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Almeida Garrett Folhas Caídas – Os Cinco Sentidos
Este trabalho está a ser realizado no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa, de forma a desenvolver e aplicar os conhecimentos que temos trabalhado na sala de aula.
Biografia Nasceu João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, no Porto a 4 de Fevereiro de 1799.  	Durante a sua adolescência viveu nos Açores, na Ilha Terceira, aquando da invasão das tropas francesas de Napoleão Bonaparte. Fig. - Almeida Garrett
[object Object]
 Nesse mesmo ano a sua família passa a usar o apelido de Almeida Garrett.
Casou-se com Luísa Midosi, de apenas 14 anos.
Participante activo na revolução liberal de 1820, seguiu para o exílio em Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada.
Nas terras de nossa majestade, tomou contacto com o movimento romântico, (Shakespeare, WalterScott, entre outros autores) e visitou castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, que mais tarde influenciaram a sua obra.,[object Object]
Tomou a iniciativa de criar o Conservatório de Arte Dramática, a Inspecção-Geral dos Teatros, o Panteão Nacional e o Teatro Normal (actualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa);
Homem de muitos amores, Garrett, depois de separado da sua mulher Luísa Midosi, passa a viver com D. Adelaide Pastor até a morte desta, em 1841.
Já em 1846, a viscondessa da Luz, Rosa Montufar Infante, andaluza casada, desde 1837, com o oficial do exército português Joaquim António Velez Barreiros, passa a ser a fonte inspiradora dos êxtases românticos das Folhas caídas.,[object Object]
A obra Folhas Caídas É a última e a mais importante obra de Almeida Garrett. Com receio de um escândalo, o autor publicou-a anonimamente em 1835, devido as relações amorosas com a Viscondessa da Luz, que é, em grande parte, a inspiração deste livro. A obra teve grande sucesso especialmente por causa da atmosfera erotizante de algumas das suas composições e também dada à invulgar expressão de conflito psicológico e amoroso vivido.
São belas - bem o sei, essas estrelas,Mil cores - divinais têm essas flores;Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:Em toda a naturezaNão vejo outra belezaSenão a ti - a ti! 	Divina - ai! sim, será a voz que afinaSaudosa - na ramagem densa, umbrosa,Será; mas eu do rouxinol que trinaNão oiço a melodia,Nem sinto outra harmoniaSenão a ti - a ti! 	Respira - n'aura que entre as flores gira,Celeste - incenso de perfume agreste,Sei... não sinto: minha alma não aspira,Não percebe, não tomaSenão o doce aromaQue vem de ti - de ti! Formosos - são os pomos saborosos,é um mimo - de néctar o racimo;E eu tenho fome e sede... sequiosos,Famintos meus desejosEstão... mas é de beijos,é só de ti - de ti! 	Macia - deve a relva luzidiaDo leito - ser por certo em que me deito.Mas quem, ao pé de ti, quem poderiaSentir outras carícias,Tocar noutras delíciasSenão em ti - em ti! 	A ti! ai, a ti só os meus sentidosTodos num confundidos,Sentem, ouvem, respiram;Em ti, por ti deliram.Em ti a minha sorte,A minha vida em ti;E quando venha a morteSerá morrer por ti.
Estamos na presença do poema mais erótico de “Folhas Caídas”. O presente poema, como o próprio título deixa antever, transborda de erotismo, sendo este apresentado numa gradação crescente de sensualidade;
A obsessão do sujeito poético pelo TU manifesta-se no desprezo pelo mundo exterior que, mesmo referido a uma natureza bela e divinal, não sofre a comparação da beleza da amada.
		Como o título indica, o poema resulta de uma estrutura previamente delineada, constituída por 5 estrofes, cada uma dedicada a um sentido; mas é possível reparar que todas dirigem-se para um efeito inebriante da conjunção de sentidos, para a embriaguez que conduz o “Eu” ao delírio sensual.
