O documento analisa o episódio da Ilha dos Amores em Os Lusíadas de Luís de Camões. A ilha representa o passado, presente e futuro de Portugal, simbolizando suas conquistas. Nela, Vénus recompensa os navegadores portugueses com belezas naturais e amor das ninfas, celebrando seus feitos heróicos e garantindo sua imortalidade.
1. ESCOLA SECUNDÁRIA JAIME MONIZ
PORTUGUÊS
Análise do episódio
“A Ilha dos Amores” ,
Os Lusíadas de Luís de Camões
Vítor Coelho
12º 16, nº. 26
2011/2012
2. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
O episódio da Ilha dos Amores é a síntese espaço-temporal e histórica da
trajectória portuguesa. Sendo ilha, compreende os elementos espaciais terra, mar e
céu. Tendo em conta que ela é o resultado presente da história de um povo e, ainda,
que nela acontece a profecia da ninfa, temos também na ilha a ocorrência dos três
planos temporais: o presente, o passado e o futuro.
Podemos fazer a correspondência entre estes espaços e estes planos temporais:
• a terra é o espaço de realização do passado português, o da consolidação do Reino;
• o mar é o lugar do presente em que se dá a acção expansionista;
• e na ilha prevê-se o futuro de outras conquistas que consumarão a grandeza e a
fama dos Portugueses.
3. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
N’ Os Lusíadas, Luís de Camões exalta os
feitos dos navegadores lusitanos e descreve os
perigos enfrentados. Depois de muitas
peripécias, seguem em direcção ao Cabo da Boa
Esperança, mas desejosos de voltar à pátria, para
relatar as ocorrências da viagem.
Ao mesmo tempo, Vénus tenta recompensá-
los de todas as dificuldades enfrentadas com um
prémio. Ajudada por Cupido, prepara-lhes uma
ilha maravilhosa onde as mais belas ninfas
esperarão por eles. Camões mostra o local como
um verdadeiro paraíso:
Nesta frescura tal desembarcaram
Já das naus os segundos argonautas,
Onde pela floresta se deixavam
Andar as belas deusas, como incautas
Algüas doces cítaras tocavam,
Algüas harpas e sonoras flautas;
Outras, cos arcos de ouro, se fingiam
Seguir os animais que não seguiam.
(...)
Duma os cabelos de ouro o vento leva
Correndo, e de outra as flaldas
delicadas.
Acende-se o desejo, que se cava
Nas alvas carnes, súbito mostradas.
4. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
O prémio do povo português é o alcance do paraíso terrestre e transcendente. A
Ilha dos Amores simboliza o prémio dos fatigados navegadores e a glorificação dos
feitos heróicos e a imortalidade do nome, para sempre gravado na História. O Amor
representa a vitória sobre o desconcerto do mundo com “u'a famosa expedição /
contra o mundo rebelde”.
Portanto, a concretização amorosa entre os navegadores e as ninfas é uma das
maiores conquistas d’ Os Lusíadas em toda a empreitada marítima. É a celebração da
vitória do povo que ousou desafiar os mares. No fundo, é um prémio àqueles que
bravamente navegaram para além “do que prometia a força humana.”
5. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
A divinização dos heróis é a conclusão da intriga mitológica: os portugueses, ao
longo da aventura narrativa, são favorecidos por Vénus e prejudicados por Baco. Os
homens tornam-se deuses e descem do pedestal as antigas divindades.
Assim, a recepção dos navegadores pelas ninfas significa a confirmação dos receios
de Baco: os navegadores cometeram actos tão grandiosos que se tornam amados por
deusas e, de certo modo, também divinos.
Aqui, Camões pretende imortalizar os heróis através de um acontecimento
nuclear: a viagem de Vasco da Gama à Índia.
6. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
O prémio dos navegadores portugueses não é só um banquete magnífico, mas
também o conhecimento da história futura, a contemplação do sistema cosmológico e
uma visão geográfica do globo.
Esta possibilidade de conhecimento é contrária às dores, frustrações e desespero e
a vida difícil que os navegantes suportaram durante vários meses.
Assim, a Ilha dos Amores mostra a competência do Homem na sua própria
superação e na busca permanente dos seus ideais, merecendo, pela sua acção, o
natural reconhecimento.
7. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
linguagem e recursos estilísticos
adjetivação rica, abundante e repetida para descrever ao pormenor “Mil
práticas alegres se tocavam/ Risos doces, sutis e argutos ditos” .
comparações, imagens, personificações, antíteses, repetições, jogos de
palavras (trocadilhos), paralelismos, enumerações e gradação das
representações, com o objectivo de clarear a mensagem e fazer o leitor ver e
sentir.
8. “A Ilha dos Amores”, n’Os Lusíadas
linguagem e recursos estilísticos
gerúndio e conjugação perifrástica, que traduzem movimento “Suaves vêm a um
tempo conformando. / Um súbito silêncio enfreia os ventos/ E faz ir docemente
murmurando ”
referência a sensações múltiplas, remetendo para a visão, a audição, o olfacto, o
tacto, o paladar. “Ali, em cadeiras ricas, cristalinas, / Se assentam dous e dous,
amante e dama; / Noutras, à cabeceira, d’ouro finas, / Está co a bela Deusa o claro
Gama. / De iguarias suaves e divinas,