Clínica Psicanalítica: ansiedade generalizada e neurose obsessiva
1. Clínica Psicanalítica:
manejo e subjetivações na contemporaneidade
Tema:
Neurose obsessiva e transtorno da ansiedade
generalizada
ALEXANDRE
SIMÕES
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2. Novos sintomas ou
sintomas apresentados
sob uma nova forma ?
Lacan, argumenta que estamos passando, nas últimas
décadas, por uma significativa mudança na lógica dos
discursos:
esta é uma forma de dizer que o laço
social muda e o lugar do Outro: o mundo que nos fala e de
onde nós
falamos, mudam também.
3. Fragmento clínico:
Um homem, na faixa de seus 40 anos de idade,
procurou-me a partir do momento em que se
submeteu a uma prova.
Neste exame, ele não obteve um resultado
satisfatório e, daí, recebeu um laudo explicando,
em linhas gerais, os motivos de sua reprovação.
Neste laudo, lhe era recomendado que ele
procurasse um profissional da área da saúde
mental antes de se submeter a um novo exame.
4. T ratava-se de uma prova para se habilitar como piloto de
aeronave. Ele já era piloto e também instrutor de voo, em
uma dada categoria: pretendia aceder a uma outra
categoria, superior à atual.
O órgão específico do Estado
que elaborava as provas e
regulamentava o tipo de
habilitação que esta pessoa
almejava foi, a princípio, o
impedidor de sua trajetória e
isto lhe surgiu como um
entrave.
5. Era-lhe um entrave na medida em que ele, como já
foi dito, tendo um tipo de habilitação para uma
categoria de voo, almejava uma maior amplitude
profissional e econômica. Ele havia largado seu
emprego anterior para se dedicar inteiramente à
aeronáutica e obter da mesma o sustento para si e
sua esposa.
6. Ser piloto era um sonho com o qual ele, de origem bem
humilde, se deparou desde bem cedo. Durante sua
adolescência e idade adulta, trabalhou em várias funções bem
distantes deste sonho.
Isto foi feito até os últimos três anos, quando o paciente resolveu
pedir as contas em uma empresa na qual já trabalhava há mais de
uma década e, com o dinheiro do acerto, bancar a trajetória (bem
vasta e exigente) da formação de piloto: almejava voar.
7. É importante notar que o tipo de trabalho que ele
até então estava desenvolvendo na grande empresa
com a qual rompeu já se mostrava de alto custo
para a sua saúde:
em mais de um episódio, foi acometido por crises
que se manifestavam por meio de fortes e difusas
dores ao longo do corpo e uma intensa arritmia
cardíaca que fizeram com que ele fosse conduzido
para serviços de urgência hospitalares.
8. Exasperação e desentendimento com os colegas
tornaram-se cotidianos. Inclusive, o paciente
mostrava-se impulsivo no que tange à
agressividade: envolveu-se em alguns episódios de
agressão física a pessoas diversas.
9. Encontrando-se fora deste ambiente de trabalho,
o paciente sentia uma melhora significativa em
seu estado.
Todavia, o que antes era um estado mais
generalizado de mal-estar difuso, gradativamente
veio a se mostrar com um contorno mais definido:
a ansiedade.
10. Nas relações com as pessoas - agora, já no novo
ambiente de sua tentativa de uma inserção
profissional no campo da aviação - a ansiedade
era facilmente desencadeada: às vezes, o barulho e
a movimentação de alguém ‘mascando chiclete’
era o suficiente para o surgimento da ansiedade
acompanhada de irritabilidade.
Foram inúmeros episódios de ansiedade e também uma forma
branda de hipocondria, até que chegamos àquilo que mais ao
início apontamos: a prova para aceder a um nível superior de
pilotagem.
11. O que barrou este paciente foi a
verificação, ao longo de seus
exames, de um fator ansiogênico.
Tanto que no laudo reprobatório
veio indicado o diagnóstico de
Transtorno de Ansiedade
Generalizada.
12. A partir desta marca, o paciente se
apropria mais decididamente deste
diagnóstico (que tem a dupla função de
ser um indexador de seu mal-estar e a
marca de um limite, ainda que
momentâneo).
Surgem, então, as sensações de frio no
estômago, aperto no peito, coração
acelerado, tremores e a sensação de falta
de ar.
13. O paciente pretendia se submeter mais uma vez ao exame
no qual foi reprovado (após o intervalo de alguns meses,
isto já lhe era permitido).
A realização de um tratamento analítico não era,
necessariamente, uma exigência para tal. Mas,
curiosamente, a reprovação fez com que esta pessoa se
inquietasse quanto ao que, realmente, se passava com ele.
14. O fio da ansiedade e do diagnóstico especificados na figura do
Transtorno de Ansiedade Generalizada conduziram este
paciente, no itinerário da análise, a se deparar com um
acontecimento que é bem distinto de um sintoma:
a angústia
15. Amparo-me aqui
nas formulações de
Freud em ‘Inibições,
sintomas e
angústia’ (de 1926):
estes três
acontecimentos
psíquicos -
afetações do pathos
- não se encontram
no mesmo nível e
não se reduzem um
ao outro.
16. Para-além da sintomatologia ansiogênica e
impulsiva, perfilava-se gradativamente uma
teia de elementos obsessivos: a culpabilidade,
a dívida em relação ao Outro, a morte.
17. A análise avançava quanto mais não se colocava
como orientação do percurso as medidas
pragmáticas:
os prazos para novas provas e perícias, a resposta à
sintomatologia ansiogênica, etc.
18. Especialmente no que tange às manifestações da ansiedade
e as depressões, vale lembrar que:
estamos imersos na tecnologia prêt-a-porter
19. A Clínica Psicanalítica pode,
atualmente, oferecer outras vias
a estes sujeitos?
Como operar com o
gozo que se impõe ao
nosso tempo?
20. Por nossa posição de
sujeito somos sempre
responsáveis
Jacques Lacan, A Ciência e a Verdade,
(in: Escritos), p.873
21. “A psicanálise tem sido criticada como uma espécie de
ícone de uma cultura que ficou para trás, sepultada pelas
ciências da mente e pela sociedade „pós-humana‟. O
antifreudismo é uma onda que ainda cresce. Mas seu
destino não está nas mãos dos ideológos do mercado ou
da ciência. O que determinará o lugar da psicanálise no
cenário social das próximas décadas será sua capacidade
de atualizar aquilo que está na origem de sua clínica: a
sustentação de um campo de prática que põe qualquer
tipo de experiência humana sob o crivo da interrogação.”
(Benilton BEZERRA JÚNIOR.O ocaso da interioridade e suas repercussões sobre a clínica. In: Carlos Alberto
PLASTINO. Transgressões. Rio de Janeiro: Contracapa, 2002. p.238)
22. Obrigado pela atenção!
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