Este documento descreve o caso de J.M.G., um homem de 54 anos diagnosticado com câncer de próstata em estágio avançado. Ele passou seus últimos meses de vida no hospice, onde buscou sentido através de relações com outros pacientes e equipe, e realizou uma homenagem às mães antes de falecer cercado por sua família.
3. Identificação
J.M.G.;
Sexo masculino;
54 anos;
Natural de São Paulo – SP;
Morador da cidade de Itaquaquecetuba;
Casado e pai de uma jovem de 22 anos;
Trabalha como líder de caldeiraria;
Evangélico;
Adora música.
4. História da Doença
Diagnóstico: Adenocarcinoma de próstata com
metástase óssea.
Nov.11: Sentiu persistentes dores nos MMII. Em
exames de investigação foi diagnosticada a
doença.
Fev.12: Realizada orquiectomia.
Sintomas: Presença e evolução de dor óssea,
com picos de “dor insuportável” durante todo o
adoecimento.
5. A chegada ao Hospice
Data de internação: 15/03/2012.
Motivo da admissão: Queixa de dor.
Independência modificada para as ABVDs.
J.M. apresentou-se comunicativo e fragilizado.
Decidiu ir para o hospice, pois “não queria ficar
em casa dando trabalho para ninguém ”.
Família: Desejava cuidar de J.M. em casa, mas
respeitaram. Era uma família bastante presente
e solícita.
10. O dia a dia no Hospice
J.M. chegou bastante fragilizado e lamentava
muito, pois não poderia mais trabalhar:
“Eu planejei morrer trabalhando, de infarto!”
Sentido da vida: Trabalho
“Eu trabalhava de segunda a segunda. Até
quando eu estava em casa ou no bar com os
amigos, eu pensava em trabalho. Pegava um
papel e ia desenhando algum projeto”
12. Possibilidade de reler a própria vida
“Por causa do trabalho deixei de fazer muita
coisa. Tive oportunidades, por exemplo, de ir
nos bailes com a R. e meus amigos (pausa),
mas nunca ia ...” (em lágrimas)
13. Multiplas Causas de Sofrimento
Tratamento
Físico Psicológico
da Doença
Luto Social
Cuidados de Vida
Espiritual
Fim de Vida Prática
14. O dia a dia no Hospice
• Maior parte do dias sozinho
• Melhor controle da dor (uso intensivo de
opióides e adjuvantes)
• Fisioterapia – voltou a andar
• Sessões diárias de TO
• Convívio com outros pacientes e familiares
16. O dia a dia no Hospice
Necessidade de reler a própria vida:
“Estava pensando esses dias e lembrei de
uma música, se chama 'José' é do Paulo
Diniz. Me identifiquei com ela”.
...
17. E agora José?
“E agora, José? A festa
acabou, a luz apagou, o
povo sumiu, a noite
esfriou, e agora, José? e
agora, Você? Você que
é sem nome, que
zomba dos outros, Você
que faz versos, que
ama, protesta? e agora,
José?”
C. Drummond
18. Necessidade de reler a própria vida
“E agora José? Sempre fui muito duro
com a vida e agora perdi tudo (pausa).
E agora?” em seguida, chora.
19. Necessidade de amar e ser amado
“Hoje quando voltei do banheiro senti
dificuldade para sentar na cama, o A. que me
ajudou”.
“Todo dia de madrugada, lá pelas 4 da manhã,
acordamos para comer chocolate”, conta J.M.
“Quando o J.M. não acorda eu jogo o travesseiro
nele”, conta A.
Em seguida os dois caem no riso.
21. O dia a dia no hospice
“Estava pensando e está chegando o dia das
mães. Pensei em fazermos alguma
homenagem, mas anônima para as mães. Vai
ser eu e o A. Vamos precisar da ajuda de
vocês”.
22. A vida com sentido
“Pensei em fazermos algo para deixar todo o
final de semana”.
“Quero dar rosas. Já conversei com minha
esposa e ela vai providenciar”.
23. Envolvimento com equipe e família
“Eu estava pensando aqui e podemos colocar
flores no fundo de um mural, com frases”.
“Vocês já contaram quantas mães trabalham
aqui?Vou comprar 10 dúzias de rosas para dar
para todas a mães que estiverem aqui”.
“Já liguei para a B. para ela ir até a floricultura”.
25. O amigo que piora...
“Hoje vou ficar aqui (no quarto) até a família
dele chegar para ficar com ele”
26. A morte do amigo... Necessidade de
esperança.
Mais quieto.
“Estou bem (respirou fundo e os olhos se
encheram de lágrimas). Dormi a noite inteira”.
- Dificuldade para deambular e necessidade de
auxílio .
27. A concretização de uma idéia e o
declínio físico
Aumento dos sintomas: Sonolência e
dificuldade para deambular.
“Vocês não colocaram nosso nome não né?!”
(perguntou com muita dificuldade, ao ver o
mural)
31. A despedida
Final de semana em casa.
A esposa relatou que ele dormiu o dia inteiro,
mas a noite levantou-se e foi um pouco para a
varanda de sua casa, onde permaneceram um
tempo.
J.M. começou a sentir-se mal e foi levado ao PS.
32. A despedida
• J.M. faleceu dia 13/05/12 às 0h16 próximo de
sua família.
“A noite esfriou,
o dia não veio ...”
33. Sobre a poesia
“é mais que ofício, carreira, profissão, porque
confere sentido a existência.”
“o que me inspira é a vida e suas múltiplas
alegrias e aflições, a fé, a dúvida, a rotina
maravilhosa, o cotidiano.”
Adélia Prado