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A
Apostila Digital
Língua Portuguesa
OO TTEEXXTTOO EEMM NNOOSSSSOO CCOOTTIIDDIIAANNOO
Caro aluno, seja bem-vindo!
Vamos dar início às nossas atividades discutindo alguns aspectos
interessantes a respeito da presença dos textos em nossa vida.
Você deve estar acostumado a ver e ouvir a palavra “texto”, seja no trabalho,
na faculdade, em livros, revistas etc. Então, aí vem a pergunta: você saberia dizer
quais são os conceitos, os significados e a importância do “texto” para o seu dia a
dia?
Talvez você tenha parado para pensar sobre o assunto e, no momento,
surgiram algumas dúvidas:
- Texto é um aglomerado de palavras e frases?
Roupas, caderno, lindo. Fui ontem ao cinema. O cinema do
shopping é muito bonito. No shopping tem muitas coisas para se
comprar. A compra da nossa casa não deu certo porque o banco não
aprovou o financiamento.
- Texto pode ser somente aquilo que escrevemos?
- Texto é o que a professora ou o professor pede para a gente elaborar na
aula de redação?
- Texto é aquilo que a gente lê no jornal, no livro, na internet etc.?
Nós levantamos muitas hipóteses a respeito do que é texto. Será que alguma
das perguntas acima seria a sua real definição?
Fiorin (1996, p.16) diz que texto “é um todo organizado de sentido”, ou seja,
nós não podemos entender que o texto seja apenas um conjunto de palavras ou
frases que se juntam de forma aleatória para constituí-lo, mas, sim, que essas
palavras e frases devam estar ligadas entre si para que haja uma continuidade
entre elas, a fim de que a sua totalidade forme uma unidade de sentido. Talvez,
você esteja dizendo: “mas isso é óbvio!”, entretanto, não é essa a noção de texto
que boa parte dos estudantes emprega na prática.
Na escola, quando o professor ou a professora pede para que seja elaborada
uma redação é comum os alunos lhe perguntarem: “com quantas linhas?” ou “em
quantas palavras?”. Perguntas desse tipo demonstram mais preocupação em
atender às exigências de números de linhas ou palavras, do que construir um texto
que faça sentido para quem o lê.
A produção textual, nesse caso, não é concebida como um todo com unidade
de sentido, isto é, uma organização de ideias com começo, meio e fim, mas como
uma somatória de linhas, um amontoado de palavras sucessivas. Pior é que essa
concepção de texto também está presente nas atividades de leitura. Muitas vezes,
lemos apenas parte de um texto e achamos que o entendemos em sua completude.
É isso o que ocorre quando o professor nos dá um romance para ler e lemos
apenas o resumo ou partes de capítulos, imaginando que a leitura parcial seja
suficiente para ter sucesso na avaliação. Veja o texto de Ricardo Ramos:
Circuito Fechado
Ricardo Ramos1
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,
espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água
fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras,
calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,
chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,
cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.
Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo
com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída,
vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.
Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,
memorandos, bilhetes, telefone, papéis.(...)
1
Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos
exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda,
professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos,
romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira.
Apesar do texto, em uma primeira leitura não aparentar relação entre as
palavras, se você observar atentamente, poderá perceber que se trata do cotidiano
de um indivíduo, e é possível perceber sua rotina e até mesmo seu gênero: se é
masculino ou feminino. Leia o restante do texto que complementa nossa análise e
tente buscar outras informações importantes que o texto passa para o leitor:
(...) Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,
cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz,
lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi.
Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara.
Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e
poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone
interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel,
pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,
papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de
cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.
Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e
fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo.
Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Práticas como essas demonstram que precisamos rever o conceito de texto.
Observe o texto a seguir:
Esse texto é uma “tirinha” publicada no jornal Folha de São Paulo, em
1/12/2008. As tirinhas são textos curtos formados por quadrinhos de texto verbal e
visual dispostos linearmente na página do jornal. Essa tira, em particular, tem dois
quadrinhos. No primeiro, temos um coelho que ao passear num parque é elogiado
por duas garotas. Diante desse elogio, ele se sente insatisfeito e não aprecia os
adjetivos que lhe são atribuídos. Já no segundo quadro, temos, no mesmo parque,
coelhas que também o elogiam, todavia, esses elogios são apreciados pelo coelho.
Se fôssemos analisar esse texto, isolando cada quadro, não entenderíamos
o humor que ali se estabelece, isto é, ficaríamos apenas na observação que
fizemos acima, sem uma ligação entre um quadro e outro. Para depreendermos a
unidade de sentido, devemos observar a relação que se estabelece entre os
elementos que constituem a tira.
Além das observações já realizadas, precisamos levar em conta que são
meninas – seres humanos – que, no primeiro quadro, estão fazendo o elogio. Elas
se utilizam do sufixo diminutivo (–inho) para qualificar o animal. Portanto, a relação
que caberia aqui, não passaria de HUMANO x ANIMAL, sendo o animal apenas um
“objeto” de manuseio e admiração do humano. Essa é uma relação que não agrada
ao coelho. Já no segundo quadro, os elogios são dados por coelhas e elas se
utilizam do sufixo aumentativo (-ão) para caracterizar o ser da mesma espécie,
enaltecendo sua macheza e virilidade. Portanto, a relação que cabe aqui é
COELHO x COELHAS, de cunho sexual, o que traz satisfação ao coelho, pois é
esse tipo de relacionamento que o interessa. Diante disso, vemos que o riso só se
dá quando comparamos um quadro ao outro.
Dessa forma, podemos chegar à seguinte conclusão:
Um texto é um todo organizado de sentido, porque o significado de uma
parte depende das outras com que se relaciona de tal forma que
combinam entre si, a fim de gerar uma unidade.
Essa definição será fundamental para analisarmos e elaborarmos textos. Por
isso, tenham-na sempre em mente, pois já estamos de certa forma, condicionados
a analisarmos os textos de forma fragmentada, não observando todos os elementos
que estão ali presentes.
Vejamos se você compreendeu bem o que foi dito até aqui e se já conseguiu
direcionar a sua mente para entender que todos os elementos presentes no texto
são importantes para a depreensão de sentido e, para isso, vamos analisar mais
um exemplo:
Observe a propaganda a seguir retirada do site http://naweb.wordpress.com/.
Ela se constitui em três quadros. Faça a leitura mediante as questões abaixo.
a) Se você observar apenas o primeiro quadro, abaixo, qual o sentido que você
depreende?
b) Agora, observe o segundo quadro. Ele corresponde ao sentido que você
obteve do primeiro?
c) Vamos ao terceiro quadro. Ele é uma confirmação da leitura que você fez do
primeiro e segundo quadros ou somente quando você observou o terceiro
quadro é que houve um entendimento da propaganda?
Nesse momento, observe abaixo a propaganda toda.
Edson Baeta
http://naweb.wordpress.com/.
Acesso em 11/11/2009
Podemos perceber que a propaganda é um alerta acerca do consumo de
bebida alcoólica e do ato de dirigir, ou seja, os dois “não devem andar juntos”, pois
o álcool prejudica a atenção dos motoristas e aumenta a ocorrência de acidentes.
Essa leitura só é possível pela visualização e depreensão de sentido dos três
quadros juntos. Por isso, falamos que o texto é uma unidade de sentido e para
obter essa unidade é necessário observar e pensar em todos os aspectos que nele
estão envolvidos.
Mas, talvez você deva estar se perguntando: “A propaganda acima ou
mesmo a tirinha é um texto? Mas elas são compostas por poucas palavras.!!!!!”
Eis, então, a resposta: ELAS SÃO TEXTO, pois texto, também, é toda
manifestação linguística, paralinguística e imagética que transmite uma mensagem
ou um ato de comunicação a fim de obter uma interação com o outro. Por isso,
dizemos que existem três tipos de texto: verbal, não verbal e sincrético ou misto
(verbal e não verbal). Quando dizemos manifestação linguística falamos de
recursos expressos pela palavra (que pode ser oral ou escrita); o paralinguístico é
quando usamos gestos, olhares etc.; e o imagético é formado por imagens ou
figuras.
Cotidianamente as pessoas se deparam com uma grande variedade de
palavras e imagens que apresentam características diferentes e que são
elaboradas com objetivos bem distintos. Veremos a seguir produções que
relacionam elementos expressivos verbais, não verbais e mistos.
Texto verbal
Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da
palavra, ou seja, da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está utilizando uma
linguagem verbal, pois o código usado é a língua. Tal código está presente, quando
falamos com alguém, quando lemos ou quando escrevemos. A linguagem verbal é
a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a língua
falada ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos,
comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas.
Portanto, a linguagem verbal é aquela que tem as palavras como recurso
expressivo, como exemplo: textos orais ou escritos, em prosa ou em verso. Leia o
texto:
Resenha de filme: Crepúsculo
Luma Jatobá 18/01/2009
Baseado nos livros de Stephenie Meyer, Crepúsculo vem às
telonas contar a história da jovem Isabella Swan (Kristen Stewart)
que ao se mudar para a casa do pai em Forks, Washington, conhece
no colégio uma família diferente: os Cullen. Por serem anti-sociais e
muito reservados, são os estranhos da escola. Bella logo se
apaixona por Edward Cullen (Robert Pattinson) e ele por ela. Seria
algo lindo e normal se o rapaz não fosse um vampiro. E é deste
meado que se desenvolve a história: o romance proibido, o segredo
que não pode ser descoberto e a perseguição dos Cullen, após
James (Cam Gigandet), o vampiro sanguinário, descobrir o "namoro"
deles.
Agora os Cullen e a jovem Bella estão correndo perigo. A
corrida é contra o relógio para acabar com o vampiro antes que o pior
aconteça.
A história do filme é legal e prende do início ao fim, mas falta uma
trilha sonora de peso e abusa quando dão a desculpa de que
vampiros não saem ao sol porque brilham como diamantes. O livro
está no terceiro volume, Crepúsculo é apenas o primeiro da série que
ainda trás Lua nova e Eclipse. Dizem por aí que a nova adaptação de
Romeu e Julieta veio pra substituir o bruxinho Harry Potter, será?
(http://centralrocknet.com.br/index.php?news=677)
Observamos que o texto acima é uma resenha, cuja finalidade é descrever o
filme Crepúsculo, para que o leitor tenha uma visão da história, a fim de verificar se
é interessante assisti-lo. Para isso, o autor utilizou-se da linguagem verbal, pois
como vemos, utilizou-se a língua escrita para se comunicar.
Além da resenha, encontramos a linguagem verbal em textos de
propagandas; reportagens (jornais, revistas etc.); obras literárias e científicas; na
comunicação entre as pessoas; em discursos (do Presidente da República, dos
representantes de classe, de candidatos a cargos públicos etc.) e em várias outras
situações.
Texto não verbal
As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos faciais
e corporais, as cores, o desenho, a dança, os sons, os gestos, os olhares, a
entoação são também importantes: são os elementos não verbais da comunicação.
Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito de uma
cultura para outra e de época para época.
Portanto, o texto não verbal consiste no uso de imagens, figuras, símbolos,
tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura como meio de
comunicação. A linguagem não verbal pode ser até percebida nos animais. Quando
um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz e quando coloca a cauda
entre as pernas significa medo e tristeza. Outros exemplos: sinalização de trânsito,
semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir
uma mensagem.
Dessa forma, é muito interessante observar que para manter uma
comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja ela verbal
ou não verbal.
Observe a figura ao lado. Se ela fosse
encontrada em um consultório médico, faríamos a
leitura de que, naquele local, as pessoas devem falar
baixo e, se possível, manter silêncio. A linguagem
utilizada é a não verbal, pois não utiliza a língua para
transmitir “silêncio”.
O semáforo, também, é um exemplo de texto
não verbal - um objeto cujo sentido das cores
comanda o trânsito e que é capaz de interferir na vida
do ser humano de forma extraordinária.
Texto Sincrético ou misto (verbal e não verbal)
Falamos em texto misto – verbal e não verbal – quando os dois recursos
expressivos são utilizados em conjunto. Isso ocorre, por exemplo, em história em
quadrinhos, propagandas, filmes e outras produções que utilizam ao mesmo tempo
palavras e imagens.
Observemos a charge:
Ao observarmos o que está expresso na superfície textual, ou seja, aquilo
que é visível notamos que esse texto é formado por um tema “trabalho escravo”;
logo a seguir, há uma imagem de homens que se subdividem em dois grupos:
possíveis cortadores de cana de açúcar e o “patrão”, com um chicote na mão, junto
aos seus capatazes armados; e abaixo da imagem, temos os dizeres: “Aquele que
ficar por aí inventando esse tipo de mentira já sabe: duzentas chibatadas!”
Percebemos, portanto, que por meio da linguagem verbal e não verbal, o
texto aborda a questão do trabalho escravo, tema muito discutido no Congresso
Nacional Brasileiro, na época de publicação da charge. O governo pretendia
combater esse tipo de crime, mas encontrava resistência por parte de alguns
deputados e senadores, porque esses parlamentares eram proprietários de
algumas das fazendas investigadas.
A charge ironiza justamente essa questão: a existência do trabalho escravo
de forma não assumida. O “patrão” diz que denunciar o trabalho escravo é inventar
mentira, mas, ao mesmo tempo, encontra-se com um chicote na mão como faziam
os senhores e feitores, na época da escravatura. É claro que essa leitura só será
possível se fizermos a junção dos dois tipos de imagens.
Portanto, o sentido desse texto, e de todos os outros que analisamos, ocorre
pela relação que um elemento mantém com os demais constituintes do todo. Esse
sentido do todo não é mera soma de partes, mas pelas várias relações que se
estabelecem entre si. Por isso, não podemos fazer a leitura somente da imagem ou
somente do que está escrito, é necessário fazermos a leitura do todo.
Além dessas questões tratadas até aqui, cabe dizer que todo texto é
produzido por um sujeito num determinado tempo e num determinado espaço.
Conforme diz Fiorin (1996, 17-18),
(...) esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e
num espaço, expõe em seus textos as idéias, os anseios, os
temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.
Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que
narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as
concepções de um grupo social numa determinada época.
Cada período histórico coloca para os homens certos
problemas e os textos pronunciam-se sobre eles.
Por isso, em um texto temos sempre a amostragem de um fato, ocorrido num
determinado momento, vista sob um ponto de vista social representado por um
sujeito. Dessa forma, ao analisarmos um texto, além de verificarmos a unidade
existente entre as partes, temos de observar o contexto.
Texto e Contexto
Quando analisamos a charge “Trabalho Escravo”, dissemos que esse
assunto estava sendo discutido no Congresso Nacional e que alguns parlamentares
apresentavam certa resistência para discutir o assunto. Ora, essas questões são
importantes para o entendimento da charge, mas elas não estão marcadas na
superfície textual. O seu sentido ocorrerá mediante o conhecimento de mundo do
leitor, em saber em que situação ela foi produzida, ou seja, levando em conta o
CONTEXTO.
Fiorin (1994, 12) define contexto como “uma unidade linguística maior onde
se encaixa uma unidade linguística menor”. Assim, a palavra encaixa-se no
contexto da frase, esta no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no
contexto do capítulo, o capítulo no contexto da obra toda e a obra encaixa-se no
contexto social.
Fica mais clara a questão do contexto, quando adotamos a metáfora do
iceberg. Aquilo que visualizamos é chamado ponta do iceberg, pois, como o próprio
nome diz, é uma pequena parte que fica exposta na superfície da água. Contudo,
essa ponta se apóia numa imensa parte que fica submersa, a fim de dar
sustentação. Essa parte submersa é o que chamamos de contexto, pois é ele quem
dá sustentação ao texto, que é a ponta do iceberg. Observe o texto:
Para entender essa tirinha, precisamos considerar algumas questões que
não estão explícitas, mas que fazem sentido no contexto. Vivemos, hoje, um padrão
de beleza feminino em que a mulher tem de ser considerada magra. A dieta e a
“boa forma” são um dos assuntos mais comentados. Isso não significa que sempre
tenha sido dessa forma. Na época da Renascença, o padrão “gordinha” era
sinônimo de beleza, pois demonstrava que a família da referida mulher era
abastada. Na Idade Média, a ideia de fertilidade imposta como contraponto de uma
época de matanças ocorridas nas cruzadas, trazia uma mulher de quadril largo e
ventre avolumado. Em nossos dias a beleza, assim como a moda, está relacionada
a padrões de magreza impostos pela indústria da moda, para valorizar a roupa.
Portanto, em nossa época, quando um homem chama uma mulher de gorda, está
“comprando briga”. É o que ocorre na tirinha. E além de tudo, e o que é pior, ele
repetiu que ela havia engordado!!!!
Fiorin (1996), também traz um exemplo muito esclarecedor para
compreendermos a importância do contexto. Quando Lula disse a Collor no primeiro
debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989 “Eu sabia que você
era collorido por fora, mas caiado por dentro”, todos os brasileiros entenderam que
essa frase não queria dizer você tem cores por fora, mas é revestido de cal por
dentro, mas você apresentou um discurso moderno, de centro-esquerda, mas é
reacionário. Como foi possível entender a frase dessa maneira? Porque ela foi
colocada dentro do contexto dos discursos da campanha presidencial. Nele, o
adjetivo collorido significa relativo à Collor, “adepto de Collor”, ou seja, Collor
apresenta-se como um renovador, como alguém que pretendia modernizar o país,
melhorar a distribuição de renda, combater os privilégios dos mais favorecidos.
Havia também, na disputa, o candidato Ronaldo Caiado, de extrema direita que
defendia a manutenção do status quo. As frases ganham sentidos porque estão
correlacionadas umas às outras, dentro de uma situação comunicacional, que é o
contexto.
Portanto, diante do exposto, podemos entender que o contexto traz
informações importantes que acompanham o texto. Assim sendo, não basta a
leitura do texto, é preciso retomar os elementos do contexto, aqueles que estiveram
presentes na situação de sua construção. A produção e recepção de um texto estão
condicionadas à situação; daí a importância de o leitor conhecer as circunstâncias e
ambiente que motivaram a seleção e a organização dos aspectos linguísticos.
Podemos dizer que existem o contexto imediato e o situacional. O
contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou precedem o texto
imediatamente. São os chamados referentes textuais. O título de um poema pode
despertar determinadas decodificações. Esse contexto é aquele que
compreendemos em uma frase, quando a lemos no parágrafo; ou quando
entendemos o parágrafo, no momento em que lemos todo o texto. Leia o poema a
seguir:
O que se diz
Carlos Drummond de Andrade
Que frio! Que vento! Que calor! Que caro!
Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira!
Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que
doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que
confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada...
Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida
(http://www.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf)
Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no
último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois
são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós
exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os
elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de
um CONTEXTO IMEDIATO.
O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse
contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias,
para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma
postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de
mundo, a fim de depreender o sentido exigido.
Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a
nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para
entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura,
assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos
acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e
retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será
muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes,
reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge:
Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a
charge?
Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que
estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o
logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas
pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a
pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma
charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o
Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à
segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se
preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos
estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso
conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de
mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL.
A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos
nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é
preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do
leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem
subliminarmente impressos na mensagem textual.
Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em
que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de
fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas
informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na
situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões),
a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo
construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em
vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas
situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os
seguintes fatores:
Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função
desses fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas
produções textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que
caracterizam, na situação de interação comunicativa.
Por que escrevo? Para quem escrevo?
De onde eu escrevo?
Que efeitos de sentido quero provocar?
Que efeitos de sentido NÃO quero provocar?
O que sei sobre o assunto de que vou tratar?
COMO INTERPRETAMOS UM TEXTO
Caro aluno,
Como tem sido as suas leituras? Você lê com frequência? Quando lê, você
consegue entender claramente o que o texto quer dizer?
Uma das maiores dificuldades encontradas pelos alunos, em relação ao
aprendizado de um conteúdo, é a deficiência na leitura e compreensão do sentido
dessa leitura. Isto quer dizer que muitos não conseguem entender o que leem ou
apenas reproduzem, com as mesmas palavras, o que está escrito na superfície
textual, ou seja, naquilo que está escrito ”literalmente” ou mostrado. Abaixo segue
uma crônica de Ignácio de L. Brandão, publicada no jornal O Estado de São Paulo.
Leia-a atentamente, para entender o que acabamos de falar:
Para quem não dorme de touca
Na infância, ele era diferente. Acreditava nos outros, acreditava nas coisas.
Quando alguém dizia:
- Por que não vai ver se estou na esquina?
Ele corria até a esquina, olhava, esperava um pouco, reconfirmava e voltava:
- Não tem ninguém na esquina.
- Quer dizer que voltei.
- Por que não me avisou que voltou?
- Voltei por outro caminho.
- Que outro caminho?
- O caminho das pedras. Não conhece o caminho das pedras?
- Não.
- Então não vai ser nada na vida.
