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241Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003.
economia e extensão rural
Nas últimas décadas, o cultivo de
plantas em ambiente protegido,
especialmente em estufas, veio revolu-
cionar a fisiologia da produção de hor-
taliças. As estufas trouxeram a possibi-
lidade de ajustar o ambiente às plantas
e, consequentemente, estender o perío-
do de produção para épocas do ano e
mesmo regiões antes inaptos à agricul-
tura (Andriolo, 1999).
O cultivo de hortaliças em ambiente
protegido no Brasil não é tão recente,
pois existem trabalhos que registram seu
início no final dos anos 60. Entretanto,
somente no fim dos anos 80 e, princi-
palmente, no início da década de 90 é
que esta técnica de produção passou a
ser amplamente utilizada. Projeções de
crescimento realizadas no início dos
anos 90 relatam uma área cultivada de
10.000 ha, no final do milênio (Goto &
Tivelli, 1998). Inicialmente houve inte-
resse pelo cultivo protegido tanto por
parte de produtores experientes em cul-
tivo de hortaliças como também de ou-
tros, sem nenhuma experiência agríco-
la. Esses últimos entraram na atividade
após observar, através da mídia, propa-
gandas sobre a não utilização de defen-
sivos agrícolas e a garantia de um retor-
no líquido aparentemente fácil (Goto,
1997). Depois do entusiasmo inicial pelo
cultivo protegido, houve uma estabili-
dade na ampliação de áreas, devido à
falência de muitos produtores. Esta si-
tuação foi gerada por diversos fatores,
destacando-se a contaminação dos so-
los, o manejo inadequado de doenças e
pragas, falta de uma política governa-
mental específica para o cultivo prote-
gido. Observa-se, que na atividade hou-
ve um processo seletivo, permanecen-
do aqueles com maior eficiência produ-
tiva (Goto, 1997).
A região de Uberlândia-MG é um
grande pólo de produção de hortaliças,
tendo a segunda maior CEASA do esta-
do de Minas Gerais. Com vistas à pro-
dução de hortaliças de melhor qualida-
de e em épocas diferenciadas na tentati-
va de alcançar melhores preços, alguns
produtores da região resolveram inves-
tir no segmento de cultivo protegido que
iniciou-se nos anos de 1990 e 1991. Por
iniciativa da Prefeitura Municipal, en-
contros e palestras foram promovidos
com profissionais ligados a empresas
GRANDE, L.; LUZ, J.M.Q.; MELO, B.; LANA, R.M.Q.; CARVALHO, J.O.M. O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG. Horticultura Brasilei-
ra, Brasília, v. 21, n. 2, p. 241-244, abril/junho 2003.
O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG
Leonardo Grande1
; José Magno Q. Luz1
; Berildo de Melo1
; Regina Maria Q. Lana1
; José Orestes M. de
Carvalho2
1
UFU-ICIAG, C. Postal 593, 38400-902 Uberlândia–MG. E.mail: jmagno@umuarama.ufu.br; 2
Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900-
970 Porto Velho-RO.
RESUMO
Descreveu-se no presente trabalho a situação do cultivo protegi-
do em Uberlândia-MG, e discutiu-se os motivos que levaram diver-
sos produtores ao insucesso neste sistema. Foi aplicado um questio-
nário aos produtores de hortaliças que produziram ou estão produ-
zindo sob ambiente protegido, observando-se as principais informa-
ções relacionadas com a produção, desde a instalação até a
comercialização dos produtos cultivados. Verificou-se que o cultivo
protegido iniciou nos anos 90/91. Dois anos depois, aproximada-
mente 84% dos produtores haviam abandonado esta atividade. A
falta de cultivares e híbridos adaptados à região; as escassas infor-
mações sobre manejo e adubação do solo; a falta de assistência téc-
nica; o início da atividade sem prévia pesquisa de mercado; a falta
de manejo adequado em ambiente protegido; alto custo de instala-
ção; a falta de diferenciação para os preços dos produtos cultivados
sob ambiente protegido; a ausência de incentivo governamental; falta
de experiência profissional dos iniciantes no negócio; a falta de pro-
jeto e planejamento econômico da produção, foram os principais
fatores que motivaram a desistência desses produtores. Esta pesqui-
sa destaca, também, a necessidade de atualização de informações
sobre conhecimentos do manejo do ambiente protegido na região de
Uberlândia.
Palavras-chave: olericultura, plasticultura, ambiente protegido.
ABSTRACT
The protected cultivation of vegetables in Uberlândia, Brazil
The situation of the protected cultivation in Uberlândia-MG is
described and the causes that led many producers to lack of success
in this system are discussed. A questionnaire was applied to the
vegetable producers that produced and those that are producing under
protected cultivation, being observed the main information related
to the production, from the installation to the commercialization of
the cultivated products. We identified that the protected cultivation
in Uberlândia began in 1990/1991. Two years later, approximately
84% of the producers had abandoned this activity. The lack of
cultivars and adapted hybrids to the region; the scarce information
about commercialization and manuring of the soil; the lack of
technical attendance to the producer; the beginning of the activity
without doing market research; the lack of adapted handling of the
protected atmosphere; high cost of the installation; the absence of
differentiated prices for products obtained from protected cultivation;
the absence of governmental incentive; lack of professional
experience of the beginners in this agribusiness; lack of project and
economic planning of the production, were the reasons that motivated
the farmers to stop the protected cultivation in Uberlândia. This
research stand out, also, the need of new information about the
handling in the protected cultivation in this city.
Keywords: horticulture, plasticulture, protected cultivation.
