O documento discute a vida e obra de Ferdinand de Saussure, linguista suíço considerado o fundador da linguística moderna. Saussure desenvolveu conceitos fundamentais como a distinção entre língua e fala, e entre sincronia e diacronia, que serviram de base para o estruturalismo no século XX. Ele entendia a linguística como o estudo dos signos linguísticos enquanto sistema, e não de forma isolada.
Ferdinand de Saussure e os conceitos-chave da Linguística
1. PROF. DR. SILVIO REINOD COSTA
CENTRO UNIVERSITÁRIO “BARÃO DE MAUÁ”
Ribeirão Preto – São Paulo
2. Ferdinand de Saussure (*Genebra
(Suíça), 26 de novembro de 1857 – †
Morges (Suíça), 22 de fevereiro de 1913).
Foi um linguista e filósofo suíço, cujas
elaborações teóricas propiciaram o
desenvolvimento da Linguística
enquanto ciência autônoma.
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3. O pensamento de Saussure exerceu
grande influência sobre o campo da
Teoria da Literatura e dos Estudos
Culturais.
Entendia a Linguística como um ramo da
ciência mais geral dos signos, que ele
propôs fosse chamada de SEMIOLOGIA.
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4. Graças aos seus estudos e ao trabalho de
Leonard Bloomfield, a Linguística
adquiriu autonomia, objeto e métodos
próprios. Seus conceitos serviram de base
para o desenvolvimento do Estruturalis-
mo no século XX.
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5. Filho de um eminente naturalista, foi
introduzido aos estudos linguísticos pelo
filólogo e amigo da família, Adolphe
Pictet. Estudou Física e Química, mas
continuou fazendo cursos de gramática
grega e latina.
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6. Por fim, Saussure convenceu-se de que
sua carreira estava nos estudos da
linguagem e ingressou na Sociedade
Linguística de Paris.
Estudou língua europeias em Leipzig e aos
vinte anos publicou uma dissertação sobre o
sistema primitivo nas vogais nas língua
indoeuropeias, a qual foi muito bem aceita.
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7. 1879: “Mémoire sur le primitif système
des voyelles dans les langues indo-
européenes”.
Apesar da orientação atomística própria
da corrente neogramática, Saussure inova
em sua Mémoire situando o problema da
reconstituição fonética do indoeuropeu
sob uma perspectiva sistemática.
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9. 1880: Tese de Doutoramento de
Saussure:“De l empoi du génitif absolu
en sanskrit”.
Saussure defendeu sua Tese de
Doutoramento em Berlim e retornou a
Paris, onde passou a ensinar Sânscrito,
Gótico e Alto Alemão e depois Filologia
Indoeuropeia.
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11. Retornou a Genebra, onde lecionou
sânscrito e linguística histórica em geral.
Além de artigos de Gramática
Comparada, infelizmente nada mais nos
legou em vida o genial mestre genebrino.
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12. Entre 1907 e 1910, Saussure ministrou três
cursos sobre linguística na Universidade de
Genebra. Em 1916, três anos após sua
morte, dois de seus alunos, Charles Bally e
Albert Sechehaye, com a colaboração de A.
Ridlinger, compilaram as anotações de
alunos que compareceram a estes cursos e
editaram o Curso de Linguística Geral, livro
seminal da ciência linguística.
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13. Paralelamente ao trabalho teórico reunido no
Curso, Saussure também realizou, entre 1906 e
1909, outro estudo que é comumente chamado de Os
anagramas de Saussure. Nesse trabalho, o mestre
genebrino perscrutou um corpus de poemas clássicos
para tentar provar a existência de um mecanismo de
composição poética baseado na análise fônica das
palavras; mecanismo este formado pelo anagrama e
pelo hipograma. O hipograma (palavra-tema) é o
nome de um deus ou de um herói diluído
foneticamente no poema. O anagrama, por sua vez, é
o processo que propicia a diluição do hipograma nos
versos.
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16. Para Saussure, o signo é a “a união do sentido e
da imagem acústica”.
