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Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil
Programa Sathya Sai Educare
Educando com Valores
2
Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte – Minas Gerais
Email do grupo EDUCARE/BH: valoreshumanosbh@newview.com.br
Fone: (0XX31) 3 241 53 46
Trabalho elaborado por:
Alexandros Anastas Maraslis
Eleusa de Quevedo Cardoso
Marcelo Satuf Amaral
Maria Angela Gonçalves
Mariângela Prado de Albuquerque
Colaboradores:
Adriano de Aguiar Martins
Antônio Barreto
Célia Caldeira Brant Costa
Dalton de Souza Amorim
Edson Aquino
Kátia Maria da Silva
Lúcia Hitomi Toyofuku
Marcos Cardoso Gomes
Maria do Carmo de Vasconcellos
Nomaihaci R. Ferreira Crivelli
Yamar Diamantino
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil
ÍNDICE
Página
PREFÁCIO .............................................................................................................................5
CAPÍTULO 1 —O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS .....................7
I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CÁRATER PELA EDUCAÇÃO ...........9
II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA ...............................................................13
III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS
TÉCNICAS DO PROGRAMA...........................................................................25
IV. OS TRÊS MÉTODOS DE APRENDIZADO.....................................................49
V. O PLANEJAMENTO DE UMA AULA DE EDUCAÇÃO EM VALORES
HUMANOS .......................................................................................................53
VI. AULAS E OFICINAS PARA OS EDUCADORES ...........................................75
VII. UMA MENSAGEM AOS PROFESSORES ......................................................84
VIII. DETALHANDO UM POUCO MAIS SOBRE OS VALORES ..........................86
CAPÍTULO 2 — VIVÊNCIAS NO PROGRAMA EDUCARE ...............................................113
.
PLANEJAMENTOS DE AULA:
LIÇÃO 1: AUTOTRANSFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO RESGATE DOS VALORES
HUMANOS... O EDUCADOR COMO EXEMPLO PARA OS ALUNOS.......115
LIÇÃO 2: AUTOTRANSFORMAÇÃO: A BUSCA INTERIOR... DESCOBRINDO O
TESOURO ESCONDIDO – INICIANDO O CAMINHO. ..............................118
LIÇÃO 3: AUTOTRANSFORMAÇÃO E ORDEM...CUMPRINDO O DEVER COM
AMOR .............................................................................................................127
LIÇÃO 4: AUTOTRANSFORMAÇÃO COM EQUANIMIDADE...A EXPRESSÃO DO
EQUILÍBRIO..................................................................................................138
LIÇÃO 5: AUTOTRANSFORMAÇÃO E SILÊNCIO INTERIOR ... FONTES DA
SABEDORIA UNIVERSAL............................................................................140
LIÇÃO 6: AUTOTRANSFORMAÇÃO: RESPEITO `À VIDA E `À NATUREZA
(ECOLOGIA)... RECONHECENDO A VIDA QUE PULSA EM TODAS AS
MANIFESTAÇÕES DA CRIAÇÃO DIVINA. ................................................146
LIÇÃO 7: DESPERTAR DO DEVER: O USO ADEQUADO DAS HABILIDADES E DAS
ENERGIAS...REALIZANDO AS POTENCIALIDADES...............................155
LIÇÃO 8: DESPERTAR DO DEVER: A PERCEPÇÃO DAS HABILIDADES E ESTAR
DISPONÍVEL AO OUTRO COM EQUANIMIDADE,
COMPARTILHAMENTO, COOPERAÇÃO E SACRIFÍCIO... ESTAR
ATENTOS ÀS NECESSIDADES DOS NOSSOS SEMELHANTES..............175
LIÇÃO 9: DESPERTAR DO DEVER COM AMABILIDADE, GENTILEZA E CARINHO
...EXPRESSANDO, EM TODAS AS ATITUDES, O AMOR EM FORMA DE
DOÇURA.........................................................................................................183
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil4
LIÇÃO 10: EDUCARE: VALORIZANDO A EDUCAÇÃO E RESPEITO AOS CREDOS ...
COMPREENDENDO A VERDADE CONTIDA NA MULTIPLICIDADE DAS
CRENÇAS RELIGIOSAS............................................................................... 192
LIÇÃO 11: EDUCARE, VALORIZANDO A EDUCAÇÃO ... COM CRIATIVIDADE E
PERSEVERANÇA – VALORES ESSENCIAIS AO EDUCADOR................. 202
LIÇÃO 12: DESENVOLVENDO A ALEGRIA INTERIOR ... ALEGRIA E PUREZA - OS
LAÇOS PRECIOSOS QUE NOS UNEM A DEUS......................................... 206
LIÇÃO 13: DESENVOLVENDO A ALEGRIA INTERIOR ... DEVOÇÃO:
REVERENCIANDO E CELEBRANDO O AMOR DE DEUS....................... 215
LIÇÃO 14: VIDA EM FAMÍLIA .......................................................................................... 221
LIÇÃO 15: VIDA EM COMUNIDADE... ............................................................................. 222
LIÇÃO 16: ECOLOGIA.... .................................................................................................... 223
ANEXO I - EXEMPLOS DE CANÇÕES, ORAÇÕES, HARMONIZAÇÕES CONDUZIDAS
E MEDITAÇÕES ........................................................................................... 225
ANEXO II - EXEMPLOS DE DINÂMICAS DE GRUPO .................................................... 277
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 5
PREFÁCIO
O programa de Educação em Valores Humanos, cujos fundamentos estão na filosofia
educacional de Sathya Sai Baba, tem sido aplicado nas escolas gratuitas que ele criou na Índia há
mais de 30 anos, estendendo-se desde a Pré-escola até a Pós-Graduação. Os resultados
conseguidos com o Programa têm sido alentadores, o que motivou sua adoção por várias escolas
do mundo inteiro. Parte da essência do programa consiste em edificar o caráter do aluno através
de reflexões, estudos, exercícios e prática dos valores humanos desde sua primeira infância,
continuando a trabalhá-los até a sua vida profissional. O resultado é a formação de indivíduos
equilibrados, profissionalmente competentes e com caráter íntegro, seres humanos amorosos,
harmoniosos e tranqüilos tanto no lar, como no convívio social e no ambiente de trabalho. A
observação desses resultados renovam nossa esperança na função da educação!
Os valores humanos, especialmente transmitidos aos alunos pela simples postura dos mestres em
sala de aula, são trabalhados de forma interativa em uma aula pelo método direto, são passados
aos estudantes através de histórias, contos, reflexões, canções, poemas e outras atividades que
reforcem o tema proposto e os estimulem a refletir sobre os valores e a vivenciá-los em seu dia a
dia. O ato de narrar histórias é um costume milenar da Índia e em muitos outros países. Além de
entreter seus ouvintes, contar histórias foi um meio de educação usado pelos antigos mestres e
sábios para explicar e elucidar suas teorias ou revelar uma verdade intrincada aos seus atentos
ouvintes [7]*. Histórias e mais histórias eram narradas —uma dentro da outra, uma história
levando a outra... Eram ricas em exemplos do uso do discernimento pela mente humana,
enfocando política, diplomacia, leis, ética, moral, ciências, artes, relações sociais, aspectos
psicológicos, arquétipos e outras áreas de atuação do ser humano.
Sathya Sai Baba reavivou este método milenar de educação de forma criativa. Nas aulas, os
professores utilizam todas as técnicas modernas de ensino, desde encenações teatrais até
dinâmicas de grupos, jogos de desenvolvimento de atitudes, jogos de motivação, atividades
lúdicas, brincadeiras e outras atividades artísticas, culturais e sociais. Todas essas atividades
visam despertar a criatividade dos alunos e incentivá-los a uma convivência de cooperação
mútua. Além disso, os professores incluem também, nas aulas, outras técnicas milenares, como
práticas de harmonização, reflexão, oração, concentração e meditação, promovendo um senso de
disciplina e harmonia interior.
O Método de Educação em Valores Humanos, desse modo, insere nas aulas cinco técnicas
básicas que permitem trabalhar o ser humano de forma plena, em cinco níveis de consciência:
(1) consciência emocional (desenvolvida predominantemente através das harmonizações), (2)
intelectual (através de citações e provérbios), (3) física (através das histórias, contos, etc.), (4)
psíquica (através do canto grupal) e (5) espiritual (através das atividades grupais).
O trabalho aqui apresentado, foi elaborado de acordo com os ensinamentos de Sathya Sai Baba e
abrange os cinco valores universais, os quais são o embasamento do Programa Sathya Sai de
Educação em Valores Humanos: Verdade; Retidão; Paz ;Amor; Não Violência; cada qual com
seus valores relativos.
* Os números indicados entre colchetes referem-se às consultas bibliográficas, indicadas ao final do
trabalho.
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil6
Todo o trabalho foi desenvolvido com estudos e reflexões para grupo de adultos, “Primeiro
aprender, aplicando em si, depois ensinar”. Neste sentido, é importante que o professor se
esforce para manter todos os valores humanos presentes no pensamento, na palavra e na ação,
embora possa estar trabalhando predominantemente um deles. Este trabalho pode ser
perfeitamente aplicado para grupos de crianças, desde que se usem atividades e linguagens
adequadas às faixas etárias de cada grupo.
O objetivo deste Programa é permitir ao estudante adulto, trabalhar tranqüilamente e de forma
gradativa, os valores humanos em si mesmo, vivenciando-os em sua própria vida, e, desta forma,
através do próprio exemplo, transmiti-los às crianças.
O capítulo 1, deste trabalho, aborda o Programa Sathya Sai Educare, com explicações mais
detalhadas: os objetivos do Programa, as diferentes técnicas, e, ainda, a forma de utilizá-las em
uma aula.
No capítulo 2 são apresentadas vivências no Programa, desenvolvidas para grupo de Educadores.
Em cada uma das vivências, são apresentadas sugestões de planos de aula, abordando temas que
estimulem o adulto à reflexões mais profundas sobre a vida cotidiana, ao processo de
autoconhecimento e auto-investigação, abordando os valores absolutos Verdade, Retidão, Paz,
Amor e Não-Violência e seus valores relativos.
É fundamental que o professor vivencie os valores humanos em sua vida cotidiana, reavaliando
suas próprias atitudes perante à vida, descobrindo em si potencialidades latentes e, também,
aceitando as próprias limitações e, assim, promovendo uma transformação em sua própria vida.
Desta forma, o professor irá se transformar no educador, assumindo sua missão de mestre para
promover, através de seu próprio exemplo, a motivação necessária a seus alunos, inspirando-os a
se tornarem seres humanos íntegros, pessoas de caráter.
As oficinas propostas neste trabalho são resultados de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de
Estudos Sathya Sai Educare de Belo Horizonte, com o apoio de outros Grupos de Estudos
existentes no Brasil e também, do Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil, com sede em
Ribeirão Preto. O material aqui apresentado é uma síntese do “Manual do Educador - Programa
Sathya Sai de Educação em Valores Humanos”, que foi elaborado ao longo de aproximadamente
três anos pelo citado grupo.
O conteúdo das vivências foi desenvolvido para um programa de 40 horas, cada aula programada
para uma duração de 2 horas e 30 minutos.
As propostas apresentadas, nos planejamentos das aulas, são apenas sugestões, podendo ser
parcialmente ou integralmente, alteradas pelo Coordenador do Grupo de Estudos, dependendo
das características e necessidades do Grupo. Não se tem a intenção de apresentar um trabalho
pronto, fechado, mas abrir possibilidades para serem criados e recriados em seus conteúdos ao
longo do processo, observando as características do Programa e do grupo.
São apresentadas ainda, ao final deste trabalho, dois anexos:
 Anexo I: mostra exemplos de canções, orações, harmonizações conduzidas, meditações e
mantras, sugeridos nos planejamentos de aula deste programa.
 Anexo II: apresenta exemplos de algumas dinâmicas de grupo, que poderão reforçar e
complementar a lição do dia, de forma alegre e divertida. No planejamento de aula de cada
lição é sugerida a dinâmica de grupo apropriada para aquela lição, mas, nada impede que
essa dinâmica seja aplicada em outra lição e até mesmo em outra Unidade do Programa,
diferente da sugerida, adaptando-a às necessidades e características específicas do grupo de
Estudo.
Grupo Educare de Belo Horizonte
CAPÍTULO 1 — O PROGRAMA EDUCARE
“A educação é um processo lento como o florescer de uma flor;
a fragrância se faz cada vez mais profunda e perceptível quando brota em
silêncio,
pétala por pétala, até que surja a flor completa”.
Sathya Sai Baba
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil8
“Onde existe educação não há distinção de classes.”
Confúcio (pág. 44) [11]
“Há apenas uma lei guiando e guardando esse mundo – a Lei do Amor. A
característica do homem é o Amor, sua natureza é Amor. A maior virtude é o
Amor. O Amor é a base do caráter.
Sathya Sai Baba
“A educação atual desenvolve as habilidades e o intelecto mas, de que
serve todo o conhecimento do mundo se não se tem caráter?”
“Caráter é a Unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida
imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder.”
Sathya Sai Baba
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 9
I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CARÁTER PELA EDUCAÇÃO
Em sua vinda ao Brasil, em abril de 1999, Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, falou em um
de seus discursos: “Cada um de nós é responsável por tornar o mundo melhor. E isso deve
começar por reformar o nosso próprio íntimo. A importância da educação já foi compreendida,
mas cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os
corações.”
Qual é o significado da vida? Para que vivemos e lutamos? Nossas vidas serão superficiais e
vazias se formos educados apenas para sermos especialistas, eruditos mergulhados em seus
livros ou para nos tornarmos pessoas eminentes, exercendo um maior domínio sobres os outros,
ou para conseguirmos os melhores empregos, sendo mais eficientes[18].
A civilização atual com seu sistema educacional padronizado, tem demonstrado uma enorme
dificuldade de compreensão dos valores humanos, incentivando basicamente o ensino de uma
profissão ou técnica determinada. De modo geral, chama-se isso “formar para o mercado”. O
indivíduo é fornecido como uma peça conforme a demanda. Nesse contexto, o indivíduo não
teria um valor em si e a educação reduz-se à formação de mão-de-obra. Isso induz o indivíduo a
adaptar-se a um padrão, bloqueando-lhe a compreensão de si mesmo, em vez de despertar nele
todo seu potencial interior, um indivíduo com plena consciência de si e de suas potencialidades,
que se sente parte integrada de um todo, agindo em sintonia com essa percepção, respeitando seu
próprio universo interno e externo.
Todos os que se destacaram como grandes humanistas, em qualquer época da história ou parte
do planeta, disseram de uma maneira ou de outra que, para o desenvolvimento pleno do ser
humano, é imprescindível elaborarmos internamente nossos aspectos humanos em todas as suas
nuanças através de uma reeducação dos valores da personalidade. Isso se dá pela observação de
nossos comportamentos diante de nós mesmos e dos outros, aprimorando nosso caráter,
lapidando nossos pensamentos, palavras, atitudes, enfim, trazendo mais qualidade à nossa
própria vida.
Neste início de século e de milênio, a humanidade depara-se com angústias por ter alimentado
em grande medida aspectos que contribuem para a desvalorização do próprio indivivíduo e para
a destruição do planeta: orgulho, vaidade, ambição, egoísmo, prepotência... “O homem está
ansioso na busca de conhecimentos, de fé e de experiências espirituais. Está agora reiniciando o
caminho de volta à origem, uma busca por sabedoria, na qual encontre seu rumo e redirecione
sua vida, avaliando seus erros, se restabelecendo numa vida digna, ética e com qualidade”[11]. A
educação tem papel fundamental nessa transição, uma vez que pode trazer uma “nova”
percepção da verdadeira natureza humana, uma compreensão das vivências internas, a partir das
externas.
Cientes de nossa realidade interna, surge o contentamento, que é o estado em que procuramos
conhecer o que é, tal como é, sem disfarces, diferente da euforia causada pela posse de bens, de
idéias ou até mesmo de pessoas. Só então, no contentamento, existe o amor verdadeiro, o amor
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil10
que dissolve a noção de desigualdade. Esse é o único elemento capaz de gerar essa
transformação.
Há uma grande alegria ao compreendermos o que somos. A alfabetização de adultos talvez seja
uma das faces da educação em que o significado da descoberta de si mesmo é mais evidente. O
auto-conhecimento é o primeiro passo, indispensável, da sabedoria. Sem auto-compreensão,
nada podemos conhecer ou, se conhecermos algo, dele faremos pouco ou mau uso. O auto-
conhecimento implica em observar passivamente cada pensamento e cada sentimento. Não
podemos observar verdadeiramente se, já no primeiro contato, houver julgamento ou
identificação, os quais impedem a compreensão. Se observamos passivamente, aquilo que é
observado começa a desdobrar-se e há, então, compreensão, a qual se renova de momento em
momento[19].
Qualquer mudança mais profunda em uma sociedade, seja no setor familiar, político ou religioso,
deve iniciar-se a partir da transformação interna de cada um de nós. Não é possível esperar que a
sociedade mude sem que nós mesmos tenhamos mudado na mesma direção. Essa mudança
pessoal só pode ser feita através de um processo de revisão de nossos próprios conceitos, valores
e práticas. Nem sempre é fácil admitir isso intimamente, mas nós mesmos temos coisas a serem
revistas. É necessário uma reeducação de aspectos da personalidade humana para que a
sociedade como um todo também seja transformada: nós formamos o núcleos da família, que por
sua vez forma o núcleo da comunidade, que, por fim, ergue o edifício de toda a sociedade.
Injustiça social, violência, ansiedade, medo, fome, guerra, inversão de princípios éticos; baixa
auto-estima, baixa auto-confiança, auto-rejeição, auto-negação de alegria e tranqüilidade. Esses
são alguns valores com os quais infelizmente convivemos no dia-a-dia da sociedade moderna.
Nós nos acostumamos a conviver com eles e aceitá-los passivamente, o que ao longo do tempo
nos entristece e deprime. Mas não deveríamos. A felicidade é um direito humano fundamental.
Todos clamam por transformação social, por uma sociedade mais justa e humana. Mas somos
nós que compomos esta sociedade: professores, médicos, engenheiros, policiais, advogados,
políticos, donas de casa, pais, filhos, casais, jovens, idosos... A mudança deve partir de nós,
como cidadãos, através de reflexões, com uma forma de pensar e com uma conduta condizentes
com os valores de uma sociedade justa, na qual possamos perceber cada ser humano como parte
de um todo, respeitando-o e aceitando-o como um irmão, um companheiro de jornada –
independentemente de raça, credo ou condição social– e convivermos em cooperação mútua e
harmoniosa.
O Programa de Educação em Valores Humanos contempla cinco aspectos da personalidade
humana, fundamentais para a edificação do caráter: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-
Violência. A cada um deles corresponde uma infinidade de valores relativos. Esses valores não
são ditames externos, a serem ensinados por pregação e repetição. São aspectos da própria
natureza humana mais pura e natural, que emergem sempre que as circunstâncias de entorno são
harmoniosas e pacíficas. Os valores não são algo a ser ensinado às crianças, jovens e adultos. No
máximo, são atributos a serem recuperados, preservados ou cultivados. Eles já estão lá, no imo
da alma humana.
Vejamos alguns valores relativos a cada um desses valores que talvez pudessem ser chamados de
principais.
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 11
Verdade: discernimento, auto-análise, atenção, reflexão, sinceridade, honestidade,
coerência, perseverança, lealdade etc.
Retidão: dever, ética , honradez, responsabilidade, respeito, simplicidade, dignidade,
serviço ao próximo, integridade, autoconfiança, contentamento, vida saudável etc.
Paz Interior: silêncio interior, calma, contentamento interno, paciência, tolerância,
concentração etc.
Amor: amizade, dedicação, generosidade, devoção, compaixão, perdão, caridade, alegria,
simpatia etc.
Não Violência: fraternidade, cooperação, altruísmo, solidariedade, respeito à natureza etc.
Segundo a filosofia de muitas culturas, para o desenvolvimento de um indivíduo íntegro –e, em
conseqüência, de um Estado, uma nação e um mundo íntegros–, todos devemos obedecer a
princípios éticos intrínsecos aos seres humanos. Esses mandamentos universais são regras para a
sociedade e para o indivíduo. Se não forem levados em conta, é apenas natural que impliquem
em caos e violência, mentira, roubo e ambição desmedida. As raízes desses problemas são
emoções provenientes da cobiça, do desejo e do apego[14]; de um ponto de vista biológico, são
uma desfunção de aspectos que deveriam cuidar apenas da sobrevivência e se tornam
desmedidos em nosso cotidiano.
No desenvolvimento dessas disciplinas éticas, que transcendem credo, nação, idade ou época,
faz-se necessário o uso consciente e adequado do dinheiro, do alimento, da palavra, das
habilidades, do tempo e da energia. Desperdícios de qualquer natureza criam desequilíbrios
individuais, sociais e ambientais. Uma reflexão mais aprofundada desses temas desenvolve no
indivíduo princípios de conduta para a retidão. De certa maneira, o Programa Sathya Sai Educare
evoca o retorno do pensamento filosófico como base para a ação humana.
O pensamento influi diretamente nas atitudes e palavras do homem, mesmo que
inconscientemente. Aí reside a importância do processo de auto-observação, para que o
indivíduo gradativamente conheça os movimentos de sua mente abaixo do limiar usual da
consciência. Segundo Caio Miranda, um dos precursores da filosofia oriental no Brasil, “os
pensamentos provocam emoções, as emoções influem na ação das glândulas, a ação das
glândulas condiciona o nosso metabolismo e este cria as condições em que se desenvolverão
nosso fisiologismo e psiquismo.”
Toda vez que houver contradições entre pensamentos, palavras e ações, o indivíduo cria
pequenas desarmonias internas, que geram desequilíbrios, distúrbios psíquicos e até mesmo
doenças. Ao refletir sobre as dificuldades de conciliar pensamentos, palavras e ações, mesmo nas
pequenas atitudes do dia-a-dia, nota-se a dimensão do trabalho interno a ser feito. A edificação
do caráter através da reeducação em valores humanos opera transformações sutis e
extraordinárias na alma –ou seja, sobre todo o universo interior.
