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Vol.
I
A u g u s t u s H o p k i n s
STRONG
P r e f á c i o d e R u s se 11 S h e d d
AUGUSTUS
HOPKINS STRONG
Nasceu em Nova York
(Rochester), E.U.A., Em
1836. Homem de grande
vigor intelectual, literato,
filósofo e teólogo, Strong
cresceu e se formou dentro
da Igreja Batista. Tal perfil
se faz presente em sua obra,
não de forma limitante, mas
criativa eatenta às mudanças
que fervilhavam em sua
época “fin-de-siécle”. Sua
obra teológica, prezando a
reflexão teológicaqualificada
e aprofundada mais que a
quantidade, marcou toda
uma geração de estudantes
do início do século pas­
sado, inclusive no Brasil.
Dentre suas obras, desponta
a Systematic Theology, sua opus
magnum.
T E O L Q G I A
SISTEMATICA
A u g u s t u s H o p k i n s
STRONG
P r e f á c i o d e R u s s e l l S h e d d
A D outrina de D eus
Vol.
I
A
NAGNOS
Copyright © 2003 por Editora Hagnos
S u p erv isã o E d itorial
Luiz Henrique Alves cia Silva
Rogério cie Lima Campos
Silvestre M. c/e Lima
Silvia Cappelletti
T radu ção
Augusto Victorino
R evisão
Cláudio J. A. Rodrigues
D ig ita çã o de textos
Regina de Moura Nogueira
Capa
Rogério A. de Oliveira
L ayou t e A rte F in al
Comp System
D iagram ação
Pr. Regino da Silva Noqueira
Cícero J. da Silva
C oord en ad or de P rod u ção
M auro W. Terrengui
Ia edição - março 2003 - 3000 exemplares
Im p ressão e acab am en to
Imprensa da Fé
D ad os In tern a cio n a is de C ata lo g a çã o na P u b lica çã o (C IP )
(C âm ara B ra sileira do L ivro, SP, B rasil)
Strong, A ugustus Hopkins
Teologia sistem ática/ A ugustus Hopkins Strong ;
prefácio de Russell Shedd ; [tradução A ugusto Victorino].
- São Paulo : Hagnos, 2003.
Título original: Systematic theology
Conteúdo: V. 1. A doutrina de Deus
1. Batistas - D outrinas 2. Teologia doutrinai
I. Shedd, Russell. II. Título.
ISBN 85-89320-09-X
03-0919 CDD-230
ín d ices para catálogo sistem ático:
I. Teologia sistem ática : Religião 230
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA HAGNOS
Rua Belarm ino Cardoso de A ndrade, 108
São Paulo - SP - 04809-270 Tel/Fax: (x x ll) 5666 1969
e-m ail: hagnos@ hagnos.com .br-w w w .hagnos.com .br
PREFÁCIO
Foi uma grande surpresa saber que a Teologia Sistemática de Strong, aquela obra
monumental de pensamento teológico da minha juventude na Escola Graduada de
Wheaton, bem como no Seminário da Fé, estava sendo traduzida e editada em portu­
guês. Confesso que não tenho lido muito desta teologia, tão conhecida no mundo evan­
gélico durante mais de cem anos. Mas descobri que é uma vasta fonte de informação
teológica e bíblica. Não é necessário concordar com tudo que Strong escreveu para
aproveitar a impressionante coletânea de ensinamentos e textos que o incansável teólo­
go ajuntou. Augustus Strong foi eleito presidente e professor de Teologia Bíblica do
Seminário Teológico de Rochester no estado de Nova Iorque em 1872. Ocupou estes
dois cargos durante 40 anos, após pastorear a Primeira Igreja Batista de Cleveland,
estado de Ohio, por sete anos. Não abandonou o espírito pastoral na “torre de marfim”
do seminário.
A Teologia Sistemática de Strong (primeira edição, 1886) encontra o seu centro
em Cristo. Em suas palavras, “A pessoa de Cristo foi o fio da meada que segui; sua
divindade e sua expiação eram os dois focos da grande elipse” (citado por W. R. Estep,
Jr. na Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, ed. W. A. Elwell, Ed.Vida
Nova, 1990, Vol. III, p. 420).O leitor não precisa ler os dois volumes para perceber a
riqueza de apoio bíblico e teologia histórica. Entre os teólogos mais destacados dos
Batistas do Sul dos Estados Unidos, E. Y. Mullins e W. T. Conner receberam forte
influência de Strong Espero que o aparecimento desta Teologia Sistemática seja bem
recebido no Brasil. Deve ser um referencial para os que procuram uma âncora para sua
fé, mesmo que tenha sido escrita antes dos teólogos liberais tais como Paul Tillich e
Rudolf Bultmann.
A Deus toda a glória!
P r . D r . R u sse l l S hedd
José dos Reis
E-Books Digital
A gradecem os a WAGNER E D U AR D O D E
L IM A f p o r quem se viabilizou editar esta.
obra em língua portuguesa.
OS EDITORES
PREFÁCIO DO AUTOR
A presente obra é uma revisão e ampliação da minha Systematic Theology,
primeiramente publicada em 1886. Da obra original foram impressas sete edi­
ções, cada uma das quais incorporando sucessivas correções e supostos apri­
moramentos. Durante os vinte anos que mediaram entre a primeira publica­
ção, reuni muito material novo, que agora ofereço ao leitor. Meu ponto de
vista filosófico e crítico nesse período também sofreu alguma mudança. Con­
quanto ainda eu sustente as doutrinas antigas, interpreto-as diferentemente e
exponho-as com maior clareza, porque a mim me parece ter chegado a uma
verdade fundamental que lança novas luzes sobre todas elas. Esta verdade
tentei estabelecer em meu livro intitulado Christ in Creation, e delas faço refe­
rências ao leitor para mais informações.
Que Cristo é aquele único Revelador de Deus, na natureza, na humanida­
de, na história, na ciência, na Escritura, a meu juízo, a chave da teologia. Este
ponto de vista implica uma concepção monística e idealista do mundo, junta­
mente com uma idéia evolutiva quanto à sua origem e progresso. Mas é o
próprio antídoto do panteísmo que reconhece a evolução como único método
do Cristo transcendente e pessoal, que é tudo em todos e que faz o universo
teológico e moral a partir do centro da sua circunferência e desde o seu come­
ço até agora.
Nem a evolução, nem a alta crítica tem algo de aterrador para aquele que as
considera como parte do processo criador e educador da parte de Cristo. O mes­
mo Cristo em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conheci­
mento fornece todas as salvaguardas e limitações necessárias. Tão somente
porque Cristo tem sido esquecido é que a natureza e a lei tem sido personifica­
da, e a história tem sido considerada como um desenvolvimento sem propósi­
to, que se tem feito referência ao judaísmo como tendo uma origem simples­
mente humana, que se tem pensado que Paulo tirou a igreja do seu próprio
curso mesmo antes de iniciar o seu próprio curso, que a superstição e ilusão
vieram a parecer o único fundamento do sacrifício dos mártires e o triunfo das
missões modernas. De modo nenhum creio numa evolução irracional e ateísta
como esta. Contrariamente, creio naquele em quem consistem todas as coisas,
8 Augustas Hopkins Strong
que está com o seu povo até o fim do mundo e prometeu conduzi-lo em toda a
verdade.
A filosofia e a ciência são boas servas de Cristo, mas pobres guias quando
rejeitam o Filho de Deus. Quando chego ao meu septuagésimo ano de vida e,
no meu aniversário escrevo estas palavras, sou grato por aquela experiência
da união com Cristo que me capacitou a ver na ciência e na filosofia o ensino
do meu Senhor. Porém esta mesma experiência pessoal fez-me mais conscien­
te do ensino de Cristo na Escritura, e fez-me reconhecer em Paulo e João uma
verdade mais profunda do que a que foi descoberta por quaisquer escritores,
uma verdade com relação ao pecado e a sua expiação e que satisfaz os mais
profundos anseios da minha natureza e que por si mesma é evidente e divina.
Preocupam-me algumas tendências teológicas dos nossos dias, porque creio
que elas são falsas tanto na ciência como na religião. Como homens que se
sentem pecadores perdidos e que uma vez receberam o perdão do seu Senhor
e Salvador crucificado podem daí em diante rebaixar seus atributos, negar a
sua divindade e expiação, arrancar da sua fronte a coroa do milagre e sobera­
nia, relegá-lo ao lugar de um mestre simplesmente moral que nos influencia
apenas como o fez Sócrates com palavras proferidas através dos tempos, pas­
sa pela minha compreensão. Eis aqui o meu teste de ortodoxia: Dirigimos
nossas orações a Jesus? Invocamos o nome de Cristo como Estêvão e toda a
igreja primitiva? O nosso Senhor vivo é onipresente, onisciente, onipotente?
Ele é divino só no sentido em que nós também o somos, ou é ele o Filho
unigênito, Deus manifesto em carne, em quem habita corporalmente toda a
plenitude da divindade? Que pensais vós de Cristo? esta ainda é a pergunta
crítica, e a ninguém que, diante da evidência que ele nos forneceu, se não pode
responder corretamente, assiste o direito de chamar-se cristão.
Sob a influência de Ritschl e seu relativismo kantiano, muitos dos nossos
mestres e pregadores têm deslizado para negação prática da divindade de Cristo
e da sua expiação. Parece que estamos à beira do precipício de uma repetida
falha unitária, que esfacelará as igrejas e compelirá a cisões, de maneira pior
que a de Channing e Ware há um século. Os cristãos americanos se recupera­
ram daquele desastre somente ao afirmar vigorosamente a autoridade de Cris­
to e a inspiração das Escrituras. Necessitamos de uma visão do Salvador como
a que Paulo teve no caminho de Damasco e João na ilha de Patmos, para nos
convencermos de que Jesus está acima do espaço e do tempo, que a sua exis­
tência antedata a criação, que ele conduziu a marcha da história dos hebreus,
que ele nasceu de uma virgem, sofreu na cruz, levantou-se dentre os mortos, e
agora vive para sempre, é Senhor do universo, o único Deus com quem nos
relacionamos, nosso Salvador aqui e Juiz no futuro. Sem haver avivamento
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 9
nesta fé nossas igrejas se tomarão secularizadas, a missão morrerá, e o casti­
çal será removido do seu lugar como ocorreu às sete igrejas da Ásia e como
tem sido com as igrejas da Nova Inglaterra, que se apostataram.
Imprimo esta edição revista e ampliada da minha “Systematic Theology”,
na esperança de que a sua publicação possa fazer algo para refrear esta veloz
maré que avança, e confirmar a fé nos eleitos de Deus. Não tenho dúvida de
que os cristãos, em sua grande maioria, ainda mantêm a fé que, de uma vez por
todas foi entregue aos santos e que eles, cedo ou tarde, hão de separar-se
daqueles que negam o Senhor que os comprou. Quando o inimigo entra como
um dilúvio, o Espírito do Senhor levanta o estandarte contra ele. E preciso que
eu faça a minha parte levantando tal estandarte. E preciso que eu conduza
outros a reconhecer, como eu, a despeito das opiniões arrogantes da moderna
infidelidade, a minha firme crença, reforçada somente pela experiência e refle­
xão de meio século nas velhas doutrinas da santidade como atributo funda­
mental de Deus, de uma transgressão e pecado de toda a raça humana, na
preparação divina da história hebréia da redenção do homem, na divindade,
na preexistência, nascimento virginal, expiação vicária e ressurreição corpo­
ral do nosso Senhor Jesus Cristo, e na sua futura vinda para julgar os vivos e
os mortos. Eu creio que estas são verdades da ciência assim como da revela­
ção; que ainda se verá que o sobrenatural é mais verdadeiramente natural; e
que não o teólogo de mente aberta, mas o cientista de mente estreita será
obrigado a esconder a sua cabeça na vinda de Cristo.
O presente volume, ao tratar do Monismo Ético, da Inspiração, dos Atribu­
tos de Deus e da Trindade, contém um antídoto para a mais falsa doutrina que
agora ameaça a segurança da igreja. Desejo agora chamar especialmente a
atenção para o assunto Perfeição e os Atributos por ela envolvidos, porque eu
creio que a recente fusão da Santidade com o Amor e a negação prática de que
essa Retidão é fundamental na natureza de Deus são responsáveis pelos pon­
tos de vista utilitários da lei e os pontos de vista superficiais sobre o pecado
que agora prevalecem em alguns sistemas de teologia. Não pode haver nenhu­
ma apropriada doutrina da retribuição, quando se recusa a sua preeminência.
O amor deve ter uma norma ou padrão, e isto só pode ser encontrado na San­
tidade. A velha convicção do pecado e do senso de culpa que conduz o peca­
dor convicto à cruz são inseparáveis de uma firme crença no atributo de Deus
logicamente auto-afirmante, anterior ao auto-comunicante e condicionado a
ele. A teologia da nossa época carece de um novo ponto de vista sobre o Justo.
Tal ponto de vista esclarecerá que deve haver uma reconciliação com Deus
antes que o homem seja salvo, e que a consciência humana seja apaziguada só
na condição de que se faça uma propiciação à Justiça divina. Neste volume eu
10 Augnstus Hopkins Strong
proponho o que considero a verdadeira Doutrina de Deus, porque nela deve
basear-se tudo o que se segue nos volumes sobre a Doutrina do Homem e a da
Salvação.
A presença universal de Cristo, luz que ilumina a todo homem tanto em
terras pagãs como cristãs, para dirigir ou governar todos os movimentos da
mente humana, dá-me a confiança de que os recentes ataques à fé cristã fra­
cassarão no seu propósito. Torna-se evidente, por fim, que não só atacam-se
as obras primorosas, mas até mesmo a cidadela. Pede-se que se abandone toda
a crença na revelação especial. Dizem que Jesus Cristo veio em carne exata­
mente como qualquer um de nós, e ele era antes de Abraão senão só no mesmo
sentido que nós somos. A experiência cristã sabe como caraterizar tal doutrina
tão logo se estabelece de um modo claro. E a nova teologia entrará em voga
possibilitando que até mesmo crentes comuns reconheçam a heresia destrui-
dora de almas mesmo sob a máscara de professa ortodoxia.
Não faço apologia alguma do elemento homilético do meu livro. Para ser
verdadeira ou útil, a teologia deve ser uma paixão. Pectus est quocl teologum
facit, e nenhum zombador que apregoa a “Teologia Peitoral” rae impedirá de
sustentar que os olhos do coração devem ser iluminados para perceber a ver­
dade de Deus e qiie, para conhecer a verdade, é necessário praticá-la. A teolo­
gia é uma ciência cujo cultivo pode ser bem sucedido somente em conexão
com sua aplicação prática. Por isso, em cada discussão dos seus princípios
devo assinalar suas relações com a experiência cristã, e a sua força para des­
pertar emoções cristãs e levar a decisões cristãs. Teologia abstrata, na verda­
de, não é científica. Só é científica a teologia que traz o estudioso aos pés de
Cristo. Eu anseio pelo dia em que, em nome de Jesus, todo joelho se dobre.
Creio que, se cada um servir a Cristo, o Pai o honrará, e ele honrará o Pai. Eu mes­
mo não me orgulharia de crer tão pouco, mas sim de crer muito. Fé é a medida
com que Deus avalia o homem. Por que haveria de duvidar que Deus falou aos
pais pelos profetas? Por que haveria de pensar que é incrível Deus ressuscitar
os mortos? O que é impossível aos homens é possível a Deus. Quando o Filho
do homem vier, porventura achará fé na terra? Queira Deus que encontre fé
em nós, que professamos ser seus seguidores. Na convicção de que as trevas
presentes são apenas temporárias e que serão banidas por um glorioso alvore­
cer, ofereço ao público esta nova edição da minha “Teologia” rogando a Deus
para que qualquer que seja a boa semente que frutifique e qualquer que seja a
planta que o Pai não plantou que seja arrancada.
ROCHESTER THEOLOGICAL SEMINARY
ROCHESTER, N. Y„ 3 de agosto de 1906.
SUMÁRIO
Parte I - PROLEGÔMENOS
Capítulo I - IDÉIA DE TEOLOGIA...........................................................................21
I. Definição de Teologia................................................................................................21
II. Alvo da Teologia....................................................................................................... 22
III. Possibilidade da Teologia........................................................................................23
1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo..........................23
2. Na capacidade humana de conhecer Deus........................................................ 26
3. Na revelação do próprio D eus............................................................................ 35
IV. Necessidade da Teologia......................................................................................... 41
1. No instinto organizador da mente humana....................................................... 41
2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter........42
3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã
para o pregador ........................................................................................................43
4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder
da igreja.....................................................................................................................44
5. Nas injunções diretase indiretas da Escritura......................................................45
V. Relação da Teologia com a Religião......................................................................... 46
1. Derivação...................................................................................................................46
2. Falsas Concepções................................................................................................... 47
3. Idéia Essencial..........................................................................................................49
4. Inferências ................................................................................................................ 50
Capítulo II - MATERIAL DA TEOLOGIA.................................................................53
I. Fontes da Teologia........................................................................................................53
1. A Escritura e a natureza........................................................................................54
2. A Escritura e o Racionalismo .............................................................................. 59
3. A Escritura e o Misticismo....................................................................................61
4. A Escritura e o Romanismo................................................................................. 64
II. Limitações da Teologia................................................................................................66
1. Na finitude do entendimento humano.................................................................. 66
2. No estado imperfeito da ciência natural e metafísica........................................ 67
3. Na inadequação da língua...................................................................................... 67
4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras........................................... 68
5. No silêncio da revelação escrita........................................................................... 68
6. Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado............................... 69
. 69
. 69
. 70
. 72
. 72
. 72
. 73
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12 Augiistiis Hopkins Strong
III. Relações do Material com o Progresso da Teologia....................................
1. É impossível um sistema perfeito de teologia.........................................
2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva...........................................
Capítulo III - MÉTODO DA TEOLOGIA........................................................
I. Requisitos para o Estudo da Teologia............................................................
1. Uma mente disciplinada...............................................................................
2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico.
3. Conhecimento das ciências física, mental e m oral..................................
4. Conhecimento das línguas originais da Bíblia.........................................
5. Afeição santa para com Deus......................................................................
6. A influência iluminadora do Espírito Santo ............................................
II. Divisões da Teologia........................................................................................
III. História da Teologia Sistemática.....................................................................
IV. Ordem de Tratamento na Teologia Sistemática............................................
1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico....
2. O método sintético.......................................................................................
Parte II - A EXISTÊNCIA DE DEUS
Capítulo I - ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS .,
I. Primeiras Verdades em G eral..........................................................................
1. Sua natureza..................................................................................................
2. Seus critérios.................................................................................................
II. A Existência de Deus, uma Primeira Verdade...............................................
III. Outras Supostas Fontes da Nossa Idéia..........................................................
IV. Conteúdo desta Intuição...................................................................................
Capítulo II - EVIDÊNCIAS CORROBORATIVAS DA EXISTÊNCIA DE
DEUS..................................................................................................................
I. Argumento Cosmológico..................................................................................
1. Defeitos do Argumento Cosmológico.......................................................
II. Argumento Teleológico....................................................................................
1. Mais explicações..........................................................................................
2. Defeitos do Argumento Teleológico..........................................................
III. Argumento Antropológico...............................................................................
IV. Argumento Ontológico.....................................................................................
1. De Samuel Clarke .......................................................................................
2. De Descartes .................................................................................................
3. De Anselmo...................................................................................................
Capítulo III - EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CONCLUSÃO...................
I. Materialismo......................................................................................................
II. Idealismo Materialista......................................................................................
III.Panteísmo Idealista............................................................................................
