Este documento apresenta conceitos fundamentais sobre texto e sua interpretação. No primeiro parágrafo, define-se texto como uma unidade linguística em que palavras e frases estão ordenadas e conectadas para gerar significado. Nos parágrafos seguintes, explica-se a importância do contexto na interpretação do texto, demonstrando como o sentido de um trecho pode mudar quando lido isolado ou dentro do texto completo.
2. 333
ÍNDICE
TEXTO E GRAMÁTICA
AULA 1 - Noção de Texto................................................... 3
AULA 2 – Implícito-Explícito/Conotação-Denotação ......... 6
AULA 3 – Figuras de Linguagem....................................... 11
AULA 4 – Intertextualidade ............................................. 19
AULA 5 - Funções da linguagem ...................................... 23
AULA 6 - Tipologia vs Gênero textual .............................. 29
AULA 7 – Sintaxe ............................................................. 33
AULA 8 – Semântica ........................................................ 36
Aula Especial - Variação Linguística................................. 38
LITERATURA
Aula 01 - Introdução aos estudos literários..................... 43
Aula 02 – Gêneros Literários ........................................... 45
Aulas 03 e 04 – Era medieval/ Era clássica ...................... 49
Aula 5 - A épica e a Lírica de Camões .............................. 54
Aula 06 - Romantismo ..................................................... 59
Aula 7 - Iracema de José de Alencar ................................ 63
Aula 08 - Realismo........................................................... 68
Aula 09 - Realismo no Brasil ............................................ 72
Aula 10 – Naturalismo: O Cortiço .................................... 76
Aula 11 – Vanguardas europeias e Modernismo............. 81
Aula 12 – Vidas Secas, Graciliano Ramos......................... 87
Aula 13 – Capitães da Areia, de Jorge Amado ................. 91
REDAÇÃO
AULA 1 – A dissertação argumentativa.......................... 97
Aula 2 – Introdução ....................................................... 100
AULA 3 – A Argumentação/Defesa de ponto de vista ... 102
AULA 4 – Tipos de Argumento....................................... 105
Aula 5 – Questionando a própria tese........................... 108
AULA 6 – Conclusão...................................................... 110
Aula 7 – Coesão e Coerência ......................................... 113
AULA 8 – Pontuação (1)................................................ 115
AULA 9 – Pontuação (2)................................................ 118
AULA 10 – Proposta 8................................................... 120
GUIA DO PARTICIPANTE DO INEP.................................. 122
CARTA
Olá!Esta é a nossa apostila de língua portuguesa, bem
vindos!
Aqui vocês encontrarão conceitos, imagens, e diversos
conteúdos selecionados para aprimorar o conhecimento de
vocês sobre a Língua Portuguesa e suas Literaturas. Porque
saber português, na verdade, todos vocês já sabem, não é
mesmo? Já que usamos nossa língua desde muito pequenos e,
consequentemente, nos comunicamos em português, fazemos
amizades em português e pensamos em português. Ou seja,
vocês não precisam aprender Português, precisam apenas
aperfeiçoar habilidades linguísticas para se comunicar bem, ler
bem e escrever bem.
Esta apostila foi desenvolvida em conjunto pelos pro-
fessores de Língua Portuguesa e suas Literaturas do cursinho
Rede Emancipa Grajaú, e foi dividida em três frentes de conhe-
cimento: Texto e Gramática, Literatura e Redação.
Na primeira parte estão os conceitos de gramática e
interpretação de texto, que te ajudarão a compreender ques-
tões da Gramática normativa e desenvolverão suas habilidades
de leitura. Na segunda parte, estão os conteúdos de Literatura,
na qual abordamos os movimentos literários e todas as obras
da lista da FUVEST e Unicamp. Por último, na terceira parte,
temos os conteúdos de redação, que visam desenvolver sua
capacidade de escrita e argumentação.
A seleção dos conteúdos dessa apostila reflete nossa
vontade de auxiliá-los o máximo possível no desenvolvimento
das suas competências linguísticas. A importância de se ex-
pressar bem na nossa língua vai além das exigências de um
vestibular, ou seja, não devemos encarar o aprendizado de
gramática, literatura, interpretação e produção textual apenas
como etapas necessárias para um bom desempenho no vesti-
bular, mas como conhecimentos imprescindíveis para nossa
construção como ser humano, que interage, se comunica, e
age sobre outros e sobre a sociedade.
A Rede Emancipa é um movimento social, composto
por cursinhos populares, que tem como principal meta demo-
cratizar o acesso ao ensino superior. Sendo assim, queremos
que todos vocês consigam passar no vestibular do curso que
escolherem, na universidade que escolherem, que tenham
oportunidade de escolha, que criem e alcancem seus objetivos
acadêmicos, profissionais e pessoais.
Portanto, aproveitem ao máximo o material, as aulas,
os professores e contem conosco nessa jornada de conheci-
mento e luta na qual estamos juntos.
Abraço e bons estudos,
Prof.as Laiz e Joelma (Ex-professoras da Rede)
Professorxs desenvolvedorxs:
Aladdin, Ana Carolina, Joice e Julia.
3. 333
TEXTO E GRAMÁTICA
“Estranha é a relação que temos com as palavras. Aprendemos de pequenos umas quantas, ao longo da
existência vamos recolhendo outras que vêm até nós pela instrução, pela conversação, pelo trato com
os livros, e, no entanto, em comparação, são pouquíssimas aquelas cujas significações, acepções e sen-
tidos não teríamos nenhumas dúvidas se algum dia nos perguntássemos seriamente se as temos. Assim
afirmamos e negamos, assim convencemos e somos convencidos, assim argumentamos, deduzimos e
concluímos, discorrendo impávidos à superfície de conceitos sobre os quais só temos ideias muito vagas,
e, apesar da falsa segurança que em geral apresentamos enquanto tacteamos o caminho no meio da
cerração verbal, melhor ou pior lá nos vamos entendendo, e às vezes, até, encontrando.”
(SARAMAGO, José. O Homem Duplicado. 2002)
AULA 1 - Noção de Texto
Afinal, o que é mesmo um texto?
A gente sempre se depara com o termo texto,
em qualquer matéria, quando estamos estudando. É
comum ver nos enunciados das questões, trechos
como “a partir da leitura do texto abaixo”, “leia o
texto para responder à questão”, “segundo o texto” e
um dos trechos mais temidos “redija um texto”. É por
isso que saber interpretar textos é essencial para o
vestibular e interpretar, na verdade, é mais complica-
do do que parece. Por exemplo, para começar, estu-
dante, como você definiria um texto?
A definição mais comum do termo é um con-
junto de palavras ou frases. Mas podemos chamar de
texto o conjunto de palavras e frases abaixo?
Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.
Não pise na grama. A felicidade é o caminho. Quando
lhe jurei meu amor, eu traí a mim mesmo... Bisteca.
Viver significa lutar. A alegria evita mil males e pro-
longa a vida. Deixe a esquerda livre.
Dificilmente conseguiremos chamar este con-
junto de palavras e frases de texto. As frases e pala-
vras acima foram todas colocadas juntas sem intuito
algum e não geraram nenhum sentido para quem leu.
O texto, portanto, não pode ser um conjunto de fra-
ses e palavras aleatório. As frases e palavras de um
texto devem compor uma unidade linguística, em que
as palavras serão ordenadas de maneira a produzir
um sentido, bem como estarão conectadas para gerar
significação.
Para pensarmos melhor como o texto não é
um conjunto fortuito de frases, vamos ler a frase a-
baixo:
"O Lula foi um bom presidente, mas no segundo man-
dato embarangou." Percebam que ele é gordinho, tem
nariz adunco e orelhas de abano. Se fosse mulher,
tava frito. Mas é homem. Não nasceu pra ser atraen-
te. Nasceu pra mandar.
Lendo apenas esse trecho, podemos entender
que o autor ou autora do texto é bastante machista,
pois acredita que homem não precisa ser bonito, pois
homem “nasceu pra mandar”. Logo, mulher não nas-
ceu para mandar e, por isso, precisa se preocupar com
a aparência.
Agora, leia o texto Xingamento, de Gregório
Duvivier, de onde este trecho foi retirado na íntegra:
Puta, piranha, vadia, vagabunda, quenga, ra-
meira, devassa, rapariga, biscate, piriguete. Quando
um homem odeia uma mulher — e quando uma mu-
lher odeia uma mulher também— a culpa é sempre da
devassidão sexual. Outro dia um amigo, revoltado
com o aumento do IOF, proferiu: "Brother, essa Dilma
é uma piranha". Não sou fã da Dilma. Mas fiquei mal.
Brother: a Dilma não é uma piranha. A Dilma tem
muitos defeitos. Mas certamente nenhum deles diz
respeito à sua intensa vida sexual. Não que eu saiba. E
mesmo que ela fosse uma piranha. Isso é defeito? O
fato dela ter dado pra meio Planalto faria dela uma
pessoa pior?
Recentemente anunciaram que uma mulher
seria presidenta de uma estatal. Todos os comentários
da notícia versavam sobre sua aparência: "Essa eu
comeria fácil" ou "Até que não é tão baranga assim".
O primeiro comentário sobre uma mulher é sempre
Texto é uma UNIDADE LINGUÍSTICA, em
que as palavras e frases estão ordenadas
e conectadas.
4. 444
esse: feia. Bonita. Gorda. Gostosa. Comeria. Não co-
meria. Só que ela não perguntou, em momento ne-
nhum, se alguém queria comê-la. Não era isso que
estava em julgamento (ou melhor: não deveria ser).
Tinham que ensinar na escola: 1. Nem toda mulher
está oferecendo o corpo. 2. As que estão não são pes-
soas piores.
Baranga, tilanga, canhão, dragão, tribufu, ja-
buru, mocreia. Nenhum dos xingamentos estéticos
tem equivalente masculino. Nunca vi ninguém dizendo
que o Lula é feio: "O Lula foi um bom presidente, mas
no segundo mandato embarangou." Percebam que ele
é gordinho, tem nariz adunco e orelhas de abano. Se
fosse mulher, tava frito. Mas é homem. Não nasceu
pra ser atraente. Nasceu pra mandar. Ele é xingado.
Mas de outras coisas.
Filho da puta, filho de rapariga, corno, chifru-
do. Até quando a gente quer bater no homem, é na
mulher que a gente bate. A maior ofensa que se pode
fazer a um homem não é um ataque a ele, mas à mãe
— filho da puta- ou à esposa — corno. Nos dois casos,
ele sai ileso: calhou de ser filho ou de casar com uma
mulher da vida. Hijo de puta, son of a bitch, fils de
pute, hurensohn. O xingamento mais universal do
mundo é o que diz: sua mãe vende o corpo. 1. Não
vende. 2. E se vendesse? E a sua, que vende esquemas
de pirâmide? Isso não é pior?
Pobres putas. Pobres filhos da puta. Eles não
têm nada a ver com isso. Deixem as putas e suas famí-
lias em paz. Deixem as barangas e os viados em paz.
Vamos lembrar (ou pelo menos tentar lembrar) de
bater na pessoa em questão: crápula, escroto, mau-
caráter, babaca, ladrão, pilantra, machista, corrupto,
fascista. A mulher nem sempre tem culpa.
Folha de S. Paulo, 06/01/2014.
Lendo o texto inteiro, agora, podemos perce-
ber que na verdade o autor defende um posiciona-
mento contrário ao que a gente esperava. Trazendo
os exemplos de xingamentos que utilizamos para ho-
mem e para mulher, Duvivier critica o machismo enra-
izado na língua. Afinal, nossa sociedade ainda acredita
que uma mulher tem de ser bonita e casta, caso con-
trário, ela merece ser ofendida.
Dessa maneira, a interpretação de uma parte
do texto, então, não nos garantiu uma interpretação
correta do texto todo, pois, como já dissemos e não
cansaremos de dizer, o texto não é apenas um con-
junto de palavras ou frases, mas uma unidade linguís-
tica com sentido constituída de partes que estão
conectadas.
