O poeta Solano Trindade e sua obra em defesa do povo negro
1. O POETA DO POVO
Jefferson Bruno Borges dos Santos
2. O ARTISTA, ATOR, ESCRITOR...
• Dos escritores negros que deixaram sua marca na literatura
brasileira, Solano Trindade foi um dos mais significativos. Isso
porque foi o primeiro, e talvez o mais contundente a se dirigir,
não impessoalmente a toda a população, mas também,
particularmente à população negra, descrevendo os mais
graves problemas sociais vividos pelos negros brasileiros, e dos
quais se tornou um dos mais ilustres artistas.
3. O NEGRO
• 1908 – A 24 de julho, nasce Francisco Solano Trindade, numa casa da Rua
Nogueira, bairro de São José, Recife. Filho do sapateiro Manoel Abílio e da
doméstica Merenciana, quituteira.
• 1920 – No final da década, torna-se protestante, sendo diácono
presbiteriano.
• 1934 – Organiza no Recife o I Congresso Afro-Brasileiro e o II em Salvador.
• 1936 – Funda no Recife, com o pintor primitivista Barros Mulato e o escritor
Vicente Lima, a Frente Negra Pernambucana e o Centro Cultural Afro-
Brasileiro.
• - Publica o livro "Poemas Negros".
4. O NEGRO
• 1940 – Em Pelotas, funda um Grupo de Arte Popular. Depois, retorna ao
Recife.
• 1942 – Com um grupo de artistas, expõe sua pintura no Rio de Janeiro,
onde fixou residência.
• 1944 – Publica o livro "Poemas de uma Vida Simples".
• 1961 – Publica o livro “Cantares Ao Meu Povo”.
• 1969 – Adoece e passa por vários hospitais e um asilo, até morrer, numa
clínica em Santa Tereza, Rio de Janeiro, a 20 de fevereiro de 1974.
5. • Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…
• - Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
- Plantei os canaviais do nordeste
• - E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.
- Basta, mano,
pra eu não chorar,
CONVERSA
6. • E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro
- Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.
Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar -
CONVERSA
7. • E tu, Manoel,
que andaste a fazer
- Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…
• Eita negro!
- Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
CONVERSA
8. O POEMA
• No poema a conversa, Solano Trindade apresenta, ou supõe, o papel do
negro na construção da identidade brasileira.
• Faz uma retomada à memória para essa construção.
• Apresenta fatos que evidenciam essa contribuição.
• Cultura, dança e música.
• Também discute a esteriotipação do negro.
9. • A memória individual do segundo interlocutor, “- Eu plantei algodão”, centra-se
em suas lembranças vividas, no passado, assim como os demais
membros que são chamados a fazer parte da conversa: a Ana “Eu cantei
embolada [...] dancei no terreiro [...] apanhei surras” 5ª estrofe; e o Manoel
“Eu sempre fui malandro [...] gostava de terreiro [...] subi para o morro [...] fiz
sambas [...] conquistei mulatas” (7ª estrofe). As memórias foram relatadas e
não transferidas de uma mente para outra.
• Nos exemplos mostrados acima, percebe-se que a ligação do sujeito “eu”
está sempre ligado a verbos de ação, em sua maioria no pretérito: “plantei”,
“pagavam”, “cantei”, “fiz”, “servi”, “dancei”, “apanhei”, “fui”, “gostava”, “subi”,
“conquistei”.