SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 12
Baixar para ler offline
39
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
O texto apresenta reflexões sobre pesquisa (auto)biográfica e narra-
tivas de formação no campo educacional, ao destacar modos como
temos construído redes de pesquisas e práticas de formação, ao
sistematizar questões sobre análise compreensiva-interpretativa
de narrativas, tomando como referência questões teórico-metodo-
lógicas no campo da pesquisa (auto)biográfica. O texto organiza-se
a partir de duas ideias centrais, as quais buscam dialogar sobre a
configuração dos domínios da pesquisa (auto)biográfica no contexto
contemporâneo brasileiro, em seguida apresenta questões sobre po-
líticas de sentido e interpretação de narrativas no campo dos estudos
(auto)biográficos. Busca-se apresentar experiência de um projeto de
centrado nas narrativas escritas por professores em processo de for-
mação sobre diversidade afetivo-sexual e homofobia no cotidiano
escolar.
PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa (auto)biográfica, Análise de narrativas, Traba-
lho docente, Homofobia.
This work offers reflections on the (auto)biographical research and
formation narratives in the educational field, highlighting the way
we have been using them to construct research networks and for-
mation practices by systematizing questions about the comprehen-
sive-interpretative analysis of the narratives, taking as reference
theoretical-methodological questions in the field of (auto) biogra-
phical research. The text is developed from two central ideas which
on one hand aims to dialogue about the (auto)biographical research
domains configuration in the Brazilian contemporary context and,
on the other hand, presents questions on sense policies and nar-
ratives interpretation in the field of (auto)biographical studies. We
seek to present the experience from a project centered on written
narratives made by teachers on their education process about the
affective-sexual diversity and homophobia in everyday school life.
Abstract
Resumo
KEYWORDS: (auto)biographical research, Narratives analysis, Teachers
work, Homophobia.
Elizeu Clementino de Souza*
Universidade do Estado da Bahia
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica:
análise compreensiva-interpretativa e política de sentido
Crossed dialogues on (auto)biographical research: Interpretation-com-
prehensive and meening policy analysis
ISSN: 0101-9031 http://dx.doi.org/10.5902/1984644411344
40
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
No espaço-tempo contemporâneo, temos vivenciados questões legais, dis-
cussões metodológicas e ampliação do campo de pesquisa sobre as (auto)biografias no
domínio das Ciências Humanas e, mais especificamente, da formação de professores
(SOUZA, 2011; DELORY-MOMBERGER, 2012). Chamam-me a atenção as po-
laridades e discussões empreendidas sobre o lugar que ocupa o biográfico na esfera en-
tre público e privado, nas relações postas entre vidas singulares, anonimato, respeito ao
biografado e o trabalho de construção das biografias, como modo de revelar e desvelar
situações cotidianas de sujeitos implicados em seus espaços pessoais e profissionais.
Do ponto de vista da tradição da pesquisa acadêmica, avançamos, desde os
anos 20 (COULON, 1995), com as implicações epistemológicas dos sociólogos de
Chicago,até as críticas construídas sobre as biografias individuais e coletivas (BOUR-
DIEU, 2000), vistas como férteis para apreensão de dispositivos da vida social, huma-
na e das diferentes formas de representações que construímos sobre a vida.
O debate instalado neste momento, no Brasil, vem se vinculando muito
mais a questões jurídicas do que ao enfrentamento que se coloca na sociedade con-
temporânea, no que se refere às dinâmicas públicas e privadas da vida e das formas de
socialização de homens comuns, de artistas, de profissionais diversos e de suas impli-
cações com a história. O que se coloca como questão central é uma censura desvelada
sobre a vida, manifestada através de discussões sobre as biografias e suas interdições,
com base em um estatuto jurídico e legal, implicando significativamente na castração
das representações sobre a vida em suas múltiplas complexidades.
Em contextos de pesquisas e em práticas de formação, os acordos mútuos
entre sujeitos em formação bem como profissionais em acompanhamento e processos
de mediação biográfica dialogam sobre o lugar da oralidade e da escrita como dispo-
sitivos que possibilitam reflexões sobre a vida, a formação, as trajetórias individuais e
coletivas, bem como sobre o respeito à liberdade, autonomia e democracia individual
e social. Garantir o respeito às narrativas, aos percursos de vida-formação e possíveis
superações de formas de controle sobre o biografo e o biografado ou entre a escri-
ta (auto)biográfica e as disposições de formação são férteis para explicitar contextos,
conjunturas sociais, marcas individuais dos homens e mulheres em suas manifestações
sobre a vida.
Postas essas questões iniciais, intenciono partilhar reflexões sobre pesquisa
(auto)biográfica e narrativas de formação no campo educacional, ao destacar modos
como temos construído redes de pesquisas e práticas de formação,bem como sistema-
tizar questões sobre análise compreensiva-interpretativa de narrativas, ao tomar como
referências questões teórico-metodológicas no campo da pesquisa (auto)biográfica.
Narrativas e pesquisa (auto)biográfica: questões iniciais
No campo educacional brasileiro, as pesquisas (auto)biográficas tem se
consolidado como perspectiva de pesquisa e como práticas de formação, tendo em
vista a oportunidade que remete tanto para pesquisadores, quanto para sujeitos em
processo de formação narrarem suas experiências e explicitarem,através de suas narra-
tivas orais e/ou escritas,diferentes marcas que possibilitam construções de identidades
pessoais e coletivas.
41
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
A consolidação dessa abordagem de pesquisa vem sendo marcada por di-
versos estudos1
empreendidos nos diferentes programas de pós-graduação, na criação
e desenvolvimento de grupos de pesquisa e associações cientificas2
sobre tal objeto
no país, nas edições de diferentes congressos3
sobre a temática, publicações de livros4
e revistas que tem se dedicado ao (auto)biográfico como modos de socialização de
experiências em contextos de formação e de aprendizagens sociais e profissionais. O
movimento biográfico que se desenvolve e consolida nas Ciências Humanas e Sociais,
mais do que invadir a vida humana, parte de princípios deontológicos e busca assegu-
rar a vida, ao abrir espaços para socializações e partilhas de modos próprios de como
os sujeitos vivem, se desenvolvem, aprendem, enfrentam conflitos, buscam alternativas
para superar as adversidades da vida frente aos processos de inclusão/exclusão social.
Ao teorizar sobre o campo da pesquisa biográfica, Delory-Momberger
(2012) apresenta questões pertinentes aos pressupostos epistemológicos, as dimensões
metodológicas e as possibilidades de análise. As discussões construídas pela autora
buscam evidenciar configurações epistemológicas da pesquisa biográfica no domínio
da sociologia, ao entrecruzar relações específicas entre o indivíduo, na sua singularida-
de, com o biográfico e as experiências que são construídas ao longo da vida. Destaca
também aspectos relacionados à construção/produção de entrevista biográfica e ca-
tegorias de análise, no que se refere aos discursos, ações, motivos e gestão biográfica,
contidos nos textos narrativos.
As relações estabelecidas entre o projeto epistemológico da pesquisa bio-
gráfica e a antropologia social, conforme teorizadas por Delory-Momberger (2012),
inscrevem-se na constituição dos indivíduos e suas implicações socioculturais, lin-
guísticas, históricas, econômicas e políticas, ao explicitar marcas como os indivíduos
representam-se a si mesmos e aos outros numa perspectiva temporal de sua existen-
cialidade e das experiências construídas ao longo da vida. Assim, a pesquisa (auto)
biográfica nasce do indivíduo, em sua inserção social, mediante modos próprios de
biografização e de seus domínios social e singular. Da mesma forma, a temporalidade
biográfica configura-se como outra vertente estruturante da experiência humana e das
narrativas num tempo biográfico, ao explicitar territórios da vida individual e social,
através das experiências vividas e narradas pelos sujeitos,implicando-se com princípios
hermenêuticos e fenomenológicos que caracterizam a vida,o humano e suas diferentes
formas de expressão e manifestação.
Ao discutir sobre entrevista narrativa, como uma das possibilidade de co-
leta de dados na pesquisa biográfica Delory-Momberger (2012), discute aspectos re-
lacionados à finalidade de tal procedimento, destacando o papel da subjetividade, das
experiências constitutivas da individualidade e de processos de individuação, mediante
o exercício dialógico da escuta de disposições da “exterioridade social e interioridade
pessoal” (2012, p. 526) dos tempos e espaços das biografias individuais e coletivas.
Desta forma, entrevistar vincula-se a dimensões heurísticas, pois implica colocar-se a
ouvir histórias narradas, visto que
[...] A entrevista de pesquisa biográfica instaura assim um duplo
empreendimento de pesquisa, um duplo espaço heurístico que age
sobre cada um dos envolvidos: o espaço do entrevistado na posição
de entrevistador de si mesmo; o espaço do entrevistador, cujo objeto
próprio é criar as condições e compreender o trabalho do entrevis-
tado sobre si mesmo. (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 527)
42
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
As disposições construídas num processo de entrevista abrem muitas pos-
sibilidades de sentido, formação, compreensão e marcas biográficas da vida entre en-
trevistador e entrevistado, frente a partilha de experiências de vida e de percursos
biográficos vinculados a projetos de pesquisa ou à práticas de formação. Sobre essa
questão Bolívar (2012), ao tratar de princípios epistemológicos e metodológicos da
pesquisa (auto)biográfica, destaca questões sobre a abordagem qualitativa de pesquisa
e a vinculação do enfoque biográfico e narrativo como uma das formas de superação
de estudos pós-positivistas, centrando-se na reflexividade, na reconstrução de iden-
tidade, de percursos e trajetórias, mediante partilha de experiências e narrativas dos
sujeitos implicados em processo de pesquisa e formação.
No que se refere a entrevista narrativa, Souza (2011a), ao tomar princípios
teórico-metodológicos propostos por Jovchelovitch e Bauer (2002), tem construído,
no âmbito do Grupo de Pesquisa (Auto)biografia Formação e História Oral (GRA-
FHO), experiências de pesquisa centradas nas práticas de formação com as histórias
de vida e com a abordagem (auto)biográfica tanto em relação às práticas de formação,
a construção da identidade docente, quanto em relação às memórias e trajetórias pes-
soais e institucionais de professores em processo de formação, de memórias e histórias
de vida de educadores baianos. Bem como é centrada a atenção atualmente, em per-
cursos e trajetórias profissionais de professoras que trabalham em classes multisseria-
das em territórios rurais. Tais experiências de pesquisa-formação com as entrevistas
narrativas, tem possibilitado ao grupo, numa perspectiva de colaboração com outros
grupos de pesquisa do estado da Bahia, do Rio Grande do Norte e da França, siste-
matizar princípios sobre as narrativas de formação e aspectos relacionados ao trabalho
docente no domínio da pesquisa (auto)biográfica.
São diversas as possibilidades de análise com fontes narrativas, (auto)bio-
grafias, memoriais e com escritas em processo de formação. Cabe aqui destacar as
contribuições teóricas construídas por Poirier et. al (1999), sobre possibilidades di-
versas de análise interpretativa e compreensiva das histórias de vida, bem como as
proposições de Pineau (2000),quando discute sobre triangulação formativa e histórias
de vida em contexto de pesquisa e de formação, além das contribuições de Bolívar
(2012), quando teoriza sobre aspectos teórico-metodológicos da investigação narrati-
va e desafios postos no processo de análise das narrativas. Tenho apreendido tanto em
processo de pesquisa, quanto em processo de orientação, os desafios que são coloca-
dos para diferentes pesquisadores sobre a análise, compreensão e/ou interpretação de
narrativas (auto)biográficas, seja no conjunto de suas produções textuais e linguísticas,
seja através da construção de unidade de análises temáticas ou de análise de conteúdo
ou de discurso como uma das possibilidades metodológicas para análise de narrativas.
Diálogos cruzados, análise compreensiva-interpretativa e
política de sentido
Narrativas (auto)biográficas configuram-se como corpus de pesquisa, visto
que são recolhidas de forma oral e/ou escritas pois, como afirma Poirier et. al., corpus
pode ser entendido como “[...] um material qualitativo constituído por um conjunto
de histórias de vida, de sujeitos saídos de um universo populacional nitidamente defi-
nido e dos fins que se procura atingir [...]” (1999, p. 108).
43
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
Desta forma, narrativas (auto)biográficas construídas e recolhidas em pro-
cesso de pesquisa e/ou em práticas de investigação-formação, configuram-se como
corpus de análise, por considerar a subjetividade das fontes, seu valor heurístico e a
análise interpretativa-compreensiva (RICOEUR, 1996) implicada nas trajetórias de
vida, bem como pela implicação e importância que tem a narrativa em contexto de
