SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
O CONSUMISMO E O CAPITALISMO


          A partir de um prisma histórico, destinado a descortinar as mudanças sócio-
culturais apresentadas, num primeiro momento, pelos autores da escola de Frankfurt
e, posteriormente, reforçadas pelas proposições de Debord (1997), nota-se que, com
o advento do atual estágio do capitalismo, as mercadorias se tornaram fetichizadas.
“A sociedade moderna era uma sociedade de produtores. A maneira como a
sociedade atual molda seus membros é ditada primeira e acima de tudo pelo dever
de desempenhar o papel de consumidor” (BAUMAN, 1998, p. 88). O que se nota,
portanto, é que o consumo, contemporaneamente, não se limita a uma mera troca
econômica,      a   um    processo     inerente     a   um    sistema     produtivo     capitalista,
transformando-se sim, no elemento motriz de todas as relações sociais (estabelecidas
estas de forma mais ou menos simbólica).

          Sabe-se que o consumo1 é um processo cultural, sendo que cultura do
consumismo relaciona-se, em parte, com certos elementos presentes na cultura
capitalista, desenvolve-se como parte desse sistema, e não surge em sociedades que
não sejam capitalistas, pois quando o regime se desintegra é que surgem recursos
técnicos para que o capitalismo vinculado a mercados de consumo apareça de fato. O
Consumismo e o Capitalismo2, portanto, enquanto entidades culturais estão
intimamente relacionadas, muito embora seja equivocado se afirmar que estas se
sobreponham. Segundo Lipovetsky (1989, p. 173-174), o consumo não é mais uma
atividade em busca do reconhecimento social, mas sim em busca do bem-estar, da
funcionalidade, do prazer para si mesmo.

          Ainda segundo Harvey (2004, p. 260-261), as imagens se tornaram
mercadorias e a produção de imagens como simulacros é relativamente fácil num
contexto onde a realidade sofre reconstruções incessantes. Na medida em que a
identidade individual e coletiva depende cada vez mais de imagens previamente
construídas, as réplicas seriais e repetitivas de identidade passam a ser uma
constante, redundando paralelamente num falso sentimento de libertação e
emancipação (frente a uma pretensa acessibilidade aos bens culturais). Nesse
       1
         Ao se utilizar a expressão consumo deseja-se que a mesma seja concebida como algo atrelado à
cultura capitalista. Pois seria incongruente se considerar o consumo como algo único e exclusivo desta
cultura, já que mesmo fora da cultura capitalista, sempre existiu.
      2
        Através, por exemplo, de uma visão mais descritiva pode-se conceituar o Capitalismo como
sendo: “um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção de troca, na
liberdade do mercado e no trabalho assalariado” (COMTE-SPONVILLE, 2005, p. 83). Já, numa abordagem
mais funcional o mesmo autor ressalta o termo como “um sistema econômico que serve para produzir,
com riqueza, mais riqueza” (COMTE-SPONVILLE, 2005, p. 85).
sentido, a mídia e a cultura da performance tentam levar os indivíduos da sociedade
a um consumo exacerbado e sem culpa. Comprar, antes de qualquer coisa, significa
se auto-afirmar.

        Para se entender de forma mais clara a cultura do consumo, precisa-se
analisar a sua evolução histórica desde o seu princípio, cujas fases mais marcantes
serão apresentadas a seguir.



                           AS EVOLUÇÕES DO CONSUMO



        Entende-se que a cultura do consumo surgiu no Ocidente, a partir do século
XVIII, sendo fruto das aspirações iluministas e diferenciando-se do resto do mundo
como uma cultura moderna, livre, racional, possuindo valores universais, e com
pretensões e alcances globais (SLATER, 2002. p. 14). As práticas essenciais da cultura
do consumo originaram-se no início do período moderno, enquanto desdobramento
das revoluções burguesas. O fortalecimento de uma cultura do consumo foi, na
verdade, parte da própria construção do mundo moderno, e está ligada a idéia de
Modernidade, cuja essência encontra-se refletiva na constituição de uma realidade
que não é mais governada pela tradição (ou ainda por premissas metafísicas), e sim
pelo racional e pelo saber científico. Neste contexto, a figura do consumidor e a
experiência do consumismo são, ao mesmo tempo, típicas deste novo mundo e parte
integrante de sua construção.

