Este documento discute as bibliotecas móveis como uma solução para melhorar o acesso aos serviços de bibliotecas nas áreas rurais de Portugal. Ele apresenta o conceito de bibliotecas móveis e discute como elas fornecem serviços de biblioteca a comunidades que de outra forma não teriam acesso. O documento também apresenta um estudo de caso sobre a Bibliomóvel de Proença-a-Nova, examinando seu impacto positivo nos hábitos de leitura e acesso à informação de sua população.
Programação cultural e mediação de leitura em bibliotecas públicas
Bibliomóvel de Proença-a-Nova: análise dos serviços e impacto na população
1. Na Estrada com os Livros
−
As bibliotecas móveis como solução de acesso a
serviços de bibliotecas num país de contrastes
Lisboa, 10 de Novembro de 2009
Mestrado em Ciências da Informação e Documentação
Área de Especialização em Biblioteconomia
Orientação científica
Professor Doutor Luís Espinha da Silveira
Mestre Paulo Leitão
2. Motivações
• Ressurgimento das bibliotecas móveis
• Ausência de reflexão e debate ao contrário do que acontece em outros
países europeus (ex. Espanha)
• Estudo de caso sobre uma biblioteca móvel em meio rural: a Bibliomóvel de
Proença-a-Nova
Desequilíbrio na distribuição
da população no território
português
ex. assimetria litoral - interior
Desigual acesso
a serviços
públicos básicos
SOLUÇÃO
ex. zonas rurais
Recurso ao modelo de itinerância
unidades móveis de
saúde, bibliotecas móveis, postos
de correios, etc.
3. Objectivos
• Demonstrar que as bibliotecas móveis como serviço de extensão
bibliotecária são um meio eficaz para atingir zonas do território e franjas
da população que, de outro modo, não poderiam aceder aos serviços de
biblioteca e aos recursos informacionais que ela fornece;
• Avaliar as consequências sobre os hábitos de leitura e acesso à informação
nas populações por eles servidas.
4. Metodologia
• Método linear clássico (Quivy e Van Campenhoudt, 2005)
• Estudo de Caso
• Em termos exploratórios:
- Documentos normativos
-Bibliografia geral sobre a temática e casos práticos de aplicação destes serviços
(práticas de promoção da leitura, gestão de colecções, gestão do serviço, etc.)
- Caracterização do universo das bibliotecas móveis em Portugal (levantamento dos
serviços existentes)
• Técnica de recolha de dados: inquérito por questionário
5. Metodologia
• População - alvo: utilizadores registados da Bibliomóvel (220 indivíduos)
amostra de 52 indivíduos a inquirir
• Estrutura do inquérito
- Perguntas fechadas, complementadas por perguntas semi-abertas
- Questão em escala ordinal
Identificação das
características da população
em estudo (género, idade,
habilitações e local de
residência)
Avaliar o grau de utilização
de bibliotecas na área
geográfica alvo de estudo
Identificar consequências e
mudanças introduzidas pela
Bibliomóvel ao nível dos
hábitos de leitura e acesso à
informação
• Aplicação de inquéritos por administração indirecta
1ª parte 2ª parte 3ª parte
6. Definição e Conceito de serviço
“Os serviços têm de ser fisicamente acessíveis a todos os membros da comunidade. [...]
Implica igualmente serviços destinados àqueles a quem é impossível frequentar a
biblioteca.”
Manifesto IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas, 1994
• Conceito de extensão bibliotecária: os processos e serviços que uma
biblioteca leva a cabo para chegar aos seus utilizadores que, por razões de
uma marginalização criada por determinado contexto
Essa extensão bibliotecária pode assumir as seguintes formas:
- pontos fixos (ex. pólos da biblioteca pública)
- pontos móveis (ex. bibliotecas móveis)
- empréstimos colectivos (ex. bibliocaixas ou bibliomalas)
- empréstimos via postal
7. Definição e Conceito de serviço
Como definir Biblioteca Móvel?
