O canto 1 descreve a partida dos "desertores" liderados por Gonçalo para longe de Coimbra, fugindo das reformas acadêmicas. Gonçalo abandona sua amada Narcisa, que fica furiosa. No canto 2, são caracterizadas as personalidades dos desertores. No canto 3, Gonçalo e seus amigos encontram o pastor Rufino e partem, mas são atacados pela população enfurecida.
2. O ILUMINISMO
defesa de padrões racionais
liberdade de pensamento e expressão razão como instrumento de análise do real
predomínio da realidade crença no progresso advindo da ciência
retorno à natureza como espaço de harmonia crença d q o Estado é o propagador das Luzes
Já o invicto Marquês com régia pompa
Da risonha Cidade avista os muros,
Já toca a larga ponte em áureo coche,
Ali junta a brilhante Infantaria; [...]
Vem a seu lado: as Filhas da Memória
Digna imortal coroa lhe oferecem,
Prêmio de seus trabalhos: as Ciências
Tornam com ele aos ares do Mondego;
E a Verdade entre júbilos o aclama
Restaurador do seu Império antigo.
Brilhante luz, paterna liberdade,
Vós, que fostes num dia sepultadas
Co bravo Rei nos campos de Marrocos [...]
neste fragmento do “Canto I” de O desertor, o Marquês de Pombal é visto
como o sábio restaurador das Ciências e do reino português
3. A EDUCAÇÃO E O ILUMINISMO
contexto da época
Verdadeiro método de estudar
Publicado em 1750, por Luís Antônio Verney, é tido como verdadeiro manifesto da ilustração,
posto que discute não só as ideias filosóficas, científicas e políticas da época, mas também
questões referentes ao ensino e às mudanças sociais, com ponderações sobre teoria literária.
Expulsão dos jesuítas
Ocorrida em 1759, a expulsão empreendida pelo Marquês de Pombal tornou-se um marco, na
medida em que representa uma ruptura com toda uma tradição religiosa no modo de pensar o
mundo. O reformismo pombalino absorveu o conjunto de ideias filosóficas dos iluministas e
enciclopedistas, como Rousseau, Adam Smith, Diderot, Locke, Espinosa e Voltaire.
4. ARCADISMO
características formais
vocabulário simples
Cosme infeliz, e sempre namorado
Sem ser correspondido, vai saudoso,
Ama, e não sabe a quem: vive penando,
E se consola só porque imagina
Que teme conseguir melhor ventura.
frases na ordem direta
Gonçalo excede a todos na estatura,
Na força, no valor e na destreza.
poucas figuras de linguagem
Gaspar, que o rosto nunca viu ao medo,
A todos desafia, e não perdoa
Duma oliveira ao carcomido tronco,
Que ele julga broquel impenetrável,
Vendo estalar da sua espada a folha.
5. ARCADISMO
características formais
verso decassílabo
Acaba de falar movendo os passos
Pelo torcido vão de nuas pedras.
Todos o seguem com trabalho imenso.
gosto pelas formas clássicas
De acordo com o professor Ronald Polito, o poema herói-cômico é um tipo de epopeia burlesca.
No poema burlesco, os deuses e heróis são apresentados de forma trivial e em linguagem
comum, enquanto neste novo burlesco que é o poema herói-cômico abandonam-se o assunto
trivial e personagens ridículos de modo solene e em tom épico.
Originário da Renascença italiana, o poema herói-cômico [...] trata um sujeito ou matéria fúteis e
ligeiros com tom solene e linguagem do poema épico, [...] de modo que do contraste entre
conteúdo e forma nasce o riso.
a opção pela sátira
programa educacional da sociedade pombalina: prodesse et delectare [útil e agradável]
6. ARCADISMO
a sátira e o pensamento iluminista
A Iluminação – busca incessante pelo conhecimento e pela verdade – acaba por gerar atitudes
ilustradas nos escritores árcades. Isso pode ser notado em poemas como Cartas chilenas, em
que se denuncia os desmandos do governador das Minas Gerais e como O desertor, no qual se
valorizam as reformas que o Marquês de Pombal realizara em Portugal.
O professor Antonio Candido, em seu ensaio “Literatura de dois gumes”, afirma que esses
escritores fomentarão, em seus textos, ao final do século XVIII e no início do século XIX, um
pensamento nativista, que influenciará no desejo de se libertar da Metrópole.