        Os anos 20 do século XX surgem como a primeira década realmente
consumista, com o florescimento de um sistema de produção serial de bens de
consumo para as grandes massas.        Neste momento histórico, verifica-se que o
consumismo insere-se, de fato, na vida cotidiana. Como maior exemplo tem-se o
Modelo Fordista de produção, simbolizado pela linha de montagem ininterrupta, o
qual propunha o fomento de um modelo serial no qual os bens são vendidos em
mercados cada vez maiores para uma população consumidora, subdividida em
classes, a partir de critérios, pretensamente, econômicos. E a partir dos anos 20 que
se vislumbra uma suposta democratização do consumo.

        Para Slater (2002), essa cultura do consumo tornou-se mais evidente a partir
da década de 20, porquanto, nesta, a produção passou a destinar seus produtos não
apenas ao seu uso funcional, mas sim à possibilidade dos consumidores reforçarem o
seu estilo de vida pelo consumo. O consumo, a partir dos anos 20, deixa de ser
concebido como uma mera operação financeira, ou ainda como algo restrito a poucos
privilegiados, fazendo com que o ato de comprar tenha se tornado um ato simples e
fácil, contudo repleto de significados simbólicos por trás dessa fácil ação.

        Com essa aparente simplificação dos processos de troca, pessoas cada vez
mais jovens, cada vez mais ingênuas, são levadas a crer que a posse de um um
pedaço de papel, dotado um determinado valor serviria, como uma espécie de
entrada/chave para o mundo, visto até então como inacessível. Não obstante,
“quanto mais o consumo se desenvolve, mais os objetos se tornam meios
desencantados, instrumentos, nada mais que instrumentos: assim caminha a
democratização do mundo material” (LIPOVETSKY, 1989, p. 175). Ou seja, o consumo
ao mesmo tempo em que se expande, se banaliza, fazendo com que bens, outrora
restritos a poucos, sejam distribuídos a todos aqueles que possam pagar.

        Desta forma, a cultura do consumo, de forma velada, acaba por distorcer
duas das principais aspirações iluministas, a saber: a liberdade e a igualdade. Pois, a
partir da mesma, institui-se a crença de que um indivíduo poderia não só comprar o
que desejasse, como também poderia ter uma vida igual ao de seus semelhantes
(bastava, para tanto, que adquirisse os mesmos bens de consumo de seus pares).


                                    BIBLIOGRAFIA


BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Ed., 1999.


COMTE-SPONVILLE, André. O capitalismo é moral?: Sobre algumas coisas ridículas e
as tiranias de nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2005.


DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: Comentários sobre a sociedade do
espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.


HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. 13.ed. São Paulo: Loyola, 2004.


LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades
modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

SLATER, Don. A cultura do consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão
Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia GalvãoApresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão
Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvãorennata kelly muniz alves
 
Os movimentos sociais no brasil
Os movimentos sociais no brasilOs movimentos sociais no brasil
Os movimentos sociais no brasilShirlayne
 
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)roberto mosca junior
 
Os movimentos sociais contemporâneos
Os movimentos sociais contemporâneosOs movimentos sociais contemporâneos
Os movimentos sociais contemporâneosEdenilson Morais
 
Os Movimentos Sociais no Brasil
Os Movimentos Sociais no BrasilOs Movimentos Sociais no Brasil
Os Movimentos Sociais no BrasilEstude Mais
 
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)Eduardo Carneiro
 
Movimentos sociais e luta de classe
Movimentos sociais e luta de classeMovimentos sociais e luta de classe
Movimentos sociais e luta de classeRosane Domingues
 
