Seminário produzido na ECA / USP para disciplina da professora Beth Saad sobre a teoria Ator - Rede, usando como base o livro "A Comunicação das Coisas" de André Lemos
1. A VIDA DOS OBJETOS E A
COMUNICAÇÃO DAS COISAS
Diogo Moyses Rodrigues
Walter Eller do Couto
Giovanna Lucci
Margot Pavan
Escola de Comunicações e Artes da USP
Prof. Beth Saad – nov. 2016
3. Rizoma filosófico contemporâneo (Grossberg, 2016)
Recebe vários nomes, ou pelo menos inclui:
● Direcionamento ontológico (brian massumi, steven shaviro e william connolly;
● Ontologias indígenas (arturo escobar e viveiros de castro),
● O novo materialismo (jane bennett, karen barad e, em relação à mídia, jussi parikka e eugene
thacker);
● Realismo especulativo e ontologia orientada a objeto (quentin meillassoux, graham harmon, ray
brassier e ian bogost)
● O novo empirismo (como bruno latour);
4. Recebe vários nomes, ou pelo menos inclui:
● A teoria do rizoma (manuel delanda);
● A teoria do afeto/antirrepresentacional (brian massumi, nigel thrift);
● A teoria do antropoceno (timothy morton, claire colebrook, mackenzie wark);
● As sociedades de controle (brian massumi, randy martin, patricia clough);
● O pós-humanismo (rosi braidotti e katherine hayles)
● O direcionamento ao não humano ( richard grussin)
Rizoma filosófico contemporâneo (Grossberg, 2016)
5. O que há de comum neste “rizoma”?
● Sentimento anti-iluminista e anti-dualístico
● Novo Materialismo
Geralmente são críticos a nomes como:
● Descartes - separação entre sujeito e objeto
● Kant - revolução copernicana e a “coisa em-si”
6. Os pós-modernos são construtivistas, anti-
materialistas, anti-realistas e hiper-relativistas.
Embora também sejam anti-iluministas e
critiquem a modernidade.
ATENÇÃO: NÃO CONFUNDIR COM OS PÓS-MODERNOS
7. ● Contra as pretensões universalistas do humanismo iluminista
● Adepto a um “Novo Materialismo”: “A nova ontologia materialista antevê o mundo não em termos
de objetos fixos, isolados e reificados, mas como corpos singulares, pré-individualizados, definidos
por suas capacidades e relações, reunidos em rizomas complexos, plurais e heterogêneos. Ao
mesmo tempo, postula que a própria materialidade é processual e dinâmica e, portanto, dá origem a
um materialismo composto por figuras de transformação, vibrações, ritmos, intensidades etc”
(Grossberg, 2016, p.35).
8. A TEORIA ATOR-REDE E AS MATERIALIDADES DA COMUNICAÇÃO
COMPARTILHAM AS MESMAS CARACTERÍSTICAS DO “RIZOMA”
IDENTIFICADO POR GROSSBERG.
10. DEFINIÇÕES DO TERMO “CULTURA”
- Cultura como doação de sentido ou aquisição de bens espirituais;
- Visão antropocêntrica;
Modelos e modos de pensamento hermenêutico X materialidade da cultura
11. REFLEXÕES SOBRE O CARÁTER MATERIAL DA CULTURA
- aplicadas ao campo dos estudos de comunicação;
- aplicadas às ciências humanas, de modo geral;
MATERIALITÄT DER KOMMUNICATION (GUMBRECHT, H. & PFEIFFER, K., 1987)
- Esboço de um modelo teórico;
- Tentativa de sistematização de um pensamento inteiramente voltado às
materialidades dos processos de comunicação;
12. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DAS
MATERIALIDADES DA COMUNICAÇÃO:
“toda a expressão de um sentido está
profundamente determinada pelas
circunstâncias materiais e históricas de
sua realidade cotidiana, pelas
materialidades que constituem seu
mundo cultural.”