IV. Monismo Ético.................................................................................
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 13
Parte III - AS ESCRITURAS, UMA REVELAÇÃO
DA PARTE DE DEUS
Capítulo I - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.............................................. 175
I. Razões a Priorí para Esperar uma Revelação da Parte de D eus..........................175
1. Necessidades da natureza do homem................................................................ 175
2. Pressuposição de um suprimento....................................................................... 177
II. As Marcas da Revelação que o Homem pode Esperar....................................... 179
1. Quanto à sua substância..................................................................................... 179
2. Quanto ao seu método......................................................................................... 180
3. Quanto à sua certificação.................................................................................... 183
III. Os Milagres, um Atestado da Revelação D ivina................................................. 183
1. Definição de Milagre .......................................................................................... 183
2. Possibilidade do Milagre .................................................................................... 189
3. Probabilidade dos M ilagres............................................................................... 192
4. Testemunho necessário para se provar um milagre......................................... 197
5. Força Evidenciai dos Milagres .......................................................................... 198
6. Falsos M ilagres..................................................................................................... 203
IV. Profecia Atestando uma Revelação Divina............................................................206
1. Definição................................................................................................................206
2. Relação da profecia com os milagres ................................................................ 208
3. Requisitos na profecia, considerados como Evidência da Revelação.........208
4. Caraterísticas Gerais da Profecia nas Escrituras ..............................................209
5. Profecia messiânica em geral.............................................................................. 210
6. Profecias especiais pronunciadas por C risto....................................................210
7. Sobre o duplo sentido da Profecia......................................................................212
8. Propósito da Profecia - até onde não se cumpriu............................................ 214
9. Poder Evidenciai da Profecia - quando cumprida........................................... 216
V. Princípios de Evidência Histórica Aplicáveis à Prova de uma Revelação
Divina........................................................................................................................... 217
1. Quanto à evidência documentária........................................................................217
2. Quanto ao testemunho em geral..........................................................................218
Caítulo II - PROVAS POSITIVAS DE QUE AS ESCRITURAS SÃO A
REVELAÇÃO DIVINA............................................................................................222
1. Genuinidade dos Livros do Novo Testamento..................................................223
2. Genuinidade dos Livros do Velho Testamento.................................................250
II. Credibilidade dos Escritores da Bíblia................................................................... 259
III. O Caráter Sobrenatural do Ensino da Escritura....................................................262
1. O ensino da Escritura em geral...........................................................................262
2. Sistema Moral do Novo Testamento.................................................................. 266
3. A pessoa e o caráter de Cristo............................................................................ 279
4. O testemunho do próprio Cristo..........................................................................282
IV. Resultados Históricos da Propagação da Doutrina da Escritura.........................285
14 Augustus Hopkins Strong
Capítulo III - INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS...................................................293
I. Definição de Inspiração..............................................................................................293
II. Prova da Inspiração....................................................................................................296
III. Teorias Sobre a Inspiração........................................................................................302
1. Teoria da Intuição ..................................................................................................302
2. Teoria da Iluminação..............................................................................................305
3. Teoria do Ditado.....................................................................................................311
4. Teoria da Dinâmica................................................................................................314
IV. União dos Elementos Divino e Humano na Inspiração.........................................316
V. Objeções à Doutrina da Inspiração ..........................................................................330
1. Erros em matéria de Ciência............................................................................331
2. Erros em matéria de História...........................................................................336
3. Erros no campo da M oral..................................................................................341
4. Erros de Raciocínio............................................................................................345
5. Erros na citação ou interpretação do Velho Testamento.............................. 347
6. Erros na Profecia................................................................................................349
7. Alguns livros não merecem um lugar na Escritura inspirada..........................351
8. Porções dos livros da Escritura escritos por outras pessoas que não são
aquelas a quem são atribuídos.............................................................................353
9. Narrativas Céticas ou Fictícias.............................................................................356
10. Reconhecimento da não inspiração de mestres da Escritura e de seus
escritos..................................................................................................................359
Parte IV - NATUREZA, DECRETOS E OBRAS DE DEUS
Capítulo I - ATRIBUTOS DE D EU S........................................................................ 363
I. Definição do Termo Atributos.................................................................................. 364
II. Relação dos Atributos Divinos com a Essência D ivina....................................... 364
1. Os atributos têm uma existência objetiva...................................................... 364
2. Os atributos são inerentes à essência divina..................................................366
3. Os atributos pertencem à essência divina como tal ......................................367
4. Os atributos manifestam a essência divina....................................................367
III. Métodos para Determinar os Atributos Divinos................................................... 368
1. Método racional.....................................................................................................368
2. Método bíblico.......................................................................................................369
IV. Classificação dos Atributos...................................................................................... 369
V. Atributos Absolutos ou Imanentes .......................................................................... 372
Primeira divisão - Espiritualidade e os atributos envolvidos por ela.................372
1. V ida......................................................................................................................... 374
2. Pessoalidade.......................................................................................................... 376
Segunda Divisão - Infinitude e os atributos envolvidos por ela......................... 378
Terceira Divisão - Perfeição e os atributos por ela envolvidos.......................... 388
1. Verdade................................................................................................................... 388
I
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 15
2. Am or......................................................................................................................... 391
3. Santidade..................................................................................................................399
VI. Atributos Relativos ou Transitivos........................................................................... 410
Primeira Divisão - Atributos relacionados com Tempo e Espaço...................... 410
1. Eternidade................................................................................................................410
2. Imensidade............................................................................................................... 415
Segunda Divisão - Atributos relacionados com a Criação...................................417
1. Onipresença.............................................................................................................417
2. Onisciência.............................................................................................................. 421
3. Onipotência..............................................................................................................427
Terceira Divisão - Atributos relacionados com os seres m orais.........................430
1. Veracidade e Fidelidade ou Verdade transitiva..................................................430
2. Misericórdia e Bondade ou Amor Transitivo......................................................431
3. Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva......................................................... 433
VII. Nível e Relações dos Vários Atributos .................................................................440
1. Santidade, atributo fundamental de D eus...........................................................441
2. A santidade de Deus, a base da obrigação m oral............................................. 445
Capítulo II - DOUTRINA DA TRINDADE..............................................................452
I. Na Escritura há Três que são Reconhecidos como D eus......................................454
1. Provas do Novo Testamento................................................................................ 454
2. Indicações do Velho Testamento..........................................................................472
II. Estes três são Descritos na Escritura de tal Modo que Somos Compelidos
a Concebê-los como Pessoas Distintas.................................................................... 479
1. O Pai e o Filho são pessoas distintas uma da outra..........................................479
2. O Pai e o Filho são pessoas distintas do Espírito............................................. 480
3. O Espírito Santo é uma pessoa.............................................................................480
III. Esta Tripessoalidade da Natureza Divina não é Simplesmente Econômica e
Temporal, mas Imanente e Eterna............................................................................. 485
1. Prova da Escritura de que estas distinções de pessoalidade são eternas....485
2. Erros refutados pelas passagens anteriores........................................................486
IV. Esta Tripessoalidade não é Triteísmo; pois, Conquanto Haja Três Pessoas,
há Apenas Uma Essência........................................................................................... 491
V. As Três Pessoas, Pai, Filho, e Espírito Santo, são Iguais .................................... 496
1. Estes títulos pertencem às Pessoas...................................................................... 496
2. Sentido qualificado destes títulos ....................................................................... 497
3. Geração e processos consistentes com a igualdade..........................................504
VI. Inescrutável, Embora não Autocontraditória, esta Doutrina Fornece a
Chave para Todas as Outras Doutrinas.................................................................... 509
1. O modo desta existência triúna é inescrutável.................................................. 509
2. A Doutrina da Trindade não é autocontraditória..............................................512
3. A doutrina da Trindade tem importantes relações com outras doutrinas .... 514
Capítulo III - OS DECRETOS DE DEUS..................................................................522
I. Definição de Decretos...............................................................................................522
16 Augustus Hopkins Strong
II. Prova da Doutrina dos Decretos...............................................................................525
1. Da Escritura............................................................................................................525
2. Da Razão................................................................................................................ 527
III. Objeções à Doutrina dos Decretos.......................................................................... 532
1. Que eles são inconsistentes com a livre atuação do homem ..........................532
2. Que eles afastam todo o motivo do exercício humano.................................. 536
3. Que eles fazem Deus o autor do pecado............................................................539
VI. Notas Finais............................................................................................................. 544
1. Empregos práticos da doutrina dos decretos.................................................... 544
2. O verdadeiro método da pregação da doutrina.................................................545
Capítulo IV - AS OBRAS DE DEUS; OU A EXECUÇÃO DOS DECRETOS . 547
SEÇÃO I - CRIAÇÃO
I. Definição de Criação.................................................................................................547
II. Prova da Doutrina da Criação.................................................................................. 551
1. Declarações diretas da Escritura..........................................................................551
2. Evidência indireta da Escritura........................................................................... 556
III. Teorias que se opõem à Criação ............................................................................. 556
1. Dualismo................................................................................................................556
2. Emanação...............................................................................................................564
3. Criação a partir da eternidade............................................................................. 568
4. Geração espontânea..............................................................................................573
IV. O Relato Mosaico da Criação..................................................................................575
2.Interpretação adequada..........................................................................................579
V. O Fim de Deus na Criação......................................................................................... 583
1. O testemunho da Escritura...................................................................................583
2. O testemunho da razão......................................................................................... 585
VI. Relação da Doutrina da Criação com as outras Doutrinas................................590
1. Com a santidade e a benevolência de Deus...................................................... 590
2. Com sabedoria e livre vontade de Deus ............................................................592
3. Com Cristo como revelador de Deus................................................................. 594
4. Com a Providência e a Redenção .......................................................................597
5. Com a observância do Sábado............................................................................ 598
SEÇÃO II - PRESERVAÇÃO
I. Definição de Preservação......................................................................................... 602
II. Prova da Doutrina da Preservação........................................................................... 603
1. Da Escritura............................................................................................................603
2. Da Razão................................................................................................................604
III. Teorias que virtualmente negam a doutrina da Preservação............................... 607
1. Deísmo....................................................................................................................607
2. Criação contínua ................................................................................................... 609
IV. Notas sobre a Parceria D ivina..................................................................................612
SEÇÃO III - PROVIDÊNCIA
I. Definição de Providência......................................................................................614
17
615
615
622
625
625
626
627
632
632
633
642
646
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650
655
658
660
673
673
674
677
677
678
T e o l o g ia S is t e m á t ic a
II. Prova da Doutrina da Providência..........................
1. Prova escriturística...............................................
2. Prova racional .......................................................
III. Teorias opostas à Doutrina da Providência...........
1. Fatalismo...............................................................
2. Casualismo............................................................
3. Teoria de uma providência simplesmente geral
IV. Relações da Doutrina da Providência....................
1. Com os milagres e com as obras da graça........
2. Com a oração e a resposta...................................
3. Com a atividade cristã.........................................
4. Com os maus atos dos agentes livres................
SEÇÃO IV - OS ANJOS BONS E OS MAUS
I. Afirmações e Sugestões da Escritura.....................
1. Quanto à natureza e atributos dos anjos ...........
2. Quanto ao seu número e organização...............
3. Quanto ao seu caráter moral ..............................
4. Quanto às suas funções.......................................
II. Objeções à Doutrina dos Anjos...............................
1. À doutrina dos anjos em geral ...........................
2. À doutrina dós anjos maus em particular..........
III. Empregos práticos da Doutrina dos A n jo s...........
1. Emprego da doutrina dos anjos bons.................
2. Empregos da doutrina dos anjos maus..............
Parte I
PROLEGÔMENOS
C a p í t u l o I
IDÉIA DE TEOLOGIA
I. DEFINIÇÃO DE TEO LO GIA
Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo.
Embora a palavra “
teologia”seja empregada às vezes em escritos dogmá­
ticos para designar um simples departamento da ciência que trata da nature­
za e atributos divinos, o uso prevalecente, desde Abelardo (1079-1142 A .D.),
que intitulou seu tratado geral “Theologia Christiana”, o qual abrange sob este
termo todo o acervo da doutrina cristã. Por isso, a teologia trata, não só de
Deus, mas das relações entre Deus e o universo, motivo por que falamos da
Criação, da Providência e da Redenção.
Os Pais chamam o Evangelista João de “o teólogo”, porque ele trata mais
plenamente do relacionamento interno das pessoas da Trindade. G r e g ó r i o
N a z i a n z e n o (328) recebeu esta designação porque defendia a divindade de
Cristo contra os arianos. Para um exemplo moderno deste emprego do termo
“teologia” no sentido restrito, veja o título do primeiro volume do D r . H o d g e :
“Systematic Theology, Vol. I: Teologia". Mas teologia não é somente “a ciên­
cia de Deus”, nem mesmo “a ciência de Deus e do homem”. Ela também dá
conta das relações entre Deus e o universo.
Se o universo fosse Deus, a teologia seria a única ciência. Visto que o
universo é apenas uma manifestação de Deus e distingue-se dele, há ciências
da natureza e da mente. A teologia é a “ciência das ciências”, não no sentido
de incluir todas estas, mas no de empregar os seus resultados e mostrar a
sua base subjacente; (ver W ardlaw, Theology, 1.1,2). A ciência física não é
uma parte da teologia. Somente como físico, Humboldt não precisava mencio­
nar o nome de Deus em seu Cosmos (contudo vejamos Cosmos, 2.413, onde
ele diz: “O Salmo 104 apresenta uma imagem do cosmos todo”). O Bispo de
C a rlisle: “A ciência é atéia, mas nem por isso pode ser ateísta”.
Só quando consideramos as relações das coisas finitas com Deus é que o
estudo delas fornece material para a teologia. A antropologia é uma parte da
teologia porque a natureza do homem é obra de Deus e porque a forma de
Deus tratar o homem lança luz sobre o caráter de Deus. Deus é conhecido
através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta
destas obras e atividades na medida que elas acompanham o nosso conheci­
mento. Todas outras ciências exigem a teologia para sua explicação completa.
2 2 Augustus Hopkins Strong
Proudhon: “Se você se aprofundar muito na política, esteja certo de entrar na
teologia”.
II. ALVO DA TEOLOGIA
O alvo da teologia é a certificação dos fatos que dizem respeito a Deus e às
relações entre Deus e o universo, e a apresentação de tais fatos em sua unida­
de racional como partes conexas de um formulado e orgânico sistema de ver­
dade.
Ao definirmos a teologia como ciência, indicamos o seu alvo. A ciência
não cria; descobre. A teologia responde a esta descrição da ciência. Desco­
bre fatos e relações, mas não os cria. Fisher, Nature and Method of Revelation,
141 - “S ch ille r, referindo-se ao ardor da fé em Colombo, diz que, se o grande
descobridor não tivesse achado um continente, ele o teria criado. Mas a fé
não é criativa. Se Colombo não tivesse achado a terra - não teria havido uma
resposta objetiva da sua crença - sua fé teria sido mera fantasia”. Porque a
teologia trata de fatos objetivos, recusamo-nos a defini-la como “ciência da
religião”; versus Am. Theol. Rev., 1850.101-126, eTHORNWELL, Theology, 1.139.
Tanto os fatos como as relações de que a teologia trata têm uma existência
independente dos processos mentais subjetivos do teólogo.
Ciência não é apenas observação, registro, verificação e formulação de
fatos objetivos; é também o reconhecimento e explicação das relações entre
estes fatos e a síntese tanto dos fatos como dos princípios racionais que
os unem em um sistema abrangente, corretamente proporcional e orgânico.
Tijolos e madeiramento espalhados não são uma casa; braços, pernas, cabe­
ças e troncos separados numa sala de dissecção não são homens vivos; e
fatos isolados não constituem ciência. Ciência = fatos + relações; W h e w e l l ,
Hist. Inductive Sciences, I, Introd., 43 - “Pode haver fatos sem ciência, como
no conhecimento do cavouqueiro; pode haver pensamento sem ciência, como
na antiga filosofia grega”. A. MacDonald: “O método a priori relaciona-se com
o método a posterioricomo as velas com o mastro de uma embarcação: quanto
melhor é a filosofia, maior é a providência de um número suficiente de fatos;
doutra forma ocorre o perigo de transtornar o empreendimento”.
Presidente W oodrow W ilson: “A enfática injunção da nossa era diz aos
historiadores: ‘dai-nos os fatos’. ... Mas os fatos em si não constituem a ver­
dade. A verdade não é concreta; é abstrata. É só a idéia, a revelação correta,
do sentido que as coisas têm. Ela só é evocada pela distribuição e ordenação
dos fatos que sugerem o sentido”. Dove, Logic of the Christian Faith, 14 -
“Perseguir a ciência é perseguir as relações”. Everett, Science of Thought, 3
- “Logia” (p.ex. na palavra “teologia”), de Xóyoç,, = palavra + razão, expressão
+ pensamento, fato + idéia; cf. Jo. 1.1 - “No princípio era o Verbo”.
Como a teologia trata de fatos objetivos e suas relações, assim a disposi­
ção destes fatos não é opcional, mas determinada pela natureza da matéria
de que ela trata. A verdadeira teologia repensa os pensamentos de Deus e os
põe na disposição de Deus, como os construtores do templo de Salomão
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 23
tomaram as pedras já lavradas e as fixaram nos lugares para os quais o
arquiteto as havia designado; Reginald Heber: “Não caiu nenhum martelo,
nenhum machado tiniu; Como a longa palmeira, surgiu a fábrica mística”. .
Os cientistas não temem que os dados da física bitolem ou comprimam o seu
intelecto; nem devem temer os fatos objetivos que são os dados da teologia.
Não podemos fazer teologia do mesmo modo que não podemos fazer uma lei
da natureza física. Como o filósofo natural é “Naturae minister et interpres”,
assim o teólogo é servo e intérprete da verdade objetiva de Deus.
m . POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA
A possibilidade da Teologia tem uma tríplice base: 1. Na existência de um
Deus que se relaciona com o universo; 2. Na capacidade da mente humana de
conhecer Deus e algumas de tais relações; 3. Na provisão de meios pelos quais
Deus se põe em real contato com a mente ou, em outras palavras, na provisão
de uma revelação.
Qualquer ciência em particular só se torna possível quando combina três
condições, a saber, a verdadeira existência do objeto de que ela trata, a capa­
cidade subjetiva da mente humana conhecer tal objeto, e a provisão de meios
definidos pelos quais os objetos entram em contato com a mente. Podemos
ilustrar as condições da teologia a partir da selenologia - a ciência, não da
“política lunar”, que de modo tão infundado John S tu a rt M ill pensava perse­
guir, mas da física lunar. A selenologia é possível sob três condições:
1. a existência objetiva da lua; 2. a capacidade subjetiva da mente humana de
conhecê-la; e 3. a provisão de aiguns meios (p.ex., os olhos e o telescópio)
pelos quais a lacuna entre o homem e a lua se ligam e pelos quais a mente
pode apossar-se do conhecimento verdadeiro dos fatos relativos à lua.
1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo
Tem-se objetado, na verdade, que desde que Deus e estas relações são
objetos apreendidos só pela fé, não são objetos próprios do conhecimento ou
assuntos próprios da ciência.
Respondemos:
a) A Fé é conhecimento e o mais elevado tipo de conhecimento. - A ciên­
cia física também se apoia na fé - fé na nossa existência, na existência de um
mundo objetivo e exterior a nós e na existência de outras pessoas além de nós
mesmos; fé nas nossas convicções primitivas,tais como espaço, tempo, causa,
substância, desígnio, certeza; fé na confiabilidade das nossas faculdades e no
testemunho dos nossos semelhantes. Nem por isso a ciência física é invalida­
da, porque tal fé, embora diferente na percepção sensorial ou demonstração
2 4 Augustus Hopkins Strong
lógica, é ainda um ato cognitivo da razão e pode ser definido como certifica­
ção relativa à matéria em que a verificação é impossível.
A citada e respondida objeção à teologia expressa-se nas palavras de S ir
W illiam Hamilton, Metaphysics, 44, 531 - “Fé - crença - é o órgão pelo qual
nós apreendemos o que está além do nosso conhecimento”. Mas ciência é
conhecimento e o que está além do nosso conhecimento não pode ser maté­
ria de ciência. O Presidente E. G. Robinson diz com precisão que o conheci­
mento e a fé não podem ser separados um do outro, como os compartimen­
tos de um navio, dos quais o primeiro pode ser esmagado enquanto o segundo
ainda mantém o navio flutuando. A mente é uma só, - “ela não pode ser seccio-
nada em duas com uma machadinha”. Fé não é antítese do conhecimento, -
eia é um tipo maior e mais fundamental de conhecimento. Ela nunca se opõe
à razão, mas apenas à vista. Tennyson estava errado quando escreveu: “Nós
temos somente fé: não podemos conhecer; Porque conhecemos aquilo que
vemos” (In Memoriam, Introd...). Isto tornaria os fenômenos sensitivos os úni­
cos objetos do conhecimento. A fé nas realidades supra-sensíveis, ao contrá­
rio, é o mais elevado exercício da razão.
S ir W illiam Hamilton declara consistentemente que a mais elevada con­
quista da ciência é o levantamento de um altar “Ao Deus Desconhecido”.
Esta, entretanto, não é a representação da Escritura. Cf. Jo. 17.3 - “a vida
eterna é esta, que te conheçam a ti como único verdadeiro Deus”; e Jr. 9.24 - “o
que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor”.
Para a crítica de Hamilton, ver H. B. Smith, Faith and Philosophy, 297-336.
Fichte: “Nós nascemos na fé”. Até mesmo Goethe se dizia alguém que crê
nos cinco sentidos. B a lfo u r, Defense of Philosophic Doubt, 277-295, mostra
que as crenças intuitivas nas categorias de espaço, tempo, causa, substân­
cia, justiça pressupõem uma aquisição de todo o conhecimento. Dove, Logic
of the Christian Faith, 14 - “Se se deve destruir a teologia porque parte de
termos e proposições primárias, deve-se, então, proceder de igual modo com
todas as ciências”. Mozley, Miracles, define fé como a “razão não verificável”.
b) A fé é um conhecimento condicionado pelo sentimento santo. - A fé que
apreende o ser divino e sua obra não é opinião ou imaginação. É certeza rela­
tiva às realidades espirituais sobre o testemunho da nossa natureza racional e
sobre o testemunho de Deus. Sua única peculiaridade como ato cognitivo da
razão é que está condicionado ao sentimento santo. Como a ciência da estética
é produto da razão incluindo o poder de reconhecer o belo praticamente inse­
parável do amor ao belo e como a ciência da ética é produto da razão incluin­
do o poder de reconhecer o moralmente correto praticamente inseparável do
amor ao moralmente correto, assim a ciência da teologia é produto da razão,
mas da razão que inclui o poder de reconhecer o Deus, que é praticamente
inseparável do amor a Deus.
Empregamos aqui o termo “razão" para significar a força total do conheci­
mento. Razão, neste sentido, inclui o estado de sensibilidade desde que seja
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 25
-.dispensável ao conhecimento. Não podemos conhecer uma laranja só de
olhá-la; para entendê-la, é tão necessário saboreá-la como vê-la. A matemá-
::ca do som não pode dar-nos entendimento da música; é necessário também
ouvi-la. Só a lógica não pode demonstrar a beleza do pôr do sol, ou de um
caráter nobre; o amor ao belo e à justiça antecede o conhecimento do belo e
da justiça. Ullman chama a atenção para a derivação de sapientía, sabedoria,
de sapere, saborear. Não podemos conhecer Deus só pelo intelecto; o cora­
ção deve acompanhar o intelecto a fim de possibilitar o conhecimento das
coisas divinas. “As coisas humanas”, diz Pascal, só precisam ser conhecidas
para serem amadas; mas as coisas divinas primeiro precisam ser amadas
para serem conhecidas”. “Esta fé [religiosa] do intelecto”, diz Kant, “funda­
menta-se na aceitação do temperamento moral”. Se alguém fosse totalmente
indiferente às leis morais, continua o filósofo, até mesmo as verdades religio­
sas “teriam o apoio dos fortes argumentos da analogia, mas, do mesmo modo
que o coração obstinado, o cético não poderia conquistá-las”.