(Recebido para publicação em 01 de outubro de 2001 e aceito em 25 de março de 2003)
242 Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003.
que comercializam estufas plásticas,
produtores tradicionais de hortaliças e
outros interessados. As palestras abor-
davam aspectos técnicos e econômicos
do sistema com uma forte carga de in-
centivo ao investimento na atividade. O
presente trabalho teve como objetivo
descrever a história e a situação em ju-
nho de 2000 do sistema de cultivo pro-
tegido de hortaliças, em Uberlândia.
MATERIAL E MÉTODOS
Um questionário foi elaborado e
aplicado no primeiro semestre de 2000,
a produtores de hortaliças que produzi-
ram ou estavam produzindo em cultivo
protegido, em Uberlândia. Dos 31 pro-
dutores cadastrados na Associação dos
Hortifrutigranjeiros de Uberlândia, fo-
ram entrevistados 26, independente de
estarem ainda ou não produzindo hor-
taliças em cultivo protegido. Estes 26
foram considerados o universo de cole-
ta dos dados da presente pesquisa e os
cincos não entrevistados foram apenas
considerados na questão de permanên-
cia ou não na atividade.
No questionário foram abordados
pontos técnicos e econômicos da pro-
dução, desde a instalação da estufa até
a comercialização dos produtos, incluin-
do o tipo de estufa (estrutura da cober-
tura, dimensões, material usado, custo
por m2
); o plástico (empresa fornecedo-
ra, espessura, custo, uso de telado ou
sombrite); o mulching (coloração, pre-
ço); a produção de mudas (estrutura de
produção, origem e tipo de semente,
substrato); a mão-de-obra (tipo, quanti-
dade, assistência técnica); a irrigação
(tipo de água, método de irrigação); a
adubação (uso de corretivos e adubos,
quantidade, análise nutricional das plan-
tas); as hortaliças cultivadas (varieda-
de, pragas e doenças, época de plantio,
produtividade); a colheita (embalagem,
horário, perdas); a pós-colheita (uso de
tratamento, vida útil, perdas); a
comercialização (tipo, problemas en-
frentados); os custos totais e as princi-
pais dificuldades enfrentadas, além da
opinião do produtor sobre as perspecti-
vas futuras com relação à plasticultura
e se o mesmo aconselharia alguém en-
trar neste tipo de produção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Constatou-se que 11 dos 26 produto-
res entrevistados nunca tinham produzi-
do hortaliças. Esta situação foi similar à
que ocorreu na maioria dos casos no Bra-
sil. Inicialmente houve interesse pelo
cultivo protegido tanto por parte de pro-
dutores experientes em cultivo de horta-
liças como também de outros, sem ne-
nhumaexperiênciaagrícola(Goto,1997).
Em Uberlândia, os cultivos protegi-
dos foram inicialmente instalados em
uma área total de, aproximadamente, 22
ha de estufas construídas, com média de
733 m2
por produtor. Segundo Martins
(1996), este pode ser classificada como
plasticultura convencional de pequeno
produtor, o que se adequou com a reali-
dade da cidade, onde os produtores de
hortaliças são tipicamente pequenos
proprietários ou arrendatários de terra.
O resultado deste segmento, tem sido
uma plasticultura de curta duração. Tal
fato aconteceu em Uberlândia, pois em
junho de 2000, época em que findou a
presente pesquisa, apenas cinco dos 31
produtores continuavam na atividade, ou
seja, aproximadamente 16% dos produ-
tores que iniciaram.
No entanto, os produtores que per-
maneceram aumentaram as suas áreas
de cultivo. Uma grande empresa produ-
tora iniciou o cultivo protegido em 1998
e permanecia em junho de 2000, com
uma área de 5,3 ha de estufas
construídas. Esta constatação também
está de acordo com Goto (1997), onde
depois do entusiasmo inicial pelo culti-
vo protegido, houve uma estabilidade na
ampliação de áreas, devido à falência
de muitos produtores. Esta situação foi
gerada por diversos fatores, destacan-
do-se a contaminação dos solos, o ma-
nejo inadequado de doenças e pragas,
falta de uma política governamental es-
pecífica para o cultivo protegido. Ob-
serva-se, que na atividade houve um
processo seletivo, permanecendo aque-
les com maior eficiência produtiva.
Dos 26 produtores entrevistados,
apenas cinco recomendaram o investi-
mento em produção de hortaliças, mas
desde que seguidas estas recomendações
do autor. Os demais entrevistados não
aconselharam este tipo de investimen-
to. Neste sentido, os aspectos agronô-
micos e os motivos para o insucesso de
boa parte dos investimentos feitos no
cultivo protegido em Uberlândia serão
relatados e aqui discutidos.
As estufas adquiridas por todos pro-
dutores foram do tipo arco cobertas com
polietileno transparente com espessura
variando de 100 a 150 micras. A estru-
tura utilizada caracterizou-se por uma
mescla de madeira tratada e estrutura
metálica com área variando de 350 a 400
m2
por estufa. Estas estufas são classifi-
cadas, segundo Reis (1994), como não
climatizadas e reúnem a maior viabili-
dade econômica. Em Uberlândia, so-
mente na grande empresa que iniciou o
cultivo protegido em 1998, a estrutura
era totalmente metálica. Esta empresa
também possui duas estufas
climatizadas para a produção de mudas.
Com relação aos preços do m2
de
estufa construída, dos 26 produtores
entrevistados, 20 pagaram em média R$
5,00 por estruturas em que prevaleceu a
utilização de madeiras tratadas e cinco
pagaram R$ 15,00 por estufas com maior
utilização de estruturas metálicas. As
estufas com estrutura totalmente metá-
lica custaram em média R$ 16,00/m2
.
Vale ressaltar que neste último caso, a
empresa adquiriu uma área de estufa
construída de 5,3 ha o que segundo o
entrevistado, responsável pela mesma,
permitiu a negociação no valor de R$
16,00/m2
, pois se a área fosse menor, o
preço pago pela empresa provavelmente
seria maior. Em todos os casos os valo-
res já incluem o sistema de irrigação.
Cerca de 47% dos produtores utili-
zaram plástico tipo polietileno preto
como cobertura de canteiros
(“mulching”). O plástico era perfurado
por meio de um cano de PVC denteado
onde eram transplantadas as mudas. O
mulching é utilizado para diminuir a
umidade relativa do ar dentro das estu-
fas e controlar as plantas daninhas. Se-
gundo Goto & Tivelli (1998) não se deve
utilizá-lo em épocas de baixa umidade
relativa.
Para a produção de mudas, foram uti-
lizadas as mesmas estufas destinadas à
produção comercial. Cinco dos 31 produ-
tores que tiveram estufas para produção e
desistiram deste segmento, possuíam em
junho de 2000, apenas estufas menores,
L. Grande et al.
243Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003.
por volta 100 m2
, que se destinam exclu-
sivamente à produção de mudas.
As espécies com mudas produzidas
em estufas eram alface, tomate, pimen-
tão, pepino japonês, brócolos, couve-
flor e berinjela. É utilizado o sistema de
bandejas de isopor com 200 células para
alface e 128 para as demais culturas,
utiliza-se, ainda, substrato comercial e
sementes adquiridas em lojas de reven-
das de produtos hortícolas. As mudas
eram irrigadas diariamente, e os méto-
dos mais utilizados são microaspersão
com ou sem jato dirigido e manual. A
microaspersão automatizada só era uti-
lizada pela empresa que entrou no mer-
cado em 1998. As cultivares utilizadas
para a produção em estufas foram as
mesmas para a produção em condições
de campo aberto.
A irrigação, fator primordial para o
sucesso do cultivo protegido, não cons-
tituiu problema para os produtores, tan-
to para os que deixaram, quanto para os
que continuavam exercendo a ativida-
de. Atualmente, a irrigação está aliada à
nutrição mineral, por meio da
fertirrigação e baseia-se em estimativas
de doses de fertilizantes e água, os quais
devem ser calculados e avaliados a fim
de evitar a carência nutricional e a
salinização (Andriolo, 1999). Segundo o
mesmo autor, a fertirrigação é muito di-
fícil de ser manejada corretamente. Três
dos produtores entrevistados tiveram di-
ficuldades para quantificar e definir o
adubo a ser utilizado, o que causou um
desequilíbrio de íons e,
consequentemente, a salinização do solo.
O tipo de irrigação mais usado entre
os produtores foi o gotejamento (77%),
seguido da microaspersão (19%) e ape-
nas um produtor (4%) utilizava asper-
são convencional. Segundo Makishima
apud por Reis (1994) o gotejamento
permite não só melhor aproveitamento
da área da estufa, mas também da água
aplicada. Em comparação com os
microaspersores, permite maior eficiên-
cia na adubação, controle fitossanitário
e economia de água, fertilizantes, defen-
sivos e energia, além de não interferir
na execução dos tratos culturais.
Com relação ao manejo das culturas
e os aspectos agronômicos dentro da
estufa, verificou-se que a ocorrência de
pragas e doenças foi um dos principais
problemas para os produtores entrevis-
tados. Como o ambiente é propício para
o desenvolvimento de pragas e doenças
os prejuízos foram muito grandes (Ta-
bela 1). O controle destes problemas, por
parte dos produtores, foi feito com uti-
lização de inseticidas e fungicidas dis-
poníveis no mercado, seguindo as mes-
mas recomendações do cultivo conven-
cional no que diz respeito a doses e nú-
meros de aplicações. Desde o
surgimento do cultivo protegido as pra-
gas, doenças e plantas daninhas são os
principais problemas do insucesso dos
produtores rurais (Goto & Tivelli, 1998).
Dos 26 produtores entrevistados, 19
não tiveram assistência de um técnico
especializado ou agrônomo, sendo
monitorados apenas pelos vendedores
de insumos. Os próprios produtores afir-
maram que esta foi uma das principais
causas que levaram ao insucesso e a
desistência dos mesmos, nos anos de
1992/1993. Decisões estratégicas devem
ser tomadas a todo o momento
(Andriolo, 1999), o que significa ajus-
tar o seu comportamento fitotécnico aos
objetivos agronômicos pretendidos. Para
realizar o manejo é necessário conhecer
as relações que regem o funcionamento
da planta e, em seguida, compreender a
forma segundo a qual todas essas rela-
ções se encadeiam para que seja possí-
vel interferir no rendimento final.
Os principais problemas enfrentados
pelos produtores durante a
comercialização dos seus produtos cons-
tituíram-se no principal motivo de fra-
casso apontado pelos ex-produtores de
hortaliças em ambiente protegido em
Uberlândia (Tabela 2). Atualmente, a
comercialização ainda constitui-se no
maior problema para os produtores pois
inexiste diferenciação de preço em re-
lação aos produtos de cultivos tradicio-
nais, pois os produtos obtidos em estu-
fa nem sempre têm qualidade diferen-
ciada em relação aos produzidos em
campo aberto. Em ambos os casos, a
comercialização é feita diretamente com
o varejista, na Central CEASA/
Uberlândia, sacolões, quitandas e super-
mercados. Devido ao comércio in
natura, a vida útil das hortaliças não
passa de 2 dias, para a maior parte dos
produtores, com exceção da empresa
que iniciou o cultivo protegido em 1998,
que processava as hortaliças, basica-
mente alface e outras folhosas, transpor-
tando e armazenando com refrigeração
ampliando sua vida útil para 5 dias.