Outra vez, numa discussão, alguém foi imperioso:
- Quer saber? Vá plantar batatas.
Ele correu no armazém, comprou um quilo de batatas e foi até o quintal, plantou
tudo. Não é que as batatas germinaram! Houve também aquele dia em que um
amigo convidou:
- Vamos matar o bicho?
- Onde o bicho está?
- Ali no bar.
- Que bicho? É perigoso? Me dê um minuto, passo em casa, pego a espingarda
do meu pai ...
- Espingarda? Venha com a sede.
- Não estou com sede.
- Matar o bicho, meu caro, é beber uma pinga.
Em outra ocasião, um primo perguntou:
- Você fez alguma coisa para a Mercedes?
- Não. Por quê?
- Ela passou por mim, está com a cara amarrada.
- Amarrada com barbante, com corda, com arame? Por que uma pessoa amarra
a cara da outra?
- Nada, esquece! Você ficou com a cara de mamão macho, me deixou com cara
de tacho. É um cara-de-pau e ainda fica aí me olhando com a mesma cara.
Outra vez, uma menina, que ele queria namorar, se encheu:
- Pára! Não me amole! Por que não vai pentear macaco?
Naquela tarde ele foi surpreendido no minizoológico do bairro, com um pente na
mão e tentando agarrar um macaco, a quem procurava seduzir com bananas. Uma
noite combinaram de jogar baralho e um dos parceiros propôs:
- Vai ser a dinheiro ou a leite de pato?
- Leite de pato, propuseram os jogadores.
Ele se levantou:
- Então, esperem um pouco. Trouxe dinheiro, mas não leito e de pato. Vou
providenciar.
- E onde vai buscar leite de pato?
- A Mirela, ali da esquina, tem um galinheiro enorme, está cheio de patos. Vou
ver o que arranjo.
Voltou meia hora depois:
- Não vou poder jogar. Os patos, me disse a Mirela, não estão dando leite faz
uma semana.
Riram e mandaram ele sentar e jogar. Em certo momento, um jogador se irritou,
porque o adversário, apesar de ingênuo e inocente, tinha muita sorte.
- Vou parar. Você está jogando com cartas marcadas.
- Claro que tem marca! É Copag, a melhor fábrica de baralhos. Boa marca, não
conheço outra.
- Está me fazendo de bobo, mas aí tem dente de coelho.
- Juro que não! Por que haveria de ter dente de coelho? Quem tirou o dente do
coelho?
- Além do mais, você mente com quantos dentes tem na boca. A gente precisa
ficar de orelha em pé.
- Não estou fazendo nada. Estou na minha, com meu joguinho, vocês é que
implicam.
- Desculpa de mau jogador.
- Não devo nada a ninguém aqui.
- Deve os olhos da cara.
- Devo? Não comprei os meus olhos. Nasceram comigo. Só se meus pais
compraram e não pagaram.
Todos provocaram, pagavam para ver.
- Não venha com conversa mole, pensa que dormimos de botina?
- Não penso nada. Aliás, nunca vi nenhum de vocês de botina.
- Melhor enrolar a língua, se não se enrosca todo.
- Não venha nos fazer a boca doce, que bem te conhecemos!
As conversas eram sempre assim. Pelo menos foram até meus 20 anos, quando
deixei a cidade. A essa altura, vocês podem estar pensando que ele era sonso,
imbecilizado. Garanto que não. Tanto que, hoje, é um empresário bem-sucedido,
fabrica lençóis, fronhas e edredons, é dono de uma marca bem conhecida, a Bem
Querer & Bem-Estar. Não sei se um de vocês já comprou. Se não, recomendo.
Claro, recomendo a quem não dorme de touca, quem não tem conversa mole para
boi dormir, quem não dorme no ponto, quem não dorme na portaria, para aqueles
que não dormem sobre louros. Enfim, para quem não dorme com um olho aberto e
o outro fechado.
(BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Estado de São Paulo, 8 jul. 2005. Caderno 2, p.
D14.)
Observamos que nessa crônica, o sujeito destacado pelo narrador somente
entendia as orações de forma literal, ou seja, ele não conseguia entender a
intenção proposta pelas pessoas, quando diziam algo. Você já vivenciou esse fato?
Essa história parece ser até ridícula; aparentemente nenhuma pessoa faria
isso, pois dentro da ação comunicativa, o indivíduo consegue entender que essas
expressões são formas de dizer, ou seja, elas são expressões populares, usadas
como figuras de linguagem para dizer algo com outro sentido.
Infelizmente, essa situação é muito comum durante o ato da leitura, porque,
muitas vezes, o leitor não consegue entender a intenção do autor. Ele começa a
pensar e a dizer algo que não está no texto.
Você já leu um texto, fez uma interpretação e quando foi ver a sua
interpretação não era a ideia central do texto? Por que será que isso ocorre?
Porque muitas vezes nós queremos entender o texto de forma literal, ou
então isolamos palavras ou frases e fazemos nossa análise sem olhar o todo.
Devemos entender que a totalidade de sentido de um texto não está somente
naquilo que está escrito, conhecido como superfície textual (o que é mostrado), mas
também está nos aspectos considerados não ditos.
No texto, podemos dizer que existem dois planos: aquilo que está mostrado
mediante as letras, palavras, figuras e gestos; e aquilo que está implícito, oculto,
ou seja, aquilo que está além dessas letras, palavras, figuras e gestos. É o que
acontece na crônica. Quando foi dito “Vai ver se eu estou na esquina” a pessoa não
Talvez, você esteja se perguntando: “Como assim?”
queria que o sujeito que recebeu essa informação fosse até à esquina a fim de
verificar essa informação, porque não haveria necessidade, uma vez que ela já
estava bem à sua frente. Na realidade, por meio desses dizeres, o desejo dessa
pessoa é que o outro parasse de perturbá-la.
No entanto, deverá surgir uma nova pergunta: “Será que eu tenho essas
mesmas atitudes em relação à interpretação dos textos?”
Infelizmente, muitos ainda têm. Quer fazer um teste? Leia a seguir a fábula
de Millôr Fernandes:
A RAPOSA E AS UVAS
De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os
tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia
por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto,
cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o
corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não
conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não
conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes,
com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo,
com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a
pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra,
perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a
pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu.
Realmente as uvas estavam muito verdes!
MORAL: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra.
Fonte: (FERNANDES, Millôr. Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991)
Se alguém lhe perguntasse “o que você
entendeu do texto?”, o que diria? Tente
formular, em sua mente, a interpretação do
texto. Talvez, tenha conseguido formular a
seguinte interpretação:
Essa fábula narra a história de uma raposa,
que não comia já há quatro dias e que,
portanto, estava com muita fome. Ela saiu do
areal do deserto e foi a um parreiral que descia
por um precipício. Ela olhou e viu que os
cachos de uvas eram grandes e maravilhosos.
A raposa tentou pegá-los por diversas vezes, mas como não conseguiu, desistiu,
dizendo que as uvas estavam muito verdes. Quando estava indo embora, se
deparou com uma pedra enorme. Com muito esforço empurrou a pedra até o local
em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra e conseguiu pegá-lo. Colocou o
cacho inteiro na boca e o cuspiu imediatamente, por que as uvas estavam muito
verdes.
Se essa foi a sua interpretação, ela foi apenas uma reprodução do que está
na superfície do texto, ou seja, ela é muito parecida com o sujeito da crônica que
entendia tudo literalmente. Ao contar essa fábula, a intenção é muito maior do que
apenas narrar a história de uma raposa que estava com fome.
Então, qual seria a possibilidade de interpretação? Tente enxergar outros
significados que estão além das palavras. Por exemplo:
Observe que essas questões estão nos fazendo olhar não apenas para
aquilo que está dito, mas buscarmos significados que estão além do texto. Isso
deve ocorrer na interpretação de todo texto.
O que é uma fábula?
Qual a relação da fábula com a moral?
Ao analisar a fábula “A Raposa e as Uvas”, devemos primeiramente ter o
conhecimento de que uma fábula é uma narrativa figurada, na qual as personagens
são geralmente animais que possuem características humanas.
Pode ser escrita em prosa ou em verso e é sustentada sempre por uma lição
de moral, constatada na conclusão da história. Ela é muito utilizada com fins
educacionais. Muitos provérbios ou ditos populares vieram da moral contida nesta
narrativa alegórica, como por exemplo: “A pressa é inimiga da perfeição” na fábula
A lebre e a tartaruga e “Um amigo na hora da necessidade é um amigo de verdade”
em A cigarra e as Formigas. Portanto, sempre que alguém redige uma fábula ele
deve ter em mente um ensinamento. Além disso, observamos que na fábula a
raposa não tem procedimentos próprios de um animal, mas de ser humano, pois ela
falou, empurrou a pedra, armou toda uma estratégia para pegar as uvas etc.
Diante disso, uma vez que a fábula sempre procura trazer um ensinamento,
devemos analisar a relação que existe entre a narrativa e a moral. Num primeiro
momento, o texto parece ter um caráter
ingênuo, de uma narrativa aparentemente
infantil, conforme apontamos naquela
interpretação literal. Contudo, quando
observamos alguns elementos textuais que
estão presentes na fábula, ampliamos a
nossa leitura. Logo no início da narrativa é
colocada não uma necessidade fisiológica (a
fome da raposa), mas uma questão comportamental (a gula da personagem), dado
importante para reforçar a conclusão. Além
disso, aparecem várias tentativas do animal
em obter o objeto de desejo que alimentaria
sua gula, mesmo depois de vários fracassos.
Só então a raposa emite um juízo “Ah,
também não tem importância. Estão muito
verdes.” (É bom ressaltar que esse
enunciado é precedido das expressões
“entre dentes, com raiva”, que evidenciam as condições da raposa no momento em
que diz).
A partir daí, novos dizeres se apresentam no texto em virtude da intenção de
sentido. Ao se deparar com uma enorme pedra, a raposa é reanimada e tenta
novamente atingir seu objetivo, ignorando o que havia afirmado anteriormente,
premida pelas circunstâncias. Isso, aparentemente, comprova que as palavras da
personagem eram apenas tidas como desculpas por não ter conseguido a fruta
para saciar sua gula. Contudo, a raposa consegue, com muito esforço, o que
pretendia - apanhar as uvas - mas, ao contrário do que desejava, as uvas estavam
realmente verdes, expelindo-as de sua boca de tal forma que não as consumisse.
Nesse ponto, o texto amplia os horizontes do significado, determinando a
moral, cujo sentido está em confirmar a questão comportamental e não a
necessidade fisiológica. As uvas já se mostravam verdes e a raposa já havia
percebido, tanto que já o havia declarado anteriormente, mas o estado de gula era
tal, que se sobrepôs à razão. Somente no momento em que provou as uvas e
houve a confirmação do que já sabia é que veio a
consciência de não poder desfrutar daquela fruta,
daí, então, ocorre a frustração.
É claro que para fazer essa leitura e
interpretação, é necessário que o leitor comece a
perceber que aquilo que é visível num texto não é a
única leitura, mas a partir desses aspectos visíveis
associados a outros aspectos que já fazem parte da
vivência do leitor, essa leitura será ampliada.
Portanto, para compreender o que está além daquilo
que é visível, precisamos ativar o que chamamos de
conhecimento de mundo.
Mas, o que é esse conhecimento de mundo?
Durante a nossa vida, nós adquirimos vários tipos de conhecimentos que
ficam arquivados em nossa memória. Por isso, é fundamental que um indivíduo
tenha acesso à cultura, faça diversas leituras, ouça música, veja filmes, pois quanto
maior for a sua experiência, maior será o seu conhecimento.
Ao fazermos uma leitura ou uma interpretação de texto, nós ativamos esse
conhecimento de mundo, para estabelecer sentido ao texto. Por isso, a leitura é
uma atividade na qual se leva em conta as experiências e os conhecimentos do
leitor.
Koch e Elias (2007, 11) dizem que “a leitura de um texto exige do leitor bem
mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o texto não é simples
produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo.”
Isso quer dizer que quando lemos algo, não basta apenas conhecermos as
letras ou identificarmos as imagens, pois isso
caracterizaria uma leitura ingênua. Durante o
ato da leitura, não somos simples leitores num
estado de passividade, apenas recebendo
informação, mas, devemos ser pessoas ativas
nessa leitura, buscando preencher as
lacunas que o texto tem e procurando
descobrir a intenção que está por trás dessa “superfície
textual”. Essa ação é o que chamamos de
posicionamento crítico. Segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais
A leitura é o processo no qual o
leitor realiza um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do
texto, a partir de seus objetivos, de
seu conhecimento sobre o assunto,
sobre o autor, de tudo o que sabe
sobre a linguagem etc. Não se trata
de extrair informação, decodificando
letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade
que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e
verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso
desses procedimentos que possibilita controlar o que vai
sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades
de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos,
validar no texto suposições feitas.
(BRASIL. PCNS: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental. Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998,
pp. 69-70.)
Portanto, o nosso desafio é fazê-lo perceber que há níveis de leitura e
entendimento de um texto. Muitas vezes, uma pessoa fica somente no primeiro
nível, o da superfície do texto, sendo que o sentido do texto vai muito além. Para
ajudar ainda mais no entendimento desse sentido, é necessário saber, também,
que tudo é construído dentro de um aspecto ideológico.
Quando Millôr Fernandes escreveu a fábula “A Raposa e as Uvas” procurou,
conforme analisamos, trazer como ensinamento a repreensão à gula. Para isso, ele
parte do princípio que a gula é algo condenado socialmente, uma vez que ela
pertence aos sete pecados capitais. Dessa forma, essa fábula confirma os valores
sociais, mostrando a gula de forma depreciativa, passível de um julgamento.
Agora, suponhamos que uma empresa de alimentos fosse fazer uma propaganda.
Você acha que ela seria a favor ou contra a gula? Pegue como exemplo alguns
comerciais de alimentos, principalmente quando se trata de algum chocolate: neles,
normalmente, aparece uma criança toda lambuzada, pois ela come o doce com
tanto prazer, que acaba se sujando toda.
Agora me responda: a empresa que faz a propaganda tem a mesma visão
de gula presente na fábula ou uma visão contrária? Por que isso ocorre?
Percebemos que é uma visão contrária, pois o objetivo dessa empresa é
fazer que o leitor consuma o maior número possível de produtos, para que ela
obtenha lucros. Portanto, a gula não seria vista como algo maléfico, mas benéfico.
Agora, leia o poema a seguir:
Aspecto Ideológico? O que é isto?
A gula
Sorvo delícias em prazeres
que mal mastigo...
Compenso-me em torrões
mascavados de deleite
Repasto-me em trouxas
douradas de ovos moles
Degusto ostras
ovadas de luar
e empanturro-me
em iguarias às quais
não ofereço resistência
E confesso-me pecadora
e escrava desta gula,
que leva à mesa,
o banquete que me sacia,
meu regozijo e conforto,
prova das minhas fraquezas.
Maria Fernanda Reis Esteves
(http://www.luso-poemas.net)
Nesse poema, como é vista a gula? É vista como algo aceito ou condenado
pelo eu-lírico, ou seja, por aquele que está dizendo o poema? O que o faz ter esse
posicionamento?
Ao analisarmos o poema, vemos uma pessoa que se declara pecadora e
escrava da gula. Embora consciente de que a gula é algo condenado socialmente,
ela sente prazer no que faz. E parece não ligar por estar transgredindo os valores
sociais. Ela sabe que a gula é uma fraqueza dela, todavia, ela se sente confortável.
Essa consciência e esse conforto vêm marcados no poema pelos verbos
“sorvo”, “repasto”, “degusto” e “empanturro”, pois estão todos ligados a ação de
saborear algo. Esse posicionamento se mostra diferente da fábula e da empresa de
alimentos.
Então, o que nos leva a ter essas três visões diferenciadas da gula? São os
chamados pressupostos ideológicos de cada sujeito constituído no texto. Dessa
forma, cabe-nos ver um pouco sobre a questão da ideologia e a linguagem.
Segundo Marilena Chauí (O que é ideologia, p. 113),
“a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de
representações (ideias e valores) e de normas e de regras (de
conduta) que indicam e prescrevem aos membros da
sociedade o que devem pensar e como devem pensar o que
devem valorizar e como devem sentir, o que devem fazer e
como devem fazer.”
Leia novamente essa definição e pense no que Marilena Chauí quer dizer.
Esse é um bom teste para ver o seu nível de leitura.
Se você for a um dicionário ou a um livro de filosofia, verá outras definições
de ideologia, todavia, essa definição dada por Chauí está bem apropriada ao que
estamos falando.
Um indivíduo, durante a sua formação vai adquirindo valores sociais, regras
de conduta que vão direcionar a sua vida. Ele buscará interpretar os fatos e se
expressar de acordo com essas ideias.
Por exemplo, se um indivíduo é de uma família em que certas palavras não
podem ser ditas porque são proibidas, esse indivíduo sempre as verá dessa forma,
por isso, procurará evitá-las.
Isso é o que ocorre nos textos, cuja temática é sobre a gula. O modo de ver
a gula e falar dela dependerá dessa questão de valores.
Esses valores, essas regras e normas são o que formam a ideologia,
portanto, o seu significado está ligado a um conjunto de ideias, de pensamentos,
das experiências de vida de um indivíduo e é por meio desta ideologia que o
indivídio interpreta seu mundo, os textos que lê e as informações que recebe por
meio de suas ações e linguagem.
Todavia, muitas vezes, a ideologia é utilizada dentro de um aspecto negativo,
porque ela pode ser usada como uma forma de mascarar a verdade. Por exemplo,
quando o patrão diz aos empregados que quanto mais eles produzirem, mais
pessoas dignas e de sucesso serão; na realidade, esse patrão está se utilizando
dos aspectos ideológicos nessa fala, pois, o que de fato deseja é a grande
produção para um maior faturamento. Na sua fala há uma intenção implícita que
não é condizente com o que ele está transmitindo. Isso é muito comum na
propaganda. Com o propósito de
vender um produto, a empresa
mostra todas as qualificações desse
produto, nos passando a ideia de que
ele é importantíssimo para o
consumidor e nós somos persuadidos
de tal forma que queremos adquiri-lo.
Veja esta propaganda antiga.
Em meados do século XX, a
enceradeira surgiu como uma
inovação tecnológica importante para
a dona de casa, pois muitas mulheres
enceravam a sua casa com um
escovão ou de joelho com um pano
na mão. Procure observar essa
propaganda e veja como ela procura
vender o produto “enceradeira”.
Se você nunca passou uma enceradeira, pergunte para sua mãe se era
dessa forma que ela encerava a casa: salto, cabelo escovado, saia e blusa, como
se fosse uma princesa. Tenho certeza de que não era assim.
Observe que a propaganda quer vender a ideia de que quem comprasse a
Enceradeira Arno Super iria ter prazer em fazer a faxina de casa e nem sentiria
cansaço. Todavia, essa ideia não é verdadeira. Portanto, a empresa se apropriou
dos aspectos ideológicos para camuflar a verdade.
Dessa forma, a realidade é distorcida a partir de um conjunto de
representações pelo qual os homens se utilizam para explicar e compreender sua
própria vida individual e social. Isso ocorre com todos os indivíduos, porque nós
somos governados por uma ordem social.
A ideologia, portanto, é um sinal de significação que está presente em
qualquer tipo de mensagem, pois, em toda mensagem sempre há por trás uma
intenção que normalmente não é claramente dita.
Desta forma podemos afirmar que todos nós deixamos nossa marca de visão
de mundo, dos nossos valores e crenças, e de INTENÇÃO, ou seja, de nossa
ideologia, no uso que fazemos da linguagem, pois nós recorremos a ela para
expressar nossos sentimentos, opiniões e desejos. E é por meio da linguagem que
interpretamos a realidade que nos cerca.
Porém, essa interpretação não é totalmente livre, pois ela é construída
historicamente a partir de uma série de aspectos ideológicos que todos nós temos,
mesmo sem nos darmos conta de sua existência.
Tomem como exemplo textos que valorizam a imagem da mulher como a
dona de casa perfeita, por exemplo, recorrem a um vocabulário que traduz as
características vistas como positivas, tais como, a mulher é a rainha do lar, o anjo
do lar, a mãe exemplar, a esposa perfeita, a santa senhora. Tais expressões eram
muito utilizadas nas propagandas das décadas de 40, 50 e 60. Elas funcionavam
para encobrir, na realidade, a verdadeira trabalhadora do lar, a qual deveria
manusear todos os eletrodomésticos para manter sua casa permanentemente limpa
para seu esposo.
Para entendermos ainda melhor os conceitos que estamos trabalhando, no
quadro a seguir, encontramos três músicas. Faça uma comparação entre elas e
veja qual é o perfil de juventude que encontramos nessas músicas. São os mesmos
perfis? A data da composição das músicas é importante para a concepção desses
perfis?
