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O Museu e a Escola 
José Carlos Vilhena Mesquita 
Com imensa mágoa verifico que a maioria das escolas portuguesas não aproveita convenientemente as potencialidades culturais das áreas geográficas em que se acham inseridas. Assim, raramente os estudantes do ciclo preparatório ou das escolas secundárias fizeram uma visita de estudo aos museus, monumentos e palácios da sua área residencial, sem esquecer os passeios pelo campo, que hoje os professores já não fazem. O que é pena, pois constituem verdadeiras aulas práticas de botânica, geologia, mineralogia, zoologia, etc. Numa época em que assistimos ao crescimento avassalador de uma nova ciência como a Ecologia que, sem ser por acaso, tem congregado o interesse e a atenção dos nossos jovens, não compreendemos porque é que não se abrem as portas da escola para o campo. 
O museu é, no seu próprio contexto geográfico, o mais valioso espólio do património local. Nele se deposita a memória dos nossos antepassados e através dele poderemos fazer uma verdadeira e alucinante viagem no tempo. Aí se contacta com testemunhos insubstituíveis cuja observação e estudo nos farão compreender melhor a nossa história. Porém, há que preparar convenientemente essa visita para que não nos confrontemos com situações ou peças museológicas que nada nos dizem por lhes desconhecermos o significado. Não vale a pena levar as crianças a visitar uma praça-forte sem terem previamente uma noção do que foi e em que consistiu o feudalismo. 
Na verdade, jamais poderemos esquecer que os testemunhos permanecem eternamente mudos se não os soubermos interrogar e, convêm lembrar, ir ao museu não é o mesmo que ir ao supermercado. Para nele se penetrar é preciso ter cultura, que só se adquire na escola, daí que as visitas só se devam efectuar a partir de um determinado nível etário e
intelectual. De contrário, a visita será contraproducente e os jovens poderão contrair a ideia de que os museus são cemitérios inúteis, tristes, aborrecidos, frios, sem alegria nem significado. Raramente lá voltarão. 
A formação estética 
Mas há um sector pouco explorado, ou pelo menos negligenciado, pelos nossos pedagogos no âmbito da museologia, que é a formação estético-artística dos alunos. Em parte, esta situação também se fica devendo à intrínseca desmotivação dos professores para a expressão estética. E não raras vezes se assiste a retumbantes fracassos quando os mais zelosos professores entregam os seus alunos aos cuidados de um erudito especialista que, naturalmente, não consegue adaptar o seu discurso aos parcos conhecimentos culturais dos jovens. Nessa altura, uma visita que se previa ser um êxito pedagógico transformou-se numa chachada e numa total perda de tempo. Os alunos nada perceberam do que lhes foi dito e normalmente limitam--se, em certos casos, a comentar e ridicularizar os trejeitos e o snobismo intelectual do seu ilustre cicerone. A informação cultural, por mais interessante e correcta que possa ser, deverá sempre obedecer a um esquema pedagógicos. 
Por outro lado, uma visita ao museu sem ser guiada está também votada ao fracasso, já que não basta aos alunos a «liberdade da descoberta», pois que necessitam dos meios
indispensáveis a essa mesma descoberta. Normalmente, os directores dos museus reprovam este tipo de actuação, visto que, sem preparação nem ordem, os alunos chegam mes mo a causar incómodos e distúrbios de vária ordem. 
Organizar uma visita 
Como proceder então? É simples. Toda e qualquer visita ao museu terá de ser forçosamente preparada em gabinete pelos respectivos responsáveis pedagógicos, que deverão previamente conhecer o espólio museológico e determinar as peças, conjuntos salas ou colecções que mais interessam aos seus alunos. 
É fundamental que na aula anterior à visita sejam ministrados aos alunos alguns conselhos sobre o carácter do museu, algumas normas de conduta e de respeito para com a instituição e ainda algumas pistas sobre aquilo que irá ser observado. Nunca e deve privar o aluno do prazer da surpresa e do gosto pela descoberta. O jovem deve directamente contactar com o objecto ou com a obra de arte, para que sinta nisso algum prazer. Nessa altura ele descobre, regista e, sobretudo, familiariza-se com a arte e com a própria instituição. 
Torna-se indispensável e até fundamental que o orientador pedagógico da turma ou da disciplina em que essa visita de estudo estiver enquadrada forneça previamente aos alunos um inquérito sobre algumas peças que eles irão descobrir no museu, assim como alguns roteiros cronológicos que possibilitarão caminhos repartidos por grupos (discretamente acompanhados pelo professor), que serão compensados pelo prazer da autodescoberta. 