Mesmo assim, esse produtor ficava sem
diferenciação de preços. Esta
constatação só vem reforçar a afirma-
O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG
Cultura Cultivares Praga Doença
Alface Rider, Verônica Traça das crucíferas Sclerotinia sp
Berinjela Naganassu, Ciça Polyphagotarsonemuslatus Rhizoctonia sp
Brócolos Flórida, Piracicaba Traça das crucíferas Xanthomonassp
Couve-flor Shiromaru, Vegas Traça das crucíferas Xanthomonassp
Crisântemo Super yellow, Super white Brevicoryne brassicae Ferrugem
Escarola Carmem, Crespa Brevicoryne brassicae Sclerotina sp
Pepino japonês Tsukuba, Hokioku-2 Liriomyzaspp Oidium sp
Pimentão Magali R, Hercules Polyphagotarsonemuslatus Rhizoctonia sp
Tomate Carmem, Colorado Bemisia tabaci TSWV
Vagem Macarrão Brasília Polyphagotarsonemus latus Oidium sp
Tabela 1. Principais espécies cultivadas, cultivares utilizadas, pragas e doenças no cultivo de hortaliças em ambiente protegido em Uberlândia-
MG. Uberlândia, UFU, 2000.
244 Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003.
ção de que os problemas mais graves
do cultivo protegido não são de ordem
técnica e sim os ligados à
comercialização (FNP, 1999). Indireta-
mente ligado à comercialização está a
utilização de mão-de-obra. Tanto os dia-
ristas como os assalariados, têm que ser
capazes de colher com todo cuidado para
não depreciar a qualidade e o aspecto
visual, o que pode agregar valor ao pro-
duto. Vale ressaltar que nenhum produ-
tor se preocupou em treinamento da
mão-de-obra.
Segundo os 11 produtores entrevis-
tados, que nunca tinham produzidos
hortaliças, os principais motivos que os
levaram a paralisação de suas produções
em cultivo protegido foram:
descapitalização com o alto custo da
instalação da estrutura; estruturas pere-
cíveis ao tempo; preço do produto sem
diferenciação; falta de incentivo gover-
namental para os pequenos produtores;
o clima da região não justifica o uso do
cultivo protegido; nos meses de junho/
setembro, devido a ocorrência de ven-
tos fortes, houve perdas de plástico;
investimento imobilizado a curto tem-
po; falta de experiência com a atividade
hortícola (eram dentistas, advogados,
bancários e outros); falta de assistência
técnica especializada (assessorados ape-
nas pelos vendedores das estufas e de
plástico e de insumos); não foi feito um
módulo de escala econômica; falta de
Tabela 2. Principais problemas enfrentados na comercialização, suas respectivas áreas cultivadas e quantidade de mão-de-obra utilizada
pelos produtores de hortaliças em ambiente protegido em Uberlândia-MG. Uberlândia, UFU, 2000.
Produtores Área (ha) Problemas no comércio Homem/ha/dia
A 4,0 Horário entrega 0.5 h/ha
B 2,5 Concorrência 8 h/ha
C 2,0 Horário entrega 5 h/ha
D 5,3 Falta estrutura nos supermercados 0.7 h/ha
E 0,15 Preço sem diferenciação 1 h/ha
F 3,0 Inadimplência 9 h/ha
G 2,0 Inadimplência 6 h/ha
H 1,0 Inadimplência 3 h/ha
I 0,3 Inadimplência 16 h/ha
L. Grande et al.
conhecimento de controle de pragas e
doenças em cultivo protegido; e o re-
torno econômico propagandeado e es-
perado não foi obtido.
Estas afirmações dos produtores
iniciantes são praticamente as mesmas
dos outros dez produtores entrevistados
e que também abandonaram o cultivo
protegido de hortaliças no segundo ano
da atividade. Neste sentido, estes pro-
dutores resumem que os principais mo-
tivos foram: manejo errôneo do cultivo
protegido, a comercialização não dife-
renciada, a não obtenção das vantagens
e o retorno econômico esperados e
propagandeados pelos revendedores das
estufas, devido ao surgimento de pro-
blemas no cultivo que não eram espera-
dos, como pragas e doenças; a falta de
pesquisa e a escassez de assistência téc-
nica especializada.
Os cinco produtores que permane-
ciam em junho de 2000 na atividade do
cultivo protegido de hortaliças, enfren-
tavam ainda, de maneira geral estes
mesmos problemas, porém, como pos-
suem um maior nível tecnológico, jun-
tamente com um maior conhecimento
técnico e tradição no mercado de horta-
liças produzidas em cultivo convencio-
nal, conseguiam se manter no mercado
de cultivo protegido.
O relato da história e exemplo de
insucesso do cultivo protegido em
Uberlândia poderia ter sido evitado se
fosse seguido as sugestões de
Makishima (1994), que afirma que as
principais soluções para se manter no
mercado dos produtos hortigranjeiros
resumem-se em fazer estudo do merca-
do levando em consideração a capaci-
dade de comercialização, distâncias,
variação das cotações, disponibilidade
de diferentes estruturas de
comercialização e o comportamento do
consumidor; e conhecer as tecnologias
adequadas para a condução da cultura
ou dispor de assistência técnica.
LITERATURA CITADA
FNP. Anuário da agricultura brasileira. São Pau-
lo: FNP, 1999. 521 p.
ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas prote-
gidas. Santa Maria: UFSM, 1999. 142 p.
GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma avalia-
ção técnico–econômica. Horticultura Brasileira,
Brasília, v. 15, p. 163–65, 1997. Suplemento.
GOTO, R., TIVELLI, S.W. Produção de hortali-
ças em ambiente protegido: condições
subtropicais. São Paulo: UNESP, 1998. 319 p.
MAKISHIMA, N. Hortaliças. In: REIS, N.V.B.
(ed.). Produção de hortaliças com o uso de
agrofilmes. Brasília: EMBRAPA/CNPH, 1994. p.