Toda essa questão parece ser muito complexa, pois é
muito conceitual. Então veremos a seguir como de fato a
ideologia se dá nos textos.
Alegria, Alegria
Caminhando contra o
vento
Sem lenço e sem
documento
No sol de quase
dezembro
Eu vou...
O sol se reparte em
crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de
amor
Em dentes, pernas,
bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...
O sol nas bancas de
revista
Me enche de alegria e
preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores
vãos
Eu vou
Por que não? Por que
não?
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à
escola
Sem lenço e sem
documento,
Eu vou...
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Como Nossos Pais
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu
vivi
E tudo o que aconteceu
comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na
rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no
vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida
viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Geração Coca-Cola
Quando nascemos fomos
programados
A receber o que vocês
Nos empurraram com os
enlatados
Dos U.S.A., de nove as
seis.
Desde pequenos nós
comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa
vez
Vamos cuspir de volta o
lixo em cima de vocês
Somos os filhos da
revolução
Somos burgueses sem
religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Depois de 20 anos na
escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu
jogo sujo
Não é assim que tem que
ser
Vamos fazer nosso dever
de casa
E aí então vocês vão ver
Suas crianças derrubando
reis
Fazer comédia no cinema
com as suas leis
Somos os filhos da
revolução
Somos burgueses sem
religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Geração Coca-Cola
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...
Sem lenço, sem
documento
Nada no bolso ou nas
mãos
Eu quero seguir vivendo,
amor
Eu vou...
Por que não? Por que
não?
Caetano Veloso
Composição: Caetano
Veloso/ 1967
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais
ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...
Elis Regina
Composição:Belchior1976
Geração Coca-Cola
Legião Urbana
Composição: Renato
Russo / Fê Lemos / 1985
Você percebeu que essas músicas foram compostas em três décadas
diferentes? A primeira em 1967, a segunda em 1976 e a terceira em 1985. Nelas,
encontramos diferenças nos perfis dos jovens que está intimamente ligada com a
ideologia dominante da época. Veja a análise!!!
Na primeira música, temos um jovem que vive a opressão sofrida nas ruas,
nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país na década
de 60. A letra denuncia o abuso de poder de forma metafórica: “caminhando contra
o vento/sem lenço e sem documento”; expressa a violência praticada pelo regime:
“sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil”; denuncia a
precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria
pessoas alienadas: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e
preguiça/quem lê tanta notícia?”.
Na segunda música, a canção fala sobre o tempo e a juventude, a
maturidade e a impotência, a ilusão e a decepção, sobre ganhar e perder. Embora
as pessoas sejam tão previsíveis e as histórias, inclusive políticas, costumem
acabar praticamente sempre “em pizza”, como se costuma dizer no Brasil, o autor
nos alerta do quão é importante que façamos a nossa parte. É importante não
desistir.
Na terceira, temos uma geração marcada pelo consumismo, que procuram
para si a praticidade e os produtos importados. É uma juventude que se deixa
envolver pelo caminho mais fácil, deixando de lado ideais revolucionários.
Como se vê, as idéias produzidas num determinado tempo, numa dada
época estão sempre presentes no texto. Por isso, é preciso verificar as concepções
e fatos correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para
ajudar-nos a entender os aspectos ideológicos, ou seja, as crenças, valores e
pensamentos relacionados à época e, consequentemente, fazermos uma leitura
além da superfície de um texto.
Coesão e Coerência Textual
Uma das propriedades que distingue um texto de um amontoado de palavras ou frases é o
relacionamento existente entre si. De que trata, então, a coesão textual? Da ligação, da
relação, da conexão entre as palavras de um texto, através de elementos formais, que
assinalam o vínculo entre os seus componentes.
Uma das modalidades de coesão é a remissão. E a coesão pode desempenhar a função
de (re)ativação do referente. A reativação do referente no texto é realizada por meio da
referenciação anafórica ou catafórica, formando-se cadeias coesivas mais ou menos
longas.
A remissão anafórica (para trás) realiza-se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa
(retos e oblíquos) e os demais pronomes; também por numerais, advérbios e artigos.
Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são
diferentes.Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz.
Explicação: O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este
recupera a palavra Pedro; aquele , o termo André; o faz, o predicado briga com quem
torce para o outro time - são anafóricos.
A remissão catafórica (para a frente) realiza-se preferencialmente através de pronomes
demonstrativos ou indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas também por meio das
demais espécies de pronomes, de advérbios e de numerais. Exemplos:
Exemplo: Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de
profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos
dele, o professor, gordo e silencioso, de ombros contraídos.
Explicação: O pronome possessivo seu e o pronome pessoal reto ele antecipam a
expressão o professor - são catafóricos.
De que trata a coerência textual ? Da relação que se estabelece entre as diversas partes
do texto, criando uma unidade de sentido. Está, portanto, ligada ao entendimento, à
possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou lê.
Modelo de questão: coesão e coerência (AFRF-2003)
As questões de números 01 e 02 têm o texto abaixo como base.
Falar em direitos humanos pressupõe localizar a realidade que os faz emergir no contexto
sócio-político e histórico-estrutural do processo contraditório de criação das
sociedades.Implica, em suma, desvendar, a cada momento deste processo, o que venha a
resultar como direitos novos até então escondidos sob a lógica perversa de regimes
políticos, sociais e econômicos, injustos e comprometedores da liberdade humana.
Este ponto de vista referencial determina a dimensão do problema dos direitos humanos
na América Latina.
Neste contexto, a fiel abordagem acerca das condições presentes e dos caminhos futuros
dos direitos humanos passa, necessariamente, pela reflexão em torno das relações
econômicas internacionais entre países periféricos e países centrais.
As desarticulações que desta situação resultam não chegam a modificar a base estrutural
destas relações: a extrema dependência a que estão submetidos os países periféricos,
tanto no que concerne ao agravamento das condições de trabalho e de vida (degradação
dos salários e dos benefícios sociais), quanto na dependência tecnológica, cultural e
ideológica.
(Núcleo de estudos para a Paz e Direitos Humanos, UnB in: Introdução Crítica ao
Direito,com adaptações)
01. Assinale a opção que não estabelece uma continuidade coerente e
gramaticalmente correta para o texto
a) Nesta parte do mundo, imensas parcelas da população não têm minimamente garantida
sua sobrevivência material. Como, pois, reivindicar direitos fundamentais se a estrutura da
sociedade não permite o desenvolvimento da consciência em sua razão plena?
b) Por conseguinte, a questão dos Direitos tem significado político, enquanto realização
histórica de uma sociedade de plena superação das desigualdades, como organização
social da liberdade.
c) Assim, pois, a opressão substitui a liberdade. A percepção da complexidade da
realidade latino-americana remete diretamente a uma compreensão da questão do homem
ao substituí-lo pela questão da tecnologia.
d) Na América Latina, por isso, a luta pelos direitos humanos engloba e unifica em um
mesmo momento histórico, atual, a reivindicação dos direitos pessoais.
e) Não nos esqueçamos que a construção do autoritarismo, que marcou profundamente
nossas estruturas sociais, configurou o sistema político imprescindível para a manutenção
e reprodução dessa dependência.
DICAS: esse tipo de questão exige a capacidade de seleção das informações básicas do
texto e de percepção dos elementos de coesão constitutivos do último período e sua
interligação com o parágrafo subsequente; nesse caso, a opção que será marcada.
O texto trata dos direitos humanos - a realidade no contexto sócio- político e histórico
estrutural - processo de criação das sociedades; "as relações econômicas internacionais
entre países periféricos( a sua dependência) e países centrais".
O gabarito assinala a altern. C.
Justificativa: o comando da questão pede "a opção que não estabelece uma
continuidade..." , a alternativa C inicia, estabelecendo relação de conclusão ( "Assim,
pois,a opressão...") utilizando-se de elementos que não são citados no texto: opressão -
liberdade - tecnologia, caracterizando incoerência textual.Nas demais alternativas há
expressões que fazem menção às ideias do texto. Serão grifadas as palavras ou
expressões relacionadas ao texto:
*na altern.a)"... nessa parte do mundo..." (países periféricos),
* na altern.b)"... a questão dos Direitos tem significado político..." (parte inicial do texto),
*na altern. d) "Na América Latina, por isso, a luta pelos direitos humano..."
* na altern.e)"... o sistema político imprescindível para a manutenção e reprodução dessa
dependência." (tanto a letra d) quanto a e) fazem referência às informações básicas do
texto.
02. Assinale a opção em que, no texto, a expressão que antecede a barra não retoma
a ideia da segunda expressão que sucede a barra.
a) "realidade" (l.2) / " contexto sócio-político e histórico-estrutural do processo" (l.2 e 3)
b) "deste processo" (l.6) / " Processo contraditório de criação das sociedades" (l.3 e 4)
c) "Este ponto de vista referencial" (l.11) / "ideias expressas no primeiro parágrafo.
d) "Neste contexto" (l.14) / discussão sobre os direitos humanos na América Latina.
e) "desta situação" (l.20) / relações econômicas internacionais entre países periféricos e
países centrais.
GABARITO:A
DICAS: essa questão é típica de coesão textual que trata dos elementos anafóricos-
aqueles que retomam um elemento referencial(anterior). O objetivo do comando é "a
expressão que antecede a barra não retoma a ideia da segunda expressão. Se se
observar com atenção, a palavra "realidade" da altern. a) vem citada antes, no texto, que a
expressão "contexto sócio-político e histórico-estrutural do processo", portanto
corresponde ao que se pede. Daí, o gabarito apontar a altern a) como a indicada.
LINGUAGEM DENOTATIVA E LINGUAGEM CONOTATIVA:
QUANDO E POR QUE AS UTILIZAMOS
Você já pensou na importância que as palavras ou as frases têm quando
queremos expressar uma idéia ou escrever um texto? Pois é, ao escrever ou falar,
valemo-nos do significado das palavras, para propositalmente mostrarmos a nossa
intenção. Se quisermos ser objetivos no que redigimos ou falamos, precisamos
utilizar uma linguagem denotativa, a palavra ou sentença empregada está na sua
significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária. Por
exemplo, a publicação da seguinte manchete no jornal: “NÃO CHOVE NO
NORDESTE HÁ DOIS MESES”. O verbo chover está sendo empregado numa
linguagem denotativa, pois a sua significação é literal, refere-se à precipitação
pluviométrica ou, trocando em miúdos, à água que cai do céu. Agora, se quisermos
evocar idéias por intermédio da emoção ou subjetividade, temos a linguagem
conotativa, que corresponde a uma transferência do significado usual para um
sentido figurado. Quando isso acontece, as figuras enriquecem o texto ou discurso.
Por exemplo, se lermos em um site de relacionamento a seguinte frase: “NÃO
CHOVE EM MINHA HORTA HÁ ALGUM TEMPO.”, o verbo chover, aqui, não está
num sentido literal, mas figurativo, porque o seu significado não dá a idéia de chuva
propriamente dita, mas de que faz algum tempo que uma pessoa que não tem
nenhum relacionamento com alguém.
Portanto, as palavras, expressões e enunciados da língua atuam
em dois planos distintos: a linguagem denotativa e a linguagem
conotativa. Vejamos cada uma delas com mais detalhes, para saber
quando e por que as usamos.
Linguagem denotativa
Leia o texto abaixo.
Há alguns anos, o Dr. Johnson O’ Connor, do Laboratório de Engenharia
Humana, de Boston, e do Instituto de Tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey,
submeteu a um teste de vocabulário cem alunos de um curso de formação de
dirigentes de empresas industriais, os executivos. Cinco anos mais tarde,
verificou que os dez por cento que havia revelado maior conhecimento ocupavam
cargos de direção, ao passo que dos vinte e cinco por cento mais “fracos”
nenhum alcançara igual posição.
Isso não prova, entretanto, que, para “vencer na vida”, basta ter um bom
vocabulário; outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias. Mas
parece não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à
expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores
condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros
cujo acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para tarefa vital da comunicação.
Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras
são o revestimento das idéias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar.
Como pensar que “amanhã tenho uma aula às 8 horas”, se não prefiguro
mentalmente essa atividade por meio dessas ou outras palavras equivalentes?
Não há como se pensar no nada. A própria clareza das idéias (se é que a temos
sem palavras) está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das
expressões que as traduzem. As próprias impressões colhidas em contato com o
mundo físico, através da experiência sensível, são tanto mais vivas quanto mais
capazes de serem traduzidas em palavras – e sem impressões vivas não haverá
expressão eficaz. É um círculo vicioso, sem dúvida: “... nossos hábitos
linguísticos afetam e são igualmente afetados pelo nosso comportamento, pelos
nossos hábitos físicos e mentais normais, tais como a observação, a percepção,
os sentimentos, a emoção, a imaginação”. De forma que um vocabulário escasso
e inadequado, incapaz de veicular impressões e concepções, mina o próprio
desenvolvimento mental, tolhe a imaginação e o poder criador, limitando a
capacidade de observar, compreender e até mesmo de sentir. (...)
Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais claro,
tanto mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão. Reciprocamente,
quanto mais escasso e impreciso, tanto mais dependentes estamos do grunhido,
do grito ou do gesto, formas rudimentares de comunicação capazes de traduzir
apenas expansões instintivas dos primitivos, dos infantes e... dos irracionais.
(GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 8 ed. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1980, p. 155-56).
Otton M. Garcia, nesse texto, trata sobre a importância de termos um
vocabulário amplo, pois quanto mais palavras conhecermos, mais condições
teremos de nos expressar quando comunicamos. Todavia, se tivermos um
vocabulário escasso e inadequado, teremos grandes dificuldades em expor nossas
idéias e compreender o que outras pessoas dizem. Para expor essa temática da
importância do vocabulário, Garcia
utilizou-se de uma estatística feita
nos Estados Unidos, comprovando
que aquelas pessoas que tinham
revelado um maior vocabulário se
tornaram chefes de seus setores, no
entanto, entre aqueles que tinham
um vocabulário muito limitado,
nenhum chegou a ocupar tal posto.
As palavras usadas no texto por Garcia, para desenvolver este assunto, são,
na sua grande maioria, abstratas, tais como “conhecimento, posição, qualidade,
pensamento, expressão etc.”, pois fazem referência a conceitos, preservando seu
sentido literal.
Portanto, há linguagem denotativa quando tomamos a palavra no seu sentido
usual ou literal, isto é, naquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é
objetivo, explícito. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se a um
único sentido. Você se lembra do texto “Para quem não dorme de touca”, cuja
personagem entendia tudo literalmente? Segundo o entendimento dessa
personagem, a linguagem tem somente uma forma de expressão. Todavia, isso não
é verdade, pois ela pode ser conotativa também.
Linguagem Conotativa
Além do sentido literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos
virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras idéias
associadas de ordem abstrata, subjetiva. Leia o poema abaixo.
No Corpo
De que vale tentar reconstruir com palavras
o que o verão levou
entre nuvens e risos
junto com o jornal velho pelos ares?
O sonho na boca, o incêndio na cama,
o apelo na noite
agora são apenas esta
contração (este clarão)
de maxilar dentro do rosto
A poesia é o presente
Ferreira Gullar
Ao lermos esse poema, percebemos que as palavras não têm um sentido
literal, mas figurativo. O eu-lírico compara seu passado a um jornal velho levado
pelo vento. O seu passado é apenas uma memória. Ele começa a reviver esse
passado na segunda estrofe, principalmente a sua vivência amorosa (“incêndio na
cama”, “o apelo na noite”). Disso, o que ficou no momento (“agora”) são apenas as
boas lembranças, que lhes trazem um sorriso estampado no rosto (“(este clarão) de
maxilar dentro do rosto”).
É muito comum encontrarmos a linguagem conotativa em textos literários,
pois eles têm uma preocupação essencialmente estética. No entanto, a
encontramos também em propagandas, textos jornalísticos, histórias em
quadrinhos, charges e em outros gêneros textuais. Pois, por meio dessa linguagem
se exploram diversos significados de uma palavra, causando o interesse do leitor
para a manchete ou provocando o riso e o duplo sentido. Veja esta propaganda a
seguir:
O outdoor da Assistência Funeral SINAF “Como arrumar uma coroa” utiliza-se
tanto o verbo como o substantivo no seu sentido conotativo (arrumar = conseguir,
coroa = senhora idosa) e para contribuir com esse sentido é colocada a imagem de
um senhor idoso e jovial (um coroa esperto) ao lado da mensagem escrita. Porém,
com o auxílio da imagem (este senhor idoso) atrelada ao nome do produto
(Assistência Funeral) se faz uma outra leitura: o verbo arrumar e o substantivo
coroa passam a ter seu sentido original, denotativo (conseguir enfeite de flores
utilizados em funerais).
É preciso que o destinatário tenha um conhecimento linguístico e cultural para
perceber a brincadeira irônica feita
na mensagem publicitária como um
recurso suavizador do assunto
(morte) delicado para nós ocidentais.
A ambiguidade suaviza e dissimula a
mensagem, mas os dados precisam
estar armazenados na memória do
público alvo para que ele reconheça
o jogo da mensagem.
Os provérbios ou ditos
populares são também um outro
exemplo de exploração da linguagem
no seu uso conotativo. Assim,
"Quem está na chuva é para se
molhar" equivale a "Quando alguém opta por uma determinada experiência, deve
assumir todas as regras e consequências decorrentes dessa experiência". Do
mesmo modo, "Casa de ferreiro, espeto de pau" significa “O que a pessoa faz
fora de casa, para os outros, não faz em casa, para si mesma.”
Leia, agora, este texto jornalístico.
A seca está de volta
Um dia, em janeiro passado, anunciada pelo pau d’arco que não floriu,
pelo jabuti que não pôs, pelo pássaro João-de-barro que fez sua casa
com a porta virada para o nascente, a seca reapareceu no Nordeste e
plantou-se em Irecê, na Bahia. Dali, espalhou-se pelo centro do Estado:
consumiu terras de Ibitiba, Ibipeba, Jussara, Brumado, Barra do Mendes
e de mais 140 municípios. Com duas semanas, tomou Xique-Xique da
influência do rio São Francisco.
Depois saltou para o norte de Minas Gerais e apoderou-se de Janaúba,
Espinosa, Mato Verde, Porteirinha, Várzea de Palma e de mais de 35
cidades. Então retrocedeu, cortou o sul da Bahia e insinuou-se pelo
sudeste do Piauí. Dormiu por muitas noites em São Raimundo Nonato.
Acordou de outras tantas em São João do Piauí, Simplício Mendes,
Paulistana, Jaicós e Picos, onde era aguardada pelo antropólogo popular
João Feliciano da Silva Rego que, em dezembro do ano passado, no dia
de Santa Luzia, fizera a experiência das três pedrinhas de sal e
sentenciara para os incrédulos:
- A seca está chegando.
Ela ocupou Afrânio, Parnamirim, Bodocó, Trindade e Salgueiro, no oeste
de Pernambuco, e reduziu à metade o movimento comercial na rotineira
feira de gado de Ouricuri. Foi vista chegando em dias de março no oeste
do Rio Grande do Norte, onde permanece no Vale do Siridó, e no
sudoeste do Ceará, na região dos Inhamus, onde encontrou bom abrigo.
Trilhou depois os caminhos sertanejos da Paraíba e estimulou
agricultores a invadir três cidades. Alastrou-se em seguida pelo oeste de
Alagoas e está agora crescendo lentamente no nordeste de Sergipe. Já
engoliu até hoje 811 mil quilômetros quadrados de 736 municípios, 222
dos quais considerados irrecuperáveis em termos de produção agrícola.
E atinge direta e indiretamente 12 milhões de pessoas.
NOBLAT. Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto,
2003. p.102-03
Nesse texto vemos que o objetivo do jornalista Ricardo Noblat é escrever
sobre a seca que devastou o Nordeste brasileiro. Para isso, ele não se utilizou da
linguagem denotativa, mas conotativa. Ele procura personificar a seca, ou seja, ele
atribui ações humanas para um elemento que não é humano. Essa personificação
ocorre mediante uma escolha cuidadosa dos verbos (reapareceu, plantou-se,
espalhou-se, consumiu, saltou, apoderou-se, retrocedeu, cortou, dormiu, acordou,
ocupou, trilhou, engoliu etc.). Além disso, observamos que o termo seca só aparece
uma vez no título e duas no corpo do texto (uma no primeiro parágrafo e a outra na
fala do antropólogo popular), ele procura nomeá-la por figuras verbais que remetem
à seca. Noblat recorre, também, aos pronomes (o pronome pessoal ela e o reflexivo
se), que ajudam a reforçar no leitor a idéia de um ser dotado de vontade própria,
que escolhe os caminhos por onde passará na sua viagem de destruição.