À entrada do museu, deve-se apresentar os alunos ao director e aos conservadores, solicitando-se depois a estes algumas breves palavras de saudação e de esclarecimento sobre os objectivos culturais da própria instituição. Os alunos sentir-se-ão respeitados e satisfeitos, para além de perceberem mais facilmente que estão em presença de um 
Claustro renascentista do Convento de Nª Sª d'Assunção
verdadeiro santuário da cultura, que facilmente se poderá transformar em laboratório de investigação histórica. 
No final da visita verificaremos, através da leitura dos inquéritos, que nem sempre os melhores observadores são os melhores alunos, pois que a capacidade de análise e reflexão sobre a arte não exige, nesta idade, um «background» cultural de peso, mas antes uma forte sensibilidade, que, como se sabe, é inata. Para esses, devemos dar alguns conselhos e, sobretudo, motivá-los para que não desperdicem as suas intrínsecas inclinações artísticas, de que poderão vir a colher no futuro um glorioso sucesso. 
Nas aulas seguintes 
Se possível, nas aulas seguintes deverá abrir-se um debate sabre a importância dos museus, a sua necessidade, o seu interesse e ainda sobre o valor de algumas peças nele expostas, as quais poderão eventualmente ser confrontadas com outras da mesma espécie, através da projecção de «slides» ou de gravuras. Veremos que dessa discussão surgirão opiniões interessantíssimas que convirá registar e até, se possível, publicar no jornal da escola. A elaboração de uma reportagem por um grupo de trabalho acerca da visita e da integração do museu na escola seria um exercício complementar da mais elevada importância pedagógica e a sua publicação ou divulgação pública tornar-se-ia imprescindível. 
Enfim, aqui está sumariamente a fórmula ideal para a concretização de uma visita de estudo ao museu da nossa localidade, que facilmente se pode adaptar a outros tipos de visitas, como aos monumentos ou ao campo. A posição do professor pode ser activa ou discreta, mas sempre acompanhando os seus alunos, prestando-lhes informações e esclarecimentos que estes registarão no seu bloco de apontamentos. Um relatório final e o preenchimento de um inquérito serão importantes ferramentas pedagógicas para a boa formação estético-artística e histórico-cultural do aluno. 
Resta-nos apenas esperar que na província, onde existem dos mais maravilhosos museus do País, se tornem as visitas culturais numa prática corrente das escolas. 
(artigo publicado no «Diário de Notícias» em 12 de Janeiro de 1984)

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O Museu e a Escola

  • 1. O Museu e a Escola José Carlos Vilhena Mesquita Com imensa mágoa verifico que a maioria das escolas portuguesas não aproveita convenientemente as potencialidades culturais das áreas geográficas em que se acham inseridas. Assim, raramente os estudantes do ciclo preparatório ou das escolas secundárias fizeram uma visita de estudo aos museus, monumentos e palácios da sua área residencial, sem esquecer os passeios pelo campo, que hoje os professores já não fazem. O que é pena, pois constituem verdadeiras aulas práticas de botânica, geologia, mineralogia, zoologia, etc. Numa época em que assistimos ao crescimento avassalador de uma nova ciência como a Ecologia que, sem ser por acaso, tem congregado o interesse e a atenção dos nossos jovens, não compreendemos porque é que não se abrem as portas da escola para o campo. O museu é, no seu próprio contexto geográfico, o mais valioso espólio do património local. Nele se deposita a memória dos nossos antepassados e através dele poderemos fazer uma verdadeira e alucinante viagem no tempo. Aí se contacta com testemunhos insubstituíveis cuja observação e estudo nos farão compreender melhor a nossa história. Porém, há que preparar convenientemente essa visita para que não nos confrontemos com situações ou peças museológicas que nada nos dizem por lhes desconhecermos o significado. Não vale a pena levar as crianças a visitar uma praça-forte sem terem previamente uma noção do que foi e em que consistiu o feudalismo. Na verdade, jamais poderemos esquecer que os testemunhos permanecem eternamente mudos se não os soubermos interrogar e, convêm lembrar, ir ao museu não é o mesmo que ir ao supermercado. Para nele se penetrar é preciso ter cultura, que só se adquire na escola, daí que as visitas só se devam efectuar a partir de um determinado nível etário e
