O documento analisa a história da liderança feminina nas igrejas evangélicas, mostrando como as mulheres conquistaram mais espaço no século XVII, mas ainda enfrentam limites devido à tradição patriarcal. Discute também a visão teológica sobre as diferenças de gênero e a importância das mulheres nos movimentos de avivamento religioso.
Gênero e Religião,Poder e Identidade a Liderança Feminina na Igreja Evangelica
1. GÊNERO E RELIGIÃO, PODER E IDENTIDADE: A LIDERANÇA DA
MULHER NA IGREJA EVANGELICA
Miguel Ângelo Câmara Braga
Resumo
Trata-se de uma analise histórica das práticas relacionadas ao ministério feminino e
a sua liderança dentro das igrejas evangélicas, apontando a construção de uma
imagem mais positiva e afirmativa das mulheres, bem como os limites dessa
redefinição da identidade do gênero feminino no universo do protestantismo.
Palavras- chave: Gênero, Religião,Poder, Identidade.
Introdução
Trabalhar a relação das mulheres com as religiões e destas com as mulheres
é está sobre num campo minado, onde o discurso masculino continua fundamentado
desde o inicio sobre a base patriarcalista. Na verdade, as religiões são um campo de
investimento masculino. Historicamente, os homens dominam a produção do que é
'sagrado' nas diversas sociedades. Discursos e práticas religiosas têm a marca
dessa dominação. Normas, regras, doutrinas são definidas por homens em
praticamente todas as religiões conhecidas. Embora hoje a sua presença seja
marcante na liderança as mulheres continuam ausentes dos espaços definidores
das crenças e das políticas pastorais e organizacionais das instituições religiosas. O
investimento da população feminina nas religiões dá-se no campo da prática
religiosa, nos rituais, na transmissão, como guardiãs da memória do grupo religioso.
Portanto, a discussão do gênero e a religião se estendem por todas as instituições
religiosas no ocidente.
História da presença feminina nas instituições religiosas do Ocidente
Entre as religiões e as mulheres, as relações têm sido sempre, ambivalentes
e paradoxais. Isso porque as religiões são, ao mesmo tempo, poder sobre as
mulheres e poder das mulheres.
Poder sobre as mulheres: as grandes religiões monoteístas fizeram da
diferença dos sexos e da desigualdade de valor entre eles um de seus fundamentos.
A hierarquia do masculino e do feminino lhes parece da ordem de uma natureza
criada por Deus. Isso é verdade para os grandes livros fundadores – a Bíblia, o
Corão – e, mais ainda, para as interpretações dos teólogos e conservadores.
Os dois sexos, masculino e feminino, pertencem ao padrão da criação à
natureza de Deus. Homens e mulheres trazem em si, igualmente, a imagem de
Deus, e, em conseqüência, a dignidade deles é igual, a natureza complementar dos
dois sexos visa à cooperação enriquecedora, não só na procriação e na vida
2. familiar, mas também nas amplas atividades da vida e em comunhão com toda
comunidade.
Quanto aos gêneros homem e a mulher e a natureza de Deus, Grenz (1998,
p. 186) escreve:
Em vista os seres humanos refletirem a natureza de Deus
mediante a comunhão, cada pessoa participa da imagem de
Deus apenas no contexto da vida em comunidade. Só na
comunhão com os outros podemos mostrar como Deus é, pois,
Deus é a comunhão com os outros a relação eterna o Pai, o
Filho e o Espírito Santo. Em resumo, a criação da humanidade
à imagem divina significa que os seres humanos - homens e
mulheres – devem refletir a dinâmica relacional do Deus cuja
representação somos chamados a ser. A natureza social da
nossa criação á imagem divina emerge a esfera das relações
dos gêneros. A imago Dei inclui o homem em comunhão com a
mulher. Como notamos, homens e mulheres são diferentes no
processo reprodutivo. As diferenças estão até nas maneiras
básica em que vemos a nós mesmos e ao mundo. Homens e
mulheres pensam de forma diferente; abordam o mundo de
forma diferente. Essas perspectivas fundalmentamente
diversas com relação aos outros, à vida e ao mundo significam
que cada sexo precisa do outro a fim de cumprir as varias
dimensões da vida humana. Esta compreensão da imagem
divina constitui um forte fundamento para a participação dos
homens e mulheres em todas as áreas da Igreja.
