SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 25
ALTERIDADE E PARADIGMAna Chegança de Laranjeiras/SE Luciano Monteiro Letras - UFRJ
RESUMO:No período histórico conhecido como grandes navegações, ocorreram mudanças significativas na maneira como percebemos e representamos o mundo. Desde a primeira metade do século XV, a condição de país de navegadores colocou Portugal em contato com povos, costumes e paisagens somente referidos nos relatos da antiguidade. A maneira como os portugueses se relacionavam com o outro, o diferente – seja na figura de mouros, orientais, africanos ou ameríndios – ficou registrada em nossas narrativas sobre sua aventura/desventura marítima. Conhecidas como Chegança/SE, Marujada/RN, Barca/PB e Fandango/CE, essas narrativas aparecem de maneiras distintas em cada tradição local. A encenação, os trajes e acessórios de marinheiro, os versos tradicionais e a dança são alguns dos elementos comuns na superfície de cada um deles. Contudo, esta superfície existe para ser atravessada. Abaixo dela, há as subjetividades de cada integrante, sua história pessoal e suas convicções; acima, há especulações e leituras (como esta); há sentidos e funções atribuídos à permanência da narrativa enquanto tradição viva. Portanto, embora motivada pelo desejo de discutir questões colocadas por folcloristas, a abordagem aqui proposta procura abandonar delimitações desta natureza e alcançar uma compreensão transdisciplinar do tema. Palavras-chave:chegança, alteridade, modernidade.
O que é a Chegança?
O que é a Chegança? Drama épico tradicional de inspiração ibérica encontrado, sobretudo, no nordeste e realizado por grupos folclóricos que recebem o mesmo nome; Homens vestem réplicas de uniformes da Marinha e encenam episódios vividos por navegantes portugueses há séculos atrás; Narrativa em versos tradicionais, cantados e respondidos ou ainda recitados por cada personagem, ritmados por pandeiros; Divide-se em jornadas (episódios) apresentadas em sequência, mas encenadas em datas e locais diversos; Alguns estudiosos dividem os temas encenados em dois blocos: 1) episódios náuticos e 2) batalhas entre cristãos e mouros; Apoiada pela Igreja Católica, por sua função apologética.
Fundamentos históricos
Fundamentos históricos Século XV – Tomada de Constantinopla pelos turcos e bloqueio do comércio de produtos importados (drogas, especiarias indianas, tecidos persas e porcelana chinesa); O governo português investiu em viagens de exploração com vistas à descoberta de novas rotas para seus comerciantes; Acordos comerciais, naufrágios, guerras, invasões, ocupações, colonização de terras estrangeiras e escravização de populações marcaram o nascimento do Império Português (1415 – 1999); Neste período, conhecido como Grandes Navegações, ocorreram transformações decisivas 1) nas relações entre os homens (em sociedade) e 2) nas relações do humano com sua realidade; Essas transformações marcaram ainda o início da modernidade.
Conceito de modernidade Bauman (2001) afirma que a modernidade começa quando espaço e tempo são separados da prática da vida e entre si; As noções de  espaço e tempo estão vinculadas às velocidades de deslocamento experimentadas pelos seres humanos; Antes da modernidade, um tempo X era o intervalo necessário para se percorrer a pé ou a cavalo um determinado espaço e vice versa; Com a construção de veículos capazes de se movimentar mais rápido que as pernas, o tempo se tornou um fator variável e indepen-dente das dimensões fixas do espaço; Algumas pessoas podiam chegar muito antes que as outras; podiam também fugir e evitar serem alcançadas ou detidas. Quem viajasse mais depressa podia reivindicar mais território– controlá-lo, mapeá-lo e supervisioná-lo  –  e deixar de fora os competidores.
Conceito de modernidade O tempo se tornou a principal arma para superação do espaço; A conquista de territórios era uma das maiores ambições da época; O progresso significava tamanho crescente, expansão espacial; Impérios se espalharam por todas as partes do globo, limitados apenas por outros impérios de força igual ou maior; Conquistar um território significava limitar dentro dele o acesso às ferramentas de superação do espaço, conter seu dinamismo interno; O domínio do tempo era o segredo do poder dos administradores; Populações colonizadas ou escravizadas deviam permanecer confinadas em relações espaço-temporais defasadas e obsoletas; Intrépidos exploradores eram os heróis das novas versões modernas das “histórias de marinheiros”;