13. ‘PATHOS DA TRAVESSIA TERRENA’ -
O COTIDIANO DE ERICH AUERBACH
(GUMBRECHT, H. 1992)
- Genealogia intelectual da ideia das
materialidades
- Processo que levou ao
desenvolvimento de conceitos
como:
- a produção de presença
- Substancialismo do pensamento
das materialidades X perspectivas
construtivistas
14. CULTURAS DE PRESENÇA X CULTURAS DE SENTIDO
- materialidade e religião;
- materialidade e imaginário;
APRESENTA A DIVISÃO TRIPARTITE DAS DISCIPLINAS DAS HUMANIDADES:
- Estética, História e Pedagogia;
- Epifania, presentificação e dêixis;
- Abordagem materialista dos problemas das ciências humanas
15. DISCOURSE NETWORKS 1880/1900
(KITTLER, F. 1990)
- (Novo) modelo de cultura
- Objeto central: corpo e todas as inscrições que
sofre em suas relações com o poder e os
aparatos tecnológicos;
16. PROPOSTA DO ARTIGO:
- Acompanhar o pensamento de alguns pensadores para resgatar uma
história do pensamento da materialidade dos meios;
PRECURSORES DO PENSAMENTO DA MATERIALIDADE:
- Georg Simmel; Siegfried Krakauer; Walter Benjamin
17. MODERNIDADE, HIPERESTÍMULO E O INÍCIO DO SENSACIONALISMO POPULAR
(SINGER, B., 2003)
- Modernidade neurológica
- transformação contínua do sistema perceptivo
- olhar neurológico para pensar as metrópoles e suas relações com o psíquico
18. PENSAR A MODERNIDADE A PARTIR DE UMA
COMPREENSÃO QUE TOMA O CORPO COMO
OBJETO CENTRAL
- Relação entre os sentidos e os estímulos;
- Estímulos e hiperestímulos
19. JUSTIFICATIVA
Tem como base duas premissas:
1. O corpo como ‘primeira mídia’
2. O conceito de corporificação
O CORPO
COMO OBJETO DE REFLEXÃO
não é o mesmo que retomar a antiga
dicotomia:
Essencialismo X Construcionismo
21. ● OBJETIVOS: O objetivo do livro é suprir uma lacuna como um trabalho de
introdução à TAR no campo da comunicação no Brasil, podendo, desta
forma, servir de base para futuros trabalhos.
● Humanos se comunicam, as coisas também.
22. A mediação com não-humanos, purificação dos híbridos.
Precisamos de uma teoria do social que possa pensar essas relações e
esses mediadores sem colocar, de antemão, os humanos no centro da
intencionalidade, sem purificar a comunicação separando sujeito de objeto
como mediadores e intermediários.
A TAR busca nivelar sujeitos e objetos, atores humanos e não-humanos, que
descreve e destaca as controvérsias buscando abrir “caixas-pretas” (clichês,
estereótipos, lugares-comuns, enunciados e objetos estabilizados).
23. ● A TAR nasce no campo dos Social Studies of Science
● Influências: Michel Serres, Gabriel Tarde, Isabelle Stengers, Algirdas Greimas, Alfred Whitehead,
Harold Garfinkel.
● O termo “Teoria Ator-Rede” foi inicialmente proposto por Michel Callon.
24. ● Alternativa aos estudos de ciência e tecnologia da “Sociologia da Ciência”
(Robert Merton) e do “Programa forte de sociologia da ciência” (David Bloor),
que buscavam por uma “explicação social” da atividade científica.
● Para a TAR, o social se constrói no próprio desenvolvimento das ciências e
das técnicas. O social não é visto como uma substância, como aquilo que
explica algo, mas sim como aquilo que precisa ser explicado.
● A crítica aos sociólogos da ciência expande-se para uma crítica da “grande
sociologia”.
