1) Um carpinteiro questiona a utilidade de um grande carvalho velho, mas o carvalho aparece em seu sonho para explicar que sua função não é servir aos propósitos humanos, mas sim viver de acordo com sua própria natureza.
2) A história é uma lição sobre como cada um deve seguir seu próprio caminho espiritual, em vez de se preocupar com a utilidade aos olhos dos outros.
3) O carvalho representa o processo de individuação, no qual devemos nos entregar ao poder do inconsciente em vez de nos a
1. A Crise de Sentido...
Há uma parábola Taoista de Chuang Tzü, sábio chinês que ajudou a fusão do
Taoísmo com o Budismo, através de Bodhidarma, fundando assim o Zen. Ele
nos mostra através de um conto, a crise de sentido gerada por um ego carente
em ocupar-se com algo que tenha grande importância e expresse finalidade,
para poder sentir-se útil e recuperar a autoestima.
O Velho Carvalho
“Um carpinteiro ambulante chamado Stone viu ao decorrer de suas viagens,
em um campo próximo de um lar rústico, um velho e gigantesco carvalho..
Comentou então com seu aprendiz que admirava o carvalho secular: Esta
árvore não tem qualquer serventia, pois se quisermos fazer um barco com a
sua madeira, ela apodreceria, se quiséssemos utilizá-la para construção de
ferramentas e móveis de uso doméstico, elas logo se haviam de quebrar. Para
nada serve esta árvore, por isso chegou a ficar assim tão velha.
Na mesma noite, numa hospedaria, o velho carvalho apareceu em
sonho ao carpinteiro e disse: Por que você me compara às árvores
cultivadas, como a pereira, a macieira, a laranjeira e todas as outras
árvores frutíferas? Antes de amadurecerem seus frutos as pessoas já as
atacam e violentam quebrando os seus galhos, arrancando os seus
ramos e chamando isso de “poda”. As dádivas que trazem só lhes
acarretam o mal, impedindo-as de viverem como são, integralmente, até
o fim de suas existências de forma natural. É o que acontece em todos
os lugares; por isso esforço-me há tantos anos em aceitar-me como sou
aparentemente inútil aos interesses alheios. Pobre mortal!... Crês que se
tivesse servido a algum propósito humano, teria chegado até aqui com
essa altura e essa idade, vivendo tanto tempo? Além disso, tu e eu
somos ambos criaturas, como pode , uma criatura erigir-se em juiz da
outra? Mortal criatura, que sabes a respeito da inutilidade das árvores?
O carpinteiro acordou e pôs-se a meditar sobre o sonho arquetípico que tivera.
Mais tarde, quando o aprendiz perguntou-lhe: porque só aquela árvore protege
o altar rústico daquela aldeia, respondeu-lhe o carpinteiro: Cala-te! Não
falemos mais nisso! A árvore nasceu aqui propositadamente, porque em
qualquer outro lugar já teria sido derrubada. Aqui ela tem uma função junto ao
altar rustico... “É um marco espiritual”.
O carpinteiro discerniu bem a respeito desse sonho, observando que realizar
seu destino é o maior empreendimento do ser, e que o nosso utilitarismo deve
ceder às exigências da nossa psique inconsciente.
2. Tentar traduzir esta parábola Zen em uma linguagem psicológica é considerar
a árvore como símbolo do processo de individuação, de uma boa lição ao
nosso ego, com tão curta visão.
Sob a árvore que cumpria o seu destino, havia um altar rústico, isto é, uma
pedra bruta, sobre a qual eram oferecidos sacrifícios ao deus local,
“proprietário” natural daquele pedaço de terra. O simbolismo desse altar
significa que para realizarmos um processo de individuação e crescimento é
preciso nos submeter conscientemente ao poder do inconsciente, como
aconteceu com Jacó, em Gênesis 28:10, naquele inóspito deserto, ao invés de
pensarmos no que “devemos fazer”, ou “o que se faz habitualmente”, ou “o que
consideram melhor fazer”, etc. É preciso apenas saber ouvir-se para poder
compreender o que a sua totalidade interior quer que façamos, aqui e agora,
com essa qualidade-momento e determinada situação.
Nossa atitude deve ser como a do carvalho de que acima comentei: não se
aborrece quando na sua germinação e crescimento depara-se com alguma
pedra acima, nem faz planos para vencer os obstáculos. Tenta apenas sentir
se deve crescer à direita ou à esquerda, em direção à encosta ou afastado
dela. Assim, tal como a árvore, devemos nos entregar a esse impulso quase
imperceptível e, no entanto, poderosamente dominador – um impulso que vem
do âmago, um anseio por uma auto realização criadora e única. Talvez, você
tenha a revelação que Jacó teve, que apesar das condições externas
reinantes, Deus está exatamente ocupando o espaço interno, pouco
considerado até aqui, onde os sentimentos e as emoções foram substituídos
pela racionalidade unilateral, que apesar de terem sido colocados “para baixo
do tapete”, nunca deixaram de carecer a atenção e a importância devida para
que a vida tivesse um sentido e, não uma lógica, que é muito melhor ser feliz
do que ter razão. Felizmente, tanto o jardineiro da parábola acima, como Jacó,
consideraram conscientemente a mensagem que o inconsciente vos deu, pois
Deus nos revela exatamente aí, e de forma muito pouco ortodoxa e racional os
seus propósitos dentro das mais contraditórias situações aparentes... Não
procure o “bem de difícil alcance” nos conceitos racionais, você é uma obra
acabada, não há o que colocar e nem tirar, Ele não errou a mão...
José Alfredo Bião Oberg