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proposta de crônica 01
       UFMG
        Manoel Neves
A CRÔNICA
                                       ufmg, texto longo
O CÉU DA BOCA, A MESA, Carlos Drummond de Andrade
Uma das sedes da nostalgia da infância, e das mais profundas, é o céu da boca. A memória do paladar
recompõe com precisão instantânea, através daquilo que comemos quando meninos, o menino que fomos. O
cronista, se fosse escrever um livro de memórias, daria nele a maior importância à mesa da família, na cidade de
interior onde nasceu e passou a meninice. A mesa funcionaria como personagem ativa, pessoa da casa, dotada
do poder de reunir todas as outras, e também de separá-las, pelo jogo de preferências e idiossincrasias do
paladar – que digo? da alma, pois é no fundo da alma que devemos pesquisar o mistério de nossas inclinações
culinárias.
A mesa mineira era grande, inteiriça e de madeira clara, só mais tarde, no tempo do Venceslau, substituída pela
novidade da mesa elástica, que divertia a gente, mas era uma ruptura com o quadro estático da casa imperial. À
esquerda e à direita, estiravam-se dois bancos compridos, sem espaldar, em que irmãos e parentes em visita se
sentavam por critério hierárquico. À cabeceira, na cadeira de jacarandá e palhinha, o pai presidia. Não era hábito
convidar ninguém para almoçar ou jantar; quem chegasse à hora da refeição, abancava-se e enrolava o
guardanapo no pescoço. A ausência de etiqueta permitia visitas a qualquer hora; e essa era mesmo preferida por
alguns, desejosos de variar de tempero. Comida havia para todos, e sobrava sempre, não por ser má, senão
porque a fartura era condição da família burguesa, fazia parte do status, e os donos da casa se envergonhariam
com a insuficiência de um prato. A mãe praticamente não se sentava, ocupada em servir a todos, de sorte que ia
comer no fim, ou lambiscar, como fazia de preferência.
A CRÔNICA
                                       ufmg, texto longo
Contudo, essa comida era sóbria na verdade, para não dizer rude. Muitos pratos na mesa – sempre de seis a
oito. Todos de composição singela, alguns seriam antes elementos de prato, que combinavam ao capricho do
comensal. Olhando para trás no tempo, o suposto memorialista encontra a larga travessa de carne assada, a
galinha completa, o angu [que merece notícia mais desenvolvida]. O feijão se convertia em tutu para acompanhar
a carne de porco dos domingos e dias de festa. Domingos em que se oferecia aos garfos a alta empada com
recheio de galinha e azeitonas pretas – o recheio, aqui, figura na absoluta precisão do termo, pois se estufava de
tão denso amálgama, ao contrário dessas empadinhas modernas, que estalam e furam a um leve toque,
encerrando mais vento que substância. Nobres empadões da Rua Municipal! Mesmo os enjoados, que não vos
distinguiam com a sua predileção porque apenas bicavam os pratos entupitivos, não se eximiam a admirar a
majestade arquitetônica de vosso porte, no centro da mesa repleta.

A comida, imune a influências no meio ilhado entre montanhas, era simples, simples a lembrança que deixou; e
quem dela se nutriu quase sempre torce o nariz aos requintes, excentricidades ou meras variedades culinárias de
outras terras.

Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera?
Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a
associação entre comida e relações afetivas.
A CRÔNICA
                                       ufmg, texto longo
Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera?
Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a
associação entre comida e relações afetivas.

                                                   01
                                           [lendo o comando]
o comando da questão, que leva em consideração a experiência do aluno e a sua relação afetiva com a comida,

sugere a produção de um texto memorialístico e intimista, o que torna o uso do narrador de primeira pessoa mais

 adequado. O relato de qualquer experiência em relação ao paladar será válida, desde que ele necessariamente

                    apontasse a importância afetiva dessa experiência na memória do aluno.

                                                   02
                                            [o gênero textual]
uma das funções da crônica é extrair substância, lirismo, de episódios cotidianos – é isso que se espera do aluno.
A CRÔNICA
                                       ufmg, texto longo
Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera?
Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a
associação entre comida e relações afetivas.

                                                  03
                                       [na construção do texto]
a tarefa do aluno é transformar um evento aparentemente irrelevante em experiências significativas, mais elevadas

          [as ceias de natal em família, almoços de domingo, a comida da mãe ou da avó, por exemplo]

em lembrança de valor sentimental; a crônica a ser produzida pelo aluno poderia ser argumentativa, ou narrativa,

                            ou ainda mesclar elementos argumentativos e narrativos.