pesquisas, a partir da fenomenologia das experiências. Narrativas (auto)biográficas,
construídas e/ou coletadas em processo de pesquisa ou em práticas de formação, cen-
tram-se nas trajetórias,percursos e experiências dos sujeitos,são marcadas por aspectos
históricos e subjetivo frente às reflexões e análises construídas por cada um sobre o ato
de lembrar, narrar e escrever sobre si.
A análise compreensiva-interpretativa das narrativas busca evidenciar a re-
lação entre o objeto e/ou as práticas de formação numa perspectiva colaborativa, seus
objetivos e o processo de investigação-formação, tendo em vista apreender regulari-
dades e irregularidades de um conjunto de narrativas orais ou escritas, partem sempre
da singularidade das histórias e das experiências contidas nas narrativas individuais e
coletivas dos sujeitos implicados em processos de pesquisa e formação.
Em trabalho anterior (SOUZA, 2006a), no que se refere a escrita de narra-
tivas da trajetória de escolarização e sobre processo de formação,busquei compreender,
numa perspectiva colaborativa e de auto revelação de cada ator sobre suas experiências
e lembranças, mediante implicações e distanciamentos de cada um em relação à sua
escrita narrativa, conhecimentos e aprendizagens individual/coletiva construídas ao
longo da vida. Conforme já explicitado em trabalho anterior,
Para a análise interpretativa das fontes utilizei a ideia metafórica
de uma leitura em três tempos, por considerar o tempo de lembrar,
narrar e refletir sobre o vivido. Desta forma, a interpretação aconte-
ceu desde o momento inicial da investigação-formação tanto para
o pesquisador, quanto para os sujeitos envolvidos no projeto de for-
mação, a qual se organizou a partir dos seguintes tempos: - Tempo
I: Pré-análise / leitura cruzada; - Tempo II: Leitura temática - uni-
dades de análise descritivas; - Tempo III: Leitura interpretativa-
compreensiva do corpus. (SOUZA, 2006a, p. 79)
Desta experiência de análise compreensiva-interpretativa, destaco que os
três tempos de análise como dimensão metodológica graduam entre si relações de
dialogicidade e reciprocidade, tendo em vista que mantem entre si aproximações, vizi-
nhanças, mas também singularidade em seus tempos, momentos de análise. Configu-
rado como tempo de análise cruzada ou pré-análise, o Tempo I centra-se na organiza-
ção e leitura das narrativas, tendo em vista a construção do perfil do grupo pesquisado,
para, em seguida avançar na leitura cruzada, a fim de apreender marcas singulares,
regularidades e irregularidades do conjunto das histórias de vida-formação.
Diante das questões éticas sobre as pesquisas com seres humanos, cabe aqui
destacar a importância de discussão do contrato de pesquisa, ao explicitar os objeti-
vos, suas intenções, processo de coleta dos dados, bem como a possibilidade ou não
de identificação dos colaboradores da pesquisa. De fato, essa questão requer bastante
atenção do pesquisador e dos colaboradores, exigindo diálogos constantes e caso tenha
aquiescência, por parte do colaborador, a assinatura de termo ou carta de cessão de
direitos. Outra opção é em função da impossibilidade de utilização do nome do/da
44
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
colaborador/a no relatório de pesquisa, ou para efeitos de publicação, discutir com o/a
mesmo/a possibilidade de identificação na pesquisa, a fim de preservar sua identidade.
O primeiro tempo de análise revela-se como singular, tendo em vista a
construção do perfil do grupo pesquisado, tanto na perspectiva individual, quanto co-
letiva.A escrita do perfil biográfico busca mapear dados identificadores de cada sujeito
individualmente e do grupo em sua dimensão coletiva,explicitando questões culturais,
socioeconômicas, biográficas (gênero, idade, relações familiares, etc), de formação e
das implicações/dificuldades em relação a narrativa oral e ou escrita. A leitura cruzada
ou pré-análise, em processo de pesquisa, de formação ou de investigação-formação
remete ao pesquisador para uma escuta sensível e atenta, bem como para a leitura
sucessiva das fontes, implicando no cruzamento individual e coletivo das histórias
dos colaboradores e do mapeamento inicial de significações e unidades temáticas de
análise, por considerar os eventos narrados ou descritos sobre o objeto específico de
pesquisa ou de formação, sempre centrado nos percursos, trajetórias e experiências de
vida dos sujeitos e das singularidades de cada história de vida.
No processo de leitura cruzada ou na pré-análise, faz-se pertinente consi-
derar as singularidades de cada história de vida expressa nos textos narrativos e reve-
lados pelos sujeitos. A partir do particular e do subjetivo (FERRAROTI, 1988) de
cada narrativa, implicam deslocamentos temporais e espaciais das trajetórias indivi-
dual e coletiva, combinando-se, articulando-se e, muitas vezes, distanciando-se num
conjunto, o do corpus, enquanto totalidade das fontes, numa perspectiva que nasce do
particular para o geral e vice-versa.
No que se refere ao Tempo II - Leitura temática ou unidades de análise te-
mática/descritiva -,cabe destacar que o mesmo vincula-se às leituras cruzadas (Tempo
I), tendo em vista a construção do perfil biográfico do grupo pesquisado e a possibili-
dade de apreensão de regularidades, irregularidades, particularidades e subjetividades
de cada história individualmente e do conjunto das narrativas do grupo, mediante a
organização temática e agrupamento de unidades de análise que possibilitam a com-
preensão-interpretação do texto narrativo, através do seu universo de significados e
significantes. Cabe destacar que o objeto central da análise temática, como tempo II,
consiste na construção, após a leitura cruzada, das unidades de análise temática, tendo
em vista a análise compreensiva-interpretativa.
De modo que, a análise temática visibiliza a complexidade, a singularidade
e a subjetividade das narrativas, exigindo um olhar e uma leitura atentos do pesquisa-
dor, uma vez que as regularidades, as irregularidades e as particularidades apresentam-
se na oralidade e na escrita, através dos sentidos e significados expressos e/ou não,
no universo particular das experiências de cada sujeito. A leitura analítica e a inter-
pretação temática têm o objetivo de reconstituir o conjunto das narrativas, no que se
refere à representação e agrupamento, através das unidades temáticas de análise, a fim
de apreender sutilezas, o indizível, as subjetividades, as diferenças e as regularidades
históricas que comportam e contem as fontes (auto)biográficas.
As contribuições e diálogos com Poirier (1999), possibilita-me compreen-
der que a revelação das unidades de análise temática (UAT) ou unidades descritivas
(UD) considera a pertinência, a homogeneidade e a heterogeneidade do conjunto das
fontes (auto)biográficas ou narrativas, visto que “[...] as histórias de vida não consti-
45
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
tuem, de modo algum, um inquérito verificatório, não visam nem estabelecer leis, nem
provar hipótese; têm por função recolher testemunhos, elucidá-los e descrever aconte-
cimentos vividos [...]” (Poirier et. al, 1999, p. 117).
Aqui, cabe explicitar algumas possibilidades de análise, após a identificação,
mapeamento e apreensão de unidades de análise temática ou de unidades descritivas,
as quais podem ser utilizadas na totalidade do texto narrativo biográfico ou da de-
marcação de excertos das narrativas (auto)biográficas. As quais remetem sempre para
a complexidade e a totalidade de cada experiência narrada, seja através da pertinência
e recorrência dos episódios ou das suas irregularidades e particularidades da vida em
suas diferentes formas de manifestação ou de expressão.
Ao utilizar princípios deontológicos, da hermenêutica e da fenomenologia,
a análise linguística e textual das narrativas (auto)biográficas pode ser construída a
partir do texto em sua totalidade, como utilizada pela História Oral, ou centrada na
análise temática ou descritiva, por considerar unidades de significação e excertos que
representem ou revelem regularidades ou irregularidades narradas pelos sujeitos, seja
individual ou coletivamente. Ainda assim, seja qual for a opção de análise, evidencia-
se a necessidade de constante retorno às narrativas (auto)biográficas, tendo em vista
esclarecer registros e articulações dialéticas das leituras temáticas e interpretativas no
processo de escrita e compreensão de percursos, trajetórias e experiências de vida dos
sujeitos, mediante o agrupamento de unidades de significações.
A construção de critérios de análise nasce articulada aos processos de lei-
tura cruzada, leitura analítica e leitura compreensiva-interpretativa, implicando-se no
modo como cada sujeito elege para narrar ou escrever sobre si, suas referências so-
cioculturais, as regularidades e irregularidades históricas dos percursos e trajetórias
de vida-formação, bem como pelo aprofundamento narrativo, frente a interioridade,
exterioridade e a subjetividade de cada narrativa. Ainda assim, as leituras temática, in-
terpretativa e compreensiva permitiram, como uma dimensão meta-reflexiva e de um
exercício metodológico, agrupar as unidades temáticas de análise através das recorrên-
cias e das irregularidades presentes nas narrativas, emergindo de um diálogo intertex-
tual e de uma análise horizontal das experiências individuais e coletivas contidas nas
narrativas. Conforme explicitam Poirier et. al. (1999), a “[...] análise horizontal resulta
do encadeamento, trecho a trecho, da totalidade do discurso organizado pelo sistema
categorial [...]”(p.125) e ainda continuam afirmando os autores que “[...] empregamos
o termo ‘análise horizontal’para indicar o trabalho sobre o conjunto do ‘corpus’,onde a
história é considerada só como um elemento de informação [...]”(idem, p. 125 – grifos
dos autores).
Diante das questões postas pelos autores, faz-se necessário explicitar duas
questões, a primeira diz respeito ao exercício constante de escuta e leitura para a cons-
trução de unidades de análise temática em articulação com a totalidade da história
narrada, contrapondo-se a ideia de categoria. A segunda refere-se as questões postas
entre pesquisa (auto)biográfica e o trabalho com as narrativas, exigindo uma posição
ética no processo da pesquisa ou das práticas de formação,em função da totalidade dos
conteúdos das histórias. Mesmo que a pesquisa utilize de fragmentos, aqui entendidos
como unidades de análise temática, para agrupar as experiências contempladas nas
narrativas e nos excertos biográficos dos sujeitos envolvidos num projeto de pesquisa
ou num processo experiencial de formação inicial ou continuada.
46
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
Ao tomar o conceito de Ferraroti (1988), de particular e geral, no que se
refere as narrativas e histórias de vida, compreende-se que a análise horizontal e as
unidades de análise temática possibilitam, a partir da leitura interpretativa-compre-
ensiva, superar o agrupamento sucessivo de repetições contidas nos textos narrativos
- saturação da informação -, explicitando particularidades individuais do corpus e da
seleção de lembranças e experiências significativas dos sujeitos em suas trajetórias de
vida, o que remete-nos à ideia de que o agrupamento das unidades de análise temática
vai se constituindo mediante ao sistema de referência de cada sujeito quando narra
sua própria história.
O Tempo III – análise interpretativa-compreensiva – vincula-se ao processo
de análise, desde o seu início, visto que exige leituras e releituras individuais e em seu
conjunto do corpus das narrativas, recorrendo aos agrupamentos das unidades de aná-
lise temática e/ou ao conjunto das narrativas e das fontes utilizadas.
Tendo em vista a ampliação dos modos de análises e das implicações da
pesquisa narrativa em processo de pesquisa ou em projeto de investigação-formação,
cabe destacar o lugar que ocupa a triangulação das fontes com histórias de vida, con-
forme explicita Pineau (2000), ao afirmar que “[...] en méthodologie des sciences hu-
maines, la triangulation est principalement vue comme une opération de croisement
de deux sources d’information permettant de comparer leurs données [...]” (p. 174).
Nesta perspectiva, a triangulação de fontes narrativas e biográficas pode permitir a
apreensão de questões relacionadas as trajetórias e percursos de vida-formação dos su-
jeitos, aprendizagens e experienciais construídas ao longo da vida, bem como questões
concernentes ao cotidiano escolar, ao trabalho docente, a sexualidade, a homossexua-
lidade e a homofobia no espaço social e escolar.
Assim, tendo em vista as questões sistematizadas sobre os três tempos de
análise - pré-análise e leitura cruzada, leitura temática e leitura interpretativa-com-
preensiva – buscarei descrever, de forma abreviada, uma experiência de pesquisa-for-
mação com professores da rede estadual de Salvador. A descrição debruça-se no que
se refere ao trabalho docente, ao cotidiano escolar e a homofobia no espaço da vida,
da formação e da prática profissional, sem contudo analisar os textos narrativos cons-
truídos no projeto.
Narrativas de formação: cotidiano escolar, homofobia e
trabalho docente
Tendo em vista explicitar experiências de um projeto específico de for-
mação, busco sistematizar aspectos relacionados às narrativas sobre trabalho docente,
cotidiano escolar e homofobia, a partir de narrativas construídas por professores e
professoras. Faço referência ao Projeto Direitos Humanos e diversidade afetivo-sexual
na escola: homofobia, trabalho docente e cotidiano escolar5
, o qual discutiu e sistematizou
questões sócio-históricas sobre a homossexualidade e suas diferentes formas de repre-