É daí, aliás, que vem a palavra texto. No latim,
textu significa tecido, ou seja, uma peça construída no
entrançamento de várias partes. O texto nada mais é
do que isso, o trancamento de várias ideias colocadas
em frases e palavras que se relacionam. Todo texto
(inclusive aqueles que você produz) precisa apresen-
tar textualidade, ou seja, ser bem estruturado, ter
palavras, frases e ideias articuladas entre si. Por isso,
então, não podemos tirar uma frase de seu texto ori-
ginal e interpretá-la sem considerar o conjunto todo
do texto – o contexto, uma vez que dentro do todo, o
sentido daquela parte pode ser outro; assim como
fizemos com o texto Xingamento.
Veja outro exemplo, agora, de um texto me-
nos tradicional, que envolver uma linguagem não
verbal também, uma tirinha, mas que não deixa de ser
um texto:
É possível interpretá-la? Obviamente, não. O
que sabemos é que houve uma adaptação dos avisos
que normalmente vemos nas portas: ao invés de “Ba-
ta antes de entrar”, o autor utilizou “Bata depois de
entrar”. Mas, devido a falta do contexto, não conse-
guimos entender o porquê. Vejamos agora a tirinha
completa:
Caco Galhardo, Folha de S. Paulo, 28/01/2014
Agora sim, temos o contexto da frase: trata-se
da porta de um clube de sadomasoquismo. O humor
da tira, então, consiste na desconstrução de um aviso
tão comum no nosso dia-a-dia, adaptado para uma
situação específica como o clube de sadomasoquismo
e na exploração da ambiguidade semântica do termo
bater.
5. 555
O sentido geral de um texto, então, não é
constituído apenas pelo significado isolado das pala-
vras ou parágrafos que o compõem. O sentido que
emerge de um texto vai além de suas partes. A princí-
pio, o significado de um texto é apreendido pela rela-
ção entre suas partes. Além disso, quando interpre-
tamos um texto, devemos pensar no que o envolve,
ou seja, devemos pensar também no seu contexto.
O contexto é uma unidade maior em que uma
unidade menor está inserida. Ou seja, o contexto são
as circunstâncias em que o texto foi produzido. Estas
circunstâncias podem ser sociais, históricas ou linguís-
ticas. A interpretação de um texto pode ser prejudica-
da pela falta do contexto.
Todos estes exemplos que examinamos até
agora demonstraram a importância do contexto lin-
guístico para a interpretação. A interpretação do
trecho destacado do texto Xingamento foi prejudica-
da, porque não tínhamos o contexto linguístico em
que o trecho estava inserido. A linguagem não verbal
e a indicação do lugar (“Aviso na porta do clube de
sadomaso”) compõem o contexto (unidade maior) da
frase que observamos (unidade menor: “Bata depois
de entrar”). Mas há também o contexto extralinguís-
tico (ou situacional), igualmente importante, porque
muda a interpretação que fazemos do texto. Observe
a frase:
“Que belo dia!”
Quando lemos ou ouvimos esta frase, pensa-
mos primeiramente que ela foi dita em situações bo-
as, se referindo a um dia agradável, que a rotina flui
sem imprevistos, ou por alguém que ganhou na lote-
ria, não é mesmo? Como não foi apresentada a situa-
ção em que esse enunciado foi proferido, há várias
possibilidades de sentido nesta frase.
Observe agora a seguinte situação: Luana a-
cordou atrasada para o trabalho, tomou um ônibus
lotado que quebrou durante o trajeto. Teve de descer
a três quarteirões do edifício onde trabalhava, mas
chovia muito e uma árvore caída na pista impedia a
passagem. Ao tentar passar, Luana caiu e sujou toda
sua roupa. Acabou chegando uma hora e meia atrasa-
da no trabalho e, ofegante e nervosa, ela disse: “Que
belo dia!”.
Nessa circunstância, essa mesma ocorrência
equivale a: “Que dia horrível!”. Enquanto no primeiro
enunciado existe a multiplicidade de sentido, o se-
gundo não está passível a outras interpretações, visto
que o contexto situacional (e não o contexto linguísti-
co), a situação na qual o enunciado foi proferido deli-
mita o significado da frase.
Este exemplo, então, nos mostra como o con-
texto situacional é determinante na interpretação de
um texto. O contexto situacional é formado por in-
formações que estão fora do texto, sejam elas histó-
ricas, geográficas, sociológicas, literárias. A situação
estressante por que Luana passou, então, seria a uni-
dade maior que envolveria a unidade menor, que é a
frase “Que belo dia!”.
O contexto, seja o linguístico ou extralinguísti-
co, portanto, é essencial para uma leitura mais eficaz,
aproximando o leitor do sentido que o escritor quis
imprimir ao texto.
Por fim, devemos saber sobre o texto antes
mesmo de começar a interpretá-lo é que todo texto
contém um posicionamento, uma vez que ele é escri-
to por um autor em um determinado tempo e em um
determinado espaço. O texto sempre trará a visão de
mundo do autor, uma vez que está inserido em um
determinado tempo e espaço. Isso porque o texto
não é uma manifestação isolada no mundo, ele carre-
ga ideias e discussões prévias, bem como conheci-
mentos de outras áreas.
Para Pensar!
Você consideraria a imagem abaixo um texto?
“Liberdade Interditada”. José Paulo Paes, in “Meia Palavra”, 1973.
Observe: Em que data essa placa foi publicada no livro
de José Paulo Paes? A informação de trânsito veicula-
da na placa resignifica-se de acordo com o contexto
vivido na época?
6. 666
EXERCÍCIO
1) (UNICAMP) Leia a tira para responder à questão.
O Estado de S. Paulo, 24/09/2000.
a) Supondo que a fala da moça fosse lida fora do con-
texto dessa tira, como você a entenderia?
b) Se a fala da moça fosse considerada uma continua-
ção da fala do rapaz, poderia ser entendida como uma
única palavra, de derivação não prevista na língua
portuguesa. Que palavra seria e o que significaria?
c) As duas leituras possíveis para a fala da moça não
estão em contradição; ao contrário, reforçam-se. O
que significará essa fala, se fizermos simultaneamente
as duas leituras?
2) (ENEM 2014)
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 28 jul. 2013.
Essa propaganda defende a transformação social e a
diminuição da violência por meio da palavra. Isso se
evidencia pela
a) predominância de tons claros na composição da
peça publicitária.
b) associação entre uma arma de fogo e um megafo-
ne.
c) grafia com a inicial maiúscula da palavra “voz” no
slogan.
d) imagem de uma mão segurando um megafone.
e) Representação gráfica da propagação do som.
AULA 2 – Implícito-Explícito/Conotação-
Denotação
Explícito x Implícito
Você, muito provavelmente, já ouviu diversas
vezes que para interpretar corretamente um texto, é
necessário desvendar seu sentido, ler nas entrelinhas,
nos fazendo crer que o sentido do texto não está nele
propriamente, mas em algum lugar profundo e es-
condido. Apesar de esta ser uma grande balela, ela
tem sua razão de existir, pois para interpretar corre-
tamente um texto, nós precisamos saber acessar as
informações implícitas contidas no texto.
Mas o que são as informações implícitas?
Bom, para entender a noção básica de implícito, te-
mos que saber o que são as informações explícitas.
Esta distinção é bastante simples e é bem provável
que você já tenha ouvido falar dela.
As informações explícitas são aquelas facil-
mente identificáveis e compreensíveis no texto. Por
exemplo, na frase abaixo:
Manoel é pobre, mas é limpinho.
As informações explícitas da frase são:
- Manoel é pobre.
- Manoel é limpinho.
Logo, explícita é aquela informação que está
clara no texto. No entanto, há uma informação que só
é possível interpretar se entendermos o uso do “mas”
nesta frase. Como o “mas” traz a ideia de oposição,
podemos dizer que o autor desta frase acredita que
todo pobre é limpinho, pois ele coloca limpeza em
oposição à pobreza. Como esta informação exige um
maior raciocínio para ser apreendida, ela é implícita,
como se estivesse escondida no texto.
Conotação x Denotação
Preste atenção na tirinha abaixo:
Armandinho. Facebook, 22 dez. 2014.
Você consegue explicar qual recurso é utiliza-
do para causar humor na tira? Se você perguntar para
alguém, é possível que respondam que Armandinho
interpretou literalmente o nascimento do sol. Aliás, é
*RESPONDA
NO CADERNO!
7. 777
bastante comum a gente fazer piadas e trocadilhos
brincando com o sentido literal das palavras e expres-
sões.
Mas, afinal, o que seria o sentido literal das
palavras? Chamamos de sentido literal ou sentido
denotativo àquele significado mais proeminente da
palavra, aquele primeiro significado que encontramos
no dicionário. Como na tirinha, Armandinho interpre-
tou o verbo nascer da frase “Acordei antes do sol nas-
cer” com o significado do dicionário, o significado de
“passar a ter vida exterior no mundo”; enquanto seu
pai utilizou o verbo no seu sentido conotativo. E o
sentido conotativo nada mais é do que o sentido figu-
rado, ou seja, um sentido que foi adicionado à palavra
conforme o uso que foi feito pelos falantes. No caso
da tira, o verbo nascer ganha outro sentido, uma vez
que se refere ao aparecimento do sol pela primeira
vez no dia, e não ao seu nascimento literal.
Então, o sentido conotativo das palavras é um
segundo significado paralelo, acrescido a elas, e que é
carregado de impressões, valores afetivos, negativos e
positivos. Assim, podemos dizer que as palavras têm
um significado comum, predominante e presente no
dicionário, e ao lado dele pode-se construir outro
significado constituído de valores sociais, de impres-
sões ou reações psíquicas que uma palavra desperta.
Utilizando outro exemplo, de uma expressão conota-
tiva clássica: "cair do cavalo". O sentido denotativo da
expressão é “sofrer uma queda de um cavalo”, mas a
este sentido acrescentou-se outro e a expressão pas-
sou a conotar "dar-se mal", "sofrer uma decepção".
É válido notar também que duas palavras po-
dem ter o mesmo sentido denotativo, mas tem cono-
tações completamente diferentes, uma vez que a
conotação diz respeito também (e principalmente)
aos valores sociais. Citemos, por exemplo, as palavras
docente, professor e instrutor, que denotam pratica-
mente a mesma coisa: alguém que instrui alguém; as
três palavras são, entretanto, carregadas de conteú-
dos conotativos diversos, sobretudo no que diz res-
peito ao prestígio e ao grau de respeitabilidade que
cada um desperta. O sentido conotativo varia de cul-
tura para cultura, de classe social para classe social,
de época para época. A palavra filósofo entre os gre-
gos tinha uma carga conotativa muito mais prestigiosa
que entre nós. Saber depreender a força conotativa
das palavras em cada tipo de cultura é indispensável
para usá-las bem. Imagine a cena: você, em um res-
taurante, chama o garçom e devolve a carne, dizendo
que ela está fedendo. Se você disser que ela esta chei-
rando mal, ou com odor desagradável, você mantém
a denotação e evita o impacto conotativo grosseiro do
verbo feder.
EXERCÍCIOS
1) (Simulado Emancipa-Grajaú 05/2015)
Alexandre Beck. Armandinho. Disponível em:
https://www.facebook.com/tirasarmandinho?fref=ts.
Nesta tirinha o efeito de humor é provocado:
a) Pelo fato da mulher ter ficado pronta para viajar
antes de seu marido e filho, subentendendo-se que as
mulheres demoram mais para se arrumar do que os
homens e que a tirinha tem, implicitamente, um con-
teúdo machista.
b) Pelo fato dos pais de Armandinho não estarem com
roupas próprias para um clima frio e o filho ter colo-
cado este tipo de roupa, mostrando de maneira implí-
cita a inteligência do menino em relação ao clima das
cidades brasileiras.
c) Por Armandinho ter vestido a si mesmo e ao seu
sapo de estimação com muitas roupas e estar em
dúvida se estas roupas são adequadas ou não para a
viagem, já que não está explícito se fará frio ou não.
d) Por Armandinho ter vestido a si mesmo e ao seu
sapo com muitas roupas, pois está implícito que Curi-
tiba é uma cidade fria e, por isso, a dúvida do menino
em não saber se aquelas roupas serão suficientes para
protegê-lo durante a viagem.
e) Pela escolha ridícula de roupas de Armandinho,
explicitando que seus pais não prepararam as suas
malas e o deixaram escolher vestir o que quiser para a
viagem.