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Proposta de crônica, UFMG

  • 1. proposta de crônica 01 UFMG Manoel Neves
  • 2. A CRÔNICA ufmg, texto longo O CÉU DA BOCA, A MESA, Carlos Drummond de Andrade Uma das sedes da nostalgia da infância, e das mais profundas, é o céu da boca. A memória do paladar recompõe com precisão instantânea, através daquilo que comemos quando meninos, o menino que fomos. O cronista, se fosse escrever um livro de memórias, daria nele a maior importância à mesa da família, na cidade de interior onde nasceu e passou a meninice. A mesa funcionaria como personagem ativa, pessoa da casa, dotada do poder de reunir todas as outras, e também de separá-las, pelo jogo de preferências e idiossincrasias do paladar – que digo? da alma, pois é no fundo da alma que devemos pesquisar o mistério de nossas inclinações culinárias. A mesa mineira era grande, inteiriça e de madeira clara, só mais tarde, no tempo do Venceslau, substituída pela novidade da mesa elástica, que divertia a gente, mas era uma ruptura com o quadro estático da casa imperial. À esquerda e à direita, estiravam-se dois bancos compridos, sem espaldar, em que irmãos e parentes em visita se sentavam por critério hierárquico. À cabeceira, na cadeira de jacarandá e palhinha, o pai presidia. Não era hábito convidar ninguém para almoçar ou jantar; quem chegasse à hora da refeição, abancava-se e enrolava o guardanapo no pescoço. A ausência de etiqueta permitia visitas a qualquer hora; e essa era mesmo preferida por alguns, desejosos de variar de tempero. Comida havia para todos, e sobrava sempre, não por ser má, senão porque a fartura era condição da família burguesa, fazia parte do status, e os donos da casa se envergonhariam com a insuficiência de um prato. A mãe praticamente não se sentava, ocupada em servir a todos, de sorte que ia comer no fim, ou lambiscar, como fazia de preferência.
  • 3. A CRÔNICA ufmg, texto longo Contudo, essa comida era sóbria na verdade, para não dizer rude. Muitos pratos na mesa – sempre de seis a oito. Todos de composição singela, alguns seriam antes elementos de prato, que combinavam ao capricho do comensal. Olhando para trás no tempo, o suposto memorialista encontra a larga travessa de carne assada, a galinha completa, o angu [que merece notícia mais desenvolvida]. O feijão se convertia em tutu para acompanhar a carne de porco dos domingos e dias de festa. Domingos em que se oferecia aos garfos a alta empada com recheio de galinha e azeitonas pretas – o recheio, aqui, figura na absoluta precisão do termo, pois se estufava de tão denso amálgama, ao contrário dessas empadinhas modernas, que estalam e furam a um leve toque, encerrando mais vento que substância. Nobres empadões da Rua Municipal! Mesmo os enjoados, que não vos distinguiam com a sua predileção porque apenas bicavam os pratos entupitivos, não se eximiam a admirar a majestade arquitetônica de vosso porte, no centro da mesa repleta. A comida, imune a influências no meio ilhado entre montanhas, era simples, simples a lembrança que deixou; e quem dela se nutriu quase sempre torce o nariz aos requintes, excentricidades ou meras variedades culinárias de outras terras. Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera? Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a associação entre comida e relações afetivas.
  • 4. A CRÔNICA ufmg, texto longo Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera? Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a associação entre comida e relações afetivas. 01 [lendo o comando] o comando da questão, que leva em consideração a experiência do aluno e a sua relação afetiva com a comida, sugere a produção de um texto memorialístico e intimista, o que torna o uso do narrador de primeira pessoa mais adequado. O relato de qualquer experiência em relação ao paladar será válida, desde que ele necessariamente apontasse a importância afetiva dessa experiência na memória do aluno. 02 [o gênero textual] uma das funções da crônica é extrair substância, lirismo, de episódios cotidianos – é isso que se espera do aluno.
  • 5. A CRÔNICA ufmg, texto longo Ao consultar a memória do paladar, que encontros e desencontros você recupera? Redija um pequeno texto sobre a sua experiência de infância, levando em conta a associação entre comida e relações afetivas. 03 [na construção do texto] a tarefa do aluno é transformar um evento aparentemente irrelevante em experiências significativas, mais elevadas [as ceias de natal em família, almoços de domingo, a comida da mãe ou da avó, por exemplo] em lembrança de valor sentimental; a crônica a ser produzida pelo aluno poderia ser argumentativa, ou narrativa, ou ainda mesclar elementos argumentativos e narrativos.