Fundamentos históricos Sabemos pouco sobre a vida cotidiana desses navegadores, suas contradições, desejos, desilusões, temores e crenças; Segundo Moura (2000), uma nau era como uma vila flutuante, com 500, 600, 700, 800 e mais pessoas, entre tripulantes, soldados, colonos, funcionários, autoridades, missionários e escravos; Em geral, a população embarcada era de origem humilde e bastante ligada às tradições populares de sua terra natal; No mar, as práticas religiosas se tornavam mais constantes em virtude das adversidades a que os viajantes estavam expostos; Realizavam-se celebrações religiosas tradicionais em Portugal – Procissão  de Corpus Christi e Festa do Divino Espírito Santo etc; Há ainda relatos de representações teatrais nestas ocasiões.
Invenção das tradições
Invenção das tradições Após tamanhas privações, esses marujos ávidos pelo desembarque não poderiam deixar de participar das festividades locais; Manifestações culturais realizadas em alto mar desembarcaram e se espalharam, fixando raízes nas regiões colonizadas; Apesar de bicentenárias, Cheganças, Fandangos, Marujadas ou Barcas (o nome varia em cada região ) ainda são pouco conhecidos; Em solo brasileiro, as representações tomam por personagens os marujos portugueses que difundiram aqui suas tradições; Na Chegança, além de episódios náuticos (5 jornadas), é representada a sujeição de autoridades muçulmanas por marinheiros cristãos (episódio conhecido como Mourama); Texto analisado – Mourama da Chegança de Almirante Tamandaré.
Personagens cristãos
Personagens cristãos Uniformes brancos da Marinha brasileira e espadas de aço; Duas fileiras unidas nas pontas, para simular uma embarcação; Disciplinados, atuam em conjunto sob o comando do General. 					     adaptado de Dantas (1976)
Personagens mouros
Personagens mouros Roupas monocromáticas (uma cor para cada personagem) e espadas de aço; Formação do grupo em fileira simples (personagens principais ao centro); Soberbos, atuam individualmente  sob as ordens do Rei Mouro. 1° Embaixador 2° Embaixador 3° Embaixador Princesa Princesa Ministro Rainha Rei
Sinopse da encenação Navio dos mouros se aproxima da nau portuguesa; Rei mouro envia seu primeiro embaixador, para convencer o General a tornar-se seu súdito, sob ameaça de guerra; General nega e o embaixador retorna para o navio; Rei mouro envia o segundo embaixador e o terceiro, que oferece ao General mão da Princesa, mas não obtém êxito; Rei mouro envia seu ministro, para convencer o General, mas ele não aceita sua prosposta; Rei mouro manda seus súditos invadirem o navio português e inicia-se um combate;
Sinopse da encenação ,[object Object]
Na ausência do Rei mouro, o General manda sequestrar as duas Princesas e a Rainha;
Rei mouro tenta resgatar as Princesas e entra em combate com o General, mas acaba sendo vencido e preso;
Os cristãos ameaçam torturar e matar os mouros se estes não aceitarem o batismo cristão;
Os mouros são batizados em uma cerimônia humilhante;
Declaram-se cristãos e terminam festejando de forma bastante ambígua a sua sobrevivência.,[object Object]
VÍDEO 2 Cerimônia de batismo
Leitura da encenação A cada embaixada, os mouros procuram dissuadir os cristãos de suas convicções políticas e religiosas e subjugá-los pela força; Empregam diversos expedientes – prometem riquezas, prestígio, a mão da Princesa, agridem e ameaçam seus adversários; Representados como mais ponderados, os cristãos demonstram uma convicção inabalável em sua pátria e em sua religião; Retratam-se como incorruptíveis e afirmam preferir a morte a serem obrigados a negar sua fé e sua pátria; Presos e ameaçados de morte, os mouros demonstram um relativismo moral que acaba por distinguí-los dos portugueses; Tudo isso produz consequências consideráveis no campo da identidade.
Discurso e identidade Nossas práticas lingüísticas implicam posicionamentos sociais; Quando digo que “sou português”,estou negando (embora implicitamente) os demais posicionamentos possíveis; A identidade é convencionada sócio-historicamente e só adquire sentido pela normalização de caracteres a ela relacionados; Conforme SILVA (2000), a “mesmidade” comporta por definiçãoum traço inerente de “outridade”; Identidade e diferença são, portanto, indissociáveis e resultam de um mesmo processo de produção simbólica e discursiva; São concebidas pela perspectiva de quem detém o poder de representar a si (identidade) e ao outro (diferença); Isto permite fazer uma análise das representação sociais na Chegança.