No passado, a discussão sobre o lugar das mulheres nas Igrejas concentrou-se
em grande parte na extensão em que o domínio masculino impedia a liderança
feminina. Em épocas mais recentes, porém, certos historiadores têm levantado uma
pergunta mais difícil. Eles não só querem saber por que os homens dominaram
tradicionalmente a vida da Igreja, mas também por que as mulheres reapareceram
repentinamente na liderança. Segundo (Grenz 2006, p.40):
O fluxo e refluxo da participação na liderança não flutuam
simplesmente de acordo com as mudanças na exegese bíblica
ou da interpretação predominante de determinadas passagens
da Escritura. Pelo contrario, o padrão também pode ser traçado
em relação à institucionalização da igreja (o desenvolvimento
de estruturas organizacionais), às influencias da cultura
circunjacente e da teologia da liderança operante na Igreja.
Assim sendo, os movimentos de renovação inicialmente abre a
porta para maior envolvimento feminino, apenas para fechá-la á
medida que se tornam subseqüentemente institucionalizados e
buscam a responsabilidade na cultura mais ampla [...] Maria L.
Boccia descreve esse padrão, que se repete sempre na historia
da Igreja: Quando a liderança envolvia a escolha carismática
de lideres, da parte de Deus, mediante a dádiva do Espírito
Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a
liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se
infiltra na igreja e as mulheres são excluídas [...]
A presença das mulheres na Igreja é refletida pelo reavivamento e a
restauração onde faz desaparecer a diferença entre os gêneros masculinos e
femininos. No século XVII houve dois grupos reformadores radicais que deram
3. oportunidades especiais às mulheres para que ministrassem: os batistas1 e os
quakers2. Houve mulheres que pregavam entre os batistas na Holanda, na Inglaterra
e em Massachusetts nos Estados Unidos. Sendo assim, uma congregação londrina
tinha cultos especiais em que as mulheres pregavam, as quais, às vezes, atraiam
multidões de mais de mil pessoas. As atividades das mulheres que serviam como
ministras, entre algumas facções de crentes do século dezessete, induziram à
publicação do primeiro livro em inglês em defesa da participação feminina no
ministério cristão. Este livro foi escrito por Margaret Felle onde declarava que as
mulheres têm o direito de participar de todos os aspectos da vida cristã, porque o
Espírito Santo dá poder tanto a homens como as mulheres. Fazer objeção ao
ministério feminino é desprezar o ensino do Apostolo Paulo de que: “Não pode haver
judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos
vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28)3.
De fato, nenhuma das diferenças entre os seres humanos confere vantagens
no que se refere à Salvação. Paulo não elimina tais distinções, como a diferença
entre homem e mulher, mas mostra que elas não conferem status preferencial em
termos da nossa união com Cristo.
Algumas das mulheres lideres do movimento quaker eram encorajadas pelo
ensino de pessoas como Margaret Feel. Foram capazes de partir para o trabalho
missionário, saindo da Inglaterra para lugares como Estados Unidos e Turquia. Uma
das primeiras a chegar às colônias foi Elizabeth Hooten que fez duas viagens
missionárias à nova Inglaterra após ter completado 60 anos de idade. Os puritanos
eram contrários aos trabalhos dos quakers, eles perseguiam a Sra. Elizabeth Hooten
de maneira desumana, com prisão, fome, pancadas, exílio no deserto. As principais
Igrejas protestantes do século dezessete permaneceram inflexíveis na oposição ao
ministério feminino, a maior parte foi obrigada pela controvérsia que se levantaram
durante a Reforma, a definir seus credos doutrinários de modo mais preciso.
E criaram seus sistemas doutrinários copiando assertivas relacionadas à
filosofia de Aristóteles.
Tal fato produziu uma era conhecida pela Ortodoxia. Embora que havia
crentes que viviam em total devoção a Cristo, muitas pessoas sentiam-se
desencorajadas pelo que consideravam ortodoxia morta, que enfatizava a doutrina
correta às expensas de uma fé cristã vital. Todos que reagissem à ênfase da
posição oficial das Igrejas eram chamados de pietistas4.