25. ● A TAR é uma anti-teoria
● Associologia: Dedicar atenção à dinâmica de formação das associações, aos
movimentos dos agenciamentos, à distribuição da ação entre atores diversos,
humanos e não-humanos, a partir de uma simetria generalizada. Ela é uma
sociologia da mobilidade
26. ● A realidade não possui um status estável e definitivo. Para Latour ela é um
enunciado difícil de derrubar, sendo composta por redes de matérias
heterogêneas que são reunidas momentânea e localmente. O real é um
enunciado estabilizado, uma caixa-preta cujo esforço de abertura é
gigantesco, mas que deve ser feito permanentemente.
● “A rede não é conexão, mas composição”.
28. ACTANTES
Tudo aquilo que gera uma ação, que produz movimento e diferença, podendo ser
humano e não humano. É o ator da expressão ator-rede. Actante (semiótica) =
ator.
“Humanos e não humanos em um mesmo terreno, sem hierarquias definidas
a priori” (LEMOS, 2013)
“Cada actante é sempre resultado de outras mediações e cada nova
associação age também como um actante” (CALLON E LAW – 1986).
No entanto, a ação nunca é propriedade de um actante, mas de uma rede. A
origem e a direção da ação nunca são facilmente identificáveis.
29. INTERMEDIÁRIOS
Ele não é um mediador, não produz diferença, apenas transporte, não modifica.
Circula sem mexer no espaço, nem no tempo.
“A noção de intermediário, e a diferença em relação ao mediador (actante), é sempre
problemática, já que não existe transporte que não implique em alguma transformação”
(LEMOS)
“Faz parte da ação, mas fica em um fundo” (LEMOS)
Intermediário é intermediário em um determinado contexto.
30. TRADUÇÃO / MEDIAÇÃO
Conceito que remete para a comunicação e transformações dos actantes, bem
como a constituição de redes.
“É toda ação que um actante faz ao outro, implicando estratégias e interesses próprios,
na busca da estabilização futura da real ou, da resolução da estratégia ou do objetivo
(LEMOS).”
“Não podemos descrever a ação, partindo de fontes de origem que são pontos,
estruturas ou agentes, mas sim, através da circulação de um certo número de
entidades que são mais importantes que os pontos ou as estruturas (CALLON, 2008).”
Relações que implicam sempre em transformação, circulação, comunicação.
31. INSCRIÇÃO
Forma de mediação e de tradução na qual a associação se define a partir de
“scripts”, de escritas em dispositivos os mais diversos (uma máquina, um gráfico,
uma lei, um mapa).
“Materialização de uma entidade num signo” (LATOUR, 1999)
“Toda produção de verdade é uma inscrição de alguma forma, produção de um rastro”
(LEMOS, 2013)
“O trabalho para revelar as associações e a verdade de um ‘fato’ (seja ele jornalístico,
científico, econômico, cultural) é o de ‘descrição’” (LEMOS, 2013)
32. PRINCÍPIO DE SIMETRIA OU ONTOLOGIA PLANA
Pressuposto de que se deve dar a mesma importância a sujeitos e objetos.
Actantes humanos e não-humanos estão no mesmo plano.
“Alternativa à sociologia estruturalista, fugindo dos grandes enquadramentos teóricos
explicativos do social e identificando redes, mediadores e intermediários em
movimento, atuando em uma determinada associação” (CALLON, 2005)
Artefatos atuam, ainda que não como seres humanos.
“A grande vantagem é que não temos que escolher entre duas categorias de agência
(humanas e instrumental), mas sim observar a decolagem de uma multidão de
agências diferentes” (CALLON, 2008)
33. REDE
Não é infraestrutura (física ou de sociabilidade), não é por onde as coisas passam,
mas aquilo que se forma na relação (mediação, tradução).
“É o próprio ‘espaço – tempo’. É o conceito-chave que remete às formas de associações
entre actantes e intermediários definindo a relação entre eles” (LEMOS, 2013).
• "A rede é o próprio movimento associativo que forma o social.”
CONTROVÉRSIA
É o lugar e o tempo da observação, onde se elaboram as associações e o social;
aparece antes de se congelar ou se estabilizar em caixas-pretas.
“Olhas as controvérsias é olhar as redes em formação na disputa pela estabilização.
Quando elas cessam, surgem as caixas-pretas”. (LEMOS, 2013)
34. CAIXA-PRETA
É a estabilização e a resolução de um problema: uma organização, um artefato,
uma lei, um conceito.
Toda associação tende a virar uma caixa-preta, a se estabilizar e cessar a
controvérsia. E ser reaberta novamente, a partir de novas instabilidades.
ESPAÇO – TEMPO
É o que se produz da mediação entre os objetos, podendo ser humano e não-
humano. Espaço e tempo são consequências das associações.
“Espaço é uma associação entre lugares e coisas” (LEMOS, 2013)
“O tempo é aquilo que é produzido pela relação entre as coisas” (LEMOS, 2013)
35. ESSÊNCIA
Tomar a explicação dos fatos sob o viés de uma totalidade. Partir de explicações genéricas que são
aplicadas aos envolvidos.
PRINCÍPIO DE IRREDUÇÃO
A Internet emancipa ou é totalitária? O Facebook é lugar do narcisismo e da
superficialidade, ou de informações e confissões? O Twitter é pura emulação de
pensamentos imperfeitos ou ferramenta revolucionária? Ora, eles não são nem
uma coisa nem outra, podendo ser uma coisa ou outra a depender da associação
em jogo.
37. ● Redefinição da sociologia como uma ciência do movimento dos objetos
(humanos e não-humanos) em circulação e associação.
● O trabalho é o de seguir os rastros: busca identificar as associações entre os
atores, vistos como mediadores ou intermediários, destacando as redes que se
formam com a circulação da ação entre eles, entendendo as estabilizações, ou
caixas-pretas que daí se formam como algo momentâneo.
● A TAR é ideal para uma área tão dinâmica quanto a Cultura Digital, já que é
um ambiente propício a controvérsias.
38. ● Para os estudos de cibercultura, a TAR pode ajudar a revelar fenômenos tão
díspares quanto a sociabilidade on-line, a vigilância dos rastros digitais
deixados em diversas ações na internet, as mídias locativas, o corpo e a
subjetividade, as interfaces e interações, a arte, o ciberativismo, o governo
eletrônico, os games, a inclusão digital… Precisamos discutir esses
assuntos, se posso dizer assim, por dentro, e abrir as caixas-pretas da
cultura digital. Partir dessa abordagem realista, relativista e construtivista dos
fenômenos sociais pode ser um bom caminho.
39. ● A formação das associações, dos movimentos de conexão e desconexão,
da comunicação e da não-comunicação das coisas, se estabelecem
sempre por três condições móveis de instauração espaço-temporais:
● 1) Não sabemos exatamente a fonte original da ação;
● 2) Não sabemos exatamente a direção do vetor da ação e
● 3) O valor e a qualidade da associação estão sempre a se construir.
41. ● O momento principal de sua análise é a controvérsia, a polêmica,
justamente o lugar e o tempo da associação e da formação do social.
● Controvérsias: ações em movimento, coisas não estabilizadas
42. CONTRIBUIÇÕES DA TAR PARA A CIBERCULTURA
1. Evitar a purificação dos fatos;
2. Oferecer um método capaz de ultrapassar delimitações entre natureza, sociedade
e discurso;
3. Reposicionar o entendimento sobre a mediação;
4. Apresentar o discurso midiático como rede de proposições;
5. Destacar a necessidade de não se abandonar o empírico em favor das estruturas;
6. Mostrar que o papel do analista é mapear redes de actantes mobilizados em
determinada ação;
7. Flagrar a constituição interna das caixas-pretas.
45. ANDRÉ LEMOS NO INTERCOM RECIFE 2011
“Acredito que a ANT, pouco conhecida e menos ainda utilizada na nossa área,
possa ser de grande valia como uma teoria da comunicação.”
Fonte: http://andrelemos.info/pesquisa-empirica-em-comunicacao/