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Aula 5 adolescência e alteridade
Aula 5   adolescência e alteridadeAula 5   adolescência e alteridade
Aula 5 adolescência e alteridadeariadnemonitoria
 
Ser geografo
Ser geografoSer geografo
Ser geografoPessoal
 
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De RosaRosana De Rosa
 
A racionalidade científica e os Paradigmas - Kuhn
A racionalidade científica e os Paradigmas - KuhnA racionalidade científica e os Paradigmas - Kuhn
A racionalidade científica e os Paradigmas - KuhnHelena Serrão
 
Dr4 identidade e alteridade Marco Araújo
Dr4 identidade e alteridade Marco AraújoDr4 identidade e alteridade Marco Araújo
Dr4 identidade e alteridade Marco Araújomega
 
Aula 01 - Saúde, Cultura e Sociedade
Aula 01 - Saúde, Cultura e SociedadeAula 01 - Saúde, Cultura e Sociedade
Aula 01 - Saúde, Cultura e SociedadeGhiordanno Bruno
 
As relações entre indivíduo e sociedade
As relações  entre indivíduo e sociedadeAs relações  entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedadeJosé Amaral
 
As relações entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedadeAs relações entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedadejefersondutra08
 
Filosofia como atividade reflexiva e sua
Filosofia como atividade reflexiva e suaFilosofia como atividade reflexiva e sua
Filosofia como atividade reflexiva e suaManoelito Filho Soares
 
Indivíduo e Sociedade
Indivíduo e SociedadeIndivíduo e Sociedade
Indivíduo e Sociedadecarlosbidu
 
A Diversidade Cultural
A Diversidade CulturalA Diversidade Cultural
A Diversidade Culturaljuliana_f
 
Diferentes culturas do mundo
Diferentes culturas do mundoDiferentes culturas do mundo
Diferentes culturas do mundoanocas_rita
 

Destaque (20)

Identidade, igualdade e diferença
Identidade, igualdade e diferençaIdentidade, igualdade e diferença
Identidade, igualdade e diferença
 
Aula 5 adolescência e alteridade
Aula 5   adolescência e alteridadeAula 5   adolescência e alteridade
Aula 5 adolescência e alteridade
 
Antropologia
AntropologiaAntropologia
Antropologia
 
Ser geografo
Ser geografoSer geografo
Ser geografo
 
Fauna De Alberta,Canadá E Serra Do Araripe
Fauna  De  Alberta,Canadá E Serra Do AraripeFauna  De  Alberta,Canadá E Serra Do Araripe
Fauna De Alberta,Canadá E Serra Do Araripe
 
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa
2010-06-13-Palestra-Os Paradigmas do Amor-Rosana De Rosa
 
A racionalidade científica e os Paradigmas - Kuhn
A racionalidade científica e os Paradigmas - KuhnA racionalidade científica e os Paradigmas - Kuhn
A racionalidade científica e os Paradigmas - Kuhn
 
Paleontologia - tafonomia
Paleontologia - tafonomiaPaleontologia - tafonomia
Paleontologia - tafonomia
 
Alteridade
AlteridadeAlteridade
Alteridade
 
Dr4 identidade e alteridade Marco Araújo
Dr4 identidade e alteridade Marco AraújoDr4 identidade e alteridade Marco Araújo
Dr4 identidade e alteridade Marco Araújo
 
Ética no cotidiano
Ética no cotidianoÉtica no cotidiano
Ética no cotidiano
 
Aula 01 - Saúde, Cultura e Sociedade
Aula 01 - Saúde, Cultura e SociedadeAula 01 - Saúde, Cultura e Sociedade
Aula 01 - Saúde, Cultura e Sociedade
 
As relações entre indivíduo e sociedade
As relações  entre indivíduo e sociedadeAs relações  entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedade
 
As relações entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedadeAs relações entre indivíduo e sociedade
As relações entre indivíduo e sociedade
 
Filosofia como atividade reflexiva e sua
Filosofia como atividade reflexiva e suaFilosofia como atividade reflexiva e sua
Filosofia como atividade reflexiva e sua
 
