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                                                         Roberto de Albuquerque Cavalcanti1
                                                         Maria Alice Fernandes da Silva Gayo2
                                                    1 - Professor adjunto do Depto. de Cirurgia do CCS/UFPB.
                                                    2 - Aluna do curso de graduação em Psicologia do Unipê.
                                                      E-mail: alicegayo@yahoo.com.br




Andragogia
               na educação
               universitária
     Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem in-                               novos paradigmas para a educação. En-
versa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os                             tre 1993 e 1996, a Comissão Interna-
                                                                                         cional sobre Educação para o Século
alunos são secundários.(...) O aluno é solicitado a se ajustar a
                                                                                         XXI, da Organização das Nações Uni-
um currículo pré-estabelecido. (...) Grande parte do aprendi-                            das para a Educação, Ciência e Cultura
zado consiste na transferência passiva para o estudante da ex-                           (UNESCO), desenvolveu um estudo que
periência e conhecimento de outrem (...) nós aprendemos aqui-                            culminou na produção do “Relatório Ja-
lo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto                         cques Delors”, publicado no Brasil com
                                                                                         o título “Educação – um tesouro a desco-
aprendiz. (LINDERMAN, 1926., apud CAVALCANTI, 1999, p.01)
                                                                                         brir” em 1998, síntese do pensamento das

E    sta afirmação de Linderman, pes-          diretivos – sejam os conselhos            maiores autoridades mundiais sobre edu-
      quisador da American Associati-          escolares locais, sejam as admi-          cação no final do século XX, sendo inves-
                                               nistrações universitárias – ten-          tido, portanto, de importância inquestio-
on for Adult Education, expressa sua           dem a se agarrar tenazmente ao
percepção, no início do século passa-          passado, promovendo apenas
                                                                                         nável para o planejamento de atividades
do, de que o ensino formal utilizado na        mudanças simbólicas. É prová-             educacionais atuais e futuras. O documento
época, para a maioria das atividades           vel que nossas escolas sejam              centra suas conclusões na premissa de que
educacionais, fôra concebido sobre
                                               mais prejudiciais que benéficas           a aprendizagem, neste século, deverá se
                                               ao desenvolvimento da persona-
princípios inadequados. Linderman não                                                    estender por toda a existência da pessoa,
                                               lidade e exerçam uma influência
estava sozinho em suas críticas. Assim         negativa sobre o pensamento               correspondendo à perspectiva da “educa-
expressava-se Carl Rogers, em artigo           criador (ROGERS apud GOULART,             ção permanente”, “educação continuada”
publicado em 1964:                             2001, p.82).                              ou “Andragogia”. O termo “Andragogia”
                                                                                         já fora sugerido em documento da UNES-
     Num mundo em rápida mudança,               No século XXI, é preciso vencer          CO no início da década de 1970, com o
     os professores e seus conselhos      essas resistências e abrir perspectivas,       mesmo significado.

                                                                                        CONCEITOS             Julho de 2004 I Julho de 2005
Origem da Andragogia

O      vocábulo “Andragogia” foi inici-                 Pierre Furter (1973, p.23) defi-         a intervenção de outrem (individu-
                                                                                                 al ou coletiva) aparece como indis-
      almente utilizado por Alexander            niu Andragogia como a filosofia, ciência
                                                                                                 pensável (grifo nosso).
Kapp (1833), professor alemão, para              e a técnica da educação de adultos.
descrever elementos da Teoria de Edu-
                                                                                                   A palavra Andragogia deriva das
cação de Platão. Voltou a ser utilizado               Propomos que, sob o nome de
                                                      “andragogia”, a universidade reco-    palavras gregas andros (homem) +
por Rosenstock (1921), para significar
                                                      nheça uma ciência da educação         agein (conduzir) + logos (tratado, ci-
o conjunto de filosofias, métodos e pro-              dos homens; coisa que outras          ência), referindo-se à ciência da educa-
fessores especiais necessários à educa-               universidades estrangeiras já fize-
ção de adultos. Na década de 1970, o                  ram primeiro na Iugoslávia, e, mais
                                                                                            ção de adultos, em oposição à Peda-
termo era comumente empregado na                      recentemente, nos Países-Baixos.      gogia, também derivada dos vocábu-
França (Pierre Furter), Iugoslávia (Su-
                                                      Essa ciência deve se chamar an-       los gregos paidós (criança) + agein
                                                      dragogia e não mais pedagogia,
san Savecevic) e Holanda para designar                                                      (conduzir) + logos (tratado ou ciên-
                                                      pois seu objetivo não é mais so-
a ciência da educação de adultos. O                   mente a formação da criança e do      cia), obviamente referindo-se à ciência
nome de Malcolm Knowles surgiu nos                    adolescente, mas do homem du-         da educação de crianças. A Andrago-
Estados Unidos da América, a partir de                rante toda a sua vida.                gia deve ser entendida como a filosofia,
                                                      Essa ciência compreenderá tan-
1973, como um dos mais dedicados                      to o estudo das formas de autodi-     a ciência e a técnica da educação de
autores a estudar o assunto.                          datismo quanto daquelas em que        adultos.

CONCEITOS        Julho de 2004 I Julho de 2005                                                                                   45
O adulto na ótica existencial-humanista

C    rianças e adultos são criaturas sig-
     nificativamente diferentes. Jean Ja-
cques Rousseau foi o primeiro a perce-
                                            adolescência, mas nem por isso limita-
                                            das a essa idade, que transformam pro-
                                            gressivamente a criança no adulto.
                                                                                          o homem é capaz de conhecer o mundo e
                                                                                          a si mesmo e de conhecer que conhece
                                                                                          (reflexão), ter consciência. Através da cons-
ber que crianças não são miniaturas de              Considerados pela perspectiva da      ciência, ele “se identifica e se afirma como
adultos. O desenvolvimento psicológi-       Psicologia Existencial-Humanista, os prin-    pessoa, como indivíduo distinto e diferen-
co que ocorre no ser humano ao longo        cípios compreensíveis das condutas huma-      te dos demais, como portador de direitos
de sua vida produz modificações pro-        nas adultas se concretizam na razão, liber-   e deveres, e como criador de si próprio.”
fundas, progressivas, mais intensas na      dade e responsabilidade. Através da razão     (Bach, 1985, p.77).




