Centralizadores e inseguros, os paternalistas fortalecem a dependência dos seus liderados e ainda provocam outros estragos nas companhias.
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1. Os Gestores Paternalistas
Centralizadores e inseguros, os paternalistas fortalecem a dependência dos seus liderados e ainda
provocam outros estragos nas companhias.
Alguns anos atrás, convidado pelo diretor-geral de uma
companhia, compareci à reunião agendada e após identificar-me
na recepção, a secretária executiva anunciou pelo telefone: “Pai,
o consultor acabou de chegar.” Como é incomum a filha do dono
assumir este cargo em corporações com centenas de
colaboradores, o fato chamou a minha atenção.
Poucos minutos depois, ao adentrar a sala da presidência, um
dos colaboradores se despedia do empresário com estas
palavras: “Pai, fique tranquilo! Eu cuidarei de tudo o que o
senhor me pediu.” Ouvindo a seguinte recomendação: “Se surgir
alguma dúvida, não pense duas vezes para me procurar, hein?”
Num primeiro momento eu até poderia pensar que se tratava de outro filho trabalhando por lá, mas como
estes dois interlocutores tinham uma diferença de idade que não superava dez anos e ainda pude
conversar com várias pessoas durante as duas horas seguintes, não foi difícil captar que lá todos
realmente o viam como pai. Resumo da história: a empresa não precisava de um consultor e sim de um
terapeuta.
É claro que o exemplo desta empresa pode ser considerado como excepcional, mas já é hora das
organizações pararem de utilizar o velho discurso de que todos aqueles que ali trabalham formam uma
família, pois se houver disposição do alto staff em atuar de modo paternalista o estrago é certo por alguns
motivos.
O primeiro deles é que, invariavelmente, este tipo de liderança opta pela centralização, ainda que o
discurso seja outro. Sua mesa permanece lotada de coisas, orgulha-se de não tirar férias, fica no escritório
até mais tarde e lembra reiteradas vezes à equipe que levou trabalho para casa durante o final de semana.
É que posar de santo ajuda a disfarçar a insegurança pessoal que conserva em seu íntimo.
Também visto como “Oráculo”, adora fornecer respostas quando seus liderados estão diante de problemas
em vez de fazer as perguntas certas às pessoas para que elas mesmas possam encontrar as soluções
para os desafios que enfrentam. “O que seria de vocês sem mim?” é um mantra que evoca a todos e
poucos têm coragem de desacreditar.
O pior é que há uma parcela de funcionários que adoram este tipo de chefe, preferindo a dependência ao
amadurecimento, afinal assumir a responsabilidade pelo que lhes acontece dá muito mais trabalho do que
colocar em prática todos os conselhos e pílulas de sabedoria que escutam diariamente.
Por outro lado, adepto da crença de que os colaboradores devem obedecê-lo cegamente, não aprecia lidar
com pessoas criativas ou que apresentam alto potencial de liderança, já que os vê como impertinentes.
Além disto, tem dificuldades para fornecer feedback, avaliando a boa performance como obrigação das
pessoas e o desempenho insatisfatório como merecedor de castigo.
Mas será que não há um contexto no qual o estilo paternalista possa ser adotado? Existe sim. Quando o
seu time – ou algum dos liderados – detém alta capacidade técnica, mas se encontram desmotivados com
o trabalho é necessário oferecer o suporte adequado – inclusive emocional – que caracteriza o estilo
paternalista. Todavia, tão logo o nível de automotivação retorne a um bom patamar é necessário que o
líder deixe de exercer o papel de ajudador.
Até mesmo na educação dos filhos é importante conhecer os poucos momentos nos quais é possível
adotar o estilo paternalista e as várias situações nas quais é imprescindível evitá-lo a fim de que as
crianças cresçam seguras, autoconfiantes e se desenvolvam integralmente.
2. Quanto ao âmbito profissional, colaboradores capazes e autoconfiantes não são obra do acaso e sim o
reflexo de uma liderança madura e que inspira as pessoas a também amadurecerem. De um modelo de
gestão de quem não espera se perpetuar no cargo conservando a incompetência dos demais.
Wellington Moreira
Palestrante e consultor empresarial
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