32-34.
MARTINS, S.R. Desafios da plasticultura brasi-
leira: limites socio-econômicos e tecnológicos
frente às novas e crescentes demandas.
Horticultura Brasileira, Brasília, v. 14, n. 2, p.
133-138, 1996.
REIS, N.V.B. Produção de hortaliças com o uso
de agrofilmes. Brasília: EMBRAPA/CNPH, 1994.
65 p.

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O cultivo protegido de hortaliças em uberlândia-MG

  • 1. 241Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003. economia e extensão rural Nas últimas décadas, o cultivo de plantas em ambiente protegido, especialmente em estufas, veio revolu- cionar a fisiologia da produção de hor- taliças. As estufas trouxeram a possibi- lidade de ajustar o ambiente às plantas e, consequentemente, estender o perío- do de produção para épocas do ano e mesmo regiões antes inaptos à agricul- tura (Andriolo, 1999). O cultivo de hortaliças em ambiente protegido no Brasil não é tão recente, pois existem trabalhos que registram seu início no final dos anos 60. Entretanto, somente no fim dos anos 80 e, princi- palmente, no início da década de 90 é que esta técnica de produção passou a ser amplamente utilizada. Projeções de crescimento realizadas no início dos anos 90 relatam uma área cultivada de 10.000 ha, no final do milênio (Goto & Tivelli, 1998). Inicialmente houve inte- resse pelo cultivo protegido tanto por parte de produtores experientes em cul- tivo de hortaliças como também de ou- tros, sem nenhuma experiência agríco- la. Esses últimos entraram na atividade após observar, através da mídia, propa- gandas sobre a não utilização de defen- sivos agrícolas e a garantia de um retor- no líquido aparentemente fácil (Goto, 1997). Depois do entusiasmo inicial pelo cultivo protegido, houve uma estabili- dade na ampliação de áreas, devido à falência de muitos produtores. Esta si- tuação foi gerada por diversos fatores, destacando-se a contaminação dos so- los, o manejo inadequado de doenças e pragas, falta de uma política governa- mental específica para o cultivo prote- gido. Observa-se, que na atividade hou- ve um processo seletivo, permanecen- do aqueles com maior eficiência produ- tiva (Goto, 1997). A região de Uberlândia-MG é um grande pólo de produção de hortaliças, tendo a segunda maior CEASA do esta- do de Minas Gerais. Com vistas à pro- dução de hortaliças de melhor qualida- de e em épocas diferenciadas na tentati- va de alcançar melhores preços, alguns produtores da região resolveram inves- tir no segmento de cultivo protegido que iniciou-se nos anos de 1990 e 1991. Por iniciativa da Prefeitura Municipal, en- contros e palestras foram promovidos com profissionais ligados a empresas GRANDE, L.; LUZ, J.M.Q.; MELO, B.; LANA, R.M.Q.; CARVALHO, J.O.M. O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG. Horticultura Brasilei- ra, Brasília, v. 21, n. 2, p. 241-244, abril/junho 2003. O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG Leonardo Grande1 ; José Magno Q. Luz1 ; Berildo de Melo1 ; Regina Maria Q. Lana1 ; José Orestes M. de Carvalho2 1 UFU-ICIAG, C. Postal 593, 38400-902 Uberlândia–MG. E.mail: jmagno@umuarama.ufu.br; 2 Embrapa Rondônia, C. Postal 406, 78900- 970 Porto Velho-RO. RESUMO Descreveu-se no presente trabalho a situação do cultivo protegi- do em Uberlândia-MG, e discutiu-se os motivos que levaram diver- sos produtores ao insucesso neste sistema. Foi aplicado um questio- nário aos produtores de hortaliças que produziram ou estão produ- zindo sob ambiente protegido, observando-se as principais informa- ções relacionadas com a produção, desde a instalação até a comercialização dos produtos cultivados. Verificou-se que o cultivo protegido iniciou nos anos 90/91. Dois anos depois, aproximada- mente 84% dos produtores haviam abandonado esta atividade. A falta de cultivares e híbridos adaptados à região; as escassas infor- mações sobre manejo e adubação do solo; a falta de assistência téc- nica; o início da atividade sem prévia pesquisa de mercado; a falta de manejo adequado em ambiente protegido; alto custo de instala- ção; a falta de diferenciação para os preços dos produtos cultivados sob ambiente protegido; a ausência de incentivo governamental; falta de experiência profissional dos iniciantes no negócio; a falta de pro- jeto e planejamento econômico da produção, foram os principais fatores que motivaram a desistência desses produtores. Esta pesqui- sa destaca, também, a necessidade de atualização de informações sobre conhecimentos do manejo do ambiente protegido na região de Uberlândia. Palavras-chave: olericultura, plasticultura, ambiente protegido. ABSTRACT The protected cultivation of vegetables in Uberlândia, Brazil The situation of the protected cultivation in Uberlândia-MG is described and the causes that led many producers to lack of success in this system are discussed. A questionnaire was applied to the vegetable producers that produced and those that are producing under protected cultivation, being observed the main information related to the production, from the installation to the commercialization of the cultivated products. We identified that the protected cultivation in Uberlândia began in 1990/1991. Two years later, approximately 84% of the producers had abandoned this activity. The lack of cultivars and adapted hybrids to the region; the scarce information about commercialization and manuring of the soil; the lack of technical attendance to the producer; the beginning of the activity without doing market research; the lack of adapted handling of the protected atmosphere; high cost of the installation; the absence of differentiated prices for products obtained from protected cultivation; the absence of governmental incentive; lack of professional experience of the beginners in this agribusiness; lack of project and economic planning of the production, were the reasons that motivated the farmers to stop the protected cultivation in Uberlândia. This research stand out, also, the need of new information about the handling in the protected cultivation in this city. Keywords: horticulture, plasticulture, protected cultivation. (Recebido para publicação em 01 de outubro de 2001 e aceito em 25 de março de 2003)