A fé, então, é o mais elevado conhecimento porque é a ação integral da
alma, a perspicácia, não somente de um olho, mas dos dois olhos da mente,
do intelecto e do amor a Deus. Com um olho podemos ver um objeto plano,
mas, se quisermos vê-lo como um todo e captar o efeito estereótipo, deve­
mos empregar ambos os olhos. Não é o teólogo, mas o astrônomo não devo­
to que tem a ciência caolha e, portanto, incompleta. Os erros do racionalista
são os da visão defeituosa. O intelecto tem-se divorciado do coração, isto é,
da disposição correta, das afeições corretas e do propósito correto da vida.
O intelecto diz: “Não posso conhecer Deus”; e o intelecto está certo. O que o
intelecto diz, a Escritura também o diz: 1 Co. 2.14 - “O homem natural não
compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e
não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente”; 1.21 - “na
sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus”.
Por outro lado, a Escritura declara que “pela fé, entendemos” (Hb. 11.3).
Para a Escritura a palavra “coração” significa tão somente a disposição
governante ou sensibilidade + vontade; e ela indica que o coração é um órgão
do conhecimento: Ex. 35.25 - “mulheres que eram sábias de coração”;
SI. 34.8 - “provai e vede que o Senhor é bom” = o provar vem antes do ver;
Jr. 24.7 - “Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam”; Mt. 5.8 - “Bem-
aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”; Lc. 24.25 -
“tardos de coração para conhecer”; Jo. 7.17 - “Se alguém quiser fazer a von­
tade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou falo de mim
mesmo”; Ef. 1 . 1 8 - “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para
que saibais”; 1 Jo. 4.7,8 - “qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a
Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus”.
c) Portanto, a fé, e só a fé pode fornecer o material adequado e suficiente
para uma teologia científica. - Como uma operação da mais elevada natureza
racional do homem, embora distinta da visão ocular ou do raciocínio, a fé é o
mais elevado tipo de conhecimento. Ela nos dá o entendimento que só pelos
sentidos seria inacessível, a saber, a existência de Deus e ao menos algumas
das relações entre Deus e a sua criatura.
26 Augustas Hopkins Strong
Phillippi, Glaubenslehre, 1.50, segue G erhard, ao tornar a fé um ato con­
junto do intelecto e da vontade. Hopkins, Outline Study of Man, 77,78, fala não
só da “razão estética”, mas da “razão moral”. Murphy, Scientific Bases of Faith,
91, 109, 145, 191 - “Fé é a certeza a respeito daquilo em que é impossível a
verificação”. Emerson, Essays, 2.96 - “A crença consiste em aceitar as afir­
mações da alma - a descrença em rejeitá-las”. M o re ll, Philos. of Religion,
38,52,53, cita C olleridge: “A fé consiste na síntese da razão e da vontade do
indivíduo, ... e em virtude daquela (isto é, da razão), a fé deve ser uma luz,
uma forma de conhecimento, uma contemplação da verdade”. A fé, então,
não deve ser representada como uma menina cega apegada a uma cruz - a
fé não é cega - “Doutra forma a cruz pode muito bem ser um crucifixo ou uma
imagem de Gautama”, “A cega descrença”, não a fé cega, “sem dúvida deve
errar, e esquadrinhar suas obras em vão”. Como na consciência reconhece­
mos uma autoridade invisível, conhecemos a verdade em exata proporção
com o nosso desejo de “praticar a verdade”, assim na religião só a santidade
pode conhecer a santidade e só o amor pode entender o amor (cf. Jo. 3.21 -
“quem pratica a verdade vem para a luz”).
Se um estado correto do coração for indispensável à fé bem como o
conhecimento de Deus, pode haver qualquer “theologia irregenitorum”, ou
teologia dos irregenerados? Sim, respondemos; do mesmo modo que um
cego pode ter uma ciência da ótica. O testemunho dos outros dá sua reivindi­
cação a ele; a obscura luz que penetra a obscura membrana corrobora este
testemunho. O irregenerado pode conhecer a Deus como poder e justiça, e
temê-lo. Mas isto não é o conhecimento do mais íntimo caráter de Deus; ele
fornece um certo material para uma teologia defeituosa ou desproporcional;
mas não fornece material suficiente para uma correta teologia. Como, para
tornar esta ciência da ótica satisfatória e completa, um oftalmologista compe­
tente deve remover a catarata dos seus olhos, assim, para qualquer teologia
completa ou satisfatória, é preciso que Deus lhe retire o véu do coração
(2 Co. 3.15,16 - “o véu está posto no coração deles. Mas, quando [marg. ‘os
homens’] se converterem ao Senhor, o véu se tirará”).
A nossa doutrina da fé é o conhecimento e o mais elevado de todos; deve
distinguir-se do de Ritschl, cuja teologia é um apelo ao coração para a exclu­
são da cabeça - para a fiducia sem notitia. Mas fiducia inclui notitia; doutra
forma é cega, irracional e anticientífica. R obert Browning igualmente caiu num
profundo erro especulativo quando, para comprovar sua fé otimista, estigma­
tizou o conhecimento humano como simplesmente aparente. O apelo tanto
de R itsch l como de Browning da cabeça para o coração deve mais ser um
apelo do mais estreito conhecimento do simples intelecto para o maior
conhecimento condicionado à correta afeição.
2. Na capacidade humana de conhecer Deus
Porém tem-se argumentado que tal conhecimento é impossível pelas seguin­
tes razões:
A) Podemos conhecer apenas os fenômenos.
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 27
Respondemos:
á) Como conhecemos os fenômenos físicos assim também conhecemos os
mentais, b) Conhecendo os fenômenos, quer físicos, quer mentais, conhece­
mos a substância subjacente aos fenômenos, manifestada através deles e que
constitui a base de sua unidade, c) A nossa mente traz à observação do fenô­
meno não só o conhecimento da substância, mas também de tempo, de espaço,
de causa e de justiça, realidades que em nenhum sentido são fenomenais. Por­
que estes objetos do conhecimento não são fenomenais, o fato de que Deus
não é fenomenal não nos impede de conhecê-lo.
Não precisamos aqui determinar o que é substância. Quer sejamos realis­
tas ou idealistas, somos compelidos a admitir que não pode haver fenômenos
sem os númenos, não pode haver aparências, não pode haver qualidades
sem algo que seja qualificado. Este algo que serve de base ou está sob a
aparência ou qualidade chamamos substância. Em nossa filosofia somos mais
iotzeanos do que kantianos. Dizer que não conhecemos o eu, mas apenas as
suas manifestações no pensamento, é confundir o eu com o seu pensamento
e ensinar psicologia sem alma. Dizer que de modo nenhum conhecemos o
mundo exterior, mas apenas as suas manifestações nas sensações, é ignorar
o princípio que liga tais sensações; porque, sem algo a que as qualidades
são inerentes, elas não têm base alguma para sua unidade. De igual modo,
dizer que não conhecemos nada de Deus a não ser suas manifestações, é
confundir Deus com o mundo e praticamente negar que haja Deus.
Stãhlin, em sua obra sobre Kant, Lotze e R itschl, 186-191,218,219, diz
com precisão que “a limitação do conhecimento dos fenômenos envolve, na
teologia, a eliminação de todas as reivindicações do conhecimento dos obje­
tos da fé cristã como são em si mesmas”. Esta crítica, com justiça, põe na
mesma classe R itsch l junto com Kant, ao invés de pô-los com Lotze que
sustenta que, conhecendo os fenômenos, conhecemos também os númenos
manifestos neles. Conquanto R itsch l professe seguir Lotze, toda a tendência
da sua teologia caminha na direção da identificação kantiana do mundo com
as nossas sensações, a mente com os nossos pensamentos e Deus, com
atividades tais que lhe são peculiares como nós as percebemos. Nega-se a
natureza divina, independente das suas atividades, o Cristo preexistente, a
Trindade imanente. Afirmações de que Deus é amor e paternidade conscien­
te de si mesmo tornam-se juízos de valor meramente subjetivo.
Admitimos que conhecemos Deus só até onde as suas atividades o reve­
lam e até onde as nossas mentes e corações são receptivos à sua revelação.
Deve-se exercer o conjunto de faculdades apropriadas - não as matemáti­
cas, as lógicas ou as que se referem à prudência, mas a ética e a religiosa.
Ritschl tem o mérito de reconhecer a razão prática da especulativa; seu erro
não consiste em reconhecer que, quando usamos adequadamente os pode­
res do conhecimento, tomamos posse não simplesmente da verdade subjeti­
va, mas também da objetiva e não somente entramos em contato com as
atividades de Deus, mas com o próprio Deus. Os juízos religiosos normais,
embora dependam das condições subjetivas, não são apenas “juízos de
2 8 Augustus Hopkins Strong
mérito”, ou “
juízos de valor”, - elas nos fornecem o conhecimento das “próprias
coisas”. Edward Caird diz do seu irmão John Caird (Fund. Ideas of Chrístianity,
Introd... cxxi) - “A pedra fundamental da sua teologia é a convicção de que se
pode conhecer e conhece-se a Deus e de que, no sentido mais profundo,
todo o nosso conhecimento é o dele”.
O fenomenalismo de R itsch l está aliado ao positivismo de Comte, que
considera todo o assim chamado conhecimento de outro tipo que não sejam
os objetos fenomenais puramente negativos. A expressão “Filosofia Positiva”
na verdade implica que todo o conhecimento da mente é puramente negativo;
ver Comte, Pos. Philosophy, tradução de M artineau, 26,28,33 - “Para obser­
var o vosso intelecto deveis fazer uma pausa nas atividades - embora quei­
rais observar essa mesma atividade. Se não puderdes fazer a pausa, não
podereis observar; se a fizerdes, nada há a observar”. Dois fatos refutam este
ponto de vista: 1) a consciência e 2) a memória; porque a consciência é o
conhecimento do eu ao lado do conhecimento dos seus pensamentos e a
memória é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento do passado dela.
Os fenômenos são “fatos, distintos da sua base, princípio, ou lei”; “não se
percebem os fenômenos nem as qualidades, como tais, mas os objetos, as
percepções, ou os seres; e é por um pensamento posterior ou por um reflexo
que estes se ligam como qualidades e são tidos como substâncias”.
Os fenôm enos podem ser interiores, /'.e., pensam entos; neste caso, o
númeno é a mente cujas m anifestações são os pensam entos. Por outro lado,
os fenôm enos podem ser exteriores, e.g., a cor, a dureza, a forma, o tam a­
nho; neste caso, o núm eno é a matéria, cujas qualidades são as m anifesta­
ções. Mas as qualidades, quer mentais, quer m ateriais, im plicam a existência
de uma substância a que pertencem ; não se pode concebê-las com o uma
existência a parte da substância, mais do que com o um lado superior de uma
tábua assim com o não se pode concebê-las com o existentes sem um lado
inferior; ver Martineau, Types of Ethical Theory, 1.455,456 - “A suposição de
Comte de que a mente não pode conhecer a si m esm a ou os seus estados
opõe-se à de Kant, de que a m ente nada pode conhecer a não ser a si m es­
ma. ... É exatam ente porque todo o conhecim ento vem dos relacionam entos
que ele não vem e nem pode vir só dos fenôm enos. O absoluto não pode se
conhecido per se porque, ao ser conhecido, ele se relacionaria ipso facto e
não mais seria absoluto. Mas nem o elem ento fenom enal pode ser conhecido
per se, i. e., com o fenom enal, sem a cognição sim ultânea do que é o não
fenom enal”. McCosh, Intuitions, 138-154, estabelece as caraterísticas das subs­
tâncias com o 1) ser, 2) poder, 3) permanecer. Diman, Theistic Argument, 337,363
- “A teoria que rejeita Deus, rejeita o m undo exterior e a existência da alm a”.
Conhecem os algo além dos fenôm enos, a saber, lei, causa, força, - ou não
podem os ter ciência.
B) Porque só podemos conhecer o que tem analogia com a nossa natureza
ou experiência.
Respondemos: d) Para o conhecimento não é essencial que haja seme­
lhança de natureza entre conhecedor e conhecido. Conhecemos tanto pela
diferença como pela semelhança, b) Nossa experiência passada, apesar de
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 29
facilitar grandemente novas aquisições, não é a medida do nosso conhecimen-
t : possível. Se assim fosse, seria inexplicável o primeiro ato de conhecimento
e toda a revelação dos mais elevados caracteres até os menores seria excluída
assim como todo o progresso no conhecimento que ultrapassa o nosso presen­
te conhecimento, c) Mesmo que o conhecimento dependesse da semelhança
entre a natureza e a experiência, poderíamos conhecer Deus, visto que somos
feitos à sua imagem e há importantes analogias entre a natureza divina e a nossa.
a) O dito de Empédocles, “Similia similibus percipiuntur”, deve ser suple­
mentado por um outro: “Similia dissimilibus percipiuntur”. Mas conhecer é dis­
tinguir, e deve haver um contraste entre os objetos a fim de nos despertar a
atenção. Deus conhece o pecado, embora este seja a antítese do seu santo
ser. O eu conhece o não-eu. Não podemos conhecer até mesmo o eu sem
considerá-lo objetivamente, distinguindo-o dos seus pensamentos e conside-
rando-o como um outro.
b) Versus H e rb e rt Spencer, First Principies, 79-82 - “Conhecimento é o
reconhecimento e a classificação”. Mas retrucamos que é necessário perce­
ber primeiro uma coisa para reconhecê-la, ou compará-la com outra; e isto é
verdade, tanto a respeito da primeira sensação como da última e as mais
definidas formas de conhecimento; na verdade, não há nenhuma sensação
que não envolva, como complemento, ao menos uma percepção incipiente.
c) P o rte r, Human Intellect, 486 - “A indução só é possível baseada na
suposição de que o intelecto do homem é um reflexo do divino, ou que o
homem é feito à imagem de Deus”. Note, contudo, que o homem é feito à
imagem de Deus, e não Deus à imagem do homem. A pintura é a imagem
paisagística, não o contrário a paisagem, a imagem da pintura; porque há
muito na imagem que não tem nada que corresponda a ela na pintura.
A idolatria perversamente faz Deus à imagem do homem e deifica as fraque­
zas das impurezas do homem. A Trindade em Deus pode não ter a exata
contrapartida na atual constituição do homem, embora possa descortinar-nos
o objetivo do desenvolvimento futuro do homem e o sentido da crescente
diferenciação das forças do homem. G ore, Incarnation, 116 - “Se o antropo-
morfismo aplicado a Deus é falso, ainda o teomorfismo aplicado ao homem é
verdadeiro; o homem é feito à imagem de Deus, e as suas qualidades não são,
a medida das divinas, mas a contrapartida destas e a verdadeira expressão”.
C) Porque conhecemos apenas aquilo que podemos conceber, no sentido
de formar uma imagem mental adequada.
Respondemos: d) É verdade que conhecemos só aquilo que podemos con­
ceber se pelo termo “conceber” significamos nossa distinção entre o pensa­
mento do objeto conhecido e os demais objetos. Mas b) a objeção confunde
concepção com o que é meramente seu acessório ocasional e auxílio, a saber,
o quadro que a imaginação faz do objeto. Neste sentido, não é teste final da
verdade, c) Torna-se claro que a formação de uma imagem mental não é
3 0 Augustus Hopkins Strong
essencial à concepção ou ao conhecimento, quando lembramos que, de fato,
tanto concebemos como conhecemos muitas coisas de que não podemos for­
mar imagem mental seja ela qual for e que em nada corresponde à realidade;
por exemplo: força, causa, lei, espaço, nossas próprias mentes. Assim pode­
mos conhecer Deus apesar de que não podemos formar imagem mental ade­
quada a respeito dele.
A objeção aqui refutada se expressa mais claramente nas palavras de
H e rb e rt Spencer, First Principies, 25-36, 98 - “A realidade subjacente às apa­
rências é total e permanentemente inconcebível por nós”. Mansel, Prolego-
mena Logica, 77,78 (cf.. 26) sugere que a fonte deste erro encontra-se num
ponto de vista falho da natureza do conceito: “A primeira caraterística distinti­
va de um conceito, a saber, que não pode por si mesmo ser descrito no sen­
tido e na imaginação”. P o rte r, Human Intellect, 392 (vertb. 429,656) - “Con­
ceito não é uma imagem mental”- só a percepção o é. Lotze: “De um modo
geral não se representa a cor através de qualquer imagem; ela não se apre­
senta nem verde nem vermelha, mas não tem qualquer caraterização”. O cava­
lo, genericamente, não tem uma cor particular, embora individualmente pos­
sa ser preto, branco ou baio. S ir W illiam Ham ilton fala das “noções de
inteligência impossíveis de ser representadas em pintura”.
Martineau, Religion and Materialism, 39,40 - “Esta doutrina da Nesciência
encontra-se na mesma relação com o poder causai, quer você a construa
com o Poder Material, quer com a Atuação Divina. Nem pode ser observada',
deve-se aceitar um ou outro. Se você admite para a categoria do conheci­
mento o que se aprende a partir da observação, seja particular, seja genera­
lizada, então se trata de uma Força desconhecida; se você amplia a palavra
ao que é importado pelo próprio intelecto em nossos atos cognitivos, para
torná-los assim, então se conhece Deus”. A matéria, o éter, a energia, o pro­
toplasma, o organismo, a vida, - nenhum deles pode ser retratado para a
imaginação; contudo, o S r. Spencer os trata como objetos da Ciência. Se não
são inescrutáveis, por que ele considera inescrutável a Força que dá unidade
a todas estas coisas?
Na verdade, H e rb e rt Spencer não é coerente consigo m esmo, pois, em
diversas partes dos seus escritos, ele chama Realidade inescrutável dos fenô­
m enos a Existência Absoluta, Poder e C ausa unas, eternas, ubíquas, infini­
tas, últimas. “Parece”, diz o Padre Dalgairns, “que se conhece m uita coisa do
D esconhecido”. Chadwick, Unitaríanism, 75 - “A pobre expressão ‘Desconhe­
cido’ torna-se, depois das repetidas designações de Spencer, tão rica como
todo o conhecim ento salvador de Creso”. Matheson: “Saber que nada sabe­
mos já significa ter chegado a um fato do conhecim ento”. Se o S r. Spencer
pretendia excluir Deus do reino do Conhecimento, devia prim eiro tê-lo excluído
do reino da Existência; porque adm itir que ele é, já é adm itir que nós não
podem os conhecê-lo, mas, na verdade, em certo ponto, nós o conhecem os.
D) Porque podemos conhecer, na verdade, só o que conhecemos no todo,
não em parte.
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 31
Respondemos: a) A objeção confunde conhecim ento parcial com o
conhecimento de uma parte. Conhecemos a mente em parte, mas não conhe­
cemos uma parte da mente, b) Se a objeção fosse válida, nenhum conhecimen­
to real de qualquer coisa seria possível, visto que não conhecemos uma só
coisa em todas as suas relações. Concluímos que, embora Deus não seja for­
mado de partes, podemos ainda ter um conhecimento parcial dele e tal conhe­
cimento, embora não exaustivo, pode ser real e adequado aos propósitos da
ciência.
a) A objeção mencionada no texto é estimulada por Mansel, Limits of
Religious Thought, 97, 98 e é Martineau, Essays, 1.291 quem a responde.
A mente não existe no espaço e não tem partes: não podemos falar do seu
quadrante sudoeste, nem podemos dividi-la em metades. Contudo, encontra­
mos o material para a ciência mental no conhecimento parcial da mente.
Assim, conquanto não sejamos “geógrafos da natureza divina”( B o w n e , Review
of Spencer, 72), podemos dizer com Paulo, não que “agora conhecemos uma
parte de Deus”, mas que “agora conheço [Deus] em parte” (1 Co. 13.12).
Podemos conhecer verdadeiramente o que não conhecemos exaustivamen­
te; ver Ef. 3 . 1 9 - “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento”.
Não me entendo perfeitamente, contudo me conheço em parte; assim posso
conhecer a Deus, apesar de não entendê-lo perfeitamente.
b) O mesmo argumento que prova que Deus é incognoscível prova tam­
bém que também o mundo o é. Visto que todas partículas da matéria atraem-
se mutuamente, nenhuma delas pode ser explicada exaustivamente sem
levar em conta as demais. Thomas C arlyle: “É um fato matemático que o lan­
çamento desta pedra da minha mão altera o centro de gravidade do universo”.
Tennyson, Higher Pantheism: “Flor na parede rachada, eu a arranco das
rachaduras; /Segure-se aqui, raiz e tudo, na minha mão, ó florzinha, porém
não posso entender /O que é você, raiz e tudo, e em tudo, /Devo conhecer
o que Deus é e o que é o homem”. Schurman, Agnosticism, 119 - “Mesmo
parcial como é, esta visão do elemento divino transfigura a vida do homem
sobre a terra”. P fleiderer, Philos. Religion, 1.167 - “O agnosticismo de cora­
ção fraco é pior que o arrogante e titânico gnosticismo contra o qual ele pro­
testa”.
E) Porque todos os predicados de Deus são negativos e, por isso, não for­
necem conhecimento real. Respondemos: a) Os predicados derivados da nos­
sa consciência, tais como, espírito, amor e santidade são positivos, b) Os ter­
mos “infinito” e “absoluto”, contudo, expressam não meramente uma idéia
negativa, mas positiva, - a idéia, naquele caso, da ausência total de limite, a
idéia de que o objeto assim descrito continua e continua sempre; a idéia, neste
caso, de inteira auto-suficiência. Porque os predicados de Deus, portanto, não são
meramente negativos, o argumento acima mencionado não fornece nenhuma
razão válida por que não podemos conhecê-lo.