2) (Simulado Emancipa-Grajaú 05/2015)
PARA PARA
Numa de suas recentes críticas internas, a
ombudsman desta Folha propôs uma campanha para
devolver o acento que a reforma ortográfica roubou
do verbo “parar”. Faz todo sentido.
8. 888
O que não faz nenhum sentido é ler “São Pau-
lo para para ver o Corinthians jogar”. Pior ainda que
ler é ter de escrever.
Juca Kfouri, Folha de S. Paulo, 22/09/2014. Adaptado.
Podemos depreender do trecho que:
a) O autor do texto se posiciona contra a reforma
ortográfica de maneira implícita ao utilizar a palavra
“roubou” em seu sentido conotativo.
b) O autor do texto é a favor da reforma ortográfica,
pois na verdade são as pessoas que não sabem escre-
ver de maneira adequada e elaboraram frases como
“São Paulo para para ver o Corinthians jogar”, facil-
mente corrigíveis.
c) O autor do texto se vê obrigado após a reforma
ortográfica a escrever frases estilisticamente ruins,
pois não vê alternativas para a frase “São Paulo para
para ver o Corinthians jogar”.
d) O autor do texto não vê problema nenhum na re-
forma ortográfica, de maneira que sua opinião está
explicitada pela frase “Faz todo sentido”, na qual se
afirma implicitamente que a reforma ortográfica é
coerente.
e) A palavra “roubou” foi utilizada em seu sentido
denotativo, pois a reforma ortográfica se mostra co-
mo uma imposição violenta à língua portuguesa no
Brasil.
3) (ENEM-2014)
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 29
out. 2013 (adaptado).
Os meios de comunicação podem contribuir para a
resolução de problemas sociais, entre os quais o da
violência sexual infantil. Nesse sentido, a propaganda
usa a metáfora do pesadelo para
a) informar crianças vítimas de abuso sexual sobre os
perigos dessa prática, contribuindo para erradicá-la.
b) denunciar ocorrências de abuso sexual contra me-
ninas, com o objetivo de colocar criminosos na cadeia.
c) dar a devida dimensão do que é o abuso sexual
para uma criança, enfatizando a importância da de-
núncia.
d) destacar que a violência sexual infantil predomina
durante a noite, o que requer maior cuidado dos res-
ponsáveis nesse período.
e) chamar a atenção para o fato de o abuso infantil
ocorrer durante o sono, sendo confundido por algu-
mas crianças com um pesadelo.
HORA DA GRAMÁTICA!
Os conectores interfrásticos
Você já deve ter aprendido, em algum mo-
mento da sua escolarização, que há certas palavras
que servem para “ligar uma oração na outra”. Isso é
verdade, no entanto quase sempre essas palavras são
chamadas única e exclusivamente de conjunções. De
fato, as conjunções têm essa função, porém, não são
as únicas palavras que desempenham esse papel.
Veremos aqui um pouco dos estudos sobre os “Conec-
tores interfrásticos”1
, e também um pouco sobre co-
mo a NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) en-
xerga essa questão.
- Atividade: Aprendendo a juntar peças
A atividade que faremos tem como objetivo
focalizar os funcionamentos dos conectores interfrás-
ticos – termo utilizado pela Linguística Textual (op.
cit.) – dentro de um texto. À primeira vista, o leitor
pode chegar à conclusão de que estamos nos referin-
do aos velhos e bons termos de coordenação e subor-
dinação da gramática tradicional. Não se trata disso,
embora os conectores interfrásticos englobem as
conjunções, preposições, pronomes relativos e ex-
pressões adverbiais; nesta concepção eles referem-se
aos elementos linguísticos que marcam os processos
de sequencialização, exprimindo as diferentes for-
mas de interdependência semântica e/ou pragmáti-
ca que ocorrem entre os enunciados que compõem a
superfície de um texto.
1
KOCH, I.G.V. - Dificuldades na Leitura/produção de textos: os conectores
interfrásticos. In: CLEMENTE, E. (org.) - Lingüística Aplicada ao Ensino de
Português. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 1992. Pp. 83-98.
9. 999
Também queremos enfatizar que tais conec-
tores sozinhos nada significam; eles ganham significa-
dos pelas relações que estabelecem entre os argu-
mentos e pontos de vista constitutivos de um deter-
minado texto.
Esclarecemos, logo de início, que esta ativida-
de não visa a facilitar o aprendizado das conjunções,
por exemplo, mas chamar a atenção para o fato que o
texto é uma unidade resultante do uso articulado da
linguagem. E como tal, a adequação dos conectores
pode evitar ambiguidade e estabelecer os encadea-
mentos necessários para que fique agradável de ser
lido (koch 1992, adaptado).
PARTE I
O(a) professor(a) distribuirá algumas filipetas de papel
contendo alguns enunciados. Seu grupo deverá juntar
três papéis de três cores diferentes, formando uma
relação intersentencial.
PARTE II
Depois de colocar as sentenças em ordem, preencha
as lacunas abaixo com os conectores encontrados.
1. Apanhei os frutos _________ estavam maduros.
(restrição)
2. Casou-se com um mulherengo. ______________,
arrependeu-se amargamente. (temporalidade)
3.Me surpreendi com aquela atitude ______________
eu tenha convivido com ele por séculos. (contrajun-
ção)
4. Eu comi tanto _________ fiquei com a barriga estu-
fada. (causalidade)
5. Não sei _______ você vai gostar da nota que tirou.
(complementação)
6. Macaco ________ muito pula acaba quebrando o
galho. (restrição)
7. Eu fiz a lição _____________ você me orientou,
professor. (conformidade)
8. Primeiro deu-lhe um soco, ______________, um
chute no estômago. (sequencialidade temporal)
9. Trabalhei demais ontem, ______________ fiquei
cansada. (causalidade)
10. Fiz o que pude _______________ ele liberasse sua
entrada no show. (mediação)
11. Você deve escolher: venha de branco ______ vis-
ta-se de negro. (disjunção)
12. Ela é uma porca. Não toma banho __________
escova os dentes. (conjunção)
13. Espero ________ você não traia minha confiança.
(complementação)
14. Eu quase tive um treco _______________ percebi
o ladrão dentro de casa. (temporalidade)
15. ____________ você pare de me atormentar, vou
te levar para o cinema. (condicionalidade)
16. Por favor, não insista: ________________ eu ter-
minar a aula, falo com você. (temporalidade)
17. Ela fez um barraco no mercado __________ rei-
vindicar cinquenta centavos. (mediação)
18. ______ você comer menos, vai emagrecer. (condi-
cionalidade)
19. Doei as roupas __________ não me serviam mais.
(restrição)
20. Você quer café ______ prefere chá? (disjunção)
21. Ele já deve estar dormindo, __________todas as
luzes já estão apagadas. (justificativa ou explicação)
22. Eu tinha planejado um pic-nic a semana inteira,
_________ logo no Domingo caiu um enorme toró.
(contrajunção)
23. Ela caiu _____________ o salto quebrou. (causali-
dade)
24. Eu estava com muita raiva, ____________, não
deixei que ele percebesse. (contrajunção)
25. Eu ligo para a sua casa _______________ eu che-
gar do trabalho. (temporalidade)
26. ________ ter estudado bastante, passou no vesti-
bular. (causalidade)
27. Ele é bonito, charmoso e carinhoso.
_________________ , é rico. (conjunção)
28. Ela não estudou nada, __________________, foi
reprovada. (conclusão)
29. Ela se maquiou_______________ a revista havia
indicado. (conformidade)
30- _____________ você terminar os deveres de casa
pode ir brincar na rua. (sequencialidade)
Juntando os enunciados e formando essas
relações entre sentenças, você pôde perceber que o
conector, sozinho, não expressa uma ideia concreta.
Diferentemente do que pensa a gramática normativa.
Atualmente alguns vestibulares têm se preocupado
com essas novas perspectivas que juntam a gramática
com a linguística textual, já outros continuam bastan-
te pragmáticos em relação a isso.
Veja agora como a NGB pensa o estudo dos
conectores interfrásticos, ou basicamente, das con-
junções.
10. 101010
Conjunção __________________________________
Palavra utilizada para ligar duas orações e estabelecer
uma relação de sentido entre elas. Exemplo:
Preste atenção neste tópico, pois precisará dele de-
pois, por isso menos conversa!
Estou com pressa, portanto vá direto ao ponto.
Você deve aguardar aqui, ou entrar em contato mais
tarde.
a) Conjunções coordenativas:
São aquelas que ligam duas orações independentes.
- aditivas - exprimem ideia de adição, soma: e, não só,
mas também, nem (= e não);
- adversativas – exprimem ideia de contraste, oposi-
ção: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, en-
tretanto, etc.;
- alternativas – exprimem ideia de alternância ou
exclusão: ou, ou...ou, ora...ora, seja... seja, quer...
quer;
- conclusivas – exprimem ideia de conclusão: logo,
portanto, por isso, pois (pósposto ao verbo);
- explicativas – exprimem ideia de explicação: por-
que, que, pois (anteposto ao verbo);
b) Conjunções Subordinativas
São aquelas que ligam duas orações interdependen-
tes.
- causais – exprimem causa: porque, como, uma vez
que, já que, visto que;
- concessivas – exprimem concessão: embora, ainda
que, mesmo que, apesar de que;
- condicionais – exprimem condição ou hipótese: se,
desde que, contanto que, caso, se;
- conformativas – exprimem conformidade: confor-
me, segundo, como, consoante.;
- comparativas – estabelecem comparação: como,
mais...do que, menos...do que, etc.;
- consecutivas – exprimem consequência: de forma
que, de sorte que, de maneira que, que (antecedido
de tão, tanto, tamanho)
- finais – exprimem finalidade: a fim de que, que,
porque, para que;
- proporcionais - estabelecem proporção: à medida
que, à proporção que, ao passo que, quanto
mais/menos... mais/menos;
- temporais – indicam tempo: quando, depois que,
desde que, logo que, assim que;
EXERCÍCIOS
1) (ENEM 2013)
Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora
para o efeito de humor está indicado pelo(a):
a) emprego de uma oração adversativa, que orienta a
quebra da expectativa ao final.
b) uso de conjunção aditiva, que cria uma relação de
causa e efeito entre as ações.
c) retomada do substantivo "mãe", que desfaz a am-
biguidade dos sentidos a ele atribuídos.
d) utilização da forma pronominal "Ia", que reflete um
tratamento formal do filho em relação a "mãe".
e) repetição da forma verbal "é", que reforça a rela-
ção de adição existente entre as orações.
2) Leia a tira abaixo:
Reunindo os dois períodos em um único período
composto, a única proposta que NÃO se adéqua ao
sentido original da tirinha é:
a) Saia desse livro com as mãos para cima, visto que
você está cercado de ignorantes!
b) Você está cercado de ignorantes, por isso saia des-
se livro com as mãos para cima!
c) Você está cercado de ignorantes, portanto saia
desse livro com as mãos para cima.
d) Você está cercado de ignorantes, saia, pois, desse
livro com as mãos para cima.
e) Você está cercado de ignorantes, contanto que saia
desse livro com as mãos para cima.
11. 111111
3) (ENEM 2014)
Tarefa
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
Mas avisar aos outros quanto é injusto
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a não pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
Na organização do poema, os empregos da conjunção
“mas” articulam, para além de sua função sintática,
a) a ligação entre verbos semanticamente semelhan-
tes.
b) a oposição entre ações aparentemente inconciliá-
veis.
c) a introdução do argumento mais forte de uma se-
quência.
d) o reforço da causa apresentada no enunciado in-
trodutório.
e) a intensidade dos problemas sociais presentes no
mundo.