sentação no cotidiano social e escolar, bem como construiu modos de enfrentamento
de práticas homofóbicas. Desenvolveu-se ações que fortaleceram práticas autônomas,
tendo em vista incorporar concepções e práticas sobre direitos humanos e diversidade
afetivo-sexual, no trabalho docente e no cotidiano escolar, no que tange às Diretrizes
Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), adequando-os às condi-
ções locais no contexto das reformas atuais da Educação Básica.
47
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
Políticas de formação de professores poderão contribuir para a superação
de práticas normalizadoras no cotidiano escolar, especialmente, no que diz respeito
a homofobia e ao preconceito presentes no contexto social e escolar. Ações pontuais
vêm sendo desenvolvidas pela SECAD6
(Secretaria de Educação Continuada, Alfa-
betização e Diversidade), por Secretarias de Educação, ONGs e suas relações com a
escola, tendo em vista a redução da vulnerabilidade escolar frente às discriminações de
orientação sexual, sexismo, racismo e outros no ambiente público.
A proposta do trabalho centrou-se na discussão e planejamento de Semi-
nário de Formação sobre direitos humanos e diversidade sexual na escola, ao buscar
privilegiar suas diferentes formas de manifestações e de representações no cotidiano
escolar, com ênfase na construção sociocultural da sexualidade humana. Para melhor
entender as relações entre sexualidade e educação, no que concerne as representações
sexuais e discursos construídos por crianças, adolescentes e jovens no espaço escolar.
O projeto partiu de dimensões experienciais das lembranças/memórias de formação
dos professores e suas implicações com a diversidade e suas múltiplas expressões no
cotidiano social-escolar.
A proposição de escritas e de relatos narrativos (autobiográficos) com en-
tradas sobre as experiências e memórias de formação, relacionando-as com a cultura,
a diversidade e a sexualidade são férteis para a ressignificação do trabalho docente
na contemporaneidade. Desta forma, três questões mobilizaram a escrita dos relatos:
Como vivi na família e na infância questões relacionadas a sexualidade? Como foram
tratadas questões relacionadas a sexualidade e homossexualidade no meu processo de
formação? De que forma lido com questões relacionadas a sexualidade e homossexu-
alidade no cotidiano escolar?
A fim de concretizar tais possibilidades, o trabalho de formação estruturou-
se a partir da escrita de narrativas de formação, tendo em vista permitir que os profes-
sores pudessem construir modos de intervenção e práticas no seu cotidiano,capazes de
combater o preconceito e promover a igualdade. As análises que se propõem sobre os
excertos das narrativas partem da compreensão sócio-histórica e cultural das questões
da diversidade, valem-se do exame de várias representações e imagens, detendo-se nos
recursos artísticos (literários e cinematográficos) para promover interpretações férteis
e caminha em direção à construção de alternativas práticas de trabalho.
Neste sentido, as análises construídas coletivamente, no processo de forma-
ção, partiram do pressuposto de que a escola é uma importante peça na maquinaria
social de domesticação dos corpos, ocupando-se, assim como outras instituições, da
construção das masculinidades e feminilidades, heterossexualidades e homossexuali-
dades e, portanto, também da norma e do desvio. A explicitação de tais argumentos
partem da pesquisa realizada por Souza (2007),tendo em vista apreender modos como
a escola, enquanto espaço educacional formal concebe a sexualidade e constrói dispo-
sitivos sobre a homossexualidade, no cotidiano escolar, e quais discursos são veiculados
sobre a homofobia.
No que se refere ao modo como os sujeitos vivenciam em seu cotidiano
familiar e nas práticas de formação, questões sobre a sexualidade e a homossexuali-
dade, diversos textos narrativos partilhados no Seminário de Formação evidenciaram
silenciamentos por parte da família, bem como a clareza por parte da escola de formas
48
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
de enfrentamento dos preconceitos e das diferenças no seu cotidiano. A possibilidade
de constituição de uma escola plural, humanizadora e promotora da igualdade exige o
entendimento das configurações assumidas pelas desigualdades nos vários quadros so-
ciais e institucionais e a construção de estratégias que possam promover a integração,
tendo em conta as relações de gênero e a pluralidade étnico-cultural. Nesse sentido, a
escola comparece como espaço privilegiado para a integração, o respeito as diferenças.
Vivemos numa sociedade marcada pela pluralidade de imagens e de dife-
renças socioculturais. A escola, por sua vez, busca desenvolver seu projeto pedagógico
com ênfase nas diferenças e nas relações que os indivíduos estabelecem consigo pró-
prios e com os outros. Convém questionar, se nós, professores, desenvolvemos nossas
práticas, tendo em vista a assunção das identidades e o respeito às diferenças? Como
podemos viver os projetos de igualdade e respeito à diversidade, tão presente e mar-
cadas na sociedade brasileira? De que maneira a escola pode tornar-se um território
favorável à aprendizagem do convívio com a diferença?
Compreendo a educação como um processo de autotransformação do su-
jeito que envolve e provoca aprendizagens em diferentes domínios da existência, evi-
dencia-se o processo que acontece em cada sujeito, traduzindo-se na dinâmica que
estrutura ou é estruturada por cada um no seu modo de ser, estar, sentir, refletir e agir.
Sendo assim, a educação e, por consequência, a formação não se esbarram na trans-
missão e aquisição de saberes, na transferência de competências técnicas e profissio-
nais e tampouco na assertiva das potencialidades individuais. Filio-me à perspectiva
epistemológica da formação experiencial, por entender que a noção de processo de
formação que essa perspectiva implica possibilita o centramento no sujeito e na glo-
balidade da vida, entendida como interação da existência com as diversas esferas da
con-vivência como perspectiva educativa e formativa.
Referências
ABRAHÃO, M. H. M. B.; PASSEGGI, M. C. (Orgs.). Dimensões epistemológicas e me-
todológicas da pesquisa (auto)biográfica. Natal: EDUFRN; Porto Alegre: EdiPUCRS; Sal-
vador: EDUNEB. (Coleção Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais. V. 1 Tomo I, 2012)
ABRAHÃO, M. H. M. B. (Org.). Pesquisa (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2004.
BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In.: FERREIRA, M. M., AMADO, J. Usos & abusos da
História Oral. 3ª Edição, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2000, p. 183-191.
BUENO, B. O.; CHAMLIAN, H. C.; SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. Histórias de vida e
autobiografias na formação de professores e profissão docente (Brasil, 1985-2003). Educação e
Pesquisa, São Paulo, vol. 32, n. 2, p. 385-410, 2006.
COULON, A. A Escola de Chicago. São Paulo: Papirus, 1995.
DELORY-MOMBERGER, C. Abordagem metodológica na pesquisa biográfica. Revista
Brasileira de Educação, v. 17, n. 51, 523-740, set./dez. 2012.
FERRAROTI, F. Sobre a autonomia do método biográfico. In: NÓVOA, A.; FINGER, M. O
método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988, p. 17-34.
JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M. Entrevista narrativa. In: BAUER, M. W. ; GASKELL,
G. (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, Rio
de Janeiro: Vozes, 2002, p. 90-113.
49
Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise
compreensiva-interpretativa e política de sentido
educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014
PASSEGGI,M.C.(Org.).Tendências da pesquisa (auto)biográfica.São Paulo: Paulus; Natal:
EDUFRN, 2008.
PASSEGGI, M. C.; SOUZA, E. C. (Dir.). (Auto) Biografia: formação, territórios e saberes.
Natal: EDUFRN; São Paulo: PAULUS, 2008.
PINEAU, G. Temporalités em formation: vers de nouveaux synchroniseurs. Paris; Anthropos,
2000.
POIRIER, J. et al. Histórias de vida: teoria e prática. Trad. de João Quintela. Oeiras: Celta,
1999.
RICOEUR, P. Teoria da interpretação.Trad. de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1996.
SILVA, V. L. G.; CUNHA, J. L. (Orgs.). Práticas de formação, memória e pesquisa (auto)
biográfica. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
SOUZA, E. C.; BRAGANÇA, I. F. S. (Orgs.). Memória, dimensões sócio-históricas e trajetó-
rias de formação. Natal: EDUFRN; Porto Alegre: EdiPUCRS; Salvador: EDUNEB, v.3, 2012.
SOUZA, E. C. Memória, (auto)biográfica e diversidade: questões de método e trabalho do-
cente. Salvador: EDUFBA, 2011.
SOUZA, E. C. Territórios das escritas do eu: pensar a profissão – narrar a vida. Educação,
Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 213-220, maio/ago. 2011a.
SOUZA,E.C.(Org.).(Auto)biographie: écrits de soi et formation au Brésil.Paris: L´Harmat-
tan, 2008. (Coleção Histoire de Vie, Direção Gaston Pineau).
SOUZA, E. C. Fabricação de identidades e estruturação de dispositivos pedagógicos: a homos-
sexualidade, a família e a escola. In.: SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. Multiplicidades culturais:
projetos de formação e trabalho escolar. São Paulo: Escrituras: 2007, p. 93/109.
SOUZA, E. C. S. (Org.). Autobiografias, Histórias de vida e Formação: pesquisa e ensino.
Porto Alegre: EDIPUCRS; Salvador: EDUNEB, 2006.
SOUZA, E. C. O Conhecimento de si: estágio e narrativa de formação e professores. Rio de
Janeiro: DP&A; Salvador: UNEB, 2006a.
SOUZA, E. C.; SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. La recherche (auto)biographique et l’invention
de soi au Brésil. In.: PINEAU, Gaston (Dir.). Le biographique, la réflexivité et les temporali-
tés. Paris: L’Harmattan, 2008, p. 155-170.
SOUZA, E. C.; MIGNOT, A. C. V. (Orgs.). Histórias de vida e formação de professores. Rio
de Janeiro: Quartet: FAPERJ, 2008.
SOUZA,E.C.; ABRAHÃO,M.H.M.B.(Orgs.).Tempos,narrativas e ficções: a invenção de
si. Porto Alegre: EDIPUCRS; Salvador: EDUNEB, 2006.
STEPHANOU, M. Introdução - Jogos da memória nas esquinas dos tempos: territórios e prá-
ticas da pesquisa (auto)biográfica na pós-graduação em Educação no Brasil. In.: SOUZA, E.
C.; PASSEGGI, M. C. (Orgs.). Pesquisa (auto)biográfica: cotidiano, imaginário e memória.
Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2008, p. 18-53.
VICENTINI, P. P.; ABRAHÃO, M. H. M. B. (Orgs.). Sentidos, potencialidades e usos da
(auto)biografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. (Série Artes de viver, conhecer e formar)
Notas
1
Sobre os estudos relacionados ao estado da arte sobre pesquisa (auto)biográfica no campo educacional
brasileiro, cabe consultar os seguinte trabalhos: Bueno, Catani, Sousa e Chamlian (2006); Souza, Sousa e
Catani (2008), Stephanou (2008).
50
Elizeu Clementino de Souza
Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação
2
Cabe aqui destacar o pioneirismo da Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação e da
Pesquisa Biográfica em Educação (ASIHVIF-RBE), no contexto francófono e o trabalho da Associação
Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica (BIOgraph) e da Associação Norte e Nordeste das Histórias de
Vida em Formação (ANNIHVIF) no campo educacional brasileiro.
3
Do mesmo modo a rede de pesquisa propiciada pelo Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográ-
fica (CIPA), com as diferentes edições do congresso (I CIPA, 2004, Porto Alegre; II CIPA, 2006, Salvador;
III CIPA, 2008, Natal; IV CIPA 2010, São Paulo; V CIPA, 2012, Porto Alegre e a organização no VI
CIPA previsto para 2014, no Rio de Janeiro), evidenciam consolidação de redes de pesquisas e de trabalhos
sobre as (auto)biográficas como dispositivos de investigação,de formação e de pesquisa-formação no campo
educacional no País.
4
Aqui cabe destacar as publicações que resultaram das diferentes edições dos CIPA, especialmente o livro
de Abrahão (2004); Souza e Abrahão (2006); Souza (2006); Souza (2008); Passeggi e Souza (2008), Souza
e Mignot (2008), Vicentini e Abrahão (2010); Silva e Cunha (2010), Abrahão e Passeggi (2012), Souza
e Bragança (2012), bem como as coleções: Pesquisa (auto)biográfica & Educação (2008); Artes de Viver,
Conhecer e Formar (2010) e Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais (2012), as quais apresentam
um conjunto de textos de pesquisadores brasileiros, latino-americanos, europeus e norte-americanos sobre
questões teóricas e metodológicas da pesquisa (auto)biográfica.
5
Projeto desenvolvido pela Diretoria de Formação e Experimentação Educacional - DIRFE / IAT /SEC,
no período de junho 2008 a dezembro de 2008, através dos Seminários de Formação em escolas Polos de
Salvador,com Consultoria de Elizeu Clementino de Souza e Osvaldo Fernandez.O referido projeto buscou
discutir e sistematizar questões sócio-históricas sobre a homossexualidade, mapear representações dos(as)
professores(as) sobre a temática trabalhada,tendo em vista a proposição coletiva de modos de enfrentamen-
to de práticas homofóbicas na escola.
6
Quando no início do Governo Dilma, a SECAD passou a ser denominada de SECADI (Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), mudando completamente sua política de
ação em relação aos projetos sobre diversidade afetivo-sexual na escola.
* Professor Doutor da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, Bahia – Brasil.
Correspondência
Elizeu Clementino de Souza – Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus I.
Estrada das Barreiras, s/n, Narandiba, CEP: 41150-350 – Salvador, Bahia – Brasil.
E-mail: esclementino@uol.com.br
Recebido em 14 de outubro de 2013
Aprovado em 27 de novembro de 2013

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador
Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador
Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador Luis Ricardo Andrade da Silva
 
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de Filosofia
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de FilosofiaAlinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de Filosofia
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de FilosofiaPatrícia
 
Identidade e diferenca tomaz tadeu silva
Identidade e diferenca   tomaz tadeu silvaIdentidade e diferenca   tomaz tadeu silva
Identidade e diferenca tomaz tadeu silvaSuélen Neubert
 
Corpo e governabilidade isbn simples
Corpo e governabilidade isbn   simplesCorpo e governabilidade isbn   simples
Corpo e governabilidade isbn simplescmezz
 
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano Mary Alvarenga
 
2º a.antônia filosofia-pdf
2º a.antônia filosofia-pdf2º a.antônia filosofia-pdf
2º a.antônia filosofia-pdfFatima Moraes
 
1º a, b antonia-filosofia
1º a, b antonia-filosofia1º a, b antonia-filosofia
1º a, b antonia-filosofiaFatima Moraes
 
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticos
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticosEnsino de historia e questões de gênero nos livros didáticos
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticosGustavo Assis de Azevedo
 
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - FilosofiaConteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofiadenisealvesf
 
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...ProfessorPrincipiante
 
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferença
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferençaTomaz tadeu 2308 identidade e diferença
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferençaDany Pereira
 
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...Fábio Fernandes
 
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaLetramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaDouglas Marcos
 
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...UNEB
 
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Mary Alvarenga
 
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)amadeusalves1998
 

Mais procurados (19)

Artigo sonia helena et al(2)
Artigo sonia helena et al(2)Artigo sonia helena et al(2)
Artigo sonia helena et al(2)
 
Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador
Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador
Ecologia da informação nas bibliotecas comunitárias do Salvador
 
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de Filosofia
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de FilosofiaAlinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de Filosofia
Alinhamento de Conteúdos Básicos Mínimos de Filosofia
 
Identidade e diferenca tomaz tadeu silva
Identidade e diferenca   tomaz tadeu silvaIdentidade e diferenca   tomaz tadeu silva
Identidade e diferenca tomaz tadeu silva
 
Corpo e governabilidade isbn simples
Corpo e governabilidade isbn   simplesCorpo e governabilidade isbn   simples
Corpo e governabilidade isbn simples
 
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano
Plano de Ensino de Filosofia - Ensino Médio - 3º ano
 
2º a.antônia filosofia-pdf
2º a.antônia filosofia-pdf2º a.antônia filosofia-pdf
2º a.antônia filosofia-pdf
 
1º a, b antonia-filosofia
1º a, b antonia-filosofia1º a, b antonia-filosofia
1º a, b antonia-filosofia
 
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticos
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticosEnsino de historia e questões de gênero nos livros didáticos
Ensino de historia e questões de gênero nos livros didáticos
 
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - FilosofiaConteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
Conteúdo Básicos - Mínimos Ensino Médio do Tocantins - ALINHAMENTO - Filosofia
 
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...
O PROCESSO DE ESFORÇO-FORÇA DE VONTADE, DANDO FORMA À SUA COLCHA-VIDA-FORMAÇÃ...
 
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferença
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferençaTomaz tadeu 2308 identidade e diferença
Tomaz tadeu 2308 identidade e diferença
 
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...
RELAÇÕES DE GÊNERO: FONTES, METODOLOGIAS E POTENCIALIDADES DE PESQUISA EM HIS...
 
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escritaLetramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
Letramento e competência comunicativa a aprendizagem da escrita
 
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...
O erotismo com representação da transgressão a afirmação da mulher contemporâ...
 
