O documento discute a concepção de desenvolvimento de Vygotsky, enfatizando a integração entre os aspectos natural e cultural. Aborda os conceitos de mediação e a relação entre linguagem e pensamento, e como isso se reflete na formação de conceitos, importante para entender a relação entre aprendizagem e desenvolvimento.
1. O eixo central deste texto é a concepção de
desenvolvimento de Vygotsky que integra o
natural e o cultural. Desse ponto de partida
situo as questões da mediação e da relação
linguagem-pensamento que se refletem na
formação dos conceitos, para uma melhor
compreensão da relação da aprendizagem com
o desenvolvimento, ponto focal do fazer do
professor.
3. FUNÇÕES MENTAIS ELEMENTARES
FME determinadas imediatamente e automaticamente pelos
estímulos externos ou pelos estímulos internos baseados nas
necessidades biológicas. As FME nos são dadas.
FUNÇÕES MENTAIS SUPERIORES
FMS funções tipicamente humanas: ações controladas tais
como, atenção voluntária, memória lógica, pensamento abstrato,
ação intencional. FMS são funções construídas a partir das
interações entre as pessoas e o meio cultural.
É nas relações sociais, via linguagem, que o sujeito constitui
suas formas de ação e sua consciência, deixando de ser um ser
biológico (com FME) para se transformar em um ser sócio-histórico
(com FMS).
4. Todo esse processo de construção das FMS acontece
a partir de:
2 planos:
uma ação entre sujeitos (plano interpessoal)
uma ação do sujeito (plano intrapessoal)
5. Vygotsky (1995b) define o desenvolvimento não como
uma acumulação gradual de mudanças individuais, mas
como
um complexo processo dialético que se
distingue por uma complicada periodicidade,
a desproporção no desenvolvimento das
diversas funções, a metamorfose ou
transformação qualitativa de umas formas em
outras, um entrelaçamento complexo de
processos evolutivos e involutivos, o complexo
cruzamento de fatores externos e internos, um
processo adaptativo de superação de
dificuldades. (p.141)
6. Quando a educação chega a esse ponto, quer
dizer, quando o educador dialoga com o
educando, a relação se complica, a atividade
educativa muda, porque não há dúvida de que
há sujeitos de ambos os lados.
O movimento que vai de mim para o outro
passa a ser o mesmo movimento que vem do
outro para mim. O educador, esforçando-se
por persuadir, por convencer seu
interlocutor, participa de um processo
que os envolve, que altera ambos. Por
conseguinte, o educador também é educado.
(Leandro Konder, Jornal do Brasil, B8, 2002.)
7. Qual é a sua contribuição para o desenvolvimento de seus
alunos?
Quem são estes alunos?
Em que etapa do desenvolvimento estão?
Como compreender esta etapa não apenas no que ela traz de
biológico mas principalmente nas interações com o contexto
sócio-histórico-cultural?
Como olhá-los, como compreendê-los a partir das
experiências que trazem do mundo no qual nasceram e estão se
desenvolvendo?
8. Como interagir com eles numa relação dialógica e
educativa?
Como, ao trabalharem o conteúdo das disciplinas do
curso podem estar contribuindo para o seu
desenvolvimento?
Como fazer da sala de aula um lugar de encontros de
sujeitos que se influenciam mutuamente e do qual todos
saem desenvolvidos, transformados?
Esse é o grande desafio que nos traz a perspectiva
psicológica sócio-histórica que por isso é muito mais do
que uma teoria psicológica, uma teoria educacional.
9. Mediação: conceito chave
O homem não tem um acesso direto aos objetos do conhecimento
mas um acesso mediado que é possibilitado por sistemas
semióticos, destacando-se aí o papel da linguagem.
Os seres humanos, criaram instrumentos psicológicos e
sistemas de signos cujo uso lhes permite transformar e
conhecer o mundo, comunicar suas experiências e
desenvolver novas funções psicológicas. A mediação
dos sistemas de signos constitui o que denominamos
mediação semiótica. (Pino,1991,p.33).
10. Assim, ao operar com os sistemas simbólicos
trabalhando a abstração e a generalização, o ser
humano vai desenvolvendo formas de
pensamento impossíveis sem estes
processos representacionais, construindo as
FMS, tipicamente humanas. (Oliveira, 1992)
12. Unidade de análise : significado da palavra
Contém em si mesmo dois tópicos essenciais: comunicação e
generalização.
Fenômeno verbal: comunicação
A palavra sem significado não é palavra, mas um som vazio, portanto, o
significado é um traço constitutivo indispensável da palavra. Daí que o
significado é um fenômeno do discurso.
Fenômeno do pensamento: generalização
O significado da palavra não é senão uma generalização ou um conceito.
Toda a formação de conceitos é um ato do pensamento.
A palavra funciona como o meio para a formação do conceito, tornando-
se depois o seu símbolo.
13. Percurso genético do pensamento conceitual
Vygotsky estabelece três tipos de pensamento:
1) Pensamento Sincrético
a) ensaio e erro
b) vínculos subjetivos da percepção
c) significado único para os diferentes grupos unificados na percepção da criança
2) Pensamento por Complexos
Cinco sub-tipos:
a) organizações associativas,
b) por coleções,
c) em cadeia,
d) difusas,
e) pseudo-conceito.