3 2 Augustus Hopkins Strong
Versus S ir W illiam Hamilton, Metaphysics, 530 - “O absoluto e o infinito
podem ser concebidos somente com a negação do objeto do pensamento;
a saber, de qualquer modo não temos em outras palavras nenhuma a con­
cepção do absoluto e do infinito”. Hamilton aqui confunde o infinito, ou ausên­
cia de todos limites, com o indefinido, ou a ausência de todos limites conheci­
dos. Per contra, ver Calderwood, Moral Philosophy, 248, e Philosophy of the
Infinite, 272 - “A negação de uma coisa só é possível através da afirmação de
outra”. P o rte r, Human Intellect, 652 - Se os moradores da Ilha de Sandwich,
por falta de nome, tinham chamado o boi de não porco (not-hog), o emprego
de um nome negativo não autoriza necessariamente a inferência de falta de
concepções definidas ou conhecimento positivo”. Deste modo com o infinito,
ou não finito, o incondicionado ou não condicionado, o independente, ou não
dependente, - estes nomes não implicam que não podemos conceber e
conhecer como algo positivo. Spencer, First Principies, 92 - “O nosso conhe­
cimento do Absoluto, embora indefinido, não é negativo, mas positivo”.
Schurman, Agnosticism, 100, fala da “farsa da nesciência atribuindo à onis-
ciência os limites da ciência”. “O agnóstico”, diz ele, “erige o quadro invisível
de um Grand Être, sem forma e sem cor, separado de modo absoluto do
homem e do mundo - branco interiormente e vazio por fora - com sua exis­
tência indistinguível da sua não existência e, curvando-se diante da criação
idólatra, derrama a sua alma em lamentações sobre a incognoscibilidade de
tal mistério e pavorosa ausência de identidade. ... A verdade é que se desco­
nhece a abstração agnóstica da Deidade, porque tal abstração é irreal”. Ver
McCosh, Intuitions, 194, nota; M ivart, Lessons from Nature, 363. Deus não é
necessariamente infinito em todos aspectos. Ele só é infinito em toda a exce­
lência. Um plano ilimitado em um aspecto de comprimento pode ser limitado
em outro aspecto, como, por exemplo, a respiração. A nossa doutrina aqui
não é, por isso, inconsistente com o que se segue de imediato.
F) Porque conhecer é limitar ou definir. Por isso o Absoluto como ilimita­
do e o Infinito como indefinido não pode ser conhecido. Respondemos:
a) Deus é absoluto, não como existindo sem nenhuma relação, mas como exis­
tindo sem nenhuma relação necessária; e b) Deus é infinito, não excluindo
toda a coexistência do finito com ele mesmo, mas como a base do finito, e
assim, não algemado por ele. c) Deus, na verdade, está limitado pela imutabi­
lidade de seus atributos e distinções pessoais bem como pela auto-escolha das
suas relações com o universo que ele criou e com a humanidade na pessoa de
Cristo. Portanto, Deus se limita e se define no sentido de tornar possível o
conhecimento dele.
Versus Mansel, Limitations ofReiigious Thought, 75-84, 93-95; cf. Spinoza:
“Omnis determinatio est negatio"; por isso definir Deus é negá-lo. Responde­
mos, entretanto, que a perfeição é inseparável da limitação. O ser humano
pode ser um outro além do que é: com Deus não acontece isso, ao menos
interiormente. Mas tal limitação inerente em seus imutáveis atributos e distin­
T e o l o g ia S is t e m á t ic a 33
ções pessoais, é a perfeição de Deus. Exteriormente, todas limitações sobre
Deus são auto-limitações e, portanto consistentes com a sua perfeição. Esse
Deus não deve ser capaz de limitar-se na criação e a redenção tornaria todo
o seu sacrifício impossível e o sujeitaria à maior das limitações. Pelo exposto
podemos dizer que 1. A perfeição de Deus envolve sua limitação a) a pesso-
alidade, b) à Trindade, c) à retidão; 2. A revelação de Deus envolve sua auto-
limitação a) no decreto, b) na criação, c) na preservação, d) no governo, e) na
educação do mundo; 3. A redenção envolve sua infinita auto-limitação a) na
pessoa e b) na obra de Jesus Cristo.
Bowne, Philos. of Creation, 135 - “O infinito não é o todo quantitativo; o
absoluto não é o não relacionado ... Tanto o absoluto como o infinito signifi­
cam apenas a base independente das coisas”. Julius M ü lle r, Doct. of Siri,
Introd..., 10 - “A religião tem a ver não com um Objeto que deve ser por si
mesmo conhecido porque da sua própria existência é contingente em
ser conhecido, mas com o Objeto com que nos relacionamos, na verdade,
submissos, na dependência dele e no aguardo da sua manifestação”. James
Martineau, Study of Religion, 1.346 - “Não devemos confundir o infinito com o
total. ... A abnegação própria da infinitude é tão somente a forma de auto-
afirmação e a única em que ela pode revelar-se. ... Embora o pensamento
onisciente seja instantâneo, embora certa a força onipotente, sua execução
tem de ser distribuída no tempo e deve ter uma ordem de passos sucessivos;
em outros termos, o eterno pode tornar-se temporal e o infinito falar articula-
damente no finito”.
A pessoalidade perfeita exclui não a determinação própria, mas a que
vem de fora através de um outro. As auto-limitações de Deus são as do amor
e, consequentemente, as evidências da sua perfeição. São sinais não de fra­
queza, mas de poder. Deus limitou-se ao método da evolução desenvolven­
do-se gradualmente na natureza e na história. O governo dos pecadores por
um Deus santo envolve constante auto-repressão. A educação da raça é um
longo processo de abnegação divina. H erder: “As limitações do aluno são
também as do mestre”. Na inspiração, Deus se limita através do elemento
humano por quem ele opera. Sobretudo, na pessoa e obra de Cristo, temos
infinita auto-limitação: A infinitude se estreita até na encarnação e a santida­
de suporta as agonias da Cruz. As promessas de Deus são também auto-
limitações. Deste modo tanto a natureza como a graça são restrições impos­
tas a si mesmo por Deus e são os recursos através dos quais ele se revela.
G) Porque todo o conhecimento é relativo ao agente conhecedor; isto é, o
que conhecemos, conhecemos, não como é objetivamente, mas só no que se
relaciona com nossos sentidos e faculdades. Respondemos: d) Admitimos que
podemos conhecer só o que se relaciona com as nossas faculdades. Mas isto
somente eqüivale a dizer que conhecemos só aquilo que vem ao nosso contato
mental, isto é, conhecemos apenas o que conhecemos. Mas b) negamos que
conhecemos aquilo que vem ao nosso contato mental como outra coisa além
do que é. Até onde conhecemos, conhecemos como é. Em outras palavras, as
leis do nosso conhecimento não são meramente arbitrárias e regulativas, mas
3 4 Augustus Hopkins Strong
correspondem à natureza das coisas. Concluímos que, em teologia, temos a
garantia de admitir que as leis do nosso pensamento são as leis do pensamento
de Deus e que os resultados do pensamento normalmente conduzido em rela­
ção a Deus correspondem à realidade objetiva.
Versus S ir W illiam Hamilton, Metaph., 96-116 e H e rb e rt Spencer, First Prin­
cipies, 68-97. Esta doutrina da relatividade deriva de Kant, que, na Crítica da
Razão Pura, sustenta que os juízos a priori são somente “reguladores”. Res­
pondemos, entretanto, que, quando se acha que as crenças primitivas são
apenas reguladoras, elas deixam de regulamentar. As formas de pensamento
são também fatos da natureza. Diferentemente do vidro de um caleidoscópio,
a mente não fornece as formas; ela reconhece que estas têm existência exte­
rior a ela mesma. A mente lê as suas idéias não rumo ao interior da natureza,
mas nela. Nossas intuições não são lentes verdes que fazem o mundo todo
parecer verde: são lentes de um microscópio, que nos capacitam a ver o que
é objetivamente real (Royce, Spirit of Mod. Philos., 125). Kant chamava o
nosso entendimento de “legislador da natureza”. Mas isto é verdade, só como
descobridor das suas leis, não como seu criador. A razão humana impõe as
suas leis e formas sobre o universo; mas, fazendo isso, ela interpreta o senti­
do real dele.
Ladd, Philos. of Knowledge: “Todo juízo implica uma verdade objetiva
segundo a qual julgamos e que constitui o padrão e com a qual temos algo
em comum, /.e., as nossas mentes são parte de uma mente infinita e eterna”.
Aforismo francês: “Quando você está certo, você está mais certo do que pen­
sa estar”. Deus não nos põe em permanente confusão intelectual. Foi debal-
de que Kant escreveu “trânsito não impedido” sobre a razão em seu mais
elevado exercício. Martineau, Study of Religion, 1.135,136 - “Bem ao contrá­
rio da suposição de Kant de que a mente nada pode conhecer além de si
mesma, podemos estabelecer a suposição de Comte, igualmente sem garan­
tia, de que a mente não pode conhecer-se a si mesma ou os seus estados.
Não podemos ter filosofia sem suposições. Você dogmatiza se diz que as
formas correspondem à realidade; mas igualmente você dogmatiza se diz
que não correspondem. ... 79 - Que as nossas faculdades cognitivas corres­
pondem às coisas tais quais são, é muito menos surpreendente do que se
elas correspondem às coisas que não são". W. T. H arris, in Journ. Spec.
Philos., 1.22, expõe as contradições próprias de Spencer: “Todo o conheci­
mento não é absoluto, mas relativo; nosso conhecimento deste fato, entretan­
to, não é relativo, mas absoluto”.
R itschl, Justification and Reconciliation, 3.16-21, estabelece limites, com
uma correta afirmação da natureza do conhecimento, e adere à doutrina de
Lotze, distinta da de Kant. A declaração de R its c h l pode resumir-se da
seguinte maneira: Tratamos, não do Deus abstrato da metafísica, mas do
Deus que a si mesmo se limitou e se revela em Cristo. Não conhecemos ou
as coisas, ou Deus independentemente dos seus fenômenos ou manifesta­
ções, como imaginava Platão; não conhecemos os fenômenos ou manifesta­
ções sozinhos, sem conhecer as coisas ou Deus, como supunha Kant; mas,
na verdade, conhecemos tanto as coisas como Deus nos fenômenos e mani-
T e o lo g ia S ist e m á t ic a 35
'estações, como ensinava L o tz e . Não sustentamos a união mística com Deus,
:endo como retaguarda toda a experiência religiosa, como ensina o Pietismo;
a alma está sempre e somente em atividade e a religião é a atividade do
espírito humano no qual o sentimento, o conhecimento e a vontade combi­
nam-se numa ordem inteligível”.
Porém o Dr. C. M. M ead, Ritschl’s Place in the History of Doctrine, bem
~iostra que R its c h l não seguiu L o tz e . Seus “
juízos de valor”são apenas uma
aplicação do princípio “regulador” de K a n t à teologia. Ele sustenta que pode­
mos conhecer as coisas não como são em si mesmas, mas só como se nos
apresentam. Retrucamos que, o que as coisas são para nós depende do que
são em si mesmas. R its c h l considera as doutrinas da preexistência de Cristo,
divindade e expiação como intromissões da metafísica na teologia, matéria a
respeito da qual não podemos conhecer e com a qual nada temos a ver. Não
há propiciação ou união mística com Cristo; e Cristo é o nosso exemplo, mas
não o nosso Salvador expiador. R its c h l faz bem em reconhecer que o amor
em nós dá olhos à mente e nos capacita a ver a beleza de Cristo e sua verda­
de. Mas o nosso juízo não é, como ele defende, um juízo de valor meramente
subjetivo, - é uma entrada em contato com o fato objetivo.
3. Xa revelação do próprio Deus
Como neste lugar não tentamos apresentar uma prova positiva da existên­
cia de Deus ou da capacidade que o homem tem de conhecer a Deus, assim
não tentamos, por ora, provar que Deus entrou em contato com a mente huma­
na através da revelação. Daqui para frente consideraremos as bases desta crença.
Por ora, nosso alvo é simplesmente mostrar que, admitindo o fato da revela­
ção, é possível uma teologia científica. Isto tem sido negado nas seguintes
bases:
A) Que a revelação, como um processo de tom ar conhecido, é necessaria­
mente interior e subjetiva - quer seja um modo de inteligência, quer um des­
pertar das forças cognitivas - e, por isso, não pode fornecer nenhum fato obje­
tivo que constitua material próprio para ciência.
M o r e ll, Philos. fíeligion, 128-131,143 - “A Bíblia não pode com a estrita
exatidão da língua, ser chamada de revelação, visto que uma revelação sem­
pre implica um verdadeiro processo de inteligência em uma mente viva”.
F. W. Newman, Phases of Faith, 152 - “Nada conhecemos do nosso Deus
moral e espiritual exteriormente - sempre interiormente”. T h e o d o re P a rk e r:
“
A revelação verbal nunca pode comunicar uma simples idéia como a de Deus,
da Justiça, do Amor, da Religião”. James M a rtin e a u , Seat ofAuthority in Religion:
“Tantas mentes quantas existem conhecem a Deus ao primeiro contato, tem
havido tantos atos reveladores e tantos quantos o conhecem indiretamente
são estranhos à revelação”; assim, admitindo que a revelação exterior seja
impossível, M a rtin e a u sujeita todas provas de tal revelação à desleal crítica
destrutiva. P fle id e r e r, Philos. Religion, 1.18 5 - “Como toda revelação é origi-
3 6 Augustus Hopkins Strong
nariamente uma experiência de vida interna, o aparecimento da verdade reli­
giosa no coração, nenhum evento pode pertencer de si mesmo à revelação,
independente de ser natural ou sobrenaturalmente ocasionado”. P r o f. G e o rg e
M . F o rb e s : “Nada nos pode ser revelado que não se prenda à nossa razão.
Segue-se que, na medida em que a razão age normalmente, ela é uma parte
da revelação”. R itc h ie , Darwin and Hegel, 30 - “A revelação de Deus é o
desenvolvimento da sua idéia”.
Em resposta a esta objeção, apresentada principalmente pelos idealistas na
filosofia:
d) Admitimos que a revelação, para ser eficaz, deve ser o meio de induzir a
um novo modo de inteligência, ou, em outras palavras, deve ser entendida.
Admitimos que este entendimento das coisas divinas é impossível sem um
despertar das forças cognitivas do homem. Além disso, admitimos que a revela­
ção, quando originariamente transmitida, via de regra era interior e subjetiva.
M a th e s o n , Moments on the Mount, 51-53, sobre Gl. 1.16 - “revelar o seu
Filho em mim”; “A revelação no caminho de Damasco não teria iluminado
Paulo se não fosse somente uma visão dos seus olhos. Nada pode ser reve­
lado para nós que não tenha sido revelado dentro de nós. O olho não vê a
beleza da paisagem, nem o ouvido ouve a beleza da música. Do mesmo
modo a carne e o sangue não nos revelam Cristo. Sem o ensino do Espírito,
os fatos exteriores serão somente como as letras de um livro para uma crian­
ça que não sabe ler”. Podemos dizer com C h a n n in g : “Estou mais certo de que
minha natureza racional vem de Deus mais do que qualquer livro que expres­
se a sua vontade”.
b) Mas negamos que a revelação exterior é, por isso, inútil e impossível.
Mesmo que as idéias religiosas surgissem totalmente de dentro, uma revelação
externa podia despertar os poderes dormentes da mente. Contudo, as idéias
não surgem totalmente de dentro. A revelação exterior pode transmiti-las.
O homem pode revelar-se através de comunicação exterior e, se Deus tem
poder igual ao do homem, pode revelar-se de igual maneira.
R o g e rs , Eclipse of Faith, indaga assinaladamente: “Se a S ra . M o r e ll e a
S ra . Newman ensinam através de um livro, não pode Deus fazer o mesmo?”
L o tz e , Microcosm, 2.660 (livro 9, cap. 4), fala da revelação “contida em algum
ato divino, da ocorrência histórica ou repetido continuamente no coração do
homem”. Mas, na verdade, não há nenhuma alternativa aqui; a força do credo
cristão é que a revelação de Deus é tanto exterior quanto interior. R ainy, Criti­
cai Review, 1.1-21, diz com precisão que, sem garantia, M a rtin e a u isola da
alma do indivíduo a testemunha de Deus. As necessidades interiores preci­
sam ser combinadas com as exteriores a fim de assegurar que não se trata
de um capricho da imaginação. É necessário distinguirmos as revelações de
T e o lo g ia S ist e m á t ic a 37
Deus das nossas fantasias. Daí, antes de dar-nos o padrão interior, Deus, via
se regra, nos dá o exterior, através do qual testamos nossas impressões.
Somos finitos e pecadores e necessitamos de autoridade. A revelação exterior
recomenda-se como tendo autoridade sobre o coração que reconhece as suas
necessidades espirituais. A autoridade exterior evoca o testemunho interior e
ihe dá maior clareza, mas só a revelação histórica fornece prova inconteste
de que Deus é amor e nos dá a segurança de que os nossos anseios para
com Deus não são vãos.
c) Por isso a revelação de Deus pode ser e, como veremos daqui em diante,
é. em grande parte, uma revelação exterior em obras e palavras. O universo é
uma revelação de Deus; as obras de Deus na natureza precedem as suas pala­
vras na história. Contudo, reivindicamos que, em muitos casos em que se
comunicou a verdade originariamente de forma interior, o mesmo Espírito
que a comunicou efetuou seu registro exterior, de modo que a revelação inte­
rior pôde ser transmitida a outros além dos que primeiro a receberam.
Não devemos limitar a revelação às Escrituras. O Verbo eterno antedatou
a palavra escrita e, através do Verbo eterno, Deus se fez conhecido na natu­
reza e na história. A revelação exterior precede e condiciona a interior.
No tempo certo a terra aparece antes do homem e a sensação antes da per­
cepção. A ação expressa melhor o caráter e a revelação histórica ocorre mais
pelos fatos do que pelas palavras. D o rn e r, Hist. Prot. Theol., 1.231-264 -
“O Verbo não está apenas nas Escrituras. Toda a criação o revela. Na nature­
za Deus mostra o seu poder; na encarnação a sua graça e verdade. A Escri­
tura dá testemunho delas, mas não é a Palavra essencial. Na verdade, a
Escritura a apreendeu e apropriou quando, nela e através dela vemos o Cris­
to vivo e presente. Ela não só confina a si os homens, mas aponta para Cristo
de quem testifica. Cristo é a autoridade. Nas Escrituras ele nos aponta para si
mesmo e demanda a nossa fé nele. Uma vez gerada esta fé, ela não nos leva
a uma nova apropriação da Escritura, mas à uma nova crítica a respeito dela.
Cada vez mais encontramos Cristo na Escritura e ainda julgamo-la cada vez
mais segundo o padrão que há em Cristo”.
Newman S m ith, Christian Ethics, 71-82: “Há somente uma autoridade-Cris­
to. Seu Espírito opera de muitas maneiras, mas principalmente de duas: pri­
meiro, a inspiração das Escrituras e segundo, a condução da igreja rumo à
verdade. Esta não deve isolar-se ou separar-se daquela. A Escritura é a lei da
consciência cristã, e a consciência cristã no tempo faz a lei voltar-se para a
Escritura - interpretando-a, criticando-a, verificando-a. A palavra e o espírito
respondem um ao outro. A Escritura e a fé são coordenadas. O protestantis­
mo tem exagerado a primeira; o romanismo a segunda. M a rtin e a u deixa de
captar a coordenação entre a Escritura e a fé.”
d) Com este registro exterior também veremos que ocorre sob adequadas
condições a influência especial do Espírito de Deus, de modo a despertar os
38 Augustus Hopkins Strong
poderes cognitivos que o registro exterior reproduz em nossas mentes as idéias
de que as mentes dos escritores estavam divinamente cheias.
Podemos ilustrar a necessidade da revelação interna a partir da egiptolo-
gia, que é impossível até onde a revelação externa nos hieróglifos não é inter­
pretada; a partir do tique-taque do relógio no escuro compartimento, onde só
a vela acesa capacita-nos a narrar o tempo; a partir da paisagem espalhada
em volta do Rigi na Suíça, invisível até que os primeiros raios do sol toquem
os nevosos picos da montanha. A revelação exterior (çavépcoaiç, Rm. 1.19,20)
deve ser suplementada pela interior (à7toKáXtn(/iç 1 Co. 2.10,12). Cristo é o
órgão da revelação exterior, o Espírito Santo da interior. Em Cristo (2 Co. 1.20)
estão o “sim” e “o Amém”- a certeza objetiva e a subjetiva, a realidade e a
realização.
A certeza objetiva deve tornar-se subjetiva para a teologia científica. Antes
da conversão temos a primeira, a verdade exterior de Cristo; só na conversão
e depois dela passamos a ter a segunda, “Cristo formado em nós” (Gl. 4.19).
Temos a revelação objetiva no Sinai (Ex. 20.22); a revelação subjetiva no
conhecimento que Eliseu teve de Geazi (2 Re. 5.26). Jam es R u s s e l L o w e ll,
Winter Evening Hymn to my Fire: “Por isso, contigo gosto de ler os nossos
bravos poetas antigos: ao teu toque como despertas a Vida nas palavras
secas! Como a correnteza retrocede as sombras do Tempo! e como os lam­
peja ainda pela sua massa morta o verso incandescente, Como quando
sobre a bigorna do cérebro lança o brilho, ciclopicamente produzido Através
dos velozes malhos latejantes do pensamento do poeta!”
é) As revelações interiores assim registradas e as exteriores assim interpre­
tadas fornecem ambas fatos objetivos que podem servir como material pró­
prio para a ciência. Apesar de que a revelação, em seu mais amplo sentido
pode incluir e, constituindo a base da possibilidade da teologia na verdade
inclui, tanto o discernimento como a iluminação, também pode ser empregada
para denotar simplesmente uma provisão dos recursos exteriores do conheci­
mento e a teologia tem que ver com as revelações interiores só na medida em
que se expressam neste padrão objetivo ou que concordam com elas.
Já sugerimos aqui o vasto escopo e ainda as insuperáveis limitações da
teologia. Em qualquer lugar em que Deus se revela, quer na natureza, na
história, na consciência, ou na Escritura, a teologia pode encontrar material
para a sua estrutura. Porque Cristo não é somente o Filho de Deus encarna­
do, mas também o Verbo eterno, o único Revelador de Deus, não existe teo­
logia alguma separada de Cristo e toda ela é teologia cristã. A natureza e a
história são apenas mais sóbrios e generalizados descortinos do Ser divino,
de que a Cruz é o clímax e a chave. Deus não tem a intenção de ocultar-se.