Movimentos sociais
Movimentos sociaisMovimentos sociais
Movimentos sociaisesdrasfm
 
Sociologia - Os Movimentos Sociais
Sociologia  - Os Movimentos SociaisSociologia  - Os Movimentos Sociais
Sociologia - Os Movimentos SociaisDymerson Medson
 
O império do efêmero - Gilles Lipovetsky
O império do efêmero - Gilles LipovetskyO império do efêmero - Gilles Lipovetsky
O império do efêmero - Gilles LipovetskyAndressa Silva
 
3 ano plano de aula movimentos sociais
3 ano   plano de aula movimentos sociais3 ano   plano de aula movimentos sociais
3 ano plano de aula movimentos sociaisAlessandra Nascimento
 
Consumo e cidadania
Consumo  e cidadaniaConsumo  e cidadania
Consumo e cidadaniaLucio Braga
 
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidade
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidadeCompra-se um Eu - O consumo como formador da identidade
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidadeGuilherme Muezerie
 
Movimentos sociais no brasil
Movimentos sociais no brasilMovimentos sociais no brasil
Movimentos sociais no brasilespacoaberto
 

Mais procurados (20)

Movimentos sociais
Movimentos sociaisMovimentos sociais
Movimentos sociais
 
Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão
Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia GalvãoApresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão
Apresentação em power point do texto: Movimentos sociais - Andreia Galvão
 
Os movimentos sociais no brasil
Os movimentos sociais no brasilOs movimentos sociais no brasil
Os movimentos sociais no brasil
 
Questionário 01
Questionário 01Questionário 01
Questionário 01
 
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)
Capitalismo e sociedade (8º ano CPII)
 
Os movimentos sociais contemporâneos
Os movimentos sociais contemporâneosOs movimentos sociais contemporâneos
Os movimentos sociais contemporâneos
 
Os Movimentos Sociais no Brasil
Os Movimentos Sociais no BrasilOs Movimentos Sociais no Brasil
Os Movimentos Sociais no Brasil
 
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
 
Direitos humanos
Direitos humanosDireitos humanos
Direitos humanos
 
Movimentos sociais e luta de classe
Movimentos sociais e luta de classeMovimentos sociais e luta de classe
Movimentos sociais e luta de classe
 
Movimentos sociais
Movimentos sociaisMovimentos sociais
Movimentos sociais
 
Sociologia - Os Movimentos Sociais
Sociologia  - Os Movimentos SociaisSociologia  - Os Movimentos Sociais
Sociologia - Os Movimentos Sociais
 
Movimentos sociais
Movimentos sociais Movimentos sociais
Movimentos sociais
 
Imprimir
ImprimirImprimir
Imprimir
 
O império do efêmero - Gilles Lipovetsky
O império do efêmero - Gilles LipovetskyO império do efêmero - Gilles Lipovetsky
O império do efêmero - Gilles Lipovetsky
 
Movimentos sociais
Movimentos sociaisMovimentos sociais
Movimentos sociais
 
3 ano plano de aula movimentos sociais
3 ano   plano de aula movimentos sociais3 ano   plano de aula movimentos sociais
3 ano plano de aula movimentos sociais
 
Consumo e cidadania
Consumo  e cidadaniaConsumo  e cidadania
Consumo e cidadania
 
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidade
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidadeCompra-se um Eu - O consumo como formador da identidade
Compra-se um Eu - O consumo como formador da identidade
 
Movimentos sociais no brasil
Movimentos sociais no brasilMovimentos sociais no brasil
Movimentos sociais no brasil
 

Destaque

Activ. nº 2 grupal de politica
Activ. nº 2 grupal de politicaActiv. nº 2 grupal de politica
Activ. nº 2 grupal de politicaNancy Martinez
 