  • 2. 242 Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003. que comercializam estufas plásticas, produtores tradicionais de hortaliças e outros interessados. As palestras abor- davam aspectos técnicos e econômicos do sistema com uma forte carga de in- centivo ao investimento na atividade. O presente trabalho teve como objetivo descrever a história e a situação em ju- nho de 2000 do sistema de cultivo pro- tegido de hortaliças, em Uberlândia. MATERIAL E MÉTODOS Um questionário foi elaborado e aplicado no primeiro semestre de 2000, a produtores de hortaliças que produzi- ram ou estavam produzindo em cultivo protegido, em Uberlândia. Dos 31 pro- dutores cadastrados na Associação dos Hortifrutigranjeiros de Uberlândia, fo- ram entrevistados 26, independente de estarem ainda ou não produzindo hor- taliças em cultivo protegido. Estes 26 foram considerados o universo de cole- ta dos dados da presente pesquisa e os cincos não entrevistados foram apenas considerados na questão de permanên- cia ou não na atividade. No questionário foram abordados pontos técnicos e econômicos da pro- dução, desde a instalação da estufa até a comercialização dos produtos, incluin- do o tipo de estufa (estrutura da cober- tura, dimensões, material usado, custo por m2 ); o plástico (empresa fornecedo- ra, espessura, custo, uso de telado ou sombrite); o mulching (coloração, pre- ço); a produção de mudas (estrutura de produção, origem e tipo de semente, substrato); a mão-de-obra (tipo, quanti- dade, assistência técnica); a irrigação (tipo de água, método de irrigação); a adubação (uso de corretivos e adubos, quantidade, análise nutricional das plan- tas); as hortaliças cultivadas (varieda- de, pragas e doenças, época de plantio, produtividade); a colheita (embalagem, horário, perdas); a pós-colheita (uso de tratamento, vida útil, perdas); a comercialização (tipo, problemas en- frentados); os custos totais e as princi- pais dificuldades enfrentadas, além da opinião do produtor sobre as perspecti- vas futuras com relação à plasticultura e se o mesmo aconselharia alguém en- trar neste tipo de produção. RESULTADOS E DISCUSSÃO Constatou-se que 11 dos 26 produto- res entrevistados nunca tinham produzi- do hortaliças. Esta situação foi similar à que ocorreu na maioria dos casos no Bra- sil. Inicialmente houve interesse pelo cultivo protegido tanto por parte de pro- dutores experientes em cultivo de horta- liças como também de outros, sem ne- nhumaexperiênciaagrícola(Goto,1997). Em Uberlândia, os cultivos protegi- dos foram inicialmente instalados em uma área total de, aproximadamente, 22 ha de estufas construídas, com média de 733 m2 por produtor. Segundo Martins (1996), este pode ser classificada como plasticultura convencional de pequeno produtor, o que se adequou com a reali- dade da cidade, onde os produtores de hortaliças são tipicamente pequenos proprietários ou arrendatários de terra. O resultado deste segmento, tem sido uma plasticultura de curta duração. Tal fato aconteceu em Uberlândia, pois em junho de 2000, época em que findou a presente pesquisa, apenas cinco dos 31 produtores continuavam na atividade, ou seja, aproximadamente 16% dos produ- tores que iniciaram. No entanto, os produtores que per- maneceram aumentaram as suas áreas de cultivo. Uma grande empresa produ- tora iniciou o cultivo protegido em 1998 e permanecia em junho de 2000, com uma área de 5,3 ha de estufas construídas. Esta constatação também está de acordo com Goto (1997), onde depois do entusiasmo inicial pelo culti- vo protegido, houve uma estabilidade na ampliação de áreas, devido à falência de muitos produtores. Esta situação foi gerada por diversos fatores, destacan- do-se a contaminação dos solos, o ma- nejo inadequado de doenças e pragas, falta de uma política governamental es- pecífica para o cultivo protegido. Ob- serva-se, que na atividade houve um processo seletivo, permanecendo aque- les com maior eficiência produtiva. Dos 26 produtores entrevistados, apenas cinco recomendaram o investi- mento em produção de hortaliças, mas desde que seguidas estas recomendações do autor. Os demais entrevistados não aconselharam este tipo de investimen- to. Neste sentido, os aspectos agronô- micos e os motivos para o insucesso de boa parte dos investimentos feitos no cultivo protegido em Uberlândia serão relatados e aqui discutidos. As estufas adquiridas por todos pro- dutores foram do tipo arco cobertas com polietileno transparente com espessura variando de 100 a 150 micras. A estru- tura utilizada caracterizou-se por uma mescla de madeira tratada e estrutura metálica com área variando de 350 a 400 m2 por estufa. Estas estufas são classifi- cadas, segundo Reis (1994), como não climatizadas e reúnem a maior viabili- dade econômica. Em Uberlândia, so- mente na grande empresa que iniciou o cultivo protegido em 1998, a estrutura era totalmente metálica. Esta empresa também possui duas estufas climatizadas para a produção de mudas. Com relação aos preços do m2 de estufa construída, dos 26 produtores entrevistados, 20 pagaram em média R$ 5,00 por estruturas em que prevaleceu a utilização de madeiras tratadas e cinco pagaram R$ 15,00 por estufas com maior utilização de estruturas metálicas. As estufas com estrutura totalmente metá- lica custaram em média R$ 16,00/m2 . Vale ressaltar que neste último caso, a empresa adquiriu uma área de estufa construída de 5,3 ha o que segundo o entrevistado, responsável pela mesma, permitiu a negociação no valor de R$ 16,00/m2 , pois se a área fosse menor, o preço pago pela empresa provavelmente seria maior. Em todos os casos os valo- res já incluem o sistema de irrigação. Cerca de 47% dos produtores utili- zaram plástico tipo polietileno preto como cobertura de canteiros (“mulching”). O plástico era perfurado por meio de um cano de PVC denteado onde eram transplantadas as mudas. O mulching é utilizado para diminuir a umidade relativa do ar dentro das estu- fas e controlar as plantas daninhas. Se- gundo Goto & Tivelli (1998) não se deve utilizá-lo em épocas de baixa umidade relativa. Para a produção de mudas, foram uti- lizadas as mesmas estufas destinadas à produção comercial. Cinco dos 31 produ- tores que tiveram estufas para produção e desistiram deste segmento, possuíam em junho de 2000, apenas estufas menores, L. Grande et al.