Indivíduo e Sociedade
Indivíduo e SociedadeIndivíduo e Sociedade
Indivíduo e Sociedade
 
A reflexão filosófica
A reflexão filosóficaA reflexão filosófica
A reflexão filosófica
 
A Diversidade Cultural
A Diversidade CulturalA Diversidade Cultural
A Diversidade Cultural
 
Diferentes culturas do mundo
Diferentes culturas do mundoDiferentes culturas do mundo
Diferentes culturas do mundo
 
geopark araripe
 geopark araripe geopark araripe
geopark araripe
 

Semelhante a Alteridade e paradigma na Chegança de Laranjeiras/SE - XIV Cong. Brasileiro de Folclore

História Brasil Colonial
História Brasil Colonial História Brasil Colonial
História Brasil Colonial Laguat
 
Hist.3 aula01(2011)
Hist.3 aula01(2011)Hist.3 aula01(2011)
Hist.3 aula01(2011)nilbarra
 
Descobrimento da América portuguesa.
Descobrimento da América portuguesa.Descobrimento da América portuguesa.
Descobrimento da América portuguesa.Lara Lídia
 
Literatura aula 02 - humanismo
Literatura   aula 02 - humanismoLiteratura   aula 02 - humanismo
Literatura aula 02 - humanismomfmpafatima
 
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...Ricardo Jorge
 
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaQuestões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaZé Knust
 
Historia da Expansão Marítima e Comercial
Historia da Expansão Marítima e ComercialHistoria da Expansão Marítima e Comercial
Historia da Expansão Marítima e ComercialThaís Bozz
 
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdf
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdfa face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdf
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdfHudsonPicoreli
 
Os nossos antepassados eram deuses claude lepine
Os nossos antepassados eram deuses   claude lepineOs nossos antepassados eram deuses   claude lepine
Os nossos antepassados eram deuses claude lepineMonitoria Contabil S/C
 
hgpa5_ppt_c2.pptx
hgpa5_ppt_c2.pptxhgpa5_ppt_c2.pptx
hgpa5_ppt_c2.pptxmariagrave
 
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guarani
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guaraniSilva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guarani
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guaraniEducação
 
Atividades sobre povos e reinos africanos
Atividades sobre povos e reinos africanosAtividades sobre povos e reinos africanos
Atividades sobre povos e reinos africanosZé Knust
 
Da colonização a proclamação da república show
Da colonização a proclamação da república showDa colonização a proclamação da república show
Da colonização a proclamação da república showFabio Salvari
 
Capoeira rondonopolitense - vpmt
Capoeira rondonopolitense - vpmtCapoeira rondonopolitense - vpmt
Capoeira rondonopolitense - vpmtlucavao2010
 
Historia lit
Historia litHistoria lit
Historia litliterafro
 

Semelhante a Alteridade e paradigma na Chegança de Laranjeiras/SE - XIV Cong. Brasileiro de Folclore (20)

História Brasil Colonial
História Brasil Colonial História Brasil Colonial
História Brasil Colonial
 
Hist.3 aula01(2011)
Hist.3 aula01(2011)Hist.3 aula01(2011)
Hist.3 aula01(2011)
 
Descobrimento da América portuguesa.
Descobrimento da América portuguesa.Descobrimento da América portuguesa.
Descobrimento da América portuguesa.
 
Literatura aula 02 - humanismo
Literatura   aula 02 - humanismoLiteratura   aula 02 - humanismo
Literatura aula 02 - humanismo
 
Aula 02 humanismo
Aula 02   humanismoAula 02   humanismo
Aula 02 humanismo
 
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...
Resenha da palestra sobre espaço urbano, controle sanitário e tráfico de escr...
 
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão MarítimaQuestões de vestibular sobre Expansão Marítima
Questões de vestibular sobre Expansão Marítima
 
Literatura no IFAL.pptx
Literatura no IFAL.pptxLiteratura no IFAL.pptx
Literatura no IFAL.pptx
 
Historia da Expansão Marítima e Comercial
Historia da Expansão Marítima e ComercialHistoria da Expansão Marítima e Comercial
Historia da Expansão Marítima e Comercial
 
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdf
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdfa face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdf
a face oculta do sacramento - sérgio oliveira.pdf
 
Plano de ensino 7º ano história
Plano de ensino 7º ano históriaPlano de ensino 7º ano história
Plano de ensino 7º ano história
 