Escalas de ministros_fevereiro2012
Escalas de ministros_fevereiro2012Escalas de ministros_fevereiro2012
Escalas de ministros_fevereiro2012Elaine Ribeiro
 
Dimarts internacionals febrer 2012
Dimarts internacionals febrer 2012Dimarts internacionals febrer 2012
Dimarts internacionals febrer 2012coacnet
 
8.da monarquia à república
8.da monarquia à república8.da monarquia à república
8.da monarquia à repúblicavaldeck1
 
Power point tic silvia blanco
Power point tic silvia blancoPower point tic silvia blanco
Power point tic silvia blancoblancosilvia
 
1.o marco do descobrimento
1.o marco do descobrimento1.o marco do descobrimento
1.o marco do descobrimentovaldeck1
 
1.as grandes navegações
1.as grandes navegações1.as grandes navegações
1.as grandes navegaçõesvaldeck1
 
Apoyo segunda practica dolor 02
Apoyo segunda practica dolor 02Apoyo segunda practica dolor 02
Apoyo segunda practica dolor 02Roxy2013
 
Trabajo aprendizaje sena
Trabajo aprendizaje senaTrabajo aprendizaje sena
Trabajo aprendizaje senalixexitha
 
Presentación1diseño grafico
Presentación1diseño  grafico Presentación1diseño  grafico
Presentación1diseño grafico maicolmoyano
 
Estructura curricular
Estructura curricularEstructura curricular
Estructura curricularamalfihenao30
 
El alcoholismo (dependencia del alcohol) y
El alcoholismo (dependencia del alcohol) yEl alcoholismo (dependencia del alcohol) y
El alcoholismo (dependencia del alcohol) yamalia576
 
Herramientas tecnologicas
Herramientas tecnologicasHerramientas tecnologicas
Herramientas tecnologicastangarife98
 
Diarioelcomerciosuplementorse25 01
Diarioelcomerciosuplementorse25 01Diarioelcomerciosuplementorse25 01
Diarioelcomerciosuplementorse25 01Perú 2021
 

Destaque (20)

Activ. nº 2 grupal de politica
Activ. nº 2 grupal de politicaActiv. nº 2 grupal de politica
Activ. nº 2 grupal de politica
 
Escalas de ministros_fevereiro2012
Escalas de ministros_fevereiro2012Escalas de ministros_fevereiro2012
Escalas de ministros_fevereiro2012
 
Biodata ashab
Biodata ashabBiodata ashab
Biodata ashab
 
Dimarts internacionals febrer 2012
Dimarts internacionals febrer 2012Dimarts internacionals febrer 2012
Dimarts internacionals febrer 2012
 
8.da monarquia à república
8.da monarquia à república8.da monarquia à república
8.da monarquia à república
 
Power point tic silvia blanco
Power point tic silvia blancoPower point tic silvia blanco
Power point tic silvia blanco
 
1.o marco do descobrimento
1.o marco do descobrimento1.o marco do descobrimento
1.o marco do descobrimento
 
1.as grandes navegações
1.as grandes navegações1.as grandes navegações
1.as grandes navegações
 
Apoyo segunda practica dolor 02
Apoyo segunda practica dolor 02Apoyo segunda practica dolor 02
Apoyo segunda practica dolor 02
 
TIC
TICTIC
TIC
 
Trabajo aprendizaje sena
Trabajo aprendizaje senaTrabajo aprendizaje sena
Trabajo aprendizaje sena
 
Presentación1diseño grafico
Presentación1diseño  grafico Presentación1diseño  grafico
Presentación1diseño grafico
 
Estructura curricular
Estructura curricularEstructura curricular
Estructura curricular
 
Politico digital
Politico digitalPolitico digital
Politico digital
 
Mci 13 14
Mci 13 14Mci 13 14
Mci 13 14
 
El alcoholismo (dependencia del alcohol) y
El alcoholismo (dependencia del alcohol) yEl alcoholismo (dependencia del alcohol) y
El alcoholismo (dependencia del alcohol) y
 