07 guaracidasilvalopesmartins
07 guaracidasilvalopesmartins07 guaracidasilvalopesmartins
07 guaracidasilvalopesmartins
 
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
 
44 artigos-moraesaaa
44 artigos-moraesaaa44 artigos-moraesaaa
44 artigos-moraesaaa
 
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)
ensino de historia para historiadores de plantao (Historia)
 

Semelhante a Dialogos cruzados sobre pesquisa autobiog

ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ProfessorPrincipiante
 
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdf
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdfMétodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdf
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdfNucleoBiometria
 
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptx
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptxNarrativas Autobiográficas - PPGE.pptx
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptxDarleneMoraes1
 
Pcn história e sociologia
Pcn   história e sociologiaPcn   história e sociologia
Pcn história e sociologiapibidsociais
 
Pcn história e sociologia
Pcn   história e sociologiaPcn   história e sociologia
Pcn história e sociologiapibidsociais
 
A história na educação básica selva
A história na educação básica selvaA história na educação básica selva
A história na educação básica selvaCélia Barros
 
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...ProfessorPrincipiante
 
Projeto memórias programação1
Projeto memórias programação1Projeto memórias programação1
Projeto memórias programação1Olimpio Falconieri
 
Relato de prática pedagógica
Relato de prática pedagógicaRelato de prática pedagógica
Relato de prática pedagógicaElaine Moreira
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadoresmarcaocampos
 
Gêneros textuais marcuschi
Gêneros textuais   marcuschiGêneros textuais   marcuschi
Gêneros textuais marcuschiSonia Nudelman
 

Semelhante a Dialogos cruzados sobre pesquisa autobiog (20)

ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
ENTRE MOVIMENTOS INSTITUÍDOS E INSTITUINTES DE FORMAÇÃO NO COTIDIANO ESCOLAR:...
 
Artigo sobre curriculo
Artigo sobre curriculoArtigo sobre curriculo
Artigo sobre curriculo
 
resenha vera.pdf
resenha vera.pdfresenha vera.pdf
resenha vera.pdf
 
resenha vera.pdf
resenha vera.pdfresenha vera.pdf
resenha vera.pdf
 
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdf
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdfMétodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdf
Métodos+de+Investigação+em+História+da+Psicologia.pdf
 
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptx
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptxNarrativas Autobiográficas - PPGE.pptx
Narrativas Autobiográficas - PPGE.pptx
 
Discurso - Foucault.pptx
Discurso - Foucault.pptxDiscurso - Foucault.pptx
Discurso - Foucault.pptx
 
Pcn história e sociologia
Pcn   história e sociologiaPcn   história e sociologia
Pcn história e sociologia
 
Pcn história e sociologia
Pcn   história e sociologiaPcn   história e sociologia
Pcn história e sociologia
 
Letramentos
LetramentosLetramentos
Letramentos
 
413 1559-1-pb
413 1559-1-pb413 1559-1-pb
413 1559-1-pb
 
A história na educação básica selva
A história na educação básica selvaA história na educação básica selva
A história na educação básica selva
 
marianass,+03.pdf
marianass,+03.pdfmarianass,+03.pdf
marianass,+03.pdf
 
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...
IDENTIDADES DOCENTES E CULTURAS PROFISSIONAIS: ANÁLISE DE DISCURSO DE NARRATI...
 
Projeto memórias programação1
Projeto memórias programação1Projeto memórias programação1
Projeto memórias programação1
 
Relato de prática pedagógica
Relato de prática pedagógicaRelato de prática pedagógica
Relato de prática pedagógica
 
Genre por ana_ale
Genre por ana_aleGenre por ana_ale
Genre por ana_ale
 
artigo - GOMES et al., 2021.pdf
artigo - GOMES et al., 2021.pdfartigo - GOMES et al., 2021.pdf
artigo - GOMES et al., 2021.pdf
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
 
Gêneros textuais marcuschi
Gêneros textuais   marcuschiGêneros textuais   marcuschi
Gêneros textuais marcuschi
 

Último

BNCC Geografia.docx objeto de conhecimento
BNCC Geografia.docx objeto de conhecimentoBNCC Geografia.docx objeto de conhecimento
BNCC Geografia.docx objeto de conhecimentoGentil Eronides
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorEdvanirCosta
 
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobreAULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobremaryalouhannedelimao
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioDomingasMariaRomao
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 

Último (20)

BNCC Geografia.docx objeto de conhecimento
BNCC Geografia.docx objeto de conhecimentoBNCC Geografia.docx objeto de conhecimento
BNCC Geografia.docx objeto de conhecimento
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de ProfessorINTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
INTERVENÇÃO PARÁ - Formação de Professor
 
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobreAULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
AULA DE CARIOLOGIA TSB introdução tudo sobre
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medioAraribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
Araribá slides 9ano.pdf para os alunos do medio
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 

