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CUTILEIROS: UMA ARTE MEDIEVAL QUE CHEGOU ATÉ NÓS
Nos séculos XV e XVI o burgo vimaranense estava na senda do progressismo e do prestígio histérico vindos da época medieval, tendo o
foral manuelino de 1517 proporcionado novas condições de progresso e desenvolvimento que «ajudou a fixar intramuros uma população
de nobres, frades, mercadores, e gentes dos ofícios, incluindo pedreiros, alvenéis, ourives, pintores, bordadores e outros artistas (SERRAO,
2000: 46).
As linhas de água que percorriam montes e vales permitiram que gentes de ofício convertessem a água na força motriz para os seus
trabalhos, entre essas, os cutileiros para quem a água sempre foi indispensável nos talentos da amola. E, por causa desses talentos o
concelho de Guimarães tornou-se um dos centros de cutelaria mais importantes de Portugal.
O burgo procurou reunir no seu seio um conjunto de mesteres que fornecesse à população os bens e serviços que necessitavam para a
vivência diária, sendo para isso, essencial a interdependência profissional.
Este fator permitiu a sobrevivência de várias profissões, entre as quais a cutelaria que chegou até aos nossos dias, mesmo passando por
momentos menos propícios ao seu desenvolvimento.
É na documentação da centúria de quatrocentos que surgem referências aos cutileiros em Guimarães, nesta época, apenas cinco; nas
centúrias quinhentistas surgem referenciados seis.
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A existência de um «Regimento de Preços e Salários» vimaranense, em 1552, mostra que a cutelaria era uma indústria próspera em
Guimarães. Em 1552 as «Taxas para a vila de Guimarães» fazem notar que, entre aqueles que exercem o seu ofício – vendendo o que
fabricam e sendo o que produzem descriminado e taxado –, se encontram os cutileiros.
No «Regimento dos Oficiais dos Ofícios» de 1719 estes artesãos encontravam-se regidos pelo Regimento do Ofício de Cutelaria, mas ainda
não possuíam Estatuto. O Estatuto dos Cutileiros apenas foi votado no ano de 1778, também nesta altura garfeiros e fiveleiros obtêm
regimentos próprios.
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O Regimento do Ofício de Cutelaria refere os objetos que eram feitos na altura. A variedade de objetos produzidos mostra que, quem os
fazia pertencia a grupos ou classes distintas, ou seja, artesãos da mesma arte, mas que se especializavam em objetos diferentes. A cutelaria
era assim distribuída por – cutileiros, tesoureiros, garfeiros, bainheiros e fiveleiros (CARVALHO, 1939, I: 149).
O panorama industrial do século XIX no concelho de Guimarães caracterizou-se por um cariz rudimentar que se tornou um forte
impedimento ao desenvolvimento que se pretendia para as várias indústrias existentes nesta época. Tratava-se de uma indústria pouco
desenvolvida, quase artesanal e feita por pessoal com escassez de conhecimentos técnicos. Segundo José Lopes Cordeiro ainda há poucas
décadas a cutelaria se afigurava num sistema de processos rurais e artesanais (CORDEIRO, 1995: 341).
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A falta de pessoal habilitado, a carência de instrução técnica e a falta de meios adequados, caracterizaram a maior parte das oficinas de
cutelaria que então existiam no concelho de Guimarães. Os proprietários das oficinas eram ao mesmo tempo os mestres e trabalhavam
juntamente com os operários, o que explica que no conjunto dos oito expositores presentes na Exposição Industrial, apenas um expositor
fosse também o produtor, sendo os restantes os negociantes, aqueles a quem o produtor entregava semanalmente os produtos (SOUSA;
1884: 12). De facto, foram muito poucas as fábricas de cutelaria vimaranense que conseguiram ultrapassar este período menos próspero,
e as que o conseguiram foi graças à mentalidade de alguns industriais que equiparam as suas fábricas de meios mais modernos. Atualmente
a cutelaria vimaranense possui uma componente industrial e as grandes fábricas de cutelaria sedeadas nas Caldas das Taipas, concelho de
Guimarães, são reconhecidas, não só em território português, como no estrangeiro.
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Podemos considerar que hoje, existe no concelho de Guimarães dois tipos de produção: uma, apostando no design e na elevada qualidade
técnica e estética dos seus produtos, saciando deste modo gostos mais requintados, como é o caso da fábrica Cutipol ou da Herdmar; outra,
mais vulgar, com menos qualidade de acabamentos e de design, e mais acessível ao consumidor comum. De certo modo há uma
interdependência de trabalho entre aquelas que são consideradas “grandes fábricas” e aquelas oficinas em que a ruralidade da manufatura
retarda a mecanização.
Dos tempos medievais chega até nós uma das mais importantes indústrias vimaranenses, a cutelaria, e que hoje caminha numa busca
insaciável de novos designs e inovações, apenas exequíveis com o acompanhamento das novas tecnologias.
Patrícia Moscoso
Guia de Turismo Científico de Guimarães