A    través da consciência, o adulto se
     percebe como “ser livre, autôno-
mo” e, como tal, capaz de tomar deci-
                                            subjetivas, que são incorporadas à sua
                                            identidade, sua personalidade e sua ma-
                                            turidade psicológica. Marcados assim
                                                                                          forços para atingir objetivos específi-
                                                                                          cos, plenos de significado para si. No
                                                                                          dizer de Rollo May (1973, p.76), “o
sões, fazer escolhas, direcionar suas       pelas vivências, construindo-se e crian-      homem não cresce como uma árvore,
ações para perseguir seus objetivos. Sua    do-se a si próprios, os adultos reagem        mas realiza suas potencialidades so-
consciência e liberdade o tornam sujei-     de forma pessoal diferente perante situ-      mente quando planeja e escolhe cons-
to de responsabilidade, tanto no senti-     ações idênticas, o que precisa ser con-       cientemente”.
do de saber como agir e reagir perante      siderado na aprendizagem.                            Sujeito dessas características, que
os desafios e problemas existenciais,              Finalmente, o adulto tem uma           vão interagir e interferir em todas suas
como no de arcar com as conseqüênci-        tendência a atualização, no sentido de        atividades, inclusive no aprendizado, o
as de seus atos e decisões.A experiên-      estar sempre buscando a concretização         adulto aprendiz requer uma filosofia edu-
cia pessoal é outra dimensão psicológi-     de suas potencialidades, o enriqueci-         cacional específica, realizada através de
ca do adulto. Durante sua vida, vivencia    mento amplo de sua vida, no campo do          técnicas que utilizem estas peculiarida-
fatos, aprendizados, acertos, erros, al-    saber, do poder, do fazer, do ter, do sen-    des para potencializar seu aprendizado.
guns gratificantes outros desagradáveis,    tir-se gratificado por suas conquistas.       A Andragogia é a resposta para esta
vivências essas exclusivamente suas,        Nessa busca, o adulto orienta seus es-        necessidade educacional.
46                                                                                        CONCEITOS         Julho de 2004 I Julho de 2005
ANDRAGOGIA versus PEDAGOGIA
C     oncebido no objetivo de educar cri-
       anças, o modelo pedagógico clás-
sico tem como pilar mestre a total res-
ponsabilidade do professor sobre o pro-
cesso educacional. Ele decide o que en-
sinar (prepara um programa), como faze-
lo (dispõe sobre o método) e como ava-
liar o progresso do aluno (...o aluno, ao
termino da disciplina, será capaz de...).
Ao aprendiz, cabe apenas o papel de
submissão e obediência. Durante as ati-
vidades didáticas, o professor age, toma
a iniciativa, fala e os alunos, cumprindo
o papel passivo que lhes cabe nesse pla-
nejamento, acompanham.
        Diante das características psico-
lógicas dos adultos, a Andragogia, dife-         siderado como agente capaz, autônomo,      vação interna. O quadro a seguir com-
rentemente, tem o aluno como sujeito do          responsável, dotado de inteligência,       para as características das duas ciênci-
processo de ensino/aprendizagem, con-            consciência, experiência de vida e moti-   as segundo seis diferentes critérios:

                            Quadro 1- Comparação entre Pedagogia e Andragogia




CONCEITOS        Julho de 2004 I Julho de 2005                                                                                   47
Pedagogia clássica na Universidade

E     ducandos que chegam à Universi-
      dade, em sua maioria, são adoles-
centes e adultos jovens, em ávida busca
                                                  tuda” o que corresponde em fixar
                                                  de memória o quanto lhe tem sido,
                                                  oralmente, ensinado nas aulas.
                                                                                         ceberão a dura realidade de que não es-
                                                                                         tão preparados para o mundo real. Ou-
                                                                                         tros, mais seguros de si e no propósito
                                                  Esta pedagogia podia funcionar
por suas identidades e pela realização            perfeitamente numa escola da Ida-      de defender seus ideais e objetivos, en-
de suas potencialidades. Ainda insegu-            de Média. ( ANÍSIO TEIXEIRA.           trarão em conflito com a instituição e com
                                                  1956, p.230)
ros, esperando da Universidade o ensi-                                                   professores. Rotulados de indisciplina-
no “superior” prometido pelo ordena-                                                     dos, serão punidos com faltas, suspen-
                                                   Nesse ambiente hostil, castrador,
mento educacional vigente, se deparam                                                    sões, reprovações. Dentre esses, uns
                                            onde o professor ocupa o palco e os
com o mero continuísmo da educação                                                       poucos saberão superar as dificuldades,
                                            alunos, a platéia, onde suas liberdades
fundamental e média: programas pré-or-                                                   mesmo sem ajuda, e extrair da Univer-
                                            e autonomias não podem ser exercidas,
ganizados em períodos e disciplinas,                                                     sidade, por iniciativa e persistência, aqui-
                                            suas inteligências são relegadas a se-
conteúdos selecionados e estabelecidos                                                   lo que necessitam para realizar seus ob-
                                            gundo plano frente às exigências de me-
unilateralmente pelos professores ou pela                                                jetivos. Alguns outros seguirão a estru-
                                            mória, suas experiências e criatividade
instituição; são forçados a se ajustarem                                                 tura curricular de forma desinteressada
                                            são solenemente ignoradas e desesti-
a essa estrutura rígida, a ocupar o espa-                                                e irresponsável, desestimulados, chegan-
                                            muladas, os estudantes irão viver por
ço de uma carteira que lhe é destinada                                                   do ao término de seus cursos em letár-
                                            quatro, cinco ou seis anos, o exato pe-
como objetos da ação educacional da ins-                                                 gica mediocridade.
                                            ríodo onde deverá ocorrer a consolida-
tituição. Devem fazer silêncio, prestar                                                          Finalmente, muitos estudantes
                                            ção de seus desenvolvimentos psicoló-
atenção à “performance” dos professo-                                                    promissores sucumbirão ao ambiente
                                            gicos. Será um tempo decisivo, que
res e memorizar os conteúdos com o                                                       inóspito, sentindo-se incapazes por não
                                            marcará de modo indelével a postura
objetivo de responder perguntas nos tes-                                                 conseguir a aprendizagem que esperam
                                            dos educandos frente aos desafios da
tes de avaliação. Se tiverem dúvidas (e                                                  e de que precisam, e sem aceitar abrir
                                            vida cotidiana.
coragem), poderão dirigir perguntas ao                                                   mão de um mínimo de amor próprio para
                                                   A reação dos alunos a essa situa-
alto do púlpito docente, é claro, com o                                                  se enquadrar às regras vigentes. O con-
                                            ção frustrante será variável, de acordo
máximo de propriedade para não serem                                                     flito psicológico resultante pode ser se-
                                            com a índole e o grau de amadurecimento
ridicularizados por professores ou cole-                                                 vero, levando em numerosos casos à de-
                                            de cada um deles. Alguns, mais imatu-
gas de classe.                                                                           pressão, abandono do curso e, inclusi-
                                            ros e dependentes, aceitarão passiva-
                                            mente essa realidade, considerando que       ve, ao suicídio. No dizer de Hoirisch
      A atividade escolar consiste em
      “aulas”, que os alunos “ouvem”,       a “instituição deve estar certa e as coi-    (1993, p.26), “... o problema vai-se ar-
      e algumas vezes tomando notas,        sas são assim mesmo”. Esses estudan-         rastando com grande ansiedade para o
      e em exames em que se verificam       tes, uma vez inseridos no processo, te-      aluno, e eclode alguns períodos adiante
      o que sabem, por meio de provas
                                            rão “sucesso” na vida escolar, boas no-      através de episódios de depressão ou até
      escritas e orais. Marcam-se al-
      guns “trabalhos” para casa e, em      tas, aprovações, prêmios acadêmicos.         idéias e tentativas de suicídio diante das
      casa, se supõe que o aluno “es-       Receberão seus diplomas e só então per-      pressões que enfrenta.”