Embora se espere um caráter mais objetivo, mais literal, em um texto
jornalístico, a intenção de Noblat foi a de permitir que os leitores pudessem
construir uma imagem dos efeitos da passagem da seca pela região. Para isso,
precisava atribuir a esse fenômeno um comportamento quase humano, algo que só
pode ser obtido pela exploração do uso figurado de vários termos. O resultado é um
texto quase poético que nos permite visualizar as cidades flageladas e imaginar o
sofrimento de tantas pessoas afetadas.
Portanto, a conotação é a significação subjetiva e figurada da palavra; ocorre
quando um termo evoca outras realidades por associações que ele provoca.
O quadro abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre denotação e
conotação:
DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO
palavra com significação restrita palavra com significação ampla
palavra com sentido comum do
dicionário
palavra cujos sentidos extrapolam
o sentido comum
palavra usada de modo
automatizado
palavra usada de modo criativo
linguagem comum linguagem rica e expressiva
Exemplos de conotação e denotação.
Nas receitas a seguir, as palavras têm, na primeira, um sentido objetivo,
explícito, constante; foram usadas denotativamente. Na segunda, apresentam
múltiplos sentidos, foram usadas conotativamente. Observa-se que os verbos que
ocorrem tanto em uma quanto em outra - dissolver, cortar, juntar, servir, retirar,
reservar - são aqueles que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a
diferença são as palavras com as quais os verbos combinam, combinações
esperadas no texto 1, combinações inusitadas no texto 2. Vejam a seguir e
compreendam melhor o que acabamos de expor.
TEXTO I
Bolo de arroz
3 xícaras de arroz
1 colher (sopa) de manteiga
1 gema
1 frango
1 cebola picada
TEXTO II
Receita
Ingredientes
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
1colher (sopa) de molho inglês
1colher (sopa) de farinha de trigo
1 xícara de creme de leite
Salsa picadinha
Prepare o arroz branco, bem solto.
Ao mesmo tempo, faça o frango ao
molho, bem temperado e saboroso.
Quando pronto, retire os pedaços,
desosse e desfie. Reserve. Quando o
arroz estiver pronto, junte a gema, a
manteiga, coloque numa forma de
buraco e leve ao forno.
No caldo que sobrou do frango,
junte a cebola, o molho inglês, a
farinha de trigo e leve ao fogo para
engrossar. Retire do fogo e junte o
creme de leite. Vire o arroz, já assado,
num prato. Coloque o frango no meio
e despeje por cima o molho. Sirva
quente.
(Terezinha Terra)
2 canções dos Beatles
Modo de preparar
Dissolva os sonhos eróticos nos
dois litros de sangue fervido e deixe
gelar seu coração. Leve a mistura ao
fogo, adicionando dois conflitos de
gerações às esperanças perdidas.
Corte tudo em pedacinhos e repita
com as canções dos
Beatles o mesmo processo usado com
os sonhos eróticos, mas desta vez
deixe ferver um pouco mais e mexa
até dissolver.
Parte do sangue pode ser
substituída por suco de groselha, mas
os resultados
não serão os mesmos. Sirva o poema
simples ou com ilusões.
(Nicolas Behr)
Fonte: (http://acd.ufrj.br/~pead/tema04/denotacaoeconotacao.html)
Leia o poema “Profundamente” de Manuel Bandeira. Observe que ele trabalha
com um termo de forma denotativa e conotativa. Procure verificar que termo é
esse?
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
Interpretando o poema, pode-se dizer que o eu-lírico se apresenta em dois
tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o presente (hoje); bem
destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª (“ontem”) e da 6ª (“hoje”)
estrofes, respectivamente.
O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de
São João, quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, porque tinha
adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a
alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas
daquela época tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo
profundamente (no sentido literal - denotativo). No entanto, a partir da 5ª estrofe,
percebe-se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não
ouvir mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não
estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo
conotativo).
É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido
denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes); percebe-se,
portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que o cercam e que,
mediante um vocabulário simples, consegue atingir temas tão profundos como a
morte e a saudade.
Portanto, ao analisarmos um texto, temos que observar bem o significado das
palavras, a fim de depreendermos os sentidos que estão nele presentes. O que nos
ajudará muito entendermos se a palavra tem um sentido conotativo ou literal será o
contexto, conforme vimos nos capítulos anteriores.
Você conseguiu achar qual é o termo?
Sobre o que fala o poema?
ORTOGRAFIA OFICIAL
A palavra Ortografia é formada por "orto", elemento de origem grega, usado como prefixo, com o
significado de direito, reto, exato e "grafia", elemento de composição de origem grega com o significado de
ação de escrever; ortografia, então, significa ação de escrever direito. É fácil escrever direito? Não!! É, de
fato, muito difícil conhecer todas as regras de ortografia a fim de escrever com o mínimo de erros
ortográficos. Hoje tentaremos facilitar um pouco mais essa matéria. Abaixo seguem algumas frases com as
respectivas regras sobre o uso de ç, s, ss, z, x... Vamos a elas:
01) Uma das intenções da casa de detenção é levar o que cometeu graves infrações a alcançar a
introspecção, por intermédio da reeducação.
a) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TO:
intento = intenção
canto = canção
exceto = exceção
junto = junção
b) Usa-se ç em palavras terminadas em TENÇÃO referentes a verbos derivados de TER:
deter = detenção
reter = retenção
conter = contenção
manter = manutenção
c) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TOR:
infrator = infração
trator = tração
redator = redação
setor = seção
d) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TIVO:
introspectivo = introspecção
relativo = relação
ativo = ação
intuitivo – intuição
e) Usa-se ç em palavras derivadas de verbos dos quais se retira a desinência R:
reeducar = reeducação
importar = importação
repartir = repartição
fundir = fundição
f) Usa-se ç após ditongo quando houver som de s:
eleição
traição
02) A pretensa diversão de Creusa, a poetisa vencedora do concurso, implicou a sua expulsão, porque
pôs uma frase horrorosa sobre a diretora Luísa.
a) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em NDER ou NDIR:
pretender = pretensão, pretensa, pretensioso
defender = defesa, defensivo
compreender = compreensão, compreensivo
repreender = repreensão
expandir = expansão
fundir = fusão
confundir = confusão
b) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em ERTER ou ERTIR:
inverter = inversão
converter = conversão
perverter = perversão
divertir = diversão
c) Usa-se s após ditongo quando houver som de z:
Creusa
coisa
maisena
d) Usa-se s em palavras terminadas em ISA, substantivos femininos:
Luísa
Heloísa
Poetisa
Profetisa
Obs: Juíza escreve-se com z, por ser o feminino de juiz, que também se escreve com z.
e) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em CORRER ou PELIR:
concorrer = concurso
discorrer = discurso
expelir = expulso, expulsão
compelir = compulsório
f) Usa-se s na conjugação dos verbos PÔR, QUERER, USAR:
ele pôs
ele quis
ele usou
g) Usa-se s em palavras terminadas em ASE, ESE, ISE, OSE:
frase
tese
crise
osmose
• Exceções: deslize e gaze.
h) Usa-se s em palavras terminadas em OSO, OSA:
horrorosa
gostoso
• Exceção: gozo
03) I -Teresinha, a esposa do camponês inglês, avisou que cantaria de improviso.
II -Aterrorizada pela embriaguez do marido, a mulherzinha não fez a limpeza.
a) Usa-se o sufixo indicador de diminutivo INHO com s quando esta letra fizer parte do radical da palavra de
origem; com z quando a palavra de origem não tiver o radical terminado em s:
Teresa = Teresinha
Casa = casinha
Mulher = mulherzinha
Pão = pãozinho
b) Os verbos terminados em ISAR serão escritos com s quando esta letra fizer parte do radical da palavra
de origem; os terminados em IZAR serão escritos com z quando a palavra de origem não tiver o radical
terminado em s:
improviso = improvisar
análise = analisar
pesquisa = pesquisar
terror = aterrorizar
útil = utilizar
economia = economizar
c) As palavras terminadas em ÊS e ESA serão escritas com s quando indicarem nacionalidade, títulos ou
nomes próprios; as terminadas em EZ e EZA serão escritas com z quando forem substantivos abstratos
provindos de adjetivos, ou seja, quando indicarem qualidade:
Teresa
Camponês
Inglês
Embriaguez
Limpeza
04) O excesso de concessões dava a impressão de compromisso com o progresso.
a) Os verbos terminados em CEDER terão palavras derivadas escritas com CESS:
exceder = excesso, excessivo
conceder = concessão
proceder = processo
b) Os verbos terminados em PRIMIR terão palavras derivadas escritas com PRESS:
imprimir = impressão
deprimir = depressão
comprimir = compressa
c) Os verbos terminados em GREDIR terão palavras derivadas escritas com GRESS:
progredir = progresso
agredir = agressor, agressão, agressivo
transgredir = transgressão, transgressor
d) Os verbos terminados em METER terão palavras derivadas escritas com MISS ou MESS:
comprometer = compromisso
prometer = promessa
intrometer = intromissão
remeter = remessa
05) Para que os filhos se encorajem, o lojista come jiló com canjica.
a) Escreve-se com j a conjugação dos verbos terminados em JAR:
Viajar = espero que eles viajem
Encorajar = para que eles se encorajem
Enferrujar = que não se enferrujem as portas
b) Escrevem-se com j as palavras derivadas de vocábulos terminados em JA:
loja = lojista
canja = canjica
sarja = sarjeta
gorja = gorjeta
c) Escrevem com j as palavras de origem tupi-guarani.
Jiló
Jibóia
Jirau
06) O relógio que ele trouxe da viagem ao México em uma caixa de madeira caiu na enxurrada.
a) Escrevem-se com g as palavras terminadas em ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO, ÓGIO, ÚGIO:
pedágio
sacrilégio
prestígio
relógio
refúgio
b) Escrevem-se com g os substantivos terminados em GEM:
a viagem
a coragem
a ferrugem
• Exceções: pajem, lambujem
c) Palavras iniciadas por ME serão escritas com x:
Mexerica
México
Mexilhão
Mexer
• Exceção: mecha de cabelos
d) As palavras iniciadas por EN serão escritas com x, a não ser que provenham de vocábulos
iniciados por ch:
Enxada
Enxerto
Enxurrada
Encher – provém de cheio
Enchumaçar – provém de chumaço
e) Usa-se x após ditongo:
ameixa
caixa
peixe
• Exceções: recauchutar, guache
Emprego das Letras
Emprego de Vogais
As vogais na língua portuguesa admitem certa variedade de pronúncia, dependendo de sua
intensidade (i. é, se são tônicas ou átonas). Com essa variação na pronúncia, nem sempre a memória,
baseada na audição, retém a forma correta da grafia. A lista a seguir não é exaustiva, mas procura incluir as
dificuldades mais correntes na redação oficial.
E ou I?
Palavras com E, e não I
acarear
acreano (ou acriano)
aéreo
ante- (pref.=antes)
antecipar
antevéspera
aqueduto
área
averigúe (f.v.)
beneficência
beneficente
betume
de antemão
deferir (conceder)
delação (denúncia)
demitir
derivar
descortinar
descrição
despender
despensa (onde se guardam comestíveis)
despesa
falsear
granjear
meteoro(logia)
nomear
oceano
palavreado
parêntese (ou parêntesis)
passeata
preferir
prevenir
quase
rarear
receoso
reentrância
boreal
cardeal
carestia
cedilha
cercear
cereal
continue (f.v.)
hastear
homogêneo
ideologia
indeferir (negar)
legítimo
lenimento (que suaviza)
menoridade
meteorito
sanear
se
senão
sequer
seringueiro
testemunha
vídeo
Palavras com I, e não E
aborígine
acrimônia
adiante
ansiar
anti- (pref.=contra)
argúi (f.v.)
arqui- (pref.)
artifício
atribui(s) (f.v.)
cai (f. v.)
calcário
cárie (Cariar)
chefiar
cordial
desigual
diante
diferir (divergir)
dilação (adiamento)
dilapidar
dilatar (alargar)
discrição (reserva)
discricionário
discriminar (discernir, separar)
dispêndio
dispensa (licença)
distinguir
distorção
dói (fl. v.)
feminino
frontispício
imbuir
imergir (mergulhar)
imigrar (entrar em país estrangeiro)
iminente (próximo)
imiscuir-se
inclinar
incorporar (encorpar)
incrustar (encrostar)
indigitar
infestar
influi(s) (f. v.)
inigualável
iniludível
inquirir (interrogar)
intitular
irrupção
júri
linimento (medicamento untuoso)
meritíssimo
miscigenação
parcimônia
possui(s) (f. v.)
premiar
presenciar
privilégio
remediar
requisito
sentenciar
silvícola
substitui(s) (f. v.)
verossímil
O ou U?
Palavras com O, e não U
abolir
agrícola
bobina
boletim
bússola
cobiçar(r)
comprido
comprimento (extensão)
concorrência
costume
encobrir
explodir
marajoara
mochila
(de) moto próprio (latim: motu próprio)
ocorrência
pitoresco
proeza
Romênia
romeno
silvícola
sortido (variado)
sotaque
tribo
veio (s. e f. v.)
vinícola
Palavras com U, e não O
acudir
bônus
cinqüenta
cumprimento (saudação)
cumprido (v. cumprir)
cúpula
Curitiba
elucubração
embutir
entabular
légua
lucubração
ônus
régua
súmula
surtir (resultar)
tábua
tonitruante
trégua
usufruto
vírgula
vírus
Encontros Vocálicos
EI ou E?
Palavras com EI, e não E
aleijado
alqueire
ameixa
cabeleireiro
ceifar
colheita
desleixo
madeireira
peixe
queijo
queixa(r-se)
reiterar
reivindicarseixo
treinar
treino
Palavras com E, e não EI
adrede
alameda
aldeamento (mas aldeia)
alhear (mas alheio)
almejar
azulejo
bandeja
calejar
caranguejo
carqueja
cereja
cortejo
despejar, despejo
drenar
embrear
embreagem
enfear
ensejar, ensejo
entrecho
estrear, estreante
frear, freada
igreja
lampejo
lugarejo
malfazejo
manejar,manejo
morcego
percevejo
recear,receoso
refrear
remanejo
sertanejo
tempero
varejo
OU ou O?
Palavras com OU, e não O
agourar
arroubo
cenoura
dourar
estourar
frouxo
lavoura
pouco
pousar
roubar
tesoura
tesouro
Palavras com O, e não OU
alcova
ampola
anchova (ou enchova)
arroba
arrochar, arrocho
arrojar, arrojo
barroco
cebola
desaforo
dose
empola
engodo
estojo
malograr,malogro
mofar,mofo
oco
posar
rebocar
Emprego de Consoantes
Assim como emprego de vogais provoca dúvidas, há algumas consoantes – especialmente as que
formam dígrafos (duas letras para representar um som), ou a muda (h), ou, ainda, as diferentes consoantes
que representam um mesmo som – constituem dificuldade adicional à correta grafia.
Se houver hesitação quanto ao emprego de determinada consoante, consulte a lista que segue.
Lembre-se de que a grafia das palavras tem estreita relação com sua história. Vocábulos derivados de
outras línguas, por exemplo, mantêm certa uniformidade nas adaptações que sofrem ao serem incorporados
ao português (do francêsgarage ao port. garagem; do latim actione, fractione ao port. ação, fração; etc.).
Palavras que provêm de outras palavras quase sempre mantêm a grafia do radical de origem (granjear:
granja; gasoso: gás, analisar: análise). Há, ainda, certas terminações que mantêm uniformidade de grafia (-
aça, -aço, -ecer, -ês, -esia, -izar, etc.).
Emprego do H: com H ou sem o H?
Haiti
halo
hangar
harmonia
haurir
Havana
Havaí
haxixe
hebdomadário
hebreu
hectare
hediondo
hedonismo
Hégira
Helesponto
hélice
hemi-(pref.=meio)
hemisfério
hemorragia
herança
herbáceo (mas erva)
herdar
herege
hermenêutica
hermético
herói
hesitar
hiato
híbrido
hidráulica
hidravião (hidroavião)
hidrogênio
hidro-(pref.=água)
hierarquia
hieróglifo (ou hieroglifo)
hífen
higiene
Himalaia
hindu
hino
hiper-(pref.=sobre)
hipo-(pref.=sob)
hipocrisia
hipoteca
hipotenusa
hipótese
hispanismo
histeria
hodierno
hoje
holandês
holofote
homenagear
homeopatia
homicida
homilia (ou homília)
homologar
homogeneidade
homogêneo
homônimo
honesto
honorários
honra
horário
horda
horizonte
horror
horta
hóspede
hospital
hostil
humano
humilde
humor
Hungria
O fonema /ž/: G ou J?
Palavras com G, e não J
adágio
agenda
agiota
algema
algibeira
apogeu
argila
auge
Bagé (mas bajeense)
Cartagena
digerir
digestão
efígie
égide
Egito
egrégio
estrangeiro
evangelho
exegese
falange
ferrugem
fuligem
garagem
geada
gelosia
gêmeo
gengiva
gesso
gesto
Gibraltar
gíria
giz
herege
impingir
ligeiro
miragem
monge
ogiva
rigidez
sugerir
tangente
viageiro
viagem
vigência
Palavras com J, e não G
ajeitar
encoraje (fl.v.)
enjeitar
enrijecer
gorjeta
granjear
injeção
interjeição
jeca
jeito
jenipapo
jerimum
jesuíta
lisonjear
lojista
majestade
majestoso
objeção
ojeriza
projeção
projetil (ou projétil)
rejeição
rejeitar
rijeza
sujeito
ultraje
eles viajem (f. v.)
O fonema /s/: C, Ç ou S ou SS ou X ou XC?
Palavras com C, Ç e não S ou SS nem SC
à beça
absorção
abstenção
açaí
açambarcar
acender (iluminar)
acento (tom de voz, símbolo
gráfico)
acepção
acessório
acerbo
acerto (ajuste)
acervo
aço (ferro temperado)
açodar (apressar)
açúcar
açude
adoção
afiançar
agradecer
alçar
alicerçar
alicerce
almaço
almoço
alvorecer
amadurecer
amanhecer
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arruaça
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assunção
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balança
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berço
caça
cacique
caçoar
caiçara
calça
calhamaço
cansaço
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castiço
cebola
cê-cedilha
cédula
ceia
ceifar
célere
celeuma
cerne
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certo
cessação (ato de cessar)
cessão (ato de ceder)
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cesta
chacina
chance
chanceler
cicatriz
ciclo
ciclone
cifra
cifrão
cigarro
cilada
cimento
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cingalês (do Ceilão)
Cingapura (tradicional: Singapura)
cínico
cinqüenta
cinza
cioso
ciranda
circuito
circunflexo
círio (vela)
cirurgia
cisão
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Criciúma
decepção
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descrição (ato de descrever)
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exibição
expeço
extinção
falecer
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Iguaçu
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incerto (não certo)
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maçante
maçar (importunar)
macerar
maciço
macio
maço (de cartas)
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menção
mencionar
muçulmano
noviço
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obcecar
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orçar
paço (palácio)
panacéia
parecer
peça
penicilina
pinçar
poça, poço
prevenção
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quiçá
recender
recensão
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rechaço
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resplandecer
roça
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súcia
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Suíça, suíço
taça
tapeçaria
célula
cem (cento)
cemitério
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censura
centavo
cêntimo
centro
ceticismo
cético
cera
cerâmica
cerca
cercear
cereal
cérebro
distinção
distorção
docente (que ensina; corpo –: os
professores)
empobrecer
encenação
endereço
enrijecer
erupção
escaramuça
escocês
Escócia
esquecer
estilhaço
exceção
excepcional
tecelagem
tecelão
tecer
tecido
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terça
terço
terraço
vacilar
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Palavras com S, e não C ou SC, nem X
adensar
adversário
amanuense
ânsia, ansiar
apreensão
ascensão (subida)
autópsia
aversão
avulso
balsa
bolso
bom-senso
canhestro
cansaço
censo (recenseamento)
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conselho (aviso, parecer)
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contraversão
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defensivo
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desconsertar (desarranjar)
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dissensão
distensão
diversão
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sério
serra
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Sicília
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sigilo
sigla
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silício
silo
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estorno
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seara
sebe
sebo
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Abissínia
acessível
admissão
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agressão
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apressar (<pressa)
argamassa
arremessar
assacar
assassinar
assear
assecla
assediar
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asserção
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assessor
asseverar
assíduo
assimetria
assinar
Assíria
assolar
aterrissagem
atravessar
avassalar
avesso
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cassino
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cossaco
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cromossomo
demissão
depressa
depressão
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discussão
dissensão
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dissídio
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escassez
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excessivo
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impressão
imissão
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ingressar
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messe
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O que é texto

  • 2. OO TTEEXXTTOO EEMM NNOOSSSSOO CCOOTTIIDDIIAANNOO Caro aluno, seja bem-vindo! Vamos dar início às nossas atividades discutindo alguns aspectos interessantes a respeito da presença dos textos em nossa vida. Você deve estar acostumado a ver e ouvir a palavra “texto”, seja no trabalho, na faculdade, em livros, revistas etc. Então, aí vem a pergunta: você saberia dizer quais são os conceitos, os significados e a importância do “texto” para o seu dia a dia? Talvez você tenha parado para pensar sobre o assunto e, no momento, surgiram algumas dúvidas: - Texto é um aglomerado de palavras e frases? Roupas, caderno, lindo. Fui ontem ao cinema. O cinema do shopping é muito bonito. No shopping tem muitas coisas para se comprar. A compra da nossa casa não deu certo porque o banco não aprovou o financiamento. - Texto pode ser somente aquilo que escrevemos?