Serviço de extensão bibliotecária da biblioteca pública, que é disponibilizado
através de um qualquer meio de transporte (carro, barco, comboio, etc.) e por
meio do qual são levados os serviços básicos de biblioteca até comunidades
desfavorecidas pela sua localização geográfica (pequenas comunidades, áreas
rurais, bairros periféricos de zonas urbanas) ou públicos específicos (prisões, lares
de idosos ou escolas), e que a esses mesmos serviços não podem ter um fácil
acesso.
8. A implementação do serviço: critérios
Que documentos orientadores a utilizar?
- Mobile Library Guidelines (IFLA, 1991)
- El servicio de bibliobús: pautas básicas para su funcionamiento (2002)
Que preocupações se devem ter ao implementar estes serviços?
• Estudar a viabilidade e as condições existentes para a implementação de um
serviço de biblioteca móvel tendo em conta:
- A comunidade o ter solicitado
- A proximidade ou não com bibliotecas
- A proximidade de escolas e jardins de infância
- Quantitativos populacionais existentes e seu grau de mobilidade
9. A implementação do serviço: critérios
• Conhecer as características do local: tipos de público, potenciais
utilizadores, etc.
• Pontos de paragem: locais centrais, sinalizados, periodicidade das visitas
• Melhores rotas possíveis
• Colecção: articulação com a colecção da biblioteca pública fixa; carácter
geral mas com atenção às necessidades locais
• Tipos de veículos: características técnicas
• Recursos Humanos
10. Serviços disponibilizados
• Os serviços disponibilizados não diferem dos tradicionais: apenas têm
especificidades próprias
• Empréstimo Domiciliário: periodicidade das visitas, flexibilidade das regras
de empréstimo
• Novas Tecnologias da Informação e Comunicação: acesso
internet, existência de um número mínimo de equipamentos
• Serviços à Comunidade: Serviço de Referência, Formação, apoio na
execução de práticas ligadas ao quotidiano (escrever carta, etc.)
• Promoção da leitura: actividades de animação da leitura (ex. hora do conto)
11. Bibliotecas móveis em Portugal: um
percurso
• A 1ª República: primeiras experiências
- Proximidade com o utilizador
- Evolução em números: 50 (1920) 22 (1922) 19 (1926)
• As bibliotecas ambulantes do Secretariado Nacional de Informação
(1945-1949)
- População-alvo: populações rurais
- Valores identitários da cultura portuguesa = reflexo na colecção
• A biblioteca móvel do Museu-Biblioteca Conde Castro Guimarães (Cascais)
e o papel de Branquinho da Fonseca (1953)
- 1ª experiência bem sucedida
- Introdução de princípios inovadores para a época tais como o empréstimo domiciliário
e uma renovação constante da colecção
12. Bibliotecas móveis em Portugal: um
percurso
• O papel pioneiro das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste
Gulbenkian (1958)
- Adopção de outros princípios inovadores:
- Empréstimo domiciliário por período alargado
- Aconselhamento sobre leituras
- Atenção às necessidades de diferentes grupos etários (ex. crianças e adolescentes)
- Dificuldades na procura de apoios locais e recursos humanos
- Aumento gradual da cobertura do serviço
15 (1958) 29 (1960) 47 (1962) 60 (1972) 62 (1975) 57 (1989)
- Crescente adesão de utilizadores
2.571,212 (1958-1962) 6.302,991 (1963-1967) 7.346,573 (1978-1982)
- Década de 70 (séc. XX) → Extinção Serviço Bibliotecas Fixas (2002)
13. Bibliotecas móveis em
Portugal: actualidade