AULA 3 – Figuras de Linguagem
Entender o sentido denotativo e conotativo das
palavras é necessário para compreender as figuras de
linguagem. Afinal, quando exploramos o sentido figu-
rado da língua – o sentido conotativo – construímos
figuras de linguagem. É bem provável que você já
tenha ouvido falar delas quando estudou literatura,
em algum momento da sua vida. Mas, o mais impor-
tante aqui é desconstruirmos aquela velha ideia de
que as figuras de linguagem são assunto apenas para
a literatura. As figuras de linguagem permeiam toda
nossa fala e não apenas a literatura. Somos tão criati-
vos como Drummond, pois produzimos figuras de
linguagem o tempo inteiro. As figuras de linguagem
são, inclusive, um recurso muito utilizado pela publi-
cidade. Vamos exemplificar a seguir as figuras de lin-
guagem mais importantes para você.
Metáfora
Metáfora é de longe a figura de linguagem mais co-
nhecida, mais explicada e mais utilizada. Isso porque
metáfora nada mais é do que uma comparação sem
um elemento linguístico que a explicite. Logo, trata-se
de uma comparação subentendida.
Então, para entendermos a metáfora, temos que en-
tender a comparação. Vamos pensar no seguinte e-
xemplo:
Minhas amigas são como flores.
Aqui, temos uma comparação explícita de su-
as amigas e flores. Digamos que você diga isso, por-
que suas amigas são bonitas e cheirosas e flores são
bonitas e cheirosas. Logo, há uma intersecção no sig-
nificado de flores e de suas amigas, como mostra o
desenho abaixo.
Então, na sentença abaixo temos uma metáfora:
Me empresta sua caneta, flor.
A diferença da comparação para a metáfora é sim-
plesmente a palavra como, que aparece na primeira
frase. Então, quando você chama a sua amiga de flor,
você estabelece uma metáfora, pois faz a mesma
comparação da primeira sentença, mas sem o ele-
mento linguístico como.
Em outros termos, podemos dizer que metá-
fora é a alteração de sentido de uma palavra ou ex-
pressão quando, entre o sentido que o termo tem e
o que ele adquire, existe uma intersecção.
Agora, observe as frases abaixo e desenhe a
intersecção que existe entre o significado primário do
termo e o significado que ele ganha:
- “O interior de São Paulo está coberto por doces ma-
res, donde se extrai o açúcar.”
12. 121212
- “A urbanização de São Paulo está sendo feita de
maneira criminosa, porque está destruindo os pul-
mões da cidade.”
Metonímia
A metonímia é igualmente comum no nosso coti-
diano, uma vez que também substitui um termo pelo
outro, mas desta vez os significados não apresentam
uma relação de intersecção, mas uma relação de im-
plicação ou de contiguidade (semelhança). Ela é fre-
quentemente caracterizada como a figura de lingua-
gem que troca o autor pela obra, ou a parte pelo to-
do, ou efeito pela causa. Por exemplo, quando dize-
mos:
Eu gosto de ler Drummond.
Não é o Drummond que você gosta de ler,
mas da obra dele. Você percebe que é uma metoní-
mia, pois você, obviamente, não poderia abrir o
Drummond em pessoa e lê-lo, como lemos um livro.
Em outras palavras, a metonímia é a alteração de
sentido de uma palavra ou expressão quando, entre
o sentido que o termo tem e o que adquire, existe
uma relação de inclusão ou de implicação.
Agora, veja estes exemplos mais complexos e tente
localizar e explicar as metonímias abaixo:
- “Se o desmatamento continuar nesse ritmo, em bre-
ve não restará uma sombra de pé.”
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
- “As chaminés deveriam ir para fora da cidade de São
Paulo.”
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
- “No verão, o sol é mais quente do que no inverno.”
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Outras figuras de linguagem...
Pela NGB, há várias outras figuras de lingua-
gem, que têm nome e sobrenome. Porém muitas ve-
zes elas não são citadas, muito menos cobradas pelos
vestibulares. Por isso demos grande ênfase à metáfo-
ra e metonímia, que são importantíssimas.
Em qualquer manual de gramática, você en-
contrará todas as outras figuras de linguagem. Mas
para dar uma forcinha, traremos aqui algumas outras
informações sobre as figuras de linguagem, e algumas
das outras ocorrências comuns.
Observe os enunciados:
1) Fernanda acordou às sete horas, Renata às nove
horas, Paula às dez e meia.
2) "Quando Deus fecha uma porta, abre uma janela."
3) Seus olhos eram luzes brilhantes.
Nos exemplos acima, temos três tipos distin-
tos de figuras de linguagem:
Em (1) há o uso de uma construção sintética
ao deixar subentendido, na segunda e na terceira
frase, um termo citado anteriormente - o verbo acor-
dar. Dessa forma, temos uma figura de construção ou
de sintaxe. Em (2) a ideia principal do ditado reside
num jogo conceitual entre as palavras “fecha” e “a-
bre”, que possuem significados opostos. Temos, as-
sim, uma figura de pensamento. Já o exemplo (3), se
você estiver bem atento já notou que trata-se de uma
metáfora! Visto que a força expressiva da frase está
na associação entre os elementos olhos e luzes bri-
lhantes; esse tipo de figura, costuma ser chamado de
figuras de palavras.
*Veja a seguir, algumas figuras bem comuns:
1) ANTÍTESE: Emprego de termos com sentidos opos-
tos. (Ideias contrárias)
Ex: - Ela se preocupa tanto com o passado que esque-
ce o presente.
- “Há dois mundos distintos, o claro e o escuro.
Mas dentro do escuro vive também um mundo claro,
que eu vejo quando fecho os olhos...” (Drummond)
2) EUFEMISMO: Consiste atenuar o sentido desagra-
dável, grosseiro ou indecoroso de uma palavra ou
expressão, substituindo-a por outra, capaz de suavizar
seu significado. Quem nunca disse, por exemplo:
Ex. – Aquele menino está “fortinho”.
- Você é um “filho da mãe”!
13. 131313
3) IRONIA: Consiste em exprimir uma ideia contrária
do que se pensa, com a finalidade de criticar:
Ex. - Que homem lindo! (quando se trata, na verdade,
de um homem feio.)
- Que bolsa barata, custou só mil reais!
- “O casamento foi aprovado pelo Sr. Antunes, com a
mesma alma com que um réu sancionaria a própria
execução.” (M. de Assis)
4) HIPÉRBOLE: É o exagero na afirmação.
Ex. - Já lhe disse isso um milhão de vezes.
- Estou te esperando há 10 horas!
5) PROSOPOPÉIA – PERSONIFICAÇÃO: Atribuição de
qualidades e sentimentos humanos a seres irracionais
e inanimados.
Ex. - A formiga disse para a cigarra: “Cantou…agora
dança!”
“O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada
[...]”. (cantiga popular)
6) PARADOXO: Consiste numa proposição aparente-
mente absurda, resultante da união de ideias contra-
ditórias. Quem nunca ouviu, por exemplo:
Ex. – Quanto mais eu trabalho, menos dinheiro eu
tenho.
7) GRADAÇÃO: Consiste em dispor as ideias por meio
de palavras, sinônimas ou não, em ordem crescente
ou decrescente. Quando a progressão é ascendente,
temos o clímax; quando é descendente, o anticlímax.
Ex. "Vive só para mim, só para a minha vida, só para
meu amor". (Olavo Bilac)
"O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu,
colheu-se." (Padre Antônio Vieira)
EXERCÍCIOS
1) (ENEM 2012)
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz
com os indicadores. Acrescentou: — Álcool.
O mais ele achou que podia beber. Bebia paisagens,
músicas de Tom Jobim, versos de Mário Quintana.
Tomou um pileque de Segall. Nos fins de semana,
embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os ami-
gos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gam-
bá.
Morreu de etilismo abstrato, no meio de uma car-
raspana de pôr do sol no Leblon, e seu féretro osten-
tava inúmeras coroas de ex-alcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último
parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque,
ao longo da narrativa, ocorre uma
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da lin-
guagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras
coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
2) (ENEM 2014) Talvez pareça excessivo o escrúpulo
do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um
caráter ferozmente honrado. Eu mesmo fui injusto
com ele durante os anos que se seguiram ao inventá-
rio de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguí-
am-no de avareza, e cuido que tinham razão; mas a
avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as
virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o
saldo que o déficit. Como era muito seco de maneira,
tinha inimigos que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O
único fato alegado neste particular era o de mandar
com frequência escravos ao calabouço, donde eles
desciam a escorrer sangue; mas, além de que ele só
mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo
longamente contrabandeado em escravos, habituara-
se de certo modo ao trato um pouco mais duro que
esse gênero de negócio requeria, e não se pode ho-
nestamente atribuir à índole original de um homem o
que é puro efeito de relações sociais. A prova de que
o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu
amor aos filhos, e na dor que padeceu quando morreu
Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e
não única. Era tesoureiro de uma confraria, e irmão
de várias irmandades, e até irmão remido de uma
destas, o que não se coaduna muito com a reputação
da avareza; verdade é que o benefício não caíra no
chão: a irmandade (de que ele fora juiz) mandara-lhe
tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
14. 141414
Obra que inaugura o Realismo na literatura brasileira,
Memórias Póstumas de Brás Cubas condensa uma
expressividade que caracterizaria o estilo machadia-
no: a ironia. Descrevendo a moral de seu cunhado,
Cotrim, o narrador-personagem Brás Cubas refina a
percepção irônica ao
a) acusar o cunhado de ser avarento para confessar-se
injustiçado na divisão da herança paterna.
b) atribuir a “efeito de relações sociais” a naturalidade
com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
c) considerar os “sentimentos pios” demonstrados
pelo personagem quando da perda da filha Sara.
d) menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de uma
confraria e membro remido de várias irmandades.
e) insinuar que o cunhado era um homem vaidoso e
egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
3) (ENEM 2004)
As figuras de linguagem são comumente encontradas
nos textos literários, bem como em charges e tirinhas.
Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das
mais conhecidas figuras de linguagem para
a) condenar a prática de exercícios físicos.
b) valorizar aspectos da vida moderna.
c) desestimular o uso das bicicletas.
d) caracterizar o diálogo entre gerações.
e) criticar a falta de perspectiva do pai.
4) O que mais tentamos deixar claro nesta aula foi a
existência da conotação e das figuras de linguagem na
nossa linguagem do dia a dia. Agora, portanto, é a sua
vez de produzir exemplos do uso conotativo da língua
com as palavras abaixo. Em seguida, há um espaço
para você anotar exemplos de figuras de linguagem
ou de conotação que você encontrou ao seu redor
nessa última semana para trazer para aula seguinte.
a) espelho
b) flor
c) Exemplos seus!
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
o HORA DA GRAMÁTICA!
As palavras variáveis
Para começar a nossa discussão sobre a variação das
palavras, vamos ter contato com alguns textos:
SEXA
- Pai...
- Hmmmm?
- Como é o feminino de sexo?
- O quê?
- O feminino de sexo.
- Não tem.
- Sexo não tem feminino?
- Não.
- Só tem sexo masculino?
- É. Quer dizer, não. Existem dois sexos. Masculino e
feminino.
- E como é o feminino de sexo?
- Não tem feminino. Sexo é sempre masculino.
- Mas tu mesmo disse que tem sexo masculino e femini-
no...
- O sexo pode ser masculino ou feminino. A palavra "se-
xo" é masculina. O sexo masculino, o sexo feminino.
- Não devia ser "a sexa"?
- Não.
- Por que não?
- Porque não! Desculpe, porque não. "Sexo" é sempre
masculino.
- O sexo da mulher é masculino?
- Sexo mesmo. Igual ao do homem.
- O sexo da mulher é igual ao do homem?
- É. Quer dizer... Olha aqui: tem sexo masculino e o sexo
feminino, certo?