                                            Métodos andragógicos

O          processo      de    ensino/
       aprendizagem, do ponto de vista
andragógico, procura tirar o máximo
                                            les do ensino clássico. Mais do que ser
                                            um bom orador e conhecer o assunto a
                                            ser ensinado, ele precisa ter habilidade
                                                                                         dispostos em círculo numa sala ou em
                                                                                         volta de uma mesa de trabalho (circu-
                                                                                         lar). O processo é centrado no aluno,
proveito das características peculiares     para lidar com pessoas, orientar, criar      não no professor.
dos adultos, discutidas acima, que já se    empatia, incentivar, conduzir grupos de             O programa, esboçado pelo pro-
mostram incipientes nos adolescentes.       estudos de modo discreto, na direção de-     fessor em linhas genéricas, será discuti-
Os resultados de todo o processo são        sejada. O ambiente de atividades andra-      do, aprofundado, reformulado e final-
potencializados, atingindo uma aprendi-     gógicas é diferente daquele da pedago-       mente aprovado por todo o grupo de tra-
zagem mais fácil, profunda, criativa.       gia clássica. Na disposição física, não há   balho. Daí em diante, o professor deve-
       Os professores na Andragogia         lugar especial para o professor, que se      rá apenas tornar o ambiente propício,
desempenham um papel diferente daque-       posta junto com os alunos, geralmente        moderar as discussões, evitar desvios

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exagerados, mantendo presentes os ob-
jetivos traçados. O tutor andragógico
raramente responde a perguntas, ao con-
trário, utiliza seus conhecimentos para
produzir outras perguntas que, de modo
indutivo, levem os estudantes a desco-
brirem, eles próprios, as respostas. Tem
o cuidado, também, de jamais dizer que
o aluno está errado, ferindo sua auto-
estima. Procura, em vez disso, encon-
trar algo de certo na resposta do aluno e
reformular suas perguntas de modo a
induzir aproximações sucessivas à res-
posta correta. Nunca pode ser negligen-
ciado o papel da segurança do aluno no
processo de aprendizagem.

      A pessoa sadia interage, espon-               grupo andragógico um terreno fértil. O                pesquisar, os meios de pesquisa neces-
      taneamente, com o ambiente,                   método consiste na proposição de tare-                sários (biblioteca, acesso à Internet, um
      através de pensamentos e interes-
                                                    fas a serem resolvidas ou executadas,                 consultor especialista para tirar as dú-
      ses e se expressa independente-
      mente do nível de conhecimento                bem como no fornecimento dos meios                    vidas, responder perguntas). Decorri-
      que possui. Isto acontece se ela              para se chegar aos objetivos. Os alunos               do o prazo, nova reunião terá lugar para
      não for mutilada pelo medo e na               deverão trabalhar, segundo suas visões                discussão profunda do problema, em
      medida em que se sente segura                 dos problemas e suas experiências an-                 todos os aspectos envolvidos. Um pro-
      o suficiente para a interação.
      (MASLOW 1972, p.50-51).                       teriores, na construção de soluções ade-              blema psicológico, por exemplo, será
                                                    quadas. Essas soluções nunca serão ho-                estudado do ponto de vista fisiológico,
        Como bem frisado acima, é es-               mogêneas, visto que cada estudante ou                 psicanalítico, existencial, humanístico,
sencial tirar o máximo proveito da expe-            cada grupo toma um caminho diferente,                 behaviorista. O conteúdo a ser discuti-
riência de vida dos alunos. Essa fonte              mas todas serão corretas. Numa discus-                do não terá fronteira de disciplinas, de
de aprendizagem deverá ser explorada                são final, todo o grupo reunido terá uma              estruturação pedagógica, de séries ou
exaustivamente através das quatro vias              multiplicidade de caminhos para a solu-               de períodos.
utilizadas pela consciência humana para             ção, alargando seus horizontes e seus                        A avaliação é outro momento es-
processar as informações experienciais              paradigmas.1                                          pecial da andragogia. Fugindo do lugar
– sensação, pensamento, emoção e in-                       A aprendizagem baseada em pro-                 comum de premiar ou punir o aluno, re-
tuição (Carl Jung). Métodos envolvendo              blemas (Problem-Based Learning –                      prová-lo ou aprová-lo, através de alguns
discussões de grupo, exercícios de si-              PBL) é um método muito utilizado em                   testes, meras verificações do condicio-
mulação, aprendizagem baseada em pro-               andragogia e que se aplica particular-                namento produzido pelo processo peda-
blemas, discussões de casos são comu-               mente bem aos cursos de graduação                     gógico (...o aluno será capaz de...), a
mente utilizadas para atingir esse obje-            profissionalizantes, onde podemos sem                 avaliação andragógica é contínua, cons-
tivo. O professor/tutor deverá ter sensi-           dúvida incluir a Psicologia. Consiste na              tante, diagnóstica. Visa, a cada momen-
bilidade e argúcia suficientes para per-            narração ou construção de um proble-                  to, detectar falhas (não compreensão de
ceber o clima de cada grupo, quebrar as             ma que será posto para o grupo de es-                 conceitos, aprofundamento insuficiente
inibições, propor discussões e pergun-              tudos solucionar. Para essa solução, se-              do raciocínio dedutivo ou indutivo na
tas pontuais que produzam conflitos in-             rão necessários os conhecimentos ob-                  discussão de problemas, falhas no inte-
telectuais a serem debatidos com mais               jetivados pelo momento particular da                  resse e participação, etc) de modo que
vigor e paixão.                                     aprendizagem em que o problema é in-                  sejam prontamente corrigidas – utilizan-
        O construtivismo encontra num               serido. O grupo recebe um prazo para                  do-se desde reforço imediato dos con-



!   1 É como solicitar de vários arquitetos a construção de casas para famílias de classe média, com dois filhos de sexos diferentes, com garagem e piscina.
    Não precisamos dizer que cada arquiteto tomará o material disponível e construirá uma casa diferente das demais, mas que todas atenderão às
    necessidades que foram propostas.