• A segunda metade da década de 90 (séc. XX) marca
o ressurgimento das bibliotecas móveis
• Distribuição territorial (2009):
- 56 unidades circulantes
- Litoral / Interior Norte e Centro
- Grande Lisboa, Alentejo, Algarve
• Públicos: escolas e público em geral
• Veículos: carrinhas; apenas uma utiliza veículo tipo
autocarro (Mealhada)
Legenda:
BM em serviço BM recentemente em serviço
BM fora serviço (avarias) BM em projecto
BM fora serviço (pólos fixos)
14. Estudo de caso - Bibliomóvel de Proença-
a-Nova: análise do meio envolvente
• O concelho de Proença-a-Nova situa-se no distrito de Castelo Branco, na
denominada região do Pinhal Interior Sul
• 9.610 habitantes (Censos 2001) distribuídos por uma área de 395,4 km² e seis
freguesias (Alvito da Beira, Montes da Senhora, Peral, Proença-a-Nova e Sobreira
Formosa)
• Elevados índices de desertificação = acentuada diminuição do número de
habitantes = envelhecimento
Sintoma: encerramento progressivo de numerosos
estabelecimentos de ensino do 1º ciclo EB
• Baixo nível de habilitações, maioritariamente ao nível do 1.º ciclo do ensino
básico
15. A Rede de Bibliotecas
Municipais de Proença-
a-Nova e a Bibliomóvel
• Rede com diversos espaços
-Biblioteca Municipal Central (BM1)
- 4 pólos
• 2.562 utilizadores (2007) = 28% hab.
concelho
• Bibliomóvel de Proença-a-Nova
surge em 29 de Junho de 2006
• 8 rotas, no período de terça a sexta-
feira, entre as 14:00h e as 17:30h
• Visitas: Periodicidade quinzenal
Legenda:
A23
IC8
Estrada Nacional
Estradas Municipais
16. A Rede de Bibliotecas Municipais de
Proença-a-Nova e a Bibliomóvel
• Percurso da Bibliomóvel serve, directamente, 23% da população do
concelho (2.209 habitantes residentes nos pontos de paragem)
220 habitantes (10%) são utilizadores registados
• Serviços: empréstimo domiciliário (livros e DVD’s), fotocópias, serviço de
referência, acesso à Internet e os “Antídotos contra a solidão e o isolamento”
• Novo serviço de itinerância: Maletras = Mala das Letras
• Animação: Hora do Conto e Animação de Verão
Colecção
Livros DVD’s Periódicos
828 115 8 publicações periódicas:
-2 diários (1 desportivo e 1 generalista)
- 1 jornal regional
- 5 revistas mensais
17. Análise dos resultados
21.2
17.3
42.3
19.2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Percentagem%
Escalão etário
Crianças (0-14)
Jovens (15-24)
Adultos (25-64)
Idosos (65+)
Caracterização da população em estudo
• Predominância de utilizadores do
sexo feminino (61,5%)
•Em termos etários repartição
equitativa entre adultos (42,3%) e os
escalões mais jovens
- Crianças = 21,2%
- Jovens = 17,3%
• Habilitações literárias
- 1º ciclo ensino básico (46,2%)
- 3º ciclo ensino básico (30,8%)
18. • Perfil do utilizador
- Adultos do sexo feminino, portadores de qualificações ao nível do 1.º ciclo do
ensino básico (56,3%)
Sem esquecer:
- Jovens do sexo masculino, portadores de qualificações ao nível do 3º ciclo
- Idosos, portadores de qualificações ao nível do 1º ciclo
• Cobertura territorial restrita aos utilizadores residentes em cada ponto de
paragem
Análise dos resultados
19. Análise dos resultados
• 84,6% dos inquiridos nunca
frequentaram bibliotecas fora do
concelho
• 51,9% inquiridos frequentou os
pontos fixos de biblioteca
existentes no concelho
- Crianças (90,9%)
- Jovens (100%)
• O perfil dos não frequentadores
de bibliotecas é mais envelhecido
- Adultos (68,2%)
- Idosos (90%)
Utilização de bibliotecas do concelho