- Certo.
- São duas coisas diferentes.
- Então como é o feminino de sexo?
- É igual ao masculino.
- Mas não são diferentes?
- Não. Ou, são! Mas a palavra é a mesma. Muda o sexo,
mas não muda a palavra.
- Mas então não muda o sexo. É sempre masculino.
- A palavra é masculina.
- Não. "A palavra" é feminino. Se fosse masculino seria
"o pal..."
- Chega! Vai brincar, vai...
O garoto sai e a mãe entra. O pai comenta:
- Temos que ficar de olho nesse guri...
- Por quê?
- Ele só pensa em gramática...
(Luiz Fernando Veríssimo)
15. 15
Romeo foi banido do contraturno por preferir
vestidos às roupas masculinas. Fo-
to:Newsteam/SWNS Group / Grosby Group"
Educação sexual: precisamos falar sobre Romeo...
...Iana, Roberta e Emilson. A escola trata
com preconceito quem desafia as nor-
mas de papéis masculinos e femininos. A
seguir, uma discussão sobre sexo, sexua-
lidade e gênero.
Por Wellington Soares
O pequeno Romeo Clarke, da
foto acima, tem 5 anos e adora usar seus
mais de 100 vestidos para as atividades
do dia a dia. "Eles são fofos, bonitos e
têm muito brilho", explicou ao tabloide
britânico Daily Mirror. Clarke virou notí-
cia em maio do ano passado. O projeto
de contraturno que ele frequentava na
cidade de Rugby, no Reino Unido, considerou as roupas impróprias. O menino ficou
afastado até que decidisse - palavras da instituição - "se vestir de acordo com seu gêne-
ro".
O caso de Clarke não é único. Situações em que crianças e jovens que des-
cumprem as regras socialmente aceitas sobre ser homem ou mulher - seja de forma
intencional ou por não dominá-las - fazem parte da rotina escolar. Quando eclode o
machismo, a homofobia ou o preconceito aos transgêneros, pais e professores agem
rápido para pôr panos quentes e, sempre que possível, fazer de conta que nada ocor-
reu. "A escola, que deveria abraçar as diferenças, pode ser o ambiente mais opressivo
que existe", defende Iana Mallmann, 18 anos, ativista contra a homofobia. "Muitos
ainda abandonam as salas de aula por não se sentirem bem nesse espaço", completa
Beto de Jesus, secretário para América Latina e Caribe da Associação Internacional de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, pessoas Trans e Intersex (Ilga, na sigla em inglês).
Paradoxalmente, quem tem ensinado a escola a agir no respeito à diversidade
são os próprios estudantes. "Na contemporaneidade, multiplicaram-se os grupos, os
sujeitos e os movimentos, as maneiras de se identificar com gêneros e de viver a sexua-
lidade. Não há apenas uma forma de ser, mas tantas quantas são os seres humanos",
afirma Guacira Lopes Louro, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e uma das principais referências na área de estudos de gênero. É o que mos-
tram os corajosos depoimentos de Iana, Roberta e Emilson. Eles nos convidam a uma
reflexão sobre nossas próprias ideias de masculino e feminino, hétero, homo ou bi,
coisas de menino e coisas de menina. Precisamos falar sobre sexo, sexualidade e, sobre-
tudo, gênero.
Três ideias, três conceitos
Vale desfazer a confusão entre esses conceitos. O sexo é definido biologica-
mente. Nascemos machos ou fêmeas, de acordo com a informação genética levada
pelo espermatozoide ao óvulo. Já a sexualidade está relacionada às pessoas por quem
nos sentimos atraídos. E o gênero está ligado a características atribuídas socialmente a
cada sexo.
O que se sabe hoje em dia é que o dualismo heterossexual/homossexual não é
capaz de abarcar as formas de desejo humanas. Os estudos sobre o tema dizem que a
orientação sexual se distribui num amplo espectro entre esses dois polos. É provável
que a definição sexual se dê pela interação entre fatores biológicos (predisposição
genética, níveis hormonais) e ambientais (experiências ao longo da vida). Mas não há
certezas. O guia Sexual Orientation, Homossexuality and Bissexuality, da Associação
Americana de Psicologia, resume: "Não foram feitas, por enquanto, descobertas con-
clusivas sobre a determinação da sexualidade por qualquer fator em particular. O tem-
po de emergência, reconhecimento e expressão da orientação sexual varia entre os
indivíduos".
É surpreendente notar como
determinados comportamentos são
mais aceitos em uma fase da história
e reprimidos na seguinte. Os morado-
res da Grécia Antiga, por exemplo, se
relacionavam com pessoas de ambos
os sexos. Já na Idade Média, compor-
tamentos que se desviassem da nor-
ma socialmente definida eram puni-
dos com a fogueira. Hoje, não há mais
chamas, mas o sofrimento assume a
forma de piadas, humilhações, agres-
sões físicas e psicológicas, exclusão.
Por que ainda agimos assim? Como se
construiu uma sociedade que se
choca e entra em pânico ao ver um
menino se vestindo de menina?
A resposta está no conceito
de gênero. Ele diz respeito ao que se
atribui como características típicas
dos sexos masculino e feminino.
Meninas precisam sentar-se de per-
nas fechadas, meninos podem abri-
las. Meninos não podem chorar,
meninas são mais sensíveis. Meninos
gostam de azul, meninas preferem o
rosa. Enfim, uma série de aspectos
que, com o tempo, ganham força e se
convertem em regras. Por quê?
Porque cada um de nós inte-
rioriza as estruturas do universo
social e transforma-as em jeitos de
ver o mundo que orientam nossas
condutas. Diversas instâncias atuam
para que essas normas sejam trans-
mitidas dos mais velhos aos mais
jovens: a família, os grupos de ami-
gos, as religiões - e, claro, as escolas.
No caso do gênero, a associação com
elementos preexistentes, como tradi-
ções culturais, preceitos religiosos e
costumes familiares, vai definindo
quais elementos pertencem ao uni-
verso masculino ou ao feminino. Por
exemplo: ao provar do fruto proibido
e convencer Adão a também comê-lo,
Eva teria mostrado o lado irracional e
sentimental da mulher. Por isso,
sedimentou-se a ideia de que ela
deveria estar submissa ao homem -
naturalmente, um ser racional e ce-
rebral, como explica a pesquisadora
Clarisse Ismério no artigo Constru-
ções e Representações do Universo
Feminino (1920-1945). Mais exem-
plos: a associação de carros e motos
16. 161616
como "coisa de macho" foi herdada da ideia vigente até o início do século 20 de que o
espaço público deveria ser ocupado pelos homens, enquanto as mulheres deveriam se
dedicar à vida doméstica, como faziam suas mães. Já a atribuição das cores rosa e azul,
respectivamente, a meninas e meninos... Bem, essa aí parece não ter justificativa. Ne-
nhuma surpresa: a investigação sócio-histórica revela que na gênese de muitos hábitos,
costumes e regras impera a mais pura arbitrariedade.
Tudo isso se complica em razão de outra característica da mentalidade mo-
derna: a tendência de pensar por oposições. Segundo o filósofo francês Jacques Derrida
(1930-2004), a lógica ocidental opera por meio de binarismos: feio/belo, puro/impuro,
espírito/corpo etc. "Um termo é sempre considerado superior, e o oposto seu subordi-
nado", explica Guacira. Assim, o homem heterossexual conquistou o lugar de maior
prestígio na sociedade. Um degrau abaixo, a mulher. E na penumbra, os que não se
encaixam no esquema binário: gays, lésbicas, bissexuais, travestis...
Até meados do século 20, esse discurso circulou quase sem contestações. A
partir dos anos 1950, movimentos feministas, guiados pelos estudos da filósofa france-
sa Simone de Beauvoir (1908-1986), engrossados na década seguinte pelos hippies e
outros levantes da contracultura, começaram a colocar em xeque os papéis atribuídos
às mulheres na sociedade, no trabalho e na família. Seguiram-se a eles as lutas pelos
direitos de homens gays, lésbicas, travestis, transexuais e assim por diante entre 1970 e
os anos 2000. Atualmente, correntes contestatórias ampliam as possibilidades identitá-
rias, defendendo que há muitos jeitos de ser homem e mulher.
Você deve estar se perguntando onde a escola entra nessa discussão. Para que
ela respeite a diversidade, as formações de professores precisam abordar o assunto. É o
melhor caminho para disseminar o que as pesquisas já descobriram sobre a construção
dos gêneros e sua relação com o sexo e a sexualidade. Mas as iniciativas sofrem forte
resistência. O caso mais notório aconteceu em 2011. Como parte do programa Brasil
sem Homofobia, especialistas produziram para o governo federal cadernos com conte-
údo pedagógico que colocavam o tema em discussão.
A intenção era que o material fosse distribuído a escolas de todo o país. Antes
da impressão, entretanto, congressistas ligados a entidades religiosas se opuseram ao
projeto. Apelidado de "kit gay", o conteúdo foi acusado de estimular "a promiscuidade
e o homossexualismo" - termo em desuso por remeter a doença (hoje, fala-se em ho-
mossexualidade). A União cedeu às pressões e vetou a circulação dos cadernos. Ofici-
almente, não há perspectivas para que esse material saia do armário. Mas, agora, ele
está disponível aqui no site NOVA ESCOLA. Leia e tire suas conclusões.
Por enquanto, episódios como o do menino Romeo seguem envoltos pela ver-
gonha. Mesmo em casos de crianças muito pequenas, em que não há relação entre o
comportamento da criança e sua sexualidade (meninos mais sensíveis ou meninas que
prefiram o futebol às bonecas), o expediente-padrão é convocar os pais para uma con-
versa sobre o suposto problema e encontrar maneiras de "corrigi-lo". "Muitas vezes,
essas crianças e jovens apanham dos pais, são proibidos de voltar às aulas ou mesmo
fogem", relata Constantina Xavier, professora da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (UFMS). É papel da escola agir com profissionalismo. O que, nesse caso, significa
tratar o tema com naturalidade e não reportá-lo aos pais. Um menino quer se vestir de
princesa. Se há algum problema, é com os olhos de quem vê. Como ensina Georgina
Clarke, a mãe do pequeno Romeo: "Não me importo. Faz parte de quem ele é. Se usar
os vestidos faz com que ele seja feliz, então está tudo bem para mim".
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/formacao/educacao-sexual-precisamos-falar-
romeo-834861.shtml
Enfim, vamos para a Gramática! Pra começo de conversa...
Após lermos a crônica de Veríssimo e o texto da revista Nova Escola, temos
que nos colocar diante da seguinte questão: o que é gênero (masculino e
feminino)? O que é número (singular e plural)?
A gramática normativa sepa-
ra as palavras da língua em dois
grandes grupos: palavras variá-
veis e invariáveis. E por que
separar entre variáveis e invari-
áveis?
As palavras variáveis são aque-
las que variam de forma estabe-
lecendo uma concordância ne-
cessária com os termos antece-
dentes ou precedentes. Veja:
Empresário
O empresário
O Empresário rico
As palavras invariáveis são a-
quelas que permanecem iguais
em todas as suas ocorrências na
língua. Veja:
O empresário bem/mal sucedido
A empresária bem/mal sucedida
Coloque os papéis entre as pastas.
Coloque as cartas entre os documentos.
Veremos 3 classes de palavras:
Artigo ____________________
As palavras definidas como arti-
go são usadas de forma seme-
lhante aos adjetivos e aos pro-
nomes demonstrativos, com o
qual concorrem, como se verá
adiante. Formam uma classe
muito fechada, contendo apenas
oito elementos:
o, os, a, as, um, uns,
uma, umas
Como se vê, variam em gênero e
em número. Chamam-se defini-
dos os artigos o, os, a, as e inde-
finidos os artigos um, uns, uma e
umas.
Os artigos ocorrem obrigatori-
amente antes dos substantivos,
com o qual concordam em gêne-
ro e número, e sempre como as
primeiras palavras de um grupo
nominal qualquer.