Tal sentimento nativista, entretanto, está ausente tanto das Cartas chilenas, de Tomás Antônio
Gonzaga, quanto de O desertor, de Silva Alvarenga.
traços heroicos traços cômicos
epopeia sátira
narrativa tratamento cômico
triunfo da moral e da virtude [Ensino] visa a provocar o riso
formas clássicas dá tratamento épico a situações ridículas
tratamento nobre, heroico, elaborado crítica de costumes
7. ARCADISMO
características temáticas
presença da mitologia
a ignorância é tratada como um monstro [Pastor Argos] que tinha cem olhos
Mas onde, se um Prelado formidável,
Esse Argos, que me assusta, vigilante,
Ao lugar mais remoto estende a vista?
Rodrigo bebia num copo muito grande, digno de Hércules [conhecido como Alcides]
Côas mãos ambas levanta um grande copo,
Copo digno de Alcides, e à saúde
De todos os grandes Desertores.
Gonçalo, o anti-herói da epopeia, é comparado a Ulisses
Só Gonçalo pensava cuidadoso
Em salvar os aflitos companheiros.
Assim, o astuto assolador de Troia,
Quando os Gregos heróis ouviu cerdosos
Grunhir nos bosques da encantadora Circe,
Ou quando viu a detestável mesa
Na vasta cova do Ciclope horrendo.
8. O DESERTOR
aspectos técnicos e linguísticos
poema narrativo herói-cômico [sátira burlesca] composto de decassílabos brancos
1774 crítica a ignorância, condena o atraso e celebra a necessidade de mudança
aspectos técnicos
poema estruturado em cinco cantos 1.439 versos em 70 estrofes irregulares
aspectos linguísticos
aliterações assonâncias
enjambement hipérbato
os dois sonetos
louvação a Alcindo Palmireno louvação ao Rei D. José
alegoria alegoria
dragão dominado pelo Rei e pelas filhas da Memória D. José quebra grilhões do Erro e da Ignorância
que abrem asas sobre o trono e louvam Palmireno exaltação das Ciências e da Luzes
9. A ESTRUTURA DA EPOPEIA
gênero literário
proposição
o autor apresenta o assunto do poema
Musas, cantai o Desertor das letras,
Que, depois dos estragos da Ignorância,
Por longos, e duríssimos trabalhos
Conduziu sempre firme os companheiros
Desde o loiro Mondego aos Pátrios montes.
Em vão se opõem as luzes da Verdade
Ao fim, que já na ideia tem proposto:
E em vão do Tio as iras o ameaçam.
10. A ESTRUTURA DA EPOPEIA
gênero literário
invocação
o poeta pede inspiração às musas para levar a cabo seu objeto
Musas, cantai o Desertor das letras,
Que, depois dos estragos da Ignorância,
Por longos, e duríssimos trabalhos
Conduziu sempre firme os companheiros
Desde o loiro Mondego aos Pátrios montes.
Em vão se opõem as luzes da Verdade
Ao fim, que já na ideia tem proposto:
E em vão do Tio as iras o ameaçam.
11. A ESTRUTURA DA EPOPEIA
gênero literário
dedicatória
o poeta dedica seu poema a uma pessoa [O desertor é dedicado ao Marquês de Pombal]
E tu, que à sombra duma mão benigna,
Gênio da Lusitânia, no teu seio
De novo alentas as amáveis Artes;
Se ao surgir do letargo vergonhoso
Não receias pisar da Glória a estrada,
Dirige o meu batel, que as velas solta,
O porto deixa, e rompe os vastos mares
De perigosas Sirtes povoados.
12. A ESTRUTURA DA EPOPEIA
gênero literário
narração
a história em si começa a ser apresentada
Quais seriam as causas, quais os meios
Por que Gonçalo renuncia os livros?
Os conselhos, e indústrias da Ignorância
O fizeram curvar ao peso enorme
De tão difícil, e arriscada empresa.
E tanto pode a rústica progênie!
13. O DESERTOR
o enredo, canto 01
no início da narrativa, a Ignorância lamenta a derrubada de seu trono; o rio Mondego leva alegre notícia
às praias dos confins da terra; a Ignorância fala que, para não ser destruída, quer achar um abrigo longe
de Coimbra; a Ociosidade e a Preguiça parecem personificadas; a Ignorância é vista como um libertino
com capa de devoto [usa roupas ultrapassadas]; Tibúrcio se apresenta a Gonçalo, que lia os romances
populares da época, e o antiquário lamenta o fim da escolástica, citando as postilas, os cadernos, os
arrieiros e estudantes pela estrada, num tempo em q era fácil obter títulos; Tibúrcio convida o estudante
para irem A Mioselha, região de grãos, queijos e mel, lugar rústico, longe das reformas universitárias;
Gonçalo, feliz, aceita o convite, pois queria fugir da fadiga dos estudos; os “heróis” – Gonçalo, Gaspar,
Cosme, Rodrigo, Bertoldo e Alberto – são convocados numa assembleia, e Gonçalo os convida a buscar
a liberdade e o descanso, longe das fadigas das artes e das ciências; as descrições têm caráter árcade;
quando os desertores planejam a partida, a notícia se espalha e Guiomar, mãe de Narcisa, amada de
Gonçalo sabe de tudo; a velha é descrita como uma ave de rapina; a filha se traja de forma caricata e
pede satisfação ao amante, jurando vingança; Gonçalo parece vacilar ante o pranto e diz que viajará para
adquirir uma herança; Gonçalo consola a namorada com uma bolsa cheia de moedas de prata; apesar
14. O DESERTOR
o enredo, canto 01
disso, a namorada espanca Gonçalo, chegando a lhe arrancar alguns dentes; sossega instantes depois e
fica contando as moedas d prata; Guiomar intercede para que Gonçalo seja preso; Rodrigo avisa Gonçalo
da traição da velha; os heróis deixam o Mondego – lugar de dura sujeição e triste estudo; partem.