38.7
22.6 22.6
9.7
6.5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Percentagem%
Motivos para o não recurso
às bibliotecas concelhias
Não sentia necessidade de
recorrer ao uso de bibliotecas
Ausência de transporte
próprio para a deslocação
Ausência de tempo para aí
me desclocar devido à minha
actividade profissional
Ausência de transportes
públicos para me deslocar às
bibliotecas
Outras razões
20. Análise dos resultados
A Bibliomóvel e os seus impactos
• Principal razão para a sua utilização é o facto de ela ser a biblioteca mais
próxima (46,2%)
- Adultos (40%)
- Idosos (80%)
• Desenvolvimento de comportamentos latentes como o gosto pela leitura
- 28,8% e 17,3% como 1ª e 2ª razões, respectivamente
- Crianças e Jovens = sinal de reforço da leitura
• Adultos e Idosos = criação desse mesmo gosto pela leitura
• Fraco papel dos encarregados de educação no estímulo da leitura (1,9%)
21. Análise dos resultados
• Aumento do nível conhecimentos e cultura geral (27,1%)
• Estar mais informado sobre assuntos da actualidade (8,6%)
6.7
6.1
23.1
20
25
36.4
15.4
66.7
62.5
48.5
61.5
12.5
3
6.7
6.1
0 20 40 60 80
Crianças
Jovens
Adultos
Idosos
Percentagem %
EscalõesEtários
Outras razões
Senti a necessidade de
melhorar a minha
formação/escolaridade
Passei a ler mais do que lia
antes
Aumentei os meus
conhecimentos/cultura
geral
Passei a estar mais
informado sobre assuntos
da actualidade
• A Bibliomóvel transformou
hábitos de leitura e
informação (82,7%)
• Reforço da prática da
leitura (55,7%)
- Crianças (66,7%)
- Jovens (62,5%)
- Adultos (48,5%)
- Idosos (61,5%)
22. Análise dos resultados
Crianças Jovens Adultos Idosos
Livros 39,1% 25 40,5% 40%
Periódicos 0 8,3% 51,4% 60%
DVD’s 30,4% 25% 2,7% 0
Internet 30,4% 41,7% 5,4% 0
Que recursos contribuíram para essa transformação?
• Para 17,3% dos inquiridos, o surgimento da Bibliomóvel não produziu
quaisquer alterações nos seus hábitos de leitura e informação
- 70% já liam anteriormente
- 20% afirmaram não gostar de ler
23. Análise dos resultados
• 92% dos inquiridos referiram que
o surgimento deste serviço trouxe
benefícios para as suas
comunidades
- Incremento dos hábitos de leitura
- Posse de mais informação sobre os
mais variados assuntos
- Reforço de laços de solidariedade
e vizinhança em torno da leitura
Mais sentido pelos idosos (35,3%)
24.4
52.6
23.1
0
10
20
30
40
50
60
Percentagem%
Benefícios para a aldeia
Proporcionou maior
convívio
As pessoas lêm mais
As pessoas estão
mais informadas
Outras razões
• 8% dos inquiridos não identificaram quaisquer benefícios para as suas
comunidades
24. Conclusões
• Biblioteca pública = pólo de vida cultural e de socialização
a biblioteca móvel alarga esse conceito
• Oportunidade para fomentar a coesão social e cultural de um país ao elevar
os níveis de literacia
• Meio de fomentar a procura de formação
• Reforço dos laços de solidariedade nas comunidades em torno da leitura
• Necessidade de reflexão sobre as bibliotecas móveis (Neves, 2005)
- Criação de espaços de debate
- Criação de instrumentos de planeamento e avaliação
25. Na Estrada com os Livros
−
As bibliotecas móveis como solução de acesso a
serviços de bibliotecas num país de contrastes
Lisboa, 10 de Novembro de 2009
Mestrado em Ciências da Informação e Documentação
Área de Especialização em Biblioteconomia
Orientação científica
Professor Doutor Luís Espinha da Silveira
Mestre Paulo Leitão