Empresária
A empresária
A empresária rica
17. 17
Substantivo ________________________________
Palavra que dá nome aos seres, coisas, ações e ideias.
Ex.: carro, casa, sol, mar, chuva, nariz, janela, etc.
Substantivo é a classe de palavras que se caracteriza
por manter intrínseca a noção de gênero que desen-
cadeia a concordância. Todos os substantivos têm seu
gênero: masculino ou feminino. A mudança de gênero
de um substantivo acarreta necessariamente a mu-
dança de seu significado. Não se confundam as noções
de gênero e de sexo: variação de gênero não envolve
necessariamente a variação de sexo.
Ex.: “a cabeça” (feminino) = parte do corpo
“o cabeça” (masculino) = posição de liderança em
um grupo de pessoas qualquer;
A classe dos substantivos, ou nomes, é a que contém o
maior número de unidades e, junto da dos verbos, a
que melhor aceita a inserção de novas unidades. Difi-
cilmente se poderá dizer quantos substantivos existem
em uma língua qualquer, pois a todo instante novas
palavras são criadas. Chamam-se neologismos.
8) Adjetivo __________________________________
Palavra que qualifica/caracteriza um substantivo.
Ex. Novo, velho, alto, baixo, branco, claro, escuro, bra-
sileiro, português, paulista, paulistano, etc.
Os adjetivos formam uma classe de palavras variáveis,
que concordam sempre com os substantivos. De ma-
neira geral, pode-se dizer que são palavras que depen-
dem de um substantivo pois que sempre o acompa-
nham, podendo vir antes ou depois dele. Seguem as
mesmas regras derivacionais dos substantivos. Veja:
“Os técnicos vão aos domicílios e despejam no vaso
sanitário um líquido com corante amarelo.” (Folha de
S. Paulo. 28 mai. 2004. Caderno Cotidiano.)
Os termos sanitário e amarelo grifados acima são adje-
tivos. Nota-se que concordam com os substantivos
vaso e corante, respectivamente, que são do gênero
masculino e estão no singular.
Tem-se, portanto, que a regra geral da concor-
dância entre os nomes é: O artigo, o numeral, o adje-
tivo e o pronome adjetivo concordam com o substan-
tivo a que se referem em gênero e número.
Algumas questões para análise e interpretação dos
textos “Sexa” e “Educação sexual: precisamos falar
sobre Romeo...”
1) Sobre o texto “Sexa” é incorreto afirmar que
a) “sexa” é uma variação da palavra “sexo” criado pelo
filho para expressar sua dúvida sobre o gênero desse
vocábulo.
b) o pai não consegue solucionar a dúvida do filho por
não saber distinguir gênero na língua e gênero biológi-
co.
c) o pai sabe explicar esses conceitos, porém sua ar-
gumentação é desorientada pelo filho que confunde
suas ideias.
d) o final da crônica surpreende o leitor ao resignificar
um diálogo cotidiano entre pais.
2) Segundo o texto “Educação sexual: precisamos falar
sobre Romeo...”,
a) os conceitos de gênero e sexualidade se confundem
de modo que é quase impossível separá-los.
b) machos e fêmeas têm características genéticas que
definem a sua sexualidade.
c) sexo, sexualidade e gênero são conceitos diferentes
que muitas vezes se confundem.
d) sexualidade é uma opção sexual, enquanto gênero e
sexo são naturais dos seres humanos.
3) Qual destes questionamentos não são respondidos
pela reportagem:
a) O que são os conceitos de gênero sexo e sexualida-
de?
b) Por que algumas características tornam-se “regras”
de determinação de gênero?
c) Por que existe uma associação entre carros e a figu-
ra masculina?
d) Quais são as pesquisas mais recentes voltadas para
o estudo de identificação de gênero?
4) Sobre o papel da escola na discussão de gênero, o
autor:
a) explica o binarismo proposto por Jacques Derrida
para sustentar a sua tese de que o gênero deve ser
trabalhado nas escolas.
b) os cursos de formação de professores devem tratar
desse tema, para que as pesquisas acadêmicas exis-
tentes sobre isso possam circular no âmbito educacio-
nal.
18. 181818
c) diz que a melhor solução encontrada para isso foi o
material de divulgação do programa Brasil sem Homo-
fobia vetado pela União.
d) Se apoia nos movimentos sociais desenvolvidos a
partir da década de 1950 para justificar as mudanças
nos papéis atribuídos à mulher na sociedade e na edu-
cação.
5) Em conclusão à sua discussão, o autor propõe que
a) a escola aja profissionalmente e naturalmente ao
tratar das questões de gênero.
b) convoque os pais dos alunos para expor os proble-
mas e tentar corrigi-los.
c) as pessoas parem de olhar a situação de Romeo com
preconceito.
d) que o comportamento das crianças está atrelado ao
afloramento de sua sexualidade.
Questões de gramática e interpretação
(UFF) Leia o poema a seguir para responder as ques-
tões 6 a 8.
Pero Vaz de Caminha
A descoberta
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
Os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
Primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
As meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
Oswald de Andrade, Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978, p.80
6) Sobre as palavras destacadas nos versos a seguir,
assinale a afirmativa correta:
E suas VERGONHAS tão altas e tão saradinhas (v.18)
Que de nós as muito olharmos (v.19)
Não tínhamos nenhuma VERGONHA (v.20)
a) Seus sentidos são diferentes, mas têm a mesma
classe gramatical.
b) Seus sentidos são distintos e suas classes gramati-
cais são diferentes.
c) Ambas têm o mesmo sentido, mas as classes grama-
ticais são diferentes.
d) Ambas têm o mesmo sentido e a mesma classe
gramatical.
e) Tanto seus sentidos quanto suas classes gramaticais
são correspondentes.
7) A conversão de substantivos em adjetivos, isto é,
tomar uma palavra designadora (substantivo) e usá-la
como caracterizada (adjetivo), constitui um procedi-
mento comum em língua portuguesa.
Assinale a opção em que a palavra em destaque e-
xemplifica este procedimento de conversão de subs-
tantivo em adjetivo.
a) E depois a tomaram como ESPANTADOS. (v.10)
b) Fez o salto REAL (v.14)
c) Eram três ou quatro moças bem MOÇAS e bem gen-
tis (v.16)
d) Com cabelos mui PRETOS pelas espáduas (v.17)
e) E suas vergonhas tão ALTAS e tão saradinhas. (v.18)
8) No texto abaixo, o autor descreve a diferença entre
duas chapelarias. Indique os elementos linguísticos
que ele usou para mostrar essa diferença.
“Um chapeleiro passa por uma loja de chapéus; é a
loja de um rival, que a abriu há dois anos; tinha então
duas portas, hoje tem quatro; promete ter seis e oito.
Nas vidraças ostentam-se os chapéus do rival; pelas
portas entram os fregueses do rival; o chapeleiro com-
para aquela loja com a sua, que é mais antiga e tem só
duas portas, e aqueles chapéus com os seus, menos
buscados, ainda que de igual preço.” (ASSIS,
Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas.)
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_________________________________________
19. 191919
AULA 4 – Intertextualidade
Já vimos que para interpretar um texto, temos
que entender a relação dele com o contexto, seja este
linguístico ou extralinguístico. Agora, vamos perceber
que para entender realmente bem um texto, precisa-
mos compreender de que maneira ele se relaciona
com os outros textos. Preste atenção, estudante!! Se
eu disse que vamos entender como ele se relaciona
com outros textos, estou partindo do pressuposto de
que todos os textos se relacionam uns com os outros,
ainda que nem mesmo o autor perceba isso! Quando
nós mesmos, como falantes usuais da língua, falamos,
nós consultamos outros textos (e outras ideias) que já
lemos ou ouvimos para produzirmos nosso próprio
texto. A essas relações, nós chamamos de intertextua-
lidade. Então, todo texto sempre vai trazer intertex-
tualidade e agora vamos descobrir como.
• Citação: o autor cita outro texto com o objetivo de
enriquecer, valorizar ou validar seu texto. O trecho
citado aparece entre aspas ou em itálico, com indica-
ção da fonte para não ser confundido com plágio.
• Epígrafe (do grego: “grafar acima”): citação que apa-
rece antes ou acima de um texto para dar indicações
sobre o tema a ser desenvolvido. A diferença da epí-
grafe da citação é que esta aparece logo no começo do
texto. Ademais, são iguais.
• Referência: em textos literários, esse recurso inter-
textual consiste em se referir a personagens, roman-
ces, autores, com o objetivo de estabelecer uma asso-
ciação.
Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de
Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
Caetano Veloso. Língua.
• Alusão: referência discreta a outro texto, menção do
nome de uma obra, de uma pintura ou de algum ele-
mento dessa obra: cenário, personagem, época etc.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na
terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação
que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de
Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na
véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia
por outras palavras.
Machado de Assis. A cartomante.
Paráfrase: paráfrase é a reafirmação dos valores, é a
expressão de concordância de um texto com outro.
São quando textos expressam ideias iguais, conver-
sando um com outro.
Do que a terra mais garrida
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;
"Nossos bosques têm mais vida",
"Nossa vida" no teu seio "mais amores."
Hino Nacional Brasileiro
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá
(...)
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores.
Nossos bosques têm mais vidas,
Nossa vida mais amores.
Gonçalves Dias. Canção do Exílio.
Paródia: esta é o contrário da paráfrase, pois o autor
de um texto recupera outro ao expressar valores e
ideias contrárias a ele. Não precisa ser necessariamen-
te engraçada, mas muitas vezes é já que a sátira é a
forma mais comum de negar opiniões contrárias. É
provável que você conheça várias paródias, estudante,
pois elas são comuns em programas de comédia.
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturanos de Veneza.
(...)
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Murilo Mendes. Canção do Exílio.
São inúmeras e muito frequentes as retoma-
das de outros textos, de outras falas, outras vozes. Por
isso chamamos a intertextualidade também de polifo-
20. 202020
nia textual. Polifonia tem origem no grego e significa
“muitos sons”: poli (muitos); fonia (sons). A intertextu-
alidade não é específica do texto literário ou científico.
A polifonia está presente nas conversações cotidianas,
em textos jornalísticos e outros.
EXERCÍCIO
1) Leia a canção a seguir:
Bom Conselho
Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade
Chico Buarque
a) O texto acima é rico em intertextualidade. Cite, ao
menos, dois ditados a que a canção faz referência.
_____________________________________________
___________________________________________
b) Em qual dos tipos de intertextualidade a canção
acima se encaixa? Justifique.
_____________________________________________
___________________________________________
c) Retire do texto pelo menos uma expressão ou pala-
vra que não está em seu sentido denotativo e explique
qual foi o sentido acrescido a ela.
_____________________________________________
_____________________________________________
__________________________________________
Leia os textos I e II a seguir para responder às questões
que seguem:
TEXTO I
Monte Castelo
Legião Urbana
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece
“O amor é o fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
(...)
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É um não contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É um estar-se preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É um ter com quem nos mata a lealdade
Tão contrário a si é o mesmo amor”
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem
Agora vejo em parte
Mas então veremos face a face
TEXTO II
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e
não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o
sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e co-
nhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que
tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os mon-
tes, e não tivesse amor, nada seria. (...) O amor é sofredor, é
benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com levi-
andade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência,
não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo
sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (...) Porque agora
vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a
face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como
também sou conhecido.”
1 Coríntios 13, 1-2;4-7;12
2) Sobre os textos acima, uma vez inter-relacionados, é
possível afirmar que:
a) a música parodia as ideias expostas no texto bíblico,
desconstruindo o conceito de amor expresso neste últi-
mo.
b) a intertextualidade se resume à estrutura do texto
bíblico que se repete, por exemplo, nos versos da música
21. 212121
“O amor é bom, não quer o mal/ Não sente inveja ou se
envaidece”.
c) ambos os textos apresentam uma ideia própria sobre o
que é amor, tornando impossível estabelecer uma rela-
ção entre eles.
d) a música dialoga com o texto bíblico ao reafirmar seus
valores, parafraseando o conceito de amor expresso nele.
e) a música cita o texto bíblico, estabelecendo uma inter-
textualidade implícita entre os textos.
