O documento Providentissimus Deus do Papa Leão XIII trata do estudo da Sagrada Escritura e tem como objetivos: 1) incentivar o estudo bíblico nos seminários e universidades católicas; 2) defender a interpretação católica da Bíblia contra os ataques do racionalismo; 3) estabelecer métodos de interpretação da Bíblia de acordo com a fé e os ensinamentos da Igreja.
2. INTRODUÇÃO
A Providentissimus Deus “Sobre o estudo da Sagrada Escritura” de Leão XIII
datada em 18 de novembro de 1893.
é o primeiro documento oficial da Igreja Católica, após as definições sobre a
Palavra de Deus no Concílio de Trento.
De certo modo o Concílio Vaticano I (1869-1870), que aconteceu duas décadas
antes desse documento pontifício, fez referências à Palavra de Deus, mas ela
não era seu objeto principal de estudo
O tema central girou em torno do Primado e da Infalibilidade do papa.
3. Introdução
A Carta Encíclica é composta por
99 artigos;
Ela foi escrita para gerar uma
reação diante dos ataques à
Palavra de Deus.
4. São João Paulo II afirmou:
A Providentissimus Deus quer, sobretudo proteger a
interpretação católica da Bíblia contra os ataques da
ciência racionalista.
A Providentissimus Deus apareceu numa época marcada
por polêmicas contra a fé da Igreja. A exegese liberal
trazia a estas polêmicas um apoio importante, porque
utilizava todos os recursos das ciências, desde a crítica
textual até à geologia, passando pela filologia, pela crítica
literária, pela história das religiões, pela arqueologia e
ainda por outras disciplinas
5. Intenções do papa Leão XIII acerca do
Documento
Todas as menções realizadas por Leão XIII na
Providentissimus Deus denota um constante e
insistente convite aos exegetas católicos a
adquirirem uma verdadeira competência científica,
de modo a superarem os seus adversários em seus
próprios espaços de trabalho, ou seja a ciência.
6. O Objetivo da Igreja:
Fica evidenciado que a Igreja nunca teve
medo da crítica científica. No entanto, a
Igreja não aceita possíveis conclusões
pautadas em opiniões preconcebidas ou de
cunho reducionista à uma interpretação com
relação ao Criador e Suas criaturas.
7. A CARTA ENCÍCLICA PROVIDENTISSIMUS DEUS
“SOBRE O ESTUDO DA SAGRADA ESCRITURA”
A Excelência e o valor da Sagrada Escritura
Há uma afirmação, de Leão XIII, com relação ao próprio Deus como autor da Sagrada Escritura,
uma vez que enviada dos céus aos homens sob a inspiração do Espírito Santo aos hagiógrafos.
Vale ressaltar todo o esforço da teologia por um trabalho de dedicação aos estudos bíblicos:
“aquela parte da teologia sagrada que se refere à defesa e interpretação dos livros divinos é de
excelência e utilidade grandíssima [para a Igreja]” (PD § 5).
8. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Motivos de estudá-la
A Igreja em seu caminhar não cessou de escrever encíclicas e cartas para um profundo incentivo e
recomendação para o estudo das Sagradas Escrituras.
Ao mesmo passo que estimula os sacerdotes, os doutores e estudantes de teologia, também a
juventude comprometida e todos os fieis, Leão XIII elogia todos aqueles que se dedicaram - parte ou
toda a sua vida - no estudo das Sagradas Letras.
“Não ignoramos, veneráveis irmãos, certo numero de católicos, homens de engenho e de doutrina que
se dedicaram com ardor na defesa dos Livros Divinos, que contribuíram para seu mais amplo
conhecimento e compreensão” (PD § 8).
9. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Vantagens desta Ciência
O fundamental objetivo de Leão XIII em promover o estudo e a dedicação à Sagrada Escritura, por essa
Encíclica, é expresso em 2Tim 3, 16-17: “Toda a Escritura divinamente inspirada é útil para instruir, para
raciocinar, para comover, para formar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, pronto para
qualquer boa obra”.
“tirar os argumentos para ensinar”; “confirmar a sua doutrina”, “reivindicar
testemunhos contra as calúnias de seus denegridores”; “para infringir a oposição em
relação aos Saduceus e Fariseus” sufocando as heresias nascentes; bem como
para “voltar contra Satanás” (Cf. PD § 12).
10. PROVIDENTISSIMUS DEUS
ENSINAMENTO QUE FORNECE AOS
SACERDOTES
O argumento aqui utilizado para confirmar a importância do estudo e dedicação às Sagradas Letras
está fundamentado no próprio Cristo que utilizava constantemente trechos da Torah; os próprios
apóstolos usavam destes textos para a pregação. Ou seja, os ministros de Cristo devem se valer
dessa mesma fonte para seu Divino Ofício.
“ Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo”
(São Jerônimo).
11. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Apoio que dá à Igreja
“Quem está apoiado firmemente
nos testamentos dos Santos
Livros, esse é o suporte da
Igreja” (São Jerônimo).
12. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Apoio que dá à Igreja
O Sumo Pontífice além de mostrar o apoio que o uso das
escrituras tem para a construção da Igreja, também
evidencia que é através Dela que o Espírito faz uso de
nossas simples palavras tornando-as palavras do
Senhor ou da Salvação, termo este novo de nossa
liturgia, mas que expressa toda a dimensão cristológica
nas leituras dos Textos Bíblicos bem como a sua
hermenêutica, isto é, interpretação
13. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Apoio que dá à Igreja
“... quem quer que leve ao seu discurso o espírito e a força da palavra
divina, esse ‘não fala só de linguagem, mas na virtude, no Espírito
Santo, e com grande abundância de frutos’ (1 Ts 1, 5)” (Cf. PD § 19).
14. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Apoio que dá à Igreja
“Lê com frequência as Escrituras divinas, e até esta leitura
sagrada nunca seja deposta de tuas mãos; aprende o que
ensinas...; a fala do padre seja condimentada pela leitura das
Escrituras” (São Jerônimo).
15. PROVIDENTISSIMUS DEUS
Apoio que dá à Igreja
Santo Agostinho: “Está vazio
aquele pregador que não seja
discípulo íntimo da palavra de
Deus”
16. PROVIDENTISSIMUS DEUS
São Gregório complementa: “... de que
nas pregações sagradas, antes de pregar
aos outros pensem em si mesmos, para
que não aconteça que prestando atenção
aos outros esqueçam-se de si mesmos”.
17. CONDIÇOES NECESSARIAS PARA TIRAR
PROVEITO DA SAGRADA ESCRITURA
PARA A PRÓPRIA SANTIFICAÇÃO E PARA A SANTIFICAÇÃO DO
PRÓXIMO; ENCONTRA-SE NAS SANTAS LETRAS.
LIVROS DITADOS PELO ESPÍRITO SANTO – DIFÍCIL INTERPRETAÇÃO –
NECESSÁRIO A PRESENÇA DO ESPÍRITO (SUA LUZ E GRAÇA), DEVEM SER
IMPLORADOS PELA ORAÇÃO HUMANA, ACOMPANHADA DE UMA VIDA
SANTA.
18. A Igreja no ensino da Sagrada Escritura.
A Igreja da a liberdade de a Sagrada Escritura ser
lida, interpretada e ensinada a todos.
19. Principais comentadores da
Sagrada escritura.
Clemente de Roma;
Inácio de Antioquia;
Policarpo;
Justino e Irineu.
ESCOLAS DA ÉPOCA
Alexandria
Antioquia
Dessa época deu-se a
maior parte dos escritores
e Padres.
Idade de Ouro da Exegese Bíblica.
20. Oriente
Orígenes;
Alexandria: Clemente e Cirilo.
Palestina: Eusébio e o segundo Cirilo.
Capadócia: Basílio o grande, Gregório Nazianzeno e
Gregório de Nissa;
Antioquia: João Crisóstomo.
Ocidente
Agostinho e Jerônimo;
Tertuliano e Cipriano;
Hilário e Ambrósio;
Leão Magno e Gregório Magno;
21. Ciência dos Gregos
Quando a arte nova da imprensa foi inventada,
o culto da Sagrada Escritura espalhou-se.
Um tempo difícil de perseguições, época de
difamação da Igreja.
Os Livros Divinos eram amados e honrados.
Grande numero de homens doutos,
pertencentes as ordens religiosas, desde o
Concílio de Viena até o Concílio de Trento
trabalharam para a prosperidade dos estudos
bíblicos.
22. Pio IV a Clemente VIII
Nesta época foram publicadas notáveis edições
das versões antigas da Vulgata.
E depois surge por ordem de Sisto V e Clemente,
são hoje em dia de uso comum.
É também aqui nesta época que foram editadas as
bíblias poliglotas – Antuérpia e Paris.
23. Argumentos dos adversários contra a Sagrada Escritura
Antes, afirmavam – os
inimigos da Santa Sé – que a
Sagrada Escritura era a única
fonte da revelação e o juízo
supremo da Fé.
24. Racionalistas
Negam eles toda a inspiração, negam a Escritura, e proclamam que todos esses objetos
sagrados são meras invenções e artifícios dos homens; consideram os Livros Santos, não
como contendo o relato exato de acontecimentos reais, mas como fábulas ineptas, como
históriasmentirosas.
