Resumo de virologia: características e ciclo de vida dos vírus
1. Resumo teórico de virologia - Prof. Emanuel
VIROLOGIA
Prof. Emanuel
1. Características gerais
Os vírus são supramoleculares e diferem dos demais seres vivos pela inexistência de
organização celular, por não possuírem metabolismo próprio e não serem capazes de se
reproduzir sem estar dentro de uma célula uma célula hospedeira. São parasitas
intracelulares obrigatórios. Os vírus são os menores seres conhecidos, visíveis apenas ao
microscópio eletrônico. Possuem como material genético o DNA ou RNA, exceção feita ao
citomegalovírus que possui os dois ácidos nucléicos .
O ácido nucléico apresenta-se sempre envolto por uma cápsula protéica denominada
capsídeo.Cada molécula protéica do capsídeo recebe o nome genérico de capsômero. O
capsídeo mais o ácido nucléico que ele envolve são denominados nucleocapsídeo. Os vírus
podem parasitar células como bactérias(bacteriófagos), fungos (micovírus), e outros tipos
celulares diversos.
Bacteriófago
A partícula viral, quando fora da célula hospedeira, é chamada de vírion. Cada espécie de
vírus apresenta vírions de formatos diferentes. Em comum, todos os vírus contém ácidos
nucléicos e proteínas. Alguns vírus possuem também outras proteínas, que agem como
enzimas, catalisando reações e processos necessários para o ataque do vírus às células
hospedeiras. O capsídeo tem várias funções, entre elas a de proteger os ácidos nucléicos
virais da digestão feita por certas enzimas, acoplar com certos sítios receptores na
superfície da célula hospedeira e penetrar na sua membrana ou, em alguns casos, injetar o
ácido nucléico infeccioso no interior da célula. Muitos vírus possuem, ainda, uma
membrana lipoproteíca envolvendo o capsídeo; esta membrana é chamada de envelope
viral. O envelope facilita a interação do vírus com a membrana citoplasmática e aumenta a
proteção do vírus contra o sistema de defesa do organismo.
Um tipo de vírus ataca apenas determinados tipos de células, por que o vírus só consegue
infectar a célula que tiver em sua membrana substâncias às quais ele possa se ligar. A
especificidade viral em relação à célula hospedeira parece relacionar-se com a sua origem.
A origem dos vírus não é inteiramente clara, porém a explicação atualmente favorecida é
que eles sejam derivados de seus próprios hospedeiros, originando-se de elementos
transferíveis como plasmídeos ou transposons (elementos transponíveis, são segmentos de
DNA que têm a capacidade de mover-se e replicar-se dentro de um determinado genoma)
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2. Vírus de DNA (Desoxivírus)
Vírus que possuem DNA como material genético, similar às células, podem empregar
diretamente a maquinaria celular para transcrição de seus genes, sua replicação e reparo de
seu DNA. Isso permite a alguns vírus ter um genoma grande como os herpesvírus, que
evoluíram de forma a produzir alguns genes próprios. As moléculas de DNA (dupla ou
simples fita) podem ser encontradas na forma linear ou circular, dependendo do vírus. Os
desoxivírus normalmente possuem um genoma mais estável que os vírus de RNA. Neste
grupo encontramos os vírus da varíola, do herpes, HPV e os adenovírus.
