O documento discute a importância da educação antidiscriminatória para combater o racismo, sexismo e homofobia na escola. Ele argumenta que a escola tradicionalmente promove a normatização e homogeneização, exigindo que estudantes se adaptem a padrões. A educação antidiscriminatória deve rever as relações de poder na escola e ensinar sobre diversidade e desigualdades sociais de forma a promover a igualdade.
5. (...) a escola tem uma antiga trajetória
normatizadora e homogeinizadora que
precisa ser revista. O ideal de
homogeinização levava a crer que os/as
estudantes negros/as, indígenas, transexuais,
lésbicas, meninos e meninas deveriam se
adaptar às normas e à normalidade.
PREÂMBULOS
6. (...) a diversidade não se trata de “mais um
assunto” jogado nas costas dos/das
educadores/as; não se trata de mais um
assunto para roubar tempo e espaço
para trabalhar os “conteúdos”. Estamos
reafirmando que o currículo escolar não é
neutro.
7. O racismo, o
sexismo, [a homofobia], o adultismo que temos
em nós se manifesta de forma sutil; não
é necessariamente intencional e percebido, mas
dói, é sofrido por
quem os recebe, então são violências. E marca de
forma indelével
as vítimas que de alguma forma somos todos nós,
mas sempre
alguns, mais que os outros, mulheres, os negros,
os mais jovens
e os mais pobres (Castro, 2005)”.
CASTRO, M.G., Gênero e Raça: desafios à
escola
8. É no ambiente escolar que crianças e jovens
podem se dar conta de que somos todos
diferentes e que é a diferença, e não o temor
ou a indiferença, que deve atiçar a nossa
curiosidade.
9. Não se trata, simplesmente, de desenvolver
metodologias para trabalhar a diversidade e
tampouco com “os diversos”. É, antes de tudo,
rever as relações que se dão no ambiente escolar
na perspectiva do respeito à diversidade
e de construção da igualdade, contribuindo para
a superação das assimetrias nas relações
entre homens e mulheres, entre negros/as e
brancos/as, entre brancos/as e indígenas entre
homossexuais e heterossexuais e para a
qualidade da educação para todos e todas.
10. São dois pontos a considerar numa prática
antidiscriminatória:
a Educação
das relações;
do bem conviver;
do respeito (exercício) às diferenças;
o Ensino
da história ;
da cultura;
das leis (direitos e deveres)
11. ENTENDENDO OS CONTEXTOS
Contexto racial:
A discriminação racial é fruto de práticas
estabelecidas com a intenção de perpetuar as
desigualdades entre os grupos negros e brancos.
Trata-se de atitudes preconceituosas e
comportamentos discriminatórios.
12. O preconceito caracteriza-se como uma
atitude de hostilidade nas relações interpessoais;
A discriminação racial constitui um
favorecimento para um determinado grupo
nos aspectos social, educacional e profissional.
O convívio com o racismo, o preconceito e
a discriminação racial no cotidiano
escolar consolida danos, muitas vezes
irreparáveis, para os estudantes negros (as).
13. A educação antidiscriminatória é uma tarefa
transdisciplinar, pela qual todos os educadores e
educadoras são responsáveis. Cada área do
conhecimento pode e tem a contribuir para que
as realidades de discriminação sejam desveladas,
seja recuperando os processos históricos, seja
analisando estatísticas, seja numa leitura crítica
da literatura ou na inclusão de autores de grupos
discriminados ou que abordem o tema. Seja,
ainda, na análise das ciências biológicas e
naturalização das desigualdades.
14. Dos Parâmetros Curriculares Nacionais à Lei nº
10.639/2003 que institui o ensino da história
da África e da africanidade no Brasil, e a Lei nº
11.645/2008 que institui o ensino da história e
cultura indígena como obrigatórios dentro dos
currículos escolares, muito ainda falta para
aprofundarmos esta questão.
15. Contexto sexista ou homofóbico:
Em nossa sociedade há uma única
cultura, socialmente mais valorizada e aceita
como válida - a cultura do colonizador -
eurocêntrica, masculina, branca, heterossexual,
lesbofóbica e cristã.
Ser macho ou fêmea é um dado biológico,
mas ser homem ou mulher implica ser masculino
ou feminino. Os gêneros aparecem como opostos
e complementares, porém hierárquicos, o homem
dominador, a mulher dominada.
Silvana Conti – Fazendo gênero na educação
16. Ser mulher e, portanto, feminina, significa ser
dona-de-casa, passiva, maternal, afetiva,
detalhista; usar cor-de-rosa e chorar; ser
homem significa ser forte, profissional,
agressivo, racional,e objetivo. Usar azule nunca
chorar. Isso está enraizado na cultura e tão
introjetado por cada pessoa que aparece como
parte da “natureza humana”.
17. Assim como os gêneros, as formas de
sexualidade masculina ou feminina aparecem
como parte da “natureza humana”, vinculadas
à reprodução, num contexto em que as
homossexualidades, as lesbianidades, as
bissexualidades e as travestilidades, são
considerados desvios.
18. A organização escolar que tem predominado
insiste em não permitir às crianças e jovens a
plena vivência de suas pluralidades de saberes,
sua diversidade de raça/etnia, de gênero, de
livre orientação e expressão sexual, de classe,
de religião, de sentimentos, desejos e fantasias.
19. educar é trabalhar no desenvolvimento e
emancipação das pessoas, o que sem dúvida
não se trata de pessoas isoladas, mas inseridas
numa rede de fatores que produzem
significações múltiplas e complexas. Assim,
cada pessoa está inserida num espaço e num
tempo, num momento da história, que convive
com um grupo próximo, e que se relaciona com
grupos mais amplos e com toda a sociedade
(Silvana Conti, 2007, p. 41).
20. A Educação, a Escola, as Educadoras e
Educadores, enfim, todas as pessoas envolvidas
no processo educativo, devem refletir sobre
sua prática, a fim de avaliar o quanto seu
trabalho também reforça estes padrões sociais.
A Cultura escolar está longe de ser neutra, pois
reflete o modo como as relações sociais de
gênero / etnia são produzidas e configuradas
socialmente.
21. Enquanto não tratarmos as pessoas
diferentes, de maneira diferente, fingiremos
que ensinamos e as pessoas fingirão que
aprendem.
22. Uma educação antidiscriminatória e
inclusiva não apenas combate formas racistas,
sexistas e preconceituosas, ou se tocaia em
tolerâncias, mas investe em aprender, interagir,
dialogar com os outros, enriquecendo o
conceito de identidade para além das
diferenças. (Gênero e Raça: Desafios à Escola - Mary Garcia Castro)
23. Referências Bibliográficas
CASTRO, M.G., Gênero e Raça: desafios à escola. In:
SANTANA, M.O. (Org) Lei 10.639/03 – educação das relações
étnicoraciais e para o ensino da história e cultura afro-brasileira
e africana na educação fundamental. Pasta de Texto da
Professora e do Professor. Salvador: Prefeitura Municipal de
Salvador, 2005.
CONTI, Silvana B. Educação e lesbianidades:
educando para a diversidade. In: PASINI, Elisiane (org.).
Educando para a diversidade. Porto Alegre: Nuances, 2007.
24. “Enquanto permanecemos hipnotizados pela
miragem do insolúvel,deixamos de resolver
aquilo cuja solução depende da nossa vontade
e iniciativa”
Jurandir Freire Costa