INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA, Campus Garopaba.
HISTÓRIA, MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE
Professor Viegas Fernandes da Costa
Material produzido para o componente curricular “História Local” do curso de Condutor Ambiental de Garopaba.
Março de 2014.
2. HISTÓRIA
O que diferencia o ser humano dos demais animais é sua capacidade de
transformar a natureza, de produzir cultura, ou seja, de
FAZER HISTÓRIA
Historiem em grego antigo é “procurar saber”, informar-se”.
Enquanto campo de saber, a História tem por objetivo interpretar a ação
humana em suas diferentes temporalidades.
3.
4. MEMÓRIA
A memória se modifica e se rearticula conforme a posição que ocupo e as
relações que estabeleço nos diferentes grupos de que participo. Também está
submetida a questões inconscientes, como o afeto, a censura, entre outros. As
memórias individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e incluem
elementos mais amplos do que a memória construída pelo indivíduo e seu
grupo. Um dos elementos mais importantes, que afirmam o caráter social da
memória, é a linguagem. As trocas entre os membros de um grupo se fazem
por meio de linguagem. Lembrar e narrar se constituem da linguagem. Como
afirma Ecléa Bosi a linguagem é o instrumento socializador da memória pois
reduz, unifica e aproxima no mesmo espaço histórico e cultural vivências tão
diversas como o sonho as lembranças e as experiências recentes.
(Zilda Kessel)
5. A memória é também um objeto de luta pelo poder travada entre classes,
grupos e indivíduos. Decidir sobre o que deve ser lembrando e também
sobre o que deve ser esquecido integra os mecanismos de controle de um
grupo sobre o outro.
Outro aspecto importante acerca da memória é a sua relação com os
lugares. As memórias individual e coletiva têm nos lugares uma referência
importante para a sua construção. As memórias dos grupos se referenciam,
nos espaços em que habitam e nas relações que constroem com estes
espaços. Os lugares são importante referência na memória dos indivíduos,
donde se segue que as mudanças empreendidas nesses lugares provocam
mudanças importantes na vida e na memória dos grupos.
(Zilda Kessel)
7. “A história oral é uma metodologia de
pesquisa que consiste em realizar
entrevistas gravadas com pessoas que
podem
testemunhar
sobre
acontecimentos, conjunturas, instituições,
modos de vida ou outros aspectos da
história contemporânea. Começou a ser
utilizada nos anos 1950, após a invenção
do gravador, nos Estados Unidos, na
Europa e no México, e desde então
difundiu-se bastante. Ganhou também
cada vez mais adeptos, ampliando-se o
intercâmbio entre os que a praticam:
historiadores, antropólogos, cientistas
políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos
da literatura, psicólogos e outros.”
(Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil –
CPDOC/FGV)
8. Se a memória relaciona-se com os lugares, seria possível construir memórias a
partir das trilhas?
Em sendo possível, de que forma?
Qual o papel do condutor ambiental neste sentido?
9. PATRIMÔNIO
Patrimônio – do latim: aquilo que pertencia ao pai.
No renascimento os humanistas buscavam valorizar a antiguidade, e por isso
passam a colecionar os objetos e vestígios desse período – surge o Antiquariado.
O surgimento do Estado Nacional modifica o conceito de patrimônio. O
compartilhamento de valores e costumes, de uma língua, de uma origem
supostamente comum constitui também uma ideia de patrimônio nacional a
configurar identidades.
O surgimento da ONU contribui para a compreensão de patrimônio como algo que
supera as fronteiras nacionais.
Em 1972 acontece a 1ª Convenção referente ao patrimônio mundial cultural e
natural. Desenvolve-se a ideia de Patrimônio da Humanidade.
Segundo a UNESCO, patrimônio constitui-se como nosso legado do passado, no qual
vivemos e que vamos passar para as futuras gerações”, sendo “fontes insubstituíveis
de vida e inspiração”.
10. A maior concentração de monumentos do patrimônio da humanidade está na
Europa, principalmente na Espanha, Itália, Alemanha e França.
O patrimônio é importante para preservar identidades, porém as políticas que
reconhecem patrimônios e dão-lhes significados não são neutras, “mas refletem a
ideologia dos responsáveis e muitas vezes adotam critérios ambíguos em função de
interesses conjunturais, que mudam quando muda a administração pública” ( Margarita
Barreto).
A quem deve pertencer a autoridade de reconhecer o que é patrimônio?
Segundo Margarita Barreto, “se há um patrimônio reconhecido pelos vencedores, é
porque há um patrimônio dos vencidos.” E ainda, “quais são os símbolos que devem
permanecer para retratar determinada sociedade em determinado momento?”
11. A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
CULTURAL ENQUANTO DIMENSÃO DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
12. Classificação do patrimônio cultural e natural segundo a UNESCO
MONUMENTOS: obras arquitetônicas, esculturas, pinturas, vestígios arqueológicos,
inscrições etc.
CONJUNTOS: grupos de construções.
SÍTIOS: obras humanas ou naturais de valor estético, histórico, etnológico ou
científico.
MONUMENTOS NATURAIS: formações físicas ou biológicas.
FORMAÇÕES GEOLÓGICAS OU FISIOGRÁFICAS: hábitat de espécies animais e
vegetais ameaçadas de extinção.
SÍTIOS NATURAIS: áreas de valor científico ou de beleza natural.