CONCEITOS           Julho de 2004 I Julho de 2005                                                                                                       49
teúdos insatisfatórios, ajustes na progra-   já não haverá tempo hábil para corrigir      outros, estimulando a auto-avaliação,
mação e na trajetória para os objetivos,     as distorções, que passarão a compor o       capacidade importantíssima para o
chegando até à assistência psicológica       patrimônio de experiências do aluno, ou      aprendiz, no futuro, já fora da Universi-
individual daqueles que não estejam lidan-   vão fazê-lo perder todo um período atra-     dade, que lhe permitirá perceber de ime-
do adequadamente com o desenrolar do         vés da reprovação e da repetência.           diato o momento em que seu desempe-
processo. As falhas não devem ser pes-              Os próprios alunos serão envol-       nho se torne insatisfatório, levando-o a
quisadas apenas no final de períodos,        vidos na avaliação. Serão solicitados a      buscar atualização de seus conhecimen-
quando se encontram acumuladas. Então        atribuir honestamente notas uns aos          tos através da educação continuada.




                                                        Conclusão

C     onsiderando as informações, opini-
      ões, conceitos e análises levantadas
dos documentos e fontes pesquisadas,
                                             nuada, a andragogia. Os alunos precisam
                                             aprender do modo mais rápido e eficien-
                                             te, precisam dominar os conhecimentos
                                                                                          por Furter, no aproveitamento das expe-
                                                                                          riências vivenciais dos adultos, tão valori-
                                                                                          zadas por Knowles. Por ser direcionada
bem como experiências pessoais como          básicos ou clássicos a partir dos quais      ao aproveitamento das faculdades psico-
alunos recém-inseridos no contexto do        estão se desenvolvendo as pesquisas e a      lógicas específicas dos adolescentes e
ensino superior, infere-se que a organi-     construção de novas informações e, so-       adultos, possibilita uma convivência mais
zação e a estrutura pedagógicas clássi-      bretudo, precisam aprender a aprender,       harmônica entre estudantes e professo-
cas, ainda hoje utilizadas em algumas Uni-   para que possam, durante toda vida, in-      res, e estudantes entre si, reduzindo as
versidades, são inadequadas para a reali-    dependentes da Universidade, continuar       tensões emocionais e evitando os dese-
dade do conhecimento humano atual.           construindo o seu saber, e se manterem       quilíbrios que levam a estados psicológi-
        O mundo da cultura – aquele pro-     atualizados e capazes de desenvolver a       cos preocupantes, tão freqüentes que in-
duzido a partir da ação humana –, cresce     contento o seu papel na sociedade.           duziram a Unesco a sugerir a criação de
rapidamente; o conhecimento existente                O maior inconveniente da pedago-     unidades de apoio psicopedagógico em
duplica a cada 5 anos e tende a crescer      gia clássica é limitar os alunos ao tama-    todas as Instituições de Ensino Superior.
em velocidades progressivamente maio-        nho da Instituição ou de seus professo-              Embora não tenha se firmado ain-
res. As ciências naturais e aplicadas evo-   res. Imagine-se o que seria do mundo         da como ciência diversa da Pedagogia,
luem exponencialmente, tornando impos-       cultural se nenhum aluno tivesse crescido    o termo ANDRAGOGIA continua sen-
sível a inclusão de todo o conhecimento      além de Sócrates, Platão ou Aristóteles.     do o mais apropriado e expressivo para
existente em programas educacionais. Um      A pedagogia clássica ofusca a inteligên-     denominar as novas filosofias e técnicas
programa construído hoje se encontra         cia em favor da memória, condiciona os       voltadas para a educação de adultos.
incompleto e defasado no próximo semes-      alunos a repetir o conhecimento existen-     Sua utilização será importante para uma
tre. Os cursos não podem ser cada vez        te, desestimula a criatividade por absolu-   maior assimilação e disseminação de
mais estendidos em duração para com-         ta falta de espaço e de incentivo.           seus princípios e do “estado da arte”
portar os conhecimentos novos.                       A ANDRAGOGIA propõe uma              dessa ciência entre estudantes e profis-
        A solução para a Educação Uni-       educação baseada na liberdade, nos mol-      sionais envolvidos na Educação Univer-
versitária neste início de século XXI é a    des concebidos por Carl Rogers, na edu-      sitária e em outras formas de educação
educação permanente, a educação conti-       cação por toda a vida como preconizado       de adultos.
50                                                                                        CONCEITOS         Julho de 2004 I Julho de 2005
B    I B L I O G R A F I A
                                            BACH, Marcos. Consciência e Identidade. Petrópolis: Ed.Vozes, 1985. p.77.

                                            CAVALCANTI, Roberto A. Andragogia: a aprendizagem nos Adultos. Revis-
                                            ta de Clínica Cirúrgica da Paraíba, João Pessoa, v.4, n.6, Jul. 1999.

                                            FILHO, Geraldo Francisco. A Psicologia no Contexto Educacional. Campi-
                                            nas: Ed. Átomo, 2002. 121p.

                                            FREIRE, Paulo & GUIMARÃES, Sérgio. Sobre Educação: (Diálogos). 3.Ed.
                                            Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982 Vol.1 .

                                            FREIRE, Paulo. Educação Como Prática da Liberdade. 14. Ed. Rio de Ja-
                                            neiro: Paz e Terra, 1993. 150p.

                                            FREUD, Sigmund. Obras Completas, Vol 12, p 416-417, Trad. Jaime Salomão.
                                            Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro, 1980.

                                            FURTER, Pierre. Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural. Trad.
                                            Teresa de Araújo Pena. Petrópolis: Ed. Vozes Limitada, 1974. 224p.

                                            GOECKS, Rodrigo. Educação de Adultos: Uma Abordagem Andragógica.
                                            Disponível em: <http://www.andragogia.com.br> . Acesso em 20/05/2004.

                                            GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da Educação: Fundamentos Teóricos .
                                            Aplicações à Prática Pedagógica. 8.Ed. Petrópolis: Ed.Vozes, 2001. 198p.

                                            HOIRISCH, Adolph et al. Orientação Psicopedagógica no Ensino Superior.
                                            São Paulo: Ed. Cortez, Ed. UFRJ, 1993. 200p.