3. Vírus de RNA (Ribovírus e retrovírus)
Como o genoma celular normalmente metaboliza DNA, os vírus de RNA devem dispor de
enzimas próprias para poderem reproduzir. Entre as enzimas encolvidas com a reprodução
de um vírus de RNA destacam-se a RNA replicases e a transcriptase reversa. Os retrovírus
ao entrarem nas células utilizam o RNA para a produção de DNA pela ação da transcriptase
reversa, como é o caso do HIV e do HTLV. Os ribovírus podem ser RNA + (o RNA viral
funciona diretamente como mensageiro estimulando a produção de proteínas virais) ou
RNA – (é necessário a produção de novas fitas de RNA para que sejam sintetizadas as
proteínas virais) , ambos utilizam a RNA replicase para transcrever seu RNA em várias
outras moléculas de RNA viral durante a reprodução, como é o caso dos vírus da influenza,
do sarampo, da raiva e da poliomielite. Os vírus de RNA são mais instáveis e sofrem mais
mutações que os vírus de DNA e são responsáveis pela maioria das zoonoses e das doenças
virias emergentes
OBS. Leitura complementar sobre vírus de DNA e RNA no site
http://www.editorasaraiva.com.br/biosonialopes/pdf/humanos_virus.pdf
4. Reprodução Viral
Para a formação de novos vírus, deve ocorrer a duplicação do ácido nucléico viral e a
síntese das proteínas que formam o capsídeo. Os vírus dispõem de diferentes mecanismos
para utilizar as células hospedeiras, desviando o metabolismo celular para o seu benefício.
No ciclo lítico o vírus se fixa na superfície da célula, libera enzimas para enfraquecer a
parede celular (no caso de vírus que atacam células bacterianas, de protozoários ou de
vegetais, que possuam parede celular) e o material genético do vírus é inoculado dentro da
célula. O material genético viral desencadeia uma profunda desorganização do
metabolismo celular, passando a dominá-lo, fazendo com que o mecanismo de síntese de
macromoléculas da célula seja desviado para a produção de cópias do material genético e
das proteínas virais, ocorrendo a formação de centenas de cópias do vírus. A seguir, a
célula se rompe e libera os novos vírus.
No ciclo lisogênico o ácido nucléico viral associa-se ao DNA da célula hospedeira e ali
permanece na forma de pró-vírus, fazendo parte do cromossomo celular e sendo duplicado
e transmitido para as células filhas durante a divisão celular.
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5. Gripe do frango
A Influenza Aviária é uma doença causada por um orthomyxovírus tipo A, que pode afetar
várias espécies de aves silvestres e de produção. O vírus da influenza é dividido
antigenicamente em três tipos, denominados A, B e C. Os tipos B e C acometem apenas os
humanos, enquanto o tipo A, tem espectro mais amplo de patogenicidade, afetando além
dos humanos: aves, suínos, eqüinos, e algumas espécies de mamíferos aquáticos. A cepa
que está circulando de forma epidêmica atualmente entre as aves domésticas da Ásia é
altamente contagiosa e grave, provocando a dizimação de milhares desses animais. A
exposição direta a aves infectadas ou a suas fezes pode resultar na infecção humana.
Os surtos de doença causados pelos vírus H5N1 representam risco para a saúde humana,
em particular para os trabalhadores de granjas e de abatedouros dessas aves, pelo nível
maior de exposição. Há evidências de que esta cepa tem uma capacidade singular de
“pular” a barreira das espécies e causar doença grave, com alta mortalidade em humanos.
Destaca-se a possibilidade de que a situação presente possa originar outra pandemia de
influenza em humanos. Cientistas reconhecem que os vírus da influenza aviária e
humana podem trocar material genético quando uma pessoa é infectada
simultaneamente com vírus de ambas espécies. Este processo de troca genética no
organismo pode produzir um subtipo completamente diferente de vírus influenza para o
qual poucos humanos teriam imunidade natural. As vacinas existentes, desenvolvidas para
proteger os humanos durante epidemias sazonais, não seriam eficazes contra um vírus
influenza completamente novo. Se o vírus novo contiver genes da influenza humana, pode
ocorrer a transmissão direta de pessoa a pessoa (e não apenas de aves para o homem).
Quando isto acontecer, estarão reunidas as condições para o início de uma nova pandemia
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de influenza. Isso foi observado durante a grande pandemia de influenza de 1918-1919
(Gripe Espanhola), quando um subtipo novo do vírus influenza se espalhou mundialmente,
com morte estimada de 40 a 50 milhões de pessoas. Atualmente, o tempo médio entre a
identificação de uma nova cepa e a produção de uma vacina específica é de 4 a 6 meses. O
vírus da influenza sofre mutações constantes e por isso facilmente ilude as defesas do
organismo ou mesmo a proteção conferida pelas vacinas. As novas amostras resultantes
destas mutações podem ser transmissíveis entre humanos durante um período considerável
e causar epidemias de grandes proporções.
