Manoel de Oliveira foi um cineasta português que dirigiu mais de 30 filmes ao longo de sua carreira de mais de 80 anos. O documento resume sua biografia, técnicas cinematográficas, portfólio de filmes principais e recursos online sobre sua vida e obra.
3. BIOGRAFIA
Manoel de Oliveira, realizador de cinema mais velho do mundo em actividade e autor de trinta e duas longas-metragens,
nasceu no seio de uma família da alta burguesia nortenha, com origens na pequena fidalguia. Frequentou um colégio
de jesuítas em A Guarda, na Galiza, onde se dedicou ao atletismo; tendo sido campeão nacional de salto à vara, e atleta do
Sport Club do Porto, um clube de elite. Aos vinte anos vai para a escola de actores fundada no Porto por Rino Lupo, o
cineasta italiano ali radicado, e um dos pioneiros do cinema português de ficção. Berlim: sinfonia de uma cidade,
documentário vanguardista de Walther Ruttmann, influencia-o profundamente.
Tem então a ideia de rodar uma curta-metragem sobre a faina no Rio Douro - Douro, Faina Fluvial (1931) foi o seu primeiro
filme, que suscitou a admiração da crítica estrangeira e o desagrado dos críticos nacionais. Seria o primeiro documentário
de muitos que abordariam, de um ponto de vista etnográfico, o tema da vida marítima da costa de Portugal. Adquiriu
entretanto alguma formação técnica nos estúdios da Kodak, na Alemanha e, mantendo o gosto pela representação,
participou como actor no segundo filme sonoro português, A Canção de Lisboa (1933), de Cottinelli Telmo, vindo a dizer,
mais tarde, não se identificar com aquele estilo de cinema popular.
Só mais tarde, em 1942, se aventuraria na ficção como realizador: adaptado do conto Os Meninos Milionários, de João
Rodrigues de Freitas, filma Aniki-Bobó (1942), um enternecedor retrato da infância no cru ambiente neo-realista da Ribeira
do Porto. O filme foi um fracasso comercial, mas com o tempo daria que falar. Oliveira decidiu, talvez por isso, abandonar
outros projectos, envolvendo-se nos negócios da família. Só voltaria ao cinema catorze anos depois, com O Pintor e a
Cidade (1956).
Em 1963, O Acto da Primavera (segunda docuficção portuguesa) marcou uma nova fase do seu percurso. Com este filme,
praticamente ao mesmo tempo que António Campos, iniciou Oliveira em Portugal a prática da antropologia visual no
cinema.
BIOGRAFIA
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4. BIOGRAFIA (CONTINUAÇÃO)
O Acto da Primavera e A Caça são obras marcantes na carreira de Manoel de Oliveira. O primeiro filme é representativo enquanto incursão
no documentário, trabalhado com técnicas de encenação, o segundo – que conheceu a supressão de uma cena por parte da censura – como ficção
pura em que a encenação não se esquiva ao gosto do documentário. Por causa de alguns diálogos no filme passou dez dias de cadeia na PIDE. A obra
cinematográfica de Manoel de Oliveira, até então interrompida por pausas e projectos não-realizados, só a partir da sua futura longa metragem (O
Passado e o Presente, de 1971) prosseguiria sem quebras nem sobressaltos, por uns trinta anos, até ao final do século. A teatralidade imanente de O
Acto da Primavera, contaminando esta sua segunda ficção, afirmar-se-ia como estilo pessoal, como forma de expressão que Oliveira achou por bem
explorar nos seus filmes seguintes, apoiado por reflexões teóricas de amigos e conhecidos comentadores. A tetralogia dos amores frustrados seria o
palco por excelência de toda essa longa experimentação.
Em 1982, Manoel de Oliveira fez um documentário autobiográfico, fazendo confissões e contar-nos a sua memória. O cenário é a sua casa, onde vivia
em 1940 até há pouco tempo. Nela viveu alegrias e tristezas, como a detenção pela PIDE, em 1963, após o filme O Acto da Primavera. Foi nesses dez
dias passados na cadeia, que conheceu Urbano Tavares Rodrigues (sem saber quem era), ator com quem chegou a contracenar, e que participa neste
trabalho de Manoel de Oliveira. Por opção do cineasta, este documentário só será mostrado ao público após a sua morte. Em 1997, a revista Caras e o
canal privado de televisão, SIC, escolheram Manoel de Oliveira como o melhor realizador do ano.
Manoel de Oliveira insiste em dizer que só cria filmes pelo gozo de os fazer, independente da reacção dos críticos. Apesar dos múltiplos
condecorações em alguns dos festivais mais prestigiados do mundo, tais como o Festival de Cannes, Festival de Veneza ou o Festival de Montreal, leva
uma vida retirada e longe das luzes da ribalta. Durante o Festival de Cannes em 2008, foi congratulado e felicitado pessoalmente pelo actor norteamericano Clint Eastwood. Em 2008 completou cem anos de vida, tendo, entre outras, comemorações, sido condecorado pelo Presidente da
República, e assistido à produção de um sem número de documentários sobre a sua vida e obra. Centenário, dotado de uma resistência e saúde física
e mental inigualáveis, é o mais velho realizador do mundo em actividade, e ainda com planos futuros.
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6. TÉCNICA
A acção nos seus filmes desenrola-se de forma demasiado lenta, uma vez que a camara raramente se
move. O seu primeiro filme, Douro, Faina Fluvial, foi filmado com uma máquina de filmar Kimano, a sua
primeira máquina. A produção deste filme foi suportada financeiramente pelo próprio Manoel de
Oliveira e uma curiosidade resultante deste financiamento foi a forma com este o filmou, em negativo,
fazendo a positivação depois de montado.
“Às vezes acusam-me de que os meus filmes são muito falados. Ora, falados são os filmes
americanos, e falam sem dizer nada. Ao menos os meus filmes dizem alguma coisa porque eu escolho
textos ricos, bons, profundos, mais difíceis naturalmente”.
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14. MANOEL DE OLIVEIRA
VIDA & OBRA
HISTÓRIA DAS ARTES VISUAIS E CONTEMPORÂNEAS
PROFESSOR PEDRO COLAÇO DO ROSÁRIO
COM U N I CA ÇÃO & M U LT I MÉDIA , EC T/ U TAD
Ricardo Sousa
Nº 58330
2013
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