  • 3. - Texto é o que a professora ou o professor pede para a gente elaborar na aula de redação? - Texto é aquilo que a gente lê no jornal, no livro, na internet etc.? Nós levantamos muitas hipóteses a respeito do que é texto. Será que alguma das perguntas acima seria a sua real definição? Fiorin (1996, p.16) diz que texto “é um todo organizado de sentido”, ou seja, nós não podemos entender que o texto seja apenas um conjunto de palavras ou frases que se juntam de forma aleatória para constituí-lo, mas, sim, que essas palavras e frases devam estar ligadas entre si para que haja uma continuidade entre elas, a fim de que a sua totalidade forme uma unidade de sentido. Talvez, você esteja dizendo: “mas isso é óbvio!”, entretanto, não é essa a noção de texto que boa parte dos estudantes emprega na prática.
  • 4. Na escola, quando o professor ou a professora pede para que seja elaborada uma redação é comum os alunos lhe perguntarem: “com quantas linhas?” ou “em quantas palavras?”. Perguntas desse tipo demonstram mais preocupação em atender às exigências de números de linhas ou palavras, do que construir um texto que faça sentido para quem o lê. A produção textual, nesse caso, não é concebida como um todo com unidade de sentido, isto é, uma organização de ideias com começo, meio e fim, mas como uma somatória de linhas, um amontoado de palavras sucessivas. Pior é que essa concepção de texto também está presente nas atividades de leitura. Muitas vezes, lemos apenas parte de um texto e achamos que o entendemos em sua completude. É isso o que ocorre quando o professor nos dá um romance para ler e lemos apenas o resumo ou partes de capítulos, imaginando que a leitura parcial seja suficiente para ter sucesso na avaliação. Veja o texto de Ricardo Ramos: Circuito Fechado Ricardo Ramos1 Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis.(...) 1 Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda, professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos, romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira.
  • 5. Apesar do texto, em uma primeira leitura não aparentar relação entre as palavras, se você observar atentamente, poderá perceber que se trata do cotidiano de um indivíduo, e é possível perceber sua rotina e até mesmo seu gênero: se é masculino ou feminino. Leia o restante do texto que complementa nossa análise e tente buscar outras informações importantes que o texto passa para o leitor: (...) Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. Práticas como essas demonstram que precisamos rever o conceito de texto. Observe o texto a seguir:
  • 6. Esse texto é uma “tirinha” publicada no jornal Folha de São Paulo, em 1/12/2008. As tirinhas são textos curtos formados por quadrinhos de texto verbal e visual dispostos linearmente na página do jornal. Essa tira, em particular, tem dois quadrinhos. No primeiro, temos um coelho que ao passear num parque é elogiado por duas garotas. Diante desse elogio, ele se sente insatisfeito e não aprecia os adjetivos que lhe são atribuídos. Já no segundo quadro, temos, no mesmo parque, coelhas que também o elogiam, todavia, esses elogios são apreciados pelo coelho. Se fôssemos analisar esse texto, isolando cada quadro, não entenderíamos o humor que ali se estabelece, isto é, ficaríamos apenas na observação que fizemos acima, sem uma ligação entre um quadro e outro. Para depreendermos a unidade de sentido, devemos observar a relação que se estabelece entre os elementos que constituem a tira. Além das observações já realizadas, precisamos levar em conta que são meninas – seres humanos – que, no primeiro quadro, estão fazendo o elogio. Elas se utilizam do sufixo diminutivo (–inho) para qualificar o animal. Portanto, a relação que caberia aqui, não passaria de HUMANO x ANIMAL, sendo o animal apenas um “objeto” de manuseio e admiração do humano. Essa é uma relação que não agrada ao coelho. Já no segundo quadro, os elogios são dados por coelhas e elas se utilizam do sufixo aumentativo (-ão) para caracterizar o ser da mesma espécie, enaltecendo sua macheza e virilidade. Portanto, a relação que cabe aqui é COELHO x COELHAS, de cunho sexual, o que traz satisfação ao coelho, pois é esse tipo de relacionamento que o interessa. Diante disso, vemos que o riso só se dá quando comparamos um quadro ao outro. Dessa forma, podemos chegar à seguinte conclusão: Um texto é um todo organizado de sentido, porque o significado de uma parte depende das outras com que se relaciona de tal forma que combinam entre si, a fim de gerar uma unidade.
  • 7. Essa definição será fundamental para analisarmos e elaborarmos textos. Por isso, tenham-na sempre em mente, pois já estamos de certa forma, condicionados a analisarmos os textos de forma fragmentada, não observando todos os elementos que estão ali presentes. Vejamos se você compreendeu bem o que foi dito até aqui e se já conseguiu direcionar a sua mente para entender que todos os elementos presentes no texto são importantes para a depreensão de sentido e, para isso, vamos analisar mais um exemplo: Observe a propaganda a seguir retirada do site http://naweb.wordpress.com/. Ela se constitui em três quadros. Faça a leitura mediante as questões abaixo. a) Se você observar apenas o primeiro quadro, abaixo, qual o sentido que você depreende? b) Agora, observe o segundo quadro. Ele corresponde ao sentido que você obteve do primeiro?
  • 8. c) Vamos ao terceiro quadro. Ele é uma confirmação da leitura que você fez do primeiro e segundo quadros ou somente quando você observou o terceiro quadro é que houve um entendimento da propaganda? Nesse momento, observe abaixo a propaganda toda. Edson Baeta http://naweb.wordpress.com/. Acesso em 11/11/2009 Podemos perceber que a propaganda é um alerta acerca do consumo de bebida alcoólica e do ato de dirigir, ou seja, os dois “não devem andar juntos”, pois o álcool prejudica a atenção dos motoristas e aumenta a ocorrência de acidentes. Essa leitura só é possível pela visualização e depreensão de sentido dos três quadros juntos. Por isso, falamos que o texto é uma unidade de sentido e para obter essa unidade é necessário observar e pensar em todos os aspectos que nele estão envolvidos.
  • 9. Mas, talvez você deva estar se perguntando: “A propaganda acima ou mesmo a tirinha é um texto? Mas elas são compostas por poucas palavras.!!!!!” Eis, então, a resposta: ELAS SÃO TEXTO, pois texto, também, é toda manifestação linguística, paralinguística e imagética que transmite uma mensagem ou um ato de comunicação a fim de obter uma interação com o outro. Por isso, dizemos que existem três tipos de texto: verbal, não verbal e sincrético ou misto (verbal e não verbal). Quando dizemos manifestação linguística falamos de recursos expressos pela palavra (que pode ser oral ou escrita); o paralinguístico é quando usamos gestos, olhares etc.; e o imagético é formado por imagens ou figuras. Cotidianamente as pessoas se deparam com uma grande variedade de palavras e imagens que apresentam características diferentes e que são elaboradas com objetivos bem distintos. Veremos a seguir produções que relacionam elementos expressivos verbais, não verbais e mistos. Texto verbal Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da palavra, ou seja, da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está utilizando uma linguagem verbal, pois o código usado é a língua. Tal código está presente, quando falamos com alguém, quando lemos ou quando escrevemos. A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a língua falada ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos, comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas. Portanto, a linguagem verbal é aquela que tem as palavras como recurso expressivo, como exemplo: textos orais ou escritos, em prosa ou em verso. Leia o texto:
  • 10. Resenha de filme: Crepúsculo Luma Jatobá 18/01/2009 Baseado nos livros de Stephenie Meyer, Crepúsculo vem às telonas contar a história da jovem Isabella Swan (Kristen Stewart) que ao se mudar para a casa do pai em Forks, Washington, conhece no colégio uma família diferente: os Cullen. Por serem anti-sociais e muito reservados, são os estranhos da escola. Bella logo se apaixona por Edward Cullen (Robert Pattinson) e ele por ela. Seria algo lindo e normal se o rapaz não fosse um vampiro. E é deste meado que se desenvolve a história: o romance proibido, o segredo que não pode ser descoberto e a perseguição dos Cullen, após James (Cam Gigandet), o vampiro sanguinário, descobrir o "namoro" deles. Agora os Cullen e a jovem Bella estão correndo perigo. A corrida é contra o relógio para acabar com o vampiro antes que o pior aconteça. A história do filme é legal e prende do início ao fim, mas falta uma trilha sonora de peso e abusa quando dão a desculpa de que vampiros não saem ao sol porque brilham como diamantes. O livro está no terceiro volume, Crepúsculo é apenas o primeiro da série que ainda trás Lua nova e Eclipse. Dizem por aí que a nova adaptação de Romeu e Julieta veio pra substituir o bruxinho Harry Potter, será? (http://centralrocknet.com.br/index.php?news=677) Observamos que o texto acima é uma resenha, cuja finalidade é descrever o filme Crepúsculo, para que o leitor tenha uma visão da história, a fim de verificar se é interessante assisti-lo. Para isso, o autor utilizou-se da linguagem verbal, pois como vemos, utilizou-se a língua escrita para se comunicar. Além da resenha, encontramos a linguagem verbal em textos de propagandas; reportagens (jornais, revistas etc.); obras literárias e científicas; na comunicação entre as pessoas; em discursos (do Presidente da República, dos representantes de classe, de candidatos a cargos públicos etc.) e em várias outras situações.
  • 11. Texto não verbal As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos faciais e corporais, as cores, o desenho, a dança, os sons, os gestos, os olhares, a entoação são também importantes: são os elementos não verbais da comunicação. Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito de uma cultura para outra e de época para época. Portanto, o texto não verbal consiste no uso de imagens, figuras, símbolos, tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura como meio de comunicação. A linguagem não verbal pode ser até percebida nos animais. Quando um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz e quando coloca a cauda entre as pernas significa medo e tristeza. Outros exemplos: sinalização de trânsito, semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir uma mensagem. Dessa forma, é muito interessante observar que para manter uma comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja ela verbal ou não verbal. Observe a figura ao lado. Se ela fosse encontrada em um consultório médico, faríamos a leitura de que, naquele local, as pessoas devem falar baixo e, se possível, manter silêncio. A linguagem utilizada é a não verbal, pois não utiliza a língua para transmitir “silêncio”. O semáforo, também, é um exemplo de texto não verbal - um objeto cujo sentido das cores comanda o trânsito e que é capaz de interferir na vida do ser humano de forma extraordinária.
  • 12. Texto Sincrético ou misto (verbal e não verbal) Falamos em texto misto – verbal e não verbal – quando os dois recursos expressivos são utilizados em conjunto. Isso ocorre, por exemplo, em história em quadrinhos, propagandas, filmes e outras produções que utilizam ao mesmo tempo palavras e imagens. Observemos a charge: Ao observarmos o que está expresso na superfície textual, ou seja, aquilo que é visível notamos que esse texto é formado por um tema “trabalho escravo”; logo a seguir, há uma imagem de homens que se subdividem em dois grupos: possíveis cortadores de cana de açúcar e o “patrão”, com um chicote na mão, junto aos seus capatazes armados; e abaixo da imagem, temos os dizeres: “Aquele que ficar por aí inventando esse tipo de mentira já sabe: duzentas chibatadas!” Percebemos, portanto, que por meio da linguagem verbal e não verbal, o texto aborda a questão do trabalho escravo, tema muito discutido no Congresso Nacional Brasileiro, na época de publicação da charge. O governo pretendia combater esse tipo de crime, mas encontrava resistência por parte de alguns deputados e senadores, porque esses parlamentares eram proprietários de algumas das fazendas investigadas. A charge ironiza justamente essa questão: a existência do trabalho escravo de forma não assumida. O “patrão” diz que denunciar o trabalho escravo é inventar mentira, mas, ao mesmo tempo, encontra-se com um chicote na mão como faziam
  • 13. os senhores e feitores, na época da escravatura. É claro que essa leitura só será possível se fizermos a junção dos dois tipos de imagens. Portanto, o sentido desse texto, e de todos os outros que analisamos, ocorre pela relação que um elemento mantém com os demais constituintes do todo. Esse sentido do todo não é mera soma de partes, mas pelas várias relações que se estabelecem entre si. Por isso, não podemos fazer a leitura somente da imagem ou somente do que está escrito, é necessário fazermos a leitura do todo. Além dessas questões tratadas até aqui, cabe dizer que todo texto é produzido por um sujeito num determinado tempo e num determinado espaço. Conforme diz Fiorin (1996, 17-18), (...) esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e num espaço, expõe em seus textos as idéias, os anseios, os temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social. Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época. Cada período histórico coloca para os homens certos problemas e os textos pronunciam-se sobre eles. Por isso, em um texto temos sempre a amostragem de um fato, ocorrido num determinado momento, vista sob um ponto de vista social representado por um sujeito. Dessa forma, ao analisarmos um texto, além de verificarmos a unidade existente entre as partes, temos de observar o contexto. Texto e Contexto Quando analisamos a charge “Trabalho Escravo”, dissemos que esse assunto estava sendo discutido no Congresso Nacional e que alguns parlamentares apresentavam certa resistência para discutir o assunto. Ora, essas questões são importantes para o entendimento da charge, mas elas não estão marcadas na superfície textual. O seu sentido ocorrerá mediante o conhecimento de mundo do
  • 14. leitor, em saber em que situação ela foi produzida, ou seja, levando em conta o CONTEXTO. Fiorin (1994, 12) define contexto como “uma unidade linguística maior onde se encaixa uma unidade linguística menor”. Assim, a palavra encaixa-se no contexto da frase, esta no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no contexto do capítulo, o capítulo no contexto da obra toda e a obra encaixa-se no contexto social. Fica mais clara a questão do contexto, quando adotamos a metáfora do iceberg. Aquilo que visualizamos é chamado ponta do iceberg, pois, como o próprio nome diz, é uma pequena parte que fica exposta na superfície da água. Contudo, essa ponta se apóia numa imensa parte que fica submersa, a fim de dar sustentação. Essa parte submersa é o que chamamos de contexto, pois é ele quem dá sustentação ao texto, que é a ponta do iceberg. Observe o texto: Para entender essa tirinha, precisamos considerar algumas questões que não estão explícitas, mas que fazem sentido no contexto. Vivemos, hoje, um padrão de beleza feminino em que a mulher tem de ser considerada magra. A dieta e a “boa forma” são um dos assuntos mais comentados. Isso não significa que sempre tenha sido dessa forma. Na época da Renascença, o padrão “gordinha” era sinônimo de beleza, pois demonstrava que a família da referida mulher era abastada. Na Idade Média, a ideia de fertilidade imposta como contraponto de uma época de matanças ocorridas nas cruzadas, trazia uma mulher de quadril largo e ventre avolumado. Em nossos dias a beleza, assim como a moda, está relacionada a padrões de magreza impostos pela indústria da moda, para valorizar a roupa.
  • 15. Portanto, em nossa época, quando um homem chama uma mulher de gorda, está “comprando briga”. É o que ocorre na tirinha. E além de tudo, e o que é pior, ele repetiu que ela havia engordado!!!! Fiorin (1996), também traz um exemplo muito esclarecedor para compreendermos a importância do contexto. Quando Lula disse a Collor no primeiro debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989 “Eu sabia que você era collorido por fora, mas caiado por dentro”, todos os brasileiros entenderam que essa frase não queria dizer você tem cores por fora, mas é revestido de cal por dentro, mas você apresentou um discurso moderno, de centro-esquerda, mas é reacionário. Como foi possível entender a frase dessa maneira? Porque ela foi colocada dentro do contexto dos discursos da campanha presidencial. Nele, o adjetivo collorido significa relativo à Collor, “adepto de Collor”, ou seja, Collor apresenta-se como um renovador, como alguém que pretendia modernizar o país, melhorar a distribuição de renda, combater os privilégios dos mais favorecidos. Havia também, na disputa, o candidato Ronaldo Caiado, de extrema direita que defendia a manutenção do status quo. As frases ganham sentidos porque estão correlacionadas umas às outras, dentro de uma situação comunicacional, que é o contexto. Portanto, diante do exposto, podemos entender que o contexto traz informações importantes que acompanham o texto. Assim sendo, não basta a leitura do texto, é preciso retomar os elementos do contexto, aqueles que estiveram presentes na situação de sua construção. A produção e recepção de um texto estão condicionadas à situação; daí a importância de o leitor conhecer as circunstâncias e ambiente que motivaram a seleção e a organização dos aspectos linguísticos. Podemos dizer que existem o contexto imediato e o situacional. O contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou precedem o texto imediatamente. São os chamados referentes textuais. O título de um poema pode despertar determinadas decodificações. Esse contexto é aquele que compreendemos em uma frase, quando a lemos no parágrafo; ou quando entendemos o parágrafo, no momento em que lemos todo o texto. Leia o poema a seguir:
  • 16. O que se diz Carlos Drummond de Andrade Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada... Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida (http://www.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf) Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de um CONTEXTO IMEDIATO. O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias, para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de mundo, a fim de depreender o sentido exigido. Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura, assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes, reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge:
  • 17. Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a charge? Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL. A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do
  • 18. leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem subliminarmente impressos na mensagem textual. Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões), a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os seguintes fatores: Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função desses fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas produções textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que caracterizam, na situação de interação comunicativa. Por que escrevo? Para quem escrevo? De onde eu escrevo? Que efeitos de sentido quero provocar? Que efeitos de sentido NÃO quero provocar? O que sei sobre o assunto de que vou tratar?
  • 19. COMO INTERPRETAMOS UM TEXTO Caro aluno, Como tem sido as suas leituras? Você lê com frequência? Quando lê, você consegue entender claramente o que o texto quer dizer? Uma das maiores dificuldades encontradas pelos alunos, em relação ao aprendizado de um conteúdo, é a deficiência na leitura e compreensão do sentido dessa leitura. Isto quer dizer que muitos não conseguem entender o que leem ou apenas reproduzem, com as mesmas palavras, o que está escrito na superfície textual, ou seja, naquilo que está escrito ”literalmente” ou mostrado. Abaixo segue uma crônica de Ignácio de L. Brandão, publicada no jornal O Estado de São Paulo. Leia-a atentamente, para entender o que acabamos de falar: Para quem não dorme de touca Na infância, ele era diferente. Acreditava nos outros, acreditava nas coisas. Quando alguém dizia: - Por que não vai ver se estou na esquina? Ele corria até a esquina, olhava, esperava um pouco, reconfirmava e voltava: - Não tem ninguém na esquina. - Quer dizer que voltei. - Por que não me avisou que voltou? - Voltei por outro caminho. - Que outro caminho? - O caminho das pedras. Não conhece o caminho das pedras? - Não. - Então não vai ser nada na vida. Outra vez, numa discussão, alguém foi imperioso: - Quer saber? Vá plantar batatas. Ele correu no armazém, comprou um quilo de batatas e foi até o quintal, plantou tudo. Não é que as batatas germinaram! Houve também aquele dia em que um amigo convidou: - Vamos matar o bicho? - Onde o bicho está? - Ali no bar. - Que bicho? É perigoso? Me dê um minuto, passo em casa, pego a espingarda do meu pai ... - Espingarda? Venha com a sede. - Não estou com sede. - Matar o bicho, meu caro, é beber uma pinga.