                                            LÉON, Antoine. Psicopedagogia dos Adultos. Trad. Ione de Andrade e Ma-
                                            ria Elisa Mascarenhas. São Paulo: Ed. Nacional, Ed. Universidade de São
                                            Paulo, 1977. 153p

                                            LIEB, Stephen. Principles of Adult Learning. Disponível em: <http://
                                            honolulu.hawaii.edu/intranet/committees/FacDevCom/guidebk/
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                                            LINDEMAN, E. C. The Meaning of Adult Education. New York: New
                                            Republic.1926

                                            MASLOW, A. H. Motivation and Personality. 3.Ed. New York:Harper Collins
                                            Publishers, 1987. 369p.

                                            MAY, Rollo. O Homem à Procura de Si Mesmo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1973.

                                            RAMOS, Evilásio A. Psicodinâmica das Condutas Adolescentes. Educação
                                            em Debate, Fortaleza, Ano 16, n° 27 e 28, p 31-50, jan/dez de 1994.

                                            ROGER, Carl. Liberdade de Aprender: Em nossa Década. Trad. José Octávio
                                            de Aguiar Abreu. 2.Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. 334p.

                                            SENADO FEDERAL. Comissão de Educação e Cultura. Projeto Educação.
                                            Conferências, Pronunciamentos e Depoimentos. Brasília, Tomo I, Centro
                                            Gráfico do Senado, 1978. 400p.

                                            TRALDI, Maria Cristina & DIAS, Reinaldo. Monografia: passo a passo. 3.Ed.
                                            Campinas: Ed. Alinea, 2001.

CONCEITOS   Julho de 2004 I Julho de 2005                                                                         51

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Andragogia na educação universitária