Os nossos antepassados eram deuses claude lepine
Os nossos antepassados eram deuses   claude lepineOs nossos antepassados eram deuses   claude lepine
Os nossos antepassados eram deuses claude lepine
 
Descobrimentos
DescobrimentosDescobrimentos
Descobrimentos
 
hgpa5_ppt_c2.pptx
hgpa5_ppt_c2.pptxhgpa5_ppt_c2.pptx
hgpa5_ppt_c2.pptx
 
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guarani
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guaraniSilva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guarani
Silva andre-luis-freitas-da quando-todos-sao-guarani
 
Atividades sobre povos e reinos africanos
Atividades sobre povos e reinos africanosAtividades sobre povos e reinos africanos
Atividades sobre povos e reinos africanos
 
Da colonização a proclamação da república show
Da colonização a proclamação da república showDa colonização a proclamação da república show
Da colonização a proclamação da república show
 
Capoeira rondonopolitense - vpmt
Capoeira rondonopolitense - vpmtCapoeira rondonopolitense - vpmt
Capoeira rondonopolitense - vpmt
 
Historia lit
Historia litHistoria lit
Historia lit
 
Infante d. henrique2
Infante d. henrique2Infante d. henrique2
Infante d. henrique2
 

Último

ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaJúlio Sandes
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.keislayyovera123
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...ArianeLima50
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasCasa Ciências
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERDeiciane Chaves
 

Último (20)

ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
 
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.Época Realista y la obra de Madame Bovary.
Época Realista y la obra de Madame Bovary.
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de PartículasRecurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
Recurso Casa das Ciências: Sistemas de Partículas
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
 

Alteridade e paradigma na Chegança de Laranjeiras/SE - XIV Cong. Brasileiro de Folclore