Dialogos cruzados sobre pesquisa autobiog

  • 1. 39 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 O texto apresenta reflexões sobre pesquisa (auto)biográfica e narra- tivas de formação no campo educacional, ao destacar modos como temos construído redes de pesquisas e práticas de formação, ao sistematizar questões sobre análise compreensiva-interpretativa de narrativas, tomando como referência questões teórico-metodo- lógicas no campo da pesquisa (auto)biográfica. O texto organiza-se a partir de duas ideias centrais, as quais buscam dialogar sobre a configuração dos domínios da pesquisa (auto)biográfica no contexto contemporâneo brasileiro, em seguida apresenta questões sobre po- líticas de sentido e interpretação de narrativas no campo dos estudos (auto)biográficos. Busca-se apresentar experiência de um projeto de centrado nas narrativas escritas por professores em processo de for- mação sobre diversidade afetivo-sexual e homofobia no cotidiano escolar. PALAVRAS-CHAVE: Pesquisa (auto)biográfica, Análise de narrativas, Traba- lho docente, Homofobia. This work offers reflections on the (auto)biographical research and formation narratives in the educational field, highlighting the way we have been using them to construct research networks and for- mation practices by systematizing questions about the comprehen- sive-interpretative analysis of the narratives, taking as reference theoretical-methodological questions in the field of (auto) biogra- phical research. The text is developed from two central ideas which on one hand aims to dialogue about the (auto)biographical research domains configuration in the Brazilian contemporary context and, on the other hand, presents questions on sense policies and nar- ratives interpretation in the field of (auto)biographical studies. We seek to present the experience from a project centered on written narratives made by teachers on their education process about the affective-sexual diversity and homophobia in everyday school life. Abstract Resumo KEYWORDS: (auto)biographical research, Narratives analysis, Teachers work, Homophobia. Elizeu Clementino de Souza* Universidade do Estado da Bahia Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido Crossed dialogues on (auto)biographical research: Interpretation-com- prehensive and meening policy analysis ISSN: 0101-9031 http://dx.doi.org/10.5902/1984644411344
  • 2. 40 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação No espaço-tempo contemporâneo, temos vivenciados questões legais, dis- cussões metodológicas e ampliação do campo de pesquisa sobre as (auto)biografias no domínio das Ciências Humanas e, mais especificamente, da formação de professores (SOUZA, 2011; DELORY-MOMBERGER, 2012). Chamam-me a atenção as po- laridades e discussões empreendidas sobre o lugar que ocupa o biográfico na esfera en- tre público e privado, nas relações postas entre vidas singulares, anonimato, respeito ao biografado e o trabalho de construção das biografias, como modo de revelar e desvelar situações cotidianas de sujeitos implicados em seus espaços pessoais e profissionais. Do ponto de vista da tradição da pesquisa acadêmica, avançamos, desde os anos 20 (COULON, 1995), com as implicações epistemológicas dos sociólogos de Chicago,até as críticas construídas sobre as biografias individuais e coletivas (BOUR- DIEU, 2000), vistas como férteis para apreensão de dispositivos da vida social, huma- na e das diferentes formas de representações que construímos sobre a vida. O debate instalado neste momento, no Brasil, vem se vinculando muito mais a questões jurídicas do que ao enfrentamento que se coloca na sociedade con- temporânea, no que se refere às dinâmicas públicas e privadas da vida e das formas de socialização de homens comuns, de artistas, de profissionais diversos e de suas impli- cações com a história. O que se coloca como questão central é uma censura desvelada sobre a vida, manifestada através de discussões sobre as biografias e suas interdições, com base em um estatuto jurídico e legal, implicando significativamente na castração das representações sobre a vida em suas múltiplas complexidades. Em contextos de pesquisas e em práticas de formação, os acordos mútuos entre sujeitos em formação bem como profissionais em acompanhamento e processos de mediação biográfica dialogam sobre o lugar da oralidade e da escrita como dispo- sitivos que possibilitam reflexões sobre a vida, a formação, as trajetórias individuais e coletivas, bem como sobre o respeito à liberdade, autonomia e democracia individual e social. Garantir o respeito às narrativas, aos percursos de vida-formação e possíveis superações de formas de controle sobre o biografo e o biografado ou entre a escri- ta (auto)biográfica e as disposições de formação são férteis para explicitar contextos, conjunturas sociais, marcas individuais dos homens e mulheres em suas manifestações sobre a vida. Postas essas questões iniciais, intenciono partilhar reflexões sobre pesquisa (auto)biográfica e narrativas de formação no campo educacional, ao destacar modos como temos construído redes de pesquisas e práticas de formação,bem como sistema- tizar questões sobre análise compreensiva-interpretativa de narrativas, ao tomar como referências questões teórico-metodológicas no campo da pesquisa (auto)biográfica. Narrativas e pesquisa (auto)biográfica: questões iniciais No campo educacional brasileiro, as pesquisas (auto)biográficas tem se consolidado como perspectiva de pesquisa e como práticas de formação, tendo em vista a oportunidade que remete tanto para pesquisadores, quanto para sujeitos em processo de formação narrarem suas experiências e explicitarem,através de suas narra- tivas orais e/ou escritas,diferentes marcas que possibilitam construções de identidades pessoais e coletivas.
  • 3. 41 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 A consolidação dessa abordagem de pesquisa vem sendo marcada por di- versos estudos1 empreendidos nos diferentes programas de pós-graduação, na criação e desenvolvimento de grupos de pesquisa e associações cientificas2 sobre tal objeto no país, nas edições de diferentes congressos3 sobre a temática, publicações de livros4 e revistas que tem se dedicado ao (auto)biográfico como modos de socialização de experiências em contextos de formação e de aprendizagens sociais e profissionais. O movimento biográfico que se desenvolve e consolida nas Ciências Humanas e Sociais, mais do que invadir a vida humana, parte de princípios deontológicos e busca assegu- rar a vida, ao abrir espaços para socializações e partilhas de modos próprios de como os sujeitos vivem, se desenvolvem, aprendem, enfrentam conflitos, buscam alternativas para superar as adversidades da vida frente aos processos de inclusão/exclusão social. Ao teorizar sobre o campo da pesquisa biográfica, Delory-Momberger (2012) apresenta questões pertinentes aos pressupostos epistemológicos, as dimensões metodológicas e as possibilidades de análise. As discussões construídas pela autora buscam evidenciar configurações epistemológicas da pesquisa biográfica no domínio da sociologia, ao entrecruzar relações específicas entre o indivíduo, na sua singularida- de, com o biográfico e as experiências que são construídas ao longo da vida. Destaca também aspectos relacionados à construção/produção de entrevista biográfica e ca- tegorias de análise, no que se refere aos discursos, ações, motivos e gestão biográfica, contidos nos textos narrativos. As relações estabelecidas entre o projeto epistemológico da pesquisa bio- gráfica e a antropologia social, conforme teorizadas por Delory-Momberger (2012), inscrevem-se na constituição dos indivíduos e suas implicações socioculturais, lin- guísticas, históricas, econômicas e políticas, ao explicitar marcas como os indivíduos representam-se a si mesmos e aos outros numa perspectiva temporal de sua existen- cialidade e das experiências construídas ao longo da vida. Assim, a pesquisa (auto) biográfica nasce do indivíduo, em sua inserção social, mediante modos próprios de biografização e de seus domínios social e singular. Da mesma forma, a temporalidade biográfica configura-se como outra vertente estruturante da experiência humana e das narrativas num tempo biográfico, ao explicitar territórios da vida individual e social, através das experiências vividas e narradas pelos sujeitos,implicando-se com princípios hermenêuticos e fenomenológicos que caracterizam a vida,o humano e suas diferentes formas de expressão e manifestação. Ao discutir sobre entrevista narrativa, como uma das possibilidade de co- leta de dados na pesquisa biográfica Delory-Momberger (2012), discute aspectos re- lacionados à finalidade de tal procedimento, destacando o papel da subjetividade, das experiências constitutivas da individualidade e de processos de individuação, mediante o exercício dialógico da escuta de disposições da “exterioridade social e interioridade pessoal” (2012, p. 526) dos tempos e espaços das biografias individuais e coletivas. Desta forma, entrevistar vincula-se a dimensões heurísticas, pois implica colocar-se a ouvir histórias narradas, visto que [...] A entrevista de pesquisa biográfica instaura assim um duplo empreendimento de pesquisa, um duplo espaço heurístico que age sobre cada um dos envolvidos: o espaço do entrevistado na posição de entrevistador de si mesmo; o espaço do entrevistador, cujo objeto próprio é criar as condições e compreender o trabalho do entrevis- tado sobre si mesmo. (DELORY-MOMBERGER, 2012, p. 527)
  • 4. 42 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação As disposições construídas num processo de entrevista abrem muitas pos- sibilidades de sentido, formação, compreensão e marcas biográficas da vida entre en- trevistador e entrevistado, frente a partilha de experiências de vida e de percursos biográficos vinculados a projetos de pesquisa ou à práticas de formação. Sobre essa questão Bolívar (2012), ao tratar de princípios epistemológicos e metodológicos da pesquisa (auto)biográfica, destaca questões sobre a abordagem qualitativa de pesquisa e a vinculação do enfoque biográfico e narrativo como uma das formas de superação de estudos pós-positivistas, centrando-se na reflexividade, na reconstrução de iden- tidade, de percursos e trajetórias, mediante partilha de experiências e narrativas dos sujeitos implicados em processo de pesquisa e formação. No que se refere a entrevista narrativa, Souza (2011a), ao tomar princípios teórico-metodológicos propostos por Jovchelovitch e Bauer (2002), tem construído, no âmbito do Grupo de Pesquisa (Auto)biografia Formação e História Oral (GRA- FHO), experiências de pesquisa centradas nas práticas de formação com as histórias de vida e com a abordagem (auto)biográfica tanto em relação às práticas de formação, a construção da identidade docente, quanto em relação às memórias e trajetórias pes- soais e institucionais de professores em processo de formação, de memórias e histórias de vida de educadores baianos. Bem como é centrada a atenção atualmente, em per- cursos e trajetórias profissionais de professoras que trabalham em classes multisseria- das em territórios rurais. Tais experiências de pesquisa-formação com as entrevistas narrativas, tem possibilitado ao grupo, numa perspectiva de colaboração com outros grupos de pesquisa do estado da Bahia, do Rio Grande do Norte e da França, siste- matizar princípios sobre as narrativas de formação e aspectos relacionados ao trabalho docente no domínio da pesquisa (auto)biográfica. São diversas as possibilidades de análise com fontes narrativas, (auto)bio- grafias, memoriais e com escritas em processo de formação. Cabe aqui destacar as contribuições teóricas construídas por Poirier et. al (1999), sobre possibilidades di- versas de análise interpretativa e compreensiva das histórias de vida, bem como as proposições de Pineau (2000),quando discute sobre triangulação formativa e histórias de vida em contexto de pesquisa e de formação, além das contribuições de Bolívar (2012), quando teoriza sobre aspectos teórico-metodológicos da investigação narrati- va e desafios postos no processo de análise das narrativas. Tenho apreendido tanto em processo de pesquisa, quanto em processo de orientação, os desafios que são coloca- dos para diferentes pesquisadores sobre a análise, compreensão e/ou interpretação de narrativas (auto)biográficas, seja no conjunto de suas produções textuais e linguísticas, seja através da construção de unidade de análises temáticas ou de análise de conteúdo ou de discurso como uma das possibilidades metodológicas para análise de narrativas. Diálogos cruzados, análise compreensiva-interpretativa e política de sentido Narrativas (auto)biográficas configuram-se como corpus de pesquisa, visto que são recolhidas de forma oral e/ou escritas pois, como afirma Poirier et. al., corpus pode ser entendido como “[...] um material qualitativo constituído por um conjunto de histórias de vida, de sujeitos saídos de um universo populacional nitidamente defi- nido e dos fins que se procura atingir [...]” (1999, p. 108).