É função dos educadores, além de desenvolver as técnicas necessárias a qualquer profissão,
ajudar os jovens a deixar florescer em si esses valores humanos de uma forma natural e
espontânea. Nessa perspectiva, não faz sentido impor novos modelos de conduta, novos modos
de pensar, a serem copiados. Tais imposições nunca despertarão a inteligência, a compreensão
criadora, e serviriam apenas para condicionar ainda mais o indivíduo. A educação deve permitir
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil12
que o jovem descubra e compreenda por si os empecilhos internos e externos que obstruem seu
caminho, apoiando-o e ajudando-o a desenvolver seu discernimento, qualquer que seja sua
profissão. Não conhecendo sua verdadeira vocação, toda a vida lhe parecerá perdida; sentir-se-á
frustado numa ocupação que desempenhará a contragosto. Sua vida pessoal e social, por
conseqüência, será pesada e marcada por um sentimento de frustração.
O estudo de cada criança por parte dos professores, dessa maneira, exige paciência, vigilância e
inteligência, mas especialmente, uma compreensão clara do próprio propósito da educação.
Observar as tendências da criança, suas aptidões, seu temperamento, compreender suas
dificuldades, levando em conta as possíveis influências, e não apenas considerá-la enquadrada
em certa categoria –tudo isso requer uma mente ágil e flexível, desembaraçada de sistemas e
preconceitos. Exige habilidade, interesse intenso e, sobretudo, um sentimento de afeição: formar
educadores dotados dessas qualidades representa um grande desafio.
Em sânscrito, a língua da Índia antiga, a palavra darsham significa “o ato de ver”, com uma
conotação mais profunda que o simples sentido usual da palavra: “O ato de ver significa ouvir,
compreender, conhecer e estar alerta, sensível, vivo e responsável; ser realmente capaz de ver
com total facilidade, sem drama algum. Você desenvolve a habilidade de se acalmar, se aquieta
e encontra a paz dentro de você mesmo e, desse modo, você pode ver. Só assim tudo o que você
fizer ou criar tem a verdade.” O significado dessa palavra define bem o papel do educador. Ele
deve perceber a criança com a “visão” da profundeza de seu próprio âmago, com toda riqueza de
detalhes, despertando-a para seus potenciais, para que floresça naturalmente o indivíduo íntegro
nesta criança.
Essa missão especial cabe aos educadores. Quem são os educadores? Pais, mestres, orientadores
educacionais, faxineiros, cozinheiros, jardineiros etc., mas também avós, tios, amigos. A
sociedade toda é constituída de educadores: não é possível separar os conceitos de cidadania do
conceito de educadores. É o envolvimento de todos que produz a cultura. Além de trabalhar
esses valores humanos em si mesmos, os educadores deverão resgatá-los junto às crianças e aos
jovens, de forma criativa e inteligente. Não há dúvida de que educar exige muito mais que
ensinar. Como fazê-lo, como despertar o discernimento, como ensinar a criança a pensar por si?
Aí entram as ferramentas: poderão ser usadas dentro do contexo do PSSE: textos adequados
(contos, poesias, fábulas, canções), jogos, brincadeiras, oficinas, trabalhos de reflexão individual
e em grupos, incentivando os estudantes a concluir por si mesmos a importância desses preceitos
e despertar neles o espírito crítico de suas vivências internas em relação ao mundo, as quais
gradativamente forjarão o caráter. O caráter desse jovem define o homem e a mulher que
formará a sociedade de amanhã.
Com todo o trabalho de auto-compreensão, de reeducação e edificação do caráter, irá
desabrochando no indivíduo seu lado divino, sua essência divina, tornando-o apto a vivenciar e
perceber um novo universo que se descortinará para ele: que sua parte não é separada nem
diferente do todo, um universo de rico e imenso silêncio, além das palavras, de infinito e sublime
amor.
Alexandros Anastas Maraslis
Grupo Educare de Belo Horizonte
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 13
II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE)
Segundo Sathya Sai[3], [35] :
“A educação tradicional tem-se ocupado em desenvolver o intelecto e as habilidades do
homem, mas tem feito muito pouco para desenvolver suas boas qualidades. De que serve
todo o conhecimento, se o indivíduo não adquiriu bom caráter?
O que o homem conquistou, no campo da ciência e da tecnologia, ajudou-o a melhorar as
condições materiais de vida. Aquilo de que nós precisamos, entretanto, é a transformação
do espírito. A educação não deve servir apenas para desenvolver a inteligência e as
habilidades de um indivíduo, mas também para ampliar sua perspectiva e fazer dele um
ser útil à sociedade e ao mundo como um todo. Isso é possível apenas quando o cultivo do
espírito é promovido juntamente à educação nas ciências físicas. A educação moral e
espiritual capacita o indivíduo a levar uma vida disciplinada [3].
Educação sem autocontrole, definitivamente, não é educação. A verdadeira educação deve
fazer com que o indivíduo seja compassivo e humano, e não deve torná-lo egoísta e
tacanho. Simpatia e respeito espontâneos por todos os seres devem fluir do coração de um
indivíduo propriamente educado. Ele deve estar ávido para servir à sociedade, ao invés de
estar preocupado com suas próprias aspirações. Este deve ser o real propósito da
educação no seu verdadeiro sentido. Os educadores precisam sensibilizar-se nesse
sentido, para poderem cumprir verdadeiramente com o propósito da educação.”[35]
O Programa Sathya Sai Educare, como foi visto, trabalha com a criança cinco valores universais,
VERDADE, RETIDÃO, PAZ INTERIOR, AMOR e NÃO-VIOLÊNCIA, e seus valores
relativos correspondentes. Esse de um lado é um complemento, paralelo às matérias acadêmicas,
mas também deve estar presente permeando as matérias acadêmicas. Essas são as duas
abordagens, respectivamente direta e indireta, do Programa Sathya Sai Educare.
II.1. HISTÓRICO DO PROGRAMA SATHYA SAI DE EDUCAÇÃO EM VALORES
HUMANOS (PSSEVH) E DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE)
O Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos foi elaborado na década de 60 por um
grupo de educadores composto por psicólogos, pedagogos e professores que conheciam os
ensinamentos de ordem espiritual e educacional de Sathya Sai Baba. Todo o trabalho foi feito
sob a orientação e coordenação de Sathya Sai Baba, Reitor da Universidade Autônoma de
Puttaparthi e considerado por muitos o maior educador da Índia moderna.
A partir de 1973, após o amadurecimento do programa nas escolas gratuitas criadas por Sai
Baba, o Programa de Educação em Valores Humanos começou a ser divulgado mais
amplamente. Em 1978, foi aprovado oficialmente pelo governo da Índia e tem sido
implementado extensivamente em escolas públicas desse país. Em outros países (Zâmbia,
Tailândia, Malásia, África do Sul, Venezuela, Espanha, Argentina, Colômbia, Itália, Estados
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil14
Unidos, México, Austrália etc.), o Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos vem
sendo introduzido em escolas públicas e particulares. No Brasil, o Programa vem sendo
divulgado desde o início da década de 90 a professores, diretores e coordenadores pedagógicos e
atualmente é aplicado em cinco Escolas Sathya Sai do Brasil e em escolas e creches públicas e
particulares em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Niterói, Recife, Fortaleza,
Uberaba, Uberlândia, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e várias outras cidades.
O PSSEVH foi elaborado inicialmente para crianças de 6 a 12 anos e funciona bem com crianças
de diferentes culturas, credos e classes sociais. Atualmente, sua aplicação vem sendo estendida
para outras faixas etárias e tem se constituído num valioso elemento para lidar com problemas
atuais em escolas, como crime, violência, drogas, preconceitos, falta de respeito, falta de
interesse escolar etc. A experiência de aplicação do Programa mostra que ele certamente terá
uma contribuição decisiva no restabelecimento dos valores universais na sociedade, promovendo
tolerância, respeito, compaixão, não-violência, cumprimento do dever, unidade e dignidade,
assim como o desenvolvimento da própria cultura.
O êxito desse programa tem ultrapassado todas as expectativas, com resultados excelentes e
alentadores. As crianças educadas no contexto do PSSEVH mostram um enorme e definitivo
progresso em seus padrões de conduta e uma personalidade equilibrada e saudável. Os
professores sentem-se motivados, entusiasmados e gratificados com os resultados obtidos, sendo
recompensados pelo esforço de sua própria transformação[35].
II.2. O PROPÓSITO DO PROGRAMA EDUCARE
Em setembro de 2000, Sathya Sai Baba comentou pela primeira vez sobre o significado mais
profundo da palavra latina educare; e, em julho de 2001, foi apresentado em uma conferência
internacional de educação na Índia com o perfil de um Programa. O Programa Sathya Sai
Educare (PSSE) é o próprio Programa de Educação em Valores Humanos, utilizado até então,
mas com uma visão mais integradora dos valores e uma compreensão mais aprofundada do
processo interior que ele envolve.
O Programa Sathya Sai Educare visa a auto-realização. A formação acadêmica deve buscar
excelência. Os valores humanos são inerentes a cada indivíduo, de modo que seu
desenvolvimento, na verdade, é um aspecto de um processo de auto-conhecimento. Ao longo do
processo, o estudante aprende a reavaliar suas próprias atitudes perante a vida, a descobrir em si
potencialidades latentes e a lidar com suas próprias limitações. Esses elementos promovem uma
transformação profunda em sua própria vida. Do ponto de vista do professor, portanto, é
fundamental que ele vivencie os valores em sua própria vida cotidiana. Apenas assim, ele irá
transformar-se em um educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu
próprio exemplo, a motivação necessária a seus futuros alunos, inspirando-os a se tornarem seres
humanos íntegros, pessoas de caráter. Os alunos adotarão uma postura íntegra, correta e amorosa
apenas se eles tiverem um exemplo de que isso traz prazer, em seu sentido mais puro, e
felicidade. É o professor que é capaz de lhes mostrar isso.
O propósito do Programa Sathya Sai Educare (PSSE) é formar o caráter. Para isso, são
trabalhados todos os aspectos da personalidade da criança, desenvolvendo seu potencial,
tornando-a apta a viver sua vida com plenitude.
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 15
Segundo Sathya Sai:
“Caráter é a unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida
imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder. Até a
aquisição de conhecimento depende de um bom caráter, de modo que todos devem
aprender a forjar um caráter impecável, sem vestígios de maldade. As qualidades
que integram um bom caráter são: o amor, a paciência, a perseverança e a
compaixão. Essas qualidades contêm todas as outras mais elevadas e precisam ser
respeitadas.
A educação é um processo lento como o desenvolvimento de uma flor, na qual a
fragrância se torna mais profunda e mais perceptível no florescimento silencioso,
pétala por pétala. Esse desenvolvimento significa disciplina e inteligência, em vez de
ser apenas o resultado da ação de uma pessoa dedicada à tarefa de ensinar e
preparar o indivíduo para os exames, de maneira meramente repetitiva. O exemplo,
e não o preceito, é a melhor ajuda para o ensino”.
Através da educação, pode-se despertar a essência que se encontra em cada coração e
exteriorizá-la na forma de uma boa conduta, de um falar verdadeiro, com amor em cada gesto,
buscando um estado de paz interior e manifestando em todos os momentos a não-violência.
Através da educação, o ser humano deve inteirar-se de que ele não tem apenas um corpo físico,
mas também uma mente que pode controlar os sentidos; o intelecto, que confere a capacidade de
discernimento e pode controlar a mente; e sua essência, sua consciência, chamada por muitos
nomes em muitas tradições, que representa a Divindade inerente nele, seu divino interior, aquilo
que o indivíduo realmente é. Por isso, para atingir nossos objetivos educacionais, é necessário
trabalhar os vários níveis internos das crianças e jovens: físico, mental, intelectual, psíquico e
espiritual.
Como afirma Sai Baba, a educação tem como resultado final a formação do caráter. Ao invés da
mera aquisição desenfreada de informações, ela deveria promover a sabedoria (conhecimento
posto em prática). Isso não reduz a importância da formação acadêmica. Apenas a tira da
condição de meta, para transformá-la em ferramenta necessária. A educação não tem como
finalidade conferir um “meio de vida”, mas preparar para toda a vida. A educação deveria
inspirar um modo de vida a ser vivido com dignidade e equilíbrio, suportando igualmente os
êxitos e fracassos inevitáveis em seu percurso, procurando sempre manter uma mente equânime.
Ambos, sucesso e fracasso, devem levar ao aprendizado, ao invés de gerar orgulho ou depressão.
O PSSE desenvolve claramente esses aspectos da excelência. O homem busca a satisfação de
algumas aspirações humanas básicas. Ele procura alegria, paz e felicidade. Conclui-se que o
homem aspira a excelência. No contexto da educação escolar integral, a excelência tem três
componentes: excelência acadêmica, excelência ambiental e excelência humana (excelência de
caráter, moral e espiritual).
Através do Programa, os estudantes passam, em muitos casos, de indisciplinados,
desrespeitadores das normas e dos professores, barulhentos, rebeldes e insubordinados, para
disciplinados, estudiosos e tranqüilos, respeitadores dos professores, pais e idosos, amistosos e
bem-humorados, donos de ações que enobrecem. Passam a executar serviços voluntários para a
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil16
escola e para a sociedade. Seu caráter se modifica ou se aprofunda, sua dignidade floresce; sua
excelência acadêmica cresce em paralelo e passa a ser real.
Quanto ao aspecto espiritual, os alunos são encorajados a serem melhores e mais profundos em
suas próprias religiões, a respeitarem e compreenderem as demais religiões, dando ênfase aos
valores universais de fraternidade, respeitando a vida que flui em todos os reinos, despertando a
consciência divina, inerente a cada ser humano. De fato, a integração dos cinco valores
universais determina um impacto positivo no nível acadêmico, ético e espiritual dos estudantes.
Como resultado das mudanças de comportamento dos filhos, que se reflete na escola e em casa,
os pais também são envolvidos, se interessando mais pelo progresso acadêmico e social dos
filhos, eles mesmos desenvolvendo sua auto-estima, passando também a respeitar as demais
religiões, muitas vezes chegando a abandonar hábitos nocivos à saúde, à sociedade e ao
ambiente.
II.3. FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Educação e EDUCARE
A palavra Educação origina-se do latim educare, formada pelo prefixo ex e o radical ducere. Ex
significa para fora, para o exterior; ducere, significa levar, conduzir para fora; “ex-ducere”,
portanto, tem o sentido de fazer emergir aquilo que está dentro. No contexto da educação, isso
significa fazer emergir, conduzir para fora algo que é inerente, intrínseco à condição humana.
Nesse sentido, a educação não é um processo de depositar informação –sequer de valores–, mas
de criar condições para a manifestação do que já existe no interior de cada ser humano. Esse é o
significado original do processo de educação e o sentido da Educação em Valores Humanos.
Em uma perspectiva espiritual, o Programa Educare pretende propiciar os meios para fazer com
que a centelha divina interior, que habita cada coração, se expresse na consciência das crianças,
de seus pais e dos próprios educadores. Os valores não são assuntos de aula, que sejam ensinados
como informação externa! Os Valores Humanos do Amor, da Verdade, da Retidão, da Paz
Interior e da Não-Violência são apenas a manifestação natural do divino interno, da essência e
natureza de cada pessoa.
Portanto, o ensinamento de Sathya Sai Baba, em seu sentido mais central, é que o processo de
Educação, além de oferecer excelência na formação acadêmica, visa proporcionar às crianças e
aos jovens as condições para a tomada de consciência de sua verdadeira natureza, para viver sua
vida com toda sua potencialidade, bem como manifestar essa essência de maneira natural,
contínua e permanente em seus pensamentos, palavras e ações.
EDUCARE como um processo integrador
Uma característica do Programa EDUCARE é seu sentido integrador. Até recentemente, alguns
aspectos do Programa de Educação em Valores Humanos eram apresentados como relativamente
independentes –ou pelo menos não eram realçadas suas interconexões. Assim, havia cinco
valores, cinco técnicas, cinco níveis de consciência, cinco sentidos. O PSSE incorpora a idéia de
que todos são aspectos diferentes da mesma unidade. Do mesmo modo que cada um dos
elementos da natureza está presente nos demais, os valores, as técnicas, os sentidos e os níveis de
consciência não são tratados como independentes.
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 17
Estamos acostumados ao aprendizado das coisas do mundo através de nossos sentidos, os quais
as percebem como distintas e separadas. Assim, criamos uma visão de mundo em que não apenas
os sentidos são separados, mas as várias coisas que os sentidos percebem parecem ser coisas
distintas. As coisas são tomadas como independentes, as pessoas como separadas e até os valores
como separados. Quando nos aproximamos da fonte de nossa existência, aquilo que é a natureza
e a base de nossa consciência, deixamos de utilizar apenas os sentidos para conhecer o mundo.
Nesse momento, começamos a perceber que aquilo que nossos sentidos nos apresentam como
coisas separadas são, na verdade, expressões diferentes da mesma unidade básica.
Assim como podemos apenas ver a diversidade de formas, de tamanhos, de localização e de
velocidade das ondas do mar, podemos compreender, também, que todas as ondas são
manifestações do mesmo oceano básico, que lhes dá essência e existência –e no qual todas as
ondas mergulharão de volta, mais cedo ou mais tarde, deixando sua sensação de individualidade,
para reconquistar aquilo que elas sempre foram: o próprio oceano.
“Conhece-te a ti mesmo.” Essa era a base do conceito de educação do Sócrates da Grécia
clássica. O EDUCARE é um processo que conduz o ser humano a si mesmo, que lhe dá as bases,
ao longo da vida educacional, para que, ao mesmo tempo em que esteja no mundo e cumpra bem
e com satisfação suas responsabilidades no mundo, sejam desfeitas as ilusões acumuladas com a
percepção fragmentada do mundo através dos sentidos. Para que seja reconhecida sua Realidade
Divina, sua Natureza Divina, sua Unidade com o Absoluto, sua identidade com Deus, sua
identidade com todos.
Paralelamente a esse processo de tomada de conhecimento, o EDUCARE fornece os meios para
uma vida equilibrada, de relação harmônica com os cinco elementos da natureza, com os cinco
planos internos, com os cinco valores fundamentais, de unidade entre pensamento, palavra e
ação, com toda a humanidade.
A aplicação do Programa EDUCARE
De um ponto de vista conceitual, o EDUCARE visa tornar clara a unidade entre todos os
aspectos da vida. Na prática educacional, isso se reflete em um esforço adicional de integração.
Nesse sentido, uma das metas mais evidentes do EDUCARE é a necessidade de incluir os
educadores em todas as etapas e metas do Programa.
A metodologia do Programa Sathya Sai Educare deve haver o mesmo sentimento. Isso deve estar
presente no coração e na concepção dos educadores que aplicam o Programa, o que incluir a
meta de estender, especialmente através das próprias crianças, os benefícios à família. De
alguma maneira, devem ser buscados meios que permitam aos pais saber o que é ministrado aos
filhos, o que eles estão aprendendo; que os pais sejam valorizados por seus filhos e pelos
professores do Programa. Também é importante que aos pais sejam fornecidos, direta ou
indiretamente, elementos para seu próprio crescimento, sua tomada de consciência, na medida de
seu interesse.
Isso significa uma acentuação da relação harmônica entre a Escola e as famílias –quem conhece
reuniões de pais em escolas sabe que essa não é uma norma. Deverão ser buscados os meios para
que a unidade da família se desenvolva e que essa unidade seja não só estimulada, mas também
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil18
beneficiada pelo amor, aceitação e respeito mútuo, compreensão, compaixão, presentes em todas
as atividades da escola.
A missão dos educadores no Programa
Qual é a missão de cada um de nós, educadores, nesse processo? Essa é uma questão muito
delicada, pois aquilo que realizamos depende fundamentalmente do que consideramos como
nossa meta. Ainda nos sentimos apenas parte do mundo, seres individuais, diferentes, limitados e
separados, identificados com o corpo e com o mundo físico. Mas Sathya Sai Baba refere-se a
todos como “Encarnações do Amor Divino”, como manifestações do próprio Absoluto. Isso nos
aproxima da condição de mestres na missão de educar para a auto-consciência da divindade
inerente a cada um de nós. Assim, ver a todas as pessoas como expressão particular da totalidade
deve ser o ponto de partida de nossa missão, ainda que uma parte de nós insista em ver a nós
mesmos e aos outros como algo menor que isso, separado dos outros, melhor ou pior que os
outros. Reforçar esse sentimento de unidade com o todo –e, portanto, com o sentimento de que
temos as potencialidades para agir com todo o amor e o discernimento que apenas o todo pode
ter– deve ser nossa primeira e contínua tarefa.
Para conseguir desenvolver esse sentimento, precisamos acalmar nossa mente, acostumada à
agitação externa, influenciada por anos de contato com outros conceitos que estão baseados na
comparação, que nos diminuem, que nos afastam de nós mesmos, que nos colocam
defensivamente, que nos enchem de idéias prévias a respeito das coisas e das pessoas. Para
sossegar a mente, é indispensável que cada professor/professora do Programa Educare pratique
alguma disciplina espiritual –a que mais se adequar e lhe agradar– de forma regular e em um
programa estruturado. Isso permitirá que nos moldemos no mestre que habilitará a inspirar pelo
exemplo, mais do que pelo discurso: se não tivermos uma mente tranqüila, como falaremos a
respeito disso para os alunos? Não é fácil deixarmos de ser apenas professores para sermos
exemplos. Disciplina espiritual, dentro dessa perspectiva, é apenas uma técnica que nos ajuda a
harmonizar nosso mundo interno.
Esse é um grande desafio. A tentativa de conduzir as crianças à consciência de sua própria
natureza divina não pode ocorrer sem que o professor também busque a consciência divina de si
mesmo. Não é que os professores devem estar prontos. É necessário apenas que eles caminhem
na mesma direção. De fato, parece que a dedicação às crianças ao longo do Programa é que nos
deixa “prontos”. A dedicação sincera ao processo de auto-transformação é suficiente, e os
resultados são alcançados no devido tempo. O PSSE não é um conteúdo programático, um
conjunto de técnicas, uma proposta para diminuir a violência em escolas ou um programa para
tornar as crianças “bem comportadas”. Não é uma metodologia para lidar com crianças em
bairros carentes. O EDUCARE é um processo para despertar a consciência do indivíduo para
sua natureza interior, que lhe dará a constatação da ligação e interdependência que une todos os
seres entre si e com a totalidade. Os professores que buscam essa consciência têm a capacidade
de inspirar essa busca.
Ainda que o conceito usual de “disciplina” seja de algo estabelecido externamente, não é esse
seu sentido apropriado no PSSE. A disciplina espiritual não é algo que se estabelece de fora para
dentro, uma imposição, um manual, uma receita ou um programa de atividades de meditação,
oração etc. Trata-se de estabelecer uma relação entre a consciência de cada um e seu corpo, seu
ego e sua mente. Sai Baba diz, “Seja o senhor do mundo da mente, não escravo de seus
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 19
sentidos.” A disciplina espiritual, portanto, é um meio de nos colocar no comando de nós
mesmos. Por analogia, na medida do descontrole de um educador sobre seus próprios sentidos,
sobre suas próprias emoções, sobre seus próprios pensamentos, assim também serão os
educandos. Na medida do desenvolvimento do controle sobre seus próprios pensamentos,
desejos e atividades, assim também seus alunos serão bem sucedidos.
Em um sentido mais estrito, isso implica no uso de técnicas que permitam que nós, educadores,
alcancemos esse êxito, que logremos ter o controle sobre os aspectos mais agitados de nosso ser.
As técnicas para a disciplina espiritual não são o objetivo, mas meros meios, talvez
indispensáveis, de que dispomos para realizar essa transformação. Elas devem ser usadas com
discernimento, consciência, auto-respeito e constância. Esse é o sentido do programa “Limite aos
Desejos” criado por Baba e fortemente recomendado no programa educacional. Portanto, os
professores devem buscar sincera e ativamente sua própria transformação, o que inclui o uso de
alguma ou algumas das técnicas sugeridas: meditação na luz, auto-investigação, oração, auto-
observação, serviço voluntário, amoroso e desinteressado, limite aos desejos etc.
Que Baba se refira aos professores do Programa Sathya Sai Educare como “gurus” (mestres)
mostra a dimensão de nossa responsabilidade, mas não deve constituir a dimensão de nosso
orgulho.
Os cinco Ds
Um dos aspectos que diferencia o Programa EDUCARE da maioria dos programas educacionais
propostos é que seu sucesso não depende de elementos materiais, de currículo ou de tecnologia,
mas basicamente da pessoa humana (não é esse um fundamento de todos os programas
educacionais?). A experiência das escolas em que se tentou aplicar mais extensivamente o
Programa Educare mostra que é no processo de transformação interior, e não nas condições
materiais, que residem as maiores dificuldades na busca de uma escola completa –e o sucesso na
busca!
Com o desenvolvimento interior, aquele que se transforma não se torna “mais avançado”, “mais
espiritualizado” ou “melhor” que os demais. Esse sentimento é de vaidade e presunção –antítese
dos valores que se estão discutindo. Se muito empenho no crescimento espiritual resultar nesses
sentimentos, o esforço foi direcionado indevidamente, gerando um aumento do egoísmo e não
em sua redução. Todo o esforço foi perdido. O desenvolvimento apenas torna a pessoa mais
verdadeira em relação a si mesma; mais amorosa do que jamais foi; mais tranqüila do que em
outros tempos; mais correta e mais compreensiva do que antes; mais próxima dos demais. É o
mesmo divino que se manifesta em todos e, portanto, é impossível ser mais divino que qualquer
outro. O desenvolvimento deve levar a um estado de contentamento interior, e não a um
sentimento de superioridade espiritual de qualquer espécie. O desenvolvimento verdadeiro nos
torna mais iguais, mais unos com todos, enquanto que o sentimento de “superioridade espiritual”
afasta, na medida em que reforça o sentimento de diferença, em que julga o outro como separado
de nós mesmos, em que nega ao outro a condição de manifestação igual ao Absoluto, que
veríamos reservada a nós mesmos.
Nesse processo de desenvolvimento interno, estão os chamados cinco Ds: Devoção, Disciplina,
Discernimento, Determinação e Dever. A Devoção é o sentimento de amor por Deus. Seu
sintoma externo mais evidente é o sentimento de amor por todas as expressões d’Ele, sem
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil20
exceções. É esse sentimento de amor em direção a Deus que torna natural servir ao Absoluto,
servindo todas as suas formas. É a identificação entre Deus amado e toda a Sua obra que torna
realizador servir a todos os seres humanos e buscar uma sociedade mais justa.
A Disciplina é indispensável para retomar o controle da consciência sobre a mente, o ego e o
corpo, para controlar os sentidos, os desejos e os pensamentos, para que eles sejam usados para
aquilo que é sua real finalidade. Como é possível expressar os valores humanos quando se
caminha no sentido inverso? Bem, como se explica que haja noite se o Sol brilha
incessantemente em todas as direções? A resposta é simples: bastar olharmos para o lado oposto
ao Sol. Olhe para o Sol, e nunca haverá noite. Olhe para a Verdade, e nunca haverá ilusão. É
necessário mudar o olhar, o que não é uma tarefa fácil, pois estão acostumados a um ponto de
vista, a uma perspectiva. Para qualquer mudança há resistência interna. Quem tentou fazer
regime sabe disso. A disciplina é uma ferramenta que nos ajuda a reduzir a agitação mental e nos
devolve o senhorio sobre o reino interno –essa história está representada em muitos mitos e
contos.
O Discernimento é a capacidade de reconhecer a Verdade. Nascidos, educados e formados sob
uma perspectiva ligada apenas ao mundo externo, temos o desafio de encontrar o caminho
interior. Como isso é possível? O Discernimento é a função em nós que distingue o que é real,
verdadeiro, justo, adequado. Todas as nossas decisões estão apoiadas na maneira como vemos as
coisas. Se estamos enganados sobre as coisas, nossas decisões são igualmente equivocadas. Em
princípio, usamos aquilo que nos foi ensinado para reconhecer o que é certo ou verdadeiro. A
experiência mostra que essa visão é insuficiente. O que, em tudo o que é transitório no mundo,
pode ser considerado perene, inalterável? Não conseguimos estender nossa compreensão para
além das aparências, para além do que é dado apenas pelos sentidos. Mesmo aquilo que é correto
ensinado externamente não é suficiente. É por isso que o PSSE não é um manual de bom
comportamento. Cada um precisa refletir e chegar às suas próprias conclusões. Muitos de nossos
referenciais precisam ser mudados e alguns deles precisam de confirmação interna, para que
tenham mais força. O discernimento é nossa capacidade de refletir, é nossa capacidade filosófica
e acima de tudo, é a luz que nos mostra o caminho.
A Determinação é indispensável, pois é necessário promover a transformação até o final. A
“pressa” nesse processo mostra que estamos com os olhos mais voltados para o momento de
pararmos de fazer força, que para o próprio trabalho de transformação! Vejam os exemplos de
figuras históricas que realmente fizeram grandes transformações na sociedade, em seus países –
nunca é um processo rápido e apenas a determinação permite atingir a meta. Quando estamos
sinceramente imbuídos da vontade de nos transformar, a própria vida se encarrega de nos testar,
nos mostrando o tipo de obstáculos que já conseguimos superar e os que ainda não superamos.
Até quando acreditaremos na realidade de um mundo que está continuamente se transformando
frente aos nossos olhos? Nós nos apegamos à forma, e não àquilo que gera a forma. A
determinação na disciplina espiritual e no processo educacional no qual estamos engajados é
indispensável até que a última ilusão e o último apego se desfaçam. Na educação, até que a
dificuldade do último de nossos alunos seja superada.
O sentimento de Dever é indispensável para nos fazer mover. Esse Dever não emana de pessoas,
preceitos ou ideais externos ou vem escrito em textos ou orientações externas. Ele emana do
amor e é o fluxo natural do divino interno, que vem de nosso coração. Quando nos deixamos
levar por esse sentimento pelas pessoas e pela natureza, estamos cumprindo o Dever. No início, é
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
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difícil discernir entre o sentimento de obrigação imposta (ou auto-imposta, para fins de
reconhecimento externo) e o dever natural na realização de algo que nosso Amor pede. Com o
tempo e com a diminuição de nossa agitação interna, diminui o conflito e o esforço para cumprir
aquilo que é necessário. Finalmente, nosso único desejo é a expressão desse Amor, na forma de
ação naquilo que a cada momento é necessário, correto e cabível. Quando se extingue o ego,
passa a existir a unidade entre a consciência pessoal e a consciência divina: aí alcançou-se a
Realização. O resultado, na forma externa, é sempre o envolvimento e o responsabilidade com a
sociedade. Realização espiritual não pode estar separada do compromisso com o coletivo. A vida
dos grandes personagens da humanidade mostra isso de modo inequívoco.
É fácil alcançar esse estado? Diz Sai Baba que sim, mais fácil que piscar os olhos. De nosso
ponto de vista... isso consome tempo e esforço. O fato é que, se a educação tem uma meta
espiritual, assim também será a postura do professor. Ele não deve cobrar de si mesmo o
resultado a ser alcançado, mas apenas ter a disposição de buscá-lo. O resultado será natural.
Meditar nos cinco Ds e deixar que eles permeiem a consciência.
Os três HVs
“A meta da vida é a auto-realização. A auto-realização é consciência constante integrada, e
consciência constante integrada é harmonia entre o coração, a cabeça e a mão, o que é a marca
de uma mente pura.” (Sathya Sai Baba)
Sai Baba tem dito que EVH, na verdade, é 3HVs: unidade entre “Head”, “Heart” e “Hands”, isto
é, entre a cabeça, o coração e as mãos. Isso significa que as mãos devem fazer aquilo que a
cabeça pensa e o coração aprova. Essa é uma postura fundamental no EDUCARE. Enquanto
fizermos o que a cabeça pensar como reflexo automático, como ato contínuo, estaremos
fortemente sujeitos a cometer injustiças, percebendo-as às vezes tardiamente. Enquanto a boca
falar o que a cabeça não pensa e as mãos não fazem, serem acusados muito justamente de
hipocrisia. Se há hipocrisia, não existe traço do Programa Educare.
O motivo dessa falta de sintonia entre a cabeça e as mãos é que os aspectos reativos de nossa
mente (ego e mente) nos levam a reagir a situações apenas com base nos elementos imediatos
envolvidos. É o “bateu, levou”. Não considera princípios. Além disso, costumamos tomar
decisões baseadas apenas no que foi aprendido previamente. Passamos por um número limitado
de experiências, depositadas em nossa memória (subconsciente). Na ausência de outros
mecanismos, todas as nossas decisões são fundamentadas, conscientemente ou não, naquilo
sobre o qual temos algum referencial. Dos conteúdos depositados em nosso subconsciente, parte
vem das pessoas que derramaram um profundo amor e simpatia ao longo de nossa vida: mãe e
pai, irmãos e irmãs, avós, vizinhos, amigos, professores etc. Parte é de experiências negativas,
acumuladas por fortes impactos emocionais (como a perda de pessoas queridas, frustrações,
medos, decepções, angústias, experiências de injustiça ou violência) ou pelos conceitos formados
apenas por imagens (como as que assimilamos passivamente através da televisão). Nossos
padrões subconscientes são limitados e limitantes. Ou seja, além dos mecanismos de
funcionamento de nosso ego serem intrinsecamente egoístas, pois sua função é cuidar de nossa
sobrevivência pessoal, eles são dependentes da qualidade do que cada um vivenciou.
A questão do conteúdo que portamos não está ligado diretamente com a hierarquia social. Há
famílias com padrão econômico muito simples, mas com profunda amorosidade e com grande
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Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil22
sentimento de solidariedade. Há famílias com padrão econômico elevado e que vivem conflitos
constantes, exemplos pesados de egoísmo e de indiferença. Certamente há famílias em condição
de pobreza que vivem problemas de violência e famílias em situação financeira estável com um
grande sentimento de responsabilidade social. Com raríssimas exceções, cada um de nós passa
por uma série de experiências positivas e negativas, as quais temos que trabalhar internamente
depois. É evidente que uma sociedade que mantém na miséria uma parte de si mesma está
fabricando dificuldades futuras, pelas experiências graves nas crianças que crescem com revolta
e privação. Contudo, é uma ilusão achar que a ausência de valores tem alguma relação direta
com ausência de recursos materiais. Os exemplos de egoísmo, vaidade e indiferença nas classes
mais abastadas são igualmente fábricas de crianças privadas de valores humanos.
Aparentemente, a conexão das famílias com a cultura, em seu sentido mais amplo, fornece uma
ferramenta poderosa para a reflexão e para enfrentar as adversidades. Por isso, a migração
regional, retirando as pessoas de seu contato familiar aumentado, de suas raízes culturais,
afastando-as de suas tradições, de seus ditados populares, jogando-as em periferias de grandes
cidades, é tão destrutiva do tecido familiar e social. Nos lugares em que as comunidades se
reorganizam e começam a recuperar seu sentido de coletividade, com todos os elementos da
cultura que lhe é característico, a paz volta a reinar.
Esses padrões de resposta só podem ser modificados com a capacidade de entrarmos em contato
com nossa consciência, nossa verdadeira natureza. Se conseguimos fazer isso, deixamos de nos
pautar pelos elementos exteriores e temporários, para lidar com o imenso potencial de reflexão
de nossa consciência. “Quem é o mestre?, pergunta Baba, para depois responder, “A consciência
é o mestre, siga a consciência”. Como já foi comentado, não é fácil a princípio, distinguir entre
as respostas da consciência e as de nosso ego. As técnicas de meditação na luz e outras práticas
de disciplina espiritual fazem com que os educandos e nós mesmos comecemos a entrar em
contato com o princípio divino dentro de nós. Isso gradualmente vai diminuindo nossa agitação
cotidiana, de maneira a permitir, que cada vez mais, a nossa ligação com a consciência seja
permanente, intensa e clara. Isso vai gradualmente nos aproximando do que são valores
verdadeiros no mundo externo. Desse modo, frente a qualquer situação, nova ou não, nossa ação
será consciente e permeada pelos atributos da centelha divina em nós: amorosa, pacífica,
verdadeira, correta e não-violenta (embora às vezes tão firme quanto necessário). Os três HVs,
portanto, são, ao mesmo tempo, uma prática (ou uma técnica) e uma meta. Antes de agir,
consulte o coração, perguntando por sua aprovação.
Contentamento e transformação
Não há transformação em um ambiente de tensão e insegurança, de ameaça e desconfiança. A
felicidade é essencial para a mudança, como disse o Prof. Robert Molloy, da Austrália. Assim, o
ambiente educacional deverá ser permeado de contentamento, caso se pretenda manter um
ambiente de formação de valores, de formação interior. As dificuldades expostas pelos alunos
não devem ser motivo de irritação, raiva e contrariedade. Os alunos que não se enquadram, que
apresentam mais dificuldades, são nossos melhores mestres, pois serão eles que medirão nosso
grau de transformação. Amor ou raiva, confiança ou acusação? Nossa relação com as pessoas
não deve ser função dos motivos externos, de maneira que nosso sentimento pelas pessoas se
alterne conforme a circunstância, tornando-se ora amor e confiança, ora raiva ou acusação em
função de que elas façam coisas que nos agradem ou nos desagradem. Quando gradualmente
alcançamos nossa transformação interior, gradualmente também vamos conseguindo lidar com
as situações difíceis sem que isso afete nosso sentimento de amor. Saber assumir posições firmes
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Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 23
em relação àquilo que não é correto, não implica em abandonar, sequer temporariamente, nosso
sentimento de amor.
No Programa EDUCARE, é necessário que o amor seja uma característica permanente. Quando
nosso amor for tão extenso que os alunos mais desconfiados da capacidade alheia de amá-los
tiverem certeza de que são amados, eles se sentirão felizes e seguros, e a transformação será
natural. Elas não entregarão seus corações enquanto não tiverem essa confiança e precisarão nos
testar antes.
Isso não significa tolerância com o que não está certo. Tem sido afirmado e demonstrado que os
filhos e educandos tomam como um sintoma de indiferença em relação quando não lidamos
abertamente com o que eles fazem de errado. Mas nosso amor por eles deverá estar acima dos
testes que eles possam impor e é necessário conciliar amor e firmeza nessas situações. Eles
devem sentir que esse amor está garantido, seja qual for a situação externa. Mesmo em casos de
ações maldosas, para as quais se guardam os devidos comentários e providências, devemos
conhecer e reconhecer a forma divina e amada por trás da ação. Propiciar esse amor, gerando um
ambiente amistoso, bem-humorado, tranqüilo e criativo, é parte do programa EDUCARE. Deixe
que seu amor crie um ambiente em que os alunos se sintam felizes. Contentamento não é euforia.
Claro, amem sua própria condição divina, amem e respeitem a si mesmos, de maneira que
possam expressar amor e respeito para com os outros. Só se pode dar aquilo que se tem. Essa
atmosfera é fundamental para o ambiente educacional.
EDUCARE como um programa de educação espiritual
O Programa EDUCARE não é uma pedagogia específica –ele talvez possa ser melhor
denominado de uma filosofia educacional. Muitos de seus conceitos são compartilhados por
muitas pedagogias e contém muito do que talvez seja apenas bom senso, abandonado nas
instituições educacionais cuja estrutura está falindo. Isso faz com que ele possa ser aplicado
dentro de uma estrutura pedagógica tradicional ou em uma pedagogia construtivista, em uma
pedagogia Montessoriana, em uma pedagogia Waldorf etc. Cada um saberá fazer as adaptações
que parecerem necessárias. Os conceitos de Educação em Valores Humanos foram aceitos de
coração e aplicados com sucesso em países muçulmanos, em vários países da Ásia, nos Estados
Unidos e na Europa, em países da África, em vários lugares da América do Sul, em locais muito
pobres, em escolas com amplas condições materiais. Os nomes usados para fazer referência a
alguns dos conceitos usados aqui, como “centelha divina”, “ego”, “subconsciente” etc., podem
ser adaptados, de maneira que sejam melhor compreendidos, evitando bloqueios desnecessários.
Nada do que é essencial aqui diz respeito aos nomes das coisas. Isso não diminui o Programa
EDUCARE.
Há alguns elementos, no entanto, que não podem ser abandonados. O primeiro deles é que, em
nenhuma hipótese, qualquer atividade de difusão do Programa Sathya Sai Educare seja cobrada.
Os professores nas escolas são profissionais e devem ser remunerados de maneira justa. No
entanto, a difusão dos conceitos e idéias em torno do Programa Sathya Sai Educare é
necessariamente gratuita. Há impedimento legal de se utilizar o nome de Sai Baba ou do
Programa Sathya Sai Educare cobrando qualquer tipo de taxa. Escolas particulares podem aplicar
o Programa, mas elas devem usá-lo por amor às crianças, não como ferramenta de marketing
para atrair alunos. Sócrates, na Grécia Antiga, era criticado pela família por não querer receber
remuneração por suas aulas, tendo vivido na pobreza. Ele é exemplo imorredouro de Amor e
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil24
Retidão. O Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil dá suporte gratuito a escolas que
tenham interesse em ter palestras, aulas, grupos de estudo ou suporte para o desenvolvimento do
programa.
Um outro aspecto –e talvez o mais importante deles– é que EDUCARE é um Programa com
fundamentação espiritual. Isso está colocado de maneira clara em uma palestra do Prof. Michael
Goldstein, dos EUA: “É essencial que a profundidade espiritual, o significado espiritual deste
Programa seja comunicado a educadores e pais. Se tivermos medo que sejamos rejeitados pelas
agências públicas por causa de nossa orientação espiritual, então estaremos apenas apresentando
mais um programa de aceitação rápida, para o declínio desmoralizador do caráter da educação
para crianças do mundo inteiro. É imperativo que demonstremos o verdadeiro significado
espiritual desse programa a educadores e pais. Dessa maneira, eles também terão a oportunidade
de vivenciá-lo e transformar a si mesmos. Qualquer esforço menor que esse não é digno de nosso
programa.”
É necessário cuidado, no entanto, com a compreensão do significado de “espiritual”. Para alguns,
“espiritual” pode significar princípios; para outros, um sentimento de dedicação a algo que
extrapola o sentimento de individualidade, de dedicação à sociedade; para outros, tudo o que diz
respeito ao mundo interno das pessoas; para outros ainda, um sentido de ligação com o Absoluto,
seja em que forma ou sob que nome for. Se olharmos com atenção, todos eles são formas
diferentes de expressar um mesmo sentimento. Sai Baba diz, “Se uma pessoa vive o Amor, o que
mais se pode pedir dela?” Identidade entre espiritualidade e religião deve ser evitada, pois isso
retiraria dela seu sentido universal. No entanto, transformar o Programa EDUCARE em um
conjunto de técnicas que dão melhor “desempenho emocional” ou “social” às crianças é faltar
com a verdade e perder o essencial. Muitas das mazelas de nossa sociedade, de nossa cultura e de
nosso tempo advêm de nossa identificação com valores transitórios. O aspecto mais profundo do
Programa EDUCARE é exatamente retomar a ligação com nossa essência interior, seja qual for a
maneira de vê-la e compreendê-la. Perder isso é perder a única coisa que importa.
PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE
Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 25
III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS
TÉCNICAS DO PROGRAMA
III.1. OS CINCO VALORES ABSOLUTOS QUE COMPÕEM O PSSEVH
Quando o homem desperta para a divindade que lhe é inerente, começa a se questionar sobre o
que é Verdade. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? O que devo fazer aqui? Perguntas
como essas permeiam sua mente em busca da compreensão sobre a natureza da vida. No
momento em que se obtêm respostas, a Retidão passa a ser algo natural. Ao colocar em prática a
Retidão de caráter –a Verdade em ação–, sente, como conseqüência, um grande estado de Paz
Interior. Nesse estado, há um processo de expansão permanente da energia do Amor. A
expressão desse Amor sempre-constante leva a um estado de sintonia e de compreensão de todos
os seres, um estado de plena Não-violência. O PSSE tem por meta o desenvolvimento desses
cinco valores fundamentais, Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-violência, trabalhando-
os de forma integrada com os estudantes.
Verdade
A Verdade é aquilo que não muda ou deixa de ser. Em todo indivíduo, existe uma vontade inata
que o impulsiona a buscar respostas para questões filosóficas, grande parte delas surgidas da
percepção da transitoriedade da vida. A humanidade distingue-se do reino animal, entre outras
coisas, por sua capacidade de colocar-se acima dos impulsos de seus instintos, de não ser uma
mera expressão de seus instintos. Por sua capacidade de compreender a natureza do tempo e,
portanto, de agir com algo mais que os instintos, em função de uma compreensão da natureza da
vida, com a verdade da vida. Assim, a relação com a Verdade é um fundamento na formação do
caráter. A veracidade, falar o que é verdadeiro, talvez seja sua manifestação mais tangível. Dizer
uma inverdade (por ignorância ou proposital) é um ato anti-social, causa confusão na mente de
quem diz e de quem escuta, bem como prejudica o relacionamento humano, causando confusão
ao seu redor. Mas a Verdade é mais que a honestidade. Vários movimentos filosóficos
questionaram que pudesse haver algo a que se pudesse chamar de Verdade. O resultado é o
niilismo que guia boa parte dos interesses de mercado. Não haveria algo intangível que gerasse
um compromisso individual com a ética.
A Verdade está relacionada com a mente supraconsciente, que provê o ser humano da intuição.
Um exemplo do valor da intuição é a chispa de genialidade de músicos, cientistas e inventores
famosos. Seus depoimentos atestam que a inspiração ou a intuição se dá em momentos de
recolhimento, com emoções e pensamentos aquietados. Como a Verdade é algo absoluto e não é
dual, ela não pode ser conhecida através da mente ou da razão, mas apenas da intuição, como
uma experiência pessoal. A quietude permite que a Verdade seja gradualmente reconhecida. Esse
estado é desenvolvido aos poucos com a técnica do “sentar-se em silêncio” ou das
harmonizações.
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil26
O valor Verdade pode também ser ensinado por meio de provérbios e frases que promovam a
reflexão, a análise, a auto-análise, o auto-conhecimento, a busca do conhecimento, a curiosidade,
a fé, a honestidade, a imparcialidade, a integridade, a objetividade, a razão, a síntese etc. Todos
esses são valores relativos à Verdade.
Retidão
“A VERDADE em ação é RETIDÃO.”
A Retidão está relacionado com a ação. Ele implica no cuidado, no uso adequado de nosso
potencial, do tempo e dos recursos externos. Ela abrange três aspectos, as ações ligadas ao
próprio indivíduo, ligadas à sociedade e ligadas a valores éticos.
Os hábitos de auto-ajuda e auto-respeito, com cuidados com nós mesmos, incluem a higiene
pessoal, limpeza do ambiente ao nosso redor, alimentação saudável, cuidados com a saúde e a
busca de auto-suficiência, evitando criar dependência e peso aos demais por indolência ou falta
de iniciativa. Os hábitos sociais, como bom comportamento, gratidão, respeito, disciplina
pessoal, pontualidade, ser prestativo na comunidade. Para isso, é essencial o espírito de sacrifício
e o uso adequado do tempo, do alimento e do dinheiro, através de uma boa administração desses
recursos.
Os hábitos com valores éticos, como moralidade, ânimo, coragem, coerência, confiabilidade,
dignidade, honradez, perseverança, determinação, prudência, responsabilidade etc. Nossa reação
aos estímulos pode ser instintiva ou racional. Ela será instintiva quando baseada mais nos hábitos
e costumes que ainda não foram questionados; será racional, quando resultante da análise das
situações, através do uso do discernimento (sobre atitudes ou fatos conhecidos) e da intuição
(para atitudes ou fatos novos). As espécies há milhões de anos agem apenas por instinto, o que
lhes vem garantindo a sobrevivência. O uso da força da inteligência humana dirigida pelos
instintos tem provocado fome, humilhação, guerras, destruição dos ambientes, ganância e disputa
cega de poder. A condição humana é única no sentido de permitir a ação apenas depois de passar
pelo crivo do discernimento. O PSSE trabalha exatamente o uso equilibrado de nossas funções
instintivas e o desenvolvimento de nossas funções superiores, com freqüência muito pouco
trabalhados e estimulados na educação.
Um ponto fundamental para uma rápida incorporação pelas crianças dos valores associados à
Retidão é o controle do que é apresentado aos sentidos. Isto é, ajudá-las a ver o bem, ouvir o
bem, ter boas companhias e freqüentar lugares onde possam ter bons exemplos. A mídia e muitos
locais da sociedade hoje estão saturados de estímulos ao consumo irrefletido, à competição, a
hábitos perniciosos, ao preconceito, à desvalorização do trabalho, à indisciplina, à valorização
material, à valorização das aparências etc. É necessário educar as crianças para o cuidado com a
higiene e a boa manutenção do corpo (alimentação sadia, balanceada, prática de ginástica,
esporte, yoga etc.), para que o corpo físico possa cumprir adequadamente sua missão, sendo um
instrumento harmonioso da consciência. Educá-las para a necessidade da ordem e da harmonia
do ambiente ao nosso redor e da responsabilidade de cada um para mantê-lo limpo, ordenado e
funcional. Educá-las para a necessidade de se manter um “clima” de harmonia à nossa volta,
cuidando-se da qualidade de nossos pensamentos –que vão gerar nossas ações– e da qualidade de
nossas palavras. Tudo deve passar pelo crivo do discernimento, perguntando-se se está elevando,
melhorando o ambiente a nosso redor ou se o está rebaixando a níveis grosseiros. Esse ambiente
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 27
é a natureza e também a própria sociedade, em seus diferentes níveis. Nesse sentido, a Retidão é
a base da cidadania. Ao final, o exercício natural da Retidão leva o indivíduo a um estado de
contentamento e de paz interior.
Paz Interior
“A paz se inicia com um sorriso.” (Madre Teresa de Calcutá)
A Paz, no sentido usado aqui, não diz respeito à ausência de conflitos externos, entre pessoas,
comunidades ou países, mas a um estado de tranqüilidade interna. A Paz Interior está relacionada
com os processos subconscientes da mente e suas respostas emocionais. O que chamamos mente
nada mais é que o conjunto de sentimentos e pensamentos gerados a partir das emoções e da
intuição. As emoções brotam em nossa mente como resposta aos estímulos do mundo exterior; a
intuição brota em nossa mente quando ela se encontra em Paz.
A paz mental é alcançada quando conseguimos manter o estado interno de equilíbrio. No
entanto, freqüentemente perdemos nosso estado de paz, nosso estado de equilíbrio interno, em
função de reações emocionais a estímulos que nos chegam do mundo. Em parte, isso se dá por
não conseguirmos exercer nossa força de vontade internamente ou por não dispormos de meios
para controlar os sentimentos e pensamentos que se seguem à resposta emocional. Às vezes, as
situações externas despertam raiva, inveja, desejos, medos, angústias ou necessidades artificiais,
removendo nosso equilíbrio interno e nos levando a ações que resultam em ainda mais
desequilíbrio. Ainda que o sentimento de Paz não seja particularmente ansiado pelos jovens hoje
em dia, ele se torna algo cada vez mais caros às pessoas, à medida que elas amadurecem.
Em busca dessa sonhada paz duradoura, recomenda-se:
 Refletir sobre cada desejo que brota na mente, questionando se ele é supérfluo ou necessário,
se é útil ou não, se é justo ou não, se tem urgência ou não, se é prioritário ou não, se usamos
apropriadamente recursos disponíveis (materiais, tempo, dinheiro) ou não, se é bom só para
si ou se também o é para os demais, se prejudica os outros ou não etc. Os desejos nos
mantêm vivos, mas é necessário limitá-los à sua função original. Com freqüência, somos
verdadeiros escravos de nossos desejos.
 Buscar desenvolver de modo consciente a auto-aceitação, a auto-capacitação, a auto-
confiança, o auto-controle, a auto-disciplina, o auto-respeito, a auto-estima.
 Procurar manter a atenção e a concentração no momento presente. Devemos aprender com o
passado, mas não devemos nos afligir por ele. Devemos cuidar do futuro, mas não devemos
nos angustiar por ele. O único momento real é o presente, aqui e agora, onde as coisas
realmente podem ser realizadas e apreciadas.
 Esforçar-se para ter sempre bom humor, manter a calma e o equilíbrio, ser ponderado,
encontrando a satisfação dentro daquilo que realmente dispomos, manter o contentamento e
constância para alcançarmos a equanimidade interior.
 Desenvolver a compreensão, a paciência e aceitar a diversidade. Agir com dignidade e
determinação, mas com desapego e humildade.
 Alimentar sempre a esperança, buscando a felicidade e a fortaleza interiores, procurando no
silêncio interior a verdadeira tranqüilidade.
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil28
Uma das técnicas mais importantes de apoio do PSSE para a busca da Paz Interior é a
harmonização ou “sentar-se em silêncio” –os nomes variam. Essa é uma pequena busca de
recolhimento, que leva ao aquietamento da mente. A agitação mental certamente é um dos males
modernos. Quase tudo à nossa volta contribui para a agitação mental. Para as crianças em idade
escolar, isso se verifica como uma enorme dificuldade de concentração. Além dessa técnica,
recomendam-se, como coadjuvantes importantes, exercícios de atividades em grupo que levem à
auto-aceitação e que desenvolvam o auto-respeito, bem como a meditação na luz e a oração.
A oração é uma técnica extremamente antiga, universal e poderosa. Ela pode ser feita de muitas
maneiras e com muitas intenções, e tem a grande vantagem de levar uma pessoa a voltar seus
olhos para o bem –dela mesma, de uma outra pessoa ou de toda uma comunidade. O destino de
uma oração não precisa ser discutido, no sentido de que é algo íntimo e não diz respeito àquilo
por quê se ora. A oração que visa a paz pode estar baseada no agradecimento pelo que se é, pelo
que se tem; pode ser baseada na auto-aceitação e na aceitação das outras pessoas, outras culturas,
outras raças, outras religiões. Deve-se, também, orar para se manter a esperança, para que a
paciência nunca falte, para a capacidade de compreensão de fatos e relacionamentos, para o
desapego (o apego cria um estado mental de dependência, fomentando o “medo de perder”, que
perturba o estado de paz mental) ou para o desenvolvimento de todos os valores, que nos
aproximam mais das pessoas e da comunidade.
Cada vez que praticamos uma dessas técnicas, adquirimos um estado de tranqüilidade que
perdura um pouco, mas que, com as agitações à nossa volta, se dissipa. A repetição dessa técnica
ao longo de semanas e meses, no entanto, vai tendo um efeito mais profundo. Cada vez que
repetimos a técnica da harmonização, seu efeito torna-se mais forte, conferindo um sentimento
mais intenso de paz, alcançado-o de forma mais rápida e duradoura, contribuindo para lidarmos
com as situações difíceis de modo cada vez mais tranqüilo, centrado e seguro. A experiência
mostra que crianças muito agitadas tornam-se muito tranqüilas e harmonizadas depois de algum
tempo de prática, sendo capazes de expressar de forma mais intensa sua criatividade e adquirindo
capacidade de concentração.
O conjunto de todas essas técnicas leva o indivíduo a um estado de paz mental, livre dos efeitos
daninhos das perturbações emocionais. O sentimento de paz resultante não é conseqüência da
ociosidade, mas sim de um estado mental equilibrado, sem altos e baixos, euforia ou depressão.
A mente aprende a manter seu estado de equilíbrio mesmo na ação, mesmo em situações em que
as condições externas variam. Para isso, o Programa desenvolve na criança um caráter bem
estruturado e fortalecido pela coerência entre sua essência e sua atuação externa com ações ou
palavras, gerando uma harmonia entre seus níveis físico, emocional (mental inferior), intelectual
(mental superior) e espiritual. Nessas circunstâncias, como já foi comentado, há um aumento no
fluxo da energia do Amor (nível psíquico).
Amor
“O amor é sua própria recompensa.” (Sathya Sai Baba)
O amor é evidentemente algo intangível e impossível de definir formalmente. A história da
filosofia, das religiões e da espiritualidade está repleta de comentários e tratados procurando
compreender a natureza do Amor. Ainda assim, é algo simples e fundamental. Talvez possa ser
dito aqui que o Amor é a energia interior mais profunda. Sai Baba diz que o Amor é a energia
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 29
que mantém todo o Universo. A compreensão do que é o Amor, no seu contexto mais puro,
certamente tem sido profundamente diminuída. Talvez se possa dizer que tudo o que é expansão
ou doação corresponde ao Amor. Sua expressão mais intensa resulta do equilíbrio e da coerência
entre os vários níveis do ser humano. O Amor afeta todas as formas de vida, ajuda a superar
todos os tipos de obstáculos e limitações, promove uma maior compreensão e aceitação de si
mesmo e dos demais. O Amor verdadeiro transforma e talvez seja a única coisa capaz de
promover a transformação. É por isso que o Amor de um professor tem um efeito tão grande
sobre uma criança.
Foram feitos experimentos demonstrando a influência de pensamentos amorosos até mesmo no
crescimento e floração de plantas. É a força do Amor que faz com que uma pessoa busque a
felicidade para outra pessoa e encontre prazer no bem-estar do outro. Os pensamentos amorosos
direcionam uma energia benéfica para a outra pessoa. Essa energia que flui para os demais passa
primeiramente por quem ama. Assim, quanto mais uma pessoa emana Amor verdadeiro, mais ela
se beneficia! O Amor é incondicional, é pura doação e é impessoal.
O Amor, nessa definição, não é uma emoção. Quando a mente se afasta do egoísmo, o coração se
abre e a energia do Amor flui. O Amor é inerente a cada respiração e é a força motriz do corpo
físico. A intensidade dessa energia pode ser aumentada com o controle das emoções. O controle
emocional pode ser conseguido com exercícios respiratórios, inclusive com o canto. Como forma
de aumentar o fluxo de energia amorosa entre os níveis da personalidade e com o exterior,
recomendam-se algumas coisas simples:
 Expressar-se com doçura e suavidade, levando junto com as palavras a amabilidade e a
ternura, carregadas com sentimentos de simpatia e alegria, gerando condições para que reine
a compreensão e o entendimento mútuos.
 Desenvolver a aceitação, base para a paciência, a tolerância e o perdão.
 Cultivar a compaixão, por meio da bondade, da generosidade, da caridade, do apoio, da
dedicação e do cuidado.
 Ser grato por tudo e a todos, possibilitando amizades sólidas, fomentando a capacidade de
compartilhar e a sinceridade.
 Ter apreço pela harmonia e pela beleza.
 Buscar a contenção de impulsos, procurando preservar a pureza e a inocência, a fim de
preservar a felicidade interior.
Do ponto de vista da técnica, o PSSE desperta o Amor de diferentes formas. Uma delas é através
do próprio Amor que o professor ou a professora emanam com todos os seus alunos e que
deveria existir em toda a dimensão da escola. De outro, as várias técnicas, cada uma a seu modo,
geram os meios para que o Amor gradualmente se expresse. A técnica particular relacionada a
esse valor é o canto, que se torna natural o desenvolvimento de um sentimento de apreço pela
harmonia da música, da apreciação da beleza através da arte e da grandeza da natureza.
Particularmente, o canto em grupo cria um laço muito forte, como pode ser percebido por quem
já cantou ou acompanhou o trabalho de corais. O canto fomenta o fluxo da energia do Amor.
Durante o canto, a criança experimenta a riqueza do compartilhamento, a alegria, o valor da
harmonia e a doçura do Amor. O Amor também pode ser fomentado por meio de atividades em
grupo que promovam a compaixão, a bondade, a caridade, o cuidado com os demais, a
dedicação, a generosidade, preparando o indivíduo para uma vida com completa Não-violência.
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil30
Não-Violência
Para uma pessoa embuída do espírito da Não-violência, todo o mundo é sua família. Não-
violência, no sentido dado por Gandhi, por Sai Baba e pela Índia antiga, não é um conceito
comum. De fato, é o valor mais abstrato e o mais difícil de ser alcançado. Quando os quatro
valores já citados são praticados, então, a vida é vivida sem causar dano ou violação a qualquer
pessoa ou coisa. É a aquisição mais elevada da vida humana, abrangendo o respeito por todas as
formas de vida, vivendo em harmonia com a natureza, não causando danos através de ações,
palavras ou sequer pensamentos. A Não-violência é, mais propriamente, um estado de
compreensão universal.
O Programa aborda, principalmente, dois aspectos complementares da Não-violência, o
psicológico, como a compaixão por todos; e o social, como a apreciação de todas as culturas,
religiões e por todo o ambiente.
A Não-violência pode ser descrita como sendo o “Amor Universal”. Quando a Verdade é
vislumbrada através do fluir da intuição, o Amor é ativado. O Amor é doação. Quando o fluxo
interno de desejos está subjugado, um estado de Paz Interna se desenvolve e a Retidão é apenas
natural. Tudo isso resulta em Não-violência, isto é, a não violação das leis naturais, que criam
harmonia no ambiente natural e social. A Não-violência está relacionada com o aspecto
espiritual do ser humano.
Viver de um modo a causar o menor dano possível a si mesmo, às outras pessoas, aos animais, às
plantas e ao planeta é sinal de uma personalidade integrada e ponderada. Uma pessoa com tais
qualidades está em sintonia com o aspecto espiritual de toda a humanidade e está em um estado
interior de felicidade, permanente e parte de sua real natureza. É através de nosso aspecto
espiritual que podemos experimentar o Amor Universal, que se caracteriza por:
 Um sentimento de respeito e admiração pelo universo.
 Um sentimento da unidade de tudo, de integração com o planeta, de amor por tudo o que há
nele e o sentimento de fazer parte do Todo.
 Um sentimento de universalidade, de irmandade, de fraternidade universal, resultando em um
desejo de fomentar a qualidade de vida a todos, por meio da solidariedade, da cooperação e
da participação responsável.
 Uma tomada de consciência de um propósito na criação.
 Aceitação e respeito pela diversidade da família humana (outras culturas, outras raças, outras
religiões), respeito pela opinião dos demais, respeito aos sentimentos alheios.
 Respeito pela vida, pela terra, pelo ar, pela água, pelo ambiente, pelas plantas, pela natureza.
 Incapacidade de causar dano, respeitando inclusive o próprio corpo físico (com o uso
adequado de seus limites etc.).
 Respeito à lei e à ordem, buscando promover a justiça social através de uma cidadania
consciente, muito ativa e pacífica.
 Sentimentos de igualdade para com todos, tratando a todos com bons modos, consideração,
cortesia, lealdade, sinceridade.
 Cultivo da compaixão e do perdão.
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 31
III.2. OS CINCO NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA TRABALHADOS NO INDIVÍDUO
ATRAVÉS DO PSSE
O conteúdo do Programa está baseado no uso de cinco técnicas, as quais se relacionam com os
cinco valores humanos absolutos já mencionados: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-
Violência. Essencialmente, cada indivíduo é um Ser que se manifesta através da personalidade,
com funções que podem ser classificadas em cinco níveis complementares: atuar, sentir,
discernir, amar e ser[4].
Os cinco valores humanos básicos podem ser associados a valores correlatos ou relativos. Esses
valores, fundamentais e relativos, abrangem as principais mensagens de todas as religiões. O
professor, na aplicação do programa, trabalhará com os valores relativos para ajudar seus alunos
a gradualmente compreenderem e praticarem os valores absolutos.
Frente à proposta de educação do PSSE, nos perguntamos: “Como é a criança que queremos
ajudar?” Para responder essa questão, devemos conhecer a estrutura global dessa criança.
Tradicionalmente, a educação preocupou-se, em especial, com o desenvolvimento intelectual ou
mental, por meio da aquisição e acúmulo de informações e sua eventual utilização (embora quase
nunca as crianças saibam a utilidade prática do que estudam), sendo dado ênfase apenas ao
desenvolvimento de seus níveis físico e emocional. Uma personalidade integrada, no sentido
dado pelo Programa, é uma síntese harmoniosa de “uma mente bem preparada, um coração de
criança e mãos habilidosas”.
A metodologia do PSSE, bem como outras abordagens espirituais da educação, pretende agir
harmoniosamente e de maneira integradora nos vários níveis de expressão da consciência. O
Programa trabalha com uma classificação dos níveis internos de organização. Esse classificação
–o que também se pode dizer sobre os valores– talvez encontre a concordância de muitos e a
discordância de outros. Contudo, não deveria ser esse um empecilho para compreender as
técnicas ou sua ação no universo interior das crianças. No PSSE, trabalha-se com cinco níveis de
organização interna, o que poderá ser referido com cinco níveis de expressão da consciência.
Esses níveis são trabalhados através das cinco técnicas, cada uma delas atuando em todos os
níveis, mas sendo mais direta para um dos níveis.
Nível Físico
O nível físico está relacionado com a ação. Envolve o desenvolvimento de um corpo saudável,
dedicado à execução de tarefas necessárias para uma vida útil à sociedade e o desenvolvimento
de bons hábitos, com a disciplina necessária para cumprir as metas propostas para a vida. A
atuação íntegra desenvolve a auto-confiança, a coragem de empreender, a ética, a dignidade, a
honra, a confiabilidade etc. Esse nível está associado ao valor da Retidão.
Nível Mental ou Emocional
O nível mental ou emocional está relacionado com a utilização apropriada dos órgãos dos
sentidos. As respostas emocionais à informação captada do mundo através dos sentidos devem
estar sob o controle da consciência, de maneira que possam se tornar instrumentos do bem-estar
individual e social. Quando experimentamos o equilíbrio emocional, experimentamos o valor da
Paz Interior.
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Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ...
Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil32
Nível Intelectual
O nível intelectual é o que capacita o indivíduo para discernir entre o correto e o incorreto, o
duradouro e o efêmero, o importante e o supérfluo, o real e o irreal etc. Nesse nível, são
trabalhados os aspectos ligados ao desenvolvimento da capacidade da memória e ao aumento da
intuição. Através desses instrumentos, podemos compreender o valor da Verdade.
Nível Psíquico
“Psíquico”, aqui, é utilizado em seu sentido grego original (psykhé), que significa alma ou
inteligência. Esse nível está relacionado com o aspecto da personalidade humana mais difícil de
descrever, por ser a qualidade em cada um de nós, que culmina na fonte do Amor. O Amor,
como foi comentado, não é uma emoção, um sentimento ou uma forma de relacionamento, mas
uma energia que flui em cada ser. Essa energia pode ser direcionada a outro ser ou a outros seres,
pode ser recíproca ou unidirecional; ela se expressa em todas as formas de relação. O fluir mais
intenso do Amor requer o desenvolvimento do “aparelho psíquico”, isto é, da alma e dos
instrumentos de que ela se vale para manifestar-se. A mente (fonte geradora de pensamentos e
sentimentos) deve submeter-se ao intelecto (fonte do discernimento), aconselhado pela
consciência. Da harmonia entre eles, experimenta-se essa energia suprema que a tudo envolve e
que a tudo abarca, o Amor.
Nível Espiritual
O nível espiritual é aquele em que se experimenta a unidade na diversidade. Nessa condição, é
natural o estado de Não-violência, o que se aplica a todos seres vivos, à Mãe-Terra e ao Cosmos
inteiro.
III.3. AS CINCO TÉCNICAS EDUCACIONAIS QUE COMPÕEM O PSSE
Harmonização – o contato com a Essência Divina Interior
“A harmonização cria uma ponte que nos conecta com a
sabedoria interior, produzindo, assim, uma permeabilidade
maior diante de qualquer aprendizado que se deseje
encarar.”[3]
Sabemos que as emoções são como ondas: em um momento estão fortes e altas, e, no momento
seguinte, estão fracas e reduzidas. Assim também são os pensamentos que, efetivamente,
controlam nossos sentimentos. Um dito popular diz que somos o que pensamos.
Para não sermos vítimas da dualidade e da instabilidade mental, o segredo é reduzir nossos picos
emocionais até que a onda não mais exista. Isso não diminui nosso estado de consciência. Pelo
contrário, torna-a extremamente sensível, pois não é perturbada pela agitação dos pensamentos.
Esse exercício propicia a verdadeira Paz. Esse valor pode ser definido como um estado de
completa equanimidade, não estando sujeito às ondulações da vida, aos altos e baixos das
emoções. A Paz, como um estado absoluto, pode ser obtida somente em uma plano mais elevado.
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  • 1. Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil Programa Sathya Sai Educare Educando com Valores
  • 2. 2 Centro Sri Sathya Sai de Belo Horizonte – Minas Gerais Email do grupo EDUCARE/BH: valoreshumanosbh@newview.com.br Fone: (0XX31) 3 241 53 46 Trabalho elaborado por: Alexandros Anastas Maraslis Eleusa de Quevedo Cardoso Marcelo Satuf Amaral Maria Angela Gonçalves Mariângela Prado de Albuquerque Colaboradores: Adriano de Aguiar Martins Antônio Barreto Célia Caldeira Brant Costa Dalton de Souza Amorim Edson Aquino Kátia Maria da Silva Lúcia Hitomi Toyofuku Marcos Cardoso Gomes Maria do Carmo de Vasconcellos Nomaihaci R. Ferreira Crivelli Yamar Diamantino
  • 3. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil ÍNDICE Página PREFÁCIO .............................................................................................................................5 CAPÍTULO 1 —O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS .....................7 I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CÁRATER PELA EDUCAÇÃO ...........9 II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA ...............................................................13 III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS TÉCNICAS DO PROGRAMA...........................................................................25 IV. OS TRÊS MÉTODOS DE APRENDIZADO.....................................................49 V. O PLANEJAMENTO DE UMA AULA DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS .......................................................................................................53 VI. AULAS E OFICINAS PARA OS EDUCADORES ...........................................75 VII. UMA MENSAGEM AOS PROFESSORES ......................................................84 VIII. DETALHANDO UM POUCO MAIS SOBRE OS VALORES ..........................86 CAPÍTULO 2 — VIVÊNCIAS NO PROGRAMA EDUCARE ...............................................113 . PLANEJAMENTOS DE AULA: LIÇÃO 1: AUTOTRANSFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO RESGATE DOS VALORES HUMANOS... O EDUCADOR COMO EXEMPLO PARA OS ALUNOS.......115 LIÇÃO 2: AUTOTRANSFORMAÇÃO: A BUSCA INTERIOR... DESCOBRINDO O TESOURO ESCONDIDO – INICIANDO O CAMINHO. ..............................118 LIÇÃO 3: AUTOTRANSFORMAÇÃO E ORDEM...CUMPRINDO O DEVER COM AMOR .............................................................................................................127 LIÇÃO 4: AUTOTRANSFORMAÇÃO COM EQUANIMIDADE...A EXPRESSÃO DO EQUILÍBRIO..................................................................................................138 LIÇÃO 5: AUTOTRANSFORMAÇÃO E SILÊNCIO INTERIOR ... FONTES DA SABEDORIA UNIVERSAL............................................................................140 LIÇÃO 6: AUTOTRANSFORMAÇÃO: RESPEITO `À VIDA E `À NATUREZA (ECOLOGIA)... RECONHECENDO A VIDA QUE PULSA EM TODAS AS MANIFESTAÇÕES DA CRIAÇÃO DIVINA. ................................................146 LIÇÃO 7: DESPERTAR DO DEVER: O USO ADEQUADO DAS HABILIDADES E DAS ENERGIAS...REALIZANDO AS POTENCIALIDADES...............................155 LIÇÃO 8: DESPERTAR DO DEVER: A PERCEPÇÃO DAS HABILIDADES E ESTAR DISPONÍVEL AO OUTRO COM EQUANIMIDADE, COMPARTILHAMENTO, COOPERAÇÃO E SACRIFÍCIO... ESTAR ATENTOS ÀS NECESSIDADES DOS NOSSOS SEMELHANTES..............175 LIÇÃO 9: DESPERTAR DO DEVER COM AMABILIDADE, GENTILEZA E CARINHO ...EXPRESSANDO, EM TODAS AS ATITUDES, O AMOR EM FORMA DE DOÇURA.........................................................................................................183
  • 4. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil4 LIÇÃO 10: EDUCARE: VALORIZANDO A EDUCAÇÃO E RESPEITO AOS CREDOS ... COMPREENDENDO A VERDADE CONTIDA NA MULTIPLICIDADE DAS CRENÇAS RELIGIOSAS............................................................................... 192 LIÇÃO 11: EDUCARE, VALORIZANDO A EDUCAÇÃO ... COM CRIATIVIDADE E PERSEVERANÇA – VALORES ESSENCIAIS AO EDUCADOR................. 202 LIÇÃO 12: DESENVOLVENDO A ALEGRIA INTERIOR ... ALEGRIA E PUREZA - OS LAÇOS PRECIOSOS QUE NOS UNEM A DEUS......................................... 206 LIÇÃO 13: DESENVOLVENDO A ALEGRIA INTERIOR ... DEVOÇÃO: REVERENCIANDO E CELEBRANDO O AMOR DE DEUS....................... 215 LIÇÃO 14: VIDA EM FAMÍLIA .......................................................................................... 221 LIÇÃO 15: VIDA EM COMUNIDADE... ............................................................................. 222 LIÇÃO 16: ECOLOGIA.... .................................................................................................... 223 ANEXO I - EXEMPLOS DE CANÇÕES, ORAÇÕES, HARMONIZAÇÕES CONDUZIDAS E MEDITAÇÕES ........................................................................................... 225 ANEXO II - EXEMPLOS DE DINÂMICAS DE GRUPO .................................................... 277
  • 5. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 5 PREFÁCIO O programa de Educação em Valores Humanos, cujos fundamentos estão na filosofia educacional de Sathya Sai Baba, tem sido aplicado nas escolas gratuitas que ele criou na Índia há mais de 30 anos, estendendo-se desde a Pré-escola até a Pós-Graduação. Os resultados conseguidos com o Programa têm sido alentadores, o que motivou sua adoção por várias escolas do mundo inteiro. Parte da essência do programa consiste em edificar o caráter do aluno através de reflexões, estudos, exercícios e prática dos valores humanos desde sua primeira infância, continuando a trabalhá-los até a sua vida profissional. O resultado é a formação de indivíduos equilibrados, profissionalmente competentes e com caráter íntegro, seres humanos amorosos, harmoniosos e tranqüilos tanto no lar, como no convívio social e no ambiente de trabalho. A observação desses resultados renovam nossa esperança na função da educação! Os valores humanos, especialmente transmitidos aos alunos pela simples postura dos mestres em sala de aula, são trabalhados de forma interativa em uma aula pelo método direto, são passados aos estudantes através de histórias, contos, reflexões, canções, poemas e outras atividades que reforcem o tema proposto e os estimulem a refletir sobre os valores e a vivenciá-los em seu dia a dia. O ato de narrar histórias é um costume milenar da Índia e em muitos outros países. Além de entreter seus ouvintes, contar histórias foi um meio de educação usado pelos antigos mestres e sábios para explicar e elucidar suas teorias ou revelar uma verdade intrincada aos seus atentos ouvintes [7]*. Histórias e mais histórias eram narradas —uma dentro da outra, uma história levando a outra... Eram ricas em exemplos do uso do discernimento pela mente humana, enfocando política, diplomacia, leis, ética, moral, ciências, artes, relações sociais, aspectos psicológicos, arquétipos e outras áreas de atuação do ser humano. Sathya Sai Baba reavivou este método milenar de educação de forma criativa. Nas aulas, os professores utilizam todas as técnicas modernas de ensino, desde encenações teatrais até dinâmicas de grupos, jogos de desenvolvimento de atitudes, jogos de motivação, atividades lúdicas, brincadeiras e outras atividades artísticas, culturais e sociais. Todas essas atividades visam despertar a criatividade dos alunos e incentivá-los a uma convivência de cooperação mútua. Além disso, os professores incluem também, nas aulas, outras técnicas milenares, como práticas de harmonização, reflexão, oração, concentração e meditação, promovendo um senso de disciplina e harmonia interior. O Método de Educação em Valores Humanos, desse modo, insere nas aulas cinco técnicas básicas que permitem trabalhar o ser humano de forma plena, em cinco níveis de consciência: (1) consciência emocional (desenvolvida predominantemente através das harmonizações), (2) intelectual (através de citações e provérbios), (3) física (através das histórias, contos, etc.), (4) psíquica (através do canto grupal) e (5) espiritual (através das atividades grupais). O trabalho aqui apresentado, foi elaborado de acordo com os ensinamentos de Sathya Sai Baba e abrange os cinco valores universais, os quais são o embasamento do Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos: Verdade; Retidão; Paz ;Amor; Não Violência; cada qual com seus valores relativos. * Os números indicados entre colchetes referem-se às consultas bibliográficas, indicadas ao final do trabalho.
  • 6. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil6 Todo o trabalho foi desenvolvido com estudos e reflexões para grupo de adultos, “Primeiro aprender, aplicando em si, depois ensinar”. Neste sentido, é importante que o professor se esforce para manter todos os valores humanos presentes no pensamento, na palavra e na ação, embora possa estar trabalhando predominantemente um deles. Este trabalho pode ser perfeitamente aplicado para grupos de crianças, desde que se usem atividades e linguagens adequadas às faixas etárias de cada grupo. O objetivo deste Programa é permitir ao estudante adulto, trabalhar tranqüilamente e de forma gradativa, os valores humanos em si mesmo, vivenciando-os em sua própria vida, e, desta forma, através do próprio exemplo, transmiti-los às crianças. O capítulo 1, deste trabalho, aborda o Programa Sathya Sai Educare, com explicações mais detalhadas: os objetivos do Programa, as diferentes técnicas, e, ainda, a forma de utilizá-las em uma aula. No capítulo 2 são apresentadas vivências no Programa, desenvolvidas para grupo de Educadores. Em cada uma das vivências, são apresentadas sugestões de planos de aula, abordando temas que estimulem o adulto à reflexões mais profundas sobre a vida cotidiana, ao processo de autoconhecimento e auto-investigação, abordando os valores absolutos Verdade, Retidão, Paz, Amor e Não-Violência e seus valores relativos. É fundamental que o professor vivencie os valores humanos em sua vida cotidiana, reavaliando suas próprias atitudes perante à vida, descobrindo em si potencialidades latentes e, também, aceitando as próprias limitações e, assim, promovendo uma transformação em sua própria vida. Desta forma, o professor irá se transformar no educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu próprio exemplo, a motivação necessária a seus alunos, inspirando-os a se tornarem seres humanos íntegros, pessoas de caráter. As oficinas propostas neste trabalho são resultados de um trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos Sathya Sai Educare de Belo Horizonte, com o apoio de outros Grupos de Estudos existentes no Brasil e também, do Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil, com sede em Ribeirão Preto. O material aqui apresentado é uma síntese do “Manual do Educador - Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos”, que foi elaborado ao longo de aproximadamente três anos pelo citado grupo. O conteúdo das vivências foi desenvolvido para um programa de 40 horas, cada aula programada para uma duração de 2 horas e 30 minutos. As propostas apresentadas, nos planejamentos das aulas, são apenas sugestões, podendo ser parcialmente ou integralmente, alteradas pelo Coordenador do Grupo de Estudos, dependendo das características e necessidades do Grupo. Não se tem a intenção de apresentar um trabalho pronto, fechado, mas abrir possibilidades para serem criados e recriados em seus conteúdos ao longo do processo, observando as características do Programa e do grupo. São apresentadas ainda, ao final deste trabalho, dois anexos:  Anexo I: mostra exemplos de canções, orações, harmonizações conduzidas, meditações e mantras, sugeridos nos planejamentos de aula deste programa.  Anexo II: apresenta exemplos de algumas dinâmicas de grupo, que poderão reforçar e complementar a lição do dia, de forma alegre e divertida. No planejamento de aula de cada lição é sugerida a dinâmica de grupo apropriada para aquela lição, mas, nada impede que essa dinâmica seja aplicada em outra lição e até mesmo em outra Unidade do Programa, diferente da sugerida, adaptando-a às necessidades e características específicas do grupo de Estudo. Grupo Educare de Belo Horizonte
  • 7. CAPÍTULO 1 — O PROGRAMA EDUCARE “A educação é um processo lento como o florescer de uma flor; a fragrância se faz cada vez mais profunda e perceptível quando brota em silêncio, pétala por pétala, até que surja a flor completa”. Sathya Sai Baba
  • 8. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil8 “Onde existe educação não há distinção de classes.” Confúcio (pág. 44) [11] “Há apenas uma lei guiando e guardando esse mundo – a Lei do Amor. A característica do homem é o Amor, sua natureza é Amor. A maior virtude é o Amor. O Amor é a base do caráter. Sathya Sai Baba “A educação atual desenvolve as habilidades e o intelecto mas, de que serve todo o conhecimento do mundo se não se tem caráter?” “Caráter é a Unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder.” Sathya Sai Baba
  • 9. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 9 I. INTRODUÇÃO: A EDIFICAÇÃO DO CARÁTER PELA EDUCAÇÃO Em sua vinda ao Brasil, em abril de 1999, Dalai Lama, o líder espiritual do Tibete, falou em um de seus discursos: “Cada um de nós é responsável por tornar o mundo melhor. E isso deve começar por reformar o nosso próprio íntimo. A importância da educação já foi compreendida, mas cérebros brilhantes também podem produzir grandes sofrimentos. É preciso educar os corações.” Qual é o significado da vida? Para que vivemos e lutamos? Nossas vidas serão superficiais e vazias se formos educados apenas para sermos especialistas, eruditos mergulhados em seus livros ou para nos tornarmos pessoas eminentes, exercendo um maior domínio sobres os outros, ou para conseguirmos os melhores empregos, sendo mais eficientes[18]. A civilização atual com seu sistema educacional padronizado, tem demonstrado uma enorme dificuldade de compreensão dos valores humanos, incentivando basicamente o ensino de uma profissão ou técnica determinada. De modo geral, chama-se isso “formar para o mercado”. O indivíduo é fornecido como uma peça conforme a demanda. Nesse contexto, o indivíduo não teria um valor em si e a educação reduz-se à formação de mão-de-obra. Isso induz o indivíduo a adaptar-se a um padrão, bloqueando-lhe a compreensão de si mesmo, em vez de despertar nele todo seu potencial interior, um indivíduo com plena consciência de si e de suas potencialidades, que se sente parte integrada de um todo, agindo em sintonia com essa percepção, respeitando seu próprio universo interno e externo. Todos os que se destacaram como grandes humanistas, em qualquer época da história ou parte do planeta, disseram de uma maneira ou de outra que, para o desenvolvimento pleno do ser humano, é imprescindível elaborarmos internamente nossos aspectos humanos em todas as suas nuanças através de uma reeducação dos valores da personalidade. Isso se dá pela observação de nossos comportamentos diante de nós mesmos e dos outros, aprimorando nosso caráter, lapidando nossos pensamentos, palavras, atitudes, enfim, trazendo mais qualidade à nossa própria vida. Neste início de século e de milênio, a humanidade depara-se com angústias por ter alimentado em grande medida aspectos que contribuem para a desvalorização do próprio indivivíduo e para a destruição do planeta: orgulho, vaidade, ambição, egoísmo, prepotência... “O homem está ansioso na busca de conhecimentos, de fé e de experiências espirituais. Está agora reiniciando o caminho de volta à origem, uma busca por sabedoria, na qual encontre seu rumo e redirecione sua vida, avaliando seus erros, se restabelecendo numa vida digna, ética e com qualidade”[11]. A educação tem papel fundamental nessa transição, uma vez que pode trazer uma “nova” percepção da verdadeira natureza humana, uma compreensão das vivências internas, a partir das externas. Cientes de nossa realidade interna, surge o contentamento, que é o estado em que procuramos conhecer o que é, tal como é, sem disfarces, diferente da euforia causada pela posse de bens, de idéias ou até mesmo de pessoas. Só então, no contentamento, existe o amor verdadeiro, o amor
  • 10. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil10 que dissolve a noção de desigualdade. Esse é o único elemento capaz de gerar essa transformação. Há uma grande alegria ao compreendermos o que somos. A alfabetização de adultos talvez seja uma das faces da educação em que o significado da descoberta de si mesmo é mais evidente. O auto-conhecimento é o primeiro passo, indispensável, da sabedoria. Sem auto-compreensão, nada podemos conhecer ou, se conhecermos algo, dele faremos pouco ou mau uso. O auto- conhecimento implica em observar passivamente cada pensamento e cada sentimento. Não podemos observar verdadeiramente se, já no primeiro contato, houver julgamento ou identificação, os quais impedem a compreensão. Se observamos passivamente, aquilo que é observado começa a desdobrar-se e há, então, compreensão, a qual se renova de momento em momento[19]. Qualquer mudança mais profunda em uma sociedade, seja no setor familiar, político ou religioso, deve iniciar-se a partir da transformação interna de cada um de nós. Não é possível esperar que a sociedade mude sem que nós mesmos tenhamos mudado na mesma direção. Essa mudança pessoal só pode ser feita através de um processo de revisão de nossos próprios conceitos, valores e práticas. Nem sempre é fácil admitir isso intimamente, mas nós mesmos temos coisas a serem revistas. É necessário uma reeducação de aspectos da personalidade humana para que a sociedade como um todo também seja transformada: nós formamos o núcleos da família, que por sua vez forma o núcleo da comunidade, que, por fim, ergue o edifício de toda a sociedade. Injustiça social, violência, ansiedade, medo, fome, guerra, inversão de princípios éticos; baixa auto-estima, baixa auto-confiança, auto-rejeição, auto-negação de alegria e tranqüilidade. Esses são alguns valores com os quais infelizmente convivemos no dia-a-dia da sociedade moderna. Nós nos acostumamos a conviver com eles e aceitá-los passivamente, o que ao longo do tempo nos entristece e deprime. Mas não deveríamos. A felicidade é um direito humano fundamental. Todos clamam por transformação social, por uma sociedade mais justa e humana. Mas somos nós que compomos esta sociedade: professores, médicos, engenheiros, policiais, advogados, políticos, donas de casa, pais, filhos, casais, jovens, idosos... A mudança deve partir de nós, como cidadãos, através de reflexões, com uma forma de pensar e com uma conduta condizentes com os valores de uma sociedade justa, na qual possamos perceber cada ser humano como parte de um todo, respeitando-o e aceitando-o como um irmão, um companheiro de jornada – independentemente de raça, credo ou condição social– e convivermos em cooperação mútua e harmoniosa. O Programa de Educação em Valores Humanos contempla cinco aspectos da personalidade humana, fundamentais para a edificação do caráter: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não- Violência. A cada um deles corresponde uma infinidade de valores relativos. Esses valores não são ditames externos, a serem ensinados por pregação e repetição. São aspectos da própria natureza humana mais pura e natural, que emergem sempre que as circunstâncias de entorno são harmoniosas e pacíficas. Os valores não são algo a ser ensinado às crianças, jovens e adultos. No máximo, são atributos a serem recuperados, preservados ou cultivados. Eles já estão lá, no imo da alma humana. Vejamos alguns valores relativos a cada um desses valores que talvez pudessem ser chamados de principais.
  • 11. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 11 Verdade: discernimento, auto-análise, atenção, reflexão, sinceridade, honestidade, coerência, perseverança, lealdade etc. Retidão: dever, ética , honradez, responsabilidade, respeito, simplicidade, dignidade, serviço ao próximo, integridade, autoconfiança, contentamento, vida saudável etc. Paz Interior: silêncio interior, calma, contentamento interno, paciência, tolerância, concentração etc. Amor: amizade, dedicação, generosidade, devoção, compaixão, perdão, caridade, alegria, simpatia etc. Não Violência: fraternidade, cooperação, altruísmo, solidariedade, respeito à natureza etc. Segundo a filosofia de muitas culturas, para o desenvolvimento de um indivíduo íntegro –e, em conseqüência, de um Estado, uma nação e um mundo íntegros–, todos devemos obedecer a princípios éticos intrínsecos aos seres humanos. Esses mandamentos universais são regras para a sociedade e para o indivíduo. Se não forem levados em conta, é apenas natural que impliquem em caos e violência, mentira, roubo e ambição desmedida. As raízes desses problemas são emoções provenientes da cobiça, do desejo e do apego[14]; de um ponto de vista biológico, são uma desfunção de aspectos que deveriam cuidar apenas da sobrevivência e se tornam desmedidos em nosso cotidiano. No desenvolvimento dessas disciplinas éticas, que transcendem credo, nação, idade ou época, faz-se necessário o uso consciente e adequado do dinheiro, do alimento, da palavra, das habilidades, do tempo e da energia. Desperdícios de qualquer natureza criam desequilíbrios individuais, sociais e ambientais. Uma reflexão mais aprofundada desses temas desenvolve no indivíduo princípios de conduta para a retidão. De certa maneira, o Programa Sathya Sai Educare evoca o retorno do pensamento filosófico como base para a ação humana. O pensamento influi diretamente nas atitudes e palavras do homem, mesmo que inconscientemente. Aí reside a importância do processo de auto-observação, para que o indivíduo gradativamente conheça os movimentos de sua mente abaixo do limiar usual da consciência. Segundo Caio Miranda, um dos precursores da filosofia oriental no Brasil, “os pensamentos provocam emoções, as emoções influem na ação das glândulas, a ação das glândulas condiciona o nosso metabolismo e este cria as condições em que se desenvolverão nosso fisiologismo e psiquismo.” Toda vez que houver contradições entre pensamentos, palavras e ações, o indivíduo cria pequenas desarmonias internas, que geram desequilíbrios, distúrbios psíquicos e até mesmo doenças. Ao refletir sobre as dificuldades de conciliar pensamentos, palavras e ações, mesmo nas pequenas atitudes do dia-a-dia, nota-se a dimensão do trabalho interno a ser feito. A edificação do caráter através da reeducação em valores humanos opera transformações sutis e extraordinárias na alma –ou seja, sobre todo o universo interior. É função dos educadores, além de desenvolver as técnicas necessárias a qualquer profissão, ajudar os jovens a deixar florescer em si esses valores humanos de uma forma natural e espontânea. Nessa perspectiva, não faz sentido impor novos modelos de conduta, novos modos de pensar, a serem copiados. Tais imposições nunca despertarão a inteligência, a compreensão criadora, e serviriam apenas para condicionar ainda mais o indivíduo. A educação deve permitir
  • 12. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Introdução Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil12 que o jovem descubra e compreenda por si os empecilhos internos e externos que obstruem seu caminho, apoiando-o e ajudando-o a desenvolver seu discernimento, qualquer que seja sua profissão. Não conhecendo sua verdadeira vocação, toda a vida lhe parecerá perdida; sentir-se-á frustado numa ocupação que desempenhará a contragosto. Sua vida pessoal e social, por conseqüência, será pesada e marcada por um sentimento de frustração. O estudo de cada criança por parte dos professores, dessa maneira, exige paciência, vigilância e inteligência, mas especialmente, uma compreensão clara do próprio propósito da educação. Observar as tendências da criança, suas aptidões, seu temperamento, compreender suas dificuldades, levando em conta as possíveis influências, e não apenas considerá-la enquadrada em certa categoria –tudo isso requer uma mente ágil e flexível, desembaraçada de sistemas e preconceitos. Exige habilidade, interesse intenso e, sobretudo, um sentimento de afeição: formar educadores dotados dessas qualidades representa um grande desafio. Em sânscrito, a língua da Índia antiga, a palavra darsham significa “o ato de ver”, com uma conotação mais profunda que o simples sentido usual da palavra: “O ato de ver significa ouvir, compreender, conhecer e estar alerta, sensível, vivo e responsável; ser realmente capaz de ver com total facilidade, sem drama algum. Você desenvolve a habilidade de se acalmar, se aquieta e encontra a paz dentro de você mesmo e, desse modo, você pode ver. Só assim tudo o que você fizer ou criar tem a verdade.” O significado dessa palavra define bem o papel do educador. Ele deve perceber a criança com a “visão” da profundeza de seu próprio âmago, com toda riqueza de detalhes, despertando-a para seus potenciais, para que floresça naturalmente o indivíduo íntegro nesta criança. Essa missão especial cabe aos educadores. Quem são os educadores? Pais, mestres, orientadores educacionais, faxineiros, cozinheiros, jardineiros etc., mas também avós, tios, amigos. A sociedade toda é constituída de educadores: não é possível separar os conceitos de cidadania do conceito de educadores. É o envolvimento de todos que produz a cultura. Além de trabalhar esses valores humanos em si mesmos, os educadores deverão resgatá-los junto às crianças e aos jovens, de forma criativa e inteligente. Não há dúvida de que educar exige muito mais que ensinar. Como fazê-lo, como despertar o discernimento, como ensinar a criança a pensar por si? Aí entram as ferramentas: poderão ser usadas dentro do contexo do PSSE: textos adequados (contos, poesias, fábulas, canções), jogos, brincadeiras, oficinas, trabalhos de reflexão individual e em grupos, incentivando os estudantes a concluir por si mesmos a importância desses preceitos e despertar neles o espírito crítico de suas vivências internas em relação ao mundo, as quais gradativamente forjarão o caráter. O caráter desse jovem define o homem e a mulher que formará a sociedade de amanhã. Com todo o trabalho de auto-compreensão, de reeducação e edificação do caráter, irá desabrochando no indivíduo seu lado divino, sua essência divina, tornando-o apto a vivenciar e perceber um novo universo que se descortinará para ele: que sua parte não é separada nem diferente do todo, um universo de rico e imenso silêncio, além das palavras, de infinito e sublime amor. Alexandros Anastas Maraslis Grupo Educare de Belo Horizonte
  • 13. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 13 II. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE) Segundo Sathya Sai[3], [35] : “A educação tradicional tem-se ocupado em desenvolver o intelecto e as habilidades do homem, mas tem feito muito pouco para desenvolver suas boas qualidades. De que serve todo o conhecimento, se o indivíduo não adquiriu bom caráter? O que o homem conquistou, no campo da ciência e da tecnologia, ajudou-o a melhorar as condições materiais de vida. Aquilo de que nós precisamos, entretanto, é a transformação do espírito. A educação não deve servir apenas para desenvolver a inteligência e as habilidades de um indivíduo, mas também para ampliar sua perspectiva e fazer dele um ser útil à sociedade e ao mundo como um todo. Isso é possível apenas quando o cultivo do espírito é promovido juntamente à educação nas ciências físicas. A educação moral e espiritual capacita o indivíduo a levar uma vida disciplinada [3]. Educação sem autocontrole, definitivamente, não é educação. A verdadeira educação deve fazer com que o indivíduo seja compassivo e humano, e não deve torná-lo egoísta e tacanho. Simpatia e respeito espontâneos por todos os seres devem fluir do coração de um indivíduo propriamente educado. Ele deve estar ávido para servir à sociedade, ao invés de estar preocupado com suas próprias aspirações. Este deve ser o real propósito da educação no seu verdadeiro sentido. Os educadores precisam sensibilizar-se nesse sentido, para poderem cumprir verdadeiramente com o propósito da educação.”[35] O Programa Sathya Sai Educare, como foi visto, trabalha com a criança cinco valores universais, VERDADE, RETIDÃO, PAZ INTERIOR, AMOR e NÃO-VIOLÊNCIA, e seus valores relativos correspondentes. Esse de um lado é um complemento, paralelo às matérias acadêmicas, mas também deve estar presente permeando as matérias acadêmicas. Essas são as duas abordagens, respectivamente direta e indireta, do Programa Sathya Sai Educare. II.1. HISTÓRICO DO PROGRAMA SATHYA SAI DE EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS (PSSEVH) E DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE (PSSE) O Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos foi elaborado na década de 60 por um grupo de educadores composto por psicólogos, pedagogos e professores que conheciam os ensinamentos de ordem espiritual e educacional de Sathya Sai Baba. Todo o trabalho foi feito sob a orientação e coordenação de Sathya Sai Baba, Reitor da Universidade Autônoma de Puttaparthi e considerado por muitos o maior educador da Índia moderna. A partir de 1973, após o amadurecimento do programa nas escolas gratuitas criadas por Sai Baba, o Programa de Educação em Valores Humanos começou a ser divulgado mais amplamente. Em 1978, foi aprovado oficialmente pelo governo da Índia e tem sido implementado extensivamente em escolas públicas desse país. Em outros países (Zâmbia, Tailândia, Malásia, África do Sul, Venezuela, Espanha, Argentina, Colômbia, Itália, Estados
  • 14. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil14 Unidos, México, Austrália etc.), o Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos vem sendo introduzido em escolas públicas e particulares. No Brasil, o Programa vem sendo divulgado desde o início da década de 90 a professores, diretores e coordenadores pedagógicos e atualmente é aplicado em cinco Escolas Sathya Sai do Brasil e em escolas e creches públicas e particulares em Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Niterói, Recife, Fortaleza, Uberaba, Uberlândia, Ribeirão Preto, Belo Horizonte e várias outras cidades. O PSSEVH foi elaborado inicialmente para crianças de 6 a 12 anos e funciona bem com crianças de diferentes culturas, credos e classes sociais. Atualmente, sua aplicação vem sendo estendida para outras faixas etárias e tem se constituído num valioso elemento para lidar com problemas atuais em escolas, como crime, violência, drogas, preconceitos, falta de respeito, falta de interesse escolar etc. A experiência de aplicação do Programa mostra que ele certamente terá uma contribuição decisiva no restabelecimento dos valores universais na sociedade, promovendo tolerância, respeito, compaixão, não-violência, cumprimento do dever, unidade e dignidade, assim como o desenvolvimento da própria cultura. O êxito desse programa tem ultrapassado todas as expectativas, com resultados excelentes e alentadores. As crianças educadas no contexto do PSSEVH mostram um enorme e definitivo progresso em seus padrões de conduta e uma personalidade equilibrada e saudável. Os professores sentem-se motivados, entusiasmados e gratificados com os resultados obtidos, sendo recompensados pelo esforço de sua própria transformação[35]. II.2. O PROPÓSITO DO PROGRAMA EDUCARE Em setembro de 2000, Sathya Sai Baba comentou pela primeira vez sobre o significado mais profundo da palavra latina educare; e, em julho de 2001, foi apresentado em uma conferência internacional de educação na Índia com o perfil de um Programa. O Programa Sathya Sai Educare (PSSE) é o próprio Programa de Educação em Valores Humanos, utilizado até então, mas com uma visão mais integradora dos valores e uma compreensão mais aprofundada do processo interior que ele envolve. O Programa Sathya Sai Educare visa a auto-realização. A formação acadêmica deve buscar excelência. Os valores humanos são inerentes a cada indivíduo, de modo que seu desenvolvimento, na verdade, é um aspecto de um processo de auto-conhecimento. Ao longo do processo, o estudante aprende a reavaliar suas próprias atitudes perante a vida, a descobrir em si potencialidades latentes e a lidar com suas próprias limitações. Esses elementos promovem uma transformação profunda em sua própria vida. Do ponto de vista do professor, portanto, é fundamental que ele vivencie os valores em sua própria vida cotidiana. Apenas assim, ele irá transformar-se em um educador, assumindo sua missão de mestre para promover, através de seu próprio exemplo, a motivação necessária a seus futuros alunos, inspirando-os a se tornarem seres humanos íntegros, pessoas de caráter. Os alunos adotarão uma postura íntegra, correta e amorosa apenas se eles tiverem um exemplo de que isso traz prazer, em seu sentido mais puro, e felicidade. É o professor que é capaz de lhes mostrar isso. O propósito do Programa Sathya Sai Educare (PSSE) é formar o caráter. Para isso, são trabalhados todos os aspectos da personalidade da criança, desenvolvendo seu potencial, tornando-a apta a viver sua vida com plenitude.
  • 15. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 15 Segundo Sathya Sai: “Caráter é a unidade entre pensamento, palavra e ação. O caráter torna a vida imortal. Há quem diga que saber é poder, mas eu digo que o caráter é poder. Até a aquisição de conhecimento depende de um bom caráter, de modo que todos devem aprender a forjar um caráter impecável, sem vestígios de maldade. As qualidades que integram um bom caráter são: o amor, a paciência, a perseverança e a compaixão. Essas qualidades contêm todas as outras mais elevadas e precisam ser respeitadas. A educação é um processo lento como o desenvolvimento de uma flor, na qual a fragrância se torna mais profunda e mais perceptível no florescimento silencioso, pétala por pétala. Esse desenvolvimento significa disciplina e inteligência, em vez de ser apenas o resultado da ação de uma pessoa dedicada à tarefa de ensinar e preparar o indivíduo para os exames, de maneira meramente repetitiva. O exemplo, e não o preceito, é a melhor ajuda para o ensino”. Através da educação, pode-se despertar a essência que se encontra em cada coração e exteriorizá-la na forma de uma boa conduta, de um falar verdadeiro, com amor em cada gesto, buscando um estado de paz interior e manifestando em todos os momentos a não-violência. Através da educação, o ser humano deve inteirar-se de que ele não tem apenas um corpo físico, mas também uma mente que pode controlar os sentidos; o intelecto, que confere a capacidade de discernimento e pode controlar a mente; e sua essência, sua consciência, chamada por muitos nomes em muitas tradições, que representa a Divindade inerente nele, seu divino interior, aquilo que o indivíduo realmente é. Por isso, para atingir nossos objetivos educacionais, é necessário trabalhar os vários níveis internos das crianças e jovens: físico, mental, intelectual, psíquico e espiritual. Como afirma Sai Baba, a educação tem como resultado final a formação do caráter. Ao invés da mera aquisição desenfreada de informações, ela deveria promover a sabedoria (conhecimento posto em prática). Isso não reduz a importância da formação acadêmica. Apenas a tira da condição de meta, para transformá-la em ferramenta necessária. A educação não tem como finalidade conferir um “meio de vida”, mas preparar para toda a vida. A educação deveria inspirar um modo de vida a ser vivido com dignidade e equilíbrio, suportando igualmente os êxitos e fracassos inevitáveis em seu percurso, procurando sempre manter uma mente equânime. Ambos, sucesso e fracasso, devem levar ao aprendizado, ao invés de gerar orgulho ou depressão. O PSSE desenvolve claramente esses aspectos da excelência. O homem busca a satisfação de algumas aspirações humanas básicas. Ele procura alegria, paz e felicidade. Conclui-se que o homem aspira a excelência. No contexto da educação escolar integral, a excelência tem três componentes: excelência acadêmica, excelência ambiental e excelência humana (excelência de caráter, moral e espiritual). Através do Programa, os estudantes passam, em muitos casos, de indisciplinados, desrespeitadores das normas e dos professores, barulhentos, rebeldes e insubordinados, para disciplinados, estudiosos e tranqüilos, respeitadores dos professores, pais e idosos, amistosos e bem-humorados, donos de ações que enobrecem. Passam a executar serviços voluntários para a
  • 16. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil16 escola e para a sociedade. Seu caráter se modifica ou se aprofunda, sua dignidade floresce; sua excelência acadêmica cresce em paralelo e passa a ser real. Quanto ao aspecto espiritual, os alunos são encorajados a serem melhores e mais profundos em suas próprias religiões, a respeitarem e compreenderem as demais religiões, dando ênfase aos valores universais de fraternidade, respeitando a vida que flui em todos os reinos, despertando a consciência divina, inerente a cada ser humano. De fato, a integração dos cinco valores universais determina um impacto positivo no nível acadêmico, ético e espiritual dos estudantes. Como resultado das mudanças de comportamento dos filhos, que se reflete na escola e em casa, os pais também são envolvidos, se interessando mais pelo progresso acadêmico e social dos filhos, eles mesmos desenvolvendo sua auto-estima, passando também a respeitar as demais religiões, muitas vezes chegando a abandonar hábitos nocivos à saúde, à sociedade e ao ambiente. II.3. FUNDAMENTOS DO PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Educação e EDUCARE A palavra Educação origina-se do latim educare, formada pelo prefixo ex e o radical ducere. Ex significa para fora, para o exterior; ducere, significa levar, conduzir para fora; “ex-ducere”, portanto, tem o sentido de fazer emergir aquilo que está dentro. No contexto da educação, isso significa fazer emergir, conduzir para fora algo que é inerente, intrínseco à condição humana. Nesse sentido, a educação não é um processo de depositar informação –sequer de valores–, mas de criar condições para a manifestação do que já existe no interior de cada ser humano. Esse é o significado original do processo de educação e o sentido da Educação em Valores Humanos. Em uma perspectiva espiritual, o Programa Educare pretende propiciar os meios para fazer com que a centelha divina interior, que habita cada coração, se expresse na consciência das crianças, de seus pais e dos próprios educadores. Os valores não são assuntos de aula, que sejam ensinados como informação externa! Os Valores Humanos do Amor, da Verdade, da Retidão, da Paz Interior e da Não-Violência são apenas a manifestação natural do divino interno, da essência e natureza de cada pessoa. Portanto, o ensinamento de Sathya Sai Baba, em seu sentido mais central, é que o processo de Educação, além de oferecer excelência na formação acadêmica, visa proporcionar às crianças e aos jovens as condições para a tomada de consciência de sua verdadeira natureza, para viver sua vida com toda sua potencialidade, bem como manifestar essa essência de maneira natural, contínua e permanente em seus pensamentos, palavras e ações. EDUCARE como um processo integrador Uma característica do Programa EDUCARE é seu sentido integrador. Até recentemente, alguns aspectos do Programa de Educação em Valores Humanos eram apresentados como relativamente independentes –ou pelo menos não eram realçadas suas interconexões. Assim, havia cinco valores, cinco técnicas, cinco níveis de consciência, cinco sentidos. O PSSE incorpora a idéia de que todos são aspectos diferentes da mesma unidade. Do mesmo modo que cada um dos elementos da natureza está presente nos demais, os valores, as técnicas, os sentidos e os níveis de consciência não são tratados como independentes.
  • 17. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 17 Estamos acostumados ao aprendizado das coisas do mundo através de nossos sentidos, os quais as percebem como distintas e separadas. Assim, criamos uma visão de mundo em que não apenas os sentidos são separados, mas as várias coisas que os sentidos percebem parecem ser coisas distintas. As coisas são tomadas como independentes, as pessoas como separadas e até os valores como separados. Quando nos aproximamos da fonte de nossa existência, aquilo que é a natureza e a base de nossa consciência, deixamos de utilizar apenas os sentidos para conhecer o mundo. Nesse momento, começamos a perceber que aquilo que nossos sentidos nos apresentam como coisas separadas são, na verdade, expressões diferentes da mesma unidade básica. Assim como podemos apenas ver a diversidade de formas, de tamanhos, de localização e de velocidade das ondas do mar, podemos compreender, também, que todas as ondas são manifestações do mesmo oceano básico, que lhes dá essência e existência –e no qual todas as ondas mergulharão de volta, mais cedo ou mais tarde, deixando sua sensação de individualidade, para reconquistar aquilo que elas sempre foram: o próprio oceano. “Conhece-te a ti mesmo.” Essa era a base do conceito de educação do Sócrates da Grécia clássica. O EDUCARE é um processo que conduz o ser humano a si mesmo, que lhe dá as bases, ao longo da vida educacional, para que, ao mesmo tempo em que esteja no mundo e cumpra bem e com satisfação suas responsabilidades no mundo, sejam desfeitas as ilusões acumuladas com a percepção fragmentada do mundo através dos sentidos. Para que seja reconhecida sua Realidade Divina, sua Natureza Divina, sua Unidade com o Absoluto, sua identidade com Deus, sua identidade com todos. Paralelamente a esse processo de tomada de conhecimento, o EDUCARE fornece os meios para uma vida equilibrada, de relação harmônica com os cinco elementos da natureza, com os cinco planos internos, com os cinco valores fundamentais, de unidade entre pensamento, palavra e ação, com toda a humanidade. A aplicação do Programa EDUCARE De um ponto de vista conceitual, o EDUCARE visa tornar clara a unidade entre todos os aspectos da vida. Na prática educacional, isso se reflete em um esforço adicional de integração. Nesse sentido, uma das metas mais evidentes do EDUCARE é a necessidade de incluir os educadores em todas as etapas e metas do Programa. A metodologia do Programa Sathya Sai Educare deve haver o mesmo sentimento. Isso deve estar presente no coração e na concepção dos educadores que aplicam o Programa, o que incluir a meta de estender, especialmente através das próprias crianças, os benefícios à família. De alguma maneira, devem ser buscados meios que permitam aos pais saber o que é ministrado aos filhos, o que eles estão aprendendo; que os pais sejam valorizados por seus filhos e pelos professores do Programa. Também é importante que aos pais sejam fornecidos, direta ou indiretamente, elementos para seu próprio crescimento, sua tomada de consciência, na medida de seu interesse. Isso significa uma acentuação da relação harmônica entre a Escola e as famílias –quem conhece reuniões de pais em escolas sabe que essa não é uma norma. Deverão ser buscados os meios para que a unidade da família se desenvolva e que essa unidade seja não só estimulada, mas também
  • 18. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil18 beneficiada pelo amor, aceitação e respeito mútuo, compreensão, compaixão, presentes em todas as atividades da escola. A missão dos educadores no Programa Qual é a missão de cada um de nós, educadores, nesse processo? Essa é uma questão muito delicada, pois aquilo que realizamos depende fundamentalmente do que consideramos como nossa meta. Ainda nos sentimos apenas parte do mundo, seres individuais, diferentes, limitados e separados, identificados com o corpo e com o mundo físico. Mas Sathya Sai Baba refere-se a todos como “Encarnações do Amor Divino”, como manifestações do próprio Absoluto. Isso nos aproxima da condição de mestres na missão de educar para a auto-consciência da divindade inerente a cada um de nós. Assim, ver a todas as pessoas como expressão particular da totalidade deve ser o ponto de partida de nossa missão, ainda que uma parte de nós insista em ver a nós mesmos e aos outros como algo menor que isso, separado dos outros, melhor ou pior que os outros. Reforçar esse sentimento de unidade com o todo –e, portanto, com o sentimento de que temos as potencialidades para agir com todo o amor e o discernimento que apenas o todo pode ter– deve ser nossa primeira e contínua tarefa. Para conseguir desenvolver esse sentimento, precisamos acalmar nossa mente, acostumada à agitação externa, influenciada por anos de contato com outros conceitos que estão baseados na comparação, que nos diminuem, que nos afastam de nós mesmos, que nos colocam defensivamente, que nos enchem de idéias prévias a respeito das coisas e das pessoas. Para sossegar a mente, é indispensável que cada professor/professora do Programa Educare pratique alguma disciplina espiritual –a que mais se adequar e lhe agradar– de forma regular e em um programa estruturado. Isso permitirá que nos moldemos no mestre que habilitará a inspirar pelo exemplo, mais do que pelo discurso: se não tivermos uma mente tranqüila, como falaremos a respeito disso para os alunos? Não é fácil deixarmos de ser apenas professores para sermos exemplos. Disciplina espiritual, dentro dessa perspectiva, é apenas uma técnica que nos ajuda a harmonizar nosso mundo interno. Esse é um grande desafio. A tentativa de conduzir as crianças à consciência de sua própria natureza divina não pode ocorrer sem que o professor também busque a consciência divina de si mesmo. Não é que os professores devem estar prontos. É necessário apenas que eles caminhem na mesma direção. De fato, parece que a dedicação às crianças ao longo do Programa é que nos deixa “prontos”. A dedicação sincera ao processo de auto-transformação é suficiente, e os resultados são alcançados no devido tempo. O PSSE não é um conteúdo programático, um conjunto de técnicas, uma proposta para diminuir a violência em escolas ou um programa para tornar as crianças “bem comportadas”. Não é uma metodologia para lidar com crianças em bairros carentes. O EDUCARE é um processo para despertar a consciência do indivíduo para sua natureza interior, que lhe dará a constatação da ligação e interdependência que une todos os seres entre si e com a totalidade. Os professores que buscam essa consciência têm a capacidade de inspirar essa busca. Ainda que o conceito usual de “disciplina” seja de algo estabelecido externamente, não é esse seu sentido apropriado no PSSE. A disciplina espiritual não é algo que se estabelece de fora para dentro, uma imposição, um manual, uma receita ou um programa de atividades de meditação, oração etc. Trata-se de estabelecer uma relação entre a consciência de cada um e seu corpo, seu ego e sua mente. Sai Baba diz, “Seja o senhor do mundo da mente, não escravo de seus
  • 19. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 19 sentidos.” A disciplina espiritual, portanto, é um meio de nos colocar no comando de nós mesmos. Por analogia, na medida do descontrole de um educador sobre seus próprios sentidos, sobre suas próprias emoções, sobre seus próprios pensamentos, assim também serão os educandos. Na medida do desenvolvimento do controle sobre seus próprios pensamentos, desejos e atividades, assim também seus alunos serão bem sucedidos. Em um sentido mais estrito, isso implica no uso de técnicas que permitam que nós, educadores, alcancemos esse êxito, que logremos ter o controle sobre os aspectos mais agitados de nosso ser. As técnicas para a disciplina espiritual não são o objetivo, mas meros meios, talvez indispensáveis, de que dispomos para realizar essa transformação. Elas devem ser usadas com discernimento, consciência, auto-respeito e constância. Esse é o sentido do programa “Limite aos Desejos” criado por Baba e fortemente recomendado no programa educacional. Portanto, os professores devem buscar sincera e ativamente sua própria transformação, o que inclui o uso de alguma ou algumas das técnicas sugeridas: meditação na luz, auto-investigação, oração, auto- observação, serviço voluntário, amoroso e desinteressado, limite aos desejos etc. Que Baba se refira aos professores do Programa Sathya Sai Educare como “gurus” (mestres) mostra a dimensão de nossa responsabilidade, mas não deve constituir a dimensão de nosso orgulho. Os cinco Ds Um dos aspectos que diferencia o Programa EDUCARE da maioria dos programas educacionais propostos é que seu sucesso não depende de elementos materiais, de currículo ou de tecnologia, mas basicamente da pessoa humana (não é esse um fundamento de todos os programas educacionais?). A experiência das escolas em que se tentou aplicar mais extensivamente o Programa Educare mostra que é no processo de transformação interior, e não nas condições materiais, que residem as maiores dificuldades na busca de uma escola completa –e o sucesso na busca! Com o desenvolvimento interior, aquele que se transforma não se torna “mais avançado”, “mais espiritualizado” ou “melhor” que os demais. Esse sentimento é de vaidade e presunção –antítese dos valores que se estão discutindo. Se muito empenho no crescimento espiritual resultar nesses sentimentos, o esforço foi direcionado indevidamente, gerando um aumento do egoísmo e não em sua redução. Todo o esforço foi perdido. O desenvolvimento apenas torna a pessoa mais verdadeira em relação a si mesma; mais amorosa do que jamais foi; mais tranqüila do que em outros tempos; mais correta e mais compreensiva do que antes; mais próxima dos demais. É o mesmo divino que se manifesta em todos e, portanto, é impossível ser mais divino que qualquer outro. O desenvolvimento deve levar a um estado de contentamento interior, e não a um sentimento de superioridade espiritual de qualquer espécie. O desenvolvimento verdadeiro nos torna mais iguais, mais unos com todos, enquanto que o sentimento de “superioridade espiritual” afasta, na medida em que reforça o sentimento de diferença, em que julga o outro como separado de nós mesmos, em que nega ao outro a condição de manifestação igual ao Absoluto, que veríamos reservada a nós mesmos. Nesse processo de desenvolvimento interno, estão os chamados cinco Ds: Devoção, Disciplina, Discernimento, Determinação e Dever. A Devoção é o sentimento de amor por Deus. Seu sintoma externo mais evidente é o sentimento de amor por todas as expressões d’Ele, sem
  • 20. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil20 exceções. É esse sentimento de amor em direção a Deus que torna natural servir ao Absoluto, servindo todas as suas formas. É a identificação entre Deus amado e toda a Sua obra que torna realizador servir a todos os seres humanos e buscar uma sociedade mais justa. A Disciplina é indispensável para retomar o controle da consciência sobre a mente, o ego e o corpo, para controlar os sentidos, os desejos e os pensamentos, para que eles sejam usados para aquilo que é sua real finalidade. Como é possível expressar os valores humanos quando se caminha no sentido inverso? Bem, como se explica que haja noite se o Sol brilha incessantemente em todas as direções? A resposta é simples: bastar olharmos para o lado oposto ao Sol. Olhe para o Sol, e nunca haverá noite. Olhe para a Verdade, e nunca haverá ilusão. É necessário mudar o olhar, o que não é uma tarefa fácil, pois estão acostumados a um ponto de vista, a uma perspectiva. Para qualquer mudança há resistência interna. Quem tentou fazer regime sabe disso. A disciplina é uma ferramenta que nos ajuda a reduzir a agitação mental e nos devolve o senhorio sobre o reino interno –essa história está representada em muitos mitos e contos. O Discernimento é a capacidade de reconhecer a Verdade. Nascidos, educados e formados sob uma perspectiva ligada apenas ao mundo externo, temos o desafio de encontrar o caminho interior. Como isso é possível? O Discernimento é a função em nós que distingue o que é real, verdadeiro, justo, adequado. Todas as nossas decisões estão apoiadas na maneira como vemos as coisas. Se estamos enganados sobre as coisas, nossas decisões são igualmente equivocadas. Em princípio, usamos aquilo que nos foi ensinado para reconhecer o que é certo ou verdadeiro. A experiência mostra que essa visão é insuficiente. O que, em tudo o que é transitório no mundo, pode ser considerado perene, inalterável? Não conseguimos estender nossa compreensão para além das aparências, para além do que é dado apenas pelos sentidos. Mesmo aquilo que é correto ensinado externamente não é suficiente. É por isso que o PSSE não é um manual de bom comportamento. Cada um precisa refletir e chegar às suas próprias conclusões. Muitos de nossos referenciais precisam ser mudados e alguns deles precisam de confirmação interna, para que tenham mais força. O discernimento é nossa capacidade de refletir, é nossa capacidade filosófica e acima de tudo, é a luz que nos mostra o caminho. A Determinação é indispensável, pois é necessário promover a transformação até o final. A “pressa” nesse processo mostra que estamos com os olhos mais voltados para o momento de pararmos de fazer força, que para o próprio trabalho de transformação! Vejam os exemplos de figuras históricas que realmente fizeram grandes transformações na sociedade, em seus países – nunca é um processo rápido e apenas a determinação permite atingir a meta. Quando estamos sinceramente imbuídos da vontade de nos transformar, a própria vida se encarrega de nos testar, nos mostrando o tipo de obstáculos que já conseguimos superar e os que ainda não superamos. Até quando acreditaremos na realidade de um mundo que está continuamente se transformando frente aos nossos olhos? Nós nos apegamos à forma, e não àquilo que gera a forma. A determinação na disciplina espiritual e no processo educacional no qual estamos engajados é indispensável até que a última ilusão e o último apego se desfaçam. Na educação, até que a dificuldade do último de nossos alunos seja superada. O sentimento de Dever é indispensável para nos fazer mover. Esse Dever não emana de pessoas, preceitos ou ideais externos ou vem escrito em textos ou orientações externas. Ele emana do amor e é o fluxo natural do divino interno, que vem de nosso coração. Quando nos deixamos levar por esse sentimento pelas pessoas e pela natureza, estamos cumprindo o Dever. No início, é
  • 21. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 21 difícil discernir entre o sentimento de obrigação imposta (ou auto-imposta, para fins de reconhecimento externo) e o dever natural na realização de algo que nosso Amor pede. Com o tempo e com a diminuição de nossa agitação interna, diminui o conflito e o esforço para cumprir aquilo que é necessário. Finalmente, nosso único desejo é a expressão desse Amor, na forma de ação naquilo que a cada momento é necessário, correto e cabível. Quando se extingue o ego, passa a existir a unidade entre a consciência pessoal e a consciência divina: aí alcançou-se a Realização. O resultado, na forma externa, é sempre o envolvimento e o responsabilidade com a sociedade. Realização espiritual não pode estar separada do compromisso com o coletivo. A vida dos grandes personagens da humanidade mostra isso de modo inequívoco. É fácil alcançar esse estado? Diz Sai Baba que sim, mais fácil que piscar os olhos. De nosso ponto de vista... isso consome tempo e esforço. O fato é que, se a educação tem uma meta espiritual, assim também será a postura do professor. Ele não deve cobrar de si mesmo o resultado a ser alcançado, mas apenas ter a disposição de buscá-lo. O resultado será natural. Meditar nos cinco Ds e deixar que eles permeiem a consciência. Os três HVs “A meta da vida é a auto-realização. A auto-realização é consciência constante integrada, e consciência constante integrada é harmonia entre o coração, a cabeça e a mão, o que é a marca de uma mente pura.” (Sathya Sai Baba) Sai Baba tem dito que EVH, na verdade, é 3HVs: unidade entre “Head”, “Heart” e “Hands”, isto é, entre a cabeça, o coração e as mãos. Isso significa que as mãos devem fazer aquilo que a cabeça pensa e o coração aprova. Essa é uma postura fundamental no EDUCARE. Enquanto fizermos o que a cabeça pensar como reflexo automático, como ato contínuo, estaremos fortemente sujeitos a cometer injustiças, percebendo-as às vezes tardiamente. Enquanto a boca falar o que a cabeça não pensa e as mãos não fazem, serem acusados muito justamente de hipocrisia. Se há hipocrisia, não existe traço do Programa Educare. O motivo dessa falta de sintonia entre a cabeça e as mãos é que os aspectos reativos de nossa mente (ego e mente) nos levam a reagir a situações apenas com base nos elementos imediatos envolvidos. É o “bateu, levou”. Não considera princípios. Além disso, costumamos tomar decisões baseadas apenas no que foi aprendido previamente. Passamos por um número limitado de experiências, depositadas em nossa memória (subconsciente). Na ausência de outros mecanismos, todas as nossas decisões são fundamentadas, conscientemente ou não, naquilo sobre o qual temos algum referencial. Dos conteúdos depositados em nosso subconsciente, parte vem das pessoas que derramaram um profundo amor e simpatia ao longo de nossa vida: mãe e pai, irmãos e irmãs, avós, vizinhos, amigos, professores etc. Parte é de experiências negativas, acumuladas por fortes impactos emocionais (como a perda de pessoas queridas, frustrações, medos, decepções, angústias, experiências de injustiça ou violência) ou pelos conceitos formados apenas por imagens (como as que assimilamos passivamente através da televisão). Nossos padrões subconscientes são limitados e limitantes. Ou seja, além dos mecanismos de funcionamento de nosso ego serem intrinsecamente egoístas, pois sua função é cuidar de nossa sobrevivência pessoal, eles são dependentes da qualidade do que cada um vivenciou. A questão do conteúdo que portamos não está ligado diretamente com a hierarquia social. Há famílias com padrão econômico muito simples, mas com profunda amorosidade e com grande
  • 22. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil22 sentimento de solidariedade. Há famílias com padrão econômico elevado e que vivem conflitos constantes, exemplos pesados de egoísmo e de indiferença. Certamente há famílias em condição de pobreza que vivem problemas de violência e famílias em situação financeira estável com um grande sentimento de responsabilidade social. Com raríssimas exceções, cada um de nós passa por uma série de experiências positivas e negativas, as quais temos que trabalhar internamente depois. É evidente que uma sociedade que mantém na miséria uma parte de si mesma está fabricando dificuldades futuras, pelas experiências graves nas crianças que crescem com revolta e privação. Contudo, é uma ilusão achar que a ausência de valores tem alguma relação direta com ausência de recursos materiais. Os exemplos de egoísmo, vaidade e indiferença nas classes mais abastadas são igualmente fábricas de crianças privadas de valores humanos. Aparentemente, a conexão das famílias com a cultura, em seu sentido mais amplo, fornece uma ferramenta poderosa para a reflexão e para enfrentar as adversidades. Por isso, a migração regional, retirando as pessoas de seu contato familiar aumentado, de suas raízes culturais, afastando-as de suas tradições, de seus ditados populares, jogando-as em periferias de grandes cidades, é tão destrutiva do tecido familiar e social. Nos lugares em que as comunidades se reorganizam e começam a recuperar seu sentido de coletividade, com todos os elementos da cultura que lhe é característico, a paz volta a reinar. Esses padrões de resposta só podem ser modificados com a capacidade de entrarmos em contato com nossa consciência, nossa verdadeira natureza. Se conseguimos fazer isso, deixamos de nos pautar pelos elementos exteriores e temporários, para lidar com o imenso potencial de reflexão de nossa consciência. “Quem é o mestre?, pergunta Baba, para depois responder, “A consciência é o mestre, siga a consciência”. Como já foi comentado, não é fácil a princípio, distinguir entre as respostas da consciência e as de nosso ego. As técnicas de meditação na luz e outras práticas de disciplina espiritual fazem com que os educandos e nós mesmos comecemos a entrar em contato com o princípio divino dentro de nós. Isso gradualmente vai diminuindo nossa agitação cotidiana, de maneira a permitir, que cada vez mais, a nossa ligação com a consciência seja permanente, intensa e clara. Isso vai gradualmente nos aproximando do que são valores verdadeiros no mundo externo. Desse modo, frente a qualquer situação, nova ou não, nossa ação será consciente e permeada pelos atributos da centelha divina em nós: amorosa, pacífica, verdadeira, correta e não-violenta (embora às vezes tão firme quanto necessário). Os três HVs, portanto, são, ao mesmo tempo, uma prática (ou uma técnica) e uma meta. Antes de agir, consulte o coração, perguntando por sua aprovação. Contentamento e transformação Não há transformação em um ambiente de tensão e insegurança, de ameaça e desconfiança. A felicidade é essencial para a mudança, como disse o Prof. Robert Molloy, da Austrália. Assim, o ambiente educacional deverá ser permeado de contentamento, caso se pretenda manter um ambiente de formação de valores, de formação interior. As dificuldades expostas pelos alunos não devem ser motivo de irritação, raiva e contrariedade. Os alunos que não se enquadram, que apresentam mais dificuldades, são nossos melhores mestres, pois serão eles que medirão nosso grau de transformação. Amor ou raiva, confiança ou acusação? Nossa relação com as pessoas não deve ser função dos motivos externos, de maneira que nosso sentimento pelas pessoas se alterne conforme a circunstância, tornando-se ora amor e confiança, ora raiva ou acusação em função de que elas façam coisas que nos agradem ou nos desagradem. Quando gradualmente alcançamos nossa transformação interior, gradualmente também vamos conseguindo lidar com as situações difíceis sem que isso afete nosso sentimento de amor. Saber assumir posições firmes
  • 23. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 23 em relação àquilo que não é correto, não implica em abandonar, sequer temporariamente, nosso sentimento de amor. No Programa EDUCARE, é necessário que o amor seja uma característica permanente. Quando nosso amor for tão extenso que os alunos mais desconfiados da capacidade alheia de amá-los tiverem certeza de que são amados, eles se sentirão felizes e seguros, e a transformação será natural. Elas não entregarão seus corações enquanto não tiverem essa confiança e precisarão nos testar antes. Isso não significa tolerância com o que não está certo. Tem sido afirmado e demonstrado que os filhos e educandos tomam como um sintoma de indiferença em relação quando não lidamos abertamente com o que eles fazem de errado. Mas nosso amor por eles deverá estar acima dos testes que eles possam impor e é necessário conciliar amor e firmeza nessas situações. Eles devem sentir que esse amor está garantido, seja qual for a situação externa. Mesmo em casos de ações maldosas, para as quais se guardam os devidos comentários e providências, devemos conhecer e reconhecer a forma divina e amada por trás da ação. Propiciar esse amor, gerando um ambiente amistoso, bem-humorado, tranqüilo e criativo, é parte do programa EDUCARE. Deixe que seu amor crie um ambiente em que os alunos se sintam felizes. Contentamento não é euforia. Claro, amem sua própria condição divina, amem e respeitem a si mesmos, de maneira que possam expressar amor e respeito para com os outros. Só se pode dar aquilo que se tem. Essa atmosfera é fundamental para o ambiente educacional. EDUCARE como um programa de educação espiritual O Programa EDUCARE não é uma pedagogia específica –ele talvez possa ser melhor denominado de uma filosofia educacional. Muitos de seus conceitos são compartilhados por muitas pedagogias e contém muito do que talvez seja apenas bom senso, abandonado nas instituições educacionais cuja estrutura está falindo. Isso faz com que ele possa ser aplicado dentro de uma estrutura pedagógica tradicional ou em uma pedagogia construtivista, em uma pedagogia Montessoriana, em uma pedagogia Waldorf etc. Cada um saberá fazer as adaptações que parecerem necessárias. Os conceitos de Educação em Valores Humanos foram aceitos de coração e aplicados com sucesso em países muçulmanos, em vários países da Ásia, nos Estados Unidos e na Europa, em países da África, em vários lugares da América do Sul, em locais muito pobres, em escolas com amplas condições materiais. Os nomes usados para fazer referência a alguns dos conceitos usados aqui, como “centelha divina”, “ego”, “subconsciente” etc., podem ser adaptados, de maneira que sejam melhor compreendidos, evitando bloqueios desnecessários. Nada do que é essencial aqui diz respeito aos nomes das coisas. Isso não diminui o Programa EDUCARE. Há alguns elementos, no entanto, que não podem ser abandonados. O primeiro deles é que, em nenhuma hipótese, qualquer atividade de difusão do Programa Sathya Sai Educare seja cobrada. Os professores nas escolas são profissionais e devem ser remunerados de maneira justa. No entanto, a difusão dos conceitos e idéias em torno do Programa Sathya Sai Educare é necessariamente gratuita. Há impedimento legal de se utilizar o nome de Sai Baba ou do Programa Sathya Sai Educare cobrando qualquer tipo de taxa. Escolas particulares podem aplicar o Programa, mas elas devem usá-lo por amor às crianças, não como ferramenta de marketing para atrair alunos. Sócrates, na Grécia Antiga, era criticado pela família por não querer receber remuneração por suas aulas, tendo vivido na pobreza. Ele é exemplo imorredouro de Amor e
  • 24. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Apresentação Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil24 Retidão. O Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil dá suporte gratuito a escolas que tenham interesse em ter palestras, aulas, grupos de estudo ou suporte para o desenvolvimento do programa. Um outro aspecto –e talvez o mais importante deles– é que EDUCARE é um Programa com fundamentação espiritual. Isso está colocado de maneira clara em uma palestra do Prof. Michael Goldstein, dos EUA: “É essencial que a profundidade espiritual, o significado espiritual deste Programa seja comunicado a educadores e pais. Se tivermos medo que sejamos rejeitados pelas agências públicas por causa de nossa orientação espiritual, então estaremos apenas apresentando mais um programa de aceitação rápida, para o declínio desmoralizador do caráter da educação para crianças do mundo inteiro. É imperativo que demonstremos o verdadeiro significado espiritual desse programa a educadores e pais. Dessa maneira, eles também terão a oportunidade de vivenciá-lo e transformar a si mesmos. Qualquer esforço menor que esse não é digno de nosso programa.” É necessário cuidado, no entanto, com a compreensão do significado de “espiritual”. Para alguns, “espiritual” pode significar princípios; para outros, um sentimento de dedicação a algo que extrapola o sentimento de individualidade, de dedicação à sociedade; para outros, tudo o que diz respeito ao mundo interno das pessoas; para outros ainda, um sentido de ligação com o Absoluto, seja em que forma ou sob que nome for. Se olharmos com atenção, todos eles são formas diferentes de expressar um mesmo sentimento. Sai Baba diz, “Se uma pessoa vive o Amor, o que mais se pode pedir dela?” Identidade entre espiritualidade e religião deve ser evitada, pois isso retiraria dela seu sentido universal. No entanto, transformar o Programa EDUCARE em um conjunto de técnicas que dão melhor “desempenho emocional” ou “social” às crianças é faltar com a verdade e perder o essencial. Muitas das mazelas de nossa sociedade, de nossa cultura e de nosso tempo advêm de nossa identificação com valores transitórios. O aspecto mais profundo do Programa EDUCARE é exatamente retomar a ligação com nossa essência interior, seja qual for a maneira de vê-la e compreendê-la. Perder isso é perder a única coisa que importa.
  • 25. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 25 III. OS VALORES HUMANOS, OS NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA E AS TÉCNICAS DO PROGRAMA III.1. OS CINCO VALORES ABSOLUTOS QUE COMPÕEM O PSSEVH Quando o homem desperta para a divindade que lhe é inerente, começa a se questionar sobre o que é Verdade. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? O que devo fazer aqui? Perguntas como essas permeiam sua mente em busca da compreensão sobre a natureza da vida. No momento em que se obtêm respostas, a Retidão passa a ser algo natural. Ao colocar em prática a Retidão de caráter –a Verdade em ação–, sente, como conseqüência, um grande estado de Paz Interior. Nesse estado, há um processo de expansão permanente da energia do Amor. A expressão desse Amor sempre-constante leva a um estado de sintonia e de compreensão de todos os seres, um estado de plena Não-violência. O PSSE tem por meta o desenvolvimento desses cinco valores fundamentais, Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não-violência, trabalhando- os de forma integrada com os estudantes. Verdade A Verdade é aquilo que não muda ou deixa de ser. Em todo indivíduo, existe uma vontade inata que o impulsiona a buscar respostas para questões filosóficas, grande parte delas surgidas da percepção da transitoriedade da vida. A humanidade distingue-se do reino animal, entre outras coisas, por sua capacidade de colocar-se acima dos impulsos de seus instintos, de não ser uma mera expressão de seus instintos. Por sua capacidade de compreender a natureza do tempo e, portanto, de agir com algo mais que os instintos, em função de uma compreensão da natureza da vida, com a verdade da vida. Assim, a relação com a Verdade é um fundamento na formação do caráter. A veracidade, falar o que é verdadeiro, talvez seja sua manifestação mais tangível. Dizer uma inverdade (por ignorância ou proposital) é um ato anti-social, causa confusão na mente de quem diz e de quem escuta, bem como prejudica o relacionamento humano, causando confusão ao seu redor. Mas a Verdade é mais que a honestidade. Vários movimentos filosóficos questionaram que pudesse haver algo a que se pudesse chamar de Verdade. O resultado é o niilismo que guia boa parte dos interesses de mercado. Não haveria algo intangível que gerasse um compromisso individual com a ética. A Verdade está relacionada com a mente supraconsciente, que provê o ser humano da intuição. Um exemplo do valor da intuição é a chispa de genialidade de músicos, cientistas e inventores famosos. Seus depoimentos atestam que a inspiração ou a intuição se dá em momentos de recolhimento, com emoções e pensamentos aquietados. Como a Verdade é algo absoluto e não é dual, ela não pode ser conhecida através da mente ou da razão, mas apenas da intuição, como uma experiência pessoal. A quietude permite que a Verdade seja gradualmente reconhecida. Esse estado é desenvolvido aos poucos com a técnica do “sentar-se em silêncio” ou das harmonizações.
  • 26. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil26 O valor Verdade pode também ser ensinado por meio de provérbios e frases que promovam a reflexão, a análise, a auto-análise, o auto-conhecimento, a busca do conhecimento, a curiosidade, a fé, a honestidade, a imparcialidade, a integridade, a objetividade, a razão, a síntese etc. Todos esses são valores relativos à Verdade. Retidão “A VERDADE em ação é RETIDÃO.” A Retidão está relacionado com a ação. Ele implica no cuidado, no uso adequado de nosso potencial, do tempo e dos recursos externos. Ela abrange três aspectos, as ações ligadas ao próprio indivíduo, ligadas à sociedade e ligadas a valores éticos. Os hábitos de auto-ajuda e auto-respeito, com cuidados com nós mesmos, incluem a higiene pessoal, limpeza do ambiente ao nosso redor, alimentação saudável, cuidados com a saúde e a busca de auto-suficiência, evitando criar dependência e peso aos demais por indolência ou falta de iniciativa. Os hábitos sociais, como bom comportamento, gratidão, respeito, disciplina pessoal, pontualidade, ser prestativo na comunidade. Para isso, é essencial o espírito de sacrifício e o uso adequado do tempo, do alimento e do dinheiro, através de uma boa administração desses recursos. Os hábitos com valores éticos, como moralidade, ânimo, coragem, coerência, confiabilidade, dignidade, honradez, perseverança, determinação, prudência, responsabilidade etc. Nossa reação aos estímulos pode ser instintiva ou racional. Ela será instintiva quando baseada mais nos hábitos e costumes que ainda não foram questionados; será racional, quando resultante da análise das situações, através do uso do discernimento (sobre atitudes ou fatos conhecidos) e da intuição (para atitudes ou fatos novos). As espécies há milhões de anos agem apenas por instinto, o que lhes vem garantindo a sobrevivência. O uso da força da inteligência humana dirigida pelos instintos tem provocado fome, humilhação, guerras, destruição dos ambientes, ganância e disputa cega de poder. A condição humana é única no sentido de permitir a ação apenas depois de passar pelo crivo do discernimento. O PSSE trabalha exatamente o uso equilibrado de nossas funções instintivas e o desenvolvimento de nossas funções superiores, com freqüência muito pouco trabalhados e estimulados na educação. Um ponto fundamental para uma rápida incorporação pelas crianças dos valores associados à Retidão é o controle do que é apresentado aos sentidos. Isto é, ajudá-las a ver o bem, ouvir o bem, ter boas companhias e freqüentar lugares onde possam ter bons exemplos. A mídia e muitos locais da sociedade hoje estão saturados de estímulos ao consumo irrefletido, à competição, a hábitos perniciosos, ao preconceito, à desvalorização do trabalho, à indisciplina, à valorização material, à valorização das aparências etc. É necessário educar as crianças para o cuidado com a higiene e a boa manutenção do corpo (alimentação sadia, balanceada, prática de ginástica, esporte, yoga etc.), para que o corpo físico possa cumprir adequadamente sua missão, sendo um instrumento harmonioso da consciência. Educá-las para a necessidade da ordem e da harmonia do ambiente ao nosso redor e da responsabilidade de cada um para mantê-lo limpo, ordenado e funcional. Educá-las para a necessidade de se manter um “clima” de harmonia à nossa volta, cuidando-se da qualidade de nossos pensamentos –que vão gerar nossas ações– e da qualidade de nossas palavras. Tudo deve passar pelo crivo do discernimento, perguntando-se se está elevando, melhorando o ambiente a nosso redor ou se o está rebaixando a níveis grosseiros. Esse ambiente
  • 27. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 27 é a natureza e também a própria sociedade, em seus diferentes níveis. Nesse sentido, a Retidão é a base da cidadania. Ao final, o exercício natural da Retidão leva o indivíduo a um estado de contentamento e de paz interior. Paz Interior “A paz se inicia com um sorriso.” (Madre Teresa de Calcutá) A Paz, no sentido usado aqui, não diz respeito à ausência de conflitos externos, entre pessoas, comunidades ou países, mas a um estado de tranqüilidade interna. A Paz Interior está relacionada com os processos subconscientes da mente e suas respostas emocionais. O que chamamos mente nada mais é que o conjunto de sentimentos e pensamentos gerados a partir das emoções e da intuição. As emoções brotam em nossa mente como resposta aos estímulos do mundo exterior; a intuição brota em nossa mente quando ela se encontra em Paz. A paz mental é alcançada quando conseguimos manter o estado interno de equilíbrio. No entanto, freqüentemente perdemos nosso estado de paz, nosso estado de equilíbrio interno, em função de reações emocionais a estímulos que nos chegam do mundo. Em parte, isso se dá por não conseguirmos exercer nossa força de vontade internamente ou por não dispormos de meios para controlar os sentimentos e pensamentos que se seguem à resposta emocional. Às vezes, as situações externas despertam raiva, inveja, desejos, medos, angústias ou necessidades artificiais, removendo nosso equilíbrio interno e nos levando a ações que resultam em ainda mais desequilíbrio. Ainda que o sentimento de Paz não seja particularmente ansiado pelos jovens hoje em dia, ele se torna algo cada vez mais caros às pessoas, à medida que elas amadurecem. Em busca dessa sonhada paz duradoura, recomenda-se:  Refletir sobre cada desejo que brota na mente, questionando se ele é supérfluo ou necessário, se é útil ou não, se é justo ou não, se tem urgência ou não, se é prioritário ou não, se usamos apropriadamente recursos disponíveis (materiais, tempo, dinheiro) ou não, se é bom só para si ou se também o é para os demais, se prejudica os outros ou não etc. Os desejos nos mantêm vivos, mas é necessário limitá-los à sua função original. Com freqüência, somos verdadeiros escravos de nossos desejos.  Buscar desenvolver de modo consciente a auto-aceitação, a auto-capacitação, a auto- confiança, o auto-controle, a auto-disciplina, o auto-respeito, a auto-estima.  Procurar manter a atenção e a concentração no momento presente. Devemos aprender com o passado, mas não devemos nos afligir por ele. Devemos cuidar do futuro, mas não devemos nos angustiar por ele. O único momento real é o presente, aqui e agora, onde as coisas realmente podem ser realizadas e apreciadas.  Esforçar-se para ter sempre bom humor, manter a calma e o equilíbrio, ser ponderado, encontrando a satisfação dentro daquilo que realmente dispomos, manter o contentamento e constância para alcançarmos a equanimidade interior.  Desenvolver a compreensão, a paciência e aceitar a diversidade. Agir com dignidade e determinação, mas com desapego e humildade.  Alimentar sempre a esperança, buscando a felicidade e a fortaleza interiores, procurando no silêncio interior a verdadeira tranqüilidade.
  • 28. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil28 Uma das técnicas mais importantes de apoio do PSSE para a busca da Paz Interior é a harmonização ou “sentar-se em silêncio” –os nomes variam. Essa é uma pequena busca de recolhimento, que leva ao aquietamento da mente. A agitação mental certamente é um dos males modernos. Quase tudo à nossa volta contribui para a agitação mental. Para as crianças em idade escolar, isso se verifica como uma enorme dificuldade de concentração. Além dessa técnica, recomendam-se, como coadjuvantes importantes, exercícios de atividades em grupo que levem à auto-aceitação e que desenvolvam o auto-respeito, bem como a meditação na luz e a oração. A oração é uma técnica extremamente antiga, universal e poderosa. Ela pode ser feita de muitas maneiras e com muitas intenções, e tem a grande vantagem de levar uma pessoa a voltar seus olhos para o bem –dela mesma, de uma outra pessoa ou de toda uma comunidade. O destino de uma oração não precisa ser discutido, no sentido de que é algo íntimo e não diz respeito àquilo por quê se ora. A oração que visa a paz pode estar baseada no agradecimento pelo que se é, pelo que se tem; pode ser baseada na auto-aceitação e na aceitação das outras pessoas, outras culturas, outras raças, outras religiões. Deve-se, também, orar para se manter a esperança, para que a paciência nunca falte, para a capacidade de compreensão de fatos e relacionamentos, para o desapego (o apego cria um estado mental de dependência, fomentando o “medo de perder”, que perturba o estado de paz mental) ou para o desenvolvimento de todos os valores, que nos aproximam mais das pessoas e da comunidade. Cada vez que praticamos uma dessas técnicas, adquirimos um estado de tranqüilidade que perdura um pouco, mas que, com as agitações à nossa volta, se dissipa. A repetição dessa técnica ao longo de semanas e meses, no entanto, vai tendo um efeito mais profundo. Cada vez que repetimos a técnica da harmonização, seu efeito torna-se mais forte, conferindo um sentimento mais intenso de paz, alcançado-o de forma mais rápida e duradoura, contribuindo para lidarmos com as situações difíceis de modo cada vez mais tranqüilo, centrado e seguro. A experiência mostra que crianças muito agitadas tornam-se muito tranqüilas e harmonizadas depois de algum tempo de prática, sendo capazes de expressar de forma mais intensa sua criatividade e adquirindo capacidade de concentração. O conjunto de todas essas técnicas leva o indivíduo a um estado de paz mental, livre dos efeitos daninhos das perturbações emocionais. O sentimento de paz resultante não é conseqüência da ociosidade, mas sim de um estado mental equilibrado, sem altos e baixos, euforia ou depressão. A mente aprende a manter seu estado de equilíbrio mesmo na ação, mesmo em situações em que as condições externas variam. Para isso, o Programa desenvolve na criança um caráter bem estruturado e fortalecido pela coerência entre sua essência e sua atuação externa com ações ou palavras, gerando uma harmonia entre seus níveis físico, emocional (mental inferior), intelectual (mental superior) e espiritual. Nessas circunstâncias, como já foi comentado, há um aumento no fluxo da energia do Amor (nível psíquico). Amor “O amor é sua própria recompensa.” (Sathya Sai Baba) O amor é evidentemente algo intangível e impossível de definir formalmente. A história da filosofia, das religiões e da espiritualidade está repleta de comentários e tratados procurando compreender a natureza do Amor. Ainda assim, é algo simples e fundamental. Talvez possa ser dito aqui que o Amor é a energia interior mais profunda. Sai Baba diz que o Amor é a energia
  • 29. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 29 que mantém todo o Universo. A compreensão do que é o Amor, no seu contexto mais puro, certamente tem sido profundamente diminuída. Talvez se possa dizer que tudo o que é expansão ou doação corresponde ao Amor. Sua expressão mais intensa resulta do equilíbrio e da coerência entre os vários níveis do ser humano. O Amor afeta todas as formas de vida, ajuda a superar todos os tipos de obstáculos e limitações, promove uma maior compreensão e aceitação de si mesmo e dos demais. O Amor verdadeiro transforma e talvez seja a única coisa capaz de promover a transformação. É por isso que o Amor de um professor tem um efeito tão grande sobre uma criança. Foram feitos experimentos demonstrando a influência de pensamentos amorosos até mesmo no crescimento e floração de plantas. É a força do Amor que faz com que uma pessoa busque a felicidade para outra pessoa e encontre prazer no bem-estar do outro. Os pensamentos amorosos direcionam uma energia benéfica para a outra pessoa. Essa energia que flui para os demais passa primeiramente por quem ama. Assim, quanto mais uma pessoa emana Amor verdadeiro, mais ela se beneficia! O Amor é incondicional, é pura doação e é impessoal. O Amor, nessa definição, não é uma emoção. Quando a mente se afasta do egoísmo, o coração se abre e a energia do Amor flui. O Amor é inerente a cada respiração e é a força motriz do corpo físico. A intensidade dessa energia pode ser aumentada com o controle das emoções. O controle emocional pode ser conseguido com exercícios respiratórios, inclusive com o canto. Como forma de aumentar o fluxo de energia amorosa entre os níveis da personalidade e com o exterior, recomendam-se algumas coisas simples:  Expressar-se com doçura e suavidade, levando junto com as palavras a amabilidade e a ternura, carregadas com sentimentos de simpatia e alegria, gerando condições para que reine a compreensão e o entendimento mútuos.  Desenvolver a aceitação, base para a paciência, a tolerância e o perdão.  Cultivar a compaixão, por meio da bondade, da generosidade, da caridade, do apoio, da dedicação e do cuidado.  Ser grato por tudo e a todos, possibilitando amizades sólidas, fomentando a capacidade de compartilhar e a sinceridade.  Ter apreço pela harmonia e pela beleza.  Buscar a contenção de impulsos, procurando preservar a pureza e a inocência, a fim de preservar a felicidade interior. Do ponto de vista da técnica, o PSSE desperta o Amor de diferentes formas. Uma delas é através do próprio Amor que o professor ou a professora emanam com todos os seus alunos e que deveria existir em toda a dimensão da escola. De outro, as várias técnicas, cada uma a seu modo, geram os meios para que o Amor gradualmente se expresse. A técnica particular relacionada a esse valor é o canto, que se torna natural o desenvolvimento de um sentimento de apreço pela harmonia da música, da apreciação da beleza através da arte e da grandeza da natureza. Particularmente, o canto em grupo cria um laço muito forte, como pode ser percebido por quem já cantou ou acompanhou o trabalho de corais. O canto fomenta o fluxo da energia do Amor. Durante o canto, a criança experimenta a riqueza do compartilhamento, a alegria, o valor da harmonia e a doçura do Amor. O Amor também pode ser fomentado por meio de atividades em grupo que promovam a compaixão, a bondade, a caridade, o cuidado com os demais, a dedicação, a generosidade, preparando o indivíduo para uma vida com completa Não-violência.
  • 30. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil30 Não-Violência Para uma pessoa embuída do espírito da Não-violência, todo o mundo é sua família. Não- violência, no sentido dado por Gandhi, por Sai Baba e pela Índia antiga, não é um conceito comum. De fato, é o valor mais abstrato e o mais difícil de ser alcançado. Quando os quatro valores já citados são praticados, então, a vida é vivida sem causar dano ou violação a qualquer pessoa ou coisa. É a aquisição mais elevada da vida humana, abrangendo o respeito por todas as formas de vida, vivendo em harmonia com a natureza, não causando danos através de ações, palavras ou sequer pensamentos. A Não-violência é, mais propriamente, um estado de compreensão universal. O Programa aborda, principalmente, dois aspectos complementares da Não-violência, o psicológico, como a compaixão por todos; e o social, como a apreciação de todas as culturas, religiões e por todo o ambiente. A Não-violência pode ser descrita como sendo o “Amor Universal”. Quando a Verdade é vislumbrada através do fluir da intuição, o Amor é ativado. O Amor é doação. Quando o fluxo interno de desejos está subjugado, um estado de Paz Interna se desenvolve e a Retidão é apenas natural. Tudo isso resulta em Não-violência, isto é, a não violação das leis naturais, que criam harmonia no ambiente natural e social. A Não-violência está relacionada com o aspecto espiritual do ser humano. Viver de um modo a causar o menor dano possível a si mesmo, às outras pessoas, aos animais, às plantas e ao planeta é sinal de uma personalidade integrada e ponderada. Uma pessoa com tais qualidades está em sintonia com o aspecto espiritual de toda a humanidade e está em um estado interior de felicidade, permanente e parte de sua real natureza. É através de nosso aspecto espiritual que podemos experimentar o Amor Universal, que se caracteriza por:  Um sentimento de respeito e admiração pelo universo.  Um sentimento da unidade de tudo, de integração com o planeta, de amor por tudo o que há nele e o sentimento de fazer parte do Todo.  Um sentimento de universalidade, de irmandade, de fraternidade universal, resultando em um desejo de fomentar a qualidade de vida a todos, por meio da solidariedade, da cooperação e da participação responsável.  Uma tomada de consciência de um propósito na criação.  Aceitação e respeito pela diversidade da família humana (outras culturas, outras raças, outras religiões), respeito pela opinião dos demais, respeito aos sentimentos alheios.  Respeito pela vida, pela terra, pelo ar, pela água, pelo ambiente, pelas plantas, pela natureza.  Incapacidade de causar dano, respeitando inclusive o próprio corpo físico (com o uso adequado de seus limites etc.).  Respeito à lei e à ordem, buscando promover a justiça social através de uma cidadania consciente, muito ativa e pacífica.  Sentimentos de igualdade para com todos, tratando a todos com bons modos, consideração, cortesia, lealdade, sinceridade.  Cultivo da compaixão e do perdão.
  • 31. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil 31 III.2. OS CINCO NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA TRABALHADOS NO INDIVÍDUO ATRAVÉS DO PSSE O conteúdo do Programa está baseado no uso de cinco técnicas, as quais se relacionam com os cinco valores humanos absolutos já mencionados: Verdade, Retidão, Paz Interior, Amor e Não- Violência. Essencialmente, cada indivíduo é um Ser que se manifesta através da personalidade, com funções que podem ser classificadas em cinco níveis complementares: atuar, sentir, discernir, amar e ser[4]. Os cinco valores humanos básicos podem ser associados a valores correlatos ou relativos. Esses valores, fundamentais e relativos, abrangem as principais mensagens de todas as religiões. O professor, na aplicação do programa, trabalhará com os valores relativos para ajudar seus alunos a gradualmente compreenderem e praticarem os valores absolutos. Frente à proposta de educação do PSSE, nos perguntamos: “Como é a criança que queremos ajudar?” Para responder essa questão, devemos conhecer a estrutura global dessa criança. Tradicionalmente, a educação preocupou-se, em especial, com o desenvolvimento intelectual ou mental, por meio da aquisição e acúmulo de informações e sua eventual utilização (embora quase nunca as crianças saibam a utilidade prática do que estudam), sendo dado ênfase apenas ao desenvolvimento de seus níveis físico e emocional. Uma personalidade integrada, no sentido dado pelo Programa, é uma síntese harmoniosa de “uma mente bem preparada, um coração de criança e mãos habilidosas”. A metodologia do PSSE, bem como outras abordagens espirituais da educação, pretende agir harmoniosamente e de maneira integradora nos vários níveis de expressão da consciência. O Programa trabalha com uma classificação dos níveis internos de organização. Esse classificação –o que também se pode dizer sobre os valores– talvez encontre a concordância de muitos e a discordância de outros. Contudo, não deveria ser esse um empecilho para compreender as técnicas ou sua ação no universo interior das crianças. No PSSE, trabalha-se com cinco níveis de organização interna, o que poderá ser referido com cinco níveis de expressão da consciência. Esses níveis são trabalhados através das cinco técnicas, cada uma delas atuando em todos os níveis, mas sendo mais direta para um dos níveis. Nível Físico O nível físico está relacionado com a ação. Envolve o desenvolvimento de um corpo saudável, dedicado à execução de tarefas necessárias para uma vida útil à sociedade e o desenvolvimento de bons hábitos, com a disciplina necessária para cumprir as metas propostas para a vida. A atuação íntegra desenvolve a auto-confiança, a coragem de empreender, a ética, a dignidade, a honra, a confiabilidade etc. Esse nível está associado ao valor da Retidão. Nível Mental ou Emocional O nível mental ou emocional está relacionado com a utilização apropriada dos órgãos dos sentidos. As respostas emocionais à informação captada do mundo através dos sentidos devem estar sob o controle da consciência, de maneira que possam se tornar instrumentos do bem-estar individual e social. Quando experimentamos o equilíbrio emocional, experimentamos o valor da Paz Interior.
  • 32. PROGRAMA SATHYA SAI EDUCARE Capítulo 1 - O Programa Educare Os valores humanos, os níveis de consciência ... Instituto Sri Sathya Sai de Educação do Brasil32 Nível Intelectual O nível intelectual é o que capacita o indivíduo para discernir entre o correto e o incorreto, o duradouro e o efêmero, o importante e o supérfluo, o real e o irreal etc. Nesse nível, são trabalhados os aspectos ligados ao desenvolvimento da capacidade da memória e ao aumento da intuição. Através desses instrumentos, podemos compreender o valor da Verdade. Nível Psíquico “Psíquico”, aqui, é utilizado em seu sentido grego original (psykhé), que significa alma ou inteligência. Esse nível está relacionado com o aspecto da personalidade humana mais difícil de descrever, por ser a qualidade em cada um de nós, que culmina na fonte do Amor. O Amor, como foi comentado, não é uma emoção, um sentimento ou uma forma de relacionamento, mas uma energia que flui em cada ser. Essa energia pode ser direcionada a outro ser ou a outros seres, pode ser recíproca ou unidirecional; ela se expressa em todas as formas de relação. O fluir mais intenso do Amor requer o desenvolvimento do “aparelho psíquico”, isto é, da alma e dos instrumentos de que ela se vale para manifestar-se. A mente (fonte geradora de pensamentos e sentimentos) deve submeter-se ao intelecto (fonte do discernimento), aconselhado pela consciência. Da harmonia entre eles, experimenta-se essa energia suprema que a tudo envolve e que a tudo abarca, o Amor. Nível Espiritual O nível espiritual é aquele em que se experimenta a unidade na diversidade. Nessa condição, é natural o estado de Não-violência, o que se aplica a todos seres vivos, à Mãe-Terra e ao Cosmos inteiro. III.3. AS CINCO TÉCNICAS EDUCACIONAIS QUE COMPÕEM O PSSE Harmonização – o contato com a Essência Divina Interior “A harmonização cria uma ponte que nos conecta com a sabedoria interior, produzindo, assim, uma permeabilidade maior diante de qualquer aprendizado que se deseje encarar.”[3] Sabemos que as emoções são como ondas: em um momento estão fortes e altas, e, no momento seguinte, estão fracas e reduzidas. Assim também são os pensamentos que, efetivamente, controlam nossos sentimentos. Um dito popular diz que somos o que pensamos. Para não sermos vítimas da dualidade e da instabilidade mental, o segredo é reduzir nossos picos emocionais até que a onda não mais exista. Isso não diminui nosso estado de consciência. Pelo contrário, torna-a extremamente sensível, pois não é perturbada pela agitação dos pensamentos. Esse exercício propicia a verdadeira Paz. Esse valor pode ser definido como um estado de completa equanimidade, não estando sujeito às ondulações da vida, aos altos e baixos das emoções. A Paz, como um estado absoluto, pode ser obtida somente em uma plano mais elevado.