O documento discute o uso de narrativas autobiográficas como método de pesquisa qualitativa em educação. O texto apresenta exemplos de pesquisas realizadas com crianças e professores que utilizaram narrativas orais para compreender os sentidos atribuídos por eles à escola e à infância. O documento também reflete sobre os desafios e potencialidades desse método para dar voz aos participantes e gerar reflexões sobre formação e políticas educacionais.
2. Sobre o que é o texto?
O objetivo do texto
Discutir dois procedimentos de recolha
de narrativas orais, realizados junto a
crianças e professores, pelo Grupo
Interdisciplinar de Pesquisa, Formação,
Representações e Subjetividades
(GRIFARS-UFRN-CNPq)
3. 2- “Narrativas da infância: o que contam as crianças
sobre a escola e os professores sobre a infância”
1- “Narrativas Infantis. O que contam as crianças
sobre as escolas da infância?”
Pesquisas (GRIFARS-UFRN-CNPq):
4. Objeto de estudo:
O objeto de estudo é o que dizem as crianças de 04
a 12 anos, quais os sentidos que os professores
atribuem à infância: à sua própria infância e à
infância das crianças com as quais vivenciam suas
práticas educacionais.
5. Campo de
pesquisa
O campo da pesquisa são pré-escolas e escolas de
aplicação; em escolas regulares de bairros
populares; em escolas da zona rural; em uma
comunidade indígena; comunidades remanescentes
quilombolas; em classes de atendimento educacional
especializado (AEE) para crianças cegas; em
classes hospitalares e em abrigos.
6. A finalidade
primordial
dessas
pesquisas:
Dar maior visibilidade à criança como
sujeito de direito; contribuir para a
pesquisa com crianças; trazer insumos para
a formação de professores, assim como
para as políticas públicas voltadas para a
criança em idade escolar, nos mais diversos
contextos educacionais.
7. O uso de narrativas autobiográficas
como fonte de investigação e método
de pesquisa assenta-se no pressuposto
do reconhecimento da legitimidade da
criança, do adolescente, do adulto,
enquanto sujeitos de direitos, capazes
de narrar sua própria história e de
refletir sobre ela. (p.114)
8. Algumas considerações iniciais:
Os autores entendem a
reflexividade autobiográfica como
uma disposição humana para
refletir sobre si e as experiências
vividas, defende a importância de
ouvir as crianças para melhor
compreender os sentidos que
atribuem ao que vivenciam na
escola.
Essa modalidade ancora-se em
princípios epistemológicos que
transcendem a ação de pesquisar
com as pessoas, para proporcionar-
lhes também um modo de
apropriar-se de sua história e de
uma forma de empoderamento.
9. O que precisamos ter em mente?
Os processos reflexivos e de
ressignificação das experiências são
importantes, tanto para a pessoa que
narra, quanto para quem as escuta,
incluindo o pesquisador, que se
forma com a pesquisa e com quem
dela participa. (p.115)
Um dos grandes desafios da pesquisa
qualitativa é encontrar procedimentos
adequados para a constituição de dados.
Quando se trata de crianças, esses
desafios se multiplicam ao se conjugarem
com as exigências da ética em pesquisa,
alertando-nos para os riscos e benefícios
dos procedimentos utilizados de modo que
possam garantir a sua participação como
sujeito social, sem ferir sua integridade,
nem constrangê-la. p.115
10. Método de coleta de dados:
Nestas pesquisas foram utilizadas rodas de
conversa tendo como participantes: as crianças, o
pesquisador e o Alien, que vem de um planeta onde
não há escolas, por isso deseja que as crianças lhe
contem como é a escola e o que fazem nela.
11. O Alien
O Alien é o mediador
entre o pesquisador e o
imaginário da criança.
12. As crianças falam sobre a violência na escola.
Foi possível identificar três tipos de violência mais recorrentes em suas falas:
• Atos de violência física, incluindo brigas e agressões entre alunos dentro da
escola;
• Atos de violência discriminatória, praticados contra crianças, sobretudo, aquelas
com necessidades/habilidades especiais, cenas de bullying entre outras;
• Atos de violência institucional simbólica, dentro da instituição, face aos modos
como são tratadas por uma percepção adultocêntrica da escola, da criança, de
seus modos de ser e de ver o mundo, o que é considerado por elas como atos
injustos face à impossibilidade de (re)agirem por medo de punição.
13. A criança no contexto da escola rural: uma
reflexão teórico-metodológica
A educação escolar na zona rural do Brasil está permeada por estigmas que resultam de uma
percepção tradicional do território rural como lugar de atraso, desqualificado, com poucas
possibilidades de desenvolvimento econômico e cultural.
Esta pesquisa dirigiu sua atenção para o sentido que as crianças do campo atribuem à escola e
ao saber escolar, procurando identificar se os estigmas que permeiam as representações do
contexto rural se manifestam em suas falas, e que crenças e valores norteiam suas percepções
da escola e do saber escolar.
O estudo foi norteado por uma concepção de indivíduo que se constrói social e culturalmente,
sem perder suas idiossincrasias e singularidades, sendo influenciado e influenciando, sendo
constituído ao mesmo tempo em que se constitui na relação com os outros e com o mundo.