3) Pensamento por Conceitos
Três sub-tipos:
a) generalizações com base no máximo de semelhanças
b) conceitos potenciais que realizam agrupamentos com referência a um único
atributo
c) finalmente o conceito propriamente dito.
14. 1) Pensamento sincrético: caracteriza-se
pela capacidade da criança realizar
agrupamentos de objetos desiguais como
amontoados desorganizados agrupados sem
qualquer fundamento tendo como base nexos
vagos, subjetivos ligados a fatores perceptivos
sem relação com os atributos relevantes dos
objetos.
15. Pensamento por complexos: os objeto isolados
associam-se na mente da criança, não apenas
devido às impressões subjetivas mas devidos às
relações que de fato existem entre esses objetos.
È um tipo de pensamento que já demostra uma
certa coerência e objetividade. Entretanto, as
ligações que a criança estabelece entre seus
componentes são concretas e fatuais e não
abstratas e lógicas. Essas ligações fatuais são
descobertas por meio da experiência direta. Pode-
se dizer que o pensamento por complexo é pois,
um agrupamento concreto de objetos unidos por
ligações fatuais.
16. 3) Pensamento por conceitos: supõe
não só a combinação e a generalização
de determinados elementos concretos da
experiência mas também a
discriminação, a abstração e o
isolamentos de determinados elementos
discriminados e abstraídos fora do
vínculo concreto e fatual em que são
dados na experiência.
18. O estudo sobre conceitos concretiza a concepção de Vygotsky sobre o
processo de desenvolvimento caracterizado pelas duas linhas natural e
cultural:
O indivíduo humano, dotado de um aparato biológico que
estabelece limites e possibilidades para seu funcionamento
psicológico, interage simultaneamente com o mundo real em
que vive e com as formas de organização desse real dadas pela
cultura. Essas formas culturalmente dadas serão, ao longo do
processo de desenvolvimento, internalizadas pelo indivíduo e se
constituirão no material simbólico que fará a mediação entre o
sujeito e o objeto de conhecimento. No caso de formação dos
conceitos, fundamental no desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores, a criança interage com os atributos
presentes nos elementos do mundo real, sendo essa interação
direcionada pelas palavras que designam categorias
culturalmente organizadas. A linguagem internalizada, passa a
representar essas categorias e a funcionar como instrumento
de organização do conhecimento.(Oliveira, 1992, p.30-31).
19. Conceitos espontâneos: são formados
pela criança em sua experiência
cotidiana, no contato com as pessoas
de seu meio, de sua cultura, em
confronto com uma situação concreta .
20. relação direta com o objeto
conceitos espontâneos
atenção para o aluno está orientada para .
. o objeto e não para o ato de pensar.
21. Conceitos científicos: não são diretamente
acessíveis à observação ou ação imediata da criança
sendo portanto adquiridos por meio do ensino,
como parte de um sistema organizado de
conhecimentos, através de processos deliberados de
instrução escolar. A aprendizagem é pois, uma das
principais fontes de desenvolvimento dos conceitos
científicos.
22. relação indireta com o objeto: mediada . .
por outros conceitos.
Conceitos científicos
Exige, portanto generalização, tomada de .
consciência e
sistematização de conceitos
23. Os conceitos científicos descem ao concreto, aos espontâneos , enquanto
estes procuram ascender, subir ao nível de abstração, de consciência e de
uso deliberado dos conceitos científicos. Este movimento é assim
explicado por Vygotsky:
Poder-se-ia dizer que o desenvolvimento dos
conceitos espontâneos da criança é ascendente,
enquanto o desenvolvimento dos seus conceitos
científicos é descendente, para um nível mais
elementar e concreto. Isso decorre das diferentes
formas pelas quais os dois tipos de conceitos surgem.
(1991, p.93)
26. Vygotsky
Aprendizagem não é:
Independente do desenvolvimento
Idêntica a desenvolvimento
Aprendizagem é:
condição necessária para o desenvolvimento qualitativo das FME
para as FMS
O processo de desenvolvimento segue o da aprendizagem
Aprendizagem cria a área de desenvolvimento potencial
27. Aprendizagem NÃO É:
Algo externo e posterior ao desenvolvimento (Teoria 1)
Igual ao desenvolvimento (Teoria 2)
MAS É:
Condição prévia ao processo de desenvolvimento
Desenvolvimento das FMS exige:
Um contexto de interação
Internalização de instrumentos e signos
Apropriação
Isto é aprendizagem
28. 1) DESENVOLVIMENTO X APRENDIZAGEM
Aprendizagem precede o desenvolvimento
Consequências
da Escola: lugar da prendizagem
para o aluno; da produção de conceitos
científicos
Importância: do professor
Das relações interpessoais
Sujeito Objeto
Outro
Linguagem
29. 2) ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
nível de desenvolvimento real (solução
. . . independente)
Distância entre:
nível de desenvolvimento potencial
. (solução sob orientação)
Bom ensino direcionado às funções potenciais para o
que o aluno ainda não é capaz de fazer
Prospectivo
30. Contato:
Profa. Dra. Maria Teresa de Assunção Freitas
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