Aos olhos deles, não há profecias, mas sim predições forjadas depois que os
acontecimentos tiveram lugar, ou então pressentimentos devidos a causas naturais; não
existem milagres verdadeiramente dignos deste nome, manifestação do poder divino, mas
apenas fatos surpreendentes que absolutamente não excedem as forças da natureza, ou ainda
prestígios e mitos; enfim, os Evangelhos e os escritos dos apóstolos não foram escritos pelos
autores aos quais são atribuídos.
25. Meios propostos pela Santa Sé para combater
estes adversários
Que nos seminários, nas universidades, as
Letras divinas sejam ensinadas em todo ponto
e nas necessidades da época atual.
Deve-se ter a prudência na escolha dos
professores – não homens escolhidos entre a
multidão, mas os que são recomendados por
um grande amor e longa prática da Bíblia.
26. Se apenas um for bem explicado!
Tudo se deve pôr por obra a fim de conseguir que os trechos escolhidos para a
interpretação sejamestudados demaneira suficientemente completa;
Os alunos, atraídos, de alguma sorte, e instruídos por um exemplo de explicação, poderão
depois reler e degustar o resto da Bíblia durante toda a sua vida.
É dever do comentador iniciar não aquilo que ele mesmo pensa, porém, aquilo que pensa
o autor que ele explica, ou que o texto relata.
27. ENSINO DA SAGRADA ESCRITURA POR PROFESSORES
ESCOLHIDOS E CONFORME MÉTODOS DETERMINADOS:
“O nosso conselho a este respeito é de observar as
prescrições comumente em uso relativamente à
interpretação, com tanto mais cuidado quanto mais
vivo for o ataque dos adversários. Cumpre, pois,
pesar com cuidado o valor das próprias palavras, os
ignificado do contexto, a similitude dos trechos, etc.,
e também aproveitar os esclarecimentos estranhos
da ciências que nos opõem” (§44).
28. “O próprio sentido literal evoca outros sentidos, quer
para ilustrar os dogmas, quer para recomendar
preceitos de vida prática” (§45).
“... a Igreja absolutamente não tenciona atrasar ou
proibir a investigação da ciência bíblica, antes,
guarda-a imune do erro e contribui grandemente
para o seu verdadeiro progresso” (§46)
29. ESTUDO DA SAGRADA ESCRITURA SEGUNDO A FÉ, A
INTERPRETAÇÃO DOS PADRES E AS DECISÕES DA
IGREJA
“Com efeito, sendo Deus o mesmo autor dos Livros sagrados e da
doutrina, cuja depositária é a Igreja, certamente é impossível que
derive da legítima interpretação o sentido de alguma passagem
escriturística que seja de alguma forma discordante da Igreja”(§48).
São Jerônimo já advertia: “Se qualquer disciplina, mesmo pouco
importante e fácil, exige para ser entendida, do doutor ou do
mestre, o que de mais temerário e orgulhoso quanto a recusa da
ajuda dos intérpretes, no estudo dos livros dos mistérios divinos”(§49)
30. ““Não pense, porém, que lhe seja fechada a porta para
avançar, quando intervém uma justa causa, na pesquisa e
na interpretação, desde que se mantenha religiosamente
obsequente ao preceito de santo Agostinho” (§52).
“... a Igreja recebeu esse modo de interpretar dos apóstolos
[...] por que conheciam, por experiência, quanto servisse
para alimentar a virtude e a piedade”. (§54)
31. NECESSIDADE DE FUNDAR A TEOLOGIA SOBRE AS
DIVINAS ESCRITURAS
“... não se pode absolutamente encontrar, fora da Igreja, o
sentido incorrupto das Letras sagradas [...] [fora da Igreja
não podem atingir o miolo da Escritura, mas somente lhe é
dado roer a casca”. (§56).
“... não recebe das outras ciências como se fossem
superiores, mas usa-as como inferiores e servas”. (§59)
32. “Ora, completa o papa: “... é algo grandioso que a
doutrina católica tenha sido provada, exposta, ilustrada
como a legítima” (§64).
Diz Crisóstomo: “É preciso muito estudo, para que “o verbo
de Cristo habite abundantemente em nós”, (§65).
33. NECESSIDADE DE ESTUDAR LÍNGUAS ANTIGAS E
ORIENTAIS:
“É pois, necessários que aos professores de Escritura
Sagrada, e convém aos teólogos, conhecer as línguas em
que os livros canônicos foram escritos pelos autores
sagrados” (§67)
34. A CIÊNCIA CRÍTICA:
“Com efeito apareceu um sistema que se enfeita com o
nome honroso de ‘alta critica’ e cujos discípulos afirmam
que origem, a integridade, a autoridade livro e caráter
intrínseco” (§68).