Em cada uma das estrofes, o sujeito poético enquadra o TU no seio de elementos da natureza, em relação aos quais percepcionamos uma comparação, com a qual o mesmo TU é sublimado num processo de exclusividade: - estrofe I: estrelas, flores; - estrofe II: rouxinol; - estrofe III: incenso de perfume agreste; - estrofe IV: pomos saborosos, racimo de néctar; - estrofe V: relva luzidia;
Na primeira estrofe, o TU surge no seio de estrelas e  de flores, mas, apesar da beleza de umas e das mil cores das outras, o sujeito poético apenas tem olhos para uma única estrela e uma única flor, a sua amada; 	Sabe-se, pelos estudos dos seus biógrafos, que Almeida Garrett, à época, mantinha relações de afinidade com Rosa Montufar, baronesa da Luz. E, na primeira estrofe, aparece um elemento que irradia luz (estrelas) e um hiperónimo de rosa (flores) que sugerem a pessoa a quem é dedicado o poema;
Na segunda estrofe, apesar do trinar melodioso e divino do rouxinol, o sujeito poético não sente harmonia senão na voz do TU;
		Na terceira estrofe, a brisa que sopra entre as flores (uma vez mais este elemento) exala um «incenso de perfume agreste», mas também este não é sentido, uma vez que o olfacto do sujeito poético apenas imagina «o doce aroma» que se liberta do tu;
Na quarta estrofe, são introduzidos elementos que requerem o sentido do gosto: os formosos pomos saborosos e o racimo de néctar (que é um mimo). Deve-se prestar atenção aos seguintes aspectos:  Os pomos (maçãs) saborosos são formosos (tentadores), pelo que evocam o pecado original;  O sujeito poético declara ter fome e sede, de tal modo que os seus desejos estão famintos e sequiosos, embora de beijos;  Se a fome pode ser saciada, metaforicamente, com os pomos, a sede sê-lo-á com o racimo (cacho de uvas) de néctar;
Notemos que nenhum sentido é desprezado da 1º estrofe onde se visionam as estrelas (no céu) e as flores (na terra), passando pela audição do cântico do rouxinol (2ª estrofe), o sentir da brisa perfumada (3ª estrofe), o gosto dos frutos (4ª estrofe) ou a macieza da relva (5º estrofe), verificamos a existência de uma caracterização progressiva; a explanação dos sentidos provém, pois, da observação mais exterior, mas percorre os cinco sentidos, do mais distante ao mais íntimo. A última estrofe confirme a planificação do poema, confundindo num só todos os sentidos que, sinestesicamente, sentem, ouvem, respiram, conduzindo ao êxtase, ao “delírio” total.
Atente-se também na erotização ousada de: “pomos” em consonância com os adjectivos “formosos”, “saborosos”, “sequiosos”, como metáfora de “seios” que se arrasta pela confissão do “Eu”: “tenho fome e sede… sequiosos meus desejos” e se concretizam em “beijos”; B) “relva”: “macia, luzidia”, termos ligados a “me deito” e “leito”, traduzindo o crescendo do erotismo e do sentir do “EU”.
Observa-se também como o clima erótico entre o EU/TU é realçado pela variação do refrão e o valor das preposições que nele alternam: 1ª/2ª estrofes  - a ti – preposição que remete para um contrato exterior ao TU. 3ª/4ª estrofes – de ti – onde a preposição demonstra já o contacto físico. 5ª estrofe – em ti – denota uma aproximação que pressupõe a partilha de sensações. 	Concluímos que, afinal, tudo se concentra no pronome “Ti”, forma directa e íntima de relação; ele dirige-se a uma pessoa que sobreleva o mundo em todas as suas vertentes sensíveis, é maior e melhor que todo o mundo fruição que o “EU” lírico dela obtém.
No entanto, podemos considerar que este é também um poema de FRUSTAÇÃO: Atente-se, mais um vez, na ordem em que é construído: referimos já a sua ordenação, de mais distante ao mais próximo. Mas reparemos também que esta ordenação é igualmente Descendente: das estrelas (no céu) à relva (na terra), ou seja, do Ideal longínquo ao palpável mundo material e terreno. Se desta forma se constrói uma maior proximidade física com o TU, realçando a sublimidade do amor partilhado, ao mesmo tempo destrói-se no EU a sua aspiração à Mulher-Anjo, ao Ideal, à Beleza Pura que se anuncia em Ignoto Deo. O poeta bem o sabe; mas, para a sua frustação, prefere o SENTIR ao SABER.
Figuras de Estilo Adjectivação (belas, divinais, divina, saudosa, densa, umbrosa, celeste, agreste, doce, formosos, saborosos, sequiosos, famintos, macia, luzidia) – servindo para demonstrar a admiração, o “delírio” total que o sujeito poeta nutre pela sua amada; Metáfora [vv 19, 20, 21, 22, 25/26)] – na qual o sujeito poético comparada o TU com diversos elementos (as estrelas, as flores, etc) Hiperbole“E quando venha a morte/ Será morrer por ti” [vv. 37/38] o exagero da realidade realça a profundidade da dor e do sentimento; a morte por amor é uma característica romântica; Gradação “sentem, ouvem, respiram” [v. 33] descrevendo a intensidade progressiva do sentimento que o sujeito poético sente pelo destinatário; Sinestesia “(…) a ti só os meus sentidos (…) Em ti, por ti, deliram” [vv.31/34] – os sentidos apoderam-se do sujeito poético, tomam conta do seu corpo e da sua mente.