Após a infecção, as galinhas eliminam o vírus nas fezes por cerca de 10 dias e as aves
silvestres por cerca de 30 dias. Depois desse período, as aves que não morreram pela
infecção podem desenvolver imunidade contra a doença. As aves não permanecem
portadoras do vírus por toda a vida.
A doença pode propagar-se de um país para outro país por meio do comércio internacional
de aves domésticas vivas. Aves migratórias podem carrear o vírus por longas distâncias,
como ocorrido anteriormente na difusão internacional da influenza aviária de alta
patogenicidade. Aves aquáticas migratórias – principalmente patos selvagens – são o
reservatório natural dos vírus da influenza aviária e são mais resistentes à infecção. Eles
podem carrear o vírus por grandes distâncias e eliminá-los nas fezes, ainda que
desenvolvam apenas doença leve. No entanto, os patos domésticos são suscetíveis a
infecções letais, bem como os perus, os gansos e diversas outras espécies criadas em
granjas comerciais ou quintais.
6. AIDS
A AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida) é provocada por uma infecção virótica
que danifica o sistema imunológico humano. Em conseqüência, todo o organismo fica
exposto a outras infecções, como a pneumocistose (forma de pneumonia rara que acomete
também recém-nascidos debilitados), infecções cerebrais, diarréia persistente e herpes ou
ainda certas variedades de câncer (como o sarcoma de Kaposi, um tipo de câncer de pele).
São esses problemas que vêm a ser a causa direta da morte do doente.
A AIDS foi reconhecida em meados de 1981, nos EUA, a partir da identificação de um
número elevado de pacientes adultos do sexo masculino homossexuais e moradores de São
Francisco ou Nova York, que apresentavam sarcoma de Kaposi, pneumonia e
comprometimento do sistema imune, o que levou à conclusão de que se tratava de uma
nova doença, ainda não classificada, de etiologia provavelmente infecciosa e transmissível.
O Vírus da AIDS , HIV, é um retrovírus envelopado. Possui no centro duas moléculas de
RNA. Internamente - envolvendo o RNA viral, existe uma c´spsula protéica. Após o
capsídeo, mais externamente existe uma camada dupla de lipídeos, na qual estão imersas
várias moléculas protéicas específicas deste vírus. No envelope externo estão várias
protuberâncias também formadas de proteínas (gp 120) e envolvidas com a associação dos
vírus à célula hospedeira. No interior do vírus existem moléculas de enzimas denominadas
transcriptase reversa, integrases e proteases
O ciclo da doença começa quando o HIV - circulando pela
corrente sanguínea se une à membrana plasmática de células de
defesa do organismo (linfócitos T CD4 e macrófagos). Seu
envelope incorpora-se à membrana da célula e o core, penetra
no citoplasma. A enzima transcriptase reversa utiliza o RNA do
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vírus para a produção de DNA. A molécula de DNA se aloja no núcleo e com a ação da
integrase se incorpora ao DNA da célula hospedeira . Uma vez incorporado, o DNA viral
(provírus) , passa a comandar os mecanismos celulares , enviando RNA mensageiros para
a síntese de proteínas virais. As proteases participam da montagem dos novos vírus. As
proteínas virais migram para a membrana plasmática e vão se formando então várias
projeções para fora da membrana plasmática.Então duas moléculas de RNA viral penetram
em cada uma destas estruturas, até que amadureça o novo core e o envelope de cada novo
vírus,todas as estruturas esféricas dos novos HIV se desprendem - destruindo a célula
hospedeira e indo infectar outras células.