Herramientas tecnologicas
Herramientas tecnologicasHerramientas tecnologicas
Herramientas tecnologicas
 
Diarioelcomerciosuplementorse25 01
Diarioelcomerciosuplementorse25 01Diarioelcomerciosuplementorse25 01
Diarioelcomerciosuplementorse25 01
 
Ascensão das-redes-sociais
Ascensão das-redes-sociaisAscensão das-redes-sociais
Ascensão das-redes-sociais
 
Módulo 7 sht
Módulo 7 shtMódulo 7 sht
Módulo 7 sht
 

Semelhante a O surgimento da cultura do consumismo e sua relação com o capitalismo

O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]
O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]
O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]Andrea Bella
 
Globalização, Mercado e Produções simbólicas
Globalização, Mercado e Produções simbólicasGlobalização, Mercado e Produções simbólicas
Globalização, Mercado e Produções simbólicasALCIONE
 
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)Heliane Rodrigues
 
Escritos não criativos sobre economia criativa: por um novo olhar da relação...
Escritos não criativos sobre economia criativa:  por um novo olhar da relação...Escritos não criativos sobre economia criativa:  por um novo olhar da relação...
Escritos não criativos sobre economia criativa: por um novo olhar da relação...Luis Nassif
 
Grupo 1 última parte - globalização e consumo.
Grupo 1   última parte - globalização e consumo.Grupo 1   última parte - globalização e consumo.
Grupo 1 última parte - globalização e consumo.Priscila Assi
 
Canclini consumidores 1995
Canclini consumidores 1995Canclini consumidores 1995
Canclini consumidores 1995Luara Schamó
 
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)Eduardo Carneiro
 
O capitalismo e a sociedade do consumo
O capitalismo e a sociedade do consumoO capitalismo e a sociedade do consumo
O capitalismo e a sociedade do consumoIsabel Vitória
 
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMO
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMOSOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMO
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMOJonathan Coelho
 
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.Ofhelia Raquel Lemos
 
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)Kary Subieta Campos
 

Semelhante a O surgimento da cultura do consumismo e sua relação com o capitalismo (20)

Leituras Sobre Consumo
Leituras Sobre ConsumoLeituras Sobre Consumo
Leituras Sobre Consumo
 
A sociedade do consumo
A sociedade do consumoA sociedade do consumo
A sociedade do consumo
 
Attachment
AttachmentAttachment
Attachment
 
O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]
O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]
O que é indústria cultural [Coleção Primeiros Passos]
 
Globalização, Mercado e Produções simbólicas
Globalização, Mercado e Produções simbólicasGlobalização, Mercado e Produções simbólicas
Globalização, Mercado e Produções simbólicas
 
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)
Coelho, teixeira. o que é indústria cultural (coleção primeiros passos)
 
Design gráfico
Design  gráficoDesign  gráfico
Design gráfico
 
Grant mc cracken
Grant mc crackenGrant mc cracken
Grant mc cracken
 
Escritos não criativos sobre economia criativa: por um novo olhar da relação...
Escritos não criativos sobre economia criativa:  por um novo olhar da relação...Escritos não criativos sobre economia criativa:  por um novo olhar da relação...
Escritos não criativos sobre economia criativa: por um novo olhar da relação...
 
Grupo 1 última parte - globalização e consumo.
Grupo 1   última parte - globalização e consumo.Grupo 1   última parte - globalização e consumo.
Grupo 1 última parte - globalização e consumo.
 