  • 1. 44 Roberto de Albuquerque Cavalcanti1 Maria Alice Fernandes da Silva Gayo2 1 - Professor adjunto do Depto. de Cirurgia do CCS/UFPB. 2 - Aluna do curso de graduação em Psicologia do Unipê. E-mail: alicegayo@yahoo.com.br Andragogia na educação universitária Nosso sistema acadêmico se desenvolveu numa ordem in- novos paradigmas para a educação. En- versa: assuntos e professores são os pontos de partida, e os tre 1993 e 1996, a Comissão Interna- cional sobre Educação para o Século alunos são secundários.(...) O aluno é solicitado a se ajustar a XXI, da Organização das Nações Uni- um currículo pré-estabelecido. (...) Grande parte do aprendi- das para a Educação, Ciência e Cultura zado consiste na transferência passiva para o estudante da ex- (UNESCO), desenvolveu um estudo que periência e conhecimento de outrem (...) nós aprendemos aqui- culminou na produção do “Relatório Ja- lo que nós fazemos. A experiência é o livro-texto vivo do adulto cques Delors”, publicado no Brasil com o título “Educação – um tesouro a desco- aprendiz. (LINDERMAN, 1926., apud CAVALCANTI, 1999, p.01) brir” em 1998, síntese do pensamento das E sta afirmação de Linderman, pes- diretivos – sejam os conselhos maiores autoridades mundiais sobre edu- quisador da American Associati- escolares locais, sejam as admi- cação no final do século XX, sendo inves- nistrações universitárias – ten- tido, portanto, de importância inquestio- on for Adult Education, expressa sua dem a se agarrar tenazmente ao percepção, no início do século passa- passado, promovendo apenas nável para o planejamento de atividades do, de que o ensino formal utilizado na mudanças simbólicas. É prová- educacionais atuais e futuras. O documento época, para a maioria das atividades vel que nossas escolas sejam centra suas conclusões na premissa de que educacionais, fôra concebido sobre mais prejudiciais que benéficas a aprendizagem, neste século, deverá se ao desenvolvimento da persona- princípios inadequados. Linderman não estender por toda a existência da pessoa, lidade e exerçam uma influência estava sozinho em suas críticas. Assim negativa sobre o pensamento correspondendo à perspectiva da “educa- expressava-se Carl Rogers, em artigo criador (ROGERS apud GOULART, ção permanente”, “educação continuada” publicado em 1964: 2001, p.82). ou “Andragogia”. O termo “Andragogia” já fora sugerido em documento da UNES- Num mundo em rápida mudança, No século XXI, é preciso vencer CO no início da década de 1970, com o os professores e seus conselhos essas resistências e abrir perspectivas, mesmo significado. CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005
  • 2. Origem da Andragogia O vocábulo “Andragogia” foi inici- Pierre Furter (1973, p.23) defi- a intervenção de outrem (individu- al ou coletiva) aparece como indis- almente utilizado por Alexander niu Andragogia como a filosofia, ciência pensável (grifo nosso). Kapp (1833), professor alemão, para e a técnica da educação de adultos. descrever elementos da Teoria de Edu- A palavra Andragogia deriva das cação de Platão. Voltou a ser utilizado Propomos que, sob o nome de “andragogia”, a universidade reco- palavras gregas andros (homem) + por Rosenstock (1921), para significar nheça uma ciência da educação agein (conduzir) + logos (tratado, ci- o conjunto de filosofias, métodos e pro- dos homens; coisa que outras ência), referindo-se à ciência da educa- fessores especiais necessários à educa- universidades estrangeiras já fize- ção de adultos. Na década de 1970, o ram primeiro na Iugoslávia, e, mais ção de adultos, em oposição à Peda- termo era comumente empregado na recentemente, nos Países-Baixos. gogia, também derivada dos vocábu- França (Pierre Furter), Iugoslávia (Su- Essa ciência deve se chamar an- los gregos paidós (criança) + agein dragogia e não mais pedagogia, san Savecevic) e Holanda para designar (conduzir) + logos (tratado ou ciên- pois seu objetivo não é mais so- a ciência da educação de adultos. O mente a formação da criança e do cia), obviamente referindo-se à ciência nome de Malcolm Knowles surgiu nos adolescente, mas do homem du- da educação de crianças. A Andrago- Estados Unidos da América, a partir de rante toda a sua vida. gia deve ser entendida como a filosofia, Essa ciência compreenderá tan- 1973, como um dos mais dedicados to o estudo das formas de autodi- a ciência e a técnica da educação de autores a estudar o assunto. datismo quanto daquelas em que adultos. CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005 45
  • 3. O adulto na ótica existencial-humanista C rianças e adultos são criaturas sig- nificativamente diferentes. Jean Ja- cques Rousseau foi o primeiro a perce- adolescência, mas nem por isso limita- das a essa idade, que transformam pro- gressivamente a criança no adulto. o homem é capaz de conhecer o mundo e a si mesmo e de conhecer que conhece (reflexão), ter consciência. Através da cons- ber que crianças não são miniaturas de Considerados pela perspectiva da ciência, ele “se identifica e se afirma como adultos. O desenvolvimento psicológi- Psicologia Existencial-Humanista, os prin- pessoa, como indivíduo distinto e diferen- co que ocorre no ser humano ao longo cípios compreensíveis das condutas huma- te dos demais, como portador de direitos de sua vida produz modificações pro- nas adultas se concretizam na razão, liber- e deveres, e como criador de si próprio.” fundas, progressivas, mais intensas na dade e responsabilidade. Através da razão (Bach, 1985, p.77). A través da consciência, o adulto se percebe como “ser livre, autôno- mo” e, como tal, capaz de tomar deci- subjetivas, que são incorporadas à sua identidade, sua personalidade e sua ma- turidade psicológica. Marcados assim forços para atingir objetivos específi- cos, plenos de significado para si. No dizer de Rollo May (1973, p.76), “o sões, fazer escolhas, direcionar suas pelas vivências, construindo-se e crian- homem não cresce como uma árvore, ações para perseguir seus objetivos. Sua do-se a si próprios, os adultos reagem mas realiza suas potencialidades so- consciência e liberdade o tornam sujei- de forma pessoal diferente perante situ- mente quando planeja e escolhe cons- to de responsabilidade, tanto no senti- ações idênticas, o que precisa ser con- cientemente”. do de saber como agir e reagir perante siderado na aprendizagem. Sujeito dessas características, que os desafios e problemas existenciais, Finalmente, o adulto tem uma vão interagir e interferir em todas suas como no de arcar com as conseqüênci- tendência a atualização, no sentido de atividades, inclusive no aprendizado, o as de seus atos e decisões.A experiên- estar sempre buscando a concretização adulto aprendiz requer uma filosofia edu- cia pessoal é outra dimensão psicológi- de suas potencialidades, o enriqueci- cacional específica, realizada através de ca do adulto. Durante sua vida, vivencia mento amplo de sua vida, no campo do técnicas que utilizem estas peculiarida- fatos, aprendizados, acertos, erros, al- saber, do poder, do fazer, do ter, do sen- des para potencializar seu aprendizado. guns gratificantes outros desagradáveis, tir-se gratificado por suas conquistas. A Andragogia é a resposta para esta vivências essas exclusivamente suas, Nessa busca, o adulto orienta seus es- necessidade educacional. 46 CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005
  • 4. ANDRAGOGIA versus PEDAGOGIA C oncebido no objetivo de educar cri- anças, o modelo pedagógico clás- sico tem como pilar mestre a total res- ponsabilidade do professor sobre o pro- cesso educacional. Ele decide o que en- sinar (prepara um programa), como faze- lo (dispõe sobre o método) e como ava- liar o progresso do aluno (...o aluno, ao termino da disciplina, será capaz de...). Ao aprendiz, cabe apenas o papel de submissão e obediência. Durante as ati- vidades didáticas, o professor age, toma a iniciativa, fala e os alunos, cumprindo o papel passivo que lhes cabe nesse pla- nejamento, acompanham. Diante das características psico- lógicas dos adultos, a Andragogia, dife- siderado como agente capaz, autônomo, vação interna. O quadro a seguir com- rentemente, tem o aluno como sujeito do responsável, dotado de inteligência, para as características das duas ciênci- processo de ensino/aprendizagem, con- consciência, experiência de vida e moti- as segundo seis diferentes critérios: Quadro 1- Comparação entre Pedagogia e Andragogia CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005 47