14. Crianças cegas em processo de escolarização
no paradigma inclusivo
A pesquisa prossegue agora tecendo reflexões com base em suas narrativas acerca
do processo de inclusão, com a finalidade de fazer ecoar suas vozes sobre a
formação docente e as políticas públicas de modo a aprimorar o paradigma inclusivo
voltado para a criança cega com base no que ela diz sobre as potencialidades e
limites das salas multifuncionais e delas próprias.
As rodas de conversa foram realizadas com cada uma das crianças em momentos
diferentes. Neste caso, a presença do Alien foi fundamental para criar uma situação
de ludicidade na roda de conversa entre a criança, o Alien e o pesquisador, evitando
perguntas e respostas diretas entre o pesquisador e a criança. Além do interesse e
curiosidade da criança pelo pequeno extraterrestre, a própria configuração da sala
de recursos multifuncionais facilitou esses momentos inicias de empatia e de
interação com a criança, ajudando-a a se colocar espontaneamente num lugar
imaginário durante a conversa. (p. 119)
15. Entrevista narrativa autobiográfica com professores de
classes hospitalares
Esta pesquisa tem como objeto de estudo as experiências de cinco
professoras de classes hospitalares sobre suas atividades pedagógicas e os
desafios cotidianos para os quais não se têm respostas. Para elaborar uma
proposta metodológica coerente com a pesquisa qualitativa em educação,
optamos pela entrevista narrativa autobiográfica, inspirando-nos em Schütze
(2010), por considerá-la enriquecedora para o que Pineau (2005) denomina
de pesquisa-ação-formação.Os traços de união entre esses três conceitos
(pesquisa, ação e formação) pressupõem que tanto a pessoa que narra
quanto aquela que escuta se formam, enquanto humanos, na e pela interação
que acontece na entrevista autobiográfica.(p.120)
16. Considerações Finais
Nas reflexões teórico-metodológicas tecidas neste trabalho,
destacamos a importância das narrativas autobiográficas como
fontes privilegiadas da pesquisa qualitativa face às inquietações
com o rigor científico e a ética em pesquisa. Procuramos mostrar
porque acreditamos que em nossas pesquisas o uso das narrativas
na construção dos conhecimentos nos parece resguardado pelos
cuidados que visam a respeitar, em interações mais horizontais, a
singularidade de quem narra. (p. 121)
17. Referência Bibliográfica
PASSEGGUI, M.; NASCIMENTO,G; OLIVEIRA, R. As narrativas
autobiográficas como fonte e método de pesquisa qualitativa em Educação.
Revista Lusófona de Educação. n. 33, p.111-125, 2016. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/349/34949131009.pdf. Acesso em: 10/11/2022.
18. Leitura Complementar
• BUENO, Belmira Oliveira. O método autobiográfico e os estudos
com histórias de vida de professores: a questão da subjetividade.
Educação e Pesquisa. São Paulo, v. 28. N. 11-30, jan/jun.2002.
19. SURGIMENTO DO MÉTODO (AUTO)
BIOGRÁFICO
De acordo com Bueno (2002) havia no decorrer do século XX uma
enorme necessidade de renovação e mudanças metodológicas dentro
da Sociologia, e também para além dela. A autora aponta a insatisfação
vivida por pesquisadores, de um modo geral, com a construção de uma
ciência puramente objetiva e positivista.
20. Algumas considerações importantes:
Para Bueno (2002) esse movimento de mudança favorece uma nova
forma de pensar que evita reducionismos e não perde de vista a
articulação entre a micro-física e a macro-fisica do poder, ou seja, uma
nova forma de fazer ciência que reconhece a subjetividade e sua
relação com o todo.
21. Algumas considerações importantes:
• As ciências sociais, ao tentarem romper com os métodos padronizados de
investigação, passaram por modificações internas e conflitos que delinearam o
rumo dos métodos de investigação em Sociologia. Em decorrência dessa busca
incansável pela objetividade e pela racionalidade nas investigações científicas o
método biográfico chegou a um patamar distorcido e ainda muito
fundamentado nos métodos positivistas.
• As teorias sociais voltadas para explicar os problemas na macro-estrutura não
eram capazes de responder a todas as inquietações dos estudiosos, visto que
essas inquietações eram surgidas na vida cotidiana e estavam incorporadas na
subjetividade dos sujeitos sociais.
22. Especificidades
• A especificidade do método (auto) biográfico está centrada na
consideração dos dois tipos de materiais que esta abordagem pode
utilizar: os materiais biográficos primários e os materiais biográficos
secundários.
• Os materiais primários são aqueles obtidos diretamente com a
fonte através de entrevistas e relatos, já os materiais biográficos
secundários são aqueles materiais de toda espécie, bem como
fotos, cartas, registros, documentos e etc.
23. Considerações Finais
• Podemos compreender que a autobiografia pode contribuir para a
formação profissional contínua e consciente, tanto quanto como
forma de resistência à submissão e opressão do poder hegemônico.
• A pesquisa narrativa oportuniza o encontro do individual e do
coletivo visto que o narrador traz a marca do singular em sua
narrativa, ao mesmo tempo em que traz a marca da cultura, da
história, do contexto.
24. Considerações Finais
• O uso de narrativas autobiográficas como fonte de investigação e
método de pesquisa nas ciências humanas ou sociais se
fundamenta no reconhecimento do indivíduo como sujeito capaz de
narrar sua história e de gerar reflexão a partir dela.
• O método autobiográfico deve ser entendido como uma forma de
compreendermos a experiência humana, ou seja, a narrativa
autobiográfica é sempre uma representação particular da
experiência de vida de um determinado sujeito.