Paradigma culturológico
Paradigma culturológicoParadigma culturológico
Paradigma culturológico
 
Totem e consumo
Totem e consumoTotem e consumo
Totem e consumo
 
Canclini consumidores 1995
Canclini consumidores 1995Canclini consumidores 1995
Canclini consumidores 1995
 
cultura, estratégia e poder
cultura, estratégia e podercultura, estratégia e poder
cultura, estratégia e poder
 
Sociologia v
Sociologia vSociologia v
Sociologia v
 
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
0. wood. as origens agrárias do capitalismo (esse)
 
O capitalismo e a sociedade do consumo
O capitalismo e a sociedade do consumoO capitalismo e a sociedade do consumo
O capitalismo e a sociedade do consumo
 
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMO
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMOSOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMO
SOCIOLOGIA SOCIEDADE INDUSTRIAL E CONSUMO
 
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.
Consumo, Publicidade e a “Nova Classe C” no Brasil.
 
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
Manifesto do Partido Comunista de 1848 - Marx e Engels (Resenha)
 

Mais de Sérgio Czajkowski Jr

Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura Organizacional
Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura OrganizacionalCase Apple - Planejamento Estratégico e Cultura Organizacional
Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura OrganizacionalSérgio Czajkowski Jr
 
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...Sérgio Czajkowski Jr
 
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...Sérgio Czajkowski Jr
 
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisões
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisõesDantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisões
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisõesSérgio Czajkowski Jr
 
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aula
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aulaPós-modernidade - 1ª aula e 2ª aula
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aulaSérgio Czajkowski Jr
 
A evolução da sociedade de consumo
A evolução da sociedade de consumoA evolução da sociedade de consumo
A evolução da sociedade de consumoSérgio Czajkowski Jr
 
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...Sérgio Czajkowski Jr
 
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbim
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbimTrabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbim
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbimSérgio Czajkowski Jr
 
1º trabalho bimestral para o curso de eventos
1º trabalho bimestral para o curso de eventos1º trabalho bimestral para o curso de eventos
1º trabalho bimestral para o curso de eventosSérgio Czajkowski Jr
 
2ª prova de mercadologia professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de mercadologia   professor sérgio czajkowski jr.2ª prova de mercadologia   professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de mercadologia professor sérgio czajkowski jr.Sérgio Czajkowski Jr
 
2ª prova de comunicação integrada professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de comunicação integrada   professor sérgio czajkowski jr.2ª prova de comunicação integrada   professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de comunicação integrada professor sérgio czajkowski jr.Sérgio Czajkowski Jr
 

Mais de Sérgio Czajkowski Jr (20)

Posicionamento do Barcelona
Posicionamento do BarcelonaPosicionamento do Barcelona
Posicionamento do Barcelona
 
Segmentação
SegmentaçãoSegmentação
Segmentação
 
Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura Organizacional
Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura OrganizacionalCase Apple - Planejamento Estratégico e Cultura Organizacional
Case Apple - Planejamento Estratégico e Cultura Organizacional
 
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...
Aulas da disciplina de Tópicos Especiais De História Do Direito (DIREITO, MOD...
 
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...
Como as redes sociais e os apps estão transformando os problemas típicos da a...
 
Aula sobre consumo e corpo
Aula sobre consumo e corpoAula sobre consumo e corpo
Aula sobre consumo e corpo
 
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisões
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisõesDantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisões
Dantas, Edmundo Brandão. A importância da pesquisa para a tomada de decisões
 
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aula
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aulaPós-modernidade - 1ª aula e 2ª aula
Pós-modernidade - 1ª aula e 2ª aula
 
A evolução da sociedade de consumo
A evolução da sociedade de consumoA evolução da sociedade de consumo
A evolução da sociedade de consumo
 
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...
#Vempraup - Uma análise dos protestos e das suas consequências históricas, a ...
 