23. PATRIMÔNIO IMATERIAL
Não se trata, portanto, de pretender imobilizar, em um tempo presente,
um bem, um legado, uma tradição de nossa cultura, cujo suposto valor
seja justamente a sua condição de ser anacrônico com o que se cria e o
que se pensa e viva agora, ali onde aquilo está ou existe. Trata-se de
buscar, na qualidade de uma sempre presente e diversa releitura daquilo
que é tradicional, o feixe de relações que ele estabelece com a vida social
e simbólica das pessoas de agora. O feixe de significados que a sua
presença significante provoca e desafia.
(Carlos Rodrigues Brandão)
24. BENS (imateriais) REGISTRADOS PELO IPHAN
Estão sob a proteção do IPHAN 26 bens registrados como Patrimônio Cultural
do Brasil, sendo seis celebrações, dez formas de expressão, oito saberes
e dois lugares.
Arte Kusiwa (pintura corporal): sistema de representação gráfico
próprio dos povos indígenas Wajãpi, do Amapá, que sintetiza seu
modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo.
25. Ofício das paneleiras de Goiabeiras
O saber envolvido na fabricação artesanal de panelas de barro foi o primeiro bem
cultural registrado, pelo IPHAN, como Patrimônio Imaterial no Livro de Registro dos
Saberes, em 2002. O processo de produção no bairro de Goiabeiras Velha, em
Vitória, no Espírito Santo, emprega técnicas tradicionais e matérias-primas
provenientes do meio natural. A atividade, eminentemente feminina, é
tradicionalmente repassada pelas artesãs paneleiras, às suas filhas, netas,
sobrinhas e vizinhas, no convívio doméstico e comunitário.
26. Círio de Nossa Senhora do Nazaré
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é uma celebração religiosa que ocorre em Belém
(PA), inscrita no Livro das Celebrações, em 2004. Os festejos envolvem vários rituais
de devoção religiosa e expressões culturais, e reúnem devotos, turistas e curiosos de
todas as partes do Brasil e de países estrangeiros. Acontecem em vários municípios
do Pará - Acará, Curuçá, Parauapebas, São João, entre outros - onde se cultua a
festividade de Nossa Senhora de Nazaré.
27. Modo de fazer viola de cocho
A viola de cocho é um instrumento
musical singular quanto à forma e
sonoridade,
produzido
exclusivamente
de
forma
artesanal, com a utilização de
matérias-primas existentes na
Região Centro-Oeste do Brasil. Sua
produção é realizada por mestres
cururueiros, tanto para uso
próprio como para atender à
demanda do mercado local,
constituída por cururueiros e
mestres da dança do siriri.
28. Oficio de Sineiro
O Ofício de Sineiro tem importância fundamental na produção e reprodução dos toques
que caracterizam e diferenciam territórios e comunidades, contribuindo para a
permanência da prática de tocar sino nas cidades mineiras como uma forma de
comunicação e identidade. O Ofício de Sineiro foi inscrito no Livro de Registro dos
Saberes, em 2009.
Tendo como referência as cidades de São João del Rei, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas,
Congonhas do Campo, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes, em Minas Gerais, é uma
prática tradicional, vinculada ao ato de tocar os sinos das igrejas católicas para anunciar
rituais e celebrações religiosas, atos fúnebres e marcação das horas, entre outras
comunicações de interesse coletivo.
A tradição do toque dos sinos, eminentemente masculina, se mantém viva nessas
cidades como referência de identidade cultural da população local, e como atividade
afetiva, lúdica e devocional de sineiros voluntários e profissionais. A estrutura,
composição e o saber tocar sinos estão na memória e na habilidade dos sineiros, que
conhecem de cor um repertório não escrito de toques, constituído de pancadas,
badaladas e repiques (executados com o sino paralisado) e de dobres (executados com o
sino em movimento), adequados às ocasiões festivas ou fúnebres.
29. Modo artesanal de fazer queijo de Minas nas regiões do Serro e das serras da
Canastra e do Salitre
A produção artesanal do queijo de leite cru nas regiões do Serro e das serras da
Canastra e do Salitre em Minas Gerais representa até hoje uma alternativa bem
sucedida de conservação e aproveitamento da produção leiteira regional, em áreas
cuja geografia limita o escoamento dessa produção. O modo artesanal de fazer queijo
constitui um conhecimento tradicional e um traço marcante da identidade cultural
dessas regiões. Foi inscrito no Livro dos Saberes em 2008.
30. Roda de capoeira
A Roda de Capoeira - inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, em de
2008 - é um elemento estruturante desta manifestação, espaço e tempo onde se
expressam simultaneamente o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o
jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais de herança africana - notadamente banto recriados no Brasil. Profundamente ritualizada, a roda de capoeira congrega cantigas
e movimentos que expressam uma visão de mundo, uma hierarquia e um código de
ética que são compartilhados pelo grupo. Na roda de capoeira se batizam os
iniciantes, se formam e se consagram os grandes mestres, se transmitem e se
reiteram práticas e valores afro-brasileiros.
42. INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA
Campus Garopaba
HISTÓRIA, MEMÓRIA, PATRIMÔNIO E IDENTIDADE
Professor Viegas Fernandes da Costa
Referências:
Site da UNESCO.
Site do IPHAN.
Site da Fundação Catarinense de Cultura.
BARRETO, Margarita. Patrimônio, gentrificação e turismo.
(mimeo).
FUNARI, Pedro Paulo & PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio
histórico e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
Material produzido para o componente curricular
“História Local” do curso de Condutor Ambiental de
Garopaba.
Março de 2014.