O documento apresenta trechos do livro "O Livro das Feras" de Patrícia Highsmith. A autora humaniza animais através da personificação, permitindo que o leitor compartilhe suas perspectivas e experiências de maus-tratos. Os contos mostram animais vingando-se de humanos cruéis, fazendo justiça por não terem proteção legal. Referências analisam como Highsmith equaliza homem e animal, criticando a dominação humana.
2. O LIVRO DAS
FERAS
"O animal selvagem e cruel não é
aquele que está atrás das grades. É
o que está na frente delas." - Axel
Munthe
3. CONTOS ESCOLHIDOS
O dia do acerto de contas
O passeio de bode
E lá estava eu, condenado a viver com
Bubsy
O último espetáculo da Vedete
A vingança de Djemal
Notas de uma respeitável barata
4. PATRICIA HIGHSMITH
(...) altamente
sexualizada,
socialmente
inconstante, uma
mulher que estava
sempre se apaixonando
e uma das escritoras
mais disciplinadas do
mundo“ - Joan
Schenkar
5. PATRICIA HIGHSMITH
1921-1995
Nasceu no Texas
22 romances
Polêmico “Carol” em
1952
Série Ripley
Repaginou o gênero
ficção-criminal
6. PATRICIA HIGHSMITH
Vida conturbada
André Wilson –
biografia
Traumas de infância
Sexualidade reprimida
Ausência paterna
Tentativa de abuso
7. Sobre o livro
Características Gerais:
Antropomorfismo, personificação
“anthropos” (homem) - “morphe” (forma)
Relação homem x animal: subjugação,
dominação do mais forte sobre o mais
fraco
No livro os animais são mais humanos que
os humanos.
8. Personificação
“Patrícia Highsmith vai além de descrever
ações observadas ou imaginadas:
apresenta características mentais ou
comportamentais de agentes não humanos
com recursos estilísticos que os
humanizam, dotando-os de uma dimensão
moral...”JEHA p.316
9. Sobre o livro
A autora usa a estratégia da personificação
para facilitar a identificação com o outro,
nesse caso o animal não-humano.
A intenção seria levar o leitor a
compartilhar a experiência do animal, em
geral maus tratos, e criar empatia por eles.
Como consequência teríamos leitores mais
humanizados que reconhecem o direito dos animais.
10. Estrutura dos contos
Animal vitimado pelos humanos que os
detesta ou os despreza com exceção a um
indivíduo bom, o tratador, treinador, dono.
Surge desse menosprezo a vingança, eles
matam os humanos maus.
Fazem justiça da maneira que podem já
que não um sistema que os ampare.
11. O dia do acerto de contas
"Virá o dia em que
a matança de um
animal será
considerada crime
tanto quanto o
assassinato de um
homem." -
Leonardo da Vinci
12. O dia do acerto de contas
Narração em terceira pessoa
Maus tratos aos animais
Bicos cortados
Confinamento
Luz artificial – seis horas a mais de dia
Resultado: mortes e loucura
13. O dia do acerto de contas
A vida dos animais – J.M. Coetzee
A plenitude de ser é um estado difícil de sustentar em
confinamento. Confinamento a uma prisão é uma forma
de punição que o Ocidente privilegia e faz todo o possível
para impor ao resto do mundo por meio da condenação
de outras formas de punição (espancamento, tortura,
mutilação, execução) consideradas cruéis e antinaturais.
(...) A mim isso sugere que a liberdade de o corpo mover-
se no espaço é tomada como o ponto em que a razão
pode ser mais dolorosa e eficientemente ferir o ser do
outro". p. 41 e 42
14. O dia do acerto de contas
"Volto uma última vez aos locais de morte que
estão à nossa volta, aos locais de abate para os
quais, em um imenso esforço comum, fechamos
nossos corações. Ocorre a cada dia um novo
Holocausto, e, no entanto, até onde posso
enxergar, nosso ser moral permanece inalterado.
Isso não nos afeta. Ao que parece, podemos
fazer qualquer coisa e sair limpos". p. 43 e 44
15. O passeio de bode
"Não há crueldade
pior que pensar e
acreditar que os
animais existem para
servir ao
homem." Gabriela
Toledo - Presidente da
Ong PEA-Projeto
Esperança Animal
16. O passeio de bode
A utilização do animal pelo homem
Lucros
Maus tratos
Sentimentos humanos
Prazer em se sentir útil x raiva do picadeiro
17. E lá estava eu, condenado a viver
com Bubsy
“Cães amam seus amigos e mordem seus
inimigos, bem diferente das pessoas, que
são incapazes de sentir amor puro e têm
sempre que misturar amor e ódio em suas
relações.” Sigmund Freud
18. E lá estava eu, condenado a viver
com Bubsy
Narrado em terceira
pessoa
Onisciente: presente até
nos pensamentos e
sonhos de Barão
Humanização x
animalidade:
Ciúmes
Pensamento lógico
Incompreensão de
situações
19. E lá estava eu, condenado a viver
com Bubsy
Apropriação do animal pelo homem
“Eis que subitamente Bubsy alegava que Barão
lhe pertencia”. p. 49
Por que razão Bubsy se aferrava a ele, se não
lhe voltava qualquer afeto?
Subjugação do animal pelo seu novo
dono: demonstração de poder
20. O último espetáculo da Vedete
Narração pela elefante
Olhar do animal
Capacidade emotiva
Características
humanas:
Incompreensão
Raiva
Vingança
21. O último espetáculo da Vedete
“Outro tiro atinge
minha cabeça. Bem
no meio dos olhos
que, contudo,
continuam abertos.”
22. A vingança de Djemal
"A compaixão pelos
animais está
intimamente ligada à
bondade de caráter e
pode ser seguramente
afirmado que quem é
cruel com os
animais não pode ser
um bom homem."
Arthur Schopenhauer
23. A vingança de Djemal
Narração em terceira
pessoa
Aborda maus tratos
aos animais
Humanização do
animal: sentimentos
24. Notas de uma respeitável barata
"Respeite os mais
velhos e celebre os
jovens. Mesmo
insetos, a grama e as
árvores você deve
nunca maltratar." - Ko
Hung (284-363 AC -
Confucionista
-Taoísta)
25. Notas de uma respeitável barata
A barata teve que se mudar, pois o Hotel
Duke, apesar de sua excelente localização,
entrara em decadência. Não se podiam
comparar aos anos dourados que há
gerações sua família vivera ali. Atualmente
o hotel atraí uma clientela nada sociável,
porca e desprezível.
26. Notas de uma respeitável barata
Todos pensam que as baratas não
entendem o que se passa ao seu redor, no
entanto compreendem as mais variadas
linguagens até mesmo o inglês, escutado
há várias gerações. Porém, para os olhos
humanos, ela é somente uma barata, ainda
que não seja o Franz Kafka disfarçado.
27. Notas de uma respeitável barata
Ao observar as pessoas que moram no
hotel, ela se sente orgulhosa por ser uma
barata, pois pelo menos é saudável e, de
certa maneira, costuma limpar os restos.
28. Notas de uma respeitável barata
Lembra-se das festas regadas a
champanhe com restos de pão e canapé
além dos desjejuns a base de farelos de
croissant.
Com certeza contados pela sua tatara-
tataravó.
29. Notas de uma respeitável barata
Um belo dia, o Hotel Duke recebe um
hospede que se diferenciava dos demais.
Tinha classe, uma mala de couro e
cheirava a colônia pós-barba.
Conseqüência: não ficou ali muito tempo.
A barata, mais que depressa calculou suas
ações de forma a embarcar naquela
belíssima mala de couro, sem que fosse
pega ou esmagada.
30. Notas de uma respeitável barata
Meia hora depois estava encontrava-se
num aconchegante hotel com um carpete
grosso e que não cheirava a pó. Indo e
vindo de elevador do quarto para a
cozinha.
Recordando-se, com certa pena e
desprezo, dos bípedes do Hotel Duke.
31. Humanização do Animal:
Traços de nobreza;
Histórias de antepassados;
Personalidade;
Ironia.
32. Por que olhar os animais?
“O que distinguia o homem dos animais era a
capacidade humana para pensamento
simbólico, capacidade inseparável do
desenvolvimento de uma linguagem...”
(BERGUER, pg.16)
33. No entanto...
A barata pensa, fala e sente.
Sente-se, inclusive, superior aos homens...
“Eu era um residente mais digno dessa
classificação, se levarmos em
consideração o caráter hereditário, do que
qualquer uma das bestas humanas
hospedadas nesse hotel.” (pg.162 )
34. Por que olhar os animais?
John Berger relata que para a maioria dos
leitores modernos qualidades como
gentileza, coragem ou inteligência não são
qualidades que possam ser atribuídas a
animais.
35. Humanização do Animal:
Inteligência e Cálculo:
“Foi nesse momento que tomei a decisão...
Escalei até o um bolso que ficava na parte
interna da tampa da mala, enfiando-me
entre as dobras de um saco plástico, onde
eu não seria esmagado quando a mala
fosse fechada.” (pg.166)
36. Animalização do Homem:
“... um quarto cheio de junkies retardados
lambendo -literalmente- a comida do chão
numa espécie de jogo. Garotos e garotas,
nus, fingindo, por algum motivo estúpido,
não terem mãos, tentando comer seus
sanduíches como se fossem cachorros...”
(pg.164)
37. Homem x Animal
“A vida deles corre paralela a do homem.” (BERGUER,
pg.13)
“Eles são os objetos de nosso conhecimento
sempre crescente... índice de nosso poder...
quanto mais sabemos, mais nos distanciamos
deles.” (BERGUER, pg.22)
“... seu silêncio, que garantem sua distância, sua
diferença, sua exclusão do homem e em relação
ao homem.” (BERGUER, pg.13)
38. REFERÊNCIAS:
BERGER, John. Por que olhar os animais?
HIGHSMITH, Patrícia. O livro das feras (contos
selecionados).
LESTEL, Dominique. Pensar/Escrever o animal
COETZEE, J.M. A vida dos animais – O filósofo
e os animais
JEHA, Julio. Assassinos de estimação: O Livro
das Feras de Patrícia Highsmith. In. Pensar/
escrever o animal. 2011