  • 1. ALTERIDADE E PARADIGMAna Chegança de Laranjeiras/SE Luciano Monteiro Letras - UFRJ
  • 2. RESUMO:No período histórico conhecido como grandes navegações, ocorreram mudanças significativas na maneira como percebemos e representamos o mundo. Desde a primeira metade do século XV, a condição de país de navegadores colocou Portugal em contato com povos, costumes e paisagens somente referidos nos relatos da antiguidade. A maneira como os portugueses se relacionavam com o outro, o diferente – seja na figura de mouros, orientais, africanos ou ameríndios – ficou registrada em nossas narrativas sobre sua aventura/desventura marítima. Conhecidas como Chegança/SE, Marujada/RN, Barca/PB e Fandango/CE, essas narrativas aparecem de maneiras distintas em cada tradição local. A encenação, os trajes e acessórios de marinheiro, os versos tradicionais e a dança são alguns dos elementos comuns na superfície de cada um deles. Contudo, esta superfície existe para ser atravessada. Abaixo dela, há as subjetividades de cada integrante, sua história pessoal e suas convicções; acima, há especulações e leituras (como esta); há sentidos e funções atribuídos à permanência da narrativa enquanto tradição viva. Portanto, embora motivada pelo desejo de discutir questões colocadas por folcloristas, a abordagem aqui proposta procura abandonar delimitações desta natureza e alcançar uma compreensão transdisciplinar do tema. Palavras-chave:chegança, alteridade, modernidade.
  • 3. O que é a Chegança?
  • 4. O que é a Chegança? Drama épico tradicional de inspiração ibérica encontrado, sobretudo, no nordeste e realizado por grupos folclóricos que recebem o mesmo nome; Homens vestem réplicas de uniformes da Marinha e encenam episódios vividos por navegantes portugueses há séculos atrás; Narrativa em versos tradicionais, cantados e respondidos ou ainda recitados por cada personagem, ritmados por pandeiros; Divide-se em jornadas (episódios) apresentadas em sequência, mas encenadas em datas e locais diversos; Alguns estudiosos dividem os temas encenados em dois blocos: 1) episódios náuticos e 2) batalhas entre cristãos e mouros; Apoiada pela Igreja Católica, por sua função apologética.
  • 6. Fundamentos históricos Século XV – Tomada de Constantinopla pelos turcos e bloqueio do comércio de produtos importados (drogas, especiarias indianas, tecidos persas e porcelana chinesa); O governo português investiu em viagens de exploração com vistas à descoberta de novas rotas para seus comerciantes; Acordos comerciais, naufrágios, guerras, invasões, ocupações, colonização de terras estrangeiras e escravização de populações marcaram o nascimento do Império Português (1415 – 1999); Neste período, conhecido como Grandes Navegações, ocorreram transformações decisivas 1) nas relações entre os homens (em sociedade) e 2) nas relações do humano com sua realidade; Essas transformações marcaram ainda o início da modernidade.
  • 7. Conceito de modernidade Bauman (2001) afirma que a modernidade começa quando espaço e tempo são separados da prática da vida e entre si; As noções de espaço e tempo estão vinculadas às velocidades de deslocamento experimentadas pelos seres humanos; Antes da modernidade, um tempo X era o intervalo necessário para se percorrer a pé ou a cavalo um determinado espaço e vice versa; Com a construção de veículos capazes de se movimentar mais rápido que as pernas, o tempo se tornou um fator variável e indepen-dente das dimensões fixas do espaço; Algumas pessoas podiam chegar muito antes que as outras; podiam também fugir e evitar serem alcançadas ou detidas. Quem viajasse mais depressa podia reivindicar mais território– controlá-lo, mapeá-lo e supervisioná-lo – e deixar de fora os competidores.
  • 8. Conceito de modernidade O tempo se tornou a principal arma para superação do espaço; A conquista de territórios era uma das maiores ambições da época; O progresso significava tamanho crescente, expansão espacial; Impérios se espalharam por todas as partes do globo, limitados apenas por outros impérios de força igual ou maior; Conquistar um território significava limitar dentro dele o acesso às ferramentas de superação do espaço, conter seu dinamismo interno; O domínio do tempo era o segredo do poder dos administradores; Populações colonizadas ou escravizadas deviam permanecer confinadas em relações espaço-temporais defasadas e obsoletas; Intrépidos exploradores eram os heróis das novas versões modernas das “histórias de marinheiros”;
  • 9. Fundamentos históricos Sabemos pouco sobre a vida cotidiana desses navegadores, suas contradições, desejos, desilusões, temores e crenças; Segundo Moura (2000), uma nau era como uma vila flutuante, com 500, 600, 700, 800 e mais pessoas, entre tripulantes, soldados, colonos, funcionários, autoridades, missionários e escravos; Em geral, a população embarcada era de origem humilde e bastante ligada às tradições populares de sua terra natal; No mar, as práticas religiosas se tornavam mais constantes em virtude das adversidades a que os viajantes estavam expostos; Realizavam-se celebrações religiosas tradicionais em Portugal – Procissão de Corpus Christi e Festa do Divino Espírito Santo etc; Há ainda relatos de representações teatrais nestas ocasiões.
  • 11. Invenção das tradições Após tamanhas privações, esses marujos ávidos pelo desembarque não poderiam deixar de participar das festividades locais; Manifestações culturais realizadas em alto mar desembarcaram e se espalharam, fixando raízes nas regiões colonizadas; Apesar de bicentenárias, Cheganças, Fandangos, Marujadas ou Barcas (o nome varia em cada região ) ainda são pouco conhecidos; Em solo brasileiro, as representações tomam por personagens os marujos portugueses que difundiram aqui suas tradições; Na Chegança, além de episódios náuticos (5 jornadas), é representada a sujeição de autoridades muçulmanas por marinheiros cristãos (episódio conhecido como Mourama); Texto analisado – Mourama da Chegança de Almirante Tamandaré.