1 A história academicamente aceita sobre a origem das Igrejas Batistas é a sua incepção como um
grupo de dissidentes ingleses no século XVII. A primeira igreja batista nasceu quando grupo de
refugiados ingleses que foram para a Holanda em busca da liberdade religiosa em 1608, liderados
por John Smyth, um clérigo e Thomas Helwys, um advogado, organizaram em Amsterdã, em 1609
uma igreja de doutrinas batistas. Disponivel em: www.pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_batista.
2Quaker é o nome dado a um membro de um grupo religioso de tradição protestante, chamado
Sociedade Religiosa dos Amigos (Religious Society of Friends). Criada em 1652, pelo inglês George
Fox, a Sociedade dos Amigos reagiu contra os abusos da Igreja Anglicana, colocando-se sob a
inspiração directa do Espírito Santo. Os membros desta sociedade, ridicularizados com o nome de
quakers, ou tremedores, rejeitam qualquer organização clerical, para viver no recolhimento, na pureza
moral e na prática activa do pacifismo, da solidariedade e da filantropia. Perseguídos na Inglaterra por
Carlos II, os quakers emigraram em massa para a América, onde, em 1681, criaram sob a égide de
William Penn a colónia da Pensilvânia. Em 1947, os comités ingleses e americanos do Auxílio Quaker
Internacional receberam o Prêmio Nobel da Paz. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/quaker.
3 Bíblia de Estudo Genebra. Galatas 3:28. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 1999. p. 130
4. Este movimento orientava os crentes que vivem Cristo no íntimo, em vez de
enfatizar o formalismo doutrinário. Originou-se na Alemanha, com o trabalho de
Phillipp Jakob Spene e August Francke, essa renovação da fé cristã que
proporcionou abertura para as mulheres, as quais tinham novas oportunidades em
posições de liderança. O pietismo exerceu grande influencia nos Estados Unidos,
onde se tornou responsável em parte pelo Grande Despertamento. Esse
reavivamento iniciou-se nas Igrejas reformadas da Holanda, espalhou-se para outros
grupos, como os congregacionais, na Nova Inglaterra, onde produziu o pregador
mais famoso da época, Jonathan Edwards. Foi um reavivamento que levou as
pessoas à conversão em massa, mediante a pregação evangelista.
As mulheres desempenharam um papel de extrema importância nesse
movimento porque os reavivalistas enfatizavam a necessidade de uma experiência
pessoal com Deus. Todos os crentes, inclusive as mulheres, quantos houvessem
nascido de novo pela fé em Cristo, deviam testemunhar aos incrédulos. Muitos
acreditavam que esse reavivamento era um sinal dos tempos e aqueles
acontecimentos extraordinários constituíam a regra, o que incluía a aceitação de
mulheres pregadoras. Uma das mulheres a quem se deu à oportunidade de exercer
a liderança durante o Grande Avivamento foi Sarah Osborn.
O despertar evangélico do século dezoito foi seguido de outro, semelhante,
na primeira metade do século dezenove. Muitas pessoas estimaram que dois terços
dos convertidos durante esse segundo processo de conversão eram constituídos por
pessoas com idade inferior a trinta anos. Talvez por causa de maneira muito
pronunciada, a era das pregadoras. Esta nova oportunidade para as mulheres
tornou-se mais evidente nos países de língua inglesa, de modo especial nos
Estados Unidos.
Esta nova ênfase no papel das mulheres produziu outros efeitos como à
extensão das oportunidades educacionais as mulheres acima do grau elementar, de
tal modo que elas poderiam ser mais eficientes na educação de seus filhos e na
supervisão do lar. À medida que as mulheres iam obtendo mais cultura, liam a Bíblia
e descobriam uma mensagem de justiça e de libertação. Então, começaram a sentir
que Deus lhes havia dado talentos de liderança e de comunicação verbal, os quais
elas poderiam utilizar em numerosas causas cristãs que iam além da acanhada
esfera domestica. Percebe-se que o discurso teológico, quanto às diferenças entre
ser homem ou ser mulher do ponto de vista da liderança, assume duas vertentes.
Uma que confirma haver diferença, e mais uma vez se sustentando nas
explicações naturais, em que o homem é quem naturalmente domina, decide e por
4 Pietismo foi um movimento surgido no final do século XVII durante o Luteranismo, como oposição à
ortodoxia luterana para com a dimensão pessoal da religião. Foi importante na influencia do
protestantismo e do Anabatismo. O Pietismo combinava com o luteranismo do tempo da reforma
(como o Calvinismo) e o Puritanismo, enfatizando a piedade do individuo e uma vigorosa vida cristã.