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbim
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbimTrabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbim
Trabalhodadisciplinadepesquisademercado1ºbim
 
Sensocomum chaui
Sensocomum chauiSensocomum chaui
Sensocomum chaui
 
1º trabalho bimestral para o curso de eventos
1º trabalho bimestral para o curso de eventos1º trabalho bimestral para o curso de eventos
1º trabalho bimestral para o curso de eventos
 
Trabalho para o curso de Eventos
Trabalho para o curso de EventosTrabalho para o curso de Eventos
Trabalho para o curso de Eventos
 
1ª prova bimestral - MKT II
1ª prova bimestral - MKT II1ª prova bimestral - MKT II
1ª prova bimestral - MKT II
 
A linguagem nos faz humanos
A linguagem nos faz humanosA linguagem nos faz humanos
A linguagem nos faz humanos
 
Trabalho do módulo de CRM
Trabalho do módulo de CRMTrabalho do módulo de CRM
Trabalho do módulo de CRM
 
2ª prova de mercadologia professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de mercadologia   professor sérgio czajkowski jr.2ª prova de mercadologia   professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de mercadologia professor sérgio czajkowski jr.
 
2ª prova de comunicação integrada professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de comunicação integrada   professor sérgio czajkowski jr.2ª prova de comunicação integrada   professor sérgio czajkowski jr.
2ª prova de comunicação integrada professor sérgio czajkowski jr.
 
1ª case de gestão de clientes
1ª case de gestão de clientes1ª case de gestão de clientes
1ª case de gestão de clientes
 