  • 3. 243Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003. por volta 100 m2 , que se destinam exclu- sivamente à produção de mudas. As espécies com mudas produzidas em estufas eram alface, tomate, pimen- tão, pepino japonês, brócolos, couve- flor e berinjela. É utilizado o sistema de bandejas de isopor com 200 células para alface e 128 para as demais culturas, utiliza-se, ainda, substrato comercial e sementes adquiridas em lojas de reven- das de produtos hortícolas. As mudas eram irrigadas diariamente, e os méto- dos mais utilizados são microaspersão com ou sem jato dirigido e manual. A microaspersão automatizada só era uti- lizada pela empresa que entrou no mer- cado em 1998. As cultivares utilizadas para a produção em estufas foram as mesmas para a produção em condições de campo aberto. A irrigação, fator primordial para o sucesso do cultivo protegido, não cons- tituiu problema para os produtores, tan- to para os que deixaram, quanto para os que continuavam exercendo a ativida- de. Atualmente, a irrigação está aliada à nutrição mineral, por meio da fertirrigação e baseia-se em estimativas de doses de fertilizantes e água, os quais devem ser calculados e avaliados a fim de evitar a carência nutricional e a salinização (Andriolo, 1999). Segundo o mesmo autor, a fertirrigação é muito di- fícil de ser manejada corretamente. Três dos produtores entrevistados tiveram di- ficuldades para quantificar e definir o adubo a ser utilizado, o que causou um desequilíbrio de íons e, consequentemente, a salinização do solo. O tipo de irrigação mais usado entre os produtores foi o gotejamento (77%), seguido da microaspersão (19%) e ape- nas um produtor (4%) utilizava asper- são convencional. Segundo Makishima apud por Reis (1994) o gotejamento permite não só melhor aproveitamento da área da estufa, mas também da água aplicada. Em comparação com os microaspersores, permite maior eficiên- cia na adubação, controle fitossanitário e economia de água, fertilizantes, defen- sivos e energia, além de não interferir na execução dos tratos culturais. Com relação ao manejo das culturas e os aspectos agronômicos dentro da estufa, verificou-se que a ocorrência de pragas e doenças foi um dos principais problemas para os produtores entrevis- tados. Como o ambiente é propício para o desenvolvimento de pragas e doenças os prejuízos foram muito grandes (Ta- bela 1). O controle destes problemas, por parte dos produtores, foi feito com uti- lização de inseticidas e fungicidas dis- poníveis no mercado, seguindo as mes- mas recomendações do cultivo conven- cional no que diz respeito a doses e nú- meros de aplicações. Desde o surgimento do cultivo protegido as pra- gas, doenças e plantas daninhas são os principais problemas do insucesso dos produtores rurais (Goto & Tivelli, 1998). Dos 26 produtores entrevistados, 19 não tiveram assistência de um técnico especializado ou agrônomo, sendo monitorados apenas pelos vendedores de insumos. Os próprios produtores afir- maram que esta foi uma das principais causas que levaram ao insucesso e a desistência dos mesmos, nos anos de 1992/1993. Decisões estratégicas devem ser tomadas a todo o momento (Andriolo, 1999), o que significa ajus- tar o seu comportamento fitotécnico aos objetivos agronômicos pretendidos. Para realizar o manejo é necessário conhecer as relações que regem o funcionamento da planta e, em seguida, compreender a forma segundo a qual todas essas rela- ções se encadeiam para que seja possí- vel interferir no rendimento final. Os principais problemas enfrentados pelos produtores durante a comercialização dos seus produtos cons- tituíram-se no principal motivo de fra- casso apontado pelos ex-produtores de hortaliças em ambiente protegido em Uberlândia (Tabela 2). Atualmente, a comercialização ainda constitui-se no maior problema para os produtores pois inexiste diferenciação de preço em re- lação aos produtos de cultivos tradicio- nais, pois os produtos obtidos em estu- fa nem sempre têm qualidade diferen- ciada em relação aos produzidos em campo aberto. Em ambos os casos, a comercialização é feita diretamente com o varejista, na Central CEASA/ Uberlândia, sacolões, quitandas e super- mercados. Devido ao comércio in natura, a vida útil das hortaliças não passa de 2 dias, para a maior parte dos produtores, com exceção da empresa que iniciou o cultivo protegido em 1998, que processava as hortaliças, basica- mente alface e outras folhosas, transpor- tando e armazenando com refrigeração ampliando sua vida útil para 5 dias. Mesmo assim, esse produtor ficava sem diferenciação de preços. Esta constatação só vem reforçar a afirma- O cultivo protegido de hortaliças em Uberlândia-MG Cultura Cultivares Praga Doença Alface Rider, Verônica Traça das crucíferas Sclerotinia sp Berinjela Naganassu, Ciça Polyphagotarsonemuslatus Rhizoctonia sp Brócolos Flórida, Piracicaba Traça das crucíferas Xanthomonassp Couve-flor Shiromaru, Vegas Traça das crucíferas Xanthomonassp Crisântemo Super yellow, Super white Brevicoryne brassicae Ferrugem Escarola Carmem, Crespa Brevicoryne brassicae Sclerotina sp Pepino japonês Tsukuba, Hokioku-2 Liriomyzaspp Oidium sp Pimentão Magali R, Hercules Polyphagotarsonemuslatus Rhizoctonia sp Tomate Carmem, Colorado Bemisia tabaci TSWV Vagem Macarrão Brasília Polyphagotarsonemus latus Oidium sp Tabela 1. Principais espécies cultivadas, cultivares utilizadas, pragas e doenças no cultivo de hortaliças em ambiente protegido em Uberlândia- MG. Uberlândia, UFU, 2000.