A origem do Pietismo é atribuída a Philipp Jakob Spener. Nascido em Rappoltsweiler em Alsace na
data de 13 de janeiro de 1635, treinado por uma madrinha devota que se utilizava de livros de
devoção como "Arndt's True Christianity", Spener foi convencido da necessidade de uma reforma
moral e religiosa no Luteranismo germânico. Ele estudou teologia em Strasbourg, onde os
professores da época (especialmente Sebastian Schmidt) tinham inclinação para o "Cristianismo
prático" ao invés da disputa teológica. Ele posteriormente passou um ano em Genova, e foi
poderosamente influenciado pela rígida disciplina eclesiástica e pela vida moral estrita prevalente lá, e
também pela pregação e piedade do professor Antoine Leger e dos pregador jesuíta convertido Jean
de Labadie. br.geocities.com/momentoscomjesuscifras/textos/pietismo.htm
5. isso deve ter cargos de chefia. Esses pré-requisitos garantem-lhe cargos de
liderança, uma vez que é mais racional e objetivo. E em contrapartida, tomam a
mulher como submissa, dependente, mais indicada, devido às suas habilidades
naturais, para tarefas operacionais, o que lhe confere uma participação mais tímida
dentro do ministério pastoral e da sociedade. Mas a mulher tem se revelado como
autora da sua própria historia redefinindo a sua feminilidade.
Quanto à nova definição da feminilidade da mulher Clouse (1996, p.20)
escreve:
Outro resultado dessa nova definição de feminilidade foi um
senso de valor próprio e o desejo de fazer algo que ajudasse a
formar a sociedade. Se a asserção de que as mulheres eram
moral e espiritualmente superiores aos homens fosse correta,
por que então, deveriam elas ser excluídas da liderança dom
mundo? Tal atitude levou as mulheres a fundar sociedade
missionária, a fim de divulgar o evangelho, e instituições
beneméritas que cuidassem dos doentes e pobres.
No século XIX, as mulheres foram induzidas a pregar mediante a ação,
ao trabalhar em movimentos que visavam reformas sociais, enquanto outras se
envolveram no ministério, através dos canais normais das organizações
eclesiásticas. Algumas mulheres bem conhecidas dessa época foram Phoebe
Palmer (1807-74), Catherine Booth (1829-90) e Hannah Whitehall Smith (1832-
1911).
No século XX, o crescimento do movimento pentecostal resultou em papéis
mais proeminentes para as mulheres, no ministério, visto elas ganharem espaço na
evangelização e na área acadêmica. Entretanto, o mesmo processo que causara o
declínio da liderança feminina entre os grupos sectários, no século dezenove,
repetiu-se entre os grupos carismático posterior. Entretanto, por essa altura, as
Igrejas cristãs tradicionais – como a Metodista, a Luterana e a Episcopal –
começavam a ordenar pastoras.
Poder matriarcal: mulheres ministras e pastoras
Elas estão tomando o poder. Coincidência ou não, o século XXI, aos poucos,
surpreende mundo afora à participação efetiva da mulher na sociedade, seja no
espaço do trabalho, política e religião, deixando uma pergunta no ar: as mulheres
estão tomando o poder? Discretamente - e com muita competência - uma nova
geração de mulheres está chegando ao poder em sociedades nas quais isso era
impensável até pouco tempo atrás.
Estudos recentes sobre a distribuição de autoridade no interior das Igrejas
revelam a tendência de revisão dos constrangimentos à participação das mulheres
na direção das comunidades pentecostais, destacando o crescimento do número de
denominações com pastorado feminino e a multiplicação das igrejas fundadas por
mulheres. Nesse sentido, cabe esclarecer que, embora a história do protestantismo
indique a implementação do sacerdócio feminino no território brasileiro pela igreja
6. pentecostal Evangelho Quadrangular em meados 5dos anos 1950, o impacto dessa
iniciativa foi, entretanto, reduzido até os anos 90 do século passado, com
pouquíssimas igrejas evangélicas adotando o pastorado feminino. Foi também nesta
última década que surgiram novas estruturas eclesiásticas lideradas por mulheres.