O surgimento da cultura do consumismo e sua relação com o capitalismo

  • 1. O CONSUMISMO E O CAPITALISMO A partir de um prisma histórico, destinado a descortinar as mudanças sócio- culturais apresentadas, num primeiro momento, pelos autores da escola de Frankfurt e, posteriormente, reforçadas pelas proposições de Debord (1997), nota-se que, com o advento do atual estágio do capitalismo, as mercadorias se tornaram fetichizadas. “A sociedade moderna era uma sociedade de produtores. A maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada primeira e acima de tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor” (BAUMAN, 1998, p. 88). O que se nota, portanto, é que o consumo, contemporaneamente, não se limita a uma mera troca econômica, a um processo inerente a um sistema produtivo capitalista, transformando-se sim, no elemento motriz de todas as relações sociais (estabelecidas estas de forma mais ou menos simbólica). Sabe-se que o consumo1 é um processo cultural, sendo que cultura do consumismo relaciona-se, em parte, com certos elementos presentes na cultura capitalista, desenvolve-se como parte desse sistema, e não surge em sociedades que não sejam capitalistas, pois quando o regime se desintegra é que surgem recursos técnicos para que o capitalismo vinculado a mercados de consumo apareça de fato. O Consumismo e o Capitalismo2, portanto, enquanto entidades culturais estão intimamente relacionadas, muito embora seja equivocado se afirmar que estas se sobreponham. Segundo Lipovetsky (1989, p. 173-174), o consumo não é mais uma atividade em busca do reconhecimento social, mas sim em busca do bem-estar, da funcionalidade, do prazer para si mesmo. Ainda segundo Harvey (2004, p. 260-261), as imagens se tornaram mercadorias e a produção de imagens como simulacros é relativamente fácil num contexto onde a realidade sofre reconstruções incessantes. Na medida em que a identidade individual e coletiva depende cada vez mais de imagens previamente construídas, as réplicas seriais e repetitivas de identidade passam a ser uma constante, redundando paralelamente num falso sentimento de libertação e emancipação (frente a uma pretensa acessibilidade aos bens culturais). Nesse 1 Ao se utilizar a expressão consumo deseja-se que a mesma seja concebida como algo atrelado à cultura capitalista. Pois seria incongruente se considerar o consumo como algo único e exclusivo desta cultura, já que mesmo fora da cultura capitalista, sempre existiu. 2 Através, por exemplo, de uma visão mais descritiva pode-se conceituar o Capitalismo como sendo: “um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção de troca, na liberdade do mercado e no trabalho assalariado” (COMTE-SPONVILLE, 2005, p. 83). Já, numa abordagem mais funcional o mesmo autor ressalta o termo como “um sistema econômico que serve para produzir, com riqueza, mais riqueza” (COMTE-SPONVILLE, 2005, p. 85).
  • 2. sentido, a mídia e a cultura da performance tentam levar os indivíduos da sociedade a um consumo exacerbado e sem culpa. Comprar, antes de qualquer coisa, significa se auto-afirmar. Para se entender de forma mais clara a cultura do consumo, precisa-se analisar a sua evolução histórica desde o seu princípio, cujas fases mais marcantes serão apresentadas a seguir. AS EVOLUÇÕES DO CONSUMO Entende-se que a cultura do consumo surgiu no Ocidente, a partir do século XVIII, sendo fruto das aspirações iluministas e diferenciando-se do resto do mundo como uma cultura moderna, livre, racional, possuindo valores universais, e com pretensões e alcances globais (SLATER, 2002. p. 14). As práticas essenciais da cultura do consumo originaram-se no início do período moderno, enquanto desdobramento das revoluções burguesas. O fortalecimento de uma cultura do consumo foi, na verdade, parte da própria construção do mundo moderno, e está ligada a idéia de Modernidade, cuja essência encontra-se refletiva na constituição de uma realidade que não é mais governada pela tradição (ou ainda por premissas metafísicas), e sim pelo racional e pelo saber científico. Neste contexto, a figura do consumidor e a experiência do consumismo são, ao mesmo tempo, típicas deste novo mundo e parte integrante de sua construção. Os anos 20 do século XX surgem como a primeira década realmente consumista, com o florescimento de um sistema de produção serial de bens de consumo para as grandes massas. Neste momento histórico, verifica-se que o consumismo insere-se, de fato, na vida cotidiana. Como maior exemplo tem-se o Modelo Fordista de produção, simbolizado pela linha de montagem ininterrupta, o qual propunha o fomento de um modelo serial no qual os bens são vendidos em mercados cada vez maiores para uma população consumidora, subdividida em classes, a partir de critérios, pretensamente, econômicos. E a partir dos anos 20 que se vislumbra uma suposta democratização do consumo. Para Slater (2002), essa cultura do consumo tornou-se mais evidente a partir da década de 20, porquanto, nesta, a produção passou a destinar seus produtos não apenas ao seu uso funcional, mas sim à possibilidade dos consumidores reforçarem o seu estilo de vida pelo consumo. O consumo, a partir dos anos 20, deixa de ser concebido como uma mera operação financeira, ou ainda como algo restrito a poucos
  • 3. privilegiados, fazendo com que o ato de comprar tenha se tornado um ato simples e fácil, contudo repleto de significados simbólicos por trás dessa fácil ação. Com essa aparente simplificação dos processos de troca, pessoas cada vez mais jovens, cada vez mais ingênuas, são levadas a crer que a posse de um um pedaço de papel, dotado um determinado valor serviria, como uma espécie de entrada/chave para o mundo, visto até então como inacessível. Não obstante, “quanto mais o consumo se desenvolve, mais os objetos se tornam meios desencantados, instrumentos, nada mais que instrumentos: assim caminha a democratização do mundo material” (LIPOVETSKY, 1989, p. 175). Ou seja, o consumo ao mesmo tempo em que se expande, se banaliza, fazendo com que bens, outrora restritos a poucos, sejam distribuídos a todos aqueles que possam pagar. Desta forma, a cultura do consumo, de forma velada, acaba por distorcer duas das principais aspirações iluministas, a saber: a liberdade e a igualdade. Pois, a partir da mesma, institui-se a crença de que um indivíduo poderia não só comprar o que desejasse, como também poderia ter uma vida igual ao de seus semelhantes (bastava, para tanto, que adquirisse os mesmos bens de consumo de seus pares). BIBLIOGRAFIA BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999. COMTE-SPONVILLE, André. O capitalismo é moral?: Sobre algumas coisas ridículas e as tiranias de nosso tempo. São Paulo: Martins Fontes, 2005. DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 13.ed. São Paulo: Loyola, 2004. LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. SLATER, Don. A cultura do consumo e modernidade. São Paulo: Nobel, 2002.