Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Diário Oficial - Oliveiras e Oliva SP
1. IV– São Paulo, 123 (225)
II – São Paulo, 123 (225)
Diário Oficial Poder Executivo - Seção I
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
C
onta a mitologia grega que os deuses Poseidon (dos mares) e Atena
(da sabedoria e das artes) foram
escolhidos para dar nome a uma
cidade. A honra seria concedida a
quem oferecesse o melhor presente à população local. O primeiro
deus criou uma espécie de fonte
de água (há também versões que
afirmam que o presente teria sido
um cavalo). Já a deusa ofereceu
uma oliveira. A partir de então, a
principal cidade grega passou a se
chamar Atenas. A lenda mostra a
importância desta árvore na vida
dos povos e de seu fruto sagrado
que alimenta a humanidade até
os dias atuais, seja na forma de
azeitona ou do seu famoso azeite.
No Brasil, porém, a planta nunca
frutificou de modo comercial apesar de várias tentativas desde o
século 19. Mesmo assim, existem
produtores que apostam e investem no plantio da oliveira no
País, principalmente em locais de
clima ameno.
FOTOS: GENIVALDO CARVALHO
A frutificação da
planta sagrada
Agrônoma Edna (foto menor) e a plantação de oliveiras: assistência desde a preparação da terra até a colheita dos frutos
Depois de várias tentativas sem sucesso, o Brasil
busca desenvolver a produção de azeitonas.
Um grupo de técnicos da Apta participa do projeto
Em São Paulo, há cultivo em
cidades na divisa com Minas
Gerais, próximas ao circuito paulista das águas e na região da
Serra da Mantiqueira. Mas a produção de azeite ainda é incipien-
te, restrita e sem apelo comercial. A pesquisadora e agrônoma da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios
(Apta), Edna Bertoncini, conta que atualmente o Brasil se encontra na quarta ou
quinta onda da oliveira. Prova disso é que
Aqui tem azeitona
O agrônomo Lucas Gonçalves Franco
trabalha na Fazenda Rainha, em São
Sebastião da Grama (SP), na divisa com
Minas Gerais, onde estão plantados 28
mil pés de oliveiras e outros sete mil lá
estarão até o fim do ano. A propriedade
tem 971 hectares, 58 deles ocupados pelo
plantio da azeitona. Em fevereiro, lembra
Lucas, ocorreu a primeira colheita, com 9
toneladas de frutos e 600 litros de azeite,
cuja produção foi distribuída para proprietários e amigos.
O agrônomo prevê que a colheita de
2014 chegará a 12 toneladas. Na fazenda,
está sendo construído um galpão de 480
m², para moagem da azeitona a partir do
ano que vem. Inclusive já foi comprada
uma máquina italiana com capacidade
para processar 900 kg/hora. A produção
deste ano foi obtida em equipamento de
outra fazenda. Os frutos cultivados na
fazenda Rainha são das variedades arbequina, arbosana, piqual, frantoio, koroneiki e coratina.
Azeitonas produzidas
na Fazenda Rainha, na
divisa SP/MG
ela recebe três a quatro consultas por
semana, de “pessoas interessadas em
novos investimentos”.
Edna coordena o Projeto Oliva SP,
criado em 2009, para atender ao número
elevado de solicitações que chegavam à
Secretaria Estadual de Agricultura e
Abastecimento, de informações sobre o
plantio da azeitona no Estado. “Resolvemos, então, juntar um grupo de especialistas de vários órgãos da secretaria e
também de fora”. Hoje, o projeto da Apta
tem parceria técnica dos institutos Agronômico de Campinas (IAC), Biológico e
de Tecnologia de Alimentos (Ital); de entidades de outros Estados; e até de uma
agência italiana de alimentos, a Issam.
Sabor e produção – Atualmente,
o grupo se divide em várias áreas de pesquisas sobre a cultura da oliveira, como
solos e nutrição, doenças, pragas, manejo e poda, fitoquímica (análise da planta
para outras finalidades que não alimentares), extração e qualidade, climatologia, economia e mercado e futuramente
a área de genética. “Nós prestamos assistência ao produtor em todas as etapas,
da preparação da terra até a colheita dos
frutos e acompanhamos a evolução das
oliveiras”, frisa Edna.
A Apta também promove eventos
sobre o azeite, derivado mais nobre do
famoso fruto da oliveira. Já realizou três
cursos sobre degustação do produto. O
último ocorreu em outubro, com a presença de Ugo Testa, especialista italiano
da Issam. O encontro abordou a produção
de oliveiras, colheita, extração, conservação do azeite e degustação para escolha
dos melhores produtos, como é feito na
indústria. “Queremos ajudar no controle
de qualidade do azeite vendido no Brasil,
100% importado, e com características
às vezes distintas daquelas descritas nos
rótulos”, avalia.
A pesquisadora explica que o azeite de
oliva é classificado de três formas: extravirgem, virgem e lampante. O primeiro
se aproxima da perfeição, sem defeito e
com as três principais qualidades: frutado
(odor de azeitona), amargo (alta taxa de
polifenóis, bom para o coração) e picante.
O segundo apresenta um dos seguintes
defeitos: rançoso, acético (odor de vinagre),
mofado, gosto de terra e com cheiro de azeitona em conserva. Já o lampante tem uma
série dos defeitos acima, ou todos, e precisa
ser refinado para consumo. Todo azeite é
obtido pela prensagem da azeitona com
caroço e sempre a frio.
Luz e calor afetam o produto, informa
Edna. O azeite pode sair de seu local de
origem perfeito e no caminho perder uma
ou mais qualidades. No Brasil, pode ser
misturado ou passar por outras artimanhas
comerciais. Além disso, depende da qualidade da azeitona, que precisa ser moída até
24 horas após a colheita. “E quanto mais
novo, melhor será o azeite.”
Um quarto lugar – A agrônoma
Juliana Rolim Teramoto, do IAC, que também atua no Oliva SP, informa que a participação brasileira no plantio de azeitona em 2010 no Mercosul foi um ínfimo
quarto lugar, com apenas 1 tonelada. A
Argentina produziu 165 mil t; Chile, 58
mil t; e Uruguai, 6,5 mil t. Na Comunidade
Europeia, a liderança tranquila é da
Espanha, com 8 milhões t no mesmo ano,
vindo a seguir Itália (3 milhões t), Grécia
(cerca de 2 milhões t) e Portugal, com
menos de 1 milhão t.
Em azeite de oliva, a produção mundial no biênio 2010/11 apontou pela ordem
crescente – Espanha, Itália, Grécia, Síria,
Turquia, Marrocos, Tunísia e Portugal.
Todos os dados são da FAO/ONU. Juliana
fez um longo trabalho de pesquisa intitulado Mercado dos Produtos da Oliveira e
os Desafios Brasileiros, junto com Edna e
Angélica Prela-Pantano, do IAC. O artigo
está disponível no site da Apta (www.apta.
sp.gov.br/oliva).
Otávio Nunes
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial