O documento discute os diferentes métodos e abordagens da tradução. Apresenta a distinção entre tradução direta e oblíqua proposta por Vinay e Darbelnet, que envolve traduções literais versus aquelas que buscam maior idiomaticidade na língua-alvo. Também aborda conceitos como transposição, modulação e a importância da reformulação tanto na língua-fonte quanto na língua-alvo.
2. Operações de tradução
A distinção entre “Operação linguística e “Operação literária”
estabelecida por Edmond Cary é um dado fundamental.
Contudo, ela não seria suficiente porque não aborda os textos
que Jean Deslile chama de “pragmáticos”.
“Dizer que não se traduz Shakespeare como um relatório da
ONU ou outros textos “Não-literários” é algo muito evidente,
contudo, não são as operações que diferem e sim a função. Num
caso, será a função informativa, no outro, a estética.”
3. 1. Tradução e reformulação
A primeira modalidade de tradução é definida assim: “A
tradução intralingual ou reformulação consiste na interpretação
dos signos linguísticos por meio de outros signos da mesma
língua” (JAKOBSON, Roman. Op. Cit. P. 79)
“A tradução está no núcleo da linguagem.”
4. Nesse sentido, a mídia é uma imensa máquina de traduzir. Um
jornalista talvez tenha que praticar todos os métodos de
tradução: intralingual, quando ele relata as proposições de um
outro; interlingual, quando ele traduz de outra língua;
intersemiótica , quando ele traduz com palavras aquilo que vê.
Naturalmente quando ele fala, retoma sua própria fala, procede
à autorreformulação.
5. • Assim, é mais produtivo substituir o esquema que representa
a passagem da língua de partida “LP” à língua de chegada “LC”
pelo esquema do texto fonte “TF” ao texto alvo “TA”.
• Porém, como não é necessário que a língua fonte e a língua
alvo sejam diferentes. Podemos assim, ir além e substituir
“texto” (T) por “enunciado” (E).
TF TA
EF EA
6. Partindo então, de um primeiro enunciado para chegar a um
segundo, procedemos uma re-enunciação.
Para dar um exemplo concreto, o enunciado é verdadeiro tanto
para o enunciador quando para o sujeito gramatical do
enunciado:
Édipo queria desposar Jocasta.
Em contrapartida , o enunciado que vem a seguir é verdadeiro
exclusivamente do ponto de vista do enunciador.
Édipo queria desposar sua mãe.
7. • A tradução não pode negligenciar a tradução intralingual, que
se apresenta tanto do lado do enunciado fonte, quando do
enunciado alvo. O enunciado fonte só pode ser compreendido
quando formos capazes de reformula-lo em “língua-fonte”
(L1)
L1 L1
• Uma vez que o enunciado tenha sido entendido, nós o
reformulamos na língua de tradução.
L1 L2
8. • Porém, para ser capaz de traduzir com competência, o
tradutor terá que ser capaz de reformular esse texto, em L2.
• L2 L2
9. A reformulação na “língua –fonte” é preferentemente da ordem
da compreensão; a reformulação na “língua-alvo”,
preferentemente da ordem da expressão.
10. Transposições e modulações
• Ergon: raiz indo-europeia “Werg”, que encontramos no inglês
“Work”: Uma obra realizada.
• Energeia: “Uma atividade em vias de se fazer”.
• As concepções Humboldtianas têm implicações
epistemológicas e filosóficas consideráveis. A mais
fundamental é a seguinte: “Não há tradução neutra ou
transparente” através da qual o texto original apareceria
idealmente como um espelho, de forma idêntica.
11. • A primeira obra a mudar a inflexão de maneira magistral é
Stylistique comparée du français et de l’anglais.
Abreviadamente VD , por ocasião do nome dos seus autores
J.-P Vinay, J. Dalbernet.
• Cada época tem seu “horizonte do tradutor” (A. Berman) ou,.
Seu “Horizonte de expectativa”. VD, então, não fugiu a essa
regra.
12. Stylistique comparée du
français et de l’anglais
• Vinay e Darbelnet (1977) trabalham com conceitos
saussurianos como "signo lingüístico", "significado" e
"significante", "valor" e "significação"(cf. Saussure,
1972, apud. Barbosa, 1990, p23). Estes conceitos, além da
noção de arbitrariedade do signo lingüístico dão-lhes uma
sólida base teórica para justificar sua proposta de afastamento
da tradução literal.
13. Consideram como estilística comparada aquela "que observa
as características de uma língua tais quais se revelam por
comparação com uma outra língua" e relacionam a tradução a
"um caso particular, a uma aplicação prática da estilística
comparada".
14. • É visando produzir um texto idêntico ao que "sairia
espontaneamente de um cérebro monolíngue, em resposta a
uma situação comparável sob todos os pontos de vista", o que
implicaria em um afastamento da tradução apenas literal –
que nem sempre teria como resultado a forma mais natural –
que Vinay e Darbelnet (1977, apud Barbosa, 1990, p.23)
enumeram os procedimentos técnicos da tradução.
15. • Ao observarem os mecanismos utilizados por
distintos sujeitos para solucionar suas
dificuldades durante o processo tradutório de
textos do inglês ao francês, concluíram que, em
geral, estes, que aparecem sob múltiplas formas
em um primeiro momento da análise, levariam
basicamente o tradutor a dois caminhos: o da
tradução direta ou literal e o da tradução dita
oblíqua.
16. Tradução direta
• Quando existe um paralelismo estrutural e sociocultural entre
o segmento na língua de partida e aquele na língua de
chegada, teremos uma proximidade com a língua original,
mais fácil sua realização.
• Assim, – empréstimo, decalque e a tradução literal – estão no
âmbito da tradução direta.
17. Tradução oblíqua
• “A tradução oblíqua remete a idiomaticidade: A tradução deve
dar a impressão de que o original foi escrito diretamente na
língua em que está sendo traduzida.”
18. Em uma tradução literal, a passagem da LP para a LC é feita sem
muita elaboração ou mudança de forma. Os mecanismos de
tradução oblíqua, por sua vez, envolvem mudanças formais das
estruturas linguísticas e atêm-se mais ao conteúdo e estilo do
texto original.
19. • "Fortunato
lorgnant
la montre
du coin de l'oeil
ressemblait à
un chat
à
qui
l'on
presente
un poulet
tout entier
• Comme il sent qu'
on se moque de lui
il,
n'
ose
y porter la griffe,
et
de temps en temps
il détorune les yeux
pour
ne pas
s'exposer à
la tentation;
mais
il se lèche les babines
à tout moment,
et
il a l'air de
dire à
son maître
"Que
votre plaisanterie
est
cruelle!"
• (Merimée)
20. "Fortunato,
kept darting
sidelong glances at
the watch
like
a cat
who,
presented with
a whole
chicken
and
suspecting that
she is being made fun of,
dares
not
reach out for it,
and
at times
looks away
to resist temptation,
all the while
licking her shops
and
wanting to
tell
her master
how
mean
he is"
21. Passando de uma língua para outra, temos as mesmas unidades
de tradução, mas naturalmente com uma divisão diferente.
Uma vez que delimitamos essas unidades, observamos então, as
correspondências:
“keep darting sidelong glances at”
(Olhando de soslaio para)
« lorgnant [...] du coin de l'oeil »
(Olhando... Com o canto do olho)
22. Para ficar mais simples, observemos:
Signo = significante + significado
De um lado a forma, do outro, o sentido. Dessa maneira, a
tradução conserva o significante e o significado.
23. No plano fonético, o significante se transformou parcialmente.
Ciel <–> Sky
[sjɛl] <–> [skai]
Porém, Ciel e Sky tem a mesma forma gramatical. Ambos são
substantivos.
Assim:
S S
24. Transposições
• Vinay e Dalbernet chamam de “transposições” às traduções
que consistem em substituir uma categoria gramatical por
outra.
25. “She would sit and read, the book under the wave of light. She
would glance now and then down the hall of the villa that had
been a war hospital, where she had lived with the other nurses
before they had all transferred out gradually, the war moving
north, the war almost over.”
(Michael Ondaatje. The English patient)
26. “Ell s’asseyait pour lire, présentant le livre à la lumière vacilante.
Elle jetait parfois un coup d’oeil dans le couloir de la villa, um
hôpital de guerre, oú ele avair vécu avec les autrs infirmières
avant qu’elles ne sotient mutées, au fur et à mesure que la
guerre se deplaçait vers le nord puis touchait à sa fin.”