O que Saussure chama de “sentido” é a mesma
coisa que conceito ou ideia, isto é, a
representação mental de um objeto ou realidade
social em que nos situamos, representação essa
condicionada, plasmada pela formação
sociocultural que nos cerca desde o berço.
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17. Em outras palavras, para Saussure, conceito é
sinônimo de significado, algo como a parte
espiritual da palavra, sua contraparte
inteligível, em oposição ao significante, que é sua
parte sensível [= material].
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22. O laço que une o significante ao significado
é arbitrário ou então, visto que
entendemos por signo o total resultante
da associação de um significante com um
significado, podemos dizer mais
simplesmente: o signo linguístico é
arbitrário.
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23. Assim, a ideia de "mar" não está ligada por relação
alguma interior à sequência de sons m-a-r que
lhe serve de significante: poderia ser
representada igualmente bem por outra
sequência, não importa qual; como prova, temos
as diferenças entre as línguas e a própria
existência de línguas diferentes: o significado da
palavra francesa boeuf ("boi") tem por
significante b-ö-f de um lado da fronteira franco-
germânica, e o-k-s (Ochs) do outro.
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25. O significante, sendo de natureza auditiva,
desenvolve-se no tempo, unicamente, e
tem as características que toma do tempo:
a) representa uma extensão, e b) essa
extensão é mensurável numa só
dimensão: é uma linha.
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26. Este princípio é evidente, mas parece que
sempre se negligenciou enunciá-lo, sem
dúvida porque foi considerado
demasiadamente simples; todavia, ele é
fundamental e suas consequências são
incalculáveis; sua importância é igual à da
primeira lei. Todo o mecanismo da língua
depende dele.
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27. Por oposição aos significantes visuais (sinais
marítimos etc.), que podem oferecer
complicações simultâneas em várias
dimensões, os significantes acústicos dispõem
apenas da linha do tempo; seus elementos se
apresentam um após outro; formam uma
cadeia. Esse caráter aparece imediatamente
quando os representamos pela escrita e
substituímos a sucessão do tempo pela linha
espacial dos signos gráficos. 27
28. Em certos casos, isso não aparece com
destaque. Se, por exemplo, acentuo uma
sílaba, parece que acumulo num só ponto
elementos significativos diferentes. Mas
trata-se de uma ilusão: a sílaba e seu
acento constituem apenas um ato
fonatório; não existe dualidade no interior
desse ato, mas somente oposições
diferentes com o que se acha a seu lado.
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29. A doutrina de Saussure baseia-se numa
série de pares de distinções, atribuídas
por George Mounin (1973:54) à sua
“mania dicotômica”.
“A linguagem é redutível a cinco ou seis
dualidades ou pares de coisas”. (Saussure)
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30. “(...) o fenômeno linguístico
apresenta perpetuamente duas
faces, que se corresponde e das
quais uma não vale senão pela
outra.” (Saussure, CLG, 15)
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31. Esta é sua dicotomia básica
e, juntamente com o par
sincronia/diacronia, constitui uma das
mais fecundas.
Fundamentada na oposição
social/individual, revelou-se com o tempo
extremamente profícua.
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32. O que é fato da língua (langue) está no campo
social; o que é fato da fala ou discurso (parole)
está no campo individual. Repousando sua
dicotomia na Sociologia, ciência nascente e já
de grande prestígio então, Saussure (p. 16)
afirma e adverte ao mesmo tempo: “a
linguagem tem um lado individual e um lado
social, sendo impossível conceber um sem o
outro”.
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33. A língua como acervo linguístico:
A língua é uma realidade psíquica formada de
significados e imagens acústicas; “constitui-se
num sistema de signos, onde, de essencial, só
existe a união do sentido e da imagem
acústica, onde as duas partes do signo são
igualmente psíquicas” (p.23); é “um tesouro
depositado pela prática da fala em todos os
indivíduos pertencentes à mesma
comunidade, um sistema
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34. gramatical que existe virtualmente em cada
cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros
dum conjunto de indivíduos” (p. 21); a língua
é “uma soma de sinais depositados em cada
cérebro, mais ou menos como um dicionário
cujos exemplares, todos idênticos, fossem
repartidos entre os indivíduos” (p. 27)
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35. A língua, como acervo linguístico, é “o
conjunto de hábitos linguísticos que
permitem a uma pessoa compreender e
fazer-se compreender” (p. 92) e “as
associações ratificadas pelo consentimen-
to coletivo, e cujo conjunto constitui a
língua, são realidades que têm sua sede
no cérebro” (p. 23)
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36. A língua como instituição social:
Saussure considera que a língua “não está
completa em nenhum indivíduo, e só na
massa ela existe de modo completo” (p.