  • 5. Pedagogia clássica na Universidade E ducandos que chegam à Universi- dade, em sua maioria, são adoles- centes e adultos jovens, em ávida busca tuda” o que corresponde em fixar de memória o quanto lhe tem sido, oralmente, ensinado nas aulas. ceberão a dura realidade de que não es- tão preparados para o mundo real. Ou- tros, mais seguros de si e no propósito Esta pedagogia podia funcionar por suas identidades e pela realização perfeitamente numa escola da Ida- de defender seus ideais e objetivos, en- de suas potencialidades. Ainda insegu- de Média. ( ANÍSIO TEIXEIRA. trarão em conflito com a instituição e com 1956, p.230) ros, esperando da Universidade o ensi- professores. Rotulados de indisciplina- no “superior” prometido pelo ordena- dos, serão punidos com faltas, suspen- Nesse ambiente hostil, castrador, mento educacional vigente, se deparam sões, reprovações. Dentre esses, uns onde o professor ocupa o palco e os com o mero continuísmo da educação poucos saberão superar as dificuldades, alunos, a platéia, onde suas liberdades fundamental e média: programas pré-or- mesmo sem ajuda, e extrair da Univer- e autonomias não podem ser exercidas, ganizados em períodos e disciplinas, sidade, por iniciativa e persistência, aqui- suas inteligências são relegadas a se- conteúdos selecionados e estabelecidos lo que necessitam para realizar seus ob- gundo plano frente às exigências de me- unilateralmente pelos professores ou pela jetivos. Alguns outros seguirão a estru- mória, suas experiências e criatividade instituição; são forçados a se ajustarem tura curricular de forma desinteressada são solenemente ignoradas e desesti- a essa estrutura rígida, a ocupar o espa- e irresponsável, desestimulados, chegan- muladas, os estudantes irão viver por ço de uma carteira que lhe é destinada do ao término de seus cursos em letár- quatro, cinco ou seis anos, o exato pe- como objetos da ação educacional da ins- gica mediocridade. ríodo onde deverá ocorrer a consolida- tituição. Devem fazer silêncio, prestar Finalmente, muitos estudantes ção de seus desenvolvimentos psicoló- atenção à “performance” dos professo- promissores sucumbirão ao ambiente gicos. Será um tempo decisivo, que res e memorizar os conteúdos com o inóspito, sentindo-se incapazes por não marcará de modo indelével a postura objetivo de responder perguntas nos tes- conseguir a aprendizagem que esperam dos educandos frente aos desafios da tes de avaliação. Se tiverem dúvidas (e e de que precisam, e sem aceitar abrir vida cotidiana. coragem), poderão dirigir perguntas ao mão de um mínimo de amor próprio para A reação dos alunos a essa situa- alto do púlpito docente, é claro, com o se enquadrar às regras vigentes. O con- ção frustrante será variável, de acordo máximo de propriedade para não serem flito psicológico resultante pode ser se- com a índole e o grau de amadurecimento ridicularizados por professores ou cole- vero, levando em numerosos casos à de- de cada um deles. Alguns, mais imatu- gas de classe. pressão, abandono do curso e, inclusi- ros e dependentes, aceitarão passiva- mente essa realidade, considerando que ve, ao suicídio. No dizer de Hoirisch A atividade escolar consiste em “aulas”, que os alunos “ouvem”, a “instituição deve estar certa e as coi- (1993, p.26), “... o problema vai-se ar- e algumas vezes tomando notas, sas são assim mesmo”. Esses estudan- rastando com grande ansiedade para o e em exames em que se verificam tes, uma vez inseridos no processo, te- aluno, e eclode alguns períodos adiante o que sabem, por meio de provas rão “sucesso” na vida escolar, boas no- através de episódios de depressão ou até escritas e orais. Marcam-se al- guns “trabalhos” para casa e, em tas, aprovações, prêmios acadêmicos. idéias e tentativas de suicídio diante das casa, se supõe que o aluno “es- Receberão seus diplomas e só então per- pressões que enfrenta.” Métodos andragógicos O processo de ensino/ aprendizagem, do ponto de vista andragógico, procura tirar o máximo les do ensino clássico. Mais do que ser um bom orador e conhecer o assunto a ser ensinado, ele precisa ter habilidade dispostos em círculo numa sala ou em volta de uma mesa de trabalho (circu- lar). O processo é centrado no aluno, proveito das características peculiares para lidar com pessoas, orientar, criar não no professor. dos adultos, discutidas acima, que já se empatia, incentivar, conduzir grupos de O programa, esboçado pelo pro- mostram incipientes nos adolescentes. estudos de modo discreto, na direção de- fessor em linhas genéricas, será discuti- Os resultados de todo o processo são sejada. O ambiente de atividades andra- do, aprofundado, reformulado e final- potencializados, atingindo uma aprendi- gógicas é diferente daquele da pedago- mente aprovado por todo o grupo de tra- zagem mais fácil, profunda, criativa. gia clássica. Na disposição física, não há balho. Daí em diante, o professor deve- Os professores na Andragogia lugar especial para o professor, que se rá apenas tornar o ambiente propício, desempenham um papel diferente daque- posta junto com os alunos, geralmente moderar as discussões, evitar desvios 48 CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005
  • 6. exagerados, mantendo presentes os ob- jetivos traçados. O tutor andragógico raramente responde a perguntas, ao con- trário, utiliza seus conhecimentos para produzir outras perguntas que, de modo indutivo, levem os estudantes a desco- brirem, eles próprios, as respostas. Tem o cuidado, também, de jamais dizer que o aluno está errado, ferindo sua auto- estima. Procura, em vez disso, encon- trar algo de certo na resposta do aluno e reformular suas perguntas de modo a induzir aproximações sucessivas à res- posta correta. Nunca pode ser negligen- ciado o papel da segurança do aluno no processo de aprendizagem. A pessoa sadia interage, espon- grupo andragógico um terreno fértil. O pesquisar, os meios de pesquisa neces- taneamente, com o ambiente, método consiste na proposição de tare- sários (biblioteca, acesso à Internet, um através de pensamentos e interes- fas a serem resolvidas ou executadas, consultor especialista para tirar as dú- ses e se expressa independente- mente do nível de conhecimento bem como no fornecimento dos meios vidas, responder perguntas). Decorri- que possui. Isto acontece se ela para se chegar aos objetivos. Os alunos do o prazo, nova reunião terá lugar para não for mutilada pelo medo e na deverão trabalhar, segundo suas visões discussão profunda do problema, em medida em que se sente segura dos problemas e suas experiências an- todos os aspectos envolvidos. Um pro- o suficiente para a interação. (MASLOW 1972, p.50-51). teriores, na construção de soluções ade- blema psicológico, por exemplo, será quadas. Essas soluções nunca serão ho- estudado do ponto de vista fisiológico, Como bem frisado acima, é es- mogêneas, visto que cada estudante ou psicanalítico, existencial, humanístico, sencial tirar o máximo proveito da expe- cada grupo toma um caminho diferente, behaviorista. O conteúdo a ser discuti- riência de vida dos alunos. Essa fonte mas todas serão corretas. Numa discus- do não terá fronteira de disciplinas, de de aprendizagem deverá ser explorada são final, todo o grupo reunido terá uma estruturação pedagógica, de séries ou exaustivamente através das quatro vias multiplicidade de caminhos para a solu- de períodos. utilizadas pela consciência humana para ção, alargando seus horizontes e seus A avaliação é outro momento es- processar as informações experienciais paradigmas.1 pecial da andragogia. Fugindo do lugar – sensação, pensamento, emoção e in- A aprendizagem baseada em pro- comum de premiar ou punir o aluno, re- tuição (Carl Jung). Métodos envolvendo blemas (Problem-Based Learning – prová-lo ou aprová-lo, através de alguns discussões de grupo, exercícios de si- PBL) é um método muito utilizado em testes, meras verificações do