Ele quer ser conhecido. Ele se revela em todos os tempos tão plenamente
como a capacidade das suas criaturas o permitem. O intelecto infantil não
pode entender a infinitude de Deus, nem a disposição perversa entender a
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A Teologia Sistemática de Strong

  • 1. Vol. I A u g u s t u s H o p k i n s STRONG P r e f á c i o d e R u s se 11 S h e d d
  • 2. AUGUSTUS HOPKINS STRONG Nasceu em Nova York (Rochester), E.U.A., Em 1836. Homem de grande vigor intelectual, literato, filósofo e teólogo, Strong cresceu e se formou dentro da Igreja Batista. Tal perfil se faz presente em sua obra, não de forma limitante, mas criativa eatenta às mudanças que fervilhavam em sua época “fin-de-siécle”. Sua obra teológica, prezando a reflexão teológicaqualificada e aprofundada mais que a quantidade, marcou toda uma geração de estudantes do início do século pas­ sado, inclusive no Brasil. Dentre suas obras, desponta a Systematic Theology, sua opus magnum.
  • 3. T E O L Q G I A SISTEMATICA A u g u s t u s H o p k i n s STRONG P r e f á c i o d e R u s s e l l S h e d d A D outrina de D eus Vol. I A NAGNOS
  • 4. Copyright © 2003 por Editora Hagnos S u p erv isã o E d itorial Luiz Henrique Alves cia Silva Rogério cie Lima Campos Silvestre M. c/e Lima Silvia Cappelletti T radu ção Augusto Victorino R evisão Cláudio J. A. Rodrigues D ig ita çã o de textos Regina de Moura Nogueira Capa Rogério A. de Oliveira L ayou t e A rte F in al Comp System D iagram ação Pr. Regino da Silva Noqueira Cícero J. da Silva C oord en ad or de P rod u ção M auro W. Terrengui Ia edição - março 2003 - 3000 exemplares Im p ressão e acab am en to Imprensa da Fé D ad os In tern a cio n a is de C ata lo g a çã o na P u b lica çã o (C IP ) (C âm ara B ra sileira do L ivro, SP, B rasil) Strong, A ugustus Hopkins Teologia sistem ática/ A ugustus Hopkins Strong ; prefácio de Russell Shedd ; [tradução A ugusto Victorino]. - São Paulo : Hagnos, 2003. Título original: Systematic theology Conteúdo: V. 1. A doutrina de Deus 1. Batistas - D outrinas 2. Teologia doutrinai I. Shedd, Russell. II. Título. ISBN 85-89320-09-X 03-0919 CDD-230 ín d ices para catálogo sistem ático: I. Teologia sistem ática : Religião 230 Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA HAGNOS Rua Belarm ino Cardoso de A ndrade, 108 São Paulo - SP - 04809-270 Tel/Fax: (x x ll) 5666 1969 e-m ail: hagnos@ hagnos.com .br-w w w .hagnos.com .br
  • 5. PREFÁCIO Foi uma grande surpresa saber que a Teologia Sistemática de Strong, aquela obra monumental de pensamento teológico da minha juventude na Escola Graduada de Wheaton, bem como no Seminário da Fé, estava sendo traduzida e editada em portu­ guês. Confesso que não tenho lido muito desta teologia, tão conhecida no mundo evan­ gélico durante mais de cem anos. Mas descobri que é uma vasta fonte de informação teológica e bíblica. Não é necessário concordar com tudo que Strong escreveu para aproveitar a impressionante coletânea de ensinamentos e textos que o incansável teólo­ go ajuntou. Augustus Strong foi eleito presidente e professor de Teologia Bíblica do Seminário Teológico de Rochester no estado de Nova Iorque em 1872. Ocupou estes dois cargos durante 40 anos, após pastorear a Primeira Igreja Batista de Cleveland, estado de Ohio, por sete anos. Não abandonou o espírito pastoral na “torre de marfim” do seminário. A Teologia Sistemática de Strong (primeira edição, 1886) encontra o seu centro em Cristo. Em suas palavras, “A pessoa de Cristo foi o fio da meada que segui; sua divindade e sua expiação eram os dois focos da grande elipse” (citado por W. R. Estep, Jr. na Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, ed. W. A. Elwell, Ed.Vida Nova, 1990, Vol. III, p. 420).O leitor não precisa ler os dois volumes para perceber a riqueza de apoio bíblico e teologia histórica. Entre os teólogos mais destacados dos Batistas do Sul dos Estados Unidos, E. Y. Mullins e W. T. Conner receberam forte influência de Strong Espero que o aparecimento desta Teologia Sistemática seja bem recebido no Brasil. Deve ser um referencial para os que procuram uma âncora para sua fé, mesmo que tenha sido escrita antes dos teólogos liberais tais como Paul Tillich e Rudolf Bultmann. A Deus toda a glória! P r . D r . R u sse l l S hedd
  • 6. José dos Reis E-Books Digital A gradecem os a WAGNER E D U AR D O D E L IM A f p o r quem se viabilizou editar esta. obra em língua portuguesa. OS EDITORES
  • 7. PREFÁCIO DO AUTOR A presente obra é uma revisão e ampliação da minha Systematic Theology, primeiramente publicada em 1886. Da obra original foram impressas sete edi­ ções, cada uma das quais incorporando sucessivas correções e supostos apri­ moramentos. Durante os vinte anos que mediaram entre a primeira publica­ ção, reuni muito material novo, que agora ofereço ao leitor. Meu ponto de vista filosófico e crítico nesse período também sofreu alguma mudança. Con­ quanto ainda eu sustente as doutrinas antigas, interpreto-as diferentemente e exponho-as com maior clareza, porque a mim me parece ter chegado a uma verdade fundamental que lança novas luzes sobre todas elas. Esta verdade tentei estabelecer em meu livro intitulado Christ in Creation, e delas faço refe­ rências ao leitor para mais informações. Que Cristo é aquele único Revelador de Deus, na natureza, na humanida­ de, na história, na ciência, na Escritura, a meu juízo, a chave da teologia. Este ponto de vista implica uma concepção monística e idealista do mundo, junta­ mente com uma idéia evolutiva quanto à sua origem e progresso. Mas é o próprio antídoto do panteísmo que reconhece a evolução como único método do Cristo transcendente e pessoal, que é tudo em todos e que faz o universo teológico e moral a partir do centro da sua circunferência e desde o seu come­ ço até agora. Nem a evolução, nem a alta crítica tem algo de aterrador para aquele que as considera como parte do processo criador e educador da parte de Cristo. O mes­ mo Cristo em quem estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conheci­ mento fornece todas as salvaguardas e limitações necessárias. Tão somente porque Cristo tem sido esquecido é que a natureza e a lei tem sido personifica­ da, e a história tem sido considerada como um desenvolvimento sem propósi­ to, que se tem feito referência ao judaísmo como tendo uma origem simples­ mente humana, que se tem pensado que Paulo tirou a igreja do seu próprio curso mesmo antes de iniciar o seu próprio curso, que a superstição e ilusão vieram a parecer o único fundamento do sacrifício dos mártires e o triunfo das missões modernas. De modo nenhum creio numa evolução irracional e ateísta como esta. Contrariamente, creio naquele em quem consistem todas as coisas,
  • 8. 8 Augustas Hopkins Strong que está com o seu povo até o fim do mundo e prometeu conduzi-lo em toda a verdade. A filosofia e a ciência são boas servas de Cristo, mas pobres guias quando rejeitam o Filho de Deus. Quando chego ao meu septuagésimo ano de vida e, no meu aniversário escrevo estas palavras, sou grato por aquela experiência da união com Cristo que me capacitou a ver na ciência e na filosofia o ensino do meu Senhor. Porém esta mesma experiência pessoal fez-me mais conscien­ te do ensino de Cristo na Escritura, e fez-me reconhecer em Paulo e João uma verdade mais profunda do que a que foi descoberta por quaisquer escritores, uma verdade com relação ao pecado e a sua expiação e que satisfaz os mais profundos anseios da minha natureza e que por si mesma é evidente e divina. Preocupam-me algumas tendências teológicas dos nossos dias, porque creio que elas são falsas tanto na ciência como na religião. Como homens que se sentem pecadores perdidos e que uma vez receberam o perdão do seu Senhor e Salvador crucificado podem daí em diante rebaixar seus atributos, negar a sua divindade e expiação, arrancar da sua fronte a coroa do milagre e sobera­ nia, relegá-lo ao lugar de um mestre simplesmente moral que nos influencia apenas como o fez Sócrates com palavras proferidas através dos tempos, pas­ sa pela minha compreensão. Eis aqui o meu teste de ortodoxia: Dirigimos nossas orações a Jesus? Invocamos o nome de Cristo como Estêvão e toda a igreja primitiva? O nosso Senhor vivo é onipresente, onisciente, onipotente? Ele é divino só no sentido em que nós também o somos, ou é ele o Filho unigênito, Deus manifesto em carne, em quem habita corporalmente toda a plenitude da divindade? Que pensais vós de Cristo? esta ainda é a pergunta crítica, e a ninguém que, diante da evidência que ele nos forneceu, se não pode responder corretamente, assiste o direito de chamar-se cristão. Sob a influência de Ritschl e seu relativismo kantiano, muitos dos nossos mestres e pregadores têm deslizado para negação prática da divindade de Cristo e da sua expiação. Parece que estamos à beira do precipício de uma repetida falha unitária, que esfacelará as igrejas e compelirá a cisões, de maneira pior que a de Channing e Ware há um século. Os cristãos americanos se recupera­ ram daquele desastre somente ao afirmar vigorosamente a autoridade de Cris­ to e a inspiração das Escrituras. Necessitamos de uma visão do Salvador como a que Paulo teve no caminho de Damasco e João na ilha de Patmos, para nos convencermos de que Jesus está acima do espaço e do tempo, que a sua exis­ tência antedata a criação, que ele conduziu a marcha da história dos hebreus, que ele nasceu de uma virgem, sofreu na cruz, levantou-se dentre os mortos, e agora vive para sempre, é Senhor do universo, o único Deus com quem nos relacionamos, nosso Salvador aqui e Juiz no futuro. Sem haver avivamento
  • 9. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 9 nesta fé nossas igrejas se tomarão secularizadas, a missão morrerá, e o casti­ çal será removido do seu lugar como ocorreu às sete igrejas da Ásia e como tem sido com as igrejas da Nova Inglaterra, que se apostataram. Imprimo esta edição revista e ampliada da minha “Systematic Theology”, na esperança de que a sua publicação possa fazer algo para refrear esta veloz maré que avança, e confirmar a fé nos eleitos de Deus. Não tenho dúvida de que os cristãos, em sua grande maioria, ainda mantêm a fé que, de uma vez por todas foi entregue aos santos e que eles, cedo ou tarde, hão de separar-se daqueles que negam o Senhor que os comprou. Quando o inimigo entra como um dilúvio, o Espírito do Senhor levanta o estandarte contra ele. E preciso que eu faça a minha parte levantando tal estandarte. E preciso que eu conduza outros a reconhecer, como eu, a despeito das opiniões arrogantes da moderna infidelidade, a minha firme crença, reforçada somente pela experiência e refle­ xão de meio século nas velhas doutrinas da santidade como atributo funda­ mental de Deus, de uma transgressão e pecado de toda a raça humana, na preparação divina da história hebréia da redenção do homem, na divindade, na preexistência, nascimento virginal, expiação vicária e ressurreição corpo­ ral do nosso Senhor Jesus Cristo, e na sua futura vinda para julgar os vivos e os mortos. Eu creio que estas são verdades da ciência assim como da revela­ ção; que ainda se verá que o sobrenatural é mais verdadeiramente natural; e que não o teólogo de mente aberta, mas o cientista de mente estreita será obrigado a esconder a sua cabeça na vinda de Cristo. O presente volume, ao tratar do Monismo Ético, da Inspiração, dos Atribu­ tos de Deus e da Trindade, contém um antídoto para a mais falsa doutrina que agora ameaça a segurança da igreja. Desejo agora chamar especialmente a atenção para o assunto Perfeição e os Atributos por ela envolvidos, porque eu creio que a recente fusão da Santidade com o Amor e a negação prática de que essa Retidão é fundamental na natureza de Deus são responsáveis pelos pon­ tos de vista utilitários da lei e os pontos de vista superficiais sobre o pecado que agora prevalecem em alguns sistemas de teologia. Não pode haver nenhu­ ma apropriada doutrina da retribuição, quando se recusa a sua preeminência. O amor deve ter uma norma ou padrão, e isto só pode ser encontrado na San­ tidade. A velha convicção do pecado e do senso de culpa que conduz o peca­ dor convicto à cruz são inseparáveis de uma firme crença no atributo de Deus logicamente auto-afirmante, anterior ao auto-comunicante e condicionado a ele. A teologia da nossa época carece de um novo ponto de vista sobre o Justo. Tal ponto de vista esclarecerá que deve haver uma reconciliação com Deus antes que o homem seja salvo, e que a consciência humana seja apaziguada só na condição de que se faça uma propiciação à Justiça divina. Neste volume eu
  • 10. 10 Augnstus Hopkins Strong proponho o que considero a verdadeira Doutrina de Deus, porque nela deve basear-se tudo o que se segue nos volumes sobre a Doutrina do Homem e a da Salvação. A presença universal de Cristo, luz que ilumina a todo homem tanto em terras pagãs como cristãs, para dirigir ou governar todos os movimentos da mente humana, dá-me a confiança de que os recentes ataques à fé cristã fra­ cassarão no seu propósito. Torna-se evidente, por fim, que não só atacam-se as obras primorosas, mas até mesmo a cidadela. Pede-se que se abandone toda a crença na revelação especial. Dizem que Jesus Cristo veio em carne exata­ mente como qualquer um de nós, e ele era antes de Abraão senão só no mesmo sentido que nós somos. A experiência cristã sabe como caraterizar tal doutrina tão logo se estabelece de um modo claro. E a nova teologia entrará em voga possibilitando que até mesmo crentes comuns reconheçam a heresia destrui- dora de almas mesmo sob a máscara de professa ortodoxia. Não faço apologia alguma do elemento homilético do meu livro. Para ser verdadeira ou útil, a teologia deve ser uma paixão. Pectus est quocl teologum facit, e nenhum zombador que apregoa a “Teologia Peitoral” rae impedirá de sustentar que os olhos do coração devem ser iluminados para perceber a ver­ dade de Deus e qiie, para conhecer a verdade, é necessário praticá-la. A teolo­ gia é uma ciência cujo cultivo pode ser bem sucedido somente em conexão com sua aplicação prática. Por isso, em cada discussão dos seus princípios devo assinalar suas relações com a experiência cristã, e a sua força para des­ pertar emoções cristãs e levar a decisões cristãs. Teologia abstrata, na verda­ de, não é científica. Só é científica a teologia que traz o estudioso aos pés de Cristo. Eu anseio pelo dia em que, em nome de Jesus, todo joelho se dobre. Creio que, se cada um servir a Cristo, o Pai o honrará, e ele honrará o Pai. Eu mes­ mo não me orgulharia de crer tão pouco, mas sim de crer muito. Fé é a medida com que Deus avalia o homem. Por que haveria de duvidar que Deus falou aos pais pelos profetas? Por que haveria de pensar que é incrível Deus ressuscitar os mortos? O que é impossível aos homens é possível a Deus. Quando o Filho do homem vier, porventura achará fé na terra? Queira Deus que encontre fé em nós, que professamos ser seus seguidores. Na convicção de que as trevas presentes são apenas temporárias e que serão banidas por um glorioso alvore­ cer, ofereço ao público esta nova edição da minha “Teologia” rogando a Deus para que qualquer que seja a boa semente que frutifique e qualquer que seja a planta que o Pai não plantou que seja arrancada. ROCHESTER THEOLOGICAL SEMINARY ROCHESTER, N. Y„ 3 de agosto de 1906.
  • 11. SUMÁRIO Parte I - PROLEGÔMENOS Capítulo I - IDÉIA DE TEOLOGIA...........................................................................21 I. Definição de Teologia................................................................................................21 II. Alvo da Teologia....................................................................................................... 22 III. Possibilidade da Teologia........................................................................................23 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo..........................23 2. Na capacidade humana de conhecer Deus........................................................ 26 3. Na revelação do próprio D eus............................................................................ 35 IV. Necessidade da Teologia......................................................................................... 41 1. No instinto organizador da mente humana....................................................... 41 2. Na relação da verdade sistemática com o desenvolvimento do caráter........42 3. Na importância dos pontos de vista definidos e justos da doutrina cristã para o pregador ........................................................................................................43 4. Na íntima conexão entre a doutrina correta e o firme e agressivo poder da igreja.....................................................................................................................44 5. Nas injunções diretase indiretas da Escritura......................................................45 V. Relação da Teologia com a Religião......................................................................... 46 1. Derivação...................................................................................................................46 2. Falsas Concepções................................................................................................... 47 3. Idéia Essencial..........................................................................................................49 4. Inferências ................................................................................................................ 50 Capítulo II - MATERIAL DA TEOLOGIA.................................................................53 I. Fontes da Teologia........................................................................................................53 1. A Escritura e a natureza........................................................................................54 2. A Escritura e o Racionalismo .............................................................................. 59 3. A Escritura e o Misticismo....................................................................................61 4. A Escritura e o Romanismo................................................................................. 64 II. Limitações da Teologia................................................................................................66 1. Na finitude do entendimento humano.................................................................. 66 2. No estado imperfeito da ciência natural e metafísica........................................ 67 3. Na inadequação da língua...................................................................................... 67 4. No nosso conhecimento incompleto das Escrituras........................................... 68 5. No silêncio da revelação escrita........................................................................... 68 6. Na falta de discernimento espiritual causada pelo pecado............................... 69
  • 12. . 69 . 69 . 70 . 72 . 72 . 72 . 73 . 73 . 74 . 75 .75 . 76 . 80 . 88 . 88 89 . 93 . 95 .95 .97 .98 106 113 118 120 121 123 124 128 131 138 138 139 139 144 144 151 158 165 12 Augiistiis Hopkins Strong III. Relações do Material com o Progresso da Teologia.................................... 1. É impossível um sistema perfeito de teologia......................................... 2. Apesar de tudo isso a teologia é progressiva........................................... Capítulo III - MÉTODO DA TEOLOGIA........................................................ I. Requisitos para o Estudo da Teologia............................................................ 1. Uma mente disciplinada............................................................................... 2. Um hábito mental intuitivo distinto de um outro simplesmente lógico. 3. Conhecimento das ciências física, mental e m oral.................................. 4. Conhecimento das línguas originais da Bíblia......................................... 5. Afeição santa para com Deus...................................................................... 6. A influência iluminadora do Espírito Santo ............................................ II. Divisões da Teologia........................................................................................ III. História da Teologia Sistemática..................................................................... IV. Ordem de Tratamento na Teologia Sistemática............................................ 1. Vários métodos de ordenação dos tópicos de um sistema teológico.... 2. O método sintético....................................................................................... Parte II - A EXISTÊNCIA DE DEUS Capítulo I - ORIGEM DA NOSSA IDÉIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS ., I. Primeiras Verdades em G eral.......................................................................... 1. Sua natureza.................................................................................................. 2. Seus critérios................................................................................................. II. A Existência de Deus, uma Primeira Verdade............................................... III. Outras Supostas Fontes da Nossa Idéia.......................................................... IV. Conteúdo desta Intuição................................................................................... Capítulo II - EVIDÊNCIAS CORROBORATIVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS.................................................................................................................. I. Argumento Cosmológico.................................................................................. 1. Defeitos do Argumento Cosmológico....................................................... II. Argumento Teleológico.................................................................................... 1. Mais explicações.......................................................................................... 2. Defeitos do Argumento Teleológico.......................................................... III. Argumento Antropológico............................................................................... IV. Argumento Ontológico..................................................................................... 1. De Samuel Clarke ....................................................................................... 2. De Descartes ................................................................................................. 3. De Anselmo................................................................................................... Capítulo III - EXPLICAÇÕES ERRÔNEAS E CONCLUSÃO................... I. Materialismo...................................................................................................... II. Idealismo Materialista...................................................................................... III.Panteísmo Idealista............................................................................................ IV. Monismo Ético.................................................................................