21), por isso, ela é, ao mesmo
tempo, realidade psíquica e instituição
social.
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37. Para Saussure, a língua “é, ao mesmo
tempo, um produto social da faculdade da
linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir o exercício dessa faculdade nos
indivíduos” (p. 17); “é a parte social da
linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si
só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela
não existe senão em virtude de uma espécie
de contrato social estabelecido entre os
membros da comunidade” (p. 22)
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38. A língua como realidade sistemática e
funcional – conteúdo mais importante do
conceito saussureano sobre língua:
A língua é, antes de tudo, “um sistema de
signos distintos correspondentes a ideias
distintas” (p. 18); é um código, um sistema
onde, “de essencial, só existe a união do
sentido e da imagem acústica” (p. 23).
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39. Saussure vê a língua como um objeto de
“natureza homogênea” (p. 23) e
que, portanto, se enquadra perfeitamente
na sua definição basilar: “a língua é um
sistema de signos que exprimem ideias”
(p. 24)
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40. A fala, ao contrário da língua, por se
constituir de atos individuais, torna-se
múltipla, imprevisível, irredutível a uma
pausa sistemática. Os atos linguísticos
individuais são ilimitados, não formam
um sistema. Os atos linguísticos
sociais, bem diferentemente, formam um
sistema, pela própria natureza
homogênea. 40
41. Ora, a Linguística como ciência só pode
estudar aquilo que é
recorrente, constante, sistemático. Os
elementos da língua podem ser, quando
muito, variáveis, mas jamais apresentam a
inconstância, a irreverência, a
heterogeneidade característica da fala, a
qual, por isso mesmo, não se presta a um
estudo sistemático. 41
42. LÍNGUA X FALA:
. social . individual
. homogênea . heterogênea
. sistemática . assistemática
. abstrata . concreta
. constante . variável
. duradoura . momentânea
. conservadora . Inovadora
. virtual . real
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43. LÍNGUA X FALA:
. permanente . ocasional
. supraindividual . Individual
. essencial . acidental
. psíquica . psicofísica
. instituição . práxis (ação)
. essência . existência
. potencialidade . realidade
. fato social . ato individual
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44. LÍNGUA X FALA:
. unidade . diversidade
. forma . substância
. produto . Produção
. indivíduo subordinado . indivíduo “senhor”
. instrumento e produto . língua em ação
da fala
. sistema . realização
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45. LÍNGUA X FALA:
. adotada pela comunidade . surge no indivíduo
. potencialidade ativa . faz evoluir a língua
de produzir a fala
. necessária para a inteligi- . necessária para que a
bilidade e execução da fala língua se estabeleça
. 1 + 1´+ 1´´...= I . 1 + 1´+ 1´´+...
. competência . desempenho
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46. Segunda dicotomia saussureana, acolhida
amplamente pela Linguística
moderna, principalmente pelos norte-
americanos, preocupados em não
introduzir considerações históricas na
descrição de um estado de língua.
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47. Para Saussure, é indispensável, em
Linguística, como em todas as demais
ciências, se distingam os fenômenos de
duas maneiras: 1º.) do ponto de vista de sua
configuração sobre o eixo AB das
simultaneidades (“relações entre coisas
coexistentes”), excluindo-se qualquer
consideração de tempo; 2º.) de acordo com
a posição do fenômeno sobre o eixo CD das
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48. sucessividades, no qual cada coisa deve ser
considerada por si mesma, sem
esquecer, contudo, que todos os fatos do
primeiro eixo aí se situam com suas
respectivas transformações. A figura que
segue aparece à página 95 do CLG:
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50. Para Saussure, sincronia, está para um
“estado de língua”, assim como diacronia
para uma “fase de evolução” (CLG, p. 96).
Optando pela primeira, e rejeitando
igualmente a síntese pancrônica, invoca
que “a multiplicidade dos signos da língua
nos impede absolutamente de estudar-
-lhe, ao mesmo tempo, as relações no
tempo e no sistema” (CLG, p. 96). 50
51. SINCRONIA X DIACRONIA:
. estática . evolutiva
. descritiva . prospectiva e retrospectiva
. Gramática Geral . Gramática Histórica
. interessa-se pelo . interessa-se pelas evolu-
sistema ções e suas causas
. faz descrições . apoia-se em descrições
sincrônicas sincrônicas
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52. SINCRONIA X DIACRONIA:
. descreve estados de . descreve fenômenos evo-
língua e suas relações lutivos individuais
. abstrai o tempo . leva em conta o tempo
. trata de fatos simul- . trata de fatos sucessivos
tâneos
. estuda fatos que formam . estuda fatos que não
sistema entre si formam sistema entre
si
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53. SINCRONIA X DIACRONIA:
. estuda o modo como . estuda o processo de evo-
a língua funciona lução da língua
. preocupa-se com . preocupa-se com evolução
funcionamento
. syn (simultaneidade) + . diá (movimento através
khrónos (tempo) de) + khrónos (tempo)
. descreve um determinado . Confronta estados dife-
estado de uma mesma rentes de uma mesma
língua língua
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54. SINCRONIA X DIACRONIA:
. estruturalismo . atomismo
. parte . todo
. relação . fato
. descrição . explicação
. funcionamento . evolução
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55. Para Saussure, tudo na sincronia se prende a
dois eixos: o eixo associativo (= paradigmático) e
o sintagmático.
As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter
linear do signo linguístico, “que exclui a
possibilidade de [se] pronunciar dois elementos
ao mesmo tempo” (CLG, 142)
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56. A língua é formada de elementos que se
sucedem um após o outro
lineramente, isto é, “na cadeia da fala”
(CLG, 142). À relação entre esses
elementos Saussure (p. 142) chama de
sintagma:
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57. O sintagma se compõe sempre de duas ou
mais unidades consecutivas: re-ler, contra
todos, a vida humana, Deus é bom, se fizer
bom tempo, sairemos etc.
57
58. O sintagma, segundo Saussure (p. 114):
a noção de sintagma se aplica não só às
palavras, mas aos grupos de palavras, às
unidades complexas de toda dimensão e de toda
espécie (palavras
compostas, derivadas, membros de frases, frases
inteiras).
58
59. É o princípio da linearidade do significante que
possibilita a realização do sintagma, a partir da
combinação de elementos que contrastam entre si
na cadeia da fala. Esse contraste ocorre entre
unidades do mesmo nível, isto é, um fonema
contrasta com outros fonemas, um morfema
contrasta com outros morfemas, e um termo da
oração, com outro termo da
oração, formando, desse modo, o chamado
contexto linguístico.
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60. SINTAGMÁTICAS X PARADIGMÁTICAS:
. base: sintagma . base: paradigma
. na frase . no sistema
. realidade . potencialidade
. contraste . oposição
. oposição contrastiva . oposição distintiva
. in praesentia . in absentia
. valor por contraste . valor por oposição a ter-
com os termos presentes mos ausentes
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61. SINTAGMÁTICAS X PARADIGMÁTICAS:
. baseiam-se na linearida- . situam-se na memória
de do significante do falante
. combinação . seleção
. metonímia . metáfora
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63. plano da expressão (ste) oposições fonológicas
gramaticais declinações
Relações conjugações
afixos
desinências
artigos
preposições
Paradigmáticas pronomes
advérbios
conjunções
plano da expressão (sdo)
lexicais nomes e verbos cam-
pos semânticos
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64. CARVALHO, Castelar de. Para compreender
Saussure: fundamentos e visão crítica. 11. ed.
corrigida. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
http://lacan.orgfree.com/textosvariados/saussure
naturezadosigno.htm Acessado em 20/10/2011 -
21h:08min
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