35. CIÊNCIAS NATURAIS E FÍSICAS
Afastar dos Santos Livros as profecias, os milagres, todos os outros fatos
que transcendem a ordem natural.
Seguem os passos dos autores sacros, opondo a ignorância que eles tem
de tais fatos e por esse motivo lhes baixar os escritos.
As ciências naturais são para manifestar a gloria do Criador gravada nos
objetos terrenos.
O conhecimento dos fatos naturais será um socorro eficaz para quem
quer ensinar a Escritura Sagrada.
36. CIÊNCIAS NATURAIS E FÍSICAS
“o espirito de Deus, que falava pela boca deles, não quis ensinar aos
homens essa verdades concernentes à constituição intima dos objetos
visíveis, porque de nada lhes deviam elas servir para a sua salvação” (S.
Agostinho).
Descrevem os objetos e falam neles, por metáforas, ou como o
comportava a linguagem.
Conservar a Escritura Sagrada não resulta ser necessário conservar
igualmente todos os sentidos que um dos Padres ou dos interpretes
empregaram para explica-la.
Distinguir o que eles dão como concernente a Fé, ou como ligado à ela.
37. O interprete deve mostrar que nada contradiz a Escritura, e os que
estudam as ciências físicas dão como certas e apoiadas em firmes
argumentos.
38. AS CIÊNCIAS HISTÓRICAS
Quem se debruça ao estudo das ciências históricas, sempre tende a
achar erros na Sagrada Escritura, e os livros profanos, documentos do
passado são evocados como certos, descartando qualquer sombra de
erro.
Isto pode acontecer, devido ao fato de que na impressão, alguns
trechos, das diversas edições existentes, não se achem reproduzido de
maneira justa.
39. A SAGRADA ESCRITURA É INERRÁVEL, POIS
FOI DITADA PELO ESPIRITO SANTO
Não se deve tolerar aqueles que dizer ser inspirados só as verdades
concernentes à fé e ao costume e nada mais.
Todos os livros que a Igreja tem como sagrados e canônicos, foram
escritos e ditados pelo Espirito Santo, livre de todo erro, uma vez que a
inspiração divina por si mesma exclui e repugna toda espécie de erro.
40. A INSPRIRAÇÃO DIVINA DOS LIVROS SANTOS
Definido pelo Concilio de Florença e de Trento, confirmado pelo Concilio
Vaticano.
“Os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento, em tidas as suas
partes, tais como são enumerados pelo decreto do mesmo Concilio de
Trento, e tais como estão contidos na antiga vulgata em latim, devem ser
considerados como sagrados e canônicos (...) mas por que, escrito sob a
inspiração do Espirito Santo, a Deus tem por seu autor” (Sess. III, c. II, de
revel.).
As Letras divinas, tais como foram entregues pelos escritores sacros, são
isentas de qualquer erro.
41. A INSPRIRAÇÃO DIVINA DOS LIVROS
SANTOS
Lutar, por meio das ciências mais importantes, plena e perfeitamente
para estabelecer a santidade da Bíblia, certamente é o que é justo de se
esperar da erudição dos teólogos.
Devem gravar fielmente na memória que Deus, Criador e Senhor de
todas as coisas, é ao mesmo tempo o autor das Escrituras.
42. EM CASOS DE CONTRADIÇÃO APARENTE,
RECORRER AOS TEOLOGOS PARA ENCONTRAR
UMA EXPLICAÇÃO
Se afigurar nelas alguma contradição sobre um ponto, cumpre aplicar-se
faze-la desaparecer, recorrendo ao juízo prudente dos teólogos e dos
interpretes.
Ninguém pode lisonjear-se de compreender a Escritura toda.
Se encontrar uma passagem demasiada difícil para poder explica-la,
tenha cada um prudência e paciência.
“É melhor estar sobrecarregado de sinais ignorados mas uteis, do que,
interpretando-os inutilmente, envolver a cabeça numa rede de erros,
depois de a haver libertado do jugo da submissão” (S. Agostinho).
43. AVISOS E ENCORAJAMENTOS
Aos Bispos agora compete fazer com que a Santa Mãe Igreja propôs a
respeito do estudo das Sagradas Escrituras, fazendo com ele produza
abundantes frutos. Convida-os a usar de sua autoridade para fazer esses
estudos persistirem nos Seminários e Universidades.
Por fim, exorta a todos, a se dedicarem com respeito e piedade as
Santas Letras, usando de sua inteligência, compreender “a sabedoria
que vem do alto”, sendo por ela esclarecido e fortalecido e, assim,
reconhecer e evitar qualquer erro da ciência humana.
Notas do Editor
Falar da origem da palavra irmão no hebraico, ben irmão, e ben dod, primo.