Ainda que fortemente associada à expansão neopentecostal, a tendência de
revisão do sistema de autoridade não está circunscrita ao segmento mais novo da
tradição evangélica. Movimentos em favor da consagração de mulheres já podem
ser percebidos tanto na Assembléia de Deus, uma das mais tradicionalistas e
sexistas denominações do pentecostalismo clássico, quanto na comunidade Batista,
que é a maior e mais popular igreja do protestantismo histórico em nosso país. Além
disso, é importante deixar claro que nem sempre as mudanças nas hierarquias
eclesiásticas resultam das reivindicações e da pressão das mulheres que as
integram. Fatores de outra natureza, como por exemplo, o acirramento da
competição religiosa e o reduzido número de homens para o sacerdócio podem
favorecer a adoção do pastorado feminino em algumas igrejas. Assim, torna-se
imprescindível o exame dos critérios e dos mecanismos mais comuns de ascensão
das mulheres para se avaliar o impacto das propostas feministas de maior eqüidade
entre os gêneros nas agremiações pentecostais.
Em se tratando de um fenômeno recente, a consagração de mulheres ao
sacerdócio ainda necessita de uma pesquisa mais ampla e comparativa envolvendo
as diversas denominações religiosas. Entretanto, as primeiras análises sobre o tema
sugerem uma forte associação entre o sacerdócio feminino e o laço matrimonial,
uma vez que a maioria das pastoras é casada com homens que ocupam cargos
hierárquicos iguais ou superiores em suas denominações. As trajetórias de algumas
das mais expressivas lideranças pentecostais revelam a importância dos vínculos
domésticos e o papel decisivo dos homens no processo de ascensão das mulheres
nas hierarquias religiosas. Restaria analisar os artifícios desenvolvidos pelos
dirigentes do sexo masculino para garantir o controle sobre a atuação feminina no
púlpito.
As mais importantes estratégias já identificadas nas igrejas que abandonaram
a interdição das mulheres nos espaços de poder foram: a revisão na forma de
conceber o ministério, que passou a ser um compromisso do casal, e a adoção nos
rituais da “pregação de sermões em parcerias”. Atrelar a consagração das mulheres
à concepção do ministério
Portanto, um grande questionamento tem ocupado o centro de debate entre
protestantes ao redor do mundo, em décadas recentes nos Estados Unidos e
Europa, que é a ordenação das mulheres como pastoras e diaconisas, assunto este
que tem dividido opiniões entre igrejas e denominações. Entre evangélicos existem,
de forma muito geral, duas posições básicas quanto ao assunto: os igualitaristas
afirmam que Deus criou o homem e a mulher iguais: a subordinação feminina foi
parte do castigo divino por causa da queda, com conseqüentes reflexos sócio-culturais.
As mulheres têm direitos iguais aos homens de ocupar qualquer cargo de
oficialato na Igreja. Os complementaristas entendem que desde a criação – e,
portanto antes da queda Deus estabeleceu papeis distintos para o homem e a
5 Entre as históricas se destacam a Igreja Metodista e a Luterana. No pentecostalismo podem
ser mencionadas: Universal; Internacional da Graça; Cristo Vive; Renascer; Cristo é Vida; Sara
Nossa Terra; Igreja Cristã Ebenézer; Comunidade da Zona Sul; Aliança com Deus; Nacional do
Senhor Jesus Cristo; e Cruzada Missionária. As três últimas foram fundadas por mulheres.
www.scielo.br/scielo Revista Estudos Feministas - Gênero e religião .
7. mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes, no entanto defendem a não
ordenação da mulher ao oficialato eclesiástico, a questão está sendo discutida em
termos teológicos através da Bíblia.
O argumento teológico proposto pelos componentes da ordenação de
mulheres é extraído de uma compreensão especifica da natureza ministerial. Os
complementaristas declaram que os ministros ordenados exercem papeis que são
apenas prerrogativas de homem, embutindo este argumento numa teoria especifica
da Igreja (eclesiologia). O povo de Deus, em ultima analise, não pode separar as
mulheres para o ministério porque a Igreja é estruturada hierarquicamente. Os
homens oferecem a liderança às mulheres o apoio. Quando corretamente ordenada,
a estrutura da igreja reflete os papeis que os complementaristas encontram na
criação. Embora a questão das mulheres no ministério não esteja ligada ao cargo
ordenado, mais ligada a todo trabalho existente na comunidade, quebrando assim
todos os paradigmas encontrados entre argumentos teológicos. O ministério básico
do pastor é dirigido a uma congregação local, mas o cargo ordenado tem
ramificações para a comunidade ampliada.