  • 20. Em outra ocasião, um primo perguntou: - Você fez alguma coisa para a Mercedes? - Não. Por quê? - Ela passou por mim, está com a cara amarrada. - Amarrada com barbante, com corda, com arame? Por que uma pessoa amarra a cara da outra? - Nada, esquece! Você ficou com a cara de mamão macho, me deixou com cara de tacho. É um cara-de-pau e ainda fica aí me olhando com a mesma cara. Outra vez, uma menina, que ele queria namorar, se encheu: - Pára! Não me amole! Por que não vai pentear macaco? Naquela tarde ele foi surpreendido no minizoológico do bairro, com um pente na mão e tentando agarrar um macaco, a quem procurava seduzir com bananas. Uma noite combinaram de jogar baralho e um dos parceiros propôs: - Vai ser a dinheiro ou a leite de pato? - Leite de pato, propuseram os jogadores. Ele se levantou: - Então, esperem um pouco. Trouxe dinheiro, mas não leito e de pato. Vou providenciar. - E onde vai buscar leite de pato? - A Mirela, ali da esquina, tem um galinheiro enorme, está cheio de patos. Vou ver o que arranjo. Voltou meia hora depois: - Não vou poder jogar. Os patos, me disse a Mirela, não estão dando leite faz uma semana. Riram e mandaram ele sentar e jogar. Em certo momento, um jogador se irritou, porque o adversário, apesar de ingênuo e inocente, tinha muita sorte. - Vou parar. Você está jogando com cartas marcadas. - Claro que tem marca! É Copag, a melhor fábrica de baralhos. Boa marca, não conheço outra. - Está me fazendo de bobo, mas aí tem dente de coelho. - Juro que não! Por que haveria de ter dente de coelho? Quem tirou o dente do coelho? - Além do mais, você mente com quantos dentes tem na boca. A gente precisa ficar de orelha em pé. - Não estou fazendo nada. Estou na minha, com meu joguinho, vocês é que implicam. - Desculpa de mau jogador. - Não devo nada a ninguém aqui. - Deve os olhos da cara. - Devo? Não comprei os meus olhos. Nasceram comigo. Só se meus pais compraram e não pagaram. Todos provocaram, pagavam para ver. - Não venha com conversa mole, pensa que dormimos de botina? - Não penso nada. Aliás, nunca vi nenhum de vocês de botina. - Melhor enrolar a língua, se não se enrosca todo. - Não venha nos fazer a boca doce, que bem te conhecemos! As conversas eram sempre assim. Pelo menos foram até meus 20 anos, quando deixei a cidade. A essa altura, vocês podem estar pensando que ele era sonso, imbecilizado. Garanto que não. Tanto que, hoje, é um empresário bem-sucedido,
  • 21. fabrica lençóis, fronhas e edredons, é dono de uma marca bem conhecida, a Bem Querer & Bem-Estar. Não sei se um de vocês já comprou. Se não, recomendo. Claro, recomendo a quem não dorme de touca, quem não tem conversa mole para boi dormir, quem não dorme no ponto, quem não dorme na portaria, para aqueles que não dormem sobre louros. Enfim, para quem não dorme com um olho aberto e o outro fechado. (BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O Estado de São Paulo, 8 jul. 2005. Caderno 2, p. D14.) Observamos que nessa crônica, o sujeito destacado pelo narrador somente entendia as orações de forma literal, ou seja, ele não conseguia entender a intenção proposta pelas pessoas, quando diziam algo. Você já vivenciou esse fato? Essa história parece ser até ridícula; aparentemente nenhuma pessoa faria isso, pois dentro da ação comunicativa, o indivíduo consegue entender que essas expressões são formas de dizer, ou seja, elas são expressões populares, usadas como figuras de linguagem para dizer algo com outro sentido. Infelizmente, essa situação é muito comum durante o ato da leitura, porque, muitas vezes, o leitor não consegue entender a intenção do autor. Ele começa a pensar e a dizer algo que não está no texto. Você já leu um texto, fez uma interpretação e quando foi ver a sua interpretação não era a ideia central do texto? Por que será que isso ocorre? Porque muitas vezes nós queremos entender o texto de forma literal, ou então isolamos palavras ou frases e fazemos nossa análise sem olhar o todo. Devemos entender que a totalidade de sentido de um texto não está somente naquilo que está escrito, conhecido como superfície textual (o que é mostrado), mas também está nos aspectos considerados não ditos. No texto, podemos dizer que existem dois planos: aquilo que está mostrado mediante as letras, palavras, figuras e gestos; e aquilo que está implícito, oculto, ou seja, aquilo que está além dessas letras, palavras, figuras e gestos. É o que acontece na crônica. Quando foi dito “Vai ver se eu estou na esquina” a pessoa não Talvez, você esteja se perguntando: “Como assim?”
  • 22. queria que o sujeito que recebeu essa informação fosse até à esquina a fim de verificar essa informação, porque não haveria necessidade, uma vez que ela já estava bem à sua frente. Na realidade, por meio desses dizeres, o desejo dessa pessoa é que o outro parasse de perturbá-la. No entanto, deverá surgir uma nova pergunta: “Será que eu tenho essas mesmas atitudes em relação à interpretação dos textos?” Infelizmente, muitos ainda têm. Quer fazer um teste? Leia a seguir a fábula de Millôr Fernandes: A RAPOSA E AS UVAS De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes! MORAL: A frustração é uma forma de julgamento tão boa como qualquer outra. Fonte: (FERNANDES, Millôr. Fábulas Fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991) Se alguém lhe perguntasse “o que você entendeu do texto?”, o que diria? Tente formular, em sua mente, a interpretação do texto. Talvez, tenha conseguido formular a seguinte interpretação: Essa fábula narra a história de uma raposa, que não comia já há quatro dias e que, portanto, estava com muita fome. Ela saiu do areal do deserto e foi a um parreiral que descia por um precipício. Ela olhou e viu que os cachos de uvas eram grandes e maravilhosos.
  • 23. A raposa tentou pegá-los por diversas vezes, mas como não conseguiu, desistiu, dizendo que as uvas estavam muito verdes. Quando estava indo embora, se deparou com uma pedra enorme. Com muito esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra e conseguiu pegá-lo. Colocou o cacho inteiro na boca e o cuspiu imediatamente, por que as uvas estavam muito verdes. Se essa foi a sua interpretação, ela foi apenas uma reprodução do que está na superfície do texto, ou seja, ela é muito parecida com o sujeito da crônica que entendia tudo literalmente. Ao contar essa fábula, a intenção é muito maior do que apenas narrar a história de uma raposa que estava com fome. Então, qual seria a possibilidade de interpretação? Tente enxergar outros significados que estão além das palavras. Por exemplo: Observe que essas questões estão nos fazendo olhar não apenas para aquilo que está dito, mas buscarmos significados que estão além do texto. Isso deve ocorrer na interpretação de todo texto. O que é uma fábula? Qual a relação da fábula com a moral?
  • 24. Ao analisar a fábula “A Raposa e as Uvas”, devemos primeiramente ter o conhecimento de que uma fábula é uma narrativa figurada, na qual as personagens são geralmente animais que possuem características humanas. Pode ser escrita em prosa ou em verso e é sustentada sempre por uma lição de moral, constatada na conclusão da história. Ela é muito utilizada com fins educacionais. Muitos provérbios ou ditos populares vieram da moral contida nesta narrativa alegórica, como por exemplo: “A pressa é inimiga da perfeição” na fábula A lebre e a tartaruga e “Um amigo na hora da necessidade é um amigo de verdade” em A cigarra e as Formigas. Portanto, sempre que alguém redige uma fábula ele deve ter em mente um ensinamento. Além disso, observamos que na fábula a raposa não tem procedimentos próprios de um animal, mas de ser humano, pois ela falou, empurrou a pedra, armou toda uma estratégia para pegar as uvas etc. Diante disso, uma vez que a fábula sempre procura trazer um ensinamento, devemos analisar a relação que existe entre a narrativa e a moral. Num primeiro momento, o texto parece ter um caráter ingênuo, de uma narrativa aparentemente infantil, conforme apontamos naquela interpretação literal. Contudo, quando observamos alguns elementos textuais que estão presentes na fábula, ampliamos a nossa leitura. Logo no início da narrativa é colocada não uma necessidade fisiológica (a fome da raposa), mas uma questão comportamental (a gula da personagem), dado importante para reforçar a conclusão. Além disso, aparecem várias tentativas do animal em obter o objeto de desejo que alimentaria sua gula, mesmo depois de vários fracassos. Só então a raposa emite um juízo “Ah, também não tem importância. Estão muito verdes.” (É bom ressaltar que esse enunciado é precedido das expressões “entre dentes, com raiva”, que evidenciam as condições da raposa no momento em que diz).
  • 25. A partir daí, novos dizeres se apresentam no texto em virtude da intenção de sentido. Ao se deparar com uma enorme pedra, a raposa é reanimada e tenta novamente atingir seu objetivo, ignorando o que havia afirmado anteriormente, premida pelas circunstâncias. Isso, aparentemente, comprova que as palavras da personagem eram apenas tidas como desculpas por não ter conseguido a fruta para saciar sua gula. Contudo, a raposa consegue, com muito esforço, o que pretendia - apanhar as uvas - mas, ao contrário do que desejava, as uvas estavam realmente verdes, expelindo-as de sua boca de tal forma que não as consumisse. Nesse ponto, o texto amplia os horizontes do significado, determinando a moral, cujo sentido está em confirmar a questão comportamental e não a necessidade fisiológica. As uvas já se mostravam verdes e a raposa já havia percebido, tanto que já o havia declarado anteriormente, mas o estado de gula era tal, que se sobrepôs à razão. Somente no momento em que provou as uvas e houve a confirmação do que já sabia é que veio a consciência de não poder desfrutar daquela fruta, daí, então, ocorre a frustração. É claro que para fazer essa leitura e interpretação, é necessário que o leitor comece a perceber que aquilo que é visível num texto não é a única leitura, mas a partir desses aspectos visíveis associados a outros aspectos que já fazem parte da vivência do leitor, essa leitura será ampliada. Portanto, para compreender o que está além daquilo que é visível, precisamos ativar o que chamamos de conhecimento de mundo. Mas, o que é esse conhecimento de mundo?
  • 26. Durante a nossa vida, nós adquirimos vários tipos de conhecimentos que ficam arquivados em nossa memória. Por isso, é fundamental que um indivíduo tenha acesso à cultura, faça diversas leituras, ouça música, veja filmes, pois quanto maior for a sua experiência, maior será o seu conhecimento. Ao fazermos uma leitura ou uma interpretação de texto, nós ativamos esse conhecimento de mundo, para estabelecer sentido ao texto. Por isso, a leitura é uma atividade na qual se leva em conta as experiências e os conhecimentos do leitor. Koch e Elias (2007, 11) dizem que “a leitura de um texto exige do leitor bem mais que o conhecimento do código linguístico, uma vez que o texto não é simples produto da codificação de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo.” Isso quer dizer que quando lemos algo, não basta apenas conhecermos as letras ou identificarmos as imagens, pois isso caracterizaria uma leitura ingênua. Durante o ato da leitura, não somos simples leitores num estado de passividade, apenas recebendo informação, mas, devemos ser pessoas ativas nessa leitura, buscando preencher as lacunas que o texto tem e procurando descobrir a intenção que está por trás dessa “superfície textual”. Essa ação é o que chamamos de posicionamento crítico. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades
  • 27. de compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas. (BRASIL. PCNS: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental. Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70.) Portanto, o nosso desafio é fazê-lo perceber que há níveis de leitura e entendimento de um texto. Muitas vezes, uma pessoa fica somente no primeiro nível, o da superfície do texto, sendo que o sentido do texto vai muito além. Para ajudar ainda mais no entendimento desse sentido, é necessário saber, também, que tudo é construído dentro de um aspecto ideológico. Quando Millôr Fernandes escreveu a fábula “A Raposa e as Uvas” procurou, conforme analisamos, trazer como ensinamento a repreensão à gula. Para isso, ele parte do princípio que a gula é algo condenado socialmente, uma vez que ela pertence aos sete pecados capitais. Dessa forma, essa fábula confirma os valores sociais, mostrando a gula de forma depreciativa, passível de um julgamento. Agora, suponhamos que uma empresa de alimentos fosse fazer uma propaganda. Você acha que ela seria a favor ou contra a gula? Pegue como exemplo alguns comerciais de alimentos, principalmente quando se trata de algum chocolate: neles, normalmente, aparece uma criança toda lambuzada, pois ela come o doce com tanto prazer, que acaba se sujando toda. Agora me responda: a empresa que faz a propaganda tem a mesma visão de gula presente na fábula ou uma visão contrária? Por que isso ocorre? Percebemos que é uma visão contrária, pois o objetivo dessa empresa é fazer que o leitor consuma o maior número possível de produtos, para que ela obtenha lucros. Portanto, a gula não seria vista como algo maléfico, mas benéfico. Agora, leia o poema a seguir: Aspecto Ideológico? O que é isto?
  • 28. A gula Sorvo delícias em prazeres que mal mastigo... Compenso-me em torrões mascavados de deleite Repasto-me em trouxas douradas de ovos moles Degusto ostras ovadas de luar e empanturro-me em iguarias às quais não ofereço resistência E confesso-me pecadora e escrava desta gula, que leva à mesa, o banquete que me sacia, meu regozijo e conforto, prova das minhas fraquezas. Maria Fernanda Reis Esteves (http://www.luso-poemas.net) Nesse poema, como é vista a gula? É vista como algo aceito ou condenado pelo eu-lírico, ou seja, por aquele que está dizendo o poema? O que o faz ter esse posicionamento? Ao analisarmos o poema, vemos uma pessoa que se declara pecadora e escrava da gula. Embora consciente de que a gula é algo condenado socialmente, ela sente prazer no que faz. E parece não ligar por estar transgredindo os valores sociais. Ela sabe que a gula é uma fraqueza dela, todavia, ela se sente confortável. Essa consciência e esse conforto vêm marcados no poema pelos verbos “sorvo”, “repasto”, “degusto” e “empanturro”, pois estão todos ligados a ação de
  • 29. saborear algo. Esse posicionamento se mostra diferente da fábula e da empresa de alimentos. Então, o que nos leva a ter essas três visões diferenciadas da gula? São os chamados pressupostos ideológicos de cada sujeito constituído no texto. Dessa forma, cabe-nos ver um pouco sobre a questão da ideologia e a linguagem. Segundo Marilena Chauí (O que é ideologia, p. 113), “a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas e de regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar o que devem valorizar e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer.” Leia novamente essa definição e pense no que Marilena Chauí quer dizer. Esse é um bom teste para ver o seu nível de leitura. Se você for a um dicionário ou a um livro de filosofia, verá outras definições de ideologia, todavia, essa definição dada por Chauí está bem apropriada ao que estamos falando. Um indivíduo, durante a sua formação vai adquirindo valores sociais, regras de conduta que vão direcionar a sua vida. Ele buscará interpretar os fatos e se expressar de acordo com essas ideias. Por exemplo, se um indivíduo é de uma família em que certas palavras não podem ser ditas porque são proibidas, esse indivíduo sempre as verá dessa forma, por isso, procurará evitá-las. Isso é o que ocorre nos textos, cuja temática é sobre a gula. O modo de ver a gula e falar dela dependerá dessa questão de valores. Esses valores, essas regras e normas são o que formam a ideologia, portanto, o seu significado está ligado a um conjunto de ideias, de pensamentos, das experiências de vida de um indivíduo e é por meio desta ideologia que o indivídio interpreta seu mundo, os textos que lê e as informações que recebe por meio de suas ações e linguagem. Todavia, muitas vezes, a ideologia é utilizada dentro de um aspecto negativo, porque ela pode ser usada como uma forma de mascarar a verdade. Por exemplo, quando o patrão diz aos empregados que quanto mais eles produzirem, mais
  • 30. pessoas dignas e de sucesso serão; na realidade, esse patrão está se utilizando dos aspectos ideológicos nessa fala, pois, o que de fato deseja é a grande produção para um maior faturamento. Na sua fala há uma intenção implícita que não é condizente com o que ele está transmitindo. Isso é muito comum na propaganda. Com o propósito de vender um produto, a empresa mostra todas as qualificações desse produto, nos passando a ideia de que ele é importantíssimo para o consumidor e nós somos persuadidos de tal forma que queremos adquiri-lo. Veja esta propaganda antiga. Em meados do século XX, a enceradeira surgiu como uma inovação tecnológica importante para a dona de casa, pois muitas mulheres enceravam a sua casa com um escovão ou de joelho com um pano na mão. Procure observar essa propaganda e veja como ela procura vender o produto “enceradeira”. Se você nunca passou uma enceradeira, pergunte para sua mãe se era dessa forma que ela encerava a casa: salto, cabelo escovado, saia e blusa, como se fosse uma princesa. Tenho certeza de que não era assim. Observe que a propaganda quer vender a ideia de que quem comprasse a Enceradeira Arno Super iria ter prazer em fazer a faxina de casa e nem sentiria cansaço. Todavia, essa ideia não é verdadeira. Portanto, a empresa se apropriou dos aspectos ideológicos para camuflar a verdade. Dessa forma, a realidade é distorcida a partir de um conjunto de representações pelo qual os homens se utilizam para explicar e compreender sua própria vida individual e social. Isso ocorre com todos os indivíduos, porque nós somos governados por uma ordem social.
  • 31. A ideologia, portanto, é um sinal de significação que está presente em qualquer tipo de mensagem, pois, em toda mensagem sempre há por trás uma intenção que normalmente não é claramente dita. Desta forma podemos afirmar que todos nós deixamos nossa marca de visão de mundo, dos nossos valores e crenças, e de INTENÇÃO, ou seja, de nossa ideologia, no uso que fazemos da linguagem, pois nós recorremos a ela para expressar nossos sentimentos, opiniões e desejos. E é por meio da linguagem que interpretamos a realidade que nos cerca. Porém, essa interpretação não é totalmente livre, pois ela é construída historicamente a partir de uma série de aspectos ideológicos que todos nós temos, mesmo sem nos darmos conta de sua existência. Tomem como exemplo textos que valorizam a imagem da mulher como a dona de casa perfeita, por exemplo, recorrem a um vocabulário que traduz as características vistas como positivas, tais como, a mulher é a rainha do lar, o anjo do lar, a mãe exemplar, a esposa perfeita, a santa senhora. Tais expressões eram muito utilizadas nas propagandas das décadas de 40, 50 e 60. Elas funcionavam para encobrir, na realidade, a verdadeira trabalhadora do lar, a qual deveria manusear todos os eletrodomésticos para manter sua casa permanentemente limpa para seu esposo. Para entendermos ainda melhor os conceitos que estamos trabalhando, no quadro a seguir, encontramos três músicas. Faça uma comparação entre elas e veja qual é o perfil de juventude que encontramos nessas músicas. São os mesmos perfis? A data da composição das músicas é importante para a concepção desses perfis? Toda essa questão parece ser muito complexa, pois é muito conceitual. Então veremos a seguir como de fato a ideologia se dá nos textos.
  • 32. Alegria, Alegria Caminhando contra o vento Sem lenço e sem documento No sol de quase dezembro Eu vou... O sol se reparte em crimes Espaçonaves, guerrilhas Em cardinales bonitas Eu vou... Em caras de presidentes Em grandes beijos de amor Em dentes, pernas, bandeiras Bomba e Brigitte Bardot... O sol nas bancas de revista Me enche de alegria e preguiça Quem lê tanta notícia Eu vou... Por entre fotos e nomes Os olhos cheios de cores O peito cheio de amores vãos Eu vou Por que não? Por que não? Ela pensa em casamento E eu nunca mais fui à escola Sem lenço e sem documento, Eu vou... Eu tomo uma coca-cola Ela pensa em casamento E uma canção me consola Como Nossos Pais Não quero lhe falar, Meu grande amor, Das coisas que aprendi Nos discos... Quero lhe contar como eu vivi E tudo o que aconteceu comigo Viver é melhor que sonhar Eu sei que o amor É uma coisa boa Mas também sei Que qualquer canto É menor do que a vida De qualquer pessoa... Por isso cuidado meu bem Há perigo na esquina Eles venceram e o sinal Está fechado prá nós Que somos jovens... Para abraçar seu irmão E beijar sua menina na rua É que se fez o seu braço, O seu lábio e a sua voz... Você me pergunta Pela minha paixão Digo que estou encantada Como uma nova invenção Eu vou ficar nesta cidade Não vou voltar pro sertão Pois vejo vir vindo no vento Cheiro de nova estação Eu sei de tudo na ferida viva Do meu coração... Já faz tempo Eu vi você na rua Cabelo ao vento Gente jovem reunida Na parede da memória Essa lembrança É o quadro que dói mais... Geração Coca-Cola Quando nascemos fomos programados A receber o que vocês Nos empurraram com os enlatados Dos U.S.A., de nove as seis. Desde pequenos nós comemos lixo Comercial e industrial Mas agora chegou nossa vez Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês Somos os filhos da revolução Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação Geração Coca-Cola Depois de 20 anos na escola Não é difícil aprender Todas as manhas do seu jogo sujo Não é assim que tem que ser Vamos fazer nosso dever de casa E aí então vocês vão ver Suas crianças derrubando reis Fazer comédia no cinema com as suas leis Somos os filhos da revolução Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação Geração Coca-Cola Geração Coca-Cola Geração Coca-Cola
  • 33. Eu vou... Por entre fotos e nomes Sem livros e sem fuzil Sem fome, sem telefone No coração do Brasil... Ela nem sabe até pensei Em cantar na televisão O sol é tão bonito Eu vou... Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou... Por que não? Por que não? Caetano Veloso Composição: Caetano Veloso/ 1967 Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo o que fizemos Ainda somos os mesmos E vivemos Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais... Nossos ídolos Ainda são os mesmos E as aparências Não enganam não Você diz que depois deles Não apareceu mais ninguém Você pode até dizer Que eu tô por fora Ou então Que eu tô inventando... Mas é você Que ama o passado E que não vê É você Que ama o passado E que não vê Que o novo sempre vem... Hoje eu sei Que quem me deu a idéia De uma nova consciência E juventude Tá em casa Guardado por Deus Contando vil metal... Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo, tudo, Tudo o que fizemos Nós ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Ainda somos Os mesmos e vivemos Como os nossos pais... Elis Regina Composição:Belchior1976 Geração Coca-Cola Legião Urbana Composição: Renato Russo / Fê Lemos / 1985
  • 34. Você percebeu que essas músicas foram compostas em três décadas diferentes? A primeira em 1967, a segunda em 1976 e a terceira em 1985. Nelas, encontramos diferenças nos perfis dos jovens que está intimamente ligada com a ideologia dominante da época. Veja a análise!!! Na primeira música, temos um jovem que vive a opressão sofrida nas ruas, nos meios de comunicação, em sua cultura nativa, no seu próprio país na década de 60. A letra denuncia o abuso de poder de forma metafórica: “caminhando contra o vento/sem lenço e sem documento”; expressa a violência praticada pelo regime: “sem livros e sem fuzil,/ sem fome, sem telefone, no coração do Brasil”; denuncia a precariedade na educação brasileira proporcionada pela ditadura que queria pessoas alienadas: “O sol nas bancas de revista /me enche de alegria e preguiça/quem lê tanta notícia?”. Na segunda música, a canção fala sobre o tempo e a juventude, a maturidade e a impotência, a ilusão e a decepção, sobre ganhar e perder. Embora as pessoas sejam tão previsíveis e as histórias, inclusive políticas, costumem acabar praticamente sempre “em pizza”, como se costuma dizer no Brasil, o autor nos alerta do quão é importante que façamos a nossa parte. É importante não desistir. Na terceira, temos uma geração marcada pelo consumismo, que procuram para si a praticidade e os produtos importados. É uma juventude que se deixa envolver pelo caminho mais fácil, deixando de lado ideais revolucionários. Como se vê, as idéias produzidas num determinado tempo, numa dada época estão sempre presentes no texto. Por isso, é preciso verificar as concepções e fatos correntes na época e na sociedade em que o texto foi produzido, para ajudar-nos a entender os aspectos ideológicos, ou seja, as crenças, valores e pensamentos relacionados à época e, consequentemente, fazermos uma leitura além da superfície de um texto.