3) A partir de seus conhecimentos sobre literatura e da
interpretação dos textos acima, assinale a alternativa que
melhor os analisa:
a) É possível estabelecer uma relação não só entre os
textos acima, como também entre o soneto “Amor é fogo
que arde sem se ver” de Camões, o qual é citado na mú-
sica, uma vez que todos afirmam os mesmos valores,
apresentando exatamente o mesmo conceito de amor.
b) Os textos dialogam com diversos textos da literatura
mundial, uma vez que amor é tema recorrente dos auto-
res canônicos.
c) A música cita o soneto “Amor é fogo que arde sem se
ver” de Camões, o qual, apesar de não apresentar o
mesmo conceito de amor, também dialoga com o texto
bíblico, o que é explicitado na música.
d) A música cita o soneto “Amor é fogo que arde sem se
ver” de Camões e parafraseia passagens do texto bíblico,
a fim de desconstruir os conceitos de amor expressos
nestes textos, com os quais dialoga.
e) Apesar de tratarem do mesmo tema, os textos não
dialogam, pois a música se baseia no soneto “Amor é
fogo que arde sem se ver” de Camões, posterior a Bíblia.
o HORA DA GRAMÁTICA!
Verbos______________________________________
O que são os VERBOS? (de acordo com a NGB)
Palavra que expressa ação, estado ou fenômeno da
natureza. Exemplos:
Ação: escrever, ler, falar, entregar, dormir, polir...
- Estado: ser, estar, parecer, continuar, permanecer,
andar, virar, ficar...
- Fenômeno da natureza: chover, trovejar, nevar, a-
manhecer, escurecer...
Variação verbal
- Pessoa1ª pessoa (quem fala no discurso)
2ª pessoa (com quem se fala)
3ª pessoa (de quem se fala)
- Número Singular x Plural
- Modo Indicativo (expressa certeza da ação)
Subjuntivo (expressa incerteza/hipótese)
Imperativo (expressa ordem/conselho)
- Tempo Futuro (do presente/do pretérito)
Presente
Pretérito (perfeito/imperfeito/mais-que-perfeito)
Conjugação
Os verbos da língua portuguesa possuem 3 conjugações
(três terminações /ou vogais temáticas)
- 1ª conjugação: verbos terminados em – AR
- 2ª conjugação: verbos terminados em – ER
- 3ª conjugação: verbos terminados em – IR
Desinências
Terminações dos verbos conjugados que indicam pessoa,
número, modo e tempo;
Exemplo de conjugação – verbo REGULAR
VERBO CANTAR - INDICATIVO (1ª Conjugação)
a
VERBO CANTAR - SUBJUNTIVO (1ª Conjugação)
Presente (que)
Eu cante
tu cantes
ele cante
nós cantemos
vós canteis
eles cantem
Imperfeito (se)
eu cantasse
tu cantasses
ele cantasse
nós cantássemos
vós cantásseis
eles cantassem
Futuro (quando)
Eu cantar
tu cantares
ele cantar
nós cantarmos
vós cantardes
eles cantarem
Futuro do Presente
eu cantarei
tu cantarás
ele cantará
nós cantaremos
vós cantareis
eles cantarão
Futuro do Pretérito
eu cantaria
tu cantarias
ele cantaria
nós cantaríamos
vós cantaríeis
eles cantariam
Presente
Eu canto
tu cantas
ele canta
nós cantamos
vós cantais
eles cantam
Pretérito Perfeito
eu cantei
tu cantaste
ele cantou
nós cantamos
vós cantastes
eles cantaram
Pretérito Imperfeito
Eu cantava
tu cantavas
ele cantava
nós cantávamos
vós cantáveis
eles cantavam
Pret.Mais-que-perfeito
eu cantara
tu cantaras
ele cantara
nós cantáramos
vós cantáreis
eles cantaram
22. 222222
BEBER - Presente
Eu bebo
tu bebes
ele bebe
nós bebemos
vós bebeis
eles bebem
PARTIR- Presente
Eu parto
tu partes
ele parte
nós partimos
vós partis
eles partem
VERBO CANTAR - IMPERATIVO (1ª Conjugação)
Os verbos terminados em ER, e IR seguem uma conju-
gação muito parecida. Não conjugaremos os dois aqui,
mas sua conjugação é muito fácil. Veja
Formas nominais do verbo
Existem três formas verbais a que chamamos nominais
porque além do valor de verbo, alas também podem
exercer funções próprias aos nomes.
- Infinitivo – forma sem conjugação (-ar, -er, ir).
Falar, cantar, comer, jogar, sorrir...
Pode ser impessoal, quando não se refere a nenhuma
pessoa do discurso, ou pessoal, quando se relaciona a
algum ser.
Só fazia uma coisa: gastar! (impessoal)
É importante fazermos a nossa parte. (pessoal)
- gerúndio – forma de presente progressivo (-ando, -
endo, -indo)
Cantando, comendo, sorrindo...
- Particípio – forma de ação verbal já concluída (-ado,
-ido)
Cantado, comido, partido...
(aqui ocorrem muitos casos de irregularidade: aberto,
feito, aceso...).
EXERCÍCIOS
1) (PUC-SP) Uma das alternativas abaixo está errada
quanto à correspondência no emprego dos tempos
verbais. Assinale-a.
a) Porque arrumara carona, chegou cedo à cidade.
b) Se tivesse arrumado carona, chegaria cedo à cidade.
c) Embora arrume carona, chegará tarde.
d) Embora tenha arrumado carona, chegou tarde.
e) Se arrumar carona, chegaria cedo à cidade.
2) (FUVEST) Leia o excerto, observando as diferentes
formas verbais.
Chegou. Pôs a cuia no chão, escorou-a com pedras, matou a
sede da família. Em seguida, acocorou-se, remexeu o aió,
tirou o fuzil, acendeu as raízes de macambira, soprou-as,
inchando as bochechas cavadas. Uma labareda tremeu,
elevou-se, tingiu-lhe o rosto queimado, a barba ruiva, os
olhos azuis. Minutos depois o preá torcia-se e chiava no
espeto de alecrim.
Eram todos felizes. Sinha Vitória vestiria uma saia larga de
ramagens. A cara murcha de sinhá Vitória remoçaria [...].
A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria vaqueiro, para
bem dizer dono daquele mundo.
(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947.)
a) Considerando que no primeiro parágrafo predomina o
pretérito perfeito, justifique o emprego do imperfeito em
“o preá torcia-se e chiava no espeto de alecrim”.
b) Explique o efeito de sentido produzido no excerto pelo
emprego do futuro do pretérito.
3) (USFM)
O carcereiro usa o tratamento "você" ao se dirigir a
Hagar. Se ele usasse o tratamento "tu", a alternativa
correta seria:
a) Alegre-te - não te mete - nem tente.
b) Alegra-te - não te meta - nem tenta.
c) Alegre-te - não te meta - nem tenta.
d) Alegras-te - não te metas - nem tentas.
e) Alegra-te - não te metas - nem tentes.
Imperativo Afirmativo
------- eu
canta tu
cante ele
cantemos nós
cantai vós
cantem eles
Imperativo Negativo
-------------- eu
não cantes tu
não cante ele
não cantemos nós
não canteis vós
não cantem eles
*Atenção estudante: O gerúndio só acontece no
presente (estou fazendo), ou no pretérito (estava
fazendo), nunca no futuro (estarei fazendo). O que
deve ser condenado é o uso indiscriminado, abusi-
vo dessas locuções – o chamado “gerundismo”.
*RESPONDA NO
CADERNO!
23. 232323
4) (ENEM 2015)
A rapidez é destacada como uma das qualidades do
serviço anunciado, funcionando como estratégia de
persuasão em relação ao consumidor do mercado
gráfico. O recurso da linguagem verbal que contribui
para esse destaque é o emprego
a) do termo “fácil” no início do anúncio, com foco no
processo.
b) de adjetivos que valorizam a nitidez da impressão.
c) das formas verbais no futuro e no pretérito, em
sequência.
d) da expressão intensificadora “menos do que” asso-
ciada à qualidade.
e) da locução “do mundo” associada a “melhor”, que
quantifica a ação.
5) (ENEM 2015) Em junho de 1913, embarquei para a
Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi
o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito
dele me falara João Luso, que ali passara um inverno
com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de
existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum
tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, um de
seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está
datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suíça
até outubro de 1914.
BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Agui-
lar, 1985.
No relato de memórias do autor, entre os recursos
usados para organizar a sequência dos eventos narra-
dos, destaca-se a
a) construção de frases curtas a fim de conferir dina-
micidade ao texto.
b) presença de advérbios de lugar para indicar a pro-
gressão dos fatos.
c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os
acontecimentos.
d) inclusão de enunciados com comentários e avalia-
ções pessoais.
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do
escritor.
AULA 5 - Funções da linguagem
Atenção, alunx!! Agora não estamos mais fa-
lando do texto como manifestação particular, mas da
linguagem como um todo e de suas funções. Não se
trata, portanto da função deste ou daquele texto, mas
dos intuitos que temos quando utilizamos a lingua-
gem.
Quando pensamos em linguagem, temos que
ampliar nosso conceito para que ele não se restrinja
apenas à linguagem escrita. Não podemos considerar
apenas os livros como forma de linguagem, porque
estamos o tempo inteiro utilizando da linguagem para
nos comunicar. Ela é muito mais que a língua escrita.
Linguagem seria, então, toda representação simbólica
que gera significação. Por isso, consideramos também
os textos não verbais e os textos orais como formas de
linguagem. Podemos pensar inclusive que nossos diá-
logos, por serem uma forma de linguagem, são textos.
Dessa maneira, podemos afirmar que existem duas
distinções no campo da linguagem:
- oral vs escrito: a diferença consiste no canal utilizado
para expressar a linguagem. Se o suporte é a voz, te-
mos linguagem oral; se o suporte é o papel e a caneta,
a linguagem é escrita.
- não verbal vs verbal: a diferença consiste no uso das
palavras. Enquanto esta apostila utiliza da linguagem
verbal para explicar os conceitos sobre texto, a dança,
pintura e mesmo as placas de trânsito utilizam a lin-
guagem não verbal para expressar determinada men-
sagem.
Mas a grande questão aqui é que a linguagem
não serve apenas para comunicar, ainda que este pa-
reça ser seu intuito primário. A linguagem é também
nossa forma de informar, de nos aproximar das pesso-
24. 242424
as, de expressar nossos íntimos sentimentos, de expli-
car as coisas da vida, de levar as pessoas a fazerem o
que queremos e também de nos distrair, uma vez que
podemos brincar com as palavras de certa maneira
que nos agrada. Para entender essas outras funções da
linguagem, precisamos entender como funciona a
comunicação e quais são os elementos que a com-
põem. É importante entender estes elementos, pois
eles estão diretamente ligados às funções da lingua-
gem. Estes são os seis elementos e suas relações:
Toda comunicação vai ter uma MENSAGEM, transmi-
tida de um EMISSOR a um RECEPTOR através de um
CANAL e por meio de um CÓDIGO; tudo isso aconte-
cendo em um determinado CONTEXTO.
Quando a linguagem que foca no emissor diz-se que
sua função é emotiva, como no texto abaixo:
Querida Kitty,
Minhas mãos ainda estão tremendo, apesar de já fazer
duas horas desde que tomamos o susto. (...) Papai e eu
ficamos parados perto da porta, para podermos ouvir
quando o homem fosse embora. Depois de trabalhar
durante uns 15 minutos, ele largou o martelo e outras
ferramentas em nossa estante (pelo menos foi o que pen-
samos!) e bateu na nossa porta. Ficamos brancos de me-
do. Será que, afinal de contas, ele tinha escutado alguma
coisa e agora queria checar aquela estante de aparência
misteriosa? (...)