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Os Cinco Sentidos, Novo

  • 1. Almeida Garrett Folhas Caídas – Os Cinco Sentidos
  • 2. Este trabalho está a ser realizado no âmbito da disciplina de Literatura Portuguesa, de forma a desenvolver e aplicar os conhecimentos que temos trabalhado na sala de aula.
  • 3. Biografia Nasceu João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, no Porto a 4 de Fevereiro de 1799. Durante a sua adolescência viveu nos Açores, na Ilha Terceira, aquando da invasão das tropas francesas de Napoleão Bonaparte. Fig. - Almeida Garrett
  • 4.
  • 5. Nesse mesmo ano a sua família passa a usar o apelido de Almeida Garrett.
  • 6. Casou-se com Luísa Midosi, de apenas 14 anos.
  • 7. Participante activo na revolução liberal de 1820, seguiu para o exílio em Inglaterra em 1823, após a Vilafrancada.
  • 8.
  • 9. Tomou a iniciativa de criar o Conservatório de Arte Dramática, a Inspecção-Geral dos Teatros, o Panteão Nacional e o Teatro Normal (actualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa);
  • 10. Homem de muitos amores, Garrett, depois de separado da sua mulher Luísa Midosi, passa a viver com D. Adelaide Pastor até a morte desta, em 1841.
  • 11.
  • 12. A obra Folhas Caídas É a última e a mais importante obra de Almeida Garrett. Com receio de um escândalo, o autor publicou-a anonimamente em 1835, devido as relações amorosas com a Viscondessa da Luz, que é, em grande parte, a inspiração deste livro. A obra teve grande sucesso especialmente por causa da atmosfera erotizante de algumas das suas composições e também dada à invulgar expressão de conflito psicológico e amoroso vivido.
  • 13.
  • 14. São belas - bem o sei, essas estrelas,Mil cores - divinais têm essas flores;Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:Em toda a naturezaNão vejo outra belezaSenão a ti - a ti! Divina - ai! sim, será a voz que afinaSaudosa - na ramagem densa, umbrosa,Será; mas eu do rouxinol que trinaNão oiço a melodia,Nem sinto outra harmoniaSenão a ti - a ti! Respira - n'aura que entre as flores gira,Celeste - incenso de perfume agreste,Sei... não sinto: minha alma não aspira,Não percebe, não tomaSenão o doce aromaQue vem de ti - de ti! Formosos - são os pomos saborosos,é um mimo - de néctar o racimo;E eu tenho fome e sede... sequiosos,Famintos meus desejosEstão... mas é de beijos,é só de ti - de ti! Macia - deve a relva luzidiaDo leito - ser por certo em que me deito.Mas quem, ao pé de ti, quem poderiaSentir outras carícias,Tocar noutras delíciasSenão em ti - em ti! A ti! ai, a ti só os meus sentidosTodos num confundidos,Sentem, ouvem, respiram;Em ti, por ti deliram.Em ti a minha sorte,A minha vida em ti;E quando venha a morteSerá morrer por ti.
  • 15. Estamos na presença do poema mais erótico de “Folhas Caídas”. O presente poema, como o próprio título deixa antever, transborda de erotismo, sendo este apresentado numa gradação crescente de sensualidade;
  • 16. A obsessão do sujeito poético pelo TU manifesta-se no desprezo pelo mundo exterior que, mesmo referido a uma natureza bela e divinal, não sofre a comparação da beleza da amada.
  • 17. Como o título indica, o poema resulta de uma estrutura previamente delineada, constituída por 5 estrofes, cada uma dedicada a um sentido; mas é possível reparar que todas dirigem-se para um efeito inebriante da conjunção de sentidos, para a embriaguez que conduz o “Eu” ao delírio sensual.