  • 13. Personagens cristãos Uniformes brancos da Marinha brasileira e espadas de aço; Duas fileiras unidas nas pontas, para simular uma embarcação; Disciplinados, atuam em conjunto sob o comando do General. adaptado de Dantas (1976)
  • 15. Personagens mouros Roupas monocromáticas (uma cor para cada personagem) e espadas de aço; Formação do grupo em fileira simples (personagens principais ao centro); Soberbos, atuam individualmente sob as ordens do Rei Mouro. 1° Embaixador 2° Embaixador 3° Embaixador Princesa Princesa Ministro Rainha Rei
  • 16. Sinopse da encenação Navio dos mouros se aproxima da nau portuguesa; Rei mouro envia seu primeiro embaixador, para convencer o General a tornar-se seu súdito, sob ameaça de guerra; General nega e o embaixador retorna para o navio; Rei mouro envia o segundo embaixador e o terceiro, que oferece ao General mão da Princesa, mas não obtém êxito; Rei mouro envia seu ministro, para convencer o General, mas ele não aceita sua prosposta; Rei mouro manda seus súditos invadirem o navio português e inicia-se um combate;
  • 17.
  • 18. Na ausência do Rei mouro, o General manda sequestrar as duas Princesas e a Rainha;
  • 19. Rei mouro tenta resgatar as Princesas e entra em combate com o General, mas acaba sendo vencido e preso;
  • 20. Os cristãos ameaçam torturar e matar os mouros se estes não aceitarem o batismo cristão;
  • 21. Os mouros são batizados em uma cerimônia humilhante;
  • 22.
  • 23. VÍDEO 2 Cerimônia de batismo
  • 24. Leitura da encenação A cada embaixada, os mouros procuram dissuadir os cristãos de suas convicções políticas e religiosas e subjugá-los pela força; Empregam diversos expedientes – prometem riquezas, prestígio, a mão da Princesa, agridem e ameaçam seus adversários; Representados como mais ponderados, os cristãos demonstram uma convicção inabalável em sua pátria e em sua religião; Retratam-se como incorruptíveis e afirmam preferir a morte a serem obrigados a negar sua fé e sua pátria; Presos e ameaçados de morte, os mouros demonstram um relativismo moral que acaba por distinguí-los dos portugueses; Tudo isso produz consequências consideráveis no campo da identidade.
  • 25. Discurso e identidade Nossas práticas lingüísticas implicam posicionamentos sociais; Quando digo que “sou português”,estou negando (embora implicitamente) os demais posicionamentos possíveis; A identidade é convencionada sócio-historicamente e só adquire sentido pela normalização de caracteres a ela relacionados; Conforme SILVA (2000), a “mesmidade” comporta por definiçãoum traço inerente de “outridade”; Identidade e diferença são, portanto, indissociáveis e resultam de um mesmo processo de produção simbólica e discursiva; São concebidas pela perspectiva de quem detém o poder de representar a si (identidade) e ao outro (diferença); Isto permite fazer uma análise das representação sociais na Chegança.
  • 27. Hipóteses e especulações Como vimos, o modelo adotado pela metrópole para gerir as colônias era o confinamento em condições de vida do passado; Ainda hoje, esta é a condição de vida das populações das zonas de exclusão social (periferias urbanas e áreas rurais); O princípio de competição/exploração colocava no mesmo plano, indistintamente, todos os adversários dos portugueses; Mouros, indianos, chineses, africanos, indígenas eram como bárbaros e deviam ser mantidos sob controle, em seu lugar; Os portugueses detinham o monopólio da civilização, medido pela superioridade se seus dispositivos tecnológicos e sociais; Podemos compreender a Chegança, no contexto social em que tem sido realizada, não apenas como uma forma de catequese;
  • 28. Hipóteses e especulações A Chegança poderia ser considerada um mito de origem da estrutura social implantada pela colonização – estrutura que, conforme Fernandes (1976), nunca funcionou segundo o modelo; O mito parece assumir a função prescritiva, sobretudo, onde as diferenças entre o paradigma civilizatório e a sociedade possível parecem inconciliáveis; Na Chegança, encontram-se representados ideais, incoerências, injustiças e pressupostos característicos da modernidade; A fase inicial da modernidade, que Bauman (2001) chama de “modernidade pesada”, vigora ainda nas zonas rurais e nas áreas de exclusão social das grandes cidades; Seria, portanto, a Chegança um mito de origem da própria modernidade, representada pela navegação portuguesa?
  • 29.
  • 30. BENJAMIM, Roberto. Cristãos e Mouros. In: Anais do Encontro Cultural de Laranjeiras. Aracajú: Fundação Estadual de Cultura de Sergipe, 1993.
  • 31. BOXER, Charles R. O império colonial português(tradução de Inês Silva Duarte). Lisboa: Edições 70, 1969.
  • 32. DANTAS, Beatriz G. Chegança (Cadernos de Folclore, 14). Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/ Universidade Federal de Sergipe – CECAC, 1976.
  • 33. FERNANDES, Florestan. Sociedade de Classes e Subdesenvol-vimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1976.
  • 34. MOURA, Carlos Francisco. Teatro a bordo de naus portuguesas nos séculos XV, XVI, XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Instituto Luso-Brasileiro de História e Liceu Literário Português, 2000.
  • 35. SILVA, Tomás Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: Tomás Tadeu da Silva, (Org.) Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000, pp. 81-102.