15. O DESERTOR
o enredo, canto 02
caracterização das personagens: Gonçalo: mais hábil, mais alto e mais forte; Tibúrcio: vai montado num
jumento magro e conduz uma espécie de bandeira [lenço pardo atado a um ramo de salgueiro]; Cosme:
apaixonado sem ser correspondido [ama e não sabe a quem]; Rodrigo: desconfiado, tem índole grosseira
é melancólico e acostumado à solidão – é comparado a um tatu; Bertoldo: orgulha-se de pertencer a
uma dinastia nobre – os Logobardos –, traz papeis que comprovam sua nobreza e investe contra quem
tem fortuna mas não tem berço; Gaspar: viciado em jogo, quando perde, mostra sua espada – é colérico;
Alberto: não gosta de livros, está sempre de bom humor; todos detestam os estudos, leem apenas os
prólogos dos livros; o tempo está chuvoso; chegam a uma estalagem; comem azeitonas e queijo salgado
[próprio para quem bebe bastante]; Rodrigo e Tibúrcio disputam quem come mais; são comparados a
porcos; a bebida leva os desertores a brigar; Ambrósio, o dono da estalagem, que também fora estudante
e beberrão, faz um discurso moralizante: arrepende-se por não haver estudado e exorta os jovens à
moderação, à prudência e à honra; Gaspar se irrita, tenta ferir o velho; Gonçalo tenta acalmar os amigos;
Gaspar descarrega a raiva no tronco de uma árvore; perseguido pelo povo, o bando foge para a mata;
Bertoldo entra em pânico; Cosme chora de saudade; Gonçalo tenta salvar os amigos e pensa no Tio.
16. O DESERTOR
o enredo, canto 03
enaltece-se D. José, augusto pai do povo, que construiu o edifício da Universidade de Coimbra; é visto
como Defensor da Ciência Imortal; boatos são comparados com as aves brasileiras: voam rapidamente;
Gonçalo e seu amigos fogem para o fundo de um vale terrível [locus horrendus], próximo ao Tejo; surge
o pastor Rufino, amoroso e angustiado, busca conforto em cavernas; a Ignorância, para seduzir Rufino e
fazê-lo seguir os desertores assume a forma de Doroteia, sua amada; insufla-o: precisa partir a fim de
ganhar dinheiro; o locutor fala sobre os homens apaixonados; Gonçalo conversa com Rufino: era preciso
sair dali para não ser pasto das feras; Rufino aceita o convite, diz que foi para aquele lugar a fim de fugir
dos males do amor; caminha pelas pedras e é seguido pelos desertores; assim que chegam à estrada,
encontram o povo enfurecido, com paus e foices; trava-se uma batalha; Gonçalo quase morre depois de
ser atacado por um homem chamado Ferrabrás, mas é salvo por Gaspar, que quebra o braço do gigante
em dois lugares; Gonçalo finge-se de morto e é pisoteado pelos inimigos; Gaspar vê a desonra de seus
amigos; os desertores são surrados com madeira, atados e conduzidos à prisão.