  • 2. intelectual. De contrário, a visita será contraproducente e os jovens poderão contrair a ideia de que os museus são cemitérios inúteis, tristes, aborrecidos, frios, sem alegria nem significado. Raramente lá voltarão. A formação estética Mas há um sector pouco explorado, ou pelo menos negligenciado, pelos nossos pedagogos no âmbito da museologia, que é a formação estético-artística dos alunos. Em parte, esta situação também se fica devendo à intrínseca desmotivação dos professores para a expressão estética. E não raras vezes se assiste a retumbantes fracassos quando os mais zelosos professores entregam os seus alunos aos cuidados de um erudito especialista que, naturalmente, não consegue adaptar o seu discurso aos parcos conhecimentos culturais dos jovens. Nessa altura, uma visita que se previa ser um êxito pedagógico transformou-se numa chachada e numa total perda de tempo. Os alunos nada perceberam do que lhes foi dito e normalmente limitam--se, em certos casos, a comentar e ridicularizar os trejeitos e o snobismo intelectual do seu ilustre cicerone. A informação cultural, por mais interessante e correcta que possa ser, deverá sempre obedecer a um esquema pedagógicos. Por outro lado, uma visita ao museu sem ser guiada está também votada ao fracasso, já que não basta aos alunos a «liberdade da descoberta», pois que necessitam dos meios
  • 3. indispensáveis a essa mesma descoberta. Normalmente, os directores dos museus reprovam este tipo de actuação, visto que, sem preparação nem ordem, os alunos chegam mes mo a causar incómodos e distúrbios de vária ordem. Organizar uma visita Como proceder então? É simples. Toda e qualquer visita ao museu terá de ser forçosamente preparada em gabinete pelos respectivos responsáveis pedagógicos, que deverão previamente conhecer o espólio museológico e determinar as peças, conjuntos salas ou colecções que mais interessam aos seus alunos. É fundamental que na aula anterior à visita sejam ministrados aos alunos alguns conselhos sobre o carácter do museu, algumas normas de conduta e de respeito para com a instituição e ainda algumas pistas sobre aquilo que irá ser observado. Nunca e deve privar o aluno do prazer da surpresa e do gosto pela descoberta. O jovem deve directamente contactar com o objecto ou com a obra de arte, para que sinta nisso algum prazer. Nessa altura ele descobre, regista e, sobretudo, familiariza-se com a arte e com a própria instituição. Torna-se indispensável e até fundamental que o orientador pedagógico da turma ou da disciplina em que essa visita de estudo estiver enquadrada forneça previamente aos alunos um inquérito sobre algumas peças que eles irão descobrir no museu, assim como alguns roteiros cronológicos que possibilitarão caminhos repartidos por grupos (discretamente acompanhados pelo professor), que serão compensados pelo prazer da autodescoberta. À entrada do museu, deve-se apresentar os alunos ao director e aos conservadores, solicitando-se depois a estes algumas breves palavras de saudação e de esclarecimento sobre os objectivos culturais da própria instituição. Os alunos sentir-se-ão respeitados e satisfeitos, para além de perceberem mais facilmente que estão em presença de um Claustro renascentista do Convento de Nª Sª d'Assunção
  • 4. verdadeiro santuário da cultura, que facilmente se poderá transformar em laboratório de investigação histórica. No final da visita verificaremos, através da leitura dos inquéritos, que nem sempre os melhores observadores são os melhores alunos, pois que a capacidade de análise e reflexão sobre a arte não exige, nesta idade, um «background» cultural de peso, mas antes uma forte sensibilidade, que, como se sabe, é inata. Para esses, devemos dar alguns conselhos e, sobretudo, motivá-los para que não desperdicem as suas intrínsecas inclinações artísticas, de que poderão vir a colher no futuro um glorioso sucesso. Nas aulas seguintes Se possível, nas aulas seguintes deverá abrir-se um debate sabre a importância dos museus, a sua necessidade, o seu interesse e ainda sobre o valor de algumas peças nele expostas, as quais poderão eventualmente ser confrontadas com outras da mesma espécie, através da projecção de «slides» ou de gravuras. Veremos que dessa discussão surgirão opiniões interessantíssimas que convirá registar e até, se possível, publicar no jornal da escola. A elaboração de uma reportagem por um grupo de trabalho acerca da visita e da integração do museu na escola seria um exercício complementar da mais elevada importância pedagógica e a sua publicação ou divulgação pública tornar-se-ia imprescindível. Enfim, aqui está sumariamente a fórmula ideal para a concretização de uma visita de estudo ao museu da nossa localidade, que facilmente se pode adaptar a outros tipos de visitas, como aos monumentos ou ao campo. A posição do professor pode ser activa ou discreta, mas sempre acompanhando os seus alunos, prestando-lhes informações e esclarecimentos que estes registarão no seu bloco de apontamentos. Um relatório final e o preenchimento de um inquérito serão importantes ferramentas pedagógicas para a boa formação estético-artística e histórico-cultural do aluno. Resta-nos apenas esperar que na província, onde existem dos mais maravilhosos museus do País, se tornem as visitas culturais numa prática corrente das escolas. (artigo publicado no «Diário de Notícias» em 12 de Janeiro de 1984)