Acima de tudo o pastor (a) desempenha o cargo ordenado fazendo o papel
visionário para o povo de Deus ao renovar, constantemente a sua visão do ideal
comunitário, o desígnio de Deus em direção ao qual o grupo local deve canalizar as
suas energias. A responsabilidade pastoral pode assumir um ministério mais formal,
tal como exercido por funcionários das associações cristãs, ministro de área,
capelães ou professores em faculdade de teologia. Esses papéis são extensões do
cargo pastoral e as mulheres têm desempenhado um papel pastoral muito
importante nesse sentido.
A ordenação para o cargo ministerial traz no seu contexto as tradições cristãs,
onde se reconhece a importância de separar lideres para servir a comunidade da fé.
Algumas tradições incorporam na vida da Igreja padrão específico para nomear
lideres. Esse processo de separação ou de escolha de lideres tem sido uma
característica central da vida da igreja durante a história do cristianismo. A
ordenação cristã foi introduzida por Jesus Cristo quando o mesmo nomeou doze
pessoas dentre seus discípulos para desempenhar um especifico na sua missão
(Mt. 3: 13-14).
Os documentos bíblicos fornecem precedentes históricos para a ordenação.
Podemos estar convencidos de que o ato da pratica da ordenação atende a uma
importante função no programa da igreja para expansão e evangelização na
comunidade assistida na historia do cristianismo. Como aconteceu no primeiro
século, o Espírito Santo continua agindo sobre a vida das pessoas, tocando-as a
exercer o ministério pastoral, como servos por opção, servindo a igreja conforme o
plano de Deus para história humana. A ordenação é um ato pelo qual a comunidade
reconhece e confirma a capacidade do homem ou mulher a exercer o ministério
pastoral na igreja como discípulos de Cristo, a fim de cumprirem os propósitos de
Deus no mundo. A ordenação é a confirmação de um chamado pessoal não se
limitando somente ao homem mais também a mulher.
Saberes e relação de poder do gênero feminino na (s) Igreja (s)
8. Conhecer o universo feminino no campo da religiosidade, utilizando as fontes
como imagem e discurso para formar esta discussão de agentes construtores da
própria História. Macedo (1990) ao descrever sobre a construção do gênero nos
alerta "ver o invisível é necessário olhar com mais cautela, desconfiando do que
está em cena" e assim resgatar esse processo neste momento torna-se de suma
importância para a formação de novos conceitos. A situação da mulher ao longo da
história sempre foi uma posição de submissão, portanto precisamos fazer uma
releitura desta historiografia, ou seja, desconstruir este discurso e construí-lo numa
visão não somente do homem ou daquele que foi vencedor, Bidegain (1996, p 14),
assinala:
Não é preciso esforço algum para se perceber a invisibilidade
das mulheres na historiografia acadêmica tradicional, das
mulheres de todas as classes sociais e grupos étnicos,
justificando a exclusão sofrida por estes seres humanos, de
todas as decisões que configuram a orientação da vida
econômica, política e cultural.
Para escrever a história, são necessárias fontes, documentos e vestígios e
tendo tantos agentes sociais contraditórios, as mulheres têm desafiado toda a lógica
escrevendo a sua própria historia, dedicando horas e horas, anos e anos de suas
vidas para as instituições, associações e organizações e para suas famílias. Ciente
que o universo feminino muito embora faça parte de uma grande e poderosa
organização, ou seja, o poder consciente ou não de passar aos seus filhos os
conhecimentos, narrativas, como também determinar o ensino, elas ainda são
impedidas de atuar na sociedade, igrejas, quanto nas associações.
Exemplificando: nos dias atuais à atuação das mulheres em cargos iguais aos
dos homens com salários mais baixos. A situação da mulher ao longo da história
sempre foi uma posição subalterna, incluindo sua entrada na estrutura religiosa, por
meio dos conventos, mas sempre na subordinação de um bispo.
