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Memorial do Convento, José Saramago
• Capítulo I
Há dois anos que D. João V está casado com D. Maria Ana Josefa e, até agora, ela ainda não engravidou. A
rainha vai rezando novenas e, duas vezes por semana, recebe o rei nos seus aposentos.
Quando se casaram, o rei dormia com a rainha todos os dias, mas por causa do cobertor de penas que ela
trouxe da Áustria e, porque com o passar do tempo, os odores de ambos faziam com que o cobertor
ficasse com um cheiro insuportável, o rei deixou de dormir com a rainha.
El-rei faz o puzzle representando a Basílica de S. Pedro de Roma para se distrair e porque gosta. A rainha
espera pelo rei para que ele cumpra o seu dever conjugal. O rei dirige-se para os aposentos da rainha,
mas entretanto chegou ao castelo D. Nuno da Cunha, bispo inquisidor que traz consigo um velho
franciscano. O bispo afirma que frei António de S. José assegurou que se o rei se dignasse a construir um
convento em Mafra, teria descendência. Enquanto isso, a rainha conversa com a marquesa de Unhão,
rezam jaculatórias e proferem nomes de santos.
Após a saída do bispo e do frei, o rei anuncia-se e, consumado o ato, D. Maria tem de "guardar o choco", a
conselho dos médicos e murmura orações, pedindo ao menos um filho que seja. D. Maria sonha com o
infante D. Francisco, seu cunhado e dorme em paz, adormecida, invisível sob a montanha de penas,
enquanto os percevejos começam a sair das fendas, dos refegos, e se deixam cair do alto dossel
D João também sonhará esta noite, nos seus aposentos, com o filho que poderá advir da promessa da
construção do convento de Mafra.

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Memorial do Convento - Cap. I

  • 1. Memorial do Convento, José Saramago • Capítulo I Há dois anos que D. João V está casado com D. Maria Ana Josefa e, até agora, ela ainda não engravidou. A rainha vai rezando novenas e, duas vezes por semana, recebe o rei nos seus aposentos. Quando se casaram, o rei dormia com a rainha todos os dias, mas por causa do cobertor de penas que ela trouxe da Áustria e, porque com o passar do tempo, os odores de ambos faziam com que o cobertor ficasse com um cheiro insuportável, o rei deixou de dormir com a rainha. El-rei faz o puzzle representando a Basílica de S. Pedro de Roma para se distrair e porque gosta. A rainha espera pelo rei para que ele cumpra o seu dever conjugal. O rei dirige-se para os aposentos da rainha, mas entretanto chegou ao castelo D. Nuno da Cunha, bispo inquisidor que traz consigo um velho franciscano. O bispo afirma que frei António de S. José assegurou que se o rei se dignasse a construir um convento em Mafra, teria descendência. Enquanto isso, a rainha conversa com a marquesa de Unhão, rezam jaculatórias e proferem nomes de santos.
  • 2. Após a saída do bispo e do frei, o rei anuncia-se e, consumado o ato, D. Maria tem de "guardar o choco", a conselho dos médicos e murmura orações, pedindo ao menos um filho que seja. D. Maria sonha com o infante D. Francisco, seu cunhado e dorme em paz, adormecida, invisível sob a montanha de penas, enquanto os percevejos começam a sair das fendas, dos refegos, e se deixam cair do alto dossel D João também sonhará esta noite, nos seus aposentos, com o filho que poderá advir da promessa da construção do convento de Mafra.