17. O DESERTOR
o enredo, canto 04
Tibúrcio, que, durante a batalha, ficara olhando o céu, com as mãos no peito, é ironizado; a Ignorância
empenha esforços para tirar seus seguidores da prisão: Tibúrcio se faz passar por um penitente religioso
a fim de enganar o guarda da prisão [Amaro], pai de Doroteia; ele é vigilante, mas crédulo e ingênuo;
teme bruxas e lobisomens; Amaro alimenta o religioso; Tibúrcio agradece a fala das bênçãos do céus
sobre sua filha e netos que lhe trariam alegrias na velhice; Amaro, comovido, conta a história de sua vida;
aparece uma velha quiromante, Marcela, e diz que Doroteia conhecerá um moço loiro, rico e belo, por
nome Gonçalo; feliz, Doroteia planeja tirar Gonçalo da cadeia; envia ao amado vinho e presunto; o herói
está confuso, pois se lembra de Narcisa, mas deseja sair da prisão; Gonçalo adormece e sonha com a
Verdade [D. José], a Paz e Justiça; o herói vê a verdade que lhe fala da nova glória do nascente Império
[Universidade de Coimbra] que veio para a derrubar a Ignorância; elogia a Razão e celebra a Física, a
História Natural e a Astronomia; elogia os professores; condenam-se os vícios e o ócio em que vive
Gonçalo; o herói acorda confuso, pois teme abraçar a verdade por estar acostumado ao erro; Doroteia
entra na prisão durante o sono de Gonçalo, mas tropeça e faz barulho; o pai é assustado por Tibúrcio
[que finge ser um fantasma]; Amaro vê a porta da prisão aberta, chama por Doroteia e é consolado pelo
18. O DESERTOR
o enredo, canto 04
religioso; Tibúrcio vai ao encontro dos amigos e encontra o triste Rufino lamentando sua sorte, pois vira
Doroteia com outro; Tibúrcio se informa do itinerário dos desertores; enfim, encontra os amigos; os
amigos se comovem; Doroteia reconhece que Tibúrcio é um impostor [fingiu ser um religioso] e se
sente culpada; Cupido entra em cena e flecha Doroteia e Cosme; quando os dois estão se amando, são
surpreendidos por Gonçalo, que furioso, investe contra eles; cor local: Jaguara, campos do Ingaí;
briga: Cosme, Rodrigo e Bertoldo X Gonçalo, Gaspar e Alberto; Doroteia tenta ferir Gonçalo com uma
espada; Gaspar salva o herói; Cosme e os outros dois correm; Doroteia é agarrada por Tibúrcio e Gaspar.
19. O DESERTOR
o enredo, canto 05
Doroteia aguarda o julgamento: um deseja que ela fique livre e exposta às iras do pai; outro pretende
matá-la, para que ela sirva de exemplo às pérfidas amantes; Gonçalo se enternece, mas o ciúme faz com
que ele despreze a moça, que fica atada a um tronco; o narrador adota um tom moralista: É este o
prêmio de Amor, quando imprudente; os lamentos de Doroteia despertam os Ecos; ela pede para ser
devorada pelos lobos; alusão mitológica: Doroteia é comparada a Andrômeda, filha de Cefeu, à espera
do Monstro Marinho, antes de ser liberta por Perseu; Doroteia, sem protetores, chora, geme e amaldiçoa
Marcela; na fantasia de Doroteia, o palácio da Inocência está no alto de um rochedo, cercado de
remorsos e das três irmãs, Peste, Fome e Guerra [fúrias]; a Fortuna, cansada de ouvir as queixas de
Rufino, resolve mudar o destino do rapaz e o leva ao bosque, onde ele encontra Doroteia, que se fica
surpresa por ser ainda amada por quem ela tanto magoou; Gonçalo, por fim, avista a terra de seu tio,
a Mioselha; o narrador mostra Tibúrcio, faminto e sedento, pensando em Mioselha; Cosme, a fim de
se vingar, escreve ao Tio de Gonçalo e o delata; os desertores chegam à casa da mãe de Gonçalo; comem;
Gaspar, vaidoso, mostra a biblioteca do Tio formado; ela é vista como a personificação do mau gosto;
personificada, a estante geme com os livros de mau gosto; as obras que ali estão são consideradas
20. O DESERTOR
o enredo, canto 05
ridículas e extravagantes [barrocas]; Amaro [em busca da filha] e o povo cercam a casa da viúva; a
Ignorância impele Gonçalo q incentiva os amigos à luta [teriam ou os louros da vitória ou a deportação];
durante a briga, Gonçalo lança uma enorme talha de barro pela janela, machucando muita gente; Amaro
e seus seguidores respondem, atirando pedras; Tibúrcio atira pedras; Gaspar e Tibúrcio atiram grande
número de pedras, comparadas a um grane vento a destruir lavoura; tentam sair por uma pequena porta
mas Tibúrcio, muito gordo, fica entalado; Gaspar aperta-lhe as orelhas e provoca riso no povo; surge,
enfim, o Tio de Gonçalo que o aconselha a estudar, ao que o herói recusa; o Tio repreende Gonçalo
pelos crimes praticados e dá-lhe uma surra com um pau; por fim, a Ignorância é derrotada; na última
estrofe, chamando-a de Monstro, o narrador deseja que ela seja atirada num lugar onde caiam muitos
raios; há novo elogio ao Reitor da Universidade; o narrador apresenta imagens vegetais associadas à
sabedoria, os frutos abundantes que hão de encurvar com próprio peso os ramos.