Segundo Bidegain (1996 p 14):
Muito embora no Ocidente a história como disciplina tenha
suas raízes na Grécia clássica, este tem sido um discurso que
foi reelaborado de acordo com as perguntas, concepções do
mundo, interesses e necessidades das comunidades em
diferentes períodos históricos. Entretanto, sempre foi traço
marcante a preocupação em escrever a história a partir da
perspectiva dos que tiveram o poder, seja este econômico,
político, cultural, do qual as mulheres, de modo geral, têm sido
excluídas até este século.
As mulheres estão mais participativas nas atividades sociais e profissionais,
dedicam-se, anos e anos de suas vidas para as instituições, por uma causa que elas
acreditam como as Missionárias, que já no início do século XIX deixavam seus
países em geral à Inglaterra e se viam aventurar num país tropical, considerado
"selvagem", enfrentando todo tipo de preconceitos e evidentemente de doenças
terríveis, muitas sem cura, sem remédios dependendo tão somente de sua crença e
fé. Mesmo com todo o "avanço" intelectual, tecnológico o discurso feminino vem
mostrando ao longo dos anos às transformações nos padrões de comportamento e
nos valores relativos ao papel social da mulher. Um dado interessante consiste no
fato das mulheres procurarem as instituições religiosas mais tradicionais para que
9. essas possam lhes auxiliar na melhor conduta de seus cônjuges e afirmação na
sociedade. Bidegain (1996, p. 102-103) afirma:
As mulheres protestantes valorizam estas igrejas (pesquisa
realizada no México) por que as ajudam a reformar os seus
maridos e porque recuperam parte de seus salários que talvez
fossem investidos nos "vícios". Não tem preocupação acerca
de se seus esposos voltarão ou não para casa depois do
trabalho ou se deixarão parte de seus salários nos botequins e
bordéis.
Sendo assim, a religiosidade se apresenta como aliada da mulher, ou
protegendo o seu espaço e a apoiando na melhoria de suas relações. As atividades
religiosas libertam as mulheres do claustro doméstico, sentindo o amparo dos
membros dessa comunidade religiosa, os homens em alguns casos acabam por
concordar com as regras e ritos mesmo não freqüentando "religiosamente" essas
igrejas ou instituições. O que reforça esse argumento é que as igrejas dispõem para
seus membros de farta literatura, visando o fortalecimento da relação conjugal,
quanto aos filhos, família, debate em reuniões e encontros, Segundo Bidegain (1996
p 104)
(a mulher) [...] Ao pertencer a uma igreja protestante, revaloriza
a si mesma através dos cargos ou posições adquiridas na
congregação religiosa, ou dos dons espirituais carismáticos. A
aquisição de uma identidade mais positiva de sua pessoa
permite-lhe confrontar-se e relacionar-se com os homens de
sua família a partir de uma posição mais eqüitativa.
Podemos ver que a revolução da mulher dos séculos XIX e XX surgiu a partir
do momento em que elas construíram seus espaços e estratégias de práticas
cidadãs: as mais ricas e nobres tinham certa influencia política na vida da cidade,
geralmente numa postura conivente com a política dos homens-chefe, e às vezes
em oposição a eles na defesa da vida de pessoas ameaçadas em sua dignidade. As
mulheres mais pobres e trabalhadoras exerciam sua influência nas cooperativas e
sindicatos chamados de mulheres na defesa da vida e de direitos de outras pessoas,
pois isso a liderança sempre existiu na vida das mulheres. E a sua identidade se
fortalece no seu nascedouro na segunda Guerra Mundial, quando os homens validos
partiram para as trincheiras e elas ficaram na retaguarda e dispostas a exercer o
ofício desses homens nas fabricas, nos escritórios, nas universidades. As mulheres
ocuparam com desenvoltura todos esses espaços, enfrentaram os desafios com
coragem de assumir responsabilidade até as exigidas pelo primeiro sexo. Rápidas
no aprendizado e estimuladas pela competição assumiram os mais sofisticados
ofícios, apesar do preconceito e da desconfiança exercida pela sociedade patriarcal,
tornando visível.
Mesmo com o avanço do aprendizado e conquistas homens e mulheres
sofrem (e produzem) diferentes formas de dominação e discriminação. As
desigualdades vividas no cotidiano da sociedade, no que se refere às relações de
gênero, não se definiram a partir do econômico, mas, especialmente a partir do
cultural e do social, formando daí as "representações sociais" sobre as funções da
mulher e do homem dentro dos variados espaços de convivência, ou seja: na
família, na escola, na igreja, na prática desportiva, nos movimentos sociais, enfim,
na vida em sociedade.