  • 5. 43 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 Desta forma, narrativas (auto)biográficas construídas e recolhidas em pro- cesso de pesquisa e/ou em práticas de investigação-formação, configuram-se como corpus de análise, por considerar a subjetividade das fontes, seu valor heurístico e a análise interpretativa-compreensiva (RICOEUR, 1996) implicada nas trajetórias de vida, bem como pela implicação e importância que tem a narrativa em contexto de pesquisas, a partir da fenomenologia das experiências. Narrativas (auto)biográficas, construídas e/ou coletadas em processo de pesquisa ou em práticas de formação, cen- tram-se nas trajetórias,percursos e experiências dos sujeitos,são marcadas por aspectos históricos e subjetivo frente às reflexões e análises construídas por cada um sobre o ato de lembrar, narrar e escrever sobre si. A análise compreensiva-interpretativa das narrativas busca evidenciar a re- lação entre o objeto e/ou as práticas de formação numa perspectiva colaborativa, seus objetivos e o processo de investigação-formação, tendo em vista apreender regulari- dades e irregularidades de um conjunto de narrativas orais ou escritas, partem sempre da singularidade das histórias e das experiências contidas nas narrativas individuais e coletivas dos sujeitos implicados em processos de pesquisa e formação. Em trabalho anterior (SOUZA, 2006a), no que se refere a escrita de narra- tivas da trajetória de escolarização e sobre processo de formação,busquei compreender, numa perspectiva colaborativa e de auto revelação de cada ator sobre suas experiências e lembranças, mediante implicações e distanciamentos de cada um em relação à sua escrita narrativa, conhecimentos e aprendizagens individual/coletiva construídas ao longo da vida. Conforme já explicitado em trabalho anterior, Para a análise interpretativa das fontes utilizei a ideia metafórica de uma leitura em três tempos, por considerar o tempo de lembrar, narrar e refletir sobre o vivido. Desta forma, a interpretação aconte- ceu desde o momento inicial da investigação-formação tanto para o pesquisador, quanto para os sujeitos envolvidos no projeto de for- mação, a qual se organizou a partir dos seguintes tempos: - Tempo I: Pré-análise / leitura cruzada; - Tempo II: Leitura temática - uni- dades de análise descritivas; - Tempo III: Leitura interpretativa- compreensiva do corpus. (SOUZA, 2006a, p. 79) Desta experiência de análise compreensiva-interpretativa, destaco que os três tempos de análise como dimensão metodológica graduam entre si relações de dialogicidade e reciprocidade, tendo em vista que mantem entre si aproximações, vizi- nhanças, mas também singularidade em seus tempos, momentos de análise. Configu- rado como tempo de análise cruzada ou pré-análise, o Tempo I centra-se na organiza- ção e leitura das narrativas, tendo em vista a construção do perfil do grupo pesquisado, para, em seguida avançar na leitura cruzada, a fim de apreender marcas singulares, regularidades e irregularidades do conjunto das histórias de vida-formação. Diante das questões éticas sobre as pesquisas com seres humanos, cabe aqui destacar a importância de discussão do contrato de pesquisa, ao explicitar os objeti- vos, suas intenções, processo de coleta dos dados, bem como a possibilidade ou não de identificação dos colaboradores da pesquisa. De fato, essa questão requer bastante atenção do pesquisador e dos colaboradores, exigindo diálogos constantes e caso tenha aquiescência, por parte do colaborador, a assinatura de termo ou carta de cessão de direitos. Outra opção é em função da impossibilidade de utilização do nome do/da
  • 6. 44 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação colaborador/a no relatório de pesquisa, ou para efeitos de publicação, discutir com o/a mesmo/a possibilidade de identificação na pesquisa, a fim de preservar sua identidade. O primeiro tempo de análise revela-se como singular, tendo em vista a construção do perfil do grupo pesquisado, tanto na perspectiva individual, quanto co- letiva.A escrita do perfil biográfico busca mapear dados identificadores de cada sujeito individualmente e do grupo em sua dimensão coletiva,explicitando questões culturais, socioeconômicas, biográficas (gênero, idade, relações familiares, etc), de formação e das implicações/dificuldades em relação a narrativa oral e ou escrita. A leitura cruzada ou pré-análise, em processo de pesquisa, de formação ou de investigação-formação remete ao pesquisador para uma escuta sensível e atenta, bem como para a leitura sucessiva das fontes, implicando no cruzamento individual e coletivo das histórias dos colaboradores e do mapeamento inicial de significações e unidades temáticas de análise, por considerar os eventos narrados ou descritos sobre o objeto específico de pesquisa ou de formação, sempre centrado nos percursos, trajetórias e experiências de vida dos sujeitos e das singularidades de cada história de vida. No processo de leitura cruzada ou na pré-análise, faz-se pertinente consi- derar as singularidades de cada história de vida expressa nos textos narrativos e reve- lados pelos sujeitos. A partir do particular e do subjetivo (FERRAROTI, 1988) de cada narrativa, implicam deslocamentos temporais e espaciais das trajetórias indivi- dual e coletiva, combinando-se, articulando-se e, muitas vezes, distanciando-se num conjunto, o do corpus, enquanto totalidade das fontes, numa perspectiva que nasce do particular para o geral e vice-versa. No que se refere ao Tempo II - Leitura temática ou unidades de análise te- mática/descritiva -,cabe destacar que o mesmo vincula-se às leituras cruzadas (Tempo I), tendo em vista a construção do perfil biográfico do grupo pesquisado e a possibili- dade de apreensão de regularidades, irregularidades, particularidades e subjetividades de cada história individualmente e do conjunto das narrativas do grupo, mediante a organização temática e agrupamento de unidades de análise que possibilitam a com- preensão-interpretação do texto narrativo, através do seu universo de significados e significantes. Cabe destacar que o objeto central da análise temática, como tempo II, consiste na construção, após a leitura cruzada, das unidades de análise temática, tendo em vista a análise compreensiva-interpretativa. De modo que, a análise temática visibiliza a complexidade, a singularidade e a subjetividade das narrativas, exigindo um olhar e uma leitura atentos do pesquisa- dor, uma vez que as regularidades, as irregularidades e as particularidades apresentam- se na oralidade e na escrita, através dos sentidos e significados expressos e/ou não, no universo particular das experiências de cada sujeito. A leitura analítica e a inter- pretação temática têm o objetivo de reconstituir o conjunto das narrativas, no que se refere à representação e agrupamento, através das unidades temáticas de análise, a fim de apreender sutilezas, o indizível, as subjetividades, as diferenças e as regularidades históricas que comportam e contem as fontes (auto)biográficas. As contribuições e diálogos com Poirier (1999), possibilita-me compreen- der que a revelação das unidades de análise temática (UAT) ou unidades descritivas (UD) considera a pertinência, a homogeneidade e a heterogeneidade do conjunto das fontes (auto)biográficas ou narrativas, visto que “[...] as histórias de vida não consti-
  • 7. 45 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 tuem, de modo algum, um inquérito verificatório, não visam nem estabelecer leis, nem provar hipótese; têm por função recolher testemunhos, elucidá-los e descrever aconte- cimentos vividos [...]” (Poirier et. al, 1999, p. 117). Aqui, cabe explicitar algumas possibilidades de análise, após a identificação, mapeamento e apreensão de unidades de análise temática ou de unidades descritivas, as quais podem ser utilizadas na totalidade do texto narrativo biográfico ou da de- marcação de excertos das narrativas (auto)biográficas. As quais remetem sempre para a complexidade e a totalidade de cada experiência narrada, seja através da pertinência e recorrência dos episódios ou das suas irregularidades e particularidades da vida em suas diferentes formas de manifestação ou de expressão. Ao utilizar princípios deontológicos, da hermenêutica e da fenomenologia, a análise linguística e textual das narrativas (auto)biográficas pode ser construída a partir do texto em sua totalidade, como utilizada pela História Oral, ou centrada na análise temática ou descritiva, por considerar unidades de significação e excertos que representem ou revelem regularidades ou irregularidades narradas pelos sujeitos, seja individual ou coletivamente. Ainda assim, seja qual for a opção de análise, evidencia- se a necessidade de constante retorno às narrativas (auto)biográficas, tendo em vista esclarecer registros e articulações dialéticas das leituras temáticas e interpretativas no processo de escrita e compreensão de percursos, trajetórias e experiências de vida dos sujeitos, mediante o agrupamento de unidades de significações. A construção de critérios de análise nasce articulada aos processos de lei- tura cruzada, leitura analítica e leitura compreensiva-interpretativa, implicando-se no modo como cada sujeito elege para narrar ou escrever sobre si, suas referências so- cioculturais, as regularidades e irregularidades históricas dos percursos e trajetórias de vida-formação, bem como pelo aprofundamento narrativo, frente a interioridade, exterioridade e a subjetividade de cada narrativa. Ainda assim, as leituras temática, in- terpretativa e compreensiva permitiram, como uma dimensão meta-reflexiva e de um exercício metodológico, agrupar as unidades temáticas de análise através das recorrên- cias e das irregularidades presentes nas narrativas, emergindo de um diálogo intertex- tual e de uma análise horizontal das experiências individuais e coletivas contidas nas narrativas. Conforme explicitam Poirier et. al. (1999), a “[...] análise horizontal resulta do encadeamento, trecho a trecho, da totalidade do discurso organizado pelo sistema categorial [...]”(p.125) e ainda continuam afirmando os autores que “[...] empregamos o termo ‘análise horizontal’para indicar o trabalho sobre o conjunto do ‘corpus’,onde a história é considerada só como um elemento de informação [...]”(idem, p. 125 – grifos dos autores). Diante das questões postas pelos autores, faz-se necessário explicitar duas questões, a primeira diz respeito ao exercício constante de escuta e leitura para a cons- trução de unidades de análise temática em articulação com a totalidade da história narrada, contrapondo-se a ideia de categoria. A segunda refere-se as questões postas entre pesquisa (auto)biográfica e o trabalho com as narrativas, exigindo uma posição ética no processo da pesquisa ou das práticas de formação,em função da totalidade dos conteúdos das histórias. Mesmo que a pesquisa utilize de fragmentos, aqui entendidos como unidades de análise temática, para agrupar as experiências contempladas nas narrativas e nos excertos biográficos dos sujeitos envolvidos num projeto de pesquisa ou num processo experiencial de formação inicial ou continuada.
  • 8. 46 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação Ao tomar o conceito de Ferraroti (1988), de particular e geral, no que se refere as narrativas e histórias de vida, compreende-se que a análise horizontal e as unidades de análise temática possibilitam, a partir da leitura interpretativa-compre- ensiva, superar o agrupamento sucessivo de repetições contidas nos textos narrativos - saturação da informação -, explicitando particularidades individuais do corpus e da seleção de lembranças e experiências significativas dos sujeitos em suas trajetórias de vida, o que remete-nos à ideia de que o agrupamento das unidades de análise temática vai se constituindo mediante ao sistema de referência de cada sujeito quando narra sua própria história. O Tempo III – análise interpretativa-compreensiva – vincula-se ao processo de análise, desde o seu início, visto que exige leituras e releituras individuais e em seu conjunto do corpus das narrativas, recorrendo aos agrupamentos das unidades de aná- lise temática e/ou ao conjunto das narrativas e das fontes utilizadas. Tendo em vista a ampliação dos modos de análises e das implicações da pesquisa narrativa em processo de pesquisa ou em projeto de investigação-formação, cabe destacar o lugar que ocupa a triangulação das fontes com histórias de vida, con- forme explicita Pineau (2000), ao afirmar que “[...] en méthodologie des sciences hu- maines, la triangulation est principalement vue comme une opération de croisement de deux sources d’information permettant de comparer leurs données [...]” (p. 174). Nesta perspectiva, a triangulação de fontes narrativas e biográficas pode permitir a apreensão de questões relacionadas as trajetórias e percursos de vida-formação dos su- jeitos, aprendizagens e experienciais construídas ao longo da vida, bem como questões concernentes ao cotidiano escolar, ao trabalho docente, a sexualidade, a homossexua- lidade e a homofobia no espaço social e escolar. Assim, tendo em vista as questões sistematizadas sobre os três tempos de análise - pré-análise e leitura cruzada, leitura temática e leitura interpretativa-com- preensiva – buscarei descrever, de forma abreviada, uma experiência de pesquisa-for- mação com professores da rede estadual de Salvador. A descrição debruça-se no que se refere ao trabalho docente, ao cotidiano escolar e a homofobia no espaço da vida, da formação e da prática profissional, sem contudo analisar os textos narrativos cons- truídos no projeto. Narrativas de formação: cotidiano escolar, homofobia e trabalho docente Tendo em vista explicitar experiências de um projeto específico de for- mação, busco sistematizar aspectos relacionados às narrativas sobre trabalho docente, cotidiano escolar e homofobia, a partir de narrativas construídas por professores e professoras. Faço referência ao Projeto Direitos Humanos e diversidade afetivo-sexual na escola: homofobia, trabalho docente e cotidiano escolar5 , o qual discutiu e sistematizou questões sócio-históricas sobre a homossexualidade e suas diferentes formas de repre- sentação no cotidiano social e escolar, bem como construiu modos de enfrentamento de práticas homofóbicas. Desenvolveu-se ações que fortaleceram práticas autônomas, tendo em vista incorporar concepções e práticas sobre direitos humanos e diversidade afetivo-sexual, no trabalho docente e no cotidiano escolar, no que tange às Diretrizes Nacionais e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), adequando-os às condi- ções locais no contexto das reformas atuais da Educação Básica.
  • 9. 47 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 Políticas de formação de professores poderão contribuir para a superação de práticas normalizadoras no cotidiano escolar, especialmente, no que diz respeito a homofobia e ao preconceito presentes no contexto social e escolar. Ações pontuais vêm sendo desenvolvidas pela SECAD6 (Secretaria de Educação Continuada, Alfa- betização e Diversidade), por Secretarias de Educação, ONGs e suas relações com a escola, tendo em vista a redução da vulnerabilidade escolar frente às discriminações de orientação sexual, sexismo, racismo e outros no ambiente público. A proposta do trabalho centrou-se na discussão e planejamento de Semi- nário de Formação sobre direitos humanos e diversidade sexual na escola, ao buscar privilegiar suas diferentes formas de manifestações e de representações no cotidiano escolar, com ênfase na construção sociocultural da sexualidade humana. Para melhor entender as relações entre sexualidade e educação, no que concerne as representações sexuais e discursos construídos por crianças, adolescentes e jovens no espaço escolar. O projeto partiu de dimensões experienciais das lembranças/memórias de formação dos professores e suas implicações com a diversidade e suas múltiplas expressões no cotidiano social-escolar. A proposição de escritas e de relatos narrativos (autobiográficos) com en- tradas sobre as experiências e memórias de formação, relacionando-as com a cultura, a diversidade e a sexualidade são férteis para a ressignificação do trabalho docente na contemporaneidade. Desta forma, três questões mobilizaram a escrita dos relatos: Como vivi na família e na infância questões relacionadas a sexualidade? Como foram tratadas questões relacionadas a sexualidade e homossexualidade no meu processo de formação? De que forma lido com questões relacionadas a sexualidade e homossexu- alidade no cotidiano escolar? A fim de concretizar tais possibilidades, o trabalho de formação estruturou- se a partir da escrita de narrativas de formação, tendo em vista permitir que os profes- sores pudessem construir modos de intervenção e práticas no seu cotidiano,capazes de combater o preconceito e promover a igualdade. As análises que se propõem sobre os excertos das narrativas partem da compreensão sócio-histórica e cultural das questões da diversidade, valem-se do exame de várias representações e imagens, detendo-se nos recursos artísticos (literários e cinematográficos) para promover interpretações férteis e caminha em direção à construção de alternativas práticas de trabalho. Neste sentido, as análises construídas coletivamente, no processo de forma- ção, partiram do pressuposto de que a escola é uma importante peça na maquinaria social de domesticação dos corpos, ocupando-se, assim como outras instituições, da construção das masculinidades e feminilidades, heterossexualidades e homossexuali- dades e, portanto, também da norma e do desvio. A explicitação de tais argumentos partem da pesquisa realizada por Souza (2007),tendo em vista apreender modos como a escola, enquanto espaço educacional formal concebe a sexualidade e constrói dispo- sitivos sobre a homossexualidade, no cotidiano escolar, e quais discursos são veiculados sobre a homofobia. No que se refere ao modo como os sujeitos vivenciam em seu cotidiano familiar e nas práticas de formação, questões sobre a sexualidade e a homossexuali- dade, diversos textos narrativos partilhados no Seminário de Formação evidenciaram silenciamentos por parte da família, bem como a clareza por parte da escola de formas
  • 10. 48 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação de enfrentamento dos preconceitos e das diferenças no seu cotidiano. A possibilidade de constituição de uma escola plural, humanizadora e promotora da igualdade exige o entendimento das configurações assumidas pelas desigualdades nos vários quadros so- ciais e institucionais e a construção de estratégias que possam promover a integração, tendo em conta as relações de gênero e a pluralidade étnico-cultural. Nesse sentido, a escola comparece como espaço privilegiado para a integração, o respeito as diferenças. Vivemos numa sociedade marcada pela pluralidade de imagens e de dife- renças socioculturais. A escola, por sua vez, busca desenvolver seu projeto pedagógico com ênfase nas diferenças e nas relações que os indivíduos estabelecem consigo pró- prios e com os outros. Convém questionar, se nós, professores, desenvolvemos nossas práticas, tendo em vista a assunção das identidades e o respeito às diferenças? Como podemos viver os projetos de igualdade e respeito à diversidade, tão presente e mar- cadas na sociedade brasileira? De que maneira a escola pode tornar-se um território favorável à aprendizagem do convívio com a diferença? Compreendo a educação como um processo de autotransformação do su- jeito que envolve e provoca aprendizagens em diferentes domínios da existência, evi- dencia-se o processo que acontece em cada sujeito, traduzindo-se na dinâmica que estrutura ou é estruturada por cada um no seu modo de ser, estar, sentir, refletir e agir. Sendo assim, a educação e, por consequência, a formação não se esbarram na trans- missão e aquisição de saberes, na transferência de competências técnicas e profissio- nais e tampouco na assertiva das potencialidades individuais. Filio-me à perspectiva epistemológica da formação experiencial, por entender que a noção de processo de formação que essa perspectiva implica possibilita o centramento no sujeito e na glo- balidade da vida, entendida como interação da existência com as diversas esferas da con-vivência como perspectiva educativa e formativa. Referências ABRAHÃO, M. H. M. B.; PASSEGGI, M. C. (Orgs.). Dimensões epistemológicas e me- todológicas da pesquisa (auto)biográfica. Natal: EDUFRN; Porto Alegre: EdiPUCRS; Sal- vador: EDUNEB. (Coleção Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais. V. 1 Tomo I, 2012) ABRAHÃO, M. H. M. B. (Org.). Pesquisa (auto)biográfica: teoria e empiria. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In.: FERREIRA, M. M., AMADO, J. Usos & abusos da História Oral. 3ª Edição, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2000, p. 183-191. BUENO, B. O.; CHAMLIAN, H. C.; SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. Histórias de vida e autobiografias na formação de professores e profissão docente (Brasil, 1985-2003). Educação e Pesquisa, São Paulo, vol. 32, n. 2, p. 385-410, 2006. COULON, A. A Escola de Chicago. São Paulo: Papirus, 1995. DELORY-MOMBERGER, C. Abordagem metodológica na pesquisa biográfica. Revista Brasileira de Educação, v. 17, n. 51, 523-740, set./dez. 2012. FERRAROTI, F. Sobre a autonomia do método biográfico. In: NÓVOA, A.; FINGER, M. O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988, p. 17-34. JOVCHELOVITCH, S.; BAUER, M. Entrevista narrativa. In: BAUER, M. W. ; GASKELL, G. (Org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2002, p. 90-113.
  • 11. 49 Diálogos cruzados sobre pesquisa (auto)biográfica: análise compreensiva-interpretativa e política de sentido educação | Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 PASSEGGI,M.C.(Org.).Tendências da pesquisa (auto)biográfica.São Paulo: Paulus; Natal: EDUFRN, 2008. PASSEGGI, M. C.; SOUZA, E. C. (Dir.). (Auto) Biografia: formação, territórios e saberes. Natal: EDUFRN; São Paulo: PAULUS, 2008. PINEAU, G. Temporalités em formation: vers de nouveaux synchroniseurs. Paris; Anthropos, 2000. POIRIER, J. et al. Histórias de vida: teoria e prática. Trad. de João Quintela. Oeiras: Celta, 1999. RICOEUR, P. Teoria da interpretação.Trad. de Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1996. SILVA, V. L. G.; CUNHA, J. L. (Orgs.). Práticas de formação, memória e pesquisa (auto) biográfica. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. SOUZA, E. C.; BRAGANÇA, I. F. S. (Orgs.). Memória, dimensões sócio-históricas e trajetó- rias de formação. Natal: EDUFRN; Porto Alegre: EdiPUCRS; Salvador: EDUNEB, v.3, 2012. SOUZA, E. C. Memória, (auto)biográfica e diversidade: questões de método e trabalho do- cente. Salvador: EDUFBA, 2011. SOUZA, E. C. Territórios das escritas do eu: pensar a profissão – narrar a vida. Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 213-220, maio/ago. 2011a. SOUZA,E.C.(Org.).(Auto)biographie: écrits de soi et formation au Brésil.Paris: L´Harmat- tan, 2008. (Coleção Histoire de Vie, Direção Gaston Pineau). SOUZA, E. C. Fabricação de identidades e estruturação de dispositivos pedagógicos: a homos- sexualidade, a família e a escola. In.: SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. Multiplicidades culturais: projetos de formação e trabalho escolar. São Paulo: Escrituras: 2007, p. 93/109. SOUZA, E. C. S. (Org.). Autobiografias, Histórias de vida e Formação: pesquisa e ensino. Porto Alegre: EDIPUCRS; Salvador: EDUNEB, 2006. SOUZA, E. C. O Conhecimento de si: estágio e narrativa de formação e professores. Rio de Janeiro: DP&A; Salvador: UNEB, 2006a. SOUZA, E. C.; SOUSA, C. P.; CATANI, D. B. La recherche (auto)biographique et l’invention de soi au Brésil. In.: PINEAU, Gaston (Dir.). Le biographique, la réflexivité et les temporali- tés. Paris: L’Harmattan, 2008, p. 155-170. SOUZA, E. C.; MIGNOT, A. C. V. (Orgs.). Histórias de vida e formação de professores. Rio de Janeiro: Quartet: FAPERJ, 2008. SOUZA,E.C.; ABRAHÃO,M.H.M.B.(Orgs.).Tempos,narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS; Salvador: EDUNEB, 2006. STEPHANOU, M. Introdução - Jogos da memória nas esquinas dos tempos: territórios e prá- ticas da pesquisa (auto)biográfica na pós-graduação em Educação no Brasil. In.: SOUZA, E. C.; PASSEGGI, M. C. (Orgs.). Pesquisa (auto)biográfica: cotidiano, imaginário e memória. Natal, RN: EDUFRN; São Paulo: Paulus, 2008, p. 18-53. VICENTINI, P. P.; ABRAHÃO, M. H. M. B. (Orgs.). Sentidos, potencialidades e usos da (auto)biografia. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. (Série Artes de viver, conhecer e formar) Notas 1 Sobre os estudos relacionados ao estado da arte sobre pesquisa (auto)biográfica no campo educacional brasileiro, cabe consultar os seguinte trabalhos: Bueno, Catani, Sousa e Chamlian (2006); Souza, Sousa e Catani (2008), Stephanou (2008).
  • 12. 50 Elizeu Clementino de Souza Santa Maria | v. 39 | n. 1 | p. 39-50 | jan./abr. 2014 | educação 2 Cabe aqui destacar o pioneirismo da Associação Internacional das Histórias de Vida em Formação e da Pesquisa Biográfica em Educação (ASIHVIF-RBE), no contexto francófono e o trabalho da Associação Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica (BIOgraph) e da Associação Norte e Nordeste das Histórias de Vida em Formação (ANNIHVIF) no campo educacional brasileiro. 3 Do mesmo modo a rede de pesquisa propiciada pelo Congresso Internacional de Pesquisa (Auto)Biográ- fica (CIPA), com as diferentes edições do congresso (I CIPA, 2004, Porto Alegre; II CIPA, 2006, Salvador; III CIPA, 2008, Natal; IV CIPA 2010, São Paulo; V CIPA, 2012, Porto Alegre e a organização no VI CIPA previsto para 2014, no Rio de Janeiro), evidenciam consolidação de redes de pesquisas e de trabalhos sobre as (auto)biográficas como dispositivos de investigação,de formação e de pesquisa-formação no campo educacional no País. 4 Aqui cabe destacar as publicações que resultaram das diferentes edições dos CIPA, especialmente o livro de Abrahão (2004); Souza e Abrahão (2006); Souza (2006); Souza (2008); Passeggi e Souza (2008), Souza e Mignot (2008), Vicentini e Abrahão (2010); Silva e Cunha (2010), Abrahão e Passeggi (2012), Souza e Bragança (2012), bem como as coleções: Pesquisa (auto)biográfica & Educação (2008); Artes de Viver, Conhecer e Formar (2010) e Pesquisa (Auto)Biográfica: temas transversais (2012), as quais apresentam um conjunto de textos de pesquisadores brasileiros, latino-americanos, europeus e norte-americanos sobre questões teóricas e metodológicas da pesquisa (auto)biográfica. 5 Projeto desenvolvido pela Diretoria de Formação e Experimentação Educacional - DIRFE / IAT /SEC, no período de junho 2008 a dezembro de 2008, através dos Seminários de Formação em escolas Polos de Salvador,com Consultoria de Elizeu Clementino de Souza e Osvaldo Fernandez.O referido projeto buscou discutir e sistematizar questões sócio-históricas sobre a homossexualidade, mapear representações dos(as) professores(as) sobre a temática trabalhada,tendo em vista a proposição coletiva de modos de enfrentamen- to de práticas homofóbicas na escola. 6 Quando no início do Governo Dilma, a SECAD passou a ser denominada de SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão), mudando completamente sua política de ação em relação aos projetos sobre diversidade afetivo-sexual na escola. * Professor Doutor da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, Bahia – Brasil. Correspondência Elizeu Clementino de Souza – Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus I. Estrada das Barreiras, s/n, Narandiba, CEP: 41150-350 – Salvador, Bahia – Brasil. E-mail: esclementino@uol.com.br Recebido em 14 de outubro de 2013 Aprovado em 27 de novembro de 2013