Fiquei tão apavorada que quase desmaiei ao pensar na-
quele estranho descobrindo nosso maravilhoso esconderi-
jo. Justamente quando eu pensava que nossos dias esta-
vam contados, ouvimos a voz do Sr. Kleiman dizendo:
- Abram, sou eu.
(...) Não posso dizer como fiquei aliviada.
O Diário de Anne Frank.
Falamos que este texto apresenta a função emotiva,
por causa das seguintes características:
- verbos e pronomes em primeira pessoa;
- presença comum de ponto de exclamação e interjei-
ções;
- expressão de estados de alma do emissor (subjetivi-
dade e pessoalidade).
É a função mais comum nos textos líricos, em autobio-
grafias, em depoimentos e memórias, como é o caso
do livro O Diário de Anne Frank, de onde foi retirado o
trecho acima. A gente a percebe pelos efeitos causa-
dos na linguagem: subjetividade, emotividade, proxi-
midade do sujeito que fala. Esta é a função que apa-
rece predominantemente quando usamos a linguagem
para expressar nossos sentimentos, nossas angústias e
nossos estados de alma.
Quando a linguagem foca no receptor, dizemos que a
função que ela assume é a função conativa (ou apela-
tiva). Observe o exemplo do texto abaixo:
Podemos dizer que a função deste texto é conativa,
porque apresenta as seguintes características:
- verbos no imperativo;
- verbos e pronomes na segunda ou terceira pessoas;
- tentativa de convencer o receptor a ter um determi-
nado comportamento.
Esta função é predominante em textos de publicidade
e propaganda e também se caracteriza pelo uso pro-
posital da ambiguidade e de jogos de palavras, carac-
terísticas mais relacionadas à função poética da men-
sagem, mas como explicaremos mais para frente, os
textos misturam as funções. A gente a percebe pelos
efeitos causados na linguagem: interação com o desti-
natário e persuasão. Enfim, essa função é predomi-
nante nos textos que produzimos para convencer al-
guém.
Quando a linguagem foca no canal, afirmamos
que sua função é fática, preocupada apenas em man-
ter o canal de comunicação ativo.
25. 252525
O autor do tweet acima entendeu bem a fun-
ção fática da linguagem. Quando você não sabe o que
responder para uma pessoa, mas precisa continuar
falando com ela, seja por educação ou por qualquer
outro motivo, você utiliza recursos para manter o ca-
nal de comunicação ativo e, assim, aciona a função
fática da linguagem. A gente percebe a predominância
desta função pelos efeitos causados por ela: aproxi-
mação ou interesse entre emissor e receptor, estabe-
lecimento ou manutenção da comunicação.
A função referencial é a função que foca no
contexto, ou seja, na situação da comunicação, que
pode ser considerada o assunto do texto. Então, como
vemos no exemplo abaixo, o texto cuja função predo-
minante é a função referencial está preocupado ape-
nas em passar aquele assunto.
Pesquisadores examinaram a relação entre hor-
mônios e sono em um grupo de 11 homens saudáveis,
com idades de 25 a 32 anos. Todos eles foram convidados
a tirar uma soneca no laboratório. Na primeira sessão,
passaram a noite por lá, mas só puderam dormir durante
duas horas. Na tarde seguinte, apareceram outra vez ao
laboratório para tirar dois cochilos de meia hora.
Antes e depois de cada sessão, os pesquisadores
coletaram amostras de urina e saliva dos participantes. E
perceberam que quando dormimos pouco, há um aumen-
to de norepinefrina no corpo, um dos hormônios de es-
tresse responsáveis pela reação de luta ou fuga, que ace-
lera os batimentos cardíacos e a pressão sanguínea.
Também houve redução nos níveis de interleukin-6, uma
proteína com propriedades antivirais.
Mas uma soneca curta já foi suficiente para ree-
quilibrar os hormônios e essa proteína. Ou seja: um curto
cochilo ajuda mesmo a fortalecer o organismo e diminuir
o estresse – mesmo se você não tiver dormido quase na-
da durante a noite.
Superinteressante. 12 fev. 2015.
Podemos afirmar que o texto tem a função referencial,
porque apresenta as seguintes características:
- Objetividade - linguagem direta, precisa, denotativa;
- Clareza nas ideias;
- Finalidade de traduzir a realidade, tal como ela é.
É a função predominante em textos informativos, jor-
nalísticos, textos didáticos, científicos; mapas, gráficos,
legendas, recursos representativos. É a função que
usamos na linguagem, quando temos o intuito de in-
formar. A gente a percebe pelos efeitos causados na
linguagem: objetividade (distanciamento do sujeito
que fala), verdade dos fatos, sensação de realidade.
Também é possível utilizarmos a linguagem para
explicá-la, ou seja, focamos no código. Nesse caso,
dizemos que há a função metalinguística da lingua-
gem, como o caso desta apostila! Usamos textos para
explicar o que é o texto; usamos a linguagem para
explicar as funções da linguagem. Outro bom exemplo
é o desenho abaixo:
Esta pintura é o desenho de um desenho, por isso te-
mos a função metalinguística aqui. Teríamos também
se tivéssemos uma poesia falando do fazer poético,
um romance falando sobre o processo de escrita do
romance (alô, aulas de literaturas!! Em Memórias Pós-
tumas de Brás Cubas, você encontrará momentos em
que a função predominante é metalinguística), um
filme falando sobre filmes (como 8½, do diretor Fellini,
A invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorcese, Cine-
ma Paradiso, do diretor Giuseppe Tornatore). Enfim,
seja qual for o tipo de linguagem – literária, cinemato-
gráfica ou científica – quando utilizamos o código para
explicar sobre ele mesmo, usamos da função metalin-
guística da linguagem. O efeito desta função, que nos
faz percebê-la é: circularidade, linguagem que fala de
linguagem.
Por fim, temos a função poética da linguagem,
que é aquela que foca no sexto elemento da comuni-
cação, a mensagem. Mas mais que isso, a linguagem é
utilizado com função poética quando ela se importa
muito mais com a maneira de passar essa mensagem.
M. C. Escher.
Drawing
Hands, 1948.
26. 262626
Ou seja, quando brincamos com a língua, utilizamos da
função poética da linguagem. Dizemos que quando se
utiliza a função poética da linguagem, rompe através
da expressão – o plano sonoro das palavras. Assim, o
conteúdo não é transmitido de maneira transparente,
clara, mas através de um trabalho com a sonoridade,
com o ritmo, entoação, seleção e combinação das
palavras. E é justamente por causa deste trabalho que
a reconhecemos, pois a linguagem com função poética
causa um efeito de extraordinário, de novidade e
ruptura com a normalidade. Deixaremos um exemplo
de poesia que brinca bem com essa ruptura através da
expressão, mas não se engane: ditados populares, bem
como propagandas utilizam e muito da função poética
da linguagem para construir seus textos.
Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virgem Maria
que foi isto maquinista?
Agora sim
Manuel Bandeira. Estrela da Manhã, 1936.
Enfim, agora que vimos todas as funções da
linguagem, é válido dizer que jamais as encontraremos
isoladas em um texto. Dizemos que tal função é pre-
dominante em tal texto, porque elas não estão isola-
das umas das outras, elas co-ocorrem em um texto,
algo parecido com as tipologias textuais.
EXERCÍCIOS
1) (ENEM 2015)
14 coisas que você não deve jogar na privada
Nem no ralo. Elas poluem rios, lagos e mares, o que conta-
mina o ambiente e os animais. Também deixa mais difícil
obter a água que nós mesmos usaremos. Alguns produtos
podem causar entupimentos:
cotonete e fio dental;
medicamento e preservativo;
óleo de cozinha;
ponta de cigarro;
poeira de varrição de casa;
fio de cabelo e pelo de animais;
tinta que não seja à base de água;
querosene, gasolina, solvente, tíner.
Jogue esses produtos no lixo comum. Alguns deles, como
óleo de cozinha, medicamento e tinta, podem ser levados a
pontos de coleta especiais, que darão a destinação final
adequada.
MORGADO, M.; EMASA. Manual de etiqueta. Planeta Sustentável, jul.-ago. 2013 (adaptado).
O texto tem objetivo educativo. Nesse sentido, além
do foco no interlocutor, que caracteriza a função cona-
tiva da linguagem, predomina também nele a função
referencial, que busca
a) despertar no leitor sentimentos de amor pela natu-
reza, induzindo-o a ter atitudes responsáveis que be-
neficiarão a sustentabilidade do planeta.
b) informar o leitor sobre as consequências da desti-
nação inadequada do lixo, orientando-o sobre como
fazer o correto descarte de alguns dejetos.
c) transmitir uma mensagem de caráter subjetivo,
mostrando exemplos de atitudes sustentáveis do autor
do texto em relação ao planeta.
d) estabelecer uma comunicação com o leitor, procu-
rando certificar-se de que a mensagem sobre ações de
sustentabilidade está sendo compreendida.
e) explorar o uso da linguagem, conceituando detalha-
damente os termos utilizados de forma a proporcionar
melhor compreensão do texto.
2) O texto seguinte também é de natureza poética.
Nele, qual a função secundária da linguagem?
Lutar com as palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
Carlos Drummond de Andrade.
a) Função emotiva.
b) Função conativa.
c) Função referencial.
d) Função metalinguística.
e) Função fática.
3) (ENEM 2012) Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazi-
nha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem
como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-
feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci
ontem à noite. Seis recados para serem respondidos
na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para
pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zan-
gado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
27. 272727
Nos textos em geral, é comum a manifestação simul-
tânea de várias funções da linguagem, com o predo-
mínio, entretanto, de uma sobre as outras. No frag-
mento da crônica Desabafo, a função da linguagem
predominante é a emotiva ou expressiva, pois
a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio
código.
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que
está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção
da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em de-
trimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manu-
tenção da comunicação.
o HORA DA GRAMÁTICA!
Pronome _________________________________
Palavra que acompanha ou substitui um nome.
Ex. Pedro saiu / Ele saiu.
Meus documentos estão aqui.
Tipos de pronome
1 – Pronome Pessoal
Substituem um nome, indicando a pessoa do discurso.
Ex. O que nós faremos hoje?
Traga-nos os papéis.
- Os Pronomes de Tratamento também são pronomes
pessoais. Vossa excelência, Senhor(a), Você, Dona, etc.
/ *Atenção: esses pronomes estão sempre na 3ª pes-
soa. Observe: Você está bem? O senhor precisa de
alguma coisa?
2 – Pronome Possessivo
Acompanham um nome, atribuindo-lhe ideia de
posse.
Ex. Minha máquina está quebrada.
Sua mãe está bem?
3 – Pronome Demonstrativo
Acompanham ou substituem um nome um nome, po-
dem apontar para um referente sem precisar nomeá-
lo.
Ex. Estes dias fazem muito sol.
Aquela prova estava dificílima.
Uso do pronome demonstrativo
ESTE
- Indicar algo que está perto de quem fala (1ª pessoa)
Ex. Esta é a minha pasta. / Meu livro é este.
- Indicar tempo presente
Ex. Este dia está sendo ótimo! / Neste dia temos
muitas atividades para fazer.
ESSE
- Indicar algo que está perto da pessoa com quem se
fala (2ª/3ª pessoa)
Ex. Essa é a sua pasta? / Seu livro é esse?
- Indicar tempo passado ou futuro.
Ex. Esse dia foi ótimo! / Nesse haverá muitas ati-
vidades para fazer.
AQUELE
- Indicar algo que está distante dos interlocutores
Ex. Olhe aquela casa. / Pegue aquele livro.
- Indicar afastamento no tempo de modo vago
Ex. São Paulo naquela época era um vilarejo.
Outros usos – posição no texto
ESTE - Se usa para chamar atenção a algo que ainda
vamos dizer.
Ex. A ordem geral é esta: ninguém pode entrar
sem identificação!
ESSE - Se usa para retomar algo que já dissemos.
Ex. Ninguém pode entrar sem identificação. Essa
era a ordem.