  • 4. 244 Hortic. bras., v. 21, n. 2, abr.-jun. 2003. ção de que os problemas mais graves do cultivo protegido não são de ordem técnica e sim os ligados à comercialização (FNP, 1999). Indireta- mente ligado à comercialização está a utilização de mão-de-obra. Tanto os dia- ristas como os assalariados, têm que ser capazes de colher com todo cuidado para não depreciar a qualidade e o aspecto visual, o que pode agregar valor ao pro- duto. Vale ressaltar que nenhum produ- tor se preocupou em treinamento da mão-de-obra. Segundo os 11 produtores entrevis- tados, que nunca tinham produzidos hortaliças, os principais motivos que os levaram a paralisação de suas produções em cultivo protegido foram: descapitalização com o alto custo da instalação da estrutura; estruturas pere- cíveis ao tempo; preço do produto sem diferenciação; falta de incentivo gover- namental para os pequenos produtores; o clima da região não justifica o uso do cultivo protegido; nos meses de junho/ setembro, devido a ocorrência de ven- tos fortes, houve perdas de plástico; investimento imobilizado a curto tem- po; falta de experiência com a atividade hortícola (eram dentistas, advogados, bancários e outros); falta de assistência técnica especializada (assessorados ape- nas pelos vendedores das estufas e de plástico e de insumos); não foi feito um módulo de escala econômica; falta de Tabela 2. Principais problemas enfrentados na comercialização, suas respectivas áreas cultivadas e quantidade de mão-de-obra utilizada pelos produtores de hortaliças em ambiente protegido em Uberlândia-MG. Uberlândia, UFU, 2000. Produtores Área (ha) Problemas no comércio Homem/ha/dia A 4,0 Horário entrega 0.5 h/ha B 2,5 Concorrência 8 h/ha C 2,0 Horário entrega 5 h/ha D 5,3 Falta estrutura nos supermercados 0.7 h/ha E 0,15 Preço sem diferenciação 1 h/ha F 3,0 Inadimplência 9 h/ha G 2,0 Inadimplência 6 h/ha H 1,0 Inadimplência 3 h/ha I 0,3 Inadimplência 16 h/ha L. Grande et al. conhecimento de controle de pragas e doenças em cultivo protegido; e o re- torno econômico propagandeado e es- perado não foi obtido. Estas afirmações dos produtores iniciantes são praticamente as mesmas dos outros dez produtores entrevistados e que também abandonaram o cultivo protegido de hortaliças no segundo ano da atividade. Neste sentido, estes pro- dutores resumem que os principais mo- tivos foram: manejo errôneo do cultivo protegido, a comercialização não dife- renciada, a não obtenção das vantagens e o retorno econômico esperados e propagandeados pelos revendedores das estufas, devido ao surgimento de pro- blemas no cultivo que não eram espera- dos, como pragas e doenças; a falta de pesquisa e a escassez de assistência téc- nica especializada. Os cinco produtores que permane- ciam em junho de 2000 na atividade do cultivo protegido de hortaliças, enfren- tavam ainda, de maneira geral estes mesmos problemas, porém, como pos- suem um maior nível tecnológico, jun- tamente com um maior conhecimento técnico e tradição no mercado de horta- liças produzidas em cultivo convencio- nal, conseguiam se manter no mercado de cultivo protegido. O relato da história e exemplo de insucesso do cultivo protegido em Uberlândia poderia ter sido evitado se fosse seguido as sugestões de Makishima (1994), que afirma que as principais soluções para se manter no mercado dos produtos hortigranjeiros resumem-se em fazer estudo do merca- do levando em consideração a capaci- dade de comercialização, distâncias, variação das cotações, disponibilidade de diferentes estruturas de comercialização e o comportamento do consumidor; e conhecer as tecnologias adequadas para a condução da cultura ou dispor de assistência técnica. LITERATURA CITADA FNP. Anuário da agricultura brasileira. São Pau- lo: FNP, 1999. 521 p. ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas prote- gidas. Santa Maria: UFSM, 1999. 142 p. GOTO, R. Plasticultura nos trópicos: uma avalia- ção técnico–econômica. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 15, p. 163–65, 1997. Suplemento. GOTO, R., TIVELLI, S.W. Produção de hortali- ças em ambiente protegido: condições subtropicais. São Paulo: UNESP, 1998. 319 p. MAKISHIMA, N. Hortaliças. In: REIS, N.V.B. (ed.). Produção de hortaliças com o uso de agrofilmes. Brasília: EMBRAPA/CNPH, 1994. p. 32-34. MARTINS, S.R. Desafios da plasticultura brasi- leira: limites socio-econômicos e tecnológicos frente às novas e crescentes demandas. Horticultura Brasileira, Brasília, v. 14, n. 2, p. 133-138, 1996. REIS, N.V.B. Produção de hortaliças com o uso de agrofilmes. Brasília: EMBRAPA/CNPH, 1994. 65 p.