamente em dois minutos e já te queima
o dedo. Há amores que são assim, pura chispa. Embora essa chispa possa
servir para acender a lenha do verdadeiro amor. Quando a lenha está acesa,
produz fogo. Esse é o amor impessoal, que produz luz e calor .
14. Pode nos dar algum conselho para alcançarmos o
amor verdadeiro?
Somente a verdade. Confia na verdade; não tens que
ser como a princesa dos sonhos do outro, não tens que ser
nem mais nem menos do que és. Tens um direito sagrado,
que é o direito de errar; tens outro, que é o direito de
perdoar, porque o erro é teu mestre. Ama-te, sê sincero
contigo mesmo e leva-te em consideração. Se tu não te
queres, não vais encontrar ninguém que possa te querer.
Amor produz amor. Se te amas, vais encontrar amor. Se
não, vazio. Porém nunca busques migalhas, isso é indigno
de ti. A chave então é amar-se a si mesmo. E ao próximo
como a ti mesmo. Se não te amas a ti, não amas a Deus,
nem a teu filho, porque estás apenas te apegando, estás
condicionando o outro. Aceita-te como és; não podemos
transformar o que não aceitamos, e a vida é uma corrente
permanente de transformações.
15. Prof. Dr. Maurício Paes Landim
Professor Adjunto de Cardiologia UFPI/UESPI
Mestre em Medicina
Doutor em Cardiologia