  • 18. Em cada uma das estrofes, o sujeito poético enquadra o TU no seio de elementos da natureza, em relação aos quais percepcionamos uma comparação, com a qual o mesmo TU é sublimado num processo de exclusividade: - estrofe I: estrelas, flores; - estrofe II: rouxinol; - estrofe III: incenso de perfume agreste; - estrofe IV: pomos saborosos, racimo de néctar; - estrofe V: relva luzidia;
  • 19. Na primeira estrofe, o TU surge no seio de estrelas e  de flores, mas, apesar da beleza de umas e das mil cores das outras, o sujeito poético apenas tem olhos para uma única estrela e uma única flor, a sua amada; Sabe-se, pelos estudos dos seus biógrafos, que Almeida Garrett, à época, mantinha relações de afinidade com Rosa Montufar, baronesa da Luz. E, na primeira estrofe, aparece um elemento que irradia luz (estrelas) e um hiperónimo de rosa (flores) que sugerem a pessoa a quem é dedicado o poema;
  • 20. Na segunda estrofe, apesar do trinar melodioso e divino do rouxinol, o sujeito poético não sente harmonia senão na voz do TU;
  • 21. Na terceira estrofe, a brisa que sopra entre as flores (uma vez mais este elemento) exala um «incenso de perfume agreste», mas também este não é sentido, uma vez que o olfacto do sujeito poético apenas imagina «o doce aroma» que se liberta do tu;
  • 22. Na quarta estrofe, são introduzidos elementos que requerem o sentido do gosto: os formosos pomos saborosos e o racimo de néctar (que é um mimo). Deve-se prestar atenção aos seguintes aspectos: Os pomos (maçãs) saborosos são formosos (tentadores), pelo que evocam o pecado original; O sujeito poético declara ter fome e sede, de tal modo que os seus desejos estão famintos e sequiosos, embora de beijos; Se a fome pode ser saciada, metaforicamente, com os pomos, a sede sê-lo-á com o racimo (cacho de uvas) de néctar;
  • 23. Notemos que nenhum sentido é desprezado da 1º estrofe onde se visionam as estrelas (no céu) e as flores (na terra), passando pela audição do cântico do rouxinol (2ª estrofe), o sentir da brisa perfumada (3ª estrofe), o gosto dos frutos (4ª estrofe) ou a macieza da relva (5º estrofe), verificamos a existência de uma caracterização progressiva; a explanação dos sentidos provém, pois, da observação mais exterior, mas percorre os cinco sentidos, do mais distante ao mais íntimo. A última estrofe confirme a planificação do poema, confundindo num só todos os sentidos que, sinestesicamente, sentem, ouvem, respiram, conduzindo ao êxtase, ao “delírio” total.
  • 24. Atente-se também na erotização ousada de: “pomos” em consonância com os adjectivos “formosos”, “saborosos”, “sequiosos”, como metáfora de “seios” que se arrasta pela confissão do “Eu”: “tenho fome e sede… sequiosos meus desejos” e se concretizam em “beijos”; B) “relva”: “macia, luzidia”, termos ligados a “me deito” e “leito”, traduzindo o crescendo do erotismo e do sentir do “EU”.
  • 25. Observa-se também como o clima erótico entre o EU/TU é realçado pela variação do refrão e o valor das preposições que nele alternam: 1ª/2ª estrofes - a ti – preposição que remete para um contrato exterior ao TU. 3ª/4ª estrofes – de ti – onde a preposição demonstra já o contacto físico. 5ª estrofe – em ti – denota uma aproximação que pressupõe a partilha de sensações. Concluímos que, afinal, tudo se concentra no pronome “Ti”, forma directa e íntima de relação; ele dirige-se a uma pessoa que sobreleva o mundo em todas as suas vertentes sensíveis, é maior e melhor que todo o mundo fruição que o “EU” lírico dela obtém.
  • 26. No entanto, podemos considerar que este é também um poema de FRUSTAÇÃO: Atente-se, mais um vez, na ordem em que é construído: referimos já a sua ordenação, de mais distante ao mais próximo. Mas reparemos também que esta ordenação é igualmente Descendente: das estrelas (no céu) à relva (na terra), ou seja, do Ideal longínquo ao palpável mundo material e terreno. Se desta forma se constrói uma maior proximidade física com o TU, realçando a sublimidade do amor partilhado, ao mesmo tempo destrói-se no EU a sua aspiração à Mulher-Anjo, ao Ideal, à Beleza Pura que se anuncia em Ignoto Deo. O poeta bem o sabe; mas, para a sua frustação, prefere o SENTIR ao SABER.
  • 27. Figuras de Estilo Adjectivação (belas, divinais, divina, saudosa, densa, umbrosa, celeste, agreste, doce, formosos, saborosos, sequiosos, famintos, macia, luzidia) – servindo para demonstrar a admiração, o “delírio” total que o sujeito poeta nutre pela sua amada; Metáfora [vv 19, 20, 21, 22, 25/26)] – na qual o sujeito poético comparada o TU com diversos elementos (as estrelas, as flores, etc) Hiperbole“E quando venha a morte/ Será morrer por ti” [vv. 37/38] o exagero da realidade realça a profundidade da dor e do sentimento; a morte por amor é uma característica romântica; Gradação “sentem, ouvem, respiram” [v. 33] descrevendo a intensidade progressiva do sentimento que o sujeito poético sente pelo destinatário; Sinestesia “(…) a ti só os meus sentidos (…) Em ti, por ti, deliram” [vv.31/34] – os sentidos apoderam-se do sujeito poético, tomam conta do seu corpo e da sua mente.
  • 28. Características românticas: Tom confessional e intimista; amor sensual; características de poesia de alcova, como lhe chamou António José Saraiva; uma certa teatralidade; a morte por amor, ainda que no plano metafórico, tão ao gosto dos românticos.
  • 30. Tacto Olfacto Visão Audição Paladar
  • 31.
  • 34.