  • 35. Coesão e Coerência Textual Uma das propriedades que distingue um texto de um amontoado de palavras ou frases é o relacionamento existente entre si. De que trata, então, a coesão textual? Da ligação, da relação, da conexão entre as palavras de um texto, através de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes. Uma das modalidades de coesão é a remissão. E a coesão pode desempenhar a função de (re)ativação do referente. A reativação do referente no texto é realizada por meio da referenciação anafórica ou catafórica, formando-se cadeias coesivas mais ou menos longas. A remissão anafórica (para trás) realiza-se por meio de pronomes pessoais de 3ª pessoa (retos e oblíquos) e os demais pronomes; também por numerais, advérbios e artigos. Exemplo: André e Pedro são fanáticos torcedores de futebol. Apesar disso, são diferentes.Este não briga com quem torce para outro time; aquele o faz. Explicação: O termo isso retoma o predicado são fanáticos torcedores de futebol; este recupera a palavra Pedro; aquele , o termo André; o faz, o predicado briga com quem torce para o outro time - são anafóricos. A remissão catafórica (para a frente) realiza-se preferencialmente através de pronomes demonstrativos ou indefinidos neutros, ou de nomes genéricos, mas também por meio das demais espécies de pronomes, de advérbios e de numerais. Exemplos: Exemplo: Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele, o professor, gordo e silencioso, de ombros contraídos. Explicação: O pronome possessivo seu e o pronome pessoal reto ele antecipam a expressão o professor - são catafóricos. De que trata a coerência textual ? Da relação que se estabelece entre as diversas partes do texto, criando uma unidade de sentido. Está, portanto, ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou lê. Modelo de questão: coesão e coerência (AFRF-2003) As questões de números 01 e 02 têm o texto abaixo como base. Falar em direitos humanos pressupõe localizar a realidade que os faz emergir no contexto sócio-político e histórico-estrutural do processo contraditório de criação das sociedades.Implica, em suma, desvendar, a cada momento deste processo, o que venha a resultar como direitos novos até então escondidos sob a lógica perversa de regimes políticos, sociais e econômicos, injustos e comprometedores da liberdade humana.
  • 36. Este ponto de vista referencial determina a dimensão do problema dos direitos humanos na América Latina. Neste contexto, a fiel abordagem acerca das condições presentes e dos caminhos futuros dos direitos humanos passa, necessariamente, pela reflexão em torno das relações econômicas internacionais entre países periféricos e países centrais. As desarticulações que desta situação resultam não chegam a modificar a base estrutural destas relações: a extrema dependência a que estão submetidos os países periféricos, tanto no que concerne ao agravamento das condições de trabalho e de vida (degradação dos salários e dos benefícios sociais), quanto na dependência tecnológica, cultural e ideológica. (Núcleo de estudos para a Paz e Direitos Humanos, UnB in: Introdução Crítica ao Direito,com adaptações) 01. Assinale a opção que não estabelece uma continuidade coerente e gramaticalmente correta para o texto a) Nesta parte do mundo, imensas parcelas da população não têm minimamente garantida sua sobrevivência material. Como, pois, reivindicar direitos fundamentais se a estrutura da sociedade não permite o desenvolvimento da consciência em sua razão plena? b) Por conseguinte, a questão dos Direitos tem significado político, enquanto realização histórica de uma sociedade de plena superação das desigualdades, como organização social da liberdade. c) Assim, pois, a opressão substitui a liberdade. A percepção da complexidade da realidade latino-americana remete diretamente a uma compreensão da questão do homem ao substituí-lo pela questão da tecnologia. d) Na América Latina, por isso, a luta pelos direitos humanos engloba e unifica em um mesmo momento histórico, atual, a reivindicação dos direitos pessoais. e) Não nos esqueçamos que a construção do autoritarismo, que marcou profundamente nossas estruturas sociais, configurou o sistema político imprescindível para a manutenção e reprodução dessa dependência. DICAS: esse tipo de questão exige a capacidade de seleção das informações básicas do texto e de percepção dos elementos de coesão constitutivos do último período e sua interligação com o parágrafo subsequente; nesse caso, a opção que será marcada. O texto trata dos direitos humanos - a realidade no contexto sócio- político e histórico estrutural - processo de criação das sociedades; "as relações econômicas internacionais entre países periféricos( a sua dependência) e países centrais". O gabarito assinala a altern. C.
  • 37. Justificativa: o comando da questão pede "a opção que não estabelece uma continuidade..." , a alternativa C inicia, estabelecendo relação de conclusão ( "Assim, pois,a opressão...") utilizando-se de elementos que não são citados no texto: opressão - liberdade - tecnologia, caracterizando incoerência textual.Nas demais alternativas há expressões que fazem menção às ideias do texto. Serão grifadas as palavras ou expressões relacionadas ao texto: *na altern.a)"... nessa parte do mundo..." (países periféricos), * na altern.b)"... a questão dos Direitos tem significado político..." (parte inicial do texto), *na altern. d) "Na América Latina, por isso, a luta pelos direitos humano..." * na altern.e)"... o sistema político imprescindível para a manutenção e reprodução dessa dependência." (tanto a letra d) quanto a e) fazem referência às informações básicas do texto. 02. Assinale a opção em que, no texto, a expressão que antecede a barra não retoma a ideia da segunda expressão que sucede a barra. a) "realidade" (l.2) / " contexto sócio-político e histórico-estrutural do processo" (l.2 e 3) b) "deste processo" (l.6) / " Processo contraditório de criação das sociedades" (l.3 e 4) c) "Este ponto de vista referencial" (l.11) / "ideias expressas no primeiro parágrafo. d) "Neste contexto" (l.14) / discussão sobre os direitos humanos na América Latina. e) "desta situação" (l.20) / relações econômicas internacionais entre países periféricos e países centrais. GABARITO:A DICAS: essa questão é típica de coesão textual que trata dos elementos anafóricos- aqueles que retomam um elemento referencial(anterior). O objetivo do comando é "a expressão que antecede a barra não retoma a ideia da segunda expressão. Se se observar com atenção, a palavra "realidade" da altern. a) vem citada antes, no texto, que a expressão "contexto sócio-político e histórico-estrutural do processo", portanto corresponde ao que se pede. Daí, o gabarito apontar a altern a) como a indicada.
  • 38. LINGUAGEM DENOTATIVA E LINGUAGEM CONOTATIVA: QUANDO E POR QUE AS UTILIZAMOS Você já pensou na importância que as palavras ou as frases têm quando queremos expressar uma idéia ou escrever um texto? Pois é, ao escrever ou falar, valemo-nos do significado das palavras, para propositalmente mostrarmos a nossa intenção. Se quisermos ser objetivos no que redigimos ou falamos, precisamos utilizar uma linguagem denotativa, a palavra ou sentença empregada está na sua significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária. Por exemplo, a publicação da seguinte manchete no jornal: “NÃO CHOVE NO NORDESTE HÁ DOIS MESES”. O verbo chover está sendo empregado numa linguagem denotativa, pois a sua significação é literal, refere-se à precipitação pluviométrica ou, trocando em miúdos, à água que cai do céu. Agora, se quisermos evocar idéias por intermédio da emoção ou subjetividade, temos a linguagem conotativa, que corresponde a uma transferência do significado usual para um sentido figurado. Quando isso acontece, as figuras enriquecem o texto ou discurso. Por exemplo, se lermos em um site de relacionamento a seguinte frase: “NÃO CHOVE EM MINHA HORTA HÁ ALGUM TEMPO.”, o verbo chover, aqui, não está num sentido literal, mas figurativo, porque o seu significado não dá a idéia de chuva propriamente dita, mas de que faz algum tempo que uma pessoa que não tem nenhum relacionamento com alguém. Portanto, as palavras, expressões e enunciados da língua atuam em dois planos distintos: a linguagem denotativa e a linguagem conotativa. Vejamos cada uma delas com mais detalhes, para saber quando e por que as usamos.
  • 39. Linguagem denotativa Leia o texto abaixo. Há alguns anos, o Dr. Johnson O’ Connor, do Laboratório de Engenharia Humana, de Boston, e do Instituto de Tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey, submeteu a um teste de vocabulário cem alunos de um curso de formação de dirigentes de empresas industriais, os executivos. Cinco anos mais tarde, verificou que os dez por cento que havia revelado maior conhecimento ocupavam cargos de direção, ao passo que dos vinte e cinco por cento mais “fracos” nenhum alcançara igual posição. Isso não prova, entretanto, que, para “vencer na vida”, basta ter um bom vocabulário; outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias. Mas parece não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para tarefa vital da comunicação. Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são o revestimento das idéias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar. Como pensar que “amanhã tenho uma aula às 8 horas”, se não prefiguro mentalmente essa atividade por meio dessas ou outras palavras equivalentes? Não há como se pensar no nada. A própria clareza das idéias (se é que a temos sem palavras) está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das expressões que as traduzem. As próprias impressões colhidas em contato com o mundo físico, através da experiência sensível, são tanto mais vivas quanto mais capazes de serem traduzidas em palavras – e sem impressões vivas não haverá expressão eficaz. É um círculo vicioso, sem dúvida: “... nossos hábitos linguísticos afetam e são igualmente afetados pelo nosso comportamento, pelos nossos hábitos físicos e mentais normais, tais como a observação, a percepção, os sentimentos, a emoção, a imaginação”. De forma que um vocabulário escasso e inadequado, incapaz de veicular impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento mental, tolhe a imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender e até mesmo de sentir. (...) Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais claro, tanto mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão. Reciprocamente, quanto mais escasso e impreciso, tanto mais dependentes estamos do grunhido, do grito ou do gesto, formas rudimentares de comunicação capazes de traduzir apenas expansões instintivas dos primitivos, dos infantes e... dos irracionais. (GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna. 8 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1980, p. 155-56).
  • 40. Otton M. Garcia, nesse texto, trata sobre a importância de termos um vocabulário amplo, pois quanto mais palavras conhecermos, mais condições teremos de nos expressar quando comunicamos. Todavia, se tivermos um vocabulário escasso e inadequado, teremos grandes dificuldades em expor nossas idéias e compreender o que outras pessoas dizem. Para expor essa temática da importância do vocabulário, Garcia utilizou-se de uma estatística feita nos Estados Unidos, comprovando que aquelas pessoas que tinham revelado um maior vocabulário se tornaram chefes de seus setores, no entanto, entre aqueles que tinham um vocabulário muito limitado, nenhum chegou a ocupar tal posto. As palavras usadas no texto por Garcia, para desenvolver este assunto, são, na sua grande maioria, abstratas, tais como “conhecimento, posição, qualidade, pensamento, expressão etc.”, pois fazem referência a conceitos, preservando seu sentido literal. Portanto, há linguagem denotativa quando tomamos a palavra no seu sentido usual ou literal, isto é, naquele que lhe atribuem os dicionários; seu sentido é objetivo, explícito. Ela designa ou denota determinado objeto, referindo-se a um único sentido. Você se lembra do texto “Para quem não dorme de touca”, cuja personagem entendia tudo literalmente? Segundo o entendimento dessa personagem, a linguagem tem somente uma forma de expressão. Todavia, isso não é verdade, pois ela pode ser conotativa também.
  • 41. Linguagem Conotativa Além do sentido literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras idéias associadas de ordem abstrata, subjetiva. Leia o poema abaixo. No Corpo De que vale tentar reconstruir com palavras o que o verão levou entre nuvens e risos junto com o jornal velho pelos ares? O sonho na boca, o incêndio na cama, o apelo na noite agora são apenas esta contração (este clarão) de maxilar dentro do rosto A poesia é o presente Ferreira Gullar Ao lermos esse poema, percebemos que as palavras não têm um sentido literal, mas figurativo. O eu-lírico compara seu passado a um jornal velho levado pelo vento. O seu passado é apenas uma memória. Ele começa a reviver esse passado na segunda estrofe, principalmente a sua vivência amorosa (“incêndio na cama”, “o apelo na noite”). Disso, o que ficou no momento (“agora”) são apenas as boas lembranças, que lhes trazem um sorriso estampado no rosto (“(este clarão) de maxilar dentro do rosto”). É muito comum encontrarmos a linguagem conotativa em textos literários, pois eles têm uma preocupação essencialmente estética. No entanto, a encontramos também em propagandas, textos jornalísticos, histórias em quadrinhos, charges e em outros gêneros textuais. Pois, por meio dessa linguagem se exploram diversos significados de uma palavra, causando o interesse do leitor para a manchete ou provocando o riso e o duplo sentido. Veja esta propaganda a seguir:
  • 42. O outdoor da Assistência Funeral SINAF “Como arrumar uma coroa” utiliza-se tanto o verbo como o substantivo no seu sentido conotativo (arrumar = conseguir, coroa = senhora idosa) e para contribuir com esse sentido é colocada a imagem de um senhor idoso e jovial (um coroa esperto) ao lado da mensagem escrita. Porém, com o auxílio da imagem (este senhor idoso) atrelada ao nome do produto (Assistência Funeral) se faz uma outra leitura: o verbo arrumar e o substantivo coroa passam a ter seu sentido original, denotativo (conseguir enfeite de flores utilizados em funerais). É preciso que o destinatário tenha um conhecimento linguístico e cultural para perceber a brincadeira irônica feita na mensagem publicitária como um recurso suavizador do assunto (morte) delicado para nós ocidentais. A ambiguidade suaviza e dissimula a mensagem, mas os dados precisam estar armazenados na memória do público alvo para que ele reconheça o jogo da mensagem. Os provérbios ou ditos populares são também um outro exemplo de exploração da linguagem no seu uso conotativo. Assim, "Quem está na chuva é para se
  • 43. molhar" equivale a "Quando alguém opta por uma determinada experiência, deve assumir todas as regras e consequências decorrentes dessa experiência". Do mesmo modo, "Casa de ferreiro, espeto de pau" significa “O que a pessoa faz fora de casa, para os outros, não faz em casa, para si mesma.” Leia, agora, este texto jornalístico. A seca está de volta Um dia, em janeiro passado, anunciada pelo pau d’arco que não floriu, pelo jabuti que não pôs, pelo pássaro João-de-barro que fez sua casa com a porta virada para o nascente, a seca reapareceu no Nordeste e plantou-se em Irecê, na Bahia. Dali, espalhou-se pelo centro do Estado: consumiu terras de Ibitiba, Ibipeba, Jussara, Brumado, Barra do Mendes e de mais 140 municípios. Com duas semanas, tomou Xique-Xique da influência do rio São Francisco. Depois saltou para o norte de Minas Gerais e apoderou-se de Janaúba, Espinosa, Mato Verde, Porteirinha, Várzea de Palma e de mais de 35 cidades. Então retrocedeu, cortou o sul da Bahia e insinuou-se pelo sudeste do Piauí. Dormiu por muitas noites em São Raimundo Nonato. Acordou de outras tantas em São João do Piauí, Simplício Mendes, Paulistana, Jaicós e Picos, onde era aguardada pelo antropólogo popular João Feliciano da Silva Rego que, em dezembro do ano passado, no dia de Santa Luzia, fizera a experiência das três pedrinhas de sal e sentenciara para os incrédulos: - A seca está chegando. Ela ocupou Afrânio, Parnamirim, Bodocó, Trindade e Salgueiro, no oeste de Pernambuco, e reduziu à metade o movimento comercial na rotineira feira de gado de Ouricuri. Foi vista chegando em dias de março no oeste do Rio Grande do Norte, onde permanece no Vale do Siridó, e no
  • 44. sudoeste do Ceará, na região dos Inhamus, onde encontrou bom abrigo. Trilhou depois os caminhos sertanejos da Paraíba e estimulou agricultores a invadir três cidades. Alastrou-se em seguida pelo oeste de Alagoas e está agora crescendo lentamente no nordeste de Sergipe. Já engoliu até hoje 811 mil quilômetros quadrados de 736 municípios, 222 dos quais considerados irrecuperáveis em termos de produção agrícola. E atinge direta e indiretamente 12 milhões de pessoas. NOBLAT. Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2003. p.102-03 Nesse texto vemos que o objetivo do jornalista Ricardo Noblat é escrever sobre a seca que devastou o Nordeste brasileiro. Para isso, ele não se utilizou da linguagem denotativa, mas conotativa. Ele procura personificar a seca, ou seja, ele atribui ações humanas para um elemento que não é humano. Essa personificação ocorre mediante uma escolha cuidadosa dos verbos (reapareceu, plantou-se, espalhou-se, consumiu, saltou, apoderou-se, retrocedeu, cortou, dormiu, acordou, ocupou, trilhou, engoliu etc.). Além disso, observamos que o termo seca só aparece uma vez no título e duas no corpo do texto (uma no primeiro parágrafo e a outra na fala do antropólogo popular), ele procura nomeá-la por figuras verbais que remetem à seca. Noblat recorre, também, aos pronomes (o pronome pessoal ela e o reflexivo se), que ajudam a reforçar no leitor a idéia de um ser dotado de vontade própria, que escolhe os caminhos por onde passará na sua viagem de destruição. Embora se espere um caráter mais objetivo, mais literal, em um texto jornalístico, a intenção de Noblat foi a de permitir que os leitores pudessem construir uma imagem dos efeitos da passagem da seca pela região. Para isso, precisava atribuir a esse fenômeno um comportamento quase humano, algo que só pode ser obtido pela exploração do uso figurado de vários termos. O resultado é um texto quase poético que nos permite visualizar as cidades flageladas e imaginar o sofrimento de tantas pessoas afetadas.