(Trad. Marie-Odile Fortier-Masek)
27. “the book under the wave of light” (S)
(o livro sob a onda de luz)
“présentant le livre à la lumière vacilante” (Adj)
(o livro com a luz bruxuleante)
28. “*the war+ almost over” (Adv + Adv)
(A guerra quase acabando)
“touchait à sa fin” (V + S)
([A guerra] chegando ao fim)
35. • “O abstrato pelo concreto” ou “o geral pelo particular”:
• To sleep in the open (Dormir ao relento)
• dormir à la belle etóile (Dormir sob as estrelas)
• “A causa pelo efeito, ou o meio pelo resultado, a substância
pelo objeto”
• You're quite a stranger (Você está bastante estranho)
• On ne vous voit plus ( Não posso mais reconhecê-lo)
37. Na fronteira canadense, a sinalização bilíngue os surpreende:
depois de “SLOW” vem “LENTEMENT”; depois de “SLIPPERY
WHEN WET” vem um “GLISSANT SI HUMIDE”.
A conclusão é que:
“Um francês monolíngue jamais comporia espontaneamente
essa frase, exatamente porque ele não iria bloquear a estrada
com um advérbio terminado em –ment”
(VD, p. 22)
38. O tradutor de textos pragmáticos não deve dispor apenas de um
conhecimento aprofundado da “língua-fonte”: ele deve, para
além disso, de redator na “língua-alvo”.
O efeito de “transparência” semelhante ao “efeito real” de que
fala Roland Barthes em matéria literária exige um conhecimento
completo.
39. A tradução pro-alvo é apenas uma modalidade entre todas as
modalidades do traduzir. Ela não é adaptada à tradução de
textos que, no original, vão de encontro a idiomaticidade ou da
elegância. Nesse caso, uma tradução elegante leva a
deformação sistemática do original.
40. “Não se trata de um termo a termo servil, mas de estrutura
aliterativa do provérbio original que reaparece, sob outra forma.
Esse me parece ser o trabalho com a letra: nem decalque, nem
reprodução (problemática), mas atenção dispensada ao jogo dos
significantes ”
41. Bilinguismo de escrita e autotradução
“Não interessa traduzir palavras, nas frases e exprimir, sem
perder nada deles, pensamento e emoção, como o autor os
teria exprimido se tivesse escrito em francês, algo que só se
consegue por meio de uma dissimulação perpétua, de
incessantes desvios e frequentemente pelo afastamento da
mera literalidade”
42. • “ A tradução, por definição, não pode ser o original, dado que
o tradutor quase nunca é autor.”
• “A tradução está condenada a permanecer sempre abaixo de
seu modelo. A melhor das traduções não passa, afinal de
contas, de um último recurso.”
43. “A autotradução é um fenômeno relativamente raro em
literatura.”
“A autotradução é, portanto, uma questão central”
Toda e qualquer tradução, seja ela “alógrafa” ou “autoral”
constitui, então, uma versão equivalente à obra da qual ela
deriva.
44. “Não há nada de mais difícil [ ... ] e nada de mais raro do que
uma excelente tradução, porque nada é mais difícil nem mais
raro que alcançar o justo equilíbrio entre a licença do
comentário e a servidão da letra. Um apego excessivo à letra
destrói o espírito, quando o espírito é que vivifica; excessiva
liberdade destrói os traços característicos do original, faz-se
uma cópia infiel dele”
(Apud Lieven d’Hulst, Cent ans de théorie française de la
traduction. De batteux à Littré. Lille: PUL, 1990, p.45)
45. Referências:
• CARDOSO, Cristina. Os discursos da tradução e a tradução do
discurso: uma pesquisa introspectiva. ANTARES, vol.3, nº6.
2011. Universidade de Caxias do Sul.
• JAKOBSON, Roman. Ed. 24. 2007. Linguística e Comunicação/
(Tradução: Izidoro Blikstein; José Paulo Paes) – São Paulo:
Editora Cultrix
• OUSTINOFF, Michaël. 1956. Tradução: história, teorias e
métodos (tradução: Marcos Marcionilo) – São Paulo: Parábola
Editorial, 2011.
• SCHLEIERMACHER, D. Sobre os diferentes métodos de
tradução. (trad. Antoine Berman). Tours de Babel, Toulouse:
ed. Trans-Europ-Repress, 1985.
46. Letras 2011.1
• Amélia Jessiely Soares Bento
• Grace Aparecida de Freitas Félix
• Maria Valdinele Neves de Lima