  • 13. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 13 Parte III - AS ESCRITURAS, UMA REVELAÇÃO DA PARTE DE DEUS Capítulo I - CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.............................................. 175 I. Razões a Priorí para Esperar uma Revelação da Parte de D eus..........................175 1. Necessidades da natureza do homem................................................................ 175 2. Pressuposição de um suprimento....................................................................... 177 II. As Marcas da Revelação que o Homem pode Esperar....................................... 179 1. Quanto à sua substância..................................................................................... 179 2. Quanto ao seu método......................................................................................... 180 3. Quanto à sua certificação.................................................................................... 183 III. Os Milagres, um Atestado da Revelação D ivina................................................. 183 1. Definição de Milagre .......................................................................................... 183 2. Possibilidade do Milagre .................................................................................... 189 3. Probabilidade dos M ilagres............................................................................... 192 4. Testemunho necessário para se provar um milagre......................................... 197 5. Força Evidenciai dos Milagres .......................................................................... 198 6. Falsos M ilagres..................................................................................................... 203 IV. Profecia Atestando uma Revelação Divina............................................................206 1. Definição................................................................................................................206 2. Relação da profecia com os milagres ................................................................ 208 3. Requisitos na profecia, considerados como Evidência da Revelação.........208 4. Caraterísticas Gerais da Profecia nas Escrituras ..............................................209 5. Profecia messiânica em geral.............................................................................. 210 6. Profecias especiais pronunciadas por C risto....................................................210 7. Sobre o duplo sentido da Profecia......................................................................212 8. Propósito da Profecia - até onde não se cumpriu............................................ 214 9. Poder Evidenciai da Profecia - quando cumprida........................................... 216 V. Princípios de Evidência Histórica Aplicáveis à Prova de uma Revelação Divina........................................................................................................................... 217 1. Quanto à evidência documentária........................................................................217 2. Quanto ao testemunho em geral..........................................................................218 Caítulo II - PROVAS POSITIVAS DE QUE AS ESCRITURAS SÃO A REVELAÇÃO DIVINA............................................................................................222 1. Genuinidade dos Livros do Novo Testamento..................................................223 2. Genuinidade dos Livros do Velho Testamento.................................................250 II. Credibilidade dos Escritores da Bíblia................................................................... 259 III. O Caráter Sobrenatural do Ensino da Escritura....................................................262 1. O ensino da Escritura em geral...........................................................................262 2. Sistema Moral do Novo Testamento.................................................................. 266 3. A pessoa e o caráter de Cristo............................................................................ 279 4. O testemunho do próprio Cristo..........................................................................282 IV. Resultados Históricos da Propagação da Doutrina da Escritura.........................285
  • 14. 14 Augustus Hopkins Strong Capítulo III - INSPIRAÇÃO NAS ESCRITURAS...................................................293 I. Definição de Inspiração..............................................................................................293 II. Prova da Inspiração....................................................................................................296 III. Teorias Sobre a Inspiração........................................................................................302 1. Teoria da Intuição ..................................................................................................302 2. Teoria da Iluminação..............................................................................................305 3. Teoria do Ditado.....................................................................................................311 4. Teoria da Dinâmica................................................................................................314 IV. União dos Elementos Divino e Humano na Inspiração.........................................316 V. Objeções à Doutrina da Inspiração ..........................................................................330 1. Erros em matéria de Ciência............................................................................331 2. Erros em matéria de História...........................................................................336 3. Erros no campo da M oral..................................................................................341 4. Erros de Raciocínio............................................................................................345 5. Erros na citação ou interpretação do Velho Testamento.............................. 347 6. Erros na Profecia................................................................................................349 7. Alguns livros não merecem um lugar na Escritura inspirada..........................351 8. Porções dos livros da Escritura escritos por outras pessoas que não são aquelas a quem são atribuídos.............................................................................353 9. Narrativas Céticas ou Fictícias.............................................................................356 10. Reconhecimento da não inspiração de mestres da Escritura e de seus escritos..................................................................................................................359 Parte IV - NATUREZA, DECRETOS E OBRAS DE DEUS Capítulo I - ATRIBUTOS DE D EU S........................................................................ 363 I. Definição do Termo Atributos.................................................................................. 364 II. Relação dos Atributos Divinos com a Essência D ivina....................................... 364 1. Os atributos têm uma existência objetiva...................................................... 364 2. Os atributos são inerentes à essência divina..................................................366 3. Os atributos pertencem à essência divina como tal ......................................367 4. Os atributos manifestam a essência divina....................................................367 III. Métodos para Determinar os Atributos Divinos................................................... 368 1. Método racional.....................................................................................................368 2. Método bíblico.......................................................................................................369 IV. Classificação dos Atributos...................................................................................... 369 V. Atributos Absolutos ou Imanentes .......................................................................... 372 Primeira divisão - Espiritualidade e os atributos envolvidos por ela.................372 1. V ida......................................................................................................................... 374 2. Pessoalidade.......................................................................................................... 376 Segunda Divisão - Infinitude e os atributos envolvidos por ela......................... 378 Terceira Divisão - Perfeição e os atributos por ela envolvidos.......................... 388 1. Verdade................................................................................................................... 388
  • 15. I T e o l o g ia S is t e m á t ic a 15 2. Am or......................................................................................................................... 391 3. Santidade..................................................................................................................399 VI. Atributos Relativos ou Transitivos........................................................................... 410 Primeira Divisão - Atributos relacionados com Tempo e Espaço...................... 410 1. Eternidade................................................................................................................410 2. Imensidade............................................................................................................... 415 Segunda Divisão - Atributos relacionados com a Criação...................................417 1. Onipresença.............................................................................................................417 2. Onisciência.............................................................................................................. 421 3. Onipotência..............................................................................................................427 Terceira Divisão - Atributos relacionados com os seres m orais.........................430 1. Veracidade e Fidelidade ou Verdade transitiva..................................................430 2. Misericórdia e Bondade ou Amor Transitivo......................................................431 3. Justiça e Retidão, ou Santidade Transitiva......................................................... 433 VII. Nível e Relações dos Vários Atributos .................................................................440 1. Santidade, atributo fundamental de D eus...........................................................441 2. A santidade de Deus, a base da obrigação m oral............................................. 445 Capítulo II - DOUTRINA DA TRINDADE..............................................................452 I. Na Escritura há Três que são Reconhecidos como D eus......................................454 1. Provas do Novo Testamento................................................................................ 454 2. Indicações do Velho Testamento..........................................................................472 II. Estes três são Descritos na Escritura de tal Modo que Somos Compelidos a Concebê-los como Pessoas Distintas.................................................................... 479 1. O Pai e o Filho são pessoas distintas uma da outra..........................................479 2. O Pai e o Filho são pessoas distintas do Espírito............................................. 480 3. O Espírito Santo é uma pessoa.............................................................................480 III. Esta Tripessoalidade da Natureza Divina não é Simplesmente Econômica e Temporal, mas Imanente e Eterna............................................................................. 485 1. Prova da Escritura de que estas distinções de pessoalidade são eternas....485 2. Erros refutados pelas passagens anteriores........................................................486 IV. Esta Tripessoalidade não é Triteísmo; pois, Conquanto Haja Três Pessoas, há Apenas Uma Essência........................................................................................... 491 V. As Três Pessoas, Pai, Filho, e Espírito Santo, são Iguais .................................... 496 1. Estes títulos pertencem às Pessoas...................................................................... 496 2. Sentido qualificado destes títulos ....................................................................... 497 3. Geração e processos consistentes com a igualdade..........................................504 VI. Inescrutável, Embora não Autocontraditória, esta Doutrina Fornece a Chave para Todas as Outras Doutrinas.................................................................... 509 1. O modo desta existência triúna é inescrutável.................................................. 509 2. A Doutrina da Trindade não é autocontraditória..............................................512 3. A doutrina da Trindade tem importantes relações com outras doutrinas .... 514 Capítulo III - OS DECRETOS DE DEUS..................................................................522 I. Definição de Decretos...............................................................................................522
  • 16. 16 Augustus Hopkins Strong II. Prova da Doutrina dos Decretos...............................................................................525 1. Da Escritura............................................................................................................525 2. Da Razão................................................................................................................ 527 III. Objeções à Doutrina dos Decretos.......................................................................... 532 1. Que eles são inconsistentes com a livre atuação do homem ..........................532 2. Que eles afastam todo o motivo do exercício humano.................................. 536 3. Que eles fazem Deus o autor do pecado............................................................539 VI. Notas Finais............................................................................................................. 544 1. Empregos práticos da doutrina dos decretos.................................................... 544 2. O verdadeiro método da pregação da doutrina.................................................545 Capítulo IV - AS OBRAS DE DEUS; OU A EXECUÇÃO DOS DECRETOS . 547 SEÇÃO I - CRIAÇÃO I. Definição de Criação.................................................................................................547 II. Prova da Doutrina da Criação.................................................................................. 551 1. Declarações diretas da Escritura..........................................................................551 2. Evidência indireta da Escritura........................................................................... 556 III. Teorias que se opõem à Criação ............................................................................. 556 1. Dualismo................................................................................................................556 2. Emanação...............................................................................................................564 3. Criação a partir da eternidade............................................................................. 568 4. Geração espontânea..............................................................................................573 IV. O Relato Mosaico da Criação..................................................................................575 2.Interpretação adequada..........................................................................................579 V. O Fim de Deus na Criação......................................................................................... 583 1. O testemunho da Escritura...................................................................................583 2. O testemunho da razão......................................................................................... 585 VI. Relação da Doutrina da Criação com as outras Doutrinas................................590 1. Com a santidade e a benevolência de Deus...................................................... 590 2. Com sabedoria e livre vontade de Deus ............................................................592 3. Com Cristo como revelador de Deus................................................................. 594 4. Com a Providência e a Redenção .......................................................................597 5. Com a observância do Sábado............................................................................ 598 SEÇÃO II - PRESERVAÇÃO I. Definição de Preservação......................................................................................... 602 II. Prova da Doutrina da Preservação........................................................................... 603 1. Da Escritura............................................................................................................603 2. Da Razão................................................................................................................604 III. Teorias que virtualmente negam a doutrina da Preservação............................... 607 1. Deísmo....................................................................................................................607 2. Criação contínua ................................................................................................... 609 IV. Notas sobre a Parceria D ivina..................................................................................612 SEÇÃO III - PROVIDÊNCIA I. Definição de Providência......................................................................................614
  • 17. 17 615 615 622 625 625 626 627 632 632 633 642 646 650 650 655 658 660 673 673 674 677 677 678 T e o l o g ia S is t e m á t ic a II. Prova da Doutrina da Providência.......................... 1. Prova escriturística............................................... 2. Prova racional ....................................................... III. Teorias opostas à Doutrina da Providência........... 1. Fatalismo............................................................... 2. Casualismo............................................................ 3. Teoria de uma providência simplesmente geral IV. Relações da Doutrina da Providência.................... 1. Com os milagres e com as obras da graça........ 2. Com a oração e a resposta................................... 3. Com a atividade cristã......................................... 4. Com os maus atos dos agentes livres................ SEÇÃO IV - OS ANJOS BONS E OS MAUS I. Afirmações e Sugestões da Escritura..................... 1. Quanto à natureza e atributos dos anjos ........... 2. Quanto ao seu número e organização............... 3. Quanto ao seu caráter moral .............................. 4. Quanto às suas funções....................................... II. Objeções à Doutrina dos Anjos............................... 1. À doutrina dos anjos em geral ........................... 2. À doutrina dós anjos maus em particular.......... III. Empregos práticos da Doutrina dos A n jo s........... 1. Emprego da doutrina dos anjos bons................. 2. Empregos da doutrina dos anjos maus..............
  • 19. C a p í t u l o I IDÉIA DE TEOLOGIA I. DEFINIÇÃO DE TEO LO GIA Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo. Embora a palavra “ teologia”seja empregada às vezes em escritos dogmá­ ticos para designar um simples departamento da ciência que trata da nature­ za e atributos divinos, o uso prevalecente, desde Abelardo (1079-1142 A .D.), que intitulou seu tratado geral “Theologia Christiana”, o qual abrange sob este termo todo o acervo da doutrina cristã. Por isso, a teologia trata, não só de Deus, mas das relações entre Deus e o universo, motivo por que falamos da Criação, da Providência e da Redenção. Os Pais chamam o Evangelista João de “o teólogo”, porque ele trata mais plenamente do relacionamento interno das pessoas da Trindade. G r e g ó r i o N a z i a n z e n o (328) recebeu esta designação porque defendia a divindade de Cristo contra os arianos. Para um exemplo moderno deste emprego do termo “teologia” no sentido restrito, veja o título do primeiro volume do D r . H o d g e : “Systematic Theology, Vol. I: Teologia". Mas teologia não é somente “a ciên­ cia de Deus”, nem mesmo “a ciência de Deus e do homem”. Ela também dá conta das relações entre Deus e o universo. Se o universo fosse Deus, a teologia seria a única ciência. Visto que o universo é apenas uma manifestação de Deus e distingue-se dele, há ciências da natureza e da mente. A teologia é a “ciência das ciências”, não no sentido de incluir todas estas, mas no de empregar os seus resultados e mostrar a sua base subjacente; (ver W ardlaw, Theology, 1.1,2). A ciência física não é uma parte da teologia. Somente como físico, Humboldt não precisava mencio­ nar o nome de Deus em seu Cosmos (contudo vejamos Cosmos, 2.413, onde ele diz: “O Salmo 104 apresenta uma imagem do cosmos todo”). O Bispo de C a rlisle: “A ciência é atéia, mas nem por isso pode ser ateísta”. Só quando consideramos as relações das coisas finitas com Deus é que o estudo delas fornece material para a teologia. A antropologia é uma parte da teologia porque a natureza do homem é obra de Deus e porque a forma de Deus tratar o homem lança luz sobre o caráter de Deus. Deus é conhecido através das suas obras e das suas atividades. Por isso a teologia dá conta destas obras e atividades na medida que elas acompanham o nosso conheci­ mento. Todas outras ciências exigem a teologia para sua explicação completa.
  • 20. 2 2 Augustus Hopkins Strong Proudhon: “Se você se aprofundar muito na política, esteja certo de entrar na teologia”. II. ALVO DA TEOLOGIA O alvo da teologia é a certificação dos fatos que dizem respeito a Deus e às relações entre Deus e o universo, e a apresentação de tais fatos em sua unida­ de racional como partes conexas de um formulado e orgânico sistema de ver­ dade. Ao definirmos a teologia como ciência, indicamos o seu alvo. A ciência não cria; descobre. A teologia responde a esta descrição da ciência. Desco­ bre fatos e relações, mas não os cria. Fisher, Nature and Method of Revelation, 141 - “S ch ille r, referindo-se ao ardor da fé em Colombo, diz que, se o grande descobridor não tivesse achado um continente, ele o teria criado. Mas a fé não é criativa. Se Colombo não tivesse achado a terra - não teria havido uma resposta objetiva da sua crença - sua fé teria sido mera fantasia”. Porque a teologia trata de fatos objetivos, recusamo-nos a defini-la como “ciência da religião”; versus Am. Theol. Rev., 1850.101-126, eTHORNWELL, Theology, 1.139. Tanto os fatos como as relações de que a teologia trata têm uma existência independente dos processos mentais subjetivos do teólogo. Ciência não é apenas observação, registro, verificação e formulação de fatos objetivos; é também o reconhecimento e explicação das relações entre estes fatos e a síntese tanto dos fatos como dos princípios racionais que os unem em um sistema abrangente, corretamente proporcional e orgânico. Tijolos e madeiramento espalhados não são uma casa; braços, pernas, cabe­ ças e troncos separados numa sala de dissecção não são homens vivos; e fatos isolados não constituem ciência. Ciência = fatos + relações; W h e w e l l , Hist. Inductive Sciences, I, Introd., 43 - “Pode haver fatos sem ciência, como no conhecimento do cavouqueiro; pode haver pensamento sem ciência, como na antiga filosofia grega”. A. MacDonald: “O método a priori relaciona-se com o método a posterioricomo as velas com o mastro de uma embarcação: quanto melhor é a filosofia, maior é a providência de um número suficiente de fatos; doutra forma ocorre o perigo de transtornar o empreendimento”. Presidente W oodrow W ilson: “A enfática injunção da nossa era diz aos historiadores: ‘dai-nos os fatos’. ... Mas os fatos em si não constituem a ver­ dade. A verdade não é concreta; é abstrata. É só a idéia, a revelação correta, do sentido que as coisas têm. Ela só é evocada pela distribuição e ordenação dos fatos que sugerem o sentido”. Dove, Logic of the Christian Faith, 14 - “Perseguir a ciência é perseguir as relações”. Everett, Science of Thought, 3 - “Logia” (p.ex. na palavra “teologia”), de Xóyoç,, = palavra + razão, expressão + pensamento, fato + idéia; cf. Jo. 1.1 - “No princípio era o Verbo”. Como a teologia trata de fatos objetivos e suas relações, assim a disposi­ ção destes fatos não é opcional, mas determinada pela natureza da matéria de que ela trata. A verdadeira teologia repensa os pensamentos de Deus e os põe na disposição de Deus, como os construtores do templo de Salomão
  • 21. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 23 tomaram as pedras já lavradas e as fixaram nos lugares para os quais o arquiteto as havia designado; Reginald Heber: “Não caiu nenhum martelo, nenhum machado tiniu; Como a longa palmeira, surgiu a fábrica mística”. . Os cientistas não temem que os dados da física bitolem ou comprimam o seu intelecto; nem devem temer os fatos objetivos que são os dados da teologia. Não podemos fazer teologia do mesmo modo que não podemos fazer uma lei da natureza física. Como o filósofo natural é “Naturae minister et interpres”, assim o teólogo é servo e intérprete da verdade objetiva de Deus. m . POSSIBILIDADE DA TEOLOGIA A possibilidade da Teologia tem uma tríplice base: 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo; 2. Na capacidade da mente humana de conhecer Deus e algumas de tais relações; 3. Na provisão de meios pelos quais Deus se põe em real contato com a mente ou, em outras palavras, na provisão de uma revelação. Qualquer ciência em particular só se torna possível quando combina três condições, a saber, a verdadeira existência do objeto de que ela trata, a capa­ cidade subjetiva da mente humana conhecer tal objeto, e a provisão de meios definidos pelos quais os objetos entram em contato com a mente. Podemos ilustrar as condições da teologia a partir da selenologia - a ciência, não da “política lunar”, que de modo tão infundado John S tu a rt M ill pensava perse­ guir, mas da física lunar. A selenologia é possível sob três condições: 1. a existência objetiva da lua; 2. a capacidade subjetiva da mente humana de conhecê-la; e 3. a provisão de aiguns meios (p.ex., os olhos e o telescópio) pelos quais a lacuna entre o homem e a lua se ligam e pelos quais a mente pode apossar-se do conhecimento verdadeiro dos fatos relativos à lua. 1. Na existência de um Deus que se relaciona com o universo Tem-se objetado, na verdade, que desde que Deus e estas relações são objetos apreendidos só pela fé, não são objetos próprios do conhecimento ou assuntos próprios da ciência. Respondemos: a) A Fé é conhecimento e o mais elevado tipo de conhecimento. - A ciên­ cia física também se apoia na fé - fé na nossa existência, na existência de um mundo objetivo e exterior a nós e na existência de outras pessoas além de nós mesmos; fé nas nossas convicções primitivas,tais como espaço, tempo, causa, substância, desígnio, certeza; fé na confiabilidade das nossas faculdades e no testemunho dos nossos semelhantes. Nem por isso a ciência física é invalida­ da, porque tal fé, embora diferente na percepção sensorial ou demonstração
  • 22. 2 4 Augustus Hopkins Strong lógica, é ainda um ato cognitivo da razão e pode ser definido como certifica­ ção relativa à matéria em que a verificação é impossível. A citada e respondida objeção à teologia expressa-se nas palavras de S ir W illiam Hamilton, Metaphysics, 44, 531 - “Fé - crença - é o órgão pelo qual nós apreendemos o que está além do nosso conhecimento”. Mas ciência é conhecimento e o que está além do nosso conhecimento não pode ser maté­ ria de ciência. O Presidente E. G. Robinson diz com precisão que o conheci­ mento e a fé não podem ser separados um do outro, como os compartimen­ tos de um navio, dos quais o primeiro pode ser esmagado enquanto o segundo ainda mantém o navio flutuando. A mente é uma só, - “ela não pode ser seccio- nada em duas com uma machadinha”. Fé não é antítese do conhecimento, - eia é um tipo maior e mais fundamental de conhecimento. Ela nunca se opõe à razão, mas apenas à vista. Tennyson estava errado quando escreveu: “Nós temos somente fé: não podemos conhecer; Porque conhecemos aquilo que vemos” (In Memoriam, Introd...). Isto tornaria os fenômenos sensitivos os úni­ cos objetos do conhecimento. A fé nas realidades supra-sensíveis, ao contrá­ rio, é o mais elevado exercício da razão. S ir W illiam Hamilton declara consistentemente que a mais elevada con­ quista da ciência é o levantamento de um altar “Ao Deus Desconhecido”. Esta, entretanto, não é a representação da Escritura. Cf. Jo. 17.3 - “a vida eterna é esta, que te conheçam a ti como único verdadeiro Deus”; e Jr. 9.24 - “o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor”. Para a crítica de Hamilton, ver H. B. Smith, Faith and Philosophy, 297-336. Fichte: “Nós nascemos na fé”. Até mesmo Goethe se dizia alguém que crê nos cinco sentidos. B a lfo u r, Defense of Philosophic Doubt, 277-295, mostra que as crenças intuitivas nas categorias de espaço, tempo, causa, substân­ cia, justiça pressupõem uma aquisição de todo o conhecimento. Dove, Logic of the Christian Faith, 14 - “Se se deve destruir a teologia porque parte de termos e proposições primárias, deve-se, então, proceder de igual modo com todas as ciências”. Mozley, Miracles, define fé como a “razão não verificável”. b) A fé é um conhecimento condicionado pelo sentimento santo. - A fé que apreende o ser divino e sua obra não é opinião ou imaginação. É certeza rela­ tiva às realidades espirituais sobre o testemunho da nossa natureza racional e sobre o testemunho de Deus. Sua única peculiaridade como ato cognitivo da razão é que está condicionado ao sentimento santo. Como a ciência da estética é produto da razão incluindo o poder de reconhecer o belo praticamente inse­ parável do amor ao belo e como a ciência da ética é produto da razão incluin­ do o poder de reconhecer o moralmente correto praticamente inseparável do amor ao moralmente correto, assim a ciência da teologia é produto da razão, mas da razão que inclui o poder de reconhecer o Deus, que é praticamente inseparável do amor a Deus. Empregamos aqui o termo “razão" para significar a força total do conheci­ mento. Razão, neste sentido, inclui o estado de sensibilidade desde que seja
  • 23. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 25 -.dispensável ao conhecimento. Não podemos conhecer uma laranja só de olhá-la; para entendê-la, é tão necessário saboreá-la como vê-la. A matemá- ::ca do som não pode dar-nos entendimento da música; é necessário também ouvi-la. Só a lógica não pode demonstrar a beleza do pôr do sol, ou de um caráter nobre; o amor ao belo e à justiça antecede o conhecimento do belo e da justiça. Ullman chama a atenção para a derivação de sapientía, sabedoria, de sapere, saborear. Não podemos conhecer Deus só pelo intelecto; o cora­ ção deve acompanhar o intelecto a fim de possibilitar o conhecimento das coisas divinas. “As coisas humanas”, diz Pascal, só precisam ser conhecidas para serem amadas; mas as coisas divinas primeiro precisam ser amadas para serem conhecidas”. “Esta fé [religiosa] do intelecto”, diz Kant, “funda­ menta-se na aceitação do temperamento moral”. Se alguém fosse totalmente indiferente às leis morais, continua o filósofo, até mesmo as verdades religio­ sas “teriam o apoio dos fortes argumentos da analogia, mas, do mesmo modo que o coração obstinado, o cético não poderia conquistá-las”. A fé, então, é o mais elevado conhecimento porque é a ação integral da alma, a perspicácia, não somente de um olho, mas dos dois olhos da mente, do intelecto e do amor a Deus. Com um olho podemos ver um objeto plano, mas, se quisermos vê-lo como um todo e captar o efeito estereótipo, deve­ mos empregar ambos os olhos. Não é o teólogo, mas o astrônomo não devo­ to que tem a ciência caolha e, portanto, incompleta. Os erros do racionalista são os da visão defeituosa. O intelecto tem-se divorciado do coração, isto é, da disposição correta, das afeições corretas e do propósito correto da vida. O intelecto diz: “Não posso conhecer Deus”; e o intelecto está certo. O que o intelecto diz, a Escritura também o diz: 1 Co. 2.14 - “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente”; 1.21 - “na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus”. Por outro lado, a Escritura declara que “pela fé, entendemos” (Hb. 11.3). Para a Escritura a palavra “coração” significa tão somente a disposição governante ou sensibilidade + vontade; e ela indica que o coração é um órgão do conhecimento: Ex. 35.25 - “mulheres que eram sábias de coração”; SI. 34.8 - “provai e vede que o Senhor é bom” = o provar vem antes do ver; Jr. 24.7 - “Dar-lhes-ei um coração para que me conheçam”; Mt. 5.8 - “Bem- aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”; Lc. 24.25 - “tardos de coração para conhecer”; Jo. 7.17 - “Se alguém quiser fazer a von­ tade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou falo de mim mesmo”; Ef. 1 . 1 8 - “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais”; 1 Jo. 4.7,8 - “qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus”. c) Portanto, a fé, e só a fé pode fornecer o material adequado e suficiente para uma teologia científica. - Como uma operação da mais elevada natureza racional do homem, embora distinta da visão ocular ou do raciocínio, a fé é o mais elevado tipo de conhecimento. Ela nos dá o entendimento que só pelos sentidos seria inacessível, a saber, a existência de Deus e ao menos algumas das relações entre Deus e a sua criatura.