  • 45. Portanto, a conotação é a significação subjetiva e figurada da palavra; ocorre quando um termo evoca outras realidades por associações que ele provoca. O quadro abaixo sintetiza as diferenças fundamentais entre denotação e conotação: DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO palavra com significação restrita palavra com significação ampla palavra com sentido comum do dicionário palavra cujos sentidos extrapolam o sentido comum palavra usada de modo automatizado palavra usada de modo criativo linguagem comum linguagem rica e expressiva Exemplos de conotação e denotação. Nas receitas a seguir, as palavras têm, na primeira, um sentido objetivo, explícito, constante; foram usadas denotativamente. Na segunda, apresentam múltiplos sentidos, foram usadas conotativamente. Observa-se que os verbos que ocorrem tanto em uma quanto em outra - dissolver, cortar, juntar, servir, retirar, reservar - são aqueles que costumam ocorrer nas receitas; entretanto, o que faz a diferença são as palavras com as quais os verbos combinam, combinações esperadas no texto 1, combinações inusitadas no texto 2. Vejam a seguir e compreendam melhor o que acabamos de expor. TEXTO I Bolo de arroz 3 xícaras de arroz 1 colher (sopa) de manteiga 1 gema 1 frango 1 cebola picada TEXTO II Receita Ingredientes 2 conflitos de gerações 4 esperanças perdidas 3 litros de sangue fervido 5 sonhos eróticos
  • 46. 1colher (sopa) de molho inglês 1colher (sopa) de farinha de trigo 1 xícara de creme de leite Salsa picadinha Prepare o arroz branco, bem solto. Ao mesmo tempo, faça o frango ao molho, bem temperado e saboroso. Quando pronto, retire os pedaços, desosse e desfie. Reserve. Quando o arroz estiver pronto, junte a gema, a manteiga, coloque numa forma de buraco e leve ao forno. No caldo que sobrou do frango, junte a cebola, o molho inglês, a farinha de trigo e leve ao fogo para engrossar. Retire do fogo e junte o creme de leite. Vire o arroz, já assado, num prato. Coloque o frango no meio e despeje por cima o molho. Sirva quente. (Terezinha Terra) 2 canções dos Beatles Modo de preparar Dissolva os sonhos eróticos nos dois litros de sangue fervido e deixe gelar seu coração. Leve a mistura ao fogo, adicionando dois conflitos de gerações às esperanças perdidas. Corte tudo em pedacinhos e repita com as canções dos Beatles o mesmo processo usado com os sonhos eróticos, mas desta vez deixe ferver um pouco mais e mexa até dissolver. Parte do sangue pode ser substituída por suco de groselha, mas os resultados não serão os mesmos. Sirva o poema simples ou com ilusões. (Nicolas Behr) Fonte: (http://acd.ufrj.br/~pead/tema04/denotacaoeconotacao.html) Leia o poema “Profundamente” de Manuel Bandeira. Observe que ele trabalha com um termo de forma denotativa e conotativa. Procure verificar que termo é esse? Profundamente
  • 47. Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente. Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci. Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente.
  • 48. Interpretando o poema, pode-se dizer que o eu-lírico se apresenta em dois tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o presente (hoje); bem destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª (“ontem”) e da 6ª (“hoje”) estrofes, respectivamente. O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de São João, quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, porque tinha adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas daquela época tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo profundamente (no sentido literal - denotativo). No entanto, a partir da 5ª estrofe, percebe-se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não ouvir mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo conotativo). É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes); percebe-se, portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que o cercam e que, mediante um vocabulário simples, consegue atingir temas tão profundos como a morte e a saudade. Portanto, ao analisarmos um texto, temos que observar bem o significado das palavras, a fim de depreendermos os sentidos que estão nele presentes. O que nos ajudará muito entendermos se a palavra tem um sentido conotativo ou literal será o contexto, conforme vimos nos capítulos anteriores. Você conseguiu achar qual é o termo? Sobre o que fala o poema?
  • 49. ORTOGRAFIA OFICIAL A palavra Ortografia é formada por "orto", elemento de origem grega, usado como prefixo, com o significado de direito, reto, exato e "grafia", elemento de composição de origem grega com o significado de ação de escrever; ortografia, então, significa ação de escrever direito. É fácil escrever direito? Não!! É, de fato, muito difícil conhecer todas as regras de ortografia a fim de escrever com o mínimo de erros ortográficos. Hoje tentaremos facilitar um pouco mais essa matéria. Abaixo seguem algumas frases com as respectivas regras sobre o uso de ç, s, ss, z, x... Vamos a elas: 01) Uma das intenções da casa de detenção é levar o que cometeu graves infrações a alcançar a introspecção, por intermédio da reeducação. a) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TO: intento = intenção canto = canção exceto = exceção junto = junção b) Usa-se ç em palavras terminadas em TENÇÃO referentes a verbos derivados de TER: deter = detenção reter = retenção conter = contenção manter = manutenção c) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TOR: infrator = infração trator = tração redator = redação setor = seção d) Usa-se ç em palavras derivadas de vocábulos terminados em TIVO: introspectivo = introspecção relativo = relação ativo = ação intuitivo – intuição e) Usa-se ç em palavras derivadas de verbos dos quais se retira a desinência R: reeducar = reeducação importar = importação repartir = repartição fundir = fundição f) Usa-se ç após ditongo quando houver som de s: eleição traição 02) A pretensa diversão de Creusa, a poetisa vencedora do concurso, implicou a sua expulsão, porque pôs uma frase horrorosa sobre a diretora Luísa. a) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em NDER ou NDIR: pretender = pretensão, pretensa, pretensioso defender = defesa, defensivo compreender = compreensão, compreensivo repreender = repreensão
  • 50. expandir = expansão fundir = fusão confundir = confusão b) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em ERTER ou ERTIR: inverter = inversão converter = conversão perverter = perversão divertir = diversão c) Usa-se s após ditongo quando houver som de z: Creusa coisa maisena d) Usa-se s em palavras terminadas em ISA, substantivos femininos: Luísa Heloísa Poetisa Profetisa Obs: Juíza escreve-se com z, por ser o feminino de juiz, que também se escreve com z. e) Usa-se s em palavras derivadas de verbos terminados em CORRER ou PELIR: concorrer = concurso discorrer = discurso expelir = expulso, expulsão compelir = compulsório f) Usa-se s na conjugação dos verbos PÔR, QUERER, USAR: ele pôs ele quis ele usou g) Usa-se s em palavras terminadas em ASE, ESE, ISE, OSE: frase tese crise osmose • Exceções: deslize e gaze. h) Usa-se s em palavras terminadas em OSO, OSA: horrorosa gostoso • Exceção: gozo 03) I -Teresinha, a esposa do camponês inglês, avisou que cantaria de improviso. II -Aterrorizada pela embriaguez do marido, a mulherzinha não fez a limpeza. a) Usa-se o sufixo indicador de diminutivo INHO com s quando esta letra fizer parte do radical da palavra de origem; com z quando a palavra de origem não tiver o radical terminado em s: Teresa = Teresinha Casa = casinha Mulher = mulherzinha Pão = pãozinho b) Os verbos terminados em ISAR serão escritos com s quando esta letra fizer parte do radical da palavra de origem; os terminados em IZAR serão escritos com z quando a palavra de origem não tiver o radical terminado em s:
  • 51. improviso = improvisar análise = analisar pesquisa = pesquisar terror = aterrorizar útil = utilizar economia = economizar c) As palavras terminadas em ÊS e ESA serão escritas com s quando indicarem nacionalidade, títulos ou nomes próprios; as terminadas em EZ e EZA serão escritas com z quando forem substantivos abstratos provindos de adjetivos, ou seja, quando indicarem qualidade: Teresa Camponês Inglês Embriaguez Limpeza 04) O excesso de concessões dava a impressão de compromisso com o progresso. a) Os verbos terminados em CEDER terão palavras derivadas escritas com CESS: exceder = excesso, excessivo conceder = concessão proceder = processo b) Os verbos terminados em PRIMIR terão palavras derivadas escritas com PRESS: imprimir = impressão deprimir = depressão comprimir = compressa c) Os verbos terminados em GREDIR terão palavras derivadas escritas com GRESS: progredir = progresso agredir = agressor, agressão, agressivo transgredir = transgressão, transgressor d) Os verbos terminados em METER terão palavras derivadas escritas com MISS ou MESS: comprometer = compromisso prometer = promessa intrometer = intromissão remeter = remessa 05) Para que os filhos se encorajem, o lojista come jiló com canjica. a) Escreve-se com j a conjugação dos verbos terminados em JAR: Viajar = espero que eles viajem Encorajar = para que eles se encorajem Enferrujar = que não se enferrujem as portas b) Escrevem-se com j as palavras derivadas de vocábulos terminados em JA: loja = lojista canja = canjica sarja = sarjeta gorja = gorjeta c) Escrevem com j as palavras de origem tupi-guarani. Jiló Jibóia Jirau
  • 52. 06) O relógio que ele trouxe da viagem ao México em uma caixa de madeira caiu na enxurrada. a) Escrevem-se com g as palavras terminadas em ÁGIO, ÉGIO, ÍGIO, ÓGIO, ÚGIO: pedágio sacrilégio prestígio relógio refúgio b) Escrevem-se com g os substantivos terminados em GEM: a viagem a coragem a ferrugem • Exceções: pajem, lambujem c) Palavras iniciadas por ME serão escritas com x: Mexerica México Mexilhão Mexer • Exceção: mecha de cabelos d) As palavras iniciadas por EN serão escritas com x, a não ser que provenham de vocábulos iniciados por ch: Enxada Enxerto Enxurrada Encher – provém de cheio Enchumaçar – provém de chumaço e) Usa-se x após ditongo: ameixa caixa peixe • Exceções: recauchutar, guache Emprego das Letras Emprego de Vogais As vogais na língua portuguesa admitem certa variedade de pronúncia, dependendo de sua intensidade (i. é, se são tônicas ou átonas). Com essa variação na pronúncia, nem sempre a memória, baseada na audição, retém a forma correta da grafia. A lista a seguir não é exaustiva, mas procura incluir as dificuldades mais correntes na redação oficial. E ou I? Palavras com E, e não I acarear acreano (ou acriano) aéreo ante- (pref.=antes) antecipar antevéspera aqueduto área averigúe (f.v.) beneficência beneficente betume de antemão deferir (conceder) delação (denúncia) demitir derivar descortinar descrição despender despensa (onde se guardam comestíveis) despesa falsear granjear meteoro(logia) nomear oceano palavreado parêntese (ou parêntesis) passeata preferir prevenir quase rarear receoso reentrância
  • 53. boreal cardeal carestia cedilha cercear cereal continue (f.v.) hastear homogêneo ideologia indeferir (negar) legítimo lenimento (que suaviza) menoridade meteorito sanear se senão sequer seringueiro testemunha vídeo Palavras com I, e não E aborígine acrimônia adiante ansiar anti- (pref.=contra) argúi (f.v.) arqui- (pref.) artifício atribui(s) (f.v.) cai (f. v.) calcário cárie (Cariar) chefiar cordial desigual diante diferir (divergir) dilação (adiamento) dilapidar dilatar (alargar) discrição (reserva) discricionário discriminar (discernir, separar) dispêndio dispensa (licença) distinguir distorção dói (fl. v.) feminino frontispício imbuir imergir (mergulhar) imigrar (entrar em país estrangeiro) iminente (próximo) imiscuir-se inclinar incorporar (encorpar) incrustar (encrostar) indigitar infestar influi(s) (f. v.) inigualável iniludível inquirir (interrogar) intitular irrupção júri linimento (medicamento untuoso) meritíssimo miscigenação parcimônia possui(s) (f. v.) premiar presenciar privilégio remediar requisito sentenciar silvícola substitui(s) (f. v.) verossímil O ou U? Palavras com O, e não U abolir agrícola bobina boletim bússola cobiçar(r) comprido comprimento (extensão) concorrência costume encobrir explodir marajoara mochila (de) moto próprio (latim: motu próprio) ocorrência pitoresco proeza Romênia romeno silvícola sortido (variado) sotaque tribo veio (s. e f. v.) vinícola Palavras com U, e não O acudir bônus cinqüenta cumprimento (saudação) cumprido (v. cumprir) cúpula Curitiba elucubração embutir entabular légua lucubração ônus régua súmula surtir (resultar) tábua tonitruante trégua usufruto vírgula vírus
  • 54. Encontros Vocálicos EI ou E? Palavras com EI, e não E aleijado alqueire ameixa cabeleireiro ceifar colheita desleixo madeireira peixe queijo queixa(r-se) reiterar reivindicarseixo treinar treino Palavras com E, e não EI adrede alameda aldeamento (mas aldeia) alhear (mas alheio) almejar azulejo bandeja calejar caranguejo carqueja cereja cortejo despejar, despejo drenar embrear embreagem enfear ensejar, ensejo entrecho estrear, estreante frear, freada igreja lampejo lugarejo malfazejo manejar,manejo morcego percevejo recear,receoso refrear remanejo sertanejo tempero varejo OU ou O? Palavras com OU, e não O agourar arroubo cenoura dourar estourar frouxo lavoura pouco pousar roubar tesoura tesouro Palavras com O, e não OU alcova ampola anchova (ou enchova) arroba arrochar, arrocho arrojar, arrojo barroco cebola desaforo dose empola engodo estojo malograr,malogro mofar,mofo oco posar rebocar Emprego de Consoantes Assim como emprego de vogais provoca dúvidas, há algumas consoantes – especialmente as que formam dígrafos (duas letras para representar um som), ou a muda (h), ou, ainda, as diferentes consoantes que representam um mesmo som – constituem dificuldade adicional à correta grafia. Se houver hesitação quanto ao emprego de determinada consoante, consulte a lista que segue. Lembre-se de que a grafia das palavras tem estreita relação com sua história. Vocábulos derivados de outras línguas, por exemplo, mantêm certa uniformidade nas adaptações que sofrem ao serem incorporados ao português (do francêsgarage ao port. garagem; do latim actione, fractione ao port. ação, fração; etc.). Palavras que provêm de outras palavras quase sempre mantêm a grafia do radical de origem (granjear:
  • 55. granja; gasoso: gás, analisar: análise). Há, ainda, certas terminações que mantêm uniformidade de grafia (- aça, -aço, -ecer, -ês, -esia, -izar, etc.). Emprego do H: com H ou sem o H? Haiti halo hangar harmonia haurir Havana Havaí haxixe hebdomadário hebreu hectare hediondo hedonismo Hégira Helesponto hélice hemi-(pref.=meio) hemisfério hemorragia herança herbáceo (mas erva) herdar herege hermenêutica hermético herói hesitar hiato híbrido hidráulica hidravião (hidroavião) hidrogênio hidro-(pref.=água) hierarquia hieróglifo (ou hieroglifo) hífen higiene Himalaia hindu hino hiper-(pref.=sobre) hipo-(pref.=sob) hipocrisia hipoteca hipotenusa hipótese hispanismo histeria hodierno hoje holandês holofote homenagear homeopatia homicida homilia (ou homília) homologar homogeneidade homogêneo homônimo honesto honorários honra horário horda horizonte horror horta hóspede hospital hostil humano humilde humor Hungria O fonema /ž/: G ou J? Palavras com G, e não J adágio agenda agiota algema algibeira apogeu argila auge Bagé (mas bajeense) Cartagena digerir digestão efígie égide Egito egrégio estrangeiro evangelho exegese falange ferrugem fuligem garagem geada gelosia gêmeo gengiva gesso gesto Gibraltar gíria giz herege impingir ligeiro miragem monge ogiva rigidez sugerir tangente viageiro viagem vigência Palavras com J, e não G ajeitar encoraje (fl.v.) enjeitar enrijecer gorjeta granjear injeção interjeição jeca jeito jenipapo jerimum jesuíta lisonjear lojista majestade majestoso objeção ojeriza projeção projetil (ou projétil) rejeição rejeitar rijeza sujeito ultraje eles viajem (f. v.)
  • 56. O fonema /s/: C, Ç ou S ou SS ou X ou XC? Palavras com C, Ç e não S ou SS nem SC à beça absorção abstenção açaí açambarcar acender (iluminar) acento (tom de voz, símbolo gráfico) acepção acessório acerbo acerto (ajuste) acervo aço (ferro temperado) açodar (apressar) açúcar açude adoção afiançar agradecer alçar alicerçar alicerce almaço almoço alvorecer amadurecer amanhecer ameaçar aparecer apreçar (marcar preço) apreço aquecer arrefecer arruaça asserção assunção babaçu baço balança Barbacena Barcelona berço caça cacique caçoar caiçara calça calhamaço cansaço carecer carroçaria (ou carroceria) castiço cebola cê-cedilha cédula ceia ceifar célere celeuma cerne cerração (nevoeiro) cerrar (fechar, acabar) cerro (morro) certame certeiro certeza, certidão certo cessação (ato de cessar) cessão (ato de ceder) cessar (parar) cesta chacina chance chanceler cicatriz ciclo ciclone cifra cifrão cigarro cilada cimento cimo cingalês (do Ceilão) Cingapura (tradicional: Singapura) cínico cinqüenta cinza cioso ciranda circuito circunflexo círio (vela) cirurgia cisão cisterna citação cizânia coação cobiçar cociente (ou quociente) coerção coercitivo coleção compunção concelho (município) concertar (ajustar, harmonizar) concerto (- musical, acordo) concessão concílio (assembléia) conjunção consecução Criciúma decepção decerto descrição (ato de descrever) desfaçatez discrição (reserva) disfarçar exibição expeço extinção falecer fortalecer Iguaçu impeço incerto (não certo) incipiente (iniciante) inserção intercessão isenção laço liça (luta) licença lucidez lúcido maçada (importunação) maçante maçar (importunar) macerar maciço macio maço (de cartas) maçom (ou mação) manutenção menção mencionar muçulmano noviço obcecação (mas obsessão) obcecar opção orçamento orçar paço (palácio) panacéia parecer peça penicilina pinçar poça, poço prevenção presunção quiçá recender recensão rechaçar rechaço remição (resgate) resplandecer roça ruço (grisalho) sanção (ato de sancionar) soçobrar súcia sucinto Suíça, suíço taça tapeçaria
  • 57. célula cem (cento) cemitério cenário censo (recenseamento) censura centavo cêntimo centro ceticismo cético cera cerâmica cerca cercear cereal cérebro distinção distorção docente (que ensina; corpo –: os professores) empobrecer encenação endereço enrijecer erupção escaramuça escocês Escócia esquecer estilhaço exceção excepcional tecelagem tecelão tecer tecido tenção (intenção) terça terço terraço vacilar viço vizinhança Palavras com S, e não C ou SC, nem X adensar adversário amanuense ânsia, ansiar apreensão ascensão (subida) autópsia aversão avulso balsa bolso bom-senso canhestro cansaço censo (recenseamento) compreensão compulsão condensar consecução conselheiro (que aconselha) conselho (aviso, parecer) consenso consentâneo consertar (remendar) contra-senso contraversão controvérsia conversão convulsão Córsega defensivo defensor descansar descensão, descenso (descida) desconsertar (desarranjar) despensa (copa, armário) despretensão dimensão dispensa(r) dispersão dissensão distensão diversão excursão expansão expensas extensão (mas estender) extorsão extrínseco falsário falso, falsidade farsa imersão impulsionar incompreensível incursão insinuar insípido insipiente (ignorante) insolação intensão (tensão) intensivo intrínseco inversão justapor mansão misto, mistura obsessão (mas obcecação) obsidiar obsoleto pensão percurso persa Pérsia persiana perversão precursor pretensão propensão propulsão pulsar recensão recensear, recenseamento remorso repreensão repulsa seção (ou secção) seda segar (ceifar, cortar) sela (assento) semear semente senado senha sênior sensato senso série seringa sério serra seta severo seviciar Sevilha Sibéria Sicília siderurgia sigilo sigla Silésia silício silo sinagoga Sinai Singapura (tradicional; ocorre tb. Cingapura) singelo singrar sintoma Síria sismo sito, situado submersão subsidiar subsistência suspensão tensão (estado de tenso) tergiversar
  • 58. diverso emersão espoliar estender (mas extensão) estorno estorricar reverso salsicha Sansão seara sebe sebo Upsala (ou Upsália) utensílio versão versátil, versáteis Palavras com SS, e não C, Ç Abissínia acessível admissão aerossol agressão amassar (< massa) apressar (<pressa) argamassa arremessar assacar assassinar assear assecla assediar assentar assento (assentar) asserção asserto, assertiva (afirmação) assessor asseverar assíduo assimetria assinar Assíria assolar aterrissagem atravessar avassalar avesso bússola cassar (anular) cassino cessão (ato de ceder) comissão compasso compressa compromisso concessão condessa (fem. de conde) confissão cossaco crasso cromossomo demissão depressa depressão dessecar (secar bem) devassar dezesseis dezessete digressão discussão dissensão dissertação dissídio dissimulação dissipar dissuadir dossiê ecossistema eletrocussão emissão empossar (dar posse a) endossar escassear escassez escasso excessivo excesso expressão fissura fosso fracasso gesso grassar idiossincrasia imissão impressão imissão impressão ingressar insosso insubmissão interesse intromissão macrossistema massa messe messiânico microssistema missa missionário mocassim necessidade obsessão opressão pássaro passear passeata passeio passo (cf. paço) permissão pêssego pessimismo possessão potássio pressagiar, presságio pressão, pressionar processão (procedência) procissão (préstito) professo profissão progressão progresso promessa promissor promissória regressar, regressivo remessa remissão (ato de remitir) remissivo repercussão repressão, repressivo ressalva(r) ressarcir ressentir ressequir ressonar ressurreição retrocesso russo (da Rússia) sanguessuga secessão (separação) sessão (reunião) sessar (peneirar) sobressalente (ou sobresselente) sossego submissão sucessão sucessivo tessitura tosse travessa travessão uníssono vassoura verossímil vicissitude Palavras com SC, e não C, Ç, S, SS