Uma das estratégias do vírus HIV é permanecer oculto dentro do núcleo das células até que
encontre o momento "certo" de atacar, nesta fase o DNA viral se associa ao DNA da célula
hospedeira, e quando a célula se reproduz, ele também o faz . Desta forma o vírus reproduz
de forma assintomática.
Nos últimos anos têm surgido novas drogas para combater o vírus HIV. Vou descrever aqui
o mecanismo de combate de quatro destas drogas (presentes no Coquetel). As quemoquinas
atuam quando a moléculas gp120 do vírus se encaixam na célula T4, elas atuam sobre estas
moléculas e procuram impedir a entrada do HIV na célula. Na segunda linha de defesa
temos as drogas como o AZT - estas drogas inativam a transcriptase reversa, bloqueando a
replicação viral. Na terceira linha de defesa temos as drogas inibidoras de integrases que
impedem a associação do DNA viral ao DNA celular. Se nenhum destes recursos surtir
efeito existe a última linha de defesa utilizando drogas que impedem o amadurecimento dos
vírus em formação por inibirem as proteases.
http://www.icb.ufmg.br/biq/prodabi6/grupos/grupo1/hiv.html
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7. Entidades subvirais
Alguns agentes infecciosos apresentam algumas características gerais de vírus, mas por
outro lado são estruturalmente mais simples. Duas dessas entidades são as que assumem
maior importância atualmente: viróides e prions.
a) Viróides: são moléculas pequenas (de 246 a 375 nucleotídeos) de RNA simples fita,
circular, sem nenhuma forma de capsídeo. O viróide é constituído apenas de RNA, que
aparentemente não codifica nenhuma proteína. Portanto, o viróide é completamente
dependente das funções celulares para sua replicação. Os viróides se replicam em algumas
espécies de plantas, causando doenças provavelmente por interferência no metabolismo de
regulação gênica da célula hospedeira. O processo de infecção não é bem conhecido, mas
acredita-se que sua passagem seja a partir de contato entre células e/ou em células que
sofram um corte mecânico. Há hipóteses que sugerem similaridades entre os viróides e o
processamento de íntrons em células eucariontes. Estas similaridades podem estar ligadas a
uma origem direta dos viróides a partir de introns, que “escaparam” do genoma. Alguns
desses RNAs de viróides tem atividade catalítica própria, clivando outros RNAs.
b) Príons: são constituídos provavelmente apenas de um tipo de proteína, sem ácido
nucléico. O príon normal tem a maior parte dos aminoácidos arrumada em forma de espiral.
Já o príon anormal, como o que causa a doença da vaca louca, possui a maioria dos
aminoácidos organizada em ziguezague. O príon normal é chamado de príon celular,
enquanto o anormal recebe o nome de príon scrapie, denominação da moléstia causada por
príon que atinge as ovelhas. Eles causam doenças neurodegenerativas, fatais, de progressão
lenta. Em carneiros causam uma doença conhecida como scrapie (coçar), conhecida há
mais de 250 anos. Atualmente, este agente infeccioso tem se tornado muito conhecido por
causar uma epidemia no gado inglês, encefalopatia espongiforme de bovinos (BSE) ou a
síndrome da vaca louca. Acredita-se que os bovinos foram contaminados por ingestão de
ração contendo restos de carneiros contaminados com scrapie.
A doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) e o Kuru são exemplos de doenças causadas por
príons em seres humanos. Elas apresentam características neuropatológicas, mas afetam
áreas diferentes do cérebro. Há suspeitas que alguns casos de CJD atípicos em pessoas
jovens, de menos que 30 anos, na Inglaterra, possam ser devidos à contaminação por
ingestão de carne bovina contaminada com o agente da BSE. O agente infeccioso príon é
altamente resistente á radiação UV e radiação gama, sendo aparentemente desprovido de
qualquer molécula de ácido nucléico. Acredita-se que a proteína príon seja codificada por
um gene da célula do hospedeiro, expresso normalmente nas células nervosas e a
reprodução do príon ocorra através da modificação conformacional da proteína celular,
convertendo-a em infecciosa.