  • 24. 26 Augustas Hopkins Strong Phillippi, Glaubenslehre, 1.50, segue G erhard, ao tornar a fé um ato con­ junto do intelecto e da vontade. Hopkins, Outline Study of Man, 77,78, fala não só da “razão estética”, mas da “razão moral”. Murphy, Scientific Bases of Faith, 91, 109, 145, 191 - “Fé é a certeza a respeito daquilo em que é impossível a verificação”. Emerson, Essays, 2.96 - “A crença consiste em aceitar as afir­ mações da alma - a descrença em rejeitá-las”. M o re ll, Philos. of Religion, 38,52,53, cita C olleridge: “A fé consiste na síntese da razão e da vontade do indivíduo, ... e em virtude daquela (isto é, da razão), a fé deve ser uma luz, uma forma de conhecimento, uma contemplação da verdade”. A fé, então, não deve ser representada como uma menina cega apegada a uma cruz - a fé não é cega - “Doutra forma a cruz pode muito bem ser um crucifixo ou uma imagem de Gautama”, “A cega descrença”, não a fé cega, “sem dúvida deve errar, e esquadrinhar suas obras em vão”. Como na consciência reconhece­ mos uma autoridade invisível, conhecemos a verdade em exata proporção com o nosso desejo de “praticar a verdade”, assim na religião só a santidade pode conhecer a santidade e só o amor pode entender o amor (cf. Jo. 3.21 - “quem pratica a verdade vem para a luz”). Se um estado correto do coração for indispensável à fé bem como o conhecimento de Deus, pode haver qualquer “theologia irregenitorum”, ou teologia dos irregenerados? Sim, respondemos; do mesmo modo que um cego pode ter uma ciência da ótica. O testemunho dos outros dá sua reivindi­ cação a ele; a obscura luz que penetra a obscura membrana corrobora este testemunho. O irregenerado pode conhecer a Deus como poder e justiça, e temê-lo. Mas isto não é o conhecimento do mais íntimo caráter de Deus; ele fornece um certo material para uma teologia defeituosa ou desproporcional; mas não fornece material suficiente para uma correta teologia. Como, para tornar esta ciência da ótica satisfatória e completa, um oftalmologista compe­ tente deve remover a catarata dos seus olhos, assim, para qualquer teologia completa ou satisfatória, é preciso que Deus lhe retire o véu do coração (2 Co. 3.15,16 - “o véu está posto no coração deles. Mas, quando [marg. ‘os homens’] se converterem ao Senhor, o véu se tirará”). A nossa doutrina da fé é o conhecimento e o mais elevado de todos; deve distinguir-se do de Ritschl, cuja teologia é um apelo ao coração para a exclu­ são da cabeça - para a fiducia sem notitia. Mas fiducia inclui notitia; doutra forma é cega, irracional e anticientífica. R obert Browning igualmente caiu num profundo erro especulativo quando, para comprovar sua fé otimista, estigma­ tizou o conhecimento humano como simplesmente aparente. O apelo tanto de R itsch l como de Browning da cabeça para o coração deve mais ser um apelo do mais estreito conhecimento do simples intelecto para o maior conhecimento condicionado à correta afeição. 2. Na capacidade humana de conhecer Deus Porém tem-se argumentado que tal conhecimento é impossível pelas seguin­ tes razões: A) Podemos conhecer apenas os fenômenos.
  • 25. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 27 Respondemos: á) Como conhecemos os fenômenos físicos assim também conhecemos os mentais, b) Conhecendo os fenômenos, quer físicos, quer mentais, conhece­ mos a substância subjacente aos fenômenos, manifestada através deles e que constitui a base de sua unidade, c) A nossa mente traz à observação do fenô­ meno não só o conhecimento da substância, mas também de tempo, de espaço, de causa e de justiça, realidades que em nenhum sentido são fenomenais. Por­ que estes objetos do conhecimento não são fenomenais, o fato de que Deus não é fenomenal não nos impede de conhecê-lo. Não precisamos aqui determinar o que é substância. Quer sejamos realis­ tas ou idealistas, somos compelidos a admitir que não pode haver fenômenos sem os númenos, não pode haver aparências, não pode haver qualidades sem algo que seja qualificado. Este algo que serve de base ou está sob a aparência ou qualidade chamamos substância. Em nossa filosofia somos mais iotzeanos do que kantianos. Dizer que não conhecemos o eu, mas apenas as suas manifestações no pensamento, é confundir o eu com o seu pensamento e ensinar psicologia sem alma. Dizer que de modo nenhum conhecemos o mundo exterior, mas apenas as suas manifestações nas sensações, é ignorar o princípio que liga tais sensações; porque, sem algo a que as qualidades são inerentes, elas não têm base alguma para sua unidade. De igual modo, dizer que não conhecemos nada de Deus a não ser suas manifestações, é confundir Deus com o mundo e praticamente negar que haja Deus. Stãhlin, em sua obra sobre Kant, Lotze e R itschl, 186-191,218,219, diz com precisão que “a limitação do conhecimento dos fenômenos envolve, na teologia, a eliminação de todas as reivindicações do conhecimento dos obje­ tos da fé cristã como são em si mesmas”. Esta crítica, com justiça, põe na mesma classe R itsch l junto com Kant, ao invés de pô-los com Lotze que sustenta que, conhecendo os fenômenos, conhecemos também os númenos manifestos neles. Conquanto R itsch l professe seguir Lotze, toda a tendência da sua teologia caminha na direção da identificação kantiana do mundo com as nossas sensações, a mente com os nossos pensamentos e Deus, com atividades tais que lhe são peculiares como nós as percebemos. Nega-se a natureza divina, independente das suas atividades, o Cristo preexistente, a Trindade imanente. Afirmações de que Deus é amor e paternidade conscien­ te de si mesmo tornam-se juízos de valor meramente subjetivo. Admitimos que conhecemos Deus só até onde as suas atividades o reve­ lam e até onde as nossas mentes e corações são receptivos à sua revelação. Deve-se exercer o conjunto de faculdades apropriadas - não as matemáti­ cas, as lógicas ou as que se referem à prudência, mas a ética e a religiosa. Ritschl tem o mérito de reconhecer a razão prática da especulativa; seu erro não consiste em reconhecer que, quando usamos adequadamente os pode­ res do conhecimento, tomamos posse não simplesmente da verdade subjeti­ va, mas também da objetiva e não somente entramos em contato com as atividades de Deus, mas com o próprio Deus. Os juízos religiosos normais, embora dependam das condições subjetivas, não são apenas “juízos de
  • 26. 2 8 Augustus Hopkins Strong mérito”, ou “ juízos de valor”, - elas nos fornecem o conhecimento das “próprias coisas”. Edward Caird diz do seu irmão John Caird (Fund. Ideas of Chrístianity, Introd... cxxi) - “A pedra fundamental da sua teologia é a convicção de que se pode conhecer e conhece-se a Deus e de que, no sentido mais profundo, todo o nosso conhecimento é o dele”. O fenomenalismo de R itsch l está aliado ao positivismo de Comte, que considera todo o assim chamado conhecimento de outro tipo que não sejam os objetos fenomenais puramente negativos. A expressão “Filosofia Positiva” na verdade implica que todo o conhecimento da mente é puramente negativo; ver Comte, Pos. Philosophy, tradução de M artineau, 26,28,33 - “Para obser­ var o vosso intelecto deveis fazer uma pausa nas atividades - embora quei­ rais observar essa mesma atividade. Se não puderdes fazer a pausa, não podereis observar; se a fizerdes, nada há a observar”. Dois fatos refutam este ponto de vista: 1) a consciência e 2) a memória; porque a consciência é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento dos seus pensamentos e a memória é o conhecimento do eu ao lado do conhecimento do passado dela. Os fenômenos são “fatos, distintos da sua base, princípio, ou lei”; “não se percebem os fenômenos nem as qualidades, como tais, mas os objetos, as percepções, ou os seres; e é por um pensamento posterior ou por um reflexo que estes se ligam como qualidades e são tidos como substâncias”. Os fenôm enos podem ser interiores, /'.e., pensam entos; neste caso, o númeno é a mente cujas m anifestações são os pensam entos. Por outro lado, os fenôm enos podem ser exteriores, e.g., a cor, a dureza, a forma, o tam a­ nho; neste caso, o núm eno é a matéria, cujas qualidades são as m anifesta­ ções. Mas as qualidades, quer mentais, quer m ateriais, im plicam a existência de uma substância a que pertencem ; não se pode concebê-las com o uma existência a parte da substância, mais do que com o um lado superior de uma tábua assim com o não se pode concebê-las com o existentes sem um lado inferior; ver Martineau, Types of Ethical Theory, 1.455,456 - “A suposição de Comte de que a mente não pode conhecer a si m esm a ou os seus estados opõe-se à de Kant, de que a m ente nada pode conhecer a não ser a si m es­ ma. ... É exatam ente porque todo o conhecim ento vem dos relacionam entos que ele não vem e nem pode vir só dos fenôm enos. O absoluto não pode se conhecido per se porque, ao ser conhecido, ele se relacionaria ipso facto e não mais seria absoluto. Mas nem o elem ento fenom enal pode ser conhecido per se, i. e., com o fenom enal, sem a cognição sim ultânea do que é o não fenom enal”. McCosh, Intuitions, 138-154, estabelece as caraterísticas das subs­ tâncias com o 1) ser, 2) poder, 3) permanecer. Diman, Theistic Argument, 337,363 - “A teoria que rejeita Deus, rejeita o m undo exterior e a existência da alm a”. Conhecem os algo além dos fenôm enos, a saber, lei, causa, força, - ou não podem os ter ciência. B) Porque só podemos conhecer o que tem analogia com a nossa natureza ou experiência. Respondemos: d) Para o conhecimento não é essencial que haja seme­ lhança de natureza entre conhecedor e conhecido. Conhecemos tanto pela diferença como pela semelhança, b) Nossa experiência passada, apesar de
  • 27. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 29 facilitar grandemente novas aquisições, não é a medida do nosso conhecimen- t : possível. Se assim fosse, seria inexplicável o primeiro ato de conhecimento e toda a revelação dos mais elevados caracteres até os menores seria excluída assim como todo o progresso no conhecimento que ultrapassa o nosso presen­ te conhecimento, c) Mesmo que o conhecimento dependesse da semelhança entre a natureza e a experiência, poderíamos conhecer Deus, visto que somos feitos à sua imagem e há importantes analogias entre a natureza divina e a nossa. a) O dito de Empédocles, “Similia similibus percipiuntur”, deve ser suple­ mentado por um outro: “Similia dissimilibus percipiuntur”. Mas conhecer é dis­ tinguir, e deve haver um contraste entre os objetos a fim de nos despertar a atenção. Deus conhece o pecado, embora este seja a antítese do seu santo ser. O eu conhece o não-eu. Não podemos conhecer até mesmo o eu sem considerá-lo objetivamente, distinguindo-o dos seus pensamentos e conside- rando-o como um outro. b) Versus H e rb e rt Spencer, First Principies, 79-82 - “Conhecimento é o reconhecimento e a classificação”. Mas retrucamos que é necessário perce­ ber primeiro uma coisa para reconhecê-la, ou compará-la com outra; e isto é verdade, tanto a respeito da primeira sensação como da última e as mais definidas formas de conhecimento; na verdade, não há nenhuma sensação que não envolva, como complemento, ao menos uma percepção incipiente. c) P o rte r, Human Intellect, 486 - “A indução só é possível baseada na suposição de que o intelecto do homem é um reflexo do divino, ou que o homem é feito à imagem de Deus”. Note, contudo, que o homem é feito à imagem de Deus, e não Deus à imagem do homem. A pintura é a imagem paisagística, não o contrário a paisagem, a imagem da pintura; porque há muito na imagem que não tem nada que corresponda a ela na pintura. A idolatria perversamente faz Deus à imagem do homem e deifica as fraque­ zas das impurezas do homem. A Trindade em Deus pode não ter a exata contrapartida na atual constituição do homem, embora possa descortinar-nos o objetivo do desenvolvimento futuro do homem e o sentido da crescente diferenciação das forças do homem. G ore, Incarnation, 116 - “Se o antropo- morfismo aplicado a Deus é falso, ainda o teomorfismo aplicado ao homem é verdadeiro; o homem é feito à imagem de Deus, e as suas qualidades não são, a medida das divinas, mas a contrapartida destas e a verdadeira expressão”. C) Porque conhecemos apenas aquilo que podemos conceber, no sentido de formar uma imagem mental adequada. Respondemos: d) É verdade que conhecemos só aquilo que podemos con­ ceber se pelo termo “conceber” significamos nossa distinção entre o pensa­ mento do objeto conhecido e os demais objetos. Mas b) a objeção confunde concepção com o que é meramente seu acessório ocasional e auxílio, a saber, o quadro que a imaginação faz do objeto. Neste sentido, não é teste final da verdade, c) Torna-se claro que a formação de uma imagem mental não é
  • 28. 3 0 Augustus Hopkins Strong essencial à concepção ou ao conhecimento, quando lembramos que, de fato, tanto concebemos como conhecemos muitas coisas de que não podemos for­ mar imagem mental seja ela qual for e que em nada corresponde à realidade; por exemplo: força, causa, lei, espaço, nossas próprias mentes. Assim pode­ mos conhecer Deus apesar de que não podemos formar imagem mental ade­ quada a respeito dele. A objeção aqui refutada se expressa mais claramente nas palavras de H e rb e rt Spencer, First Principies, 25-36, 98 - “A realidade subjacente às apa­ rências é total e permanentemente inconcebível por nós”. Mansel, Prolego- mena Logica, 77,78 (cf.. 26) sugere que a fonte deste erro encontra-se num ponto de vista falho da natureza do conceito: “A primeira caraterística distinti­ va de um conceito, a saber, que não pode por si mesmo ser descrito no sen­ tido e na imaginação”. P o rte r, Human Intellect, 392 (vertb. 429,656) - “Con­ ceito não é uma imagem mental”- só a percepção o é. Lotze: “De um modo geral não se representa a cor através de qualquer imagem; ela não se apre­ senta nem verde nem vermelha, mas não tem qualquer caraterização”. O cava­ lo, genericamente, não tem uma cor particular, embora individualmente pos­ sa ser preto, branco ou baio. S ir W illiam Ham ilton fala das “noções de inteligência impossíveis de ser representadas em pintura”. Martineau, Religion and Materialism, 39,40 - “Esta doutrina da Nesciência encontra-se na mesma relação com o poder causai, quer você a construa com o Poder Material, quer com a Atuação Divina. Nem pode ser observada', deve-se aceitar um ou outro. Se você admite para a categoria do conheci­ mento o que se aprende a partir da observação, seja particular, seja genera­ lizada, então se trata de uma Força desconhecida; se você amplia a palavra ao que é importado pelo próprio intelecto em nossos atos cognitivos, para torná-los assim, então se conhece Deus”. A matéria, o éter, a energia, o pro­ toplasma, o organismo, a vida, - nenhum deles pode ser retratado para a imaginação; contudo, o S r. Spencer os trata como objetos da Ciência. Se não são inescrutáveis, por que ele considera inescrutável a Força que dá unidade a todas estas coisas? Na verdade, H e rb e rt Spencer não é coerente consigo m esmo, pois, em diversas partes dos seus escritos, ele chama Realidade inescrutável dos fenô­ m enos a Existência Absoluta, Poder e C ausa unas, eternas, ubíquas, infini­ tas, últimas. “Parece”, diz o Padre Dalgairns, “que se conhece m uita coisa do D esconhecido”. Chadwick, Unitaríanism, 75 - “A pobre expressão ‘Desconhe­ cido’ torna-se, depois das repetidas designações de Spencer, tão rica como todo o conhecim ento salvador de Creso”. Matheson: “Saber que nada sabe­ mos já significa ter chegado a um fato do conhecim ento”. Se o S r. Spencer pretendia excluir Deus do reino do Conhecimento, devia prim eiro tê-lo excluído do reino da Existência; porque adm itir que ele é, já é adm itir que nós não podem os conhecê-lo, mas, na verdade, em certo ponto, nós o conhecem os. D) Porque podemos conhecer, na verdade, só o que conhecemos no todo, não em parte.
  • 29. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 31 Respondemos: a) A objeção confunde conhecim ento parcial com o conhecimento de uma parte. Conhecemos a mente em parte, mas não conhe­ cemos uma parte da mente, b) Se a objeção fosse válida, nenhum conhecimen­ to real de qualquer coisa seria possível, visto que não conhecemos uma só coisa em todas as suas relações. Concluímos que, embora Deus não seja for­ mado de partes, podemos ainda ter um conhecimento parcial dele e tal conhe­ cimento, embora não exaustivo, pode ser real e adequado aos propósitos da ciência. a) A objeção mencionada no texto é estimulada por Mansel, Limits of Religious Thought, 97, 98 e é Martineau, Essays, 1.291 quem a responde. A mente não existe no espaço e não tem partes: não podemos falar do seu quadrante sudoeste, nem podemos dividi-la em metades. Contudo, encontra­ mos o material para a ciência mental no conhecimento parcial da mente. Assim, conquanto não sejamos “geógrafos da natureza divina”( B o w n e , Review of Spencer, 72), podemos dizer com Paulo, não que “agora conhecemos uma parte de Deus”, mas que “agora conheço [Deus] em parte” (1 Co. 13.12). Podemos conhecer verdadeiramente o que não conhecemos exaustivamen­ te; ver Ef. 3 . 1 9 - “conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento”. Não me entendo perfeitamente, contudo me conheço em parte; assim posso conhecer a Deus, apesar de não entendê-lo perfeitamente. b) O mesmo argumento que prova que Deus é incognoscível prova tam­ bém que também o mundo o é. Visto que todas partículas da matéria atraem- se mutuamente, nenhuma delas pode ser explicada exaustivamente sem levar em conta as demais. Thomas C arlyle: “É um fato matemático que o lan­ çamento desta pedra da minha mão altera o centro de gravidade do universo”. Tennyson, Higher Pantheism: “Flor na parede rachada, eu a arranco das rachaduras; /Segure-se aqui, raiz e tudo, na minha mão, ó florzinha, porém não posso entender /O que é você, raiz e tudo, e em tudo, /Devo conhecer o que Deus é e o que é o homem”. Schurman, Agnosticism, 119 - “Mesmo parcial como é, esta visão do elemento divino transfigura a vida do homem sobre a terra”. P fleiderer, Philos. Religion, 1.167 - “O agnosticismo de cora­ ção fraco é pior que o arrogante e titânico gnosticismo contra o qual ele pro­ testa”. E) Porque todos os predicados de Deus são negativos e, por isso, não for­ necem conhecimento real. Respondemos: a) Os predicados derivados da nos­ sa consciência, tais como, espírito, amor e santidade são positivos, b) Os ter­ mos “infinito” e “absoluto”, contudo, expressam não meramente uma idéia negativa, mas positiva, - a idéia, naquele caso, da ausência total de limite, a idéia de que o objeto assim descrito continua e continua sempre; a idéia, neste caso, de inteira auto-suficiência. Porque os predicados de Deus, portanto, não são meramente negativos, o argumento acima mencionado não fornece nenhuma razão válida por que não podemos conhecê-lo.
  • 30. 3 2 Augustus Hopkins Strong Versus S ir W illiam Hamilton, Metaphysics, 530 - “O absoluto e o infinito podem ser concebidos somente com a negação do objeto do pensamento; a saber, de qualquer modo não temos em outras palavras nenhuma a con­ cepção do absoluto e do infinito”. Hamilton aqui confunde o infinito, ou ausên­ cia de todos limites, com o indefinido, ou a ausência de todos limites conheci­ dos. Per contra, ver Calderwood, Moral Philosophy, 248, e Philosophy of the Infinite, 272 - “A negação de uma coisa só é possível através da afirmação de outra”. P o rte r, Human Intellect, 652 - Se os moradores da Ilha de Sandwich, por falta de nome, tinham chamado o boi de não porco (not-hog), o emprego de um nome negativo não autoriza necessariamente a inferência de falta de concepções definidas ou conhecimento positivo”. Deste modo com o infinito, ou não finito, o incondicionado ou não condicionado, o independente, ou não dependente, - estes nomes não implicam que não podemos conceber e conhecer como algo positivo. Spencer, First Principies, 92 - “O nosso conhe­ cimento do Absoluto, embora indefinido, não é negativo, mas positivo”. Schurman, Agnosticism, 100, fala da “farsa da nesciência atribuindo à onis- ciência os limites da ciência”. “O agnóstico”, diz ele, “erige o quadro invisível de um Grand Être, sem forma e sem cor, separado de modo absoluto do homem e do mundo - branco interiormente e vazio por fora - com sua exis­ tência indistinguível da sua não existência e, curvando-se diante da criação idólatra, derrama a sua alma em lamentações sobre a incognoscibilidade de tal mistério e pavorosa ausência de identidade. ... A verdade é que se desco­ nhece a abstração agnóstica da Deidade, porque tal abstração é irreal”. Ver McCosh, Intuitions, 194, nota; M ivart, Lessons from Nature, 363. Deus não é necessariamente infinito em todos aspectos. Ele só é infinito em toda a exce­ lência. Um plano ilimitado em um aspecto de comprimento pode ser limitado em outro aspecto, como, por exemplo, a respiração. A nossa doutrina aqui não é, por isso, inconsistente com o que se segue de imediato. F) Porque conhecer é limitar ou definir. Por isso o Absoluto como ilimita­ do e o Infinito como indefinido não pode ser conhecido. Respondemos: a) Deus é absoluto, não como existindo sem nenhuma relação, mas como exis­ tindo sem nenhuma relação necessária; e b) Deus é infinito, não excluindo toda a coexistência do finito com ele mesmo, mas como a base do finito, e assim, não algemado por ele. c) Deus, na verdade, está limitado pela imutabi­ lidade de seus atributos e distinções pessoais bem como pela auto-escolha das suas relações com o universo que ele criou e com a humanidade na pessoa de Cristo. Portanto, Deus se limita e se define no sentido de tornar possível o conhecimento dele. Versus Mansel, Limitations ofReiigious Thought, 75-84, 93-95; cf. Spinoza: “Omnis determinatio est negatio"; por isso definir Deus é negá-lo. Responde­ mos, entretanto, que a perfeição é inseparável da limitação. O ser humano pode ser um outro além do que é: com Deus não acontece isso, ao menos interiormente. Mas tal limitação inerente em seus imutáveis atributos e distin­
  • 31. T e o l o g ia S is t e m á t ic a 33 ções pessoais, é a perfeição de Deus. Exteriormente, todas limitações sobre Deus são auto-limitações e, portanto consistentes com a sua perfeição. Esse Deus não deve ser capaz de limitar-se na criação e a redenção tornaria todo o seu sacrifício impossível e o sujeitaria à maior das limitações. Pelo exposto podemos dizer que 1. A perfeição de Deus envolve sua limitação a) a pesso- alidade, b) à Trindade, c) à retidão; 2. A revelação de Deus envolve sua auto- limitação a) no decreto, b) na criação, c) na preservação, d) no governo, e) na educação do mundo; 3. A redenção envolve sua infinita auto-limitação a) na pessoa e b) na obra de Jesus Cristo. Bowne, Philos. of Creation, 135 - “O infinito não é o todo quantitativo; o absoluto não é o não relacionado ... Tanto o absoluto como o infinito signifi­ cam apenas a base independente das coisas”. Julius M ü lle r, Doct. of Siri, Introd..., 10 - “A religião tem a ver não com um Objeto que deve ser por si mesmo conhecido porque da sua própria existência é contingente em ser conhecido, mas com o Objeto com que nos relacionamos, na verdade, submissos, na dependência dele e no aguardo da sua manifestação”. James Martineau, Study of Religion, 1.346 - “Não devemos confundir o infinito com o total. ... A abnegação própria da infinitude é tão somente a forma de auto- afirmação e a única em que ela pode revelar-se. ... Embora o pensamento onisciente seja instantâneo, embora certa a força onipotente, sua execução tem de ser distribuída no tempo e deve ter uma ordem de passos sucessivos; em outros termos, o eterno pode tornar-se temporal e o infinito falar articula- damente no finito”. A pessoalidade perfeita exclui não a determinação própria, mas a que vem de fora através de um outro. As auto-limitações de Deus são as do amor e, consequentemente, as evidências da sua perfeição. São sinais não de fra­ queza, mas de poder. Deus limitou-se ao método da evolução desenvolven­ do-se gradualmente na natureza e na história. O governo dos pecadores por um Deus santo envolve constante auto-repressão. A educação da raça é um longo processo de abnegação divina. H erder: “As limitações do aluno são também as do mestre”. Na inspiração, Deus se limita através do elemento humano por quem ele opera. Sobretudo, na pessoa e obra de Cristo, temos infinita auto-limitação: A infinitude se estreita até na encarnação e a santida­ de suporta as agonias da Cruz. As promessas de Deus são também auto- limitações. Deste modo tanto a natureza como a graça são restrições impos­ tas a si mesmo por Deus e são os recursos através dos quais ele se revela. G) Porque todo o conhecimento é relativo ao agente conhecedor; isto é, o que conhecemos, conhecemos, não como é objetivamente, mas só no que se relaciona com nossos sentidos e faculdades. Respondemos: d) Admitimos que podemos conhecer só o que se relaciona com as nossas faculdades. Mas isto somente eqüivale a dizer que conhecemos só aquilo que vem ao nosso contato mental, isto é, conhecemos apenas o que conhecemos. Mas b) negamos que conhecemos aquilo que vem ao nosso contato mental como outra coisa além do que é. Até onde conhecemos, conhecemos como é. Em outras palavras, as leis do nosso conhecimento não são meramente arbitrárias e regulativas, mas
  • 32. 3 4 Augustus Hopkins Strong correspondem à natureza das coisas. Concluímos que, em teologia, temos a garantia de admitir que as leis do nosso pensamento são as leis do pensamento de Deus e que os resultados do pensamento normalmente conduzido em rela­ ção a Deus correspondem à realidade objetiva. Versus S ir W illiam Hamilton, Metaph., 96-116 e H e rb e rt Spencer, First Prin­ cipies, 68-97. Esta doutrina da relatividade deriva de Kant, que, na Crítica da Razão Pura, sustenta que os juízos a priori são somente “reguladores”. Res­ pondemos, entretanto, que, quando se acha que as crenças primitivas são apenas reguladoras, elas deixam de regulamentar. As formas de pensamento são também fatos da natureza. Diferentemente do vidro de um caleidoscópio, a mente não fornece as formas; ela reconhece que estas têm existência exte­ rior a ela mesma. A mente lê as suas idéias não rumo ao interior da natureza, mas nela. Nossas intuições não são lentes verdes que fazem o mundo todo parecer verde: são lentes de um microscópio, que nos capacitam a ver o que é objetivamente real (Royce, Spirit of Mod. Philos., 125). Kant chamava o nosso entendimento de “legislador da natureza”. Mas isto é verdade, só como descobridor das suas leis, não como seu criador. A razão humana impõe as suas leis e formas sobre o universo; mas, fazendo isso, ela interpreta o senti­ do real dele. Ladd, Philos. of Knowledge: “Todo juízo implica uma verdade objetiva segundo a qual julgamos e que constitui o padrão e com a qual temos algo em comum, /.e., as nossas mentes são parte de uma mente infinita e eterna”. Aforismo francês: “Quando você está certo, você está mais certo do que pen­ sa estar”. Deus não nos põe em permanente confusão intelectual. Foi debal- de que Kant escreveu “trânsito não impedido” sobre a razão em seu mais elevado exercício. Martineau, Study of Religion, 1.135,136 - “Bem ao contrá­ rio da suposição de Kant de que a mente nada pode conhecer além de si mesma, podemos estabelecer a suposição de Comte, igualmente sem garan­ tia, de que a mente não pode conhecer-se a si mesma ou os seus estados. Não podemos ter filosofia sem suposições. Você dogmatiza se diz que as formas correspondem à realidade; mas igualmente você dogmatiza se diz que não correspondem. ... 79 - Que as nossas faculdades cognitivas corres­ pondem às coisas tais quais são, é muito menos surpreendente do que se elas correspondem às coisas que não são". W. T. H arris, in Journ. Spec. Philos., 1.22, expõe as contradições próprias de Spencer: “Todo o conheci­ mento não é absoluto, mas relativo; nosso conhecimento deste fato, entretan­ to, não é relativo, mas absoluto”. R itschl, Justification and Reconciliation, 3.16-21, estabelece limites, com uma correta afirmação da natureza do conhecimento, e adere à doutrina de Lotze, distinta da de Kant. A declaração de R its c h l pode resumir-se da seguinte maneira: Tratamos, não do Deus abstrato da metafísica, mas do Deus que a si mesmo se limitou e se revela em Cristo. Não conhecemos ou as coisas, ou Deus independentemente dos seus fenômenos ou manifesta­ ções, como imaginava Platão; não conhecemos os fenômenos ou manifesta­ ções sozinhos, sem conhecer as coisas ou Deus, como supunha Kant; mas, na verdade, conhecemos tanto as coisas como Deus nos fenômenos e mani-
  • 33. T e o lo g ia S ist e m á t ic a 35 'estações, como ensinava L o tz e . Não sustentamos a união mística com Deus, :endo como retaguarda toda a experiência religiosa, como ensina o Pietismo; a alma está sempre e somente em atividade e a religião é a atividade do espírito humano no qual o sentimento, o conhecimento e a vontade combi­ nam-se numa ordem inteligível”. Porém o Dr. C. M. M ead, Ritschl’s Place in the History of Doctrine, bem ~iostra que R its c h l não seguiu L o tz e . Seus “ juízos de valor”são apenas uma aplicação do princípio “regulador” de K a n t à teologia. Ele sustenta que pode­ mos conhecer as coisas não como são em si mesmas, mas só como se nos apresentam. Retrucamos que, o que as coisas são para nós depende do que são em si mesmas. R its c h l considera as doutrinas da preexistência de Cristo, divindade e expiação como intromissões da metafísica na teologia, matéria a respeito da qual não podemos conhecer e com a qual nada temos a ver. Não há propiciação ou união mística com Cristo; e Cristo é o nosso exemplo, mas não o nosso Salvador expiador. R its c h l faz bem em reconhecer que o amor em nós dá olhos à mente e nos capacita a ver a beleza de Cristo e sua verda­ de. Mas o nosso juízo não é, como ele defende, um juízo de valor meramente subjetivo, - é uma entrada em contato com o fato objetivo. 3. Xa revelação do próprio Deus Como neste lugar não tentamos apresentar uma prova positiva da existên­ cia de Deus ou da capacidade que o homem tem de conhecer a Deus, assim não tentamos, por ora, provar que Deus entrou em contato com a mente huma­ na através da revelação. Daqui para frente consideraremos as bases desta crença. Por ora, nosso alvo é simplesmente mostrar que, admitindo o fato da revela­ ção, é possível uma teologia científica. Isto tem sido negado nas seguintes bases: A) Que a revelação, como um processo de tom ar conhecido, é necessaria­ mente interior e subjetiva - quer seja um modo de inteligência, quer um des­ pertar das forças cognitivas - e, por isso, não pode fornecer nenhum fato obje­ tivo que constitua material próprio para ciência. M o r e ll, Philos. fíeligion, 128-131,143 - “A Bíblia não pode com a estrita exatidão da língua, ser chamada de revelação, visto que uma revelação sem­ pre implica um verdadeiro processo de inteligência em uma mente viva”. F. W. Newman, Phases of Faith, 152 - “Nada conhecemos do nosso Deus moral e espiritual exteriormente - sempre interiormente”. T h e o d o re P a rk e r: “ A revelação verbal nunca pode comunicar uma simples idéia como a de Deus, da Justiça, do Amor, da Religião”. James M a rtin e a u , Seat ofAuthority in Religion: “Tantas mentes quantas existem conhecem a Deus ao primeiro contato, tem havido tantos atos reveladores e tantos quantos o conhecem indiretamente são estranhos à revelação”; assim, admitindo que a revelação exterior seja impossível, M a rtin e a u sujeita todas provas de tal revelação à desleal crítica destrutiva. P fle id e r e r, Philos. Religion, 1.18 5 - “Como toda revelação é origi-
  • 34. 3 6 Augustus Hopkins Strong nariamente uma experiência de vida interna, o aparecimento da verdade reli­ giosa no coração, nenhum evento pode pertencer de si mesmo à revelação, independente de ser natural ou sobrenaturalmente ocasionado”. P r o f. G e o rg e M . F o rb e s : “Nada nos pode ser revelado que não se prenda à nossa razão. Segue-se que, na medida em que a razão age normalmente, ela é uma parte da revelação”. R itc h ie , Darwin and Hegel, 30 - “A revelação de Deus é o desenvolvimento da sua idéia”. Em resposta a esta objeção, apresentada principalmente pelos idealistas na filosofia: d) Admitimos que a revelação, para ser eficaz, deve ser o meio de induzir a um novo modo de inteligência, ou, em outras palavras, deve ser entendida. Admitimos que este entendimento das coisas divinas é impossível sem um despertar das forças cognitivas do homem. Além disso, admitimos que a revela­ ção, quando originariamente transmitida, via de regra era interior e subjetiva. M a th e s o n , Moments on the Mount, 51-53, sobre Gl. 1.16 - “revelar o seu Filho em mim”; “A revelação no caminho de Damasco não teria iluminado Paulo se não fosse somente uma visão dos seus olhos. Nada pode ser reve­ lado para nós que não tenha sido revelado dentro de nós. O olho não vê a beleza da paisagem, nem o ouvido ouve a beleza da música. Do mesmo modo a carne e o sangue não nos revelam Cristo. Sem o ensino do Espírito, os fatos exteriores serão somente como as letras de um livro para uma crian­ ça que não sabe ler”. Podemos dizer com C h a n n in g : “Estou mais certo de que minha natureza racional vem de Deus mais do que qualquer livro que expres­ se a sua vontade”. b) Mas negamos que a revelação exterior é, por isso, inútil e impossível. Mesmo que as idéias religiosas surgissem totalmente de dentro, uma revelação externa podia despertar os poderes dormentes da mente. Contudo, as idéias não surgem totalmente de dentro. A revelação exterior pode transmiti-las. O homem pode revelar-se através de comunicação exterior e, se Deus tem poder igual ao do homem, pode revelar-se de igual maneira. R o g e rs , Eclipse of Faith, indaga assinaladamente: “Se a S ra . M o r e ll e a S ra . Newman ensinam através de um livro, não pode Deus fazer o mesmo?” L o tz e , Microcosm, 2.660 (livro 9, cap. 4), fala da revelação “contida em algum ato divino, da ocorrência histórica ou repetido continuamente no coração do homem”. Mas, na verdade, não há nenhuma alternativa aqui; a força do credo cristão é que a revelação de Deus é tanto exterior quanto interior. R ainy, Criti­ cai Review, 1.1-21, diz com precisão que, sem garantia, M a rtin e a u isola da alma do indivíduo a testemunha de Deus. As necessidades interiores preci­ sam ser combinadas com as exteriores a fim de assegurar que não se trata de um capricho da imaginação. É necessário distinguirmos as revelações de
  • 35. T e o lo g ia S ist e m á t ic a 37 Deus das nossas fantasias. Daí, antes de dar-nos o padrão interior, Deus, via se regra, nos dá o exterior, através do qual testamos nossas impressões. Somos finitos e pecadores e necessitamos de autoridade. A revelação exterior recomenda-se como tendo autoridade sobre o coração que reconhece as suas necessidades espirituais. A autoridade exterior evoca o testemunho interior e ihe dá maior clareza, mas só a revelação histórica fornece prova inconteste de que Deus é amor e nos dá a segurança de que os nossos anseios para com Deus não são vãos. c) Por isso a revelação de Deus pode ser e, como veremos daqui em diante, é. em grande parte, uma revelação exterior em obras e palavras. O universo é uma revelação de Deus; as obras de Deus na natureza precedem as suas pala­ vras na história. Contudo, reivindicamos que, em muitos casos em que se comunicou a verdade originariamente de forma interior, o mesmo Espírito que a comunicou efetuou seu registro exterior, de modo que a revelação inte­ rior pôde ser transmitida a outros além dos que primeiro a receberam. Não devemos limitar a revelação às Escrituras. O Verbo eterno antedatou a palavra escrita e, através do Verbo eterno, Deus se fez conhecido na natu­ reza e na história. A revelação exterior precede e condiciona a interior. No tempo certo a terra aparece antes do homem e a sensação antes da per­ cepção. A ação expressa melhor o caráter e a revelação histórica ocorre mais pelos fatos do que pelas palavras. D o rn e r, Hist. Prot. Theol., 1.231-264 - “O Verbo não está apenas nas Escrituras. Toda a criação o revela. Na nature­ za Deus mostra o seu poder; na encarnação a sua graça e verdade. A Escri­ tura dá testemunho delas, mas não é a Palavra essencial. Na verdade, a Escritura a apreendeu e apropriou quando, nela e através dela vemos o Cris­ to vivo e presente. Ela não só confina a si os homens, mas aponta para Cristo de quem testifica. Cristo é a autoridade. Nas Escrituras ele nos aponta para si mesmo e demanda a nossa fé nele. Uma vez gerada esta fé, ela não nos leva a uma nova apropriação da Escritura, mas à uma nova crítica a respeito dela. Cada vez mais encontramos Cristo na Escritura e ainda julgamo-la cada vez mais segundo o padrão que há em Cristo”. Newman S m ith, Christian Ethics, 71-82: “Há somente uma autoridade-Cris­ to. Seu Espírito opera de muitas maneiras, mas principalmente de duas: pri­ meiro, a inspiração das Escrituras e segundo, a condução da igreja rumo à verdade. Esta não deve isolar-se ou separar-se daquela. A Escritura é a lei da consciência cristã, e a consciência cristã no tempo faz a lei voltar-se para a Escritura - interpretando-a, criticando-a, verificando-a. A palavra e o espírito respondem um ao outro. A Escritura e a fé são coordenadas. O protestantis­ mo tem exagerado a primeira; o romanismo a segunda. M a rtin e a u deixa de captar a coordenação entre a Escritura e a fé.” d) Com este registro exterior também veremos que ocorre sob adequadas condições a influência especial do Espírito de Deus, de modo a despertar os
  • 36. 38 Augustus Hopkins Strong poderes cognitivos que o registro exterior reproduz em nossas mentes as idéias de que as mentes dos escritores estavam divinamente cheias. Podemos ilustrar a necessidade da revelação interna a partir da egiptolo- gia, que é impossível até onde a revelação externa nos hieróglifos não é inter­ pretada; a partir do tique-taque do relógio no escuro compartimento, onde só a vela acesa capacita-nos a narrar o tempo; a partir da paisagem espalhada em volta do Rigi na Suíça, invisível até que os primeiros raios do sol toquem os nevosos picos da montanha. A revelação exterior (çavépcoaiç, Rm. 1.19,20) deve ser suplementada pela interior (à7toKáXtn(/iç 1 Co. 2.10,12). Cristo é o órgão da revelação exterior, o Espírito Santo da interior. Em Cristo (2 Co. 1.20) estão o “sim” e “o Amém”- a certeza objetiva e a subjetiva, a realidade e a realização. A certeza objetiva deve tornar-se subjetiva para a teologia científica. Antes da conversão temos a primeira, a verdade exterior de Cristo; só na conversão e depois dela passamos a ter a segunda, “Cristo formado em nós” (Gl. 4.19). Temos a revelação objetiva no Sinai (Ex. 20.22); a revelação subjetiva no conhecimento que Eliseu teve de Geazi (2 Re. 5.26). Jam es R u s s e l L o w e ll, Winter Evening Hymn to my Fire: “Por isso, contigo gosto de ler os nossos bravos poetas antigos: ao teu toque como despertas a Vida nas palavras secas! Como a correnteza retrocede as sombras do Tempo! e como os lam­ peja ainda pela sua massa morta o verso incandescente, Como quando sobre a bigorna do cérebro lança o brilho, ciclopicamente produzido Através dos velozes malhos latejantes do pensamento do poeta!” é) As revelações interiores assim registradas e as exteriores assim interpre­ tadas fornecem ambas fatos objetivos que podem servir como material pró­ prio para a ciência. Apesar de que a revelação, em seu mais amplo sentido pode incluir e, constituindo a base da possibilidade da teologia na verdade inclui, tanto o discernimento como a iluminação, também pode ser empregada para denotar simplesmente uma provisão dos recursos exteriores do conheci­ mento e a teologia tem que ver com as revelações interiores só na medida em que se expressam neste padrão objetivo ou que concordam com elas. Já sugerimos aqui o vasto escopo e ainda as insuperáveis limitações da teologia. Em qualquer lugar em que Deus se revela, quer na natureza, na história, na consciência, ou na Escritura, a teologia pode encontrar material para a sua estrutura. Porque Cristo não é somente o Filho de Deus encarna­ do, mas também o Verbo eterno, o único Revelador de Deus, não existe teo­ logia alguma separada de Cristo e toda ela é teologia cristã. A natureza e a história são apenas mais sóbrios e generalizados descortinos do Ser divino, de que a Cruz é o clímax e a chave. Deus não tem a intenção de ocultar-se. Ele quer ser conhecido. Ele se revela em todos os tempos tão plenamente como a capacidade das suas criaturas o permitem. O intelecto infantil não pode entender a infinitude de Deus, nem a disposição perversa entender a