condicio- mulação, aprendizagem baseada em pro- andragogia e que se aplica particular- namento produzido pelo processo peda- blemas, discussões de casos são comu- mente bem aos cursos de graduação gógico (...o aluno será capaz de...), a mente utilizadas para atingir esse obje- profissionalizantes, onde podemos sem avaliação andragógica é contínua, cons- tivo. O professor/tutor deverá ter sensi- dúvida incluir a Psicologia. Consiste na tante, diagnóstica. Visa, a cada momen- bilidade e argúcia suficientes para per- narração ou construção de um proble- to, detectar falhas (não compreensão de ceber o clima de cada grupo, quebrar as ma que será posto para o grupo de es- conceitos, aprofundamento insuficiente inibições, propor discussões e pergun- tudos solucionar. Para essa solução, se- do raciocínio dedutivo ou indutivo na tas pontuais que produzam conflitos in- rão necessários os conhecimentos ob- discussão de problemas, falhas no inte- telectuais a serem debatidos com mais jetivados pelo momento particular da resse e participação, etc) de modo que vigor e paixão. aprendizagem em que o problema é in- sejam prontamente corrigidas – utilizan- O construtivismo encontra num serido. O grupo recebe um prazo para do-se desde reforço imediato dos con- ! 1 É como solicitar de vários arquitetos a construção de casas para famílias de classe média, com dois filhos de sexos diferentes, com garagem e piscina. Não precisamos dizer que cada arquiteto tomará o material disponível e construirá uma casa diferente das demais, mas que todas atenderão às necessidades que foram propostas. CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005 49
  • 7. teúdos insatisfatórios, ajustes na progra- já não haverá tempo hábil para corrigir outros, estimulando a auto-avaliação, mação e na trajetória para os objetivos, as distorções, que passarão a compor o capacidade importantíssima para o chegando até à assistência psicológica patrimônio de experiências do aluno, ou aprendiz, no futuro, já fora da Universi- individual daqueles que não estejam lidan- vão fazê-lo perder todo um período atra- dade, que lhe permitirá perceber de ime- do adequadamente com o desenrolar do vés da reprovação e da repetência. diato o momento em que seu desempe- processo. As falhas não devem ser pes- Os próprios alunos serão envol- nho se torne insatisfatório, levando-o a quisadas apenas no final de períodos, vidos na avaliação. Serão solicitados a buscar atualização de seus conhecimen- quando se encontram acumuladas. Então atribuir honestamente notas uns aos tos através da educação continuada. Conclusão C onsiderando as informações, opini- ões, conceitos e análises levantadas dos documentos e fontes pesquisadas, nuada, a andragogia. Os alunos precisam aprender do modo mais rápido e eficien- te, precisam dominar os conhecimentos por Furter, no aproveitamento das expe- riências vivenciais dos adultos, tão valori- zadas por Knowles. Por ser direcionada bem como experiências pessoais como básicos ou clássicos a partir dos quais ao aproveitamento das faculdades psico- alunos recém-inseridos no contexto do estão se desenvolvendo as pesquisas e a lógicas específicas dos adolescentes e ensino superior, infere-se que a organi- construção de novas informações e, so- adultos, possibilita uma convivência mais zação e a estrutura pedagógicas clássi- bretudo, precisam aprender a aprender, harmônica entre estudantes e professo- cas, ainda hoje utilizadas em algumas Uni- para que possam, durante toda vida, in- res, e estudantes entre si, reduzindo as versidades, são inadequadas para a reali- dependentes da Universidade, continuar tensões emocionais e evitando os dese- dade do conhecimento humano atual. construindo o seu saber, e se manterem quilíbrios que levam a estados psicológi- O mundo da cultura – aquele pro- atualizados e capazes de desenvolver a cos preocupantes, tão freqüentes que in- duzido a partir da ação humana –, cresce contento o seu papel na sociedade. duziram a Unesco a sugerir a criação de rapidamente; o conhecimento existente O maior inconveniente da pedago- unidades de apoio psicopedagógico em duplica a cada 5 anos e tende a crescer gia clássica é limitar os alunos ao tama- todas as Instituições de Ensino Superior. em velocidades progressivamente maio- nho da Instituição ou de seus professo- Embora não tenha se firmado ain- res. As ciências naturais e aplicadas evo- res. Imagine-se o que seria do mundo da como ciência diversa da Pedagogia, luem exponencialmente, tornando impos- cultural se nenhum aluno tivesse crescido o termo ANDRAGOGIA continua sen- sível a inclusão de todo o conhecimento além de Sócrates, Platão ou Aristóteles. do o mais apropriado e expressivo para existente em programas educacionais. Um A pedagogia clássica ofusca a inteligên- denominar as novas filosofias e técnicas programa construído hoje se encontra cia em favor da memória, condiciona os voltadas para a educação de adultos. incompleto e defasado no próximo semes- alunos a repetir o conhecimento existen- Sua utilização será importante para uma tre. Os cursos não podem ser cada vez te, desestimula a criatividade por absolu- maior assimilação e disseminação de mais estendidos em duração para com- ta falta de espaço e de incentivo. seus princípios e do “estado da arte” portar os conhecimentos novos. A ANDRAGOGIA propõe uma dessa ciência entre estudantes e profis- A solução para a Educação Uni- educação baseada na liberdade, nos mol- sionais envolvidos na Educação Univer- versitária neste início de século XXI é a des concebidos por Carl Rogers, na edu- sitária e em outras formas de educação educação permanente, a educação conti- cação por toda a vida como preconizado de adultos. 50 CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005
  • 8. B I B L I O G R A F I A BACH, Marcos. Consciência e Identidade. Petrópolis: Ed.Vozes, 1985. p.77. CAVALCANTI, Roberto A. Andragogia: a aprendizagem nos Adultos. Revis- ta de Clínica Cirúrgica da Paraíba, João Pessoa, v.4, n.6, Jul. 1999. FILHO, Geraldo Francisco. A Psicologia no Contexto Educacional. Campi- nas: Ed. Átomo, 2002. 121p. FREIRE, Paulo & GUIMARÃES, Sérgio. Sobre Educação: (Diálogos). 3.Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982 Vol.1 . FREIRE, Paulo. Educação Como Prática da Liberdade. 14. Ed. Rio de Ja- neiro: Paz e Terra, 1993. 150p. FREUD, Sigmund. Obras Completas, Vol 12, p 416-417, Trad. Jaime Salomão. Ed. Standard Brasileira. Rio de Janeiro, 1980. FURTER, Pierre. Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural. Trad. Teresa de Araújo Pena. Petrópolis: Ed. Vozes Limitada, 1974. 224p. GOECKS, Rodrigo. Educação de Adultos: Uma Abordagem Andragógica. Disponível em: <http://www.andragogia.com.br> . Acesso em 20/05/2004. GOULART, Íris Barbosa. Psicologia da Educação: Fundamentos Teóricos . Aplicações à Prática Pedagógica. 8.Ed. Petrópolis: Ed.Vozes, 2001. 198p. HOIRISCH, Adolph et al. Orientação Psicopedagógica no Ensino Superior. São Paulo: Ed. Cortez, Ed. UFRJ, 1993. 200p. LÉON, Antoine. Psicopedagogia dos Adultos. Trad. Ione de Andrade e Ma- ria Elisa Mascarenhas. São Paulo: Ed. Nacional, Ed. Universidade de São Paulo, 1977. 153p LIEB, Stephen. Principles of Adult Learning. Disponível em: <http:// honolulu.hawaii.edu/intranet/committees/FacDevCom/guidebk/ teachtip/adults-2.htm> Acesso em 25 de maio de 2004. LINDEMAN, E. C. The Meaning of Adult Education. New York: New Republic.1926 MASLOW, A. H. Motivation and Personality. 3.Ed. New York:Harper Collins Publishers, 1987. 369p. MAY, Rollo. O Homem à Procura de Si Mesmo. Petrópolis: Ed. Vozes, 1973. RAMOS, Evilásio A. Psicodinâmica das Condutas Adolescentes. Educação em Debate, Fortaleza, Ano 16, n° 27 e 28, p 31-50, jan/dez de 1994. ROGER, Carl. Liberdade de Aprender: Em nossa Década. Trad. José Octávio de Aguiar Abreu. 2.Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. 334p. SENADO FEDERAL. Comissão de Educação e Cultura. Projeto Educação. Conferências, Pronunciamentos e Depoimentos. Brasília, Tomo I, Centro Gráfico do Senado, 1978. 400p. TRALDI, Maria Cristina & DIAS, Reinaldo. Monografia: passo a passo. 3.Ed. Campinas: Ed. Alinea, 2001. CONCEITOS Julho de 2004 I Julho de 2005 51