10. Portanto são as mulheres, no entanto, que se constituem,
predominantemente, no pólo subordinado na histórica relação entre os gêneros
masculinos e femininos. Elas vêm, entretanto, lutando e se afirmando como seres de
seu tempo, no próprio enfrentamento dos limites colocados à sua humanização.
Nesse movimento vão criando e recriando modos de ser, de dar sentido às suas
vidas e de produzir saberes.
O movimento feminista e a necessidade econômica têm colocado as
mulheres em todos os trabalhos tradicionalmente executados pelos homens,
ocupando o espaço publico de forma crescente e com muita competência.
Construção do espaço histórico do gênero feminino das mulheres ministras e
pastoras.
Fins do século XIX: as transformações que a partir da década de 1850
começaram, lenta e contraditoriamente, a se delinear nos horizontes, tornavam-se
mais profundas e definidas quanto à construção do espaço da mulher na sociedade.
As mulheres tecem a sua historia, conquistam com significativo sucesso os
seus direitos com uma temporalidade variável de acordo com os países de origem.
Após a Reforma Protestante elas (as mulheres) alcançam o direito ao saber,
não somente a educação, mas a instrução. Essa conquista se acompanha de um
imenso esforço de apropriação: leitura, escrita, acesso a instrução.
Elas conquistam também o direito ao trabalho, ao salário, aos ofícios e as
profissões, desempenhando bem, o seu papel. Segundo Perrot ( pg. 159, 2007 ):
O direito ao trabalho, ao salário, aos ofícios e ás profissões
comporta dimensões que são, ao mesmo tempo, econômicas,
jurídicas e simbólicas, com diferenças sociais evidentes. As
classes populares necessitam do salário das mulheres, mesmo
quando o consideram somente um trocado. A burguesia delega
o lazer, o otium aristocrático, a suas mulheres, vitrines do
sucesso e do luxo dos maridos.”Viver nobremente é viver sem
nada fazer”, dizia-se no Antigo Regime. O que não é mais
viável no capitalismo. As mulheres, pelo menos, guardarão
ainda esse perfume da corte, esse estilo de vida mudano que
cria a distinção. É por isso que seu eventual trabalho é
recriminado; ele é sentido como um desconforto, a marca da
decadência da família, uma vergonha social. As mulheres
dessa classe tiveram de se esgueirar no mercado de trabalho,
exclusivamente através dos serviços, ocupações adequadas á
feminilidade.
Portanto diante de uma conquista tão importante na vida das mulheres que foi
o seu ingresso a novas profissões, elas conquistam também os direitos civis e
políticos. Direitos que derivam da dignidade inerente à pessoa humana. Cultural e
historicamente a obtenção dos direitos civis constitui a base do sucesso do
Movimento de Mulheres, nas últimas duas décadas, resultante do desenvolvimento
social, cultural e legal que não pode ser observado entre os homens. A mulher,
casada ou que viva em união estável, da classe média ou da classe alta, que tem
bens a dividir, tem hoje uma situação patrimonial muito melhor do que no passado.
Quanto aos direitos políticos às mulheres conquistam igualdade de condições com
os homens, o direito de voto em todas as eleições, sem nenhuma restrição, como
também elas serão, em condições de igualdade com os homens, elegíveis para
11. todos os organismos públicos de eleição, constituídos em virtude da legislação
nacional, sem nenhuma restrição, conforme decreto nº 52.476, de 12 de setembro
de 1963.6
Enfim o protestantismo teve uma grande influencia nas conquistas das
mulheres, hoje se encontram mulheres líderes de igrejas (missionárias, ministras e
pastoras).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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latina - Petrópolis - RJ: Ed. Vozes, 1996.
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PERROT, Michelle. Minha historia de mulheres. São Paulo, Ed. Contexto, 2007.
THOMASSET, Claude. Da Natureza Feminina, IN: História das Mulheres no
Ocidente - Porto: PT: Ed. Afrontamento Ltda, 1990.
6 Decreto nº 52.476, de 12 de setembro de 1963 -